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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL FACULDADE DE VETERINÁRIA ESPECIALIZAÇÃO EM ANÁLISES CLÍNICAS VETERINARIAS POLICITEMIA EM CÃES E GATOS Autor: Rosiéli Delci Krüger Orientador: Andrea Pires dos Santos Porto Alegre 2007 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL FACULDADE DE VETERINÁRIA ESPECIALIZAÇÃO EM ANÁLISES CLÍNICAS VETERINARIAS POLICITEMIA EM CÃES E GATOS Autor: Rosiéli Delci Krüger Monografia apresentada à Faculdade de Veterinária como requisito parcial para obtenção do grau de Especialista em Análises Clínicas Veterinárias Orientador: Andrea Pires dos Santos Porto Alegre 2007 RESUMO A eritrocitose ou policitemia é uma doença pouco diagnosticada que afeta tanto aos humanos quanto às espécies veterinárias e que é caracterizada por um aumento significativo na contagem de eritrócitos, no hematócrito e na hemoglobina circulantes. Usualmente ela é subdividida em relativa e absoluta para facilitar o seu estudo. A eritrocitose relativa ocorre devido a diminuição do volume plasmático (hemoconcentração) ou a contração esplênica (indivíduos excitáveis). A eritrocitose absoluta precisa ser subdividida em: primária e secundária para ser melhor compreendida. A eritrocitose absoluta primária (policitemia vera, em humanos) é caracterizada pelo aumento das linhagens celulares do sangue na presença de baixos níveis de eritropoietina. Na eritrocitose absoluta secundária, os níveis séricos de eritropoietina estarão aumentados devido a hipóxia tecidual. Esta categoria pode, ainda ser dividida em apropriada ou inapropriada de acordo com a causa da hipóxia. As formas de tratamento da eritrocitose são: reposição do volume hídrico perdido (eritrocitose relativa), flebotomias associadas ou não à quimioterapia (eritrocitose absoluta primária), remoção da causa da lesão: retirada do tumor (secundária inapropriada) ou investigação e tratamento da causa primária (secundária apropriada). Palavras chave: eritrocitose, policitemia, eritropoietina sérica, flebotomia, quimioterapia. ABSTRACT Erythrocytosis or polycythemia is a human and veterinary illness of low diagnosis and is it to characterized by a significant increase in the red-blood-cell count, hematocrit and serum hemoglobin. Usually it is divided in relative and absolute to facilitate this study. Relative erythrocytosis occur due to decrease on plasmatic volume (hemoconcentration) or splenic contraction (excitable animals). Absolute erythrocytosis is divided in primary and secondary for a better understanding. Primary absolute erythrocytosis (human polycythemia vera) is caracterized by hiperplasy of the lineage cellular in low levels of serum erythropoietin. In the secondary absolute erythrocytosis, the levels of serum erythropoietin are increased due to tissue hypoxia. This category could be divided in appropriate and inappropriate secondary erythrocitosis according to the cause of hypoxia. The erythrocytosis treatment procedures are: replacement of lost hidric volume (relative erythrocytosis), phlebotomy associated or not to chemotherapy (primary absolute erythrocytosis), remove of lesion cause: tumor retreat (inappropriate secondary erythrocitosis) or investigation and treatment of primary cause (appropriate secondary erythrocytosis). Keywords: erythrocytosis, polycythemia, serum erythropoietin, phlebotomy, chemotherapy. LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1 - Comparação entre os hematócritos de um indivíduo normal e outro com policitemia................................................................................. 09 Figura 2 - Fluxograma descrevendo a seqüência clínica lógica para o diagnóstico de eritrocitose em cães e gatos....................................... 33 Figura 3 - Mucosa ocular avermelhada ............................................................. 45 Figura 4 - Mucosa oral avermelhada ................................................................. 45 Figura 5 - Mucosa ocular avermelhada da paciente........................................... 49 SUMÁRIO 1 2 3 4 4.1 4.2 4.2.1 4.2.2 4.3 5 5.1 5.2 5.2.1 5.2.2 5.3 5.4 5.5 6 6.1 6.2 6.2.1 6.2.2 6.3 7 7.1 7.2 7.2.1 7.2.2 8 8.1 8.2 INTRODUÇÃO.................................................................................................... DEFINIÇÃO........................................................................................................ ERITROPOIETINA (EPO)................................................................................ CLASSIFICAÇÃO DAS POLICITEMIAS OU ERITROCITOSES............. Policitemia Relativa............................................................................................. Policitemia Absoluta............................................................................................ Policitemia Absoluta Primária............................................................................... Policitemia Absoluta Secundária........................................................................... Eritrocitose Atípica.............................................................................................. ACHADOS CLÍNICOS E LABORATORIAIS................................................ Eritrocitose Relativa............................................................................................ Eritrocitose Absoluta........................................................................................... Eritrocitose Absoluta Primária.............................................................................. Eritrocitose Absoluta Secundária.......................................................................... Eritrocitose Atípica............................................................................................. Policitemia em Cães............................................................................................ Policitemia em Gatos........................................................................................... DIAGNÓSTICO.................................................................................................. Eritrocitose Relativa........................................................................................... Eritrocitose Absoluta.......................................................................................... Eritrocitose Absoluta Primária.............................................................................. Eritrocitose Absoluta Secundária.......................................................................... Diagnóstico Diferencial....................................................................................... PROGNÓSTICO................................................................................................. Eritrocitose Relativa........................................................................................... Eritrocitose Absoluta.......................................................................................... Eritrocitose Absoluta Primária.............................................................................. Eritrocitose Absoluta Secundária.......................................................................... TRATAMENTO................................................................................................. Eritrocitose Relativa..........................................................................................Eritrocitose Absoluta.......................................................................................... 