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AT 1 TRANSTORNO DO DÉFICIT DE ATENÇÃO COM HIPERATIVIDADE - TDAH 2 32 S U M Á R IO 3 UNIDADE 1 - Introdução 5 UNIDADE 2 - TDAH: Uma Visão Geral 8 UNIDADE 3 - Epidemiologia, Etiologia e Histórico do TDAH 8 3.1 Epidemiologia 8 3.2 Etiologia 10 3.3 Evolução do conhecimento e estudos sobre a TDAH 13 UNIDADE 4 - Características e Sintomas 13 4.1 Características 14 4.2 Sintomas 16 UNIDADE 5 - Consequências e Comorbidades 16 5.1 Consequências 16 5.2 Comorbidades 18 UNIDADE 6 - Diagnóstico, Avaliação e Tratamento 18 6.1 Diagnóstico 22 6.2 Avaliação 23 6.3 Tratamento ou conduta terapêutica 26 UNIDADE 7 - Os Pais, a Escola e o Portador de TDAH 26 7.1 A participação dos pais 27 7.2 A escola 28 7.3 A atuação dos professores 32 UNIDADE 8 - O TDAH na Fase Adulta 32 8.1 Critérios para diagnóstico em adultos 34 8.2 Os sintomas em adultos 39 8.3 Comorbidades 40 8.4 Transtornos psiquiátricos a serem considerados em adultos 41 8.5 Avaliação 42 8.6 Tratamento farmacológico 46 UNIDADE 9 - Introdução aos Problemas de Aprendizagem e Fracasso Escolar 48 UNIDADE 10 - Problemas, Distúrbios ou Dificuldades de Aprendizagem? 51 UNIDADE 11 - Dificuldades de Aprendizagem – O Papel do Cérebro 61 UNIDADE 12 - Os Distúrbios da Aprendizagem 86 REFERÊNCIAS 91 ANEXO 2 33 UNIDADE 1 - Introdução Dificuldade de prestar atenção na aula, distrair-se facilmente e ficar com a mente va- gando pelo “mundo da lua” quando o profes- sor está falando. Pouca paciência para estu- dar e fazer os deveres, agitação, inquietude e uma capacidade incrível de fazer milhões de coisas ao mesmo tempo. E quase nenhu- ma delas associada à aula. Estas são algumas características de alunos que apresentam o Transtorno de Déficit de Atenção com Hipe- ratividade, conhecido como TDAH. O proble- ma atinge um grande número de crianças e adolescentes, que veem o seu desempenho acadêmico prejudicado pela doença e muitas vezes sequer sabem que são portadores. Até os anos 70, o Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade era considerado um transtorno limitado à infância, com sinto- mas que desapareceriam na vida adulta, no entanto, estudos prospectivos e retrospec- tivos que acompanharam crianças diagnos- ticadas com TDAH na infância e acompanha- das até a idade adulta mostram que grande parte delas continua a apresentar sintomas significativos, associados a importantes pre- juízos em diversas esferas da vida cotidiana (BENCZIK; SCHELINI; CASELLA, 2010). Outros estudos inferem que sintomas como hiperatividade e impulsividade sofrem maior redução do que a desatenção, no en- tanto, a permanência de sintomas na idade adulta, concomitante a altas frequências de transtornos mentais comórbidos, leva a população a apresentar significativos pro- blemas adaptativos como, por exemplo, di- ficuldades no trabalho, menor escolaridade, maior envolvimento em acidentes de trânsi- to, problemas criminais, dificuldades conju- gais, problemas financeiros e sexualidade de maior risco (BARKLEY, MURPHY E KWASNIK, 1996 apud BENCZIK; SCHELINI; CASELLA, 2010). Outra consideração que chama atenção: o fato do TDAH não ser identificado e tratado pode ser devastador para a pessoa, uma vez que, apesar de não plenamente determinan- te, pode levar o adulto a praticar atos delin- quentes, tornar-se usuário de substâncias psicoativas, em razão do baixo limiar para en- frentar frustração, além de problemas com a lei, com o trânsito e transtornos de persona- lidade (BARKLEY, 2002; SOIFER,1992). Crianças, adolescentes, adultos, família, escola, todos sofrem quando não conse- guem diagnosticar e lidar com os portadores de TDAH e, evidentemente, as consequên- cias, como visto, podem ser bem mais dano- sas. Pois bem, partindo das premissas acima, o arcabouço teórico traçado nesta aposti- la, passa necessariamente por conceitos do TDAH, a epidemiologia e etiologia; as carac- terísticas e os sintomas, as consequências e comorbidades; o diagnóstico, a avaliação e o tratamento. Dedicamos um momento/espaço ao por- tador dessa necessidade no ambiente esco- lar e a participação dos pais, do professor e da escola que podem em muito contribuir para que levem uma vida mais saudável. Há espa- ço também para discutir o TDAH em adultos, passando pelos critérios para o diagnóstico, os sintomas, as comorbidades, os transtor- nos psiquiátricos a serem considerados, a avaliação e o tratamento farmacológico. As referências utilizadas se reportam a 4 54 pesquisas realizadas até hoje, mas sabemos que a vida de maneira geral é dinâmica, por- tanto, lembremos que as pesquisas evoluem e com certeza esperanças, novos métodos, novos tratamentos e novas soluções pode- rão surgir a qualquer momento. Ressaltamos em primeiro lugar que embo- ra a escrita acadêmica tenha como premissa ser científica, baseada em normas e padrões da academia, fugiremos um pouco às regras para nos aproximarmos de vocês e para que os temas abordados cheguem de maneira clara e objetiva, mas não menos científicos. Em segundo lugar, deixamos claro que este módulo é uma compilação das ideias de vá- rios autores, incluindo aqueles que conside- ramos clássicos, não se tratando, portanto, de uma redação original e tendo em vista o caráter didático da obra, não serão expres- sas opiniões pessoais. Ao final do módulo, além da lista de refe- rências básicas, encontram-se outras que foram ora utilizadas, ora somente consulta- das, mas que, de todo modo, podem servir para sanar lacunas que por ventura venham a surgir ao longo dos estudos. 4 55 UNIDADE 2 - TDAH: Uma Visão Geral O Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) é um comprometi- mento neuro-comportamental com início na infância, caracterizando-se por um conjun- to de sintomas que envolvem hiperativida- de motora, impulsividade e desatenção. No adulto, as principais características sintoma- tológicas do TDAH são déficit de atenção, instabilidade emocional e desorganização. Nota-se que comparando os sintomas na criança e no adulto, a hiperatividade tende a diminuir e a desorganização fica mais evi- dente (BIEDERMAN et al., 2000 apud AGRA et al., 2011). De acordo com critérios do DSM-IV, o TDAH é dividido em três subtipos: desaten- to, hiperativo/impulsivo e combinado. Afeta em torno de 5% das crianças com idade in- ferior a 18 anos e pode persistir após adoles- cência em até 30% a 70% dos casos, com prevalência de 4,4% nos adultos. A grande maioria dos estudos observa um predomínio 2 a 3 vezes maior do transtorno no sexo mas- culino. Conforme dados da Associação Médica Americana, o TDAH é um dos transtornos mais bem pesquisados da medicina e a totali- dade dos dados sobre sua validade são muito mais convincentes do que os da maior parte dos transtornos mentais e inclusive de mui- tos problemas médicos. Apesar deste corpo de pesquisa robusto que torna o TDAH um dos “transtornos mais bem pesquisados na medicina”, ainda falta conhecimento acerca desse transtorno no Brasil (GOLDMAN et al., 1998 apud POLANCZY et al., 2011). O TDAH “é um transtorno do desenvol- vimento do autocontrole que consiste em problemas com o período de atenção, com o controle do impulso e com o nível de ativida- de” (BARKLEY, 2002, p. 35). Tem como características: persiste durante o desenvolvimento da criança; ocorre em diversas situações; prejudica a capacidade da criança em responder às demandas solicitadas para sua idade; não é facilmente explicado por causas ambientais ou sociais; e, relaciona-se a anormalidades no funcio- namento ou desenvolvimento cerebral, que podem estar associadas a fatores biológicos. Barkley (2002) e Rotta et al. (2006) tam- bém pontuam os três problemas primários no TDAH: dificuldadepara manter a atenção; pouco controle ou inibição dos impulsos (im- pulsividade) e atividade excessiva (hiperati- vidade), que resultam em atraso no desen- volvimento da inibição de comportamento, que é o problema central do transtorno. Rotta et al. (2006) enfatizam a presença de um nível inadequado de atenção em re- lação ao esperado para a idade, o que leva a distúrbios motores, perceptivos, cognitivos e comportamentais. A desatenção caracte- riza-se pela dificuldade em prestar atenção a detalhes, o que leva a criança a cometer erros em atividades escolares, não conse- guir acompanhar instruções longas e não conseguir executar as atividades de forma adequada. A criança apresenta dificuldade para organizar, planejar, realizar tarefas que envolvam esforço mental sustentado, além 6 7 de perder seus pertences com facilidade e se distrair facilmente com estímulos do am- biente. Os mesmos autores acima descrevem a hiperatividade como atividade motora in- tensa, sendo demonstrada pelos seguintes comportamentos: agitar as mãos ou os pés ou se remexer na cadeira; não conseguir permanecer sentado; correr em demasia; falar muito; não conseguir envolver-se em ativida- des de lazer de modo silencioso; parecer “estar a mil por hora”; não conseguir controlar seu próprio cor- po e não manter o foco na atividade cogniti- va, gerando uma produção intelectual pobre. Para eles, os comportamentos impulsi- vos são manifestados por dificuldade em aguardar a vez, responder à pergunta antes de seu término e intrometer-se na conver- sa dos outros. Junto à impulsividade, pode- -se observar também instabilidade, apatia, irritabilidade, agressividade, baixo limiar a frustrações e reações catastróficas. Assim, o TDAH é considerado um distúrbio do de- senvolvimento com início na primeira infân- cia, podendo se prolongar até a idade adulta (BARKLEY, 1998; ROHDE, 2003; CONDEMA- RÍN et al., 2006; BROWN, 