07 08 09 12 12 13 13 17 21 22 22 22 23 25 26 27 28 29 29 30 30 31 31 34 34 34 34 34 35 35 35 8.2.1 8.2.2 8.3 8.3.1 8.3.2 8.3.2.1 8.3.2.2 8.3.2.3 8.4 8.5 8.5.1 8.5.2 8.5.3 8.5.4 9 9.1 9.1.1 9.2 9.2.1 Eritrocitose Absoluta Primária.............................................................................. Eritrocitose Absoluta Secundária.......................................................................... Técnicas Utilizadas no Tratamento da Eritrocitose........................................ Flebotomia............................................................................................................ Drogas Mielossupressoras.................................................................................... Agentes Alquilantes.............................................................................................. Hidroxiuréia.......................................................................................................... Interferon Alfa (IFN – alfa).................................................................................. Possíveis Complicações...................................................................................... Tratamento das complicações em Seres Humanos......................................... Tromboses............................................................................................................ Hemorragias......................................................................................................... Leucemias Agudas............................................................................................... Fase Tardia de Mielofibrose................................................................................ RELATO DE CASOS........................................................................................ Policitemia Vera................................................................................................. Discussão: Paciente com Policitemia Vera.......................................................... Eritrocitose Secundária..................................................................................... Discussão: Paciente com eritrocitose secundária................................................ CONCLUSÃO.................................................................................................... REFERÊNCIAS................................................................................................. ANEXOS............................................................................................................. 35 37 38 38 39 39 40 40 41 41 41 42 42 42 43 43 46 47 49 51 52 58 7 1. INTRODUÇÃO A eritrocitose foi primeiramente relatada em pacientes que viviam em altitudes superiores a 1.800 metros e, após isto foram realizadas algumas pesquisas com cães visando a obtenção de mais dados sobre esta doença. A policitemia é uma doença pouco diagnosticada devido à resistência de alguns proprietários em custear exames auxiliares, portanto a sua real freqüência nas espécies domésticas é subestimada. Para a sua melhor compreensão ela pode ser subdividida em relativa e absoluta. A policitemia absoluta pode ser ainda subdividida em primária e secundária e, a última, ainda possui a classificação de apropriada e inapropriada. É importante ter em mente estas classificações porque cada uma delas possui manifestações clínicas e características distintas. Dada a necessidade de estudar e aprofundar conhecimentos sobre a policitemia, bem como das suas causas, manifestações clínicas, contradições, formas de diagnóstico e tratamento desta doença propõe-se a realizar esse trabalho. 8 2 DEFINIÇÃO O termo grego policitemia é um sinônimo da palavra eritrocitose e é traduzido literalmente como aumento das células sanguíneas (PRCHAL, 2005), porém é regularmente definida por um incremento na concentração de hemoglobina e na contagem eritrocítica de uma amostra de sangue. Trata-se de um aumento do volume de eritrócitos e da hemoglobina circulantes podendo haver também um aumento, embora geralmente pequeno, da volemia (WATSON, 2000; BERKOW, 2006). Segundo Morrinson (1997, p. 277) a policitemia ”refere-se a qualquer estado clínico que se caracterize por aumento anormal na concentração dos eritrócitos circulantes”. Enquanto que Meyer (1995) considera que a eritrocitose é um aumento no hematócrito acima dos padrões de referência de cada espécie (Figura 1). A contagem de eritrócitos e a concentração de hemoglobina são, por padrões, paralelos ao valor do hematócrito. A policitemia da amostra sangüínea não indica automaticamente que a massa eritróide absoluta no organismo está aumentada, pois pode estar relacionada a uma diminuição do volume plasmático, principalmente em casos de desidratação (WILLARD, 1993). Nos casos onde a policitemia é uma anormalidade do “éritron”, demonstrada principalmente pelo hematócrito alto trata-se de uma policitemia verdadeira ou “vera” (KERR, 2003). Em resumo, o termo policitemia refere-se ao aumento do número de hemácias e geralmente da quantidade de hemoglobina que é refletida no aumento do hematócrito (GRAÇA, 2005). Figura 1– Comparação entre os hematócritos de um indivíduo normal e outro com policitemia (Fonte: Berkow, 2006). 9 3 ERITROPOIETINA (EPO) A eritropoietina é o fator hematopoiético mais fortemente responsável pela estimulação da eritrogênese em resposta a anemia. A eritropoietina é a 30,4 kd glicopoietina caracterizada pelo aminoácido 165 da proteína espinhal com quatro carboidratos em corrente, cada um contendo dois dos quatro resíduos siálicos (LANGSTON et al, 2003). A eritropoietina tem uma meia-vida na circulação de 6 a 10 horas. Aproximadamente 5 dias após a estimulação da eritropoietina os reticulócitos são liberados na circulação dos cães e gatos (LANGSTON et al, 2003). Segundo Nitsche, 2004, a eritropoietina é o principal hormônio responsável pela regulação da produção de eritrócitos na medula óssea. Ela é primariamente produzida nos rins e em menor extensão no fígado, em resposta a tensão de oxigênio no sangue. Langston (2003), diz que quando a tensão de oxigênio é baixa, tal qual em altas altitudes, a EPO é produzida fazendo com que os precursores eritróides da medula óssea sofram crescimento e maturação. Bonagura (1992), refere que o principal estímulo para a síntese de eritropoietina é a hipoxemia renal que culmina em aumento no hematócrito (picos de 65 a 68%). Langston (2003), complementa dizendo que este processo, em pequenos animais, dura aproximadamente 5 dias entre a estimulação até a liberação dos reticulócitos dentro da circulação. A maior produção de eritropoietina ocorre nas células peritubulares do interstício no interior do córtex renal e na parte medular do rim, mas o fígado produz entre 10% e 15% do total da eritropoietina (LANGSTON, 2003). Entretanto ainda existem controvérsias sobre o local exato do rim em que a eritropoietina é produzida. A maior evidência aponta para as células intersticiais do tipo I. Estas células fribroblásticas do rim são localizadas no túbulo contorcido proximal perto do fundo do córtex e exterior da medula. (NITSCHE, 2004). De acordo com Nitsche (2004, p.1), desde que os reticulócitos carreguem oxigênio para os tecidos, um aumento na massa de hemácias pode aumentar a capacidade de carregar oxigênio para o corpo. Quando a tensão de oxigênio no sangue retorna aos níveis apropriados, a produção de eritropoietina no rim mostra um decréscimo. As células do tipo Iagem como sensores fisiológicos do nível oxigênio onde o consumo de oxigênio renal é alto e os níveis de oxigênio caem. Quando a tensão de oxigênio no sangue é baixa, as proteínas heme estão em conformação ‘desoxi’(HASLER E GIGER, 2000, p 204). Estes são os gatilhos de produção de eritropoietina. O número subseqüente de eritrócitos recrutados pela eritropoietina é diretamente relacionado com o grau de hipóxia. Neste caso, o corpo é capaz de regular com eficiência a capacidade carreadora de oxigênio do sangue como precisa (STRAIT et al, 2005, p. 2). 10 Segundo Langston (2003) a eritropoietina diretamente simula a proliferação e maturação dos eritrócitos na medula óssea, obrigatoriamente, por um estímulo no fator específico de crescimento nos receptores dos precursores de células vermelhas do sangue (RBC)”. A eritropoietina faz maior efeito nas células formadoras de colônias eritróides (CFU- E), entretanto ela também tem alguns efeitos sobre a diferenciação da proliferação das unidades formadoras eritróides (BFU-E) e eritroblastos. Langston (2003) complementa dizendo que adicionalmente aos efeitos na diferenciação das hemácias, a eritropoietina induz a síntese de hemoglobina e as proteínas de membrana das hemácias, facilitando a liberação dos reticulócitos no sangue por diminuir a barreira entre a medula e o sangue. A presença de alta oxigenação celular resulta em decréscimo da produção de eritropoietina (LANGSTON et al, 2003), uma vez que a sua produção é regulada pelo clássico sistema de feedback negativo (NITSCHE, 2004). De acordo com Nitsche (2004), uma vez que, a eritropoietina é diretamente relacionada com a circulação da massa de eritrócitos, a mensuração da concentração de eritropoietina é teoricamente útil para o diagnóstico de aproximação em alguns animais com eritrocitose. Segundo Hasler e Giger (2000), a análise de eritropoietina é melhor conduzida por laboratórios, e os testes específicos para caninos e felinos tem acuracidade limitada devido a incompleta homologia da eritropoietina entre espécies e, Nitsche (2004), complementa dizendo que esta é 85% homóloga com a molécula humana. Já Langston e colaboradores (2003) dizem que a seqüência de aminoácidos da eritropoietina canina é 81,3% idêntica à molécula humana e a felina é 83,3%. Alguns tumores renais têm sido responsabilizados pelo desencadeamento de policitemia absoluta, por conduzirem ao aumento dos níveis plasmáticos de eritropoietina (SERAKIDES et al, 2000); que pode ser compensatório em resposta à hipóxia extrínseca ou intrínseca que serve de estímulo para a produção de eritropoietina, ou na ausência de hipóxia, em resposta ao incremento patológico na eritropoietina relatado em alguns tumores ou doenças renais ou responsivos a tumores (não foi comprovada atividade eritropoietínica, ainda) (LANGSTON et al, 2003; BAUER, 1970). Segundo Rocha (2000), em humanos, a produção de eritrócitos também é regulada pela eritropoetina. Sob condições normais a produção de eritropoietina é mediada pelo decréscimo da saturação de oxigênio na hemoglobina das hemácias. De acordo com Prchal (2005), a estimulação hipóxica resulta em produção do fator induzido pela hipóxia (H1F1) que é o maior fator responsável pela ativação da transcrição do gene da eritropoietina. Stockman 11 et al (1977), diz que esta não atravessa a placenta, mas o feto é capaz de produzi-lo em quantidade suficiente. A quantidade de EPO produzida depende não só do nível de hemoglobina, mas também da afinidade desta pelo oxigênio. Deste modo, sua produção diminui como resposta à transfusão sangüínea (TS) e aumenta com a presença de anemia ou hipóxia (YAMASHITA et al., 1994). O gene que codifica a eritropoietina foi clonado em 1985 e é utilizado com êxito na produção artificial do hormônio. A eritropoietina (EPO) é muito utilizada para o aumento do desempenho dos atletas, sobretudo no ciclismo, uma vez que aumenta o nível de glóbulos vermelhos no sangue, melhorando assim a troca de oxigênio e elevando a resistência ao exercício físico (ADAM, 2007). De acordo com Ferraz (2004) os valores de referência para as dosagens de eritropoietina em humanos são: 4,1 a 19,5 mU/mL para adultos, 5,0 a 13,0 mU/mL para crianças de 3 semanas a 2 meses de vida e de 9,0 a 28,0 mU/mL para crianças e adolescentes (3 meses a 16 anos). Para a realização da coleta é necessário um jejum de 4 horas. Entretanto Adam (2000), diz que não é necessária nenhuma preparação especial para a realização deste exame. 12 4 CLASSIFICAÇÃO DAS POLICITEMIAS OU ERITROCITOSES Watson (2000), diz que várias doenças causam eritrocitose em animais domésticos. Elas precisam ser divididas em quatro ou cinco grupos dependendo das causas e dos achados laboratoriais. De acordo com Graça (2005), as policitemias podem ser classificadas em relativa e absoluta primária, secundária e atípica. Segundo Morrinson (1997) a policitemia será absoluta ou relativa, com referência ao número de eritrócitos por unidade de volume de sangue. 4.1 Policitemia Relativa A policitemia relativa ocorre quando o volume plasmático diminui sem alteração na massa eritrocitária, e assim os eritrócitos no sangue ficam mais concentrados devido à a esta diminuição de líquidos no sistema vascular (desidratação, hemoconcentração ou hipovolemia) (MORRINSON, 1997; WATSON, 2000). Nestes casos, todos os elementos corpusculares do sangue estão aumentados. Esta condição pode também ocorrer depois de exercício intenso ou perda de fluídos das células (BAUER, 1970). Conforme Fraser (2006) e Morrison (1997), o estado de hidratação do animal deve ser sempre verificado, pois a diminuição do volume plasmático pode levar a um erro de interpretação do diagnóstico inclusive podendo mascarar uma anemia onde o volume globular, a hematimetria e a hemoglobina podem estar altos. Animais com hemorragia também podem apresentar hematócrito aumentado devido à hemoconcentração pela perda de líquido. Nestes casos, quando a volemia plasmática é reposta (ex: fluidoterapia), o animal pode apresentar um quadro de anemia, pois diminuiu a relação plasma-glóbulos. As causas mais freqüentes de aumento do hematócrito são: erro pré-analítico, desidratação e contração esplênica (sobretudo no gato) a qual ocorre em resposta ao medo, excitação ou intenso pânico (STRAIT et al, 2005; COMAZZI, 2006). A reação de “medo ou fuga” ocorre em indivíduos excitáveis devido à indução pelas catecolaminas, liberando uma grande quantidade de eritrócitos na circulação, mas as concentrações de proteínas plasmáticas não são alteradas (WATSON, 2000). Esta situação é classificada como uma policitemia relativa transitória (FRASER, 