2007 apud ROSSI; RODRIGUES, 2009). Uma variada etiologia tem sido estudada nos últimos tempos. Fatores neurológicos e genéticos parecem contribuir significativa- mente para a explicação dos sintomas e a ocorrência do transtorno. Por outro lado, fa- tores ambientais e sociais não são conside- rados fatores causais, mas podem contribuir para a persistência dos sintomas. Autores que estudam os processos psi- copatológicos, a neurobiologia e a neurop- sicologia do TDAH sugerem que a disfunção no córtex pré-frontal e suas conexões com a circuitaria subcortical e com o córtex pa- rietal possam ser responsáveis pelo quadro clínico. Tais danos levam a déficits na ma- nutenção da atenção, inibição, regulação da emoção, motivação, capacidade de organi- zação e planejamento do comportamento futuro (VASCONCELOS, 2002) e das funções executivas (que capacitam o sujeito no de- sempenho de suas ações voluntárias, autô- nomas e orientadas para metas específicas), incluindo memória de trabalho, planejamen- to, autorregulação de motivação e do limiar para ação dirigida a um objetivo definido e in- ternalização da fala (BARKLEY, 1997, 2000; STRAYHORN, 2002 apud ROSSI; RODRIGUES, 2009). O TDAH tem sido considerado um dos maiores problemas clínicos e de saúde pú- blica, gerando grande impacto na socie- dade pelo alto custo, estresse envolvido, dificuldades acadêmicas, problemas com- portamentais e pela baixa autoestima gera- da nas crianças (ROTTA et al., 2006). A escola é a primeira instância fora do âmbito familiar que julga as potencialidades e possibilidades das crianças, e também é o lugar onde se tornam mais evidentes seus problemas atencionais e suas condutas dis- ruptivas. Esses sintomas geram problemas para os professores, em especial quando os meios com que se conta são escassos ou quando se deve atender a classes que sejam numero- sas (CONDEMARÍN et al., 2006). 6 7 O professor tem como finalidade a apren- dizagem do aluno. Assim, deve-se compro- meter com o sucesso deste para que seus déficits sejam minorados ou neutralizados (PEREIRA et al., 2004). Cabe aos professores a tarefa de garantir ao aluno uma formação que lhe propicie o acesso aos conhecimen- tos socialmente acumulados e a aquisição dos comportamentos de autogoverno, ca- pacitando-o a atuar sob novas contingências e agir com sucesso em relação ao mundo em um tempo futuro. Dessa forma, os profes- sores necessitam de um vasto conjunto de conhecimentos científicos sobre o mun- do físico e social e sobre o comportamento humano, de modo a responder pelo ensino de forma eficiente (ZANOTTO, 2004), en- tre eles o comportamento de crianças com TDAH, de forma que, sabendo identificá-los e conhecer estratégias para lidar com eles, possibilitaria a elas acesso ao conhecimento e ao desenvolvimento pessoal (ROSSI; RO- DRIGUES, 2009). 8 98 UNIDADE 3 - Epidemiologia, Etiologia e Histórico do TDAH 3.1 Epidemiologia De pronto, justificamos que os números apresentados sobre os portadores de TDAH não são exatos, o que pode ser observado na unidade anterior e em vários momentos ao longo da apostila, mas a variação está dentro de um limite aceitável, como a Associação Americana de Psiquiatria (APA) que estima cerca de 3(três) a 5(cinco)% das crianças na idade escolar (mais ou menos de 5 a 10 anos de idade) apresentando hiperatividade e/ou déficit de atenção. Antes dos quatro ou cin- co anos é difícil ser feito o diagnóstico, pois o comportamento das crianças nessa idade é muito variável, e a atenção não é tão exigida quanto de crianças mais velhas. Mesmo as- sim, algumas crianças desenvolvem o trans- torno numa idade bem precoce. Em ado- lescentes e adultos ainda existem poucos dados a respeito de qual é a porcentagem da população afetada, mas é sabido que ambos os grupos podem desenvolver o transtorno. Em termos de gênero, o sexo masculino é quatro a nove vezes mais afetado do que o feminino (ANDRADE, 1999). Estudos epidemiológicos indicam que 3% a 7% das crianças norte-americanas com idade escolar apresentam TDAH (GOLDMAN, GENEL, BEZMAN, & SLANETZ, 1998; PASTOR & REUBEN, 2002 apud SANTOS; VASCONCE- LOS, 2010). No Brasil, alguns estudos em po- pulações de crianças brasileiras em idade es- colar corroboram estes índices (GUARDIOLA, TERRA, FERREIRA & LONDERO, 1999; ROH- DE & COLS., 1998; SOUZA, SERRA, MATTOS, & FRANCO, 2001; FREIRE & PONDÉ, 2005 apud SANTOS; VASCONCELOS, 2010). O transtorno apresenta uma prevalência de 9:1 de me¬ninos para meninas, em amos- tras clínicas (Barkley, 2002; Rohde & Halpern, 2004 apud SANTOS; VASCONCELOS, 2010), e uma proporção de 3:1 em amostras popu- lacionais em geral (OFFORD & COLS., 1992; BARKLEY, 1998; ROHDE & HALPERN, 2004 apud SANTOS; VASCONCELOS, 2010). Vale ressaltar que os estudos epidemiológicos re- ferem-se à faixa etária dos 7 aos 14 anos de idade (ROHDE & MATTOS, 2003), embora ele possa persistir durante a vida adulta, con- forme observado por Biederman e Faraone (2005 apud SANTOS; VASCONCELOS, 2010). De fato, a persistência do TDAH em adoles- centes e adultos vem sendo relatada em al- guns estudos longitudinais, ainda que a taxa de prevalência seja inconsistente. A preva- lência do TDAH em adultos na população ge- ral varia de 2,5% a 8% (Kessler, Chiu, Demler, Merikangas & Walters, 2005; Kooij & cols., 2005; Rohde & cols., 1998 apud SANTOS; VASCONCELOS, 2010). De acordo Barkley (2002) e Biederman e Faraone (2005), cerca de 60% a 70% das crianças com TDAH apre- sentarão o diagnóstico na vida adulta (SAN- TOS e VASCONCELOS, 2010). 3.2 Etiologia Acredita-se que o distúrbio esteja acom- panhado de um quadro de disfunção hor- monal. Tomografias tiradas dos cérebros de pessoas com TDAH registram um comporta- mento diferente de dois neurotransmisso- res – a noradrenalina e a dopamina – que atu-am sobre a atenção e a coordenação motora (DIAS, 2004). Mais de 40% das crianças com esse défi- cit têm pais que apresentaram o mesmo pro- blema na infância. 8 99 A etiologia do transtorno é multifatorial, ou seja, enquanto fenótipo, o TDAH resulta da interação de vários fatores ambientais e genéticos que atuam na manifestação de seus diversos quadros clínicos (ROMAN et al., 2003). Em relação à imaturidade emocional, se- gundo Riesgo e Rohde (2004), alguns even- tos pré ou perinatais como, por exemplo, o baixo peso ao nascer, a exposição ao álcool ou cigarros durante a gestação, aumentam o risco para o desenvolvimento do TDAH. Eles atestam também que existem evidências de que o TDAH esteja associado a uma perma- nência de imaturidade, ou melhor, de ilhas de imaturidade, em um curso maturacional nor- mal e progressivo, mas um pouco mais lento em determinados setores. Estudos realizados por Moreno (1995 apud COUTO; MELLO JUNIOR; GOMES, 2010), avaliaram o comportamento das crianças por meios de distintas etapas evolutivas, deixando claro que as complicações pré e perinatais não afetam igualmente todas as crianças prematuras ou com baixo peso, o que significa que esses problemas não são suficientes para explicar a futura existência de um TDAH. No que se refere aos estudos da genéti- ca do TDAH, estudos epidemiológicos mos- tram a recorrência familiar e, conforme Todd (2000 apud COUTO; MELLO JUNIOR; GOMES, 2010), o risco da recorrência do TDAH entre pais e irmãos é cerca de cinco vezes maior que a prevalência na população. Estes dados foram obtidos a partir de estudos com famí- lias com gêmeos e adotados. Embora estes trabalhos demonstrem a existência de uma contribuição genética substancial para a ocorrência do TDAH, não evidenciaram nenhum gene como necessá- rio ou suficiente para o desenvolvimento do transtorno, fato que segundo o autor pode ser explicado pela complexidade clínica do transtorno. Em outro estudo, Faraone e colaborado- res (1992 apud COUTO; MELLO JUNIOR; GO- MES, 2010) concluíram que 57% das crianças com TDAH têm pais afetados com o transtor- no, com um risco de 15% entre irmãos. Tam- bém confirmaram esta teoria os estudos fei- tos com gêmeos monozigotos, nos quais se constatou a concordância de 51%, enquanto em dizigotos a concordância é de 33% com maior incidência de TDAH em familiares de primeiro grau do indivíduo afetado. Segenreich e Mattos (2007) afirmam que trabalhos recentes encontram evidências de que o TDAH se trata de um distúrbio neuro- biológico. Dois grupos de pesquisas atuais têm resultados que atribuem a este trans- torno duas possíveis causas: uma relaciona- da ao déficit funcional do lobo frontal, mais precisamente o córtex cerebral; e a outra ao déficit funcional de certos neurotransmisso- res. Pesquisadores como Barkley (2002) acre- ditam ainda que o TDAH se evidencia por um déficit básico no comportamento inibitório. Uma deficiência em determinadas áreas nas quais o cérebro deveria comandar. Ainda para este pesquisador, um dos problemas preponderantes é que a criança com este transtorno tem dificuldade em manter sua atenção focalizada por um período mais lon- go. Durante a década de 70, uma teoria este- ve presente em relação aos fatores que oca- sionava o TDAH: as questões nutricionais. Acreditava-se que os aditivos presentes nas dietas alimentares das crianças com TDAH estivessem relacionados ao agravo das cri- 10 11 ses (COUTO; MELLO JUNIOR; GOMES, 2010). Esses estudos foram realizados por Fein- gold (1975 apud COUTO; MELLO JUNIOR; GOMES, 2010) que retratou que as crianças hiperativas tinham uma melhora em seu comportamento quando eram excluídos de sua dieta corantes artificiais, conservantes e salicilatos naturais como amêndoas, moran- gos, tomates entre outros alimentos. Estas pesquisas foram questionadas por outros cientistas que não encontraram respaldo que confirmasse que a diminuição de tais produtos na dieta produzisse algum efeito no desenvolvimento do TDAH. Desta forma, como podemos perceber, as causas do TDAH podem ter um sintoma isola- do ou um conjunto de fatores. Devido a isso, torna-se imperioso um diagnóstico detalha- do por diferentes profissionais, como: psicó- logos, psicopedagogos e neuropsicólogos. Contudo, apesar dos variados fatores que influenciam o desenvolvimento do TDAH, cada vez mais se constata que a etiologia do transtorno é neuro-genético-ambiental (COUTO; MELLO JUNIOR; GOMES, 2010). 