2006). Segundo Watson (2000), a eritrocitose é acompanhada por aumento nas proteínas plasmáticas totais, a menos que a síntese de proteína esteja defeituosa ou as perdas estejam aumentadas devido à doença concomitante. De acordo com Strait e colaboradores (2005), 13 pacientes com policitemia relativa secundária à desidratação evidenciarão os sinais clínicos da causa iniciadora (por exemplo: vômito, diarréia, anorexia) e sintomas que refletem a gravidade do problema (por exemplo: fraqueza). Animais com eritrocitose relativa podem mostrar sinais de desidratação assim como membranas mucosas secas, diminuição do turgor cutâneo e aumento no tempo de perfusão capilar. Segundo Morrison (1997), os sintomas são resolvidos com a fluidoterapia de reposição e o tratamento do problema subjacente. Freitas e colaboradores (2001), afirmam que a policitemia relativa pode predispor ao aparecimento de trombose e outras complicações vasculares, bem como a acidose metabólica. As principais causas da policitemia relativa são: perda de água causada por vômito, diarréia, excessiva diurese, privação hídrica, transpiração ou desidratação febril; perdade fluidos internos no choque devido ao aumento da permeabilidade vascular; perda de fluidos por efusão para as cavidades do corpo (BROCKUS & ANDREASEN, 2003). 4.2 Policitemia Absoluta Segundo Bush (2004), a policitemia absoluta deve-se a um aumento genuíno no número de hemácias, que eleva o hematócrito e também expande o volume total de sangue. Segundo Brockus & Andreasen (2003) é o aumento da eritropoiese que expande a massa eritrocitária total (o tamanho do éritron está aumentado) e Messick (2000) diz que pacientes com um aumento da massa de células vermelhas e que não têm um decréscimo significante no volume de plasma tem uma policitemia absoluta que pode ser dividida em doença primária e secundária. A elevada eritrogênese pode ou não ser dirigida pela eritropoietina (MEYER et al, 1995). A eritrocitose absoluta é menos comum que a forma relativa e a classificação em primária ou secundária depende se a excessiva produção de eritropoietina está ou não envolvida neste crescimento (WATSON, 2000). 4.2.1 Policitemia Absoluta Primária De acordo com Matsui (2005), a policitemia vera humana, também é chamada de policitemia primária, policitemia rubra vera, transtorno mieloproliferativo, eritremia, policitemia esplenomegálica, enfermidade de Vasquez, enfermidade de Osler, policitemia 14 com cianose crônica, policitemia mielopática, eritrose megaloesplênica, policitemia criptógena. É uma síndrome mieloproliferativa crônica na qual ocorre um incremento das células sanguíneas, principalmente das hemácias (BROCKUS E ANDREASEN, 2003). A policitemia vera é a mais comum desordem mieloproliferativa humana (PRCHAL, 2005, p.112). A policitemia vera é a única forma conhecida de policitemia primária adquirida (ZAMBON, 2007). De acordo com Campos (2005), o excesso de eritrócitos que aumenta o volume sangüíneo, torna-o mais espesso, de modo que o sangue passa a fluir com menor facilidade através dos pequenos vasos sangüíneos (hiperviscosidade). O mecanismo patogênico se dá pela proliferação autônoma (eritropoiese independente) onde a medula óssea produz glóbulos em quantidades acima do normal, independentemente da eritropoetina (que, em condições normais, controla e regula a maturação e multiplicação dos precursores eritróides da medula óssea, em resposta a certos estímulos, como a hipóxia) (MEYER et al, 1995). Trata-se de uma desordem clonal proliferativa caracterizada por crescimento dos precursores celulares primitivos, levando a uma grande expansão da massa de células vermelhas (MESSICK, 2000). Segundo Bush (2004), na policitemia primária o defeito de base está na medula óssea dos cães e gatos. É considerada uma malignidade atípica da célula totipotente hematopoiética na medula óssea, resultando em uma produção excessiva e descontrolada de hemácias maduras (distúrbio mieloproliferativo crônico). Conforme Adam (2000), nos seres humanos, esta doença é considerada como uma neoplasia hematológica. Em humanos a policitemia vera é considerada um tipo de transtorno mieloproliferativo de origem clonal, isto é, surge da transformação de uma única célula. A medula óssea contém as células mãe (células precursoras hematopoiéticas pluripotentes - PHPC) que tem a capacidade de maturar e se converter em células sanguíneas adultas que entram na circulação, incluindo os glóbulos vermelhos, glóbulos brancos e plaquetas. Cada PHPC pode clonar-se além de produzir os blastos (MACIK e HESS, 2004). Segundo Zambom (2007), na espécie humana, a produção excessiva e descontrolada de eritrócitos, granulócitos e plaquetas morfologicamente normais ocorre na ausência de qualquer estímulo externo e as manifestações e complicações da doença refletem principalmente o aumento no número absoluto de hemácias e da própria volemia. Segundo Fontelonga (2001), quando a célula tronco (pluripotente) está anormal na medula óssea, ocorre crescimento seletivo e, gradualmente, esta se torna a fonte predominante 15 de células precursoras da medula óssea, interferindo negativamente com a produção das células normais. De acordo com Macik e Hess (2004), na policitemia vera humana há um incremento da quantidade de células sanguíneas, tanto de glóbulos vermelhos como de glóbulos brancos e plaquetas, porém a causa é desconhecida. A dominância exercida pela policitemia vera eritróide clonal acima dos precursores eritróides policlonais pode ser também, em parte, devido a habilidade para completar esta diferenciação com maior eficiência no meio com baixos níveis de eritropoietina (ADAMSOM et al, 1980). Conforme Quesnel & Kruth (1992), a proliferação clonal dos precursores eritróides requerem pequenas quantidades ou ausência de eritropoietina para diferenciação e não respondem ao feedback negativo de controle da replicação. Esta dominância pode também envolver a transformação nos fatores de crescimento produzidos pelas células mononucleares da policitemia vera (EID et al, 1987) e a hipersensibilidade das células progenitoras da policitemia eritróide para interleucina 3 (IL-3), fator estimulador das colônias macrofágicas granulocíticas (GM-CSF), fator de células haste (SCF) (DAI et al, 1994) e fator de crescimento da insulina (IGF-1) (CORREA et al, 1994). Em cães e gatos a policitemia vera também se caracteriza por proliferação eritróide, sem causa conhecida que surge gradualmente e pode percorrer curso crônico. À medida que ocorre a policitemia, a viscosidade sanguínea aumenta logaritmicamente, quando o hematócrito geralmente excede os 55% (MORRISON, 1997). Brockus e Andreasen (2003) falam que esta é uma desordem mieloproliferativa das células tronco (doença primária do éritron). De acordo com Zambom (2007), a policitemia vera é um distúrbio mieloproliferativo caracterizado, em humanos, pela produção excessiva e descontrolada de eritrócitos, granulócitos e plaquetas morfologicamente normais na ausência de qualquer estímulo externo. As manifestações e complicações da doença refletem principalmente o aumento no número absoluto de hemácias e da própria volemia. Segundo Spivak (2002), a policitemia vera é uma desordem mieloacumulativa e não mieloproliferativa por envolver células progenitoras hematopoiéticas multipotentes onde há a hiperplasia das linhagens hematopoiéticas. Contudo, a eritrocitose é a mais proeminente manifestação clínica, que causa as mais sérias complicações. De acordo com Bush (2004), na maioria dos casos, o grau de oxigenação do sangue é normal e a produção de eritropoietina portanto também está normal, ou, mais freqüentemente, diminuída. Conforme Harvey (2001), a celularidade da medula óssea pode estar diminuída o que, presumivelmente, é resultado do acréscimo da demanda por produção de eritrócitos. 16 Segundo Messick (2000), trata-se de uma doença de início silencioso e desenvolvimento lento, em caninos e felinos. Nos últimos estágios pode ocorrer fibrose da medula óssea, falha eventual ou transformação em uma leucemia aguda. Zambon (2007), fala que em geral, em seres humanos, esta doença apresenta um curso clínico indolente, mas progressivo ao longo de várias décadas. A doença apresenta duas fases bem definidas: uma fase inicial ou pletórica, em que há um excesso de células do sangue, e uma segunda fase em que as células do sangue estão reduzidas, o baço atinge grandes dimensões e a medula óssea desenvolve progressiva fibrose e hipocelularidade (FONTELONGA, 2001). Após 10 décadas de cuidadosa investigação clínica e laboratorial, a etiologia da policitemia vera humana permanece desconhecida (STREIFF et al, 2002). A patogênese da eritrocitose primária não tem sido completamente investigada em espécies domésticas, mas provavelmente envolve a proliferação de clones eritróides independentes da eritropoietina ou no tipo hiper-responsivo a ela, que já foi demonstrado em um gato (WATSON, 2000). As investigações sobrea patogênese da policitemia vera tem enfocado na eritropoiese porém com resultados paradoxais como a redução da meia vida das hemácias e do “pool” de células progenitoras eritróides não é expandido até o gasto do “pool” progenitor das células mielóides (BERLIN & LAWRENCE, 1951). De acordo com Perkins (2000), a proliferação neoplástica de células da linhagem eritróide na policitemia vera causa um aumento significante no hematócrito (65 – 80%), massa de eritrócitos total e concentração de hemoglobina. Segundo Perkins (2000), leucocitose e trombocitose são comumente vistas na policitemia vera em humanos porém raramente nas espécies veterinárias. Segundo Morrison (1997) os pacientes apresentam sinais e sintomas diretamente referíveis a policitemia e ao aumento da viscosidade sangüínea (polidipsia, poliúria, eritema da pele e membranas mucosas, vômito, diarréia, anorexia, fraqueza, convulsões, vasos retinianos dilatados e tortuosos), além dos sinais e sintomas referíveis à causa da policitemia (oxigênio arterial baixo, afecções cardiopulmonares, evidência de moléstia renal neoplásica ou não neoplásica, estimulação hormonal). Meyer et al (1995) diz que também podem ocorrer, trombocitose, hematopoiese extra medular e esplenomegalia. Os sinais clínicos variam, mas incluem letargia, inapetência e são variados (apreensão, colapso, ataxia posterior e desorientação), hemorragias e poliúria ou polidipsia. A principal anormalidade física é o avermelhamento da pele e membranas mucosas. As hemácias estão 17 microcíticas, e algumas vezes circulares, possivelmente refletindo a relativa deficiência de ferro (WATSON, 2000). Segundo Macik e Hess (2004), em seres humanos, quando há um aumento no volume e na viscosidade do sangue várias complicações se associam. De acordo com Matsui (2005), a viscosidade do sangue e o aumento de plaquetas resultam em um alto potencial para a formação de coágulos, que pode causar derrame ou um ataque cardíaco. Porém segundo Adam (2000), alguns homens podem apresentar hemorragia, mesmo com a presença de um grande número de plaquetas devido a sua capacidade de coagulação estar deteriorada. Boa parte dos pacientes humanos possui idade em torno dos 60 anos, com pico de incidência entre 60-80 anos (ZAMBON, 2007). A doença se desenvolve em geral após os 50 ou 60 anos de idade e pode progredir até converter-se em uma leucemia mielocítica aguda (ADAM, 2000). Esta se apresenta com maior freqüência no sexo masculino e quase nunca em pessoas menores de 40 anos (MATSUI, 2005). Menos de 1% dos casos desta enfermidade são diagnosticados em indivíduos com menos de 20 anos de idade e, até o momento, foram relatados menos de 20 casos em crianças (ZAMBON, 2007). Cerca de 25% dos doentes têm anormalidades do cariótipo (cromossomas), e à medida que a doença progride, novas anomalias cariotípicas podem se acumular (FONTELONGA, 2001). Segundo Berglund E Zetteval (1992), a incidência é menor que 2 por 100.000, esta não é uma doença rara. Zambon (2007) fala que a incidência humana global de policitemia vera é de 0,6-1,8 casos por 100.000 pessoas por ano, sendo mais comum em homens, negros e judeus Ashkenazi. Adam (2000) e Fontelonga (2001), dizem que os fatores de risco são desconhecidos, porém a incidência é maior nos europeus de ascendência judaica. 4.2.2 Policitemia Absoluta Secundária Embora não seja comum na maioria das espécies domésticas, a eritrocitose secundária é relatada com freqüência em cães e tem sido encontrada em gatos. A causa mais freqüente em pequenos animais é a tetralogia de Fallot e formas da síndrome de Eisenmenger’s. Nas doenças cardiovasculares ou cardiopulmonares os sinais clínicos predominantes são provavelmente a dispnéia, a reduzida tolerância ao exercício, o desânimo e a cianose (WATSON, 2000). De acordo com Berkow (2006), o excesso de eritrócitos causado por outros problemas, excetuando-se a policitemia vera, é denominado policitemia secundária. Por exemplo, a concentração baixa de oxigênio no sangue que estimula a medula óssea a produzir mais 18 eritrócitos. Por essa razão, em seres humanos com doença pulmonar crônica ou uma cardiopatia, os tabagistas e aqueles que vivem em altitudes elevadas podem apresentar um maior número de eritrócitos. Segundo Merino (1950), os níveis hematológicos normais são mantidos através de um equilíbrio entre os processos de formação e destruição do sangue. Em indivíduos que vivem em grandes altitudes acima do nível do mar e que mostram sinais de policitemia, o equilíbrio hematológico está sendo estabilizado em um nível mais alto que o normal. As informações são escassas com respeito aos processos de destruição do sangue em policitemias causadas por altas altitudes. Eritrocitose secundária, presumivelmente herdada, pode ser observada em cães e gatos que tem deficiência de hemoglobina redutase e, isto também pode ser observado em gatos que tem suspeita de envenenamento por monóxido de carbono. Entretanto, hemoglobinopatias herdadas com aumento da afinidade do oxigênio causando hipóxia tecidual não tem sido relatadas na literatura veterinária (WATSON, 2000). Segundo Brockus e Andreasen (2003) e Morrinson (1997) a policitemia absoluta secundária é causada por um aumento da secreção de eritropoietina ou substâncias similares a ela secretadas por tumores renais primários, afecções renais não neoplásicas (pielonefrite) ou pela hipóxia renal localizada (estenose ou trombose da artéria renal). Há liberação de muitas células imaturas na corrente sangüínea. De acordo com