3.3 Evolução do conheci- mento e estudos sobre a TDAH Suruagy e Botto (2009) apresentam no site Psiqueweb (2009) um breve histórico do TDAH, reportando que problemas com com- portamentos de agitação e falta de aten- ção em crianças e até adultos está longe de ser uma novidade, haja vista que são feitos trabalhos científicos sobre o assunto desde o começo do século XX, como um trabalho feito pelo médico George Frederic Still, em 1902. Still descreveu um grupo de 20 crianças que se comportavam de maneira excessi- vamente emocional, desafiadora, passional e agressiva e que mostravam resistentes a qualquer tipo de ação com o objetivo de tor- nar o comportamento delas mais aceitável. O grupo tinha uma proporção de 3 meninos para cada menina e era composto de crian- ças que não tinham indícios de maus tratos pelos pais. Still especulou que devido à au- sência de maus tratos, os problemas destas crianças deveriam ser de origem biológica. A hipótese ganhou mais força ainda quando Still notou que alguns membros das famílias das crianças eram portadores de problemas psiquiátricos como depressão, alcoolismo, problemas de conduta, etc. O simples fato que Still propôs: uma base biológica para o problema, demorou ainda mais algumas décadas para se tornar evi- dência. Antes disso, as crianças e os pais eram considerados responsáveis pela “falha moral” e o tratamento era frequentemente feito através do uso de castigos e punições físicas. Os manuais de pediatria da época eram repletos de explicações de como bater em crianças e afirmavam necessidade deste tipo de tratamento. As observações e deduções de Still in- fluenciaram o “pai” da psicologia Norte-A- mericana, Willian James que especulou que estes distúrbios de comportamento seriam devidos a problemas na função inibitória do cérebro em relação a estímulos ou a algum problema no córtex cerebral onde o intelec- to acabava se dissociando da “vontade” ou conduta social. Em 1934, Eugene Kahn e Louis H. Cohen publicaram um artigo no famoso “The New England Journal of Medicine” afirmando que havia uma base biológica para a hiperativi- dade baseado em um estudo feito com pa- 10 11 cientes vítimas da epidemia de encefalite de 1917-1918. Os autores deste artigo foram os primeiros a mostrar uma relação entre uma doença e os sintomas da ADD - Attencion Déficit Disorder – (falta de atenção, impulsi- vidade e hiperatividade). Em 1937, Charles Bradley mostrou mais uma linha de relação da ADD com o biológi- co através da descoberta acidental de que alguns estimulantes, as anfetaminas, aju- davam crianças hiperativas a se concentrar melhor. Esta descoberta foi contrária à lógi- ca tradicional, pois os estimulantes em adul- tos produziam um aumento de atividade no sistema nervoso central enquanto o inverso acontecia em crianças com ADD. O porquê deste fenômeno ainda iria ficar mais algu- mas décadas sem resposta. Em pouco tempo as pessoas com este problema receberam uma nova e obscura descrição: “Disfunção Cerebral Mínima” e começavam a serem tratadas com dois es- timulantes (Ritalina e Cyclert) que tinham se demonstrado muito eficazes no tratamento do problema. Nos anos 60, as observações clínicas se tornaram mais apuradas e ficou cada vez mais aparenteque a síndrome tinha algu- ma origem biológica e talvez até genética, absolvendo os pais da culpa pelo problema definitivamente na comunidade científica. A população em geral continuou culpando os pais, como ainda acontece até hoje em popu- lações menos informadas. No final dos anos 60, muito já era sabido sobre ADD, mas a fal- ta de novas evidências ligando a síndrome às bases biológicas começou a criar discussões sobre a sua existência. Muitos acreditavam que o transtorno era uma tentativa de livrar os pais de culpa por seus filhos mimados e mal comportados. Depois deste período de incerteza, novas descobertas começaram a ser feitas ligando os problemas associados com a ADD com certos tipos de neurotrans- missores. C. Kornetsky (1970), na década de 70, pro- pôs a hipótese de que a ADD poderia estar ligada a problemas com certos neurotrans- missores como a Dopamina e a Noroepine- frina. Embora a hipótese seja coerente, as pesquisas realizadas desde então, na ten- tativa de comprovar o efeito destes neuro- transmissores na ADD, ainda não obtiveram sucesso. Lou et al. (s.d apud HALLOWELL e RATEY, 2000) acharam evidências de uma deficiên- cia de circulação sanguínea nos lobos fron- tais e no hemisfério esquerdo de pessoas portadoras de ADD. Todos estes achados foram confirmados em 1990 por ZAME- TKIN (s.d apud HALLOWELL e RATEY, 2000), graças ao desenvolvimento de novas tec- nologias que mostravam o funcionamento do cérebro in vivo. De acordo com as novas evidências, ficou claro que a ADD estava re- almente associada às alterações do meta- bolismo cerebral, acabando definitivamente com a dúvida sobre a real existência da sín- drome e sua ligação biológica. Nominalmente, no início do século XX, esse distúrbio foi chamado de ‘distúrbio de disfunção cerebral mínima’, passando poste- riormente a ser chamado de ‘hipercinesia’ ou ‘hipernicese’. Logo a seguir, ‘hiperatividade’, nome que ficou mais conhecido e perdurou por mais tempo. Em 1987 passou a ser cha- mado de ‘distúrbio do déficit de atenção’, sendo que, muitas vezes, utiliza-se somente a sigla DDA (em português) ou ADD (em in- glês “Attencion Déficit Disorder”). É também eventualmente chamado de ‘síndrome do déficit de atenção’ (SILVA, 2004). 12 1312 O TDAH é reconhecido oficialmente por vários países e pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Em alguns países, como nos Estados Unidos, portadores de TDAH são protegidos pela lei quanto a receberem tra- tamento diferenciado na escola. 12 1313 UNIDADE 4 - Características e Sintomas 4.1 Características Segundo Dias (2004), a criança com TDAH tem dificuldade em focar atenção. É impul- siva (reage antes de pensar), atinge os ex- tremos da emoção com rapidez (tristeza e alegria) e não consegue terminar uma tarefa (cansa-se logo, num efeito chamado de fadi- ga precoce). Reforçando: a característica essencial do TDAH é um padrão persistente de desa- tenção, hiperatividade e alguns sintomas hiperativo-impulsivos que causam prejuízo ao relacionamento interpessoal. Para o diag- nóstico ser satisfeito deve haver clara inter- ferência no funcionamento social, acadêmi- co ou ocupacional (SILVA, 2004). A desatenção pode tanto manifestar-se em situações escolares, quanto profissionais ou sociais. As crianças com este transtorno podem não prestar muita atenção a deta- lhes e podem cometer erros grosseiros por falta de cuidados nos trabalhos escolares ou em outras tarefas. O trabalho dos portado- res de TDAH frequentemente é confuso e realizado sem meticulosidade nem precisão adequada. Os indivíduos, com frequência, têm difi- culdade para manter a atenção em tarefas ou atividades lúdicas e consideram difícil persistir nas mesmas tarefas até o seu tér- mino. Normalmente essas crianças dão a im- pressão de estarem com a mente em outro local, ou de não estarem escutando o que está sendo dito. Pode haver frequentes mu- danças de uma tarefa para outra, elas podem iniciar uma tarefa, passar para outra, depois voltar a atenção para outra antes de comple- tarem qualquer uma de suas incumbências (SILVA, 2004). Essas crianças frequentemente não aten- dem a solicitações ou instruções e não con- seguem completar os trabalhos escolares, tarefas domésticas ou outros deveres. As características apresentadas aqui de maneira bem didática e mais fre- quentemente citadas estão em ordem de frequência: hiperatividade; comprometimento percepto-motor; instabilidade emocional; déficit geral da coordenação; distúrbio da atenção; impulsividade; transtorno da memória e do pensamen- to; deficiências específicas do aprendiza- do; sinais e irregularidades neurológicas duvidosas ao eletroencefalograma (ABC da Saúde, 2005). As características do TDAH aparecem bem cedo para a maioria das pessoas, logo na primeira infância. O distúrbio é caracte- rizado por comportamentos crônicos, com duração de no mínimo seis meses, que se instalam definitivamente antes dos 7 anos. Atualmente, quatro subtipos de TDAH foram classificados: Desatento – quando exige-se que a pessoa apresente pelo menos seis das se- guintes características: 14 15 não enxerga detalhes ou faz erros por falta de cuidado; dificuldade em manter a atenção; parece não ouvir; dificuldade em seguir instruções; dificuldade na organização; evita / não gosta de tarefas que exigem um esforço mental prolongado; frequentemente perde os objetos ne- cessários para uma atividade; distrai-se com facilidade; esquecimento nas atividades diárias. Hiperativo / impulsivo – quando exi- ge-se que a pessoa apresente pelo menos seis das seguintes características. inquietação, mexendo as mãos e os pés ou se remexendo na cadeira; dificuldade em permanecer sentada; corre sem destino ou sobe nas coisas excessivamente (em adulto, há um senti- mento subjetivo de inquietação); dificuldade em engajar-se numa ativi- dade silenciosamente; fala excessivamente; responde a perguntas antes de elas se- rem formuladas; age como se fosse movida a motor; dificuldade em esperar sua vez; interrompe e se interrompe. Combinado – é caracterizado pela pessoa que apresenta os dois conjuntos de critérios dos tipos: desatento e hiperativo / impulsivo. Não específico – a pessoa apresenta algumas dificuldades, mas número insufi- ciente de sintomas para chegar a um diag- nóstico completo. Esses sintomas, no entan- to, desequilibram a vida diária. 