Watson (2000), na eritrocitose secundária, a massa de células vermelhas também está aumentada, mas os mecanismos envolvem um aumento da produção de eritropoietina. A policitemia secundária humana aparece em alguns tipos de tumores, alterações endócrinas como a síndrome de Cushing ou pode ser compensatória: quando há pouco aporte de oxigênio para a medula óssea que produz mais hemácias, por exemplo, em patologias do pulmão (BERKOW, 2006). A criança pós-matura ou cuja mãe tem hipertensão, fuma, é diabética ou vive a grande altitude corre um maior risco de desenvolver policitemia. Também pode produzir-se policitemia se a criança receber demasiado sangue da placenta antes do cordão umbilical ser apertado depois do parto (KOPELMAN, 2006). Policitemia tem sido também demonstrada em associação com administração de esteróides e em altas doses de testosterona (BAUER, 1970). Segundo Morrinson (1997, p. 278), algumas vezes é detectada policitemia leve em pacientes veterinários com hiperadrenocorticismo. O cortisol tem efeito eritropoético sobre a medula óssea. Este mesmo efeito pode ser gerado pela administração crônica de grandes quantidades de medicamentos corticosteróides. A administração de andrógenos também pode resultar numa leve policitemia. Os andrógenos aumentam a produção da eritropoetina plasmática, e também o grupamento de células reativas a eritropoetina. 19 A causa disto é a oxigenação insuficiente dos eritrócitos. Com isto, instala-se um estado de hipóxia e correspondente ativação da eritropoietina e regeneração eritrocitária, semelhante à verificada nas anemias regenerativas (KANTEK & PACHALY, 1994). Dentre os principais efeitos provocados pela hipoxemia está o aumento no hematócrito, chegando a picos de 65 a 68% (FREITAS et al, 2001). De acordo com Watson (2000), na policitemia absoluta secundária (ou eritrocitose) o aumento da produção da eritropoietina pode ser fisiológico ou patológico; isto pode ocorrer apropriadamente em resposta a hipóxia tissular ou inapropriadamente quando a produção de eritropoieina é independente da oxigenação tecidual. As policitemias secundárias, por definição, associam-se a altos níveis de eritropoietina e também podem ser congênitas ou adquiridas (ZAMBON, 2007). As considerações diferenciais para a eritrocitose secundária podem ser subdivididasem causas do aumento da produção de eritropoietina, as quais são fisiologicamente apropriadas ou inapropriadas (MEYER et al, 1995). Segundo Zambon (2007), a maioria dos casos de policitemia secundária congênita ou apropriada está associada a uma mudança na curva de saturação de hemoglobina para a esquerda, aumentando a afinidade da hemoglobina pelo oxigênio, resultando então em hipóxia tecidual relativa e estimulando a produção de eritropoietina. De acordo com Morrison (1997), as causas de policitemia secundária apropriada podem ser estabelecidas depois de ter-se determinado que a pressão de oxigênio arterial esteja baixa, seguida por uma cuidadosa avaliação da história e do sistema cardiopulmonar. As policitemias secundárias inadequadas estão comumente associadas à neoplasia renal ou à afecção do parênquima renal. O processo fisiológico ocorre nos casos de hipóxia, em que há aumento na produção da eritropoietina, que estimula a medula a produzir mais eritrócitos, aumenta a hemoglobina e aumenta o oxigênio. Ocorre com o aumento de altitude (3.500 m) e nos neonatos (MERINO, 1950). Tanto a policitemia quanto a hipóxia diminuem o transporte de oxigênio. Quando elas estão combinadas o transporte de oxigênio é muito menor do que quando elas aparecem isoladamente (efeito aditivo). A policitemia é proporcional ao nível de hipóxia (KRALOVICS et al, 1998). Segundo Nitsche, (2004) a policitemia absoluta secundária apropriada, em cães e gatos, é caracterizada por um aumento na massa de eritrócitos em resposta a hipóxia sistêmica. Sujeito a condições de hipóxia, um incremento na massa de eritrócitos aumenta a capacidade carreadora de oxigênio, capacitando então o corpo para aumentar a entrega de oxigênio aos tecidos. 20 A eritrocitose secundária também pode se desenvolver apropriadamente quando crônica, em pequenos animais. Doenças pulmonares severas causadas pela inadequada ventilação- perfusão ou pela difusão gasosa seriamente prejudicada. A oxigenação tecidual defeituosa pode levar a eritrocitose devido à pressão de oxigênio normal quando a carboxiemoglobinemia está sendo prolongada ou em algumas formas de metemonoglobinemia (WATSON, 2000). Watson (2000) acrescenta que em grandes altitudes (acima de 1800 metros) são a causa mais comum deste tipo de eritrocitose em pacientes veterinários. Strait e colaboradores (2005) dizem que outras causas incluem doença cardíaca cianótica com passagem de sangue da direita para a esquerda (pacientes com ducto arterioso persistente ou tetralogia de Fallot), doença respiratória crônica severa, anormalidades funcionais da hemoglobina e obesidade severa (Síndrome de Pickwickian). A eritrocitose absoluta secundária inapropriada é definida por um aumento na massa de eritrócitos sem evidências de hipóxia. Entretanto a saturação de oxigênio está dentro do intervalo de referência, a eritropoietina é freqüentemente elevada (NITSCHE, 2004). Esta forma de eritrocitose é caracterizada por aumento da secreção de eritropoietina devido a hipóxia tecidual geral. Mecanismos identificados em pessoas envolvem a liberação de eritropoietina pelos rins, em resposta a anormalidades funcionais ou estruturais dos rins, ou por tumores em outros órgãos (WATSON, 2000). Segundo Zambon (2007), a policitemia secundária adquirida ou inapropriada reflete uma resposta fisiológica da eritropoietina a hipóxia tecidual (por exemplo: cardiopatia cianótica, enfisema pulmonar) ou produção ectópica de eritropoietina em tecidos neoplásicos. De acordo com Nelseon e Hager (1983), alguns tumores renais têm sido responsabilizados pelo desencadeamento de policitemia absoluta secundária, em cães, por conduzirem ao aumento dos níveis plasmáticos de eritropoietina. Watson (2000), diz que algumas lesões renais (tumores, cistos, hidronefroses) podem causar uma alta produção produzida por hipóxia no parênquima renal adjacente. A causa mais comum desta alteração em medicina veterinária é a neoplasia (HASLER e GIGER, 2000). Tumores malignos e benignos tem sido implicados, sendo a neoplasia renal benigna o mais comum (STRAIT et al, 2005). Tumores não renais associados com eritrocitose incluem mioma uterino, hepatoma, e alguns tumores endócrinos (WATSON, 2000). Outros tumores citados incluem: hepatomas, leiomiomas uterinos e hemangioblastomas cerebelares (STRAIT et al, 2005). 