4.2 Sintomas Pode parecer redundante falar em ca- racterísticas e sintomas, pois ambos podem parecer ter o mesmo significado, mas a in- tenção é que seja reforçado o entendimento para que haja um diagnóstico o mais próximo possível do correto. A ponto de ser considerado como trans- torno de déficit de atenção, os seguintes sintomas precisam ocorrer na maior parte do tempo nas seguintes atividades: frequentemente deixa de prestar aten- ção a detalhes ou comete erros por descuido em atividades escolares, de trabalho ou ou- tras; com frequência tem dificuldades para manter a atenção em tarefas ou atividades recreativas; com frequência não segue instruções e não termina seus deveres escolares, tare- fas domésticas ou deveres profissionais, não chegando ao final das tarefas; frequentemente tem dificuldade na or- ganização de suas tarefas e atividades; com frequência evita, antipatiza ou re- luta em envolver-se em tarefas que exijam esforço mental constante (como tarefas es- colares ou deveres de casa); frequentemente perde coisas necessá- rias para tarefas ou atividades; é facilmente distraído por estímulos alheios à tarefa principal que está executan- 14 15 do; Com frequência apresenta esqueci- mento em atividades diárias(ABC da Saúde, 2005). Uma pessoa pode apresentar o transtor- no de hiperatividade quando a maioria dos seguintes sintomas torna-se uma ocorrência constante em sua vida: frequentemente agita as mãos ou os pés ou se remexe na cadeira; com frequência abandona sua cadeira em sala de aula ou em outras situações nas quais se espera que permaneça sentado; frequentemente corre ou escala em de- masia, em situações nas quais isso é inapro- priado (em adolescentes e adultos, isso pode não ocorrer, mas a pessoa deixa nos outros uma sensação de constante inquietação); com frequência tem dificuldade para brincar ou se envolver silenciosamente em atividades de lazer; está frequentemente “a mil” ou muitas vezes age como se estivesse “a todo vapor”; frequentemente fala em demasia (ABC da Saúde, 2005). Além dos sintomas anteriores referentes ao excesso de atividade em pessoas com hiperatividade, podem ocorrer outros sinto- mas relacionados ao que se chama impulsivi- dade, à qual estaria relacionada aos seguin- tes aspectos: frequentemente dá respostas precipi- tadas antes de as perguntas terem sido com- pletadas; com frequência tem dificuldade para aguardar sua vez; frequentemente interrompe ou se mete em assuntos de outros (por exemplo, intrometendo-se em conversas ou brinca- deiras de colegas) (ABC da Saúde, 2005). 16 1716 UNIDADE 5 - Consequências e Comorbidades 5.1 Consequências Como vimos, o TDAH é um transtorno com estudos recentes, apesar de ser reconheci- do desde o início do século. Não existe até o momento uma causa específica para o pro- blema. Alguns genes têm sido descobertos e descritos como possíveis causadores do transtorno. Lesões neurológicas mínimas (impossíveis de serem vistas em exames) que ocorreriam durante a gestação ou nas primeiras semanas de vida, também são le- vantadas como possíveis causas. Alterações das substâncias químicas cerebrais (neuro- transmissores) também estão sendo suge- ridas como causadores dos sintomas (PSI- QUEWEB, 2005). Supõe-se que todos esses fatores for- mem uma predisposição básica (orgânica) do indivíduo para desenvolver o problema, que pode vir a se manifestar quando a pessoa sofre ação de eventos psicológicos estres- santes, como uma perturbação no equilíbrio familiar, ou outros fatores geradores de an- siedade. Além disso, as exigências da socie- dade por uma forma rotinizada de compor- tamento e desempenho podem interferir no diagnóstico deste transtorno (PSIQUEWEB, 2005). O baixo desempenho escolar; dificulda- des de relacionamento; baixo autoestima; interferências no desenvolvimento educa- cional e social e, predisposição a distúrbios psiquiátricos são apenas algumas das conse- quências a que se sujeitam os portadores de TDAH. Se pensarmos na impulsividade excessi- va, os impactos negativos sobre o desenvol- vimento pessoal e relacionamentos inter- pessoais é bem direto, gerando frustrações, raiva, rebaixamento da estima e insatisfação geral (AMORIM, 2013). A mesma autora ressalta que na infância, compromete o desenvolvimento em muitos aspectos. Na área social, prejudica os relacio- namentos com outras crianças. Uma criança que não saiba esperar, atropelando os ou- tros; não saiba ouvir instruções, explicações ou orientações até o final; que não tenha controle sobre suas explosões emocionais; que não siga regras em jogos e brincadeiras, terá certamente problemas em conquistar e manter amizades. Muitas vezes, o relacio- namento com adultos é mais fácil, por serem estes mais compreensivos (ou permissivos). Já o convívio prejudicado com outras crianças deve ser visto como um sinal de alerta. 5.2 Comorbidades Alguns autores constataram que indi- víduos com TDAH têm altas taxas de co- morbidade, sendo que as mais comuns são os Transtornos Ansiosos, Transtornos do Humor, abuso ou dependência de drogas e Transtornos de Personalidade (BIEDERMAN et al., 1993; BARKLEY, MURPHY e KWASNIK, 1996b apud BENCZIK; SCHELINI; CASELLA, 2010). Segundo Mattos e colaboradores (2005) e Gomes e colaboradores (2007), além dos sintomas do transtorno, em mais de 50% dos casos existem comorbidades, destacan- do-se entre elas: a) Transtorno desafiante de oposição (TOD), que se caracteriza por comportamen- to desafiador e opositivo (conforme o nome sugere) em relação a figuras de autoridade. 16 1717 b) Transtorno de conduta (TC), que se caracteriza pelo padrão de comportamento no qual se desrespeita os direitos básicos dos outros (mentiras, roubo, crueldade com animais entre outros). c) Abuso de substâncias psicoativas e álcool – em geral o abuso destas substân- cias relaciona-se com o comprometimento funcional nas áreas acadêmicas, social e pro- fissional. d) Transtorno de humor – depressão e transtorno bipolar, sendo que o primeiro ca- racteriza-se por tristeza, irritação, perda de interesse por atividades habitualmente pra- zerosas, fadiga fácil, insônia ou hiperisônia, enquanto que o transtorno bipolar carac- teriza-se pela presença de humor exaltado, euforia alternando-se com momentos de depressão. e) Transtornos de ansiedade, que se caracterizam por medos ou preocupações excessivas que comprometem a vida acadê- mica, social e familiar. f) Transtornos de tiques que se carac- terizam pela realização de movimentos ou sons vocais repentinos, rápidos, não rítmi- cos, estereotipados. g) transtornos de aprendizado, não consideradas aqui as dificuldades primárias decorrentes das próprias características do TDAH (desatenção e impulsividade) e que erroneamente são designadas como trans- torno de aprendizagem. Por se tratar de um transtorno, que na maioria das vezes envolve uma multiplicida- de de sintomas o diagnóstico do TDAH, é um processo que requer a avaliação de diferen- tes profissionais como: médicos, psicólogos, psicopedagogos e neuropsicólogos. Esta avaliação deve conter uma anamne- se minuciosa, um exame físico abrangente, uma avaliação do neuro-desenvolvimento e a realização de exames que tem por objeti- vo avaliar o rendimento pedagógico, através de dados recolhidos com professores e sua interação social com adultos que interagem com a pessoa que está sendo avaliada (COU- TO; MELLO JUNIOR; GOMES, 2010). 18 1918 UNIDADE 6 - Diagnóstico, Avaliação e Tratamento 6.1 Diagnóstico Segundo Coelho et al. (2010), o diagnósti- co para TDAH deve fundamentar-se no qua- dro clínico comportamental, uma vez que não existe um marcador biológico definido para todos os casos. O DMS-IV classifica os pacientes com TADH em três grupos: TDAH combinado, TDAH predominantemente de- satento, TDAH predominantemente hipera- tivo/impulsivo. Os critérios para TDAH, segundo o DSM IV (1994), são utilizados para avaliação das crianças e adolescentes, quando é impor- tante a presença de seis dos critérios que envolvem sinais de desatenção, hiperativi- dade e impulsividade. Uma história familiar positiva de TDAH ou outro transtorno comportamental, também, deve ser indagado, pois pode ocorrer recor- rência familiar significante para tal transtor- no (GUILHERME et al., 2007). O risco de TDAH parece ser duas a oito vezes maior nas crian- ças de pais afetados do que na população em geral. A presença de comorbidades no TDAH torna o diagnóstico mais difícil e exige maior suspeição em relação aos diversos tipos de transtornos comportamentais, sendo uma causa frequente de má resposta terapêutica ao tratamento isolado, com drogas psicoati- vas. O eletroencefalograma (EEG), o potencial evocado 300 1 e estudos de neuroimagem são utilizados para auxiliar no diagnóstico. Avaliações por meio de tomografia por emis- são de pósitrons (PET) revelam resultados diferentes em adultos e crianças com TDAH. Nestas, ademais, estudoscom ressonância nuclear magnética funcional (FRNM) cons- tataram a presença de hipofunção cerebelar (PEREIRA et al., 2003). As crianças desatentas podem apresen- tar um nível mais alto de isolamento social e retraimento, com níveis mais elevados de ansiedade, depressão e disfunção social; enquanto crianças com predomínio de sin- tomas de hiperatividade são mais agressivas do que as outras, tendendo a manifestar ele- vados índices de rejeição pelos colegas e a se tornarem impopulares (COELHO et al., 2010). Frequentemente, a presença de comorbi- dade torna o prognóstico ainda pior, ao pas- sar do tempo. Em geral, todas as comorbi- dades necessitam ser abordadas, quer com conduta medicamentosa ou qualquer outra. Uma intervenção adequada pode melhorar tanto a qualidade de vida como o prognósti- co desses pacientes. O diagnóstico diferen- cial com o TDAH deve ser feito com relação a epilepsia, crises de ausência na infância, déficits visual ou auditivo, doenças neuro- degenerativas, patologias da tiroide, distúr- bios do sono como dissonias e parassonias, doenças psiquiátricas e, de forma particular, causas psicossociais. Deve-se suspeitar des- tas etiologias, porque podem levar a sinto- 1- O P300 é um instrumento de investigação do processamento da informação (codificação, seleção, memória e tomada de decisão) e permite avaliar a atividade cortical envolvida nas habilidades de discriminação, integração e atenção do cérebro. O potencial cognitivo P300 é um potencial evocado auditivo de longa latência, gerado a partir da discriminação de um estímu- lo auditivo raro, dentre outro frequente, de mesma modalidade e características físicas diferentes. A resposta a este estímulo ocorre por volta de 300 mseg após a apresentação do mesmo. Ele é um indicador da velocidade do processamento cortical sendo que a sua resposta envolve várias vias do cérebro como as do tronco cerebral, córtex pré-frontal e temporo-parietal, tálamo, hipocampo e região límbica. O P300 pode estar anormal em pacientes com demência, AVC (derrame), sequela de traumatismo de crânio, insuficiência renal, AIDS, esquizofrenia, TDAH e muitas outras patologias que possam alterar o estado cognitivo do paciente (http://www. centrodetomografia.com.br/exame.php?id=75) 18 1919 mas algumas vezes bastante semelhantes ao quadro de TDAH. Ressalte-se que uma avaliação rápida, superficial, não evolutiva ou baseada em relatos confusos impede a correta avaliação dessa patologia (COELHO et al., 2010). Para Capovilla (2006), o distúrbio TDAH é caracterizado por comportamentos crôni- cos, com duração de no mínimo seis meses, que se instalam definitivamente antes dos sete anos, portanto, o diagnóstico do TDAH é clínico, embora seus sinais possam ser de- tectados precocemente pelo pediatra que acompanha a criança; sendo essencial o co- nhecimento da história do sujeito, a partir da observação dos pais e dos professores. As características gerais da história da criança com TDAH aparecem resumidas na tabela abaixo: Fases Características Lactente Bebê difícil, insaciável, irritado e de difícil consolo, com maior prevalência de cólicas, dificuldades de alimentação e sono. Pré-escolar Atividade aumentada ao usual, dificuldades de ajustamento, teimosia, irritação e extremamente difícil de satisfazer. Escola elementar Incapacidade de colocar foco, distração, impulsivo, desempe-nhoinconsciente, presença ou não de hiperatividade. Adolescência Inquieto e com desempenho inconsistente, sem conseguir colo- car foco, dificuldade de memória na escola, abuso de substân- cia, acidentes. Fonte: Rhode et al. (2004 apud COUTO, MELLO-JUNIOR e GOMES, 2010, p. 245) Outras justificativas para se fazer o diagnóstico e tratar a criança ou adulto com TDAH são: Primeiro, é importante se fazer o trata- mento desse transtorno para que a criança não cresça estigmatizada como o “bagun- ceiro da turma” ou como o “vagabundo”, ou como o “terror dos professores”. Segundo, é importante fazer o trata- mento para que a criança não fique durante anos com o desenvolvimento prejudicado na escola e na sua vida social, atrasada em rela- ção aos outros colegas numa sociedade cada vez mais competitiva. Terceiro, é importante fazer um trata- mento do transtorno para se tentar mini- mizar consequências futuras do problema, como a propensão ao uso de drogas (o que é relativamente frequente em adolescentes e adultos com o problema), transtorno do hu- mor (depressão, principalmente) e transtor- no de conduta. O diagnóstico deve ser feito por um pro- fissional de saúde capacitado, geralmente neurologista, pediatra ou psiquiatra, poden- do ser auxiliado por alguns testes psicoló- gicos ou neuropsicológicos, principalmente em casos duvidosos, como em adultos, mas mesmo em crianças, para o acompanhamen- to adequado do tratamento. O guia apresentado abaixo foi extraído do Manual de Diagnóstico e Estatística – IV Edição (DSM-IV) da Associação Psiquiátrica 20 21 Americana (1995). Ele é utilizado por profissionais especia- lizados em TDAH para o diagnóstico clínico. Aqui daremos apenas uma ideia de como tal diagnóstico é feito. Critério A: Assinale com um X na colu- na correta 20 21 CRITÉRIO B: Responda SIM ou NÃO Alguns desses sintomas estavam presentes antes dos 7 anos de idade? CRITÉRIO C: Responda SIM ou NÃO Existem problemas causados pelos sintomas acima em pelo menos 2 contextos diferen- tes (por ex., na escola, no trabalho, na vida social e em casa)? CRITÉRIO D: Responda SIM ou NÃO Há problemas evidentes na vida escolar, social ou familiar por conta dos sintomas? CRITÉRIO E: Responda SIM ou NÃO Se existe um outro problema (tal como depressão, deficiência mental, psicose, etc.), os sintomas podem ser atribuídos a ele? Como suspeitar do diagnóstico: 1) É necessário haver pelo menos 6 sintomas assinalados na coluna laranja ou vermelha, no CRITÉRIO A. Pelo menos 6 sintomas ÍMPARES e menos que 6 sintomas PARES: TDAH Tipo Predomi- nantemente Desatento Pelo menos 6 sintomas PARES e menos que 6 sintomas ÍMPARES: TDAH Tipo Predomi- nantemente Hiperativo-Impulsivo 6 ou mais sintomas ÍMPARES e 6 ou mais sintomas PARES: TDAH Tipo Combinado. 2) Os CRITÉRIOS B, C, D devem obrigatoriamente ter resposta SIM. 3) O CRITÉRIO E necessita da avaliação de um especialista, uma vez que os sintomas do Critério A ocorrem em muitos outros transtornos da infância e adolescência. Se os critérios A, B, C, D e E estiverem atendidos de acordo com o julgamento de um es- pecialista, o diagnóstico de TDAH é garantido. FONTE: Manual de Diagnóstico e Estatística – IV Edição (DSM-IV) da Associação Psiquiátrica Americana (1995). Obs.: O diagnóstico definitivo só pode ser fornecido por um profissional. 22 23 Para se fazer o diagnóstico, 6 (ou mais) dos seguintes sintomas de desatenção ou hipe- ratividade devem persistir por, pelo menos, 6 meses em grau mal-adaptativo e inconsis- tente com o nível de desenvolvimento. Os distúrbios podem ter início na primeira infância (crianças excessivamente sensíveis a estímulos e facilmente perturbadas por ru- ídos, luz, temperatura, etc.; ou às vezes o in- verso: crianças dóceis, sem energia, dormem a maior parte do tempo, e parecem desen- volver-se muito lentamente nos primeiros meses). Dificuldades na escola, tanto de apren- dizagem quanto comportamentais são co- muns devido à distractibilidade e atenção flutuante das crianças, que dificultam a aqui- sição, retenção e demonstração dos conhe- cimentos. As reações adversas dos professores, a redução da autoestima e comentários ad- versos de outros grupos pode transformar a escola num lugar de infelicidade e frustra- ção. Isso pode levar a uma atuação antisso- cial e a comportamentos autodestrutivos e autopunitivos.Vale a pena conferir o Documento da Fun- dação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (FHEMIG) que contém as Diretrizes Clínicas – Procedimento Operacional Padrão – Pro- tocolo Clínico contendo o Diagnóstico, Trata- mento do TDAH em crianças e adolescentes. Sua última revisão disponível na internet é de agosto de 2012. Disponível em: http://www.fhemig. mg.gov.br/pt/downloads/doc_download/ 1016-026-tdah-diagnostico-e-tratamento- -do-transtorno-de-deficit-de-atencao-em- -criancas-e-adolescentes 6.2 Avaliação Segundo Benczik (2000), as escalas de verificação de comportamento têm uma im- portante tradição na avaliação de estudan- tes com déficit de atenção e hiperatividade, embora com vantagens e limitações. Elas permitem obter informações referentes à extensão na qual o indivíduo exibe certas características relativas a outros do mesmo sexo e idade, entretanto, as escalas não são totalmente suficientes para reunir a singula- ridade do indivíduo, de forma que fornecem informações relevantes, mas essencialmen- te aquelas relativas a dimensões pré-deter- minadas, ou seja, avalia apenas as dimensões propostas pelo instrumento, não contem- plando todas as dimensões e características pertinentes ao indivíduo. Daí o fato desta técnica ser apontada como incapaz de retra- tar um quadro completo e acurado do com- portamento atual da pessoa. Vale ressaltar, no entanto, que essa é uma crítica inerente aos instrumentos de avaliação psicológica, o que justifica a importância do profissional, ao realizar uma avaliação, empregar técnicas complementares (observações, entrevis- tas, escalas, testes, técnicas projetivas), de forma a obter informações diversificadas e representativas do sujeito, o que vai ao en- contro das noções mais atuais referentes a processos de avaliação psicológica. Muitas das escalas para avaliar o TDAH voltaram-se aos sintomas primários da de- sordem, mas diversas outras foram ela- boradas para avaliar outros tipos de com- portamentos associados, como: agressão, passividade, imaturidade