21 Segundo Morrison (1997) e Rebar (2006), a policitemia em cães secundária a secreção inadequada de eritropoietina, foi identificada em associação com o carcinoma renal, linfoma renal e fibrossarcoma renal. O processo patológico pode ocorrer em lesões pulmonares, (enfisema pulmonar, pneumonia), problemas cardíacos (insuficiência cardíaca direita) ocorrerá o prejuízo das trocas gasosas e portanto, hipóxia, que irá estimular a produção de glóbulos vermelhos, provocando a policitemia. A doença de Cushing, em cães e gatos, também pode aumentar a produção de células vermelhas devido ao aumento da produção de andrógenos. De acordo com Berkow (2006), em seres humanos, as concentrações da eritropoietina comumente retornam ao normal e a policitemia se resolve após a remoção do tumor (exceto no caso de metástase), ou correção da anormalidade renal Conforme Morrison (1997), as causas secundárias da policitemia, em caninos e felinos, são mais comuns e ocorrem em resposta a elevadas concentrações séricas de eritropoietina, que atua como fator de crescimento e estimula a atividade mitótica nas células progenitoras eritróides e síntese da hemoglobina nos eritrócitos em processo de maturação. A eritropoietina também potencializa a liberação de reticulócitos da medula óssea para melhorar a oxigenação dos tecidos mediante o aumento da massa eritrocitária. 4.3 Eritrocitose Atípica Alguns pacientes humanos têm eritrocitose e aumento da concentração de eritropoietina na ausência de alguma doença com aumento da produção de eritropoietina, enquanto que outras têm ambas um aumento da concentração e o clone eritróide autônomo (WATSON, 2000). Segundo Watson (2000), alguns casos veterinários também são difíceis de classificar satisfatoriamente, como as eritrocitoses primárias que apresentam um inesperado aumento das concentrações de eritropoietina ou as eritrocitoses secundárias inapropriadas sem causa subjacente identificável, e podem ser consideradas eritrocitoses atípicas. Investigações de casos semelhantes podem incluir eletroforese da hemoglobina e determinação da hemoglobina P50 (a tensão de oxigênio em que a hemoglobina é 50% saturada). 22 5. ACHADOS CLÍNICOS E LABORATORIAIS Em muitos pacientes que tem eritrocitose, sinais anormais e achados são diretamente atribuídos a doenças de outro tipo especialmente a eritrocitose que não é severa e conseqüentemente os sinais estão ausentes ou leves. Entretanto, mesmo que leves são mantidos pelo aumento na produção de eritrócitos. Uma manifestação óbvia da eritrocitose é a aparência das mucosas (eritrocitoses severas do vermelho profundo ao vermelho purpúreo, metemoglobinemia pode produzir descoloração azul-acastanhada e monóxido de carbono a cor cereja-vermelha) e pele. Estes podem ser por leve cianose porque a corrente sanguínea está ociosa, devido à excessiva desoxigenação do sangue (WATSON, 2000). 5.1 Eritrocitose Relativa Na policitemia relativa a tensão de oxigênio do sangue arterial é normal. O volume total de sangue é diminuído por causa do decréscimo no volume sangüíneo. A massa de células vermelhas é normal. (BUSH, 2004). Quando a eritrocitose é um achado transitório devido a hiperexcitabilidade do cão ou gato o hemograma revela leucocitose fisiológica, podem também estar presentes, neutrofilia madura, linfocitose e possível monocitose ou eosinofilia (HARVEY, 2001). De acordo com Watson (2000), os sinais e achados clínicos refletem uma doença fundamentada, e a eritrocitose,usualmente branda ou moderada, é um indicador de hemoconcentração especialmente que é interessante. A eritrocitose significativa (hematócrito maior que 60%) ocorre raramente e pode ser associada com os efeitos adversos. A contração esplênica causa eritrocitose relativa provavelmente ocorre apenas em indivíduos excitáveis de algumas espécies, que são cães e eqüinos. Esta é leve, transitória e sem importância adicionais. 5.2 Eritrocitose Absoluta Caso a diferenciação entre as formas relativas e absolutas seja requerida, a mensuração da massa total de células vermelhas com radioisótopos classificados autólogos aos eritrócitos é útil. Na medula óssea podem ser examinadas as culturas de células hematopoiéticas com o 23 intuito de diferenciar entre progenitores eritróides independentes da eritropoietina ou hiper- responsivos a ela (WATSON, 2000). 5.2.1 Eritrocitose Absoluta Primária Segundo Macik e Hess (2004), a policitemia vera é um transtorno do sangue no qual há um incremento de todas as células do sangue, especialmente dos glóbulos vermelhos. O aumento das células sanguíneas deixa o sangue mais viscoso (espesso), provocando, em humanos, derrames cerebrais, danos nos tecidos e nos órgãos. No leucograma de cães com policitemia vera a contagem total de células estará aumentada, variando de 10.000-25.000/mm3. A leucocitose é obrigatoriamente um incremento absoluto no número de glóbulos brancos, que são evidenciados por um aumento no grupo de neutrófilos e pelo aparecimento ocasional de metamielócitos e mielócitos. A contagem diferencial pode também mostrar o leve aumento em basófilos e eosinófilos (BAUER, 1970). Nos estágios iniciais da doença, a morfologia eritrocitária é normal. Mais adiante podem ser notados sinais de mielofibrose (por ex.: anisopoiquilocitose). A leucocitose pode atingir até 12 vezes os valores normais. A diferença entre este estado e a leucemia mielóide crônica está no aumento da fosfatase alcalina leucocitária dosada pela técnica de quimioluminescência (freqüente em pacientes com policitemia vera). A trombocitemia pode variar de 500.000 a 1.000.000 mm3. Aproximadamente 10% dos pacientes possuem plaquetometria superior a 1.000.000 mm3 e anormalidades plaquetárias são comuns (ZAMBON, 2007). Conforme Pardini (2006), os granulócitos maduros da policitemia vera aumentam a contagem da fosfatase alcalina e do glicogênio. A saturação do oxigênio arterial é normal ou somente levemente diminuída, variando de 91-97%, entretanto em casos com algum grau de anóxia esta linha divisória pode cair a 88%. Animais com policitemia vera tem um hematócrito elevado (60-80%) apesar de possuirem hidratação e oxigenação adequadas. Os eritrócitos que estão no sangue são morfologicamente normais (BROCKUS e ANDREASEN, 2003). Considera-se um neonato humano policitêmico aquele que apresentar hematócrito superior a 65% com sintomas ou hematócrito superior a 70% com ou sem sintomas (ESSALUD, 2006). Fontelonga (2001), diz que devido à proliferação excessiva de células da medula óssea, e o conseqüente aumento do "turnover" celular, excesso de ácido úrico é freqüente. Para excluir outras patologias, exames que podem ser úteis incluem a determinação da saturação em oxigênio do sangue arterial, imagens radiográficas do abdômen, a eletroforese da 24 hemoglobina, a determinação da curva de dissociação do oxigênio da hemoglobina e os níveis de carboxihemoglobina. Os resultados encontrados nas provas analíticas, em seres humanos, são: a) hemácias: > 5,5 milhões/ml, com aumento da massa eritrocitária (> 36 ml/Kg em homens e > 32 ml/ Kg em mulheres); b) hemoglobina > 19 g/dl em homens e > 18 g/dl em mulheres; c) hematócrito > 55% em homens e 50% em mulheres; d) leucocitose, trombocitose e basofilia; e) diminuição da velocidade de sedimentação globular ; f) bioquímica com eritropoietina e ferro normais. Na biópsia de medula óssea veremos hipercelularidade das três linhas celulares (LOPEZ & DÍAZ, 2002; PAREJO & CARBALLO, 2003; BERKOW, 2006). Segundo Zambon (2007), o mielograma revela hiperplasia eritróide, granulocítica e de megacariócitos. Com a progressão da doença, ocorre fibrose da medula. Os níveis sérios de EPO costumam estar dentro dos limites da normalidade. Hiperuricemia é freqüente. Segundo Adam (2000), esta doença pode também alterar os resultados dos seguintes exames, em