e conduta não complacente (MONTAGUE, MCKINNEY E HO- CUTT, 1994; BURCHAM E DE MERS, 1995 apud BENCZIK, 2000). De maneira geral, esse tipo de instrumento dá ao profissional de saúde mental uma melhor compreensão 22 23 de quem vê a conduta como problemática e de como diferenças percebidas em graus de desvios variam em função dos efeitos do ambiente (EDELBROCK, 1983 apud BENCZIK; SCHELINI; CASELLA, 2010). Dentro do pro- cesso de avaliação, as escalas de verificação de comportamentos tornam-se muito úteis como “ferramentas auxiliares” no processo diagnóstico. Cabe, entretanto, salientar que o objeti- vo da avaliação nos casos do TDAH não é de qualquer forma rotular indivíduos ou estig- matizá-los, mas sim avaliar e determinar a extensão na qual os problemas de atenção e hiperatividade interferem em suas habilida- des acadêmicas, afetivas e sociais e, a partir desta avaliação, fornecer um plano apropria- do de intervenção (MONTAGUE, MCKINNEY e HOCCUTT, 1994 apud BENCZIK; SCHELINI; CASELLA, 2010). Uma avaliação bem conduzida, utilizando instrumentos adaptados e com evidências de validade e precisão, permite a tomada de decisões adequadas, tendo em vista um melhor funcionamento em termos da saúde mental do adolescente e do adulto. Em rela- ção à validade de instrumentos psicológicos, sejam estes inventários, escalas ou testes, tradicionalmente são caracterizados três tipos: validade de conteúdo, de critério e de construto. Dentre as formas mais frequen- tes de se verificar a validade de construto, destacam-se as correlações com outros tes- tes que meçam o mesmo construto, a consis- tência interna dos itens, mudanças desen- volvimentais, análise fatorial e intervenções experimentais (ANASTASI e URBINA, 2000). À medida que se apresentam mais estu- dos a respeito de diferentes tipos de validade sobre um determinado instrumento, maior a segurança na interpretação de seus resulta- dos. Há muitas escalas americanas que têm como objetivo avaliar os sintomas de TDAH, como por exemplo: a Attention Deficit Sca- les for Adults – ADSA (TRIOLO e MURPHY, 1996), a Self-Report Rating Form (MCCAR- NEY, 1996) e a Copeland Symptom Checklist for Adult Attention Deficit Disorders (COPE- LAND, 1989). Porém, o mesmo não acontece no Brasil. O único questionário denominado ASRS-18 (versão 1.1) - Adult Self-Report Sca- le foi desenvolvido por Kessler et al. (2006), juntamente com a Organização Mundial de Saúde. Este questionário consta de 18 per- guntas, em que o examinando deve respon- der com que frequência os itens ocorrem. Os itens contidos contemplam os critérios esta- belecidos pelo DSM-IV para o diagnóstico do TDAH em crianças, sendo adaptado para o contexto da vida adulta. 6.3 Tratamento ou conduta terapêutica O tratamento envolve o uso de medica- ção, geralmente algum psico-estimulante específico para o sistema nervoso central, uso de alguns antidepressivos ou outras me- dicações. Deve haver um acompanhamento do progresso da terapia, através da família e da escola. Além do tratamento medicamen- toso, uma psicoterapia deve ser mantida, na maioria dos casos, pela necessidade de aten- ção à criança (ou adulto) devido à mudança de comportamento que deve ocorrer com a melhora dos sintomas, por causa do aconse- lhamento que se deve fazer aos pais e para tratamento de qualquer problema específico do desenvolvimento que possa estar asso- ciado (ABC da Saúde, 2005). Um aspecto fundamental desse trata- mento é o acompanhamento da criança, de sua família e de seus professores, pois é pre- ciso auxílio para que a criança possa reestru- 24 25 turar seu ambiente, reduzindo sua ansieda- de. Uma exigência quase universal consiste em ajudar os pais a reconhecerem que a per- missividade não é útil para a criança, mas que utilizando um modelo claro e previsível de recompensas e punições, baseado em tera- pias comportamentais, o desenvolvimento da criança pode ser mais bem acompanhado (ABC da Saúde, 2005). Segundo a Associação Brasileira do Déficit de Atenção (ABADA), o tratamento farma- cológico pode envolver estimulantes como o Metilfenidato (Ritalina®), a d-anfetamina (Biphetamine® - EUA); a Pemolina (Cylert® - EUA). Apenas a Ritalina® se encontra dispo- nível no Brasil. Nos EUA, a cafeína tem sido muito pouco utilizada para o tratamento do Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade devido às facilidades para a prescrição do Metilfeni- dato (Ritalina®), no Brasil a Ritalina® é muito mais difícil de ser prescrita. Há necessidade de receituário especial para entorpecentes que só a secretaria da saúde fornece. Segundo a Associação Brasileira de Défi- cit de Atenção (ABADA), não existem estu- dos comprovando a eficácia da cafeína em crianças com TDAH. Os poucos estudos cien- tíficos mostram que o efeito é semelhante ao do placebo (substância sem efeito) e não é superior ao efeito dos estimulantes. A ca- feína só demonstrou ter algum efeito posi- tivo sobre a atenção em indivíduos normais que não eram portadores de TDAH. Existem também os antidepressivos tricí- clicos como a Imipramina (Tofranil®, Imipra®); a Nortriptilina (Pamelor®) e antidepressi- vos ISRS, mas a experiência é nova com os antidepressivos inibidores seletivos da re- ceptação da serotonina para o tratamento do TDAH, entretanto as perspectivas são bastante otimistas. A Fluoxetina (Prozac®, Verotina®, Daforim®, Fluxene®, Eufor®, Nor- tec®, Deprax®) tem sido usada com sucesso na dose de 0,5 a 1mg/Kg/dia. Existem ainda os antipsicóticos como Neuleptil®, Melleril®. No tratamento do TDAH, a utilização de psicoestimulantes e a terapia comporta- mental são comumente utilizadas e reco- nhecidamente eficazes. O Food and Drug Administration (FDA) aprovouo uso das se- guintes anfetaminas: metilfenidato, dex- troanfetamina e magnésio de pemolina. No Brasil, a única anfetamina disponível no mer- cado para o tratamento do TDAH é o metilfe- nidato (COELHO et al., 2010). Os mesmos autores citam que mais de 1500 estudos comprovaram a eficácia clí- nica do metilfenidato, nos últimos 40 anos. Apresenta excelente absorção oral, sendo que a ingestão alimentar altera a velocidade de absorção. Atravessa livremente a barreira hematoencefálica e o início da ação se dá em 30 minutos, com a meia-vida sérica em torno de quatro horas. O metilfenidato, uma anfetamina deriva- da da piperidina de ação simpaticomimética, tem revelado eficácia superior, seguido pe- los antidepressivos tricíclicos, no tratamen- to do TDAH. A ação do metilfenidato seria o bloqueio da recaptação das catecolaminas (dopamina e noradrenalina) nos neurônios pré-sinápticos, com uma maior disponibili- dade destas substâncias na fenda sináptica, predominantemente sobre o sistema reticu- lar ativador do tronco encefálico e o córtex cerebral (CORREA; PASTURA, 2003). O principal efeito, em curto prazo, do me- tilfenidato seria a insônia e a redução do apetite e, ainda, a dor abdominal e cefaleia. 24 25 Quanto aos sintomas colaterais, a maioria melhora dentro de poucos meses e apenas a anorexia é dose dependente (COELHO et al., 2010). Na prática clínica, sabe-se que a redução do apetite pode ser importante, a ponto de a criança perder até sete quilos em quatro meses, não cedendo com o uso de dieta ca- lórica, vitaminas ou redução da medicação nos finais de semana. Estratégias como: não usar metilfenidato após 15 h, dar a maior do- sagem no período da manhã, administrar a medicação juntamente com a alimentação, reduzir ou cessar temporariamente a dose, podem ter êxito no controle dos efeitos co- laterais (COELHO et al., 2010). Quando há agravamento dos efeitos cola- terais associado ao pico plasmático da droga, a medicação de liberação lenta pode ser uti- lizada. Em relação aos efeitos colaterais em longo prazo, os que causam maior apreensão aos pais são o risco de dependência e a pos- sível redução da estatura (PASTURA; MAT- TOS, 2004). Vale ressaltar que o benefício do trata- mento com TDAH em produzir bem-estar e controlar os sintomas cardinais, com melho- ra da autoestima, é um estímulo para a busca da terapia adequada, por parte do paciente, e resulta em grandes benefícios psicoemo- cionais em longo prazo, tendendo a afastá-lo de atitudes disruptivas ou antissociais (COE- LHO et al., 2010). O uso de metilfenidato em pacientes por- tadores de epilepsia não é contraindicado. Contudo, o médico deve preocupar-se em reajustar e monitorar doses e nível plasmá- tico das drogas antiepilépticas (DAE), visto que tal medicação pode diminuir o limiar de convulsões. Não existem evidências de que descargas epileptiformes tenham um papel na determinação dos sintomas de TDAH e que estudos para analisar o efeito das DAE sobre estes sintomas (TDAH) sejam impor- tantes. Concorda-se que a conduta terapêu- tica deve-se basear predominantemente no bom senso e na experiência pessoal de cada profissional, evitando que alterações isola- das ao EEG, comum em parte considerável da população e não sugestivas de quadros epilépticos já reconhecidos, possam ser va- lorizadas (COELHO et al., 2010). No Brasil, geralmente utiliza-se o metilfe- nidato em crianças, a partir dos seis anos de idade, quando o diagnóstico de TDAH pode ser mais concreto e a medicação é mais se- gura. A dose diária recomendada é de 0,3 a 2,0 mg/kg, entretanto raramente chega- mos a doses maiores, visto que, nas crianças susceptíveis ao tratamento, doses de 10, 20 e no máximo 30 mg por dia do metilfenida- to de liberação rápida são eficazes, em sua grande maioria. Mesmo que, a princípio, já se opte pela medicação de longa ação, o início do tratamento deve ser com medicação de li- beração rápida, para um melhor controle dos sintomas que eventualmente surjam (PAS- TURA; MATTOS, 2004). O recomendável mais uma vez é iniciar o tratamento o mais cedo possível tendo su- porte e acompanhamento de profissional especializado. 26 2726 UNIDADE 7 - Os Pais, a Escola e o Portador de TDAH 7.1 A participação dos pais Os pais da criança portadora de TDA me- recem muita consideração. É preciso muita paciência e vigor para amar e apoiar a crian- ça hiperativa em todos os desafios e frus- trações inerentes à doença. Os pais dessas crianças estão sempre preocupados e aten- tos. Consequentemente é fácil sentirem-se cansados, abatidos e frustrados. É de impor- tância vital para esses pais serem bons con- sigo mesmos, descansar quando apropriado, além de buscar e aceitar apoio para eles e para os filhos. Programas de treinamento para pais de crianças com TDAH frequentemente come- çam com ampla divulgação de informação. Existe uma grande quantidade de livros, ví- deos e fitas disponíveis com dados a respeito do transtorno em si e de estratégias efetivas que podem ser usadas por familiares. A lista que segue revê nove pontos de uma série de estratégias que podem ajudar os pais de crianças portadoras de TDAH (GOLDSTEIN, 1998). 1. Aprender o que é TDAH: Os pais devem compreender que, para poder controlar em casa o comportamento resultante do TDAH, é preciso ter um conhe- cimento correto do distúrbio e suas compli- cações. 2. Incapacidade de compreensão ver- sus rebeldia: Os pais devem desenvolver a capacidade de distinguir entre problemas que resultam de incapacidade e problemas que resultam de recusa ativa em obedecer ordens. Os pri- meiros devem ser tratados através da edu- cação e desenvolvimento de habilidades. Os outros são resolvidos de maneira satisfató- ria através de manipulação das consequên- cias. 3. Dar instruções positivas: Pais devem cuidar para que seus pedidos sejam feitos de maneira positiva ao invés de negativa. Uma indicação positiva mostra para a criança o que deve começar a ser feito e evita que ela focalize em parar o que está fazendo. 4. Recompensar: Os pais devem recompensar amplamente o comportamento adequado. Crianças com TDAH exigem respostas imediatas, frequen- tes, previsíveis e coerentemente aplicadas ao seu comportamento. Da mesma maneira, necessitam de mais tentativas para apren- der corretamente. Quando a criança conse- gue completar uma tarefa ou realiza alguma coisa corretamente, deve ser recompensada socialmente ou com algo tangível mais fre- quentemente que o normal. 5. Escolher as batalhas: Os pais deveriam escolher quando e como gastar suas energias numa batalha, sempre reforçando o positivo, aplicando consequ- ências imediatas para comportamentos que não podem ser ignorados e usando o siste- ma de créditos ou pontos. É essencial que os pais estejam sempre um passo à frente. 6. Usar técnicas de “custo de respos- ta”: Os pais devem entender bem o que seja “custo de resposta”, uma técnica de punição em que se pode perder o que se ganhou. 26 2727 7. Planejar adequadamente: Os pais devem aprender a reagir aos limi- tes de seu filho de maneira positiva e ativa. Aceitar o diagnóstico de TDAH significa acei- tar a necessidade de fazer modificações no ambiente da criança. A rotina deve ser con- sistente e raramente variar. As regras de- vem ser dadas de maneira clara e concisa. Atividades ou situações em que já ocorreram problemas devem ser evitadas ou cuidado- samente planejadas. 8. Punir adequadamente: Os pais devem compreender que a puni- ção sozinha não irá reduzir os sintomas de TDAH. Punir deve ser uma atitude direta- mente relacionada apenas a um comporta- mento declaradamente desobediente. No entanto, a punição só trará modificação de comportamento para crianças comTDAH se acompanhada de uma estratégia de contro- le. 9. Construir ilhas de competência: O que realmente importa para o sucesso dessa criança na vida é o que existe de cer- to com ela e não o que está errado. Cada vez mais, a área da saúde mental focaliza seu trabalho em aumentar os pontos fortes em vez de tentar diminuir os pontos fracos. Uma das melhores maneiras de criar pontos for- tes é uma boa relação dos pais com seu filho. 7.2 A escola Uma sala de aula eficiente para crianças desatentas deve ser organizada e estrutura- da. A estrutura supõe regras claras, um pro- grama previsível e carteiras separadas. Os prêmios devem ser coerentes e fre- quentes. Um programa de reforço baseado em ganho e perda deve ser parte integral do trabalho da classe. A avaliação do professor deve ser frequente e imediata. Interrupções e pequenos incidentes têm menores conse- quências se ignorados. O material didático deve estar adequado à habilidade da criança. Estratégias cognitivas que facilitam a auto- correção, assim como melhoram o compor- tamento nas tarefas, devem ser ensinadas. As tarefas devem variar, mas continuar sen- do interessantes para os alunos. Os horários de transição, bem como os intervalos e reu- niões especiais, devem ser supervisionados (ABDA, 2005). Pais e professores devem manter uma co- municação frequente. Os professores tam- bém precisam estar atentos à qualidade de reforço negativo do seu comportamento. As expectativas devem ser adequadas ao nível de habilidade da criança e deve-se estar pre- parado para mudanças (ABDA, 2005). Os professores devem ter conhecimento do conflito incompetência x desobediência, e aprender a discriminar entre os dois tipos de problema. É preciso desenvolver um re- pertório de intervenções para poder atuar eficientemente no ambiente da sala de aula de uma criança com TDAH. Essas interven- ções minimizam o impacto negativo do tem- peramento da criança. Constata-se assim, que existem várias ferramentas e linhas de atuação que profes- sores e escola podem utilizar para contribuir na minimização dos problemas de alunos com TDAH, além de manter um bom rela- cionamento com os pais, sempre trocando ideias para um diagnóstico antecipado pro- piciando um ambiente adequado, sem sofri- mento para todos os envolvidos. Na idade escolar, crianças com TDAH apresentam uma maior probabilidade de re- petência, evasão escolar, baixo rendimento 28 29 acadêmico e dificuldades emocionais e de relacionamento social. Supõe-se que os sin- tomas do TDAH sejam catalisadores, tornan- do as crianças vulneráveis ao fracasso nas duas áreas mais importantes para um bom desenvolvimento – a escola e o relaciona- mento com os colegas. À medida que cresce o conhecimento mé- dico, educacional, psicológico e da comunida- de a respeito dos sintomas e dos problemas ocasionados pelo TDAH, um número cada vez maior de pessoas está sendo correta- mente identificado, diagnosticado e tratado. Mesmo assim, suspeita-se que um grupo sig- nificativo de pessoas com TDAH ainda per- manece não identificado ou com diagnóstico incorreto. Seus problemas se intensificam e provocam situações muito difíceis no con- fronto da vida normal. O TDAH é com frequência, apresentado, erroneamente, como um tipo específico de problema de aprendizagem. Ao contrário, é um distúrbio de realização. Sabe-se que as crianças com TDAH são capazes de aprender, mas têm dificuldade em se sair bem na escola devido ao impacto que os sintomas do TDAH têm sobre uma boa atuação. Por outro lado, 20% a 30% das crianças com TDAH também apresentam um problema de aprendizagem, o que complica ainda mais a identificação cor- reta e o tratamento adequado. Pessoas que apresentaram sintomas de TDAH na infância demonstraram uma probabilidade maior de desenvolver problemas relacionados com comportamento opositivo desafiador, delin- quência, transtorno de conduta, depressão e ansiedade. Os pesquisadores, no entanto, sugerem que o resultado desastroso apresentado por alguns adolescentes não é uma consequên- cia apenas do TDAH, mas, antes, uma combi- nação de TDAH com outros transtornos de comportamento, especialmente nos jovens ligados a atitudes criminosas e abuso de substâncias, portanto, vale a pena observar e cuidar para que essas atitudes não com- prometam o desenvolvimento dos mesmos. 7.3 A atuação dos professo- res O professor tem papel importante na me- lhora do desempenho escolar e da saúde mental da criança, por isso ele deve sempre estar em contato com os pais trocando in- formações para que desempenhe seu papel com sucesso. Acredita-se que o professor, antes de ou- vir as propostas, já deve imaginar o quanto é difícil essa tarefa de educar uma criança com TDAH, pois fora esse aluno, têm vários ou- tros alunos que necessitam da sua atenção e, normalmente, em escola pública, os mate- riais, o espaço físico, a proposta de trabalho e outros itens para se ter um trabalho de quali- dade, são limitados. Mas é necessário ajudar essa criança com distúrbio para que as con- sequências não sejam negativas. É importante lembrar que crianças com TDAH são muito inteligentes, apenas têm di- ficuldade em prestar atenção no que o pro- fessor explica, e concluir suas tarefas. Será de grande importância um monitor para aju- dar o professor, já que esse aluno necessita de auxílio constante e na sala há vários ou- tros alunos que também necessitam de aju- da, lembrando que atualmente é muito raro ter monitores em sala de aula, e o número de alunos matriculados nelas é muito grande. O professor que lida com crianças com TDAH deve, em primeiro lugar, buscar ter co- nhecimento sobre esse distúrbio, muita pa- ciência e disponibilidade, lembrando-se que 28 29 elas já possuem uma autoestima baixa e de que não devem ser julgadas como um exem- plo negativo aos demais alunos, e muito menos taxadas como “burras” ou preguiço- sas, elogiá-las sempre que tiverem um bom resultado ajudará muito a motivá-las (REIS; SANTANA, 2009). Crianças com TDAH têm capacidade de fi- car atentas diante de uma televisão, jogan- do videogame ou navegando na internet, isso se dá pelo estímulo dessas atividades e por serem individualizadas. Rohde e Benczik (1999, p. 42) afirmam que “em atividades em que a motivação é muito grande e os estímu- los são mais individualizados, estas crianças podem parar quietas e concentrar-se”. Por isso é necessário intervenções no ambien- te da sala de aula e intervenções pedagógi- cas para que se estimule a atenção e ajude a desenvolver as habilidades deficientes da criança. Em sala de aula, o professor deve lembrar- -se de pontos importantes que podem aju- dar na melhora quanto à atenção da criança, como exemplo Araújo e Silva (2003) citam um fato importante como colocar a criança sentada perto da mesa do professor, para que o espaço entre eles sejam pequeno e que ela consiga focar sua atenção no que o professor fala, não se dispersando a estímu- los exteriores. Como também não colocá-la sentada perto da porta ou janela, pois, ela se interessará pelo que se passa fora da sala de aula. Ela necessita de atividades que a estimu- lem. Ao contrário, a formação de grupos com muitas crianças para a realização dessas ati- vidades podem fazê-la perder o foco, já que muito estímulo ao seu redor reduz a capaci- dade de focar a atenção e controlar sua hipe- ratividade. As atividades devem ter um perí- odo curto, para que elas as concluam antes de perder o interesse (ARAÚJO; SILVA, 2003). Rohde e Benczik (1999, p. 85) sugerem que o professor dialogue com a criança, bus- cando a opinião dela de como poderia ser a aula, para que ela se interesse pela mesma e aprenda melhor. As explicações durante a aula devem ser pausadas para queelas en- tendam, ao término da explicação pergunte a ela se entendeu, e peça que repita o que explicou. Trabalhar o relacionamento da criança com TDAH e os outros colegas é de funda- mental importância, já que ela precisa se sentir segura no ambiente para realizar suas tarefas, e muita das vezes ela é excluída das atividades em grupo. Araújo e Silva (2003) recomendam igno- rar pequenos incidentes. O material didático deve ser adequado às habilidades da criança. Estratégias cognitivas que facilitem a auto- correção, e que melhorem o comportamento nas tarefas, devem ser ensinadas. As tarefas devem variar, mas continuar sendo interes- santes para o aluno, assim como a criativi- dade e habilidade do professor mediante as tarefas. Os horários de transição (mudanças de tarefas) das crianças devem ser supervi- sionados. A comunicação entre pais e pro- fessores deve ser frequente. Os professores também precisam ficar atentos ao quadro negativo de seu comportamento. As expec- tativas devem ser adequadas ao nível de ha- bilidade da criança e deve-se estar prepara- do para mudanças. É necessário mostrar limites de forma se- gura e tranquila, sem entrar em atrito, pois crianças hiperativas têm dificuldade em en- tender regras, por esse motivo é importan- te trabalhar, e sempre lembrá-las das regras dentro de sala de aula. Quando cometem er- 30 31 ros deve permitir que ela se desculpe, e res- saltar os limites sem gritar ou repreendê-las de forma agressiva, isso não funciona nem com alunos “normais”. Vale a pena conferir algumas interven- ções, citadas por Araújo e Silva (2003), para que o professor desempenhe seu papel de maneira que contribua com o aluno a desen- volver suas habilidades deficitárias, ou seja, ajudar a criança com TDAH a se ajustar me- lhor à sala de aula: a) proporcionar estrutura, organização e constância (sempre a mesma arrumação das cadeiras, programas diários e regras cla- ramente definidas). b) colocar a criança perto de colegas que não o provoquem, perto da mesa do profes- sor, na parte de fora do grupo. c) elogiar, encorajar e ser afetuoso, por- que essas crianças desanimam facilmente. d) dar responsabilidades que elas pos- sam cumprir, fazendo com que se sintam ne- cessárias e valorizadas. e) proporcionar um ambiente acolhedor, demonstrando calor e contato físico de ma- neira equilibrada. f) nunca provocar constrangimento ou menosprezar o aluno. g) favorecer oportunidades sociais e proporcionar trabalho de aprendizagem em grupos pequenos, pois em grupos menores as crianças conseguem melhores resultados. h) comunicar-se com os pais da criança porque, geralmente, eles sabem o que tem melhor funcionamento com seu filho. i) ir devagar com o trabalho e parcelar a tarefa. Doze tarefas de cinco minutos cada trazem melhores resultados do que duas ta- refas de meia hora. j) adaptar suas expectativas quanto à criança, levando em consideração as dife- renças e inabilidades decorrentes do TDAH. k) recompensar os esforços, a persis- tência e o comportamento bem sucedido ou bem planejado. l) proporcionar exercícios de consciên- cia e treinamento dos hábitos sociais da co- munidade. Uma avaliação frequente sobre o comportamento da criança consigo mesma e com os outros, ajudará bastante. m) estabelecer limites claros e objetivos. n) facilitar o frequente contato aluno/ professor, pois auxilia em um controle extra sobre a criança e possibilita oportunidades de reforço positivo e incentivo a um compor- tamento mais adequado. o) permanecer em constante comunica- ção com o psicólogo ou orientador da escola. Este é o melhor ponto de ligação entre a es- cola, os pais e o médico. As propostas citadas são dicas e não re- gras a serem seguidas como afirmam as au- toras, pois o professor deve utilizar-se de intervenções que acreditem que possa dar resultado, e ao notar que suas propostas falharam, deve repensá-las se utilizando de novas intervenções e levando o aluno a de- senvolver suas habilidades e se interessar pela aula, isso serve para alunos com TDAH e alunos “normais”, todos precisam de uma aula com qualidade e objetivos. Essas são algumas dicas de como lidar em sala de aula com uma criança com TDAH, que normalmente é muito inteligente e só preci- sa de uma ajuda para que desenvolva suas habilidades deficitárias. Elas não são melho- res nem piores, são iguais às outras crianças 30 31 só que com alterações comportamentais, sem autocontrole sobre suas ações, mas que podem ser dribladas com o tempo e com aju- da de pais, professores e especialistas (REIS; SANTANA, 2009). 32 3332 UNIDADE 8 - O TDAH na Fase Adulta Relatos sobre adultos com TDAH mostra- ram que eles enfrentam problemas sérios de comportamento antissocial, desempenho educacional e profissional pouco satisfató- rio, depressão, ansiedade e abuso de subs- tâncias. Infelizmente, muitos adultos de hoje não foram diagnosticados como crianças com TDAH. Cresceram lutando com uma de- ficiência que, frequentemente, passou sem diagnóstico, foi mal diagnosticada ou, então, incorretamente tratada. A maioria dos adultos com TDAH apresen- ta sintomas similares aos apresentados pe- las crianças. São frequentemente inquietos, facilmente distraídos, lutam para conseguir manter o nível de atenção, são impulsivos e impacientes. Suas dificuldades em manejar situações de “stress” levam a grandes de- monstrações de emoção. No ambiente de trabalho, é possível que consigam alcançar boa posição profissional ou status compatí- vel com sua educação familiar ou habilidade intelectual. A forma adulta do TDAH foi oficialmente reconhecida pela Associação Americana de Psiquiatria em 1980, por ocasião da publi- cação do Diagnostic and Statistical Manual - 3rd edition (DSM-III), persistindo este diag- nóstico na edição atual (DSM-IV). A Classifi- cação Internacional de Doenças (CID-10), em uso oficial no Brasil, não lista a forma adulta em seus critérios. Ainda hoje, o diagnóstico de TDAH em adultos é motivo de alguns em- bates (MATTOS et al., 2006). Estudos longitudinais demonstraram que o TDAH persiste na vida adulta em torno de 60% a 70% dos casos (BARKLEY et al., 2002 apud MATTOS et al., 2006), sendo as dife- renças encontradas nas taxas de remissão mais bem atribuídas às diferentes definições de TDAH ao longo do tempo do que ao curso do transtorno ao longo da vida (BIEDERMAN et al., 2000 apud MATTOS et al., 2006). Embora o diagnóstico de TDAH em adul- tos ainda seja motivo de embates, conside- ra-se que ele possa ser realizado de modo confiável quando são utilizados critérios bem definidos, tais como os empregados pelo sis- tema DSM (SPENCER et al., 1994; 1998 apud MATTOS et al., 2006). Dentre os estudiosos do TDAH, encon- tramos em Paulo Mattos e colaboradores, muitos estudos sobe o transtorno. O ilustre professor doutor é membro do Centro de Neuropsicologia Aplicada (CNA), clínica es- pecializada em avaliação de crianças, ado- lescentes e adultos e coordenador do Grupo de Estudos do Déficit de Atenção (GEDA) da Universidade Federal do Rio de Janeiro. 8.1 Critérios para diagnósti- co em adultos Os sintomas que compõem a base dos sistemas CID-10, da Organização Mundial de Saúde, e do DSM-IV para o diagnóstico de TDAH em crianças e adolescentes são se- melhantes. Entretanto, o CID-10 apresenta diferenças importantes, que culminam num diagnóstico mais restritivo: a) exige concomitância de sintomas de desatenção, hiperatividade e impulsividade. b) exclui o diagnóstico na presença de co- morbidade com ansiedade e depressão. c) exige que os critérios sejam atendidos 32 3333 de modo pleno em cada um de pelo menos dois contextos (MATTOS et al., 2006a). Portanto, pacientes com tipo predomi-
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