seres humanos: ácido úrico, (urina), ácido úrico, capacidade de ligação do ferro total (TIBC), nível de vitamina B12, contagem de glóbulos vermelhos, teste de agregação plaquetária, fosfatase alcalina dos leucócitos, taxa de sedimentação de eritrócitos (TSE), eritropoietina. Conforme Macik e Hess (2004), os sintomas humanos mais comuns incluem: fadiga, dor de cabeça, tonturas, dificuldade para respirar, transtornos da visão, incapacidade de se concentrar, sudorese noturna, pele avermelhada, hemorragias nasais, hemorragias menstruais excessivas, hemoptise, manchas roxas, prurido na pele (especialmente após um banho quente), gota, intumescimento, hipertensão. Pode ocorrer trombose arterial ou venosa, provocando um ataque cardíaco, um derrame cerebral ou uma embolia pulmonar. De acordo com Fontelonga (2001), os sintomas iniciais incluem pletora (compleição ruborizada e congestionada da pele e mucosas), episódios de hemorragias gastrointestinais (epistáxis). A incidência de úlcera péptica está aumentada. Outros sintomas que podem estar associados a esta doença, em seres humanos, são: repleção na parte superior esquerda do abdome, pontos vermelhos na pele, coloração azulada da pele, sintomas de flebite (ADAM, 2000). A visão pode ser distorcida e o indivíduo pode apresentar manchas cegas ou pode ver flashes de luz. O sangramento gengival e através de pequenos cortes é comum (CAMPOS, 2005). Complicações cardiovasculares incluem angina, enfarte do miocárdio e insuficiência cardíaca congestiva. Ocasionalmente, a síndrome de POEMS (Polineuropatia, Organomegalia, Endocrinopatia, proteína M, alterações da Pele) tem sido descrita em casos individuais (FONTELONGA, 2001). http://www.biobras.com.br/adam/encyclopedia/ency/article/003029.htm http://www.biobras.com.br/adam/encyclopedia/ency/article/003029.htm 25 Segundo Pardini (2006), os sintomas derivados do aumento da massa celular do sangue e a conseqüente lentificação da circulação são: conjuntivite bilateral, acúfenos, astenia e dor abdominal derivada da hipercloridria gástrica, também por aumento dos basófilos, entre outros achados. Os pacientes podem apresentar hipermetabolismo e relatar perda ponderal, sudorese noturna, vertigem, "tinitus” e infartos digitais são comuns especialmente nos pés (ZAMBON, 2007). Ao exame físico encontra-se esplenomegalia (75%), pressão arterial sistólica maior 140 mmHg (72%), pletora facial (67%), engurgitamento de conjuntivas (59%), hepatomegalia (40%) e cianose de extremidades. Em humanos, os níveis séricos da eritropoietina estão geralmente supressos ajudando na caracterização da policitemia vera e no seu diagnóstico diferencial; entretanto, níveis normais desta não excluem a doença (PARDINI, 2006). Em ocasiões muito raras, os cistos no fígado ou nos rins e os tumores do fígado ou do cérebro produzem eritropoietina; as pessoas que sofrem destas doenças apresentam valores elevados deste hormônio e podem contrair uma policitemia secundária (BERKOW, 2006). Conforme Pardini (2006), a fosfatase alcalina leucocitária (FAL) encontra-se elevada na policitemia vera em 80% dos pacientes, e paradoxalmente baixa na leucemia mielóide crônica. Segundo Campos (2005) a idade média na qual a policitemia vera humana é diagnosticada é 60 anos, mas ela pode manifestar-se antes. Já Zambon (2007) diz que ela afeta principalmente os homens entre 50 - 70 anos. 5.2.2 Eritrocitose Absoluta Secundária A eritrocitose pode apresentar a “contagem de células vermelhas excedendo10 milhões/mm3. As células brancas e a contagem de plaquetas são normais. A massa total de células vermelhas pode ser incrementada do normal de 30 ml/Kg a 80-90 ml/Kg”. O volume plasmático é normal ou decrescido. O exame revela hiperplasia eritróide seletiva em células medulares normal. “A saturação de oxigênio arterial é decrescida abaixo de 88% na forma hipóxica da policitemia secundária” (BAUER, 1970). Segundo Morrison (1997), a urinálise pode revelar hematúria (macro ou microscópica) em combinação com outros componentes anormais do sedimento. A PO2 arterial nestes pacientes está normal. Poderá haver necessidade de avaliação cuidadosa do abdômen pela palpação, radiografia, ultra-sonografia e, possivelmente, cirurgia exploratória, para o diagnóstico de policitemia secundária inadequada. 26 Polidipsia e poliúria podem ser vistas em alguns pacientes veterinários. Sugere-se que estes efeitos podem ser causados por liberação defeituosa da vasopressina. A hipoxemia arterial concorrente é um importante achado diagnóstico. A análise de gases do sangue arterial é importante: hipoxemia (pressão de oxigênio menor que 80 mm Hg, saturação de oxigênio abaixo de 92%) aponta, provavelmente, para eritrocitose secundária apropriada embora a hipoxemia leve possa ocorrer com outras formas de eritrocitose também (WATSON, 2000). Conforme Morrinson (1997, p. 279), a administração de andrógenos ou corticosteróides, como causa de policitemia secundária, poderá ser avaliada por história completa. Com freqüência o hiperadrenocorticismo espontâneo poderá ser diagnosticado a partir dos sinais clínicos (por ex: polidipsia, poliúria, alopecia bilateral simétrica, polifagia) e pelos testes do cortisol (resposta ao ACTH e supressão da dexametasona). As causas de policitemia secundária apropriada podem ser estabelecidas depois de ter-se determinado que a PO2 arterial está baixa, e em seguida a cuidadosa avaliação da história e do sistema cardiopulmonar. Não há predisposição sexual aparente na eritrocitose secundária inapropriada. Eritrocitose é o principal achado hematológico, mas mudanças leucócitarias, algumas vezes, refletem “stress”, inflamação ou necrose associada com a lesão causadora (WATSON, 2000). Quase todos os cães diagnosticados com neoplasia renal como causa da policitemia não apresentam sinais clínicos referíveis ao sistema urinário, exceto poliúria e polidipsia. A urinálise pode revelar hematúria (macro ou microscópica) em combinação com outros componentes anormais do sedimento; ou a urinálise pode ser anormal. A PO2 arterial nestes pacientes está normal. Poderá haver necessidade de avaliação cuidadosa do abdômen pela palpação, radiografia, ultra-sonografia e, possivelmente, cirurgia exploratória, para o diagnóstico de policitemia secundária inadequada (MORRINSON, 1997, p. 280). 5.3 Eritrocitose Atípica Segundo Perkins (2000), em pacientes que aparentemente têm eritrocitose secundária inapropriada cuja causa não foi identificada ou que aparentemente tem eritrocitose primária, mas apresentam um aumento da eritropoietina e uma hemoglobina anormal com alta afinidade pelo oxigênio, ou seja, numa eritrocitose atípica, a determinação de P50 da hemoglobina e a execução da eletroforese da hemoglobina são úteis. A avaliação da medula óssea não é usual para o diagnóstico. 27 5.4 Policitemia em Cães Eritrocitose primária aparece mais comumente no cão (WATSON, 2000). Em animais sob estresse, especialmente nos agitados, a contração esplênica fornece impressão transitória de grande quantidade de hemácias no sangue. Entretanto, a concentração de proteínas plasmáticas fica inalterada (BUSH, 2004). A eritrocitose primária ocorre em cães de qualquer idade (em média com aproximadamente 7 anos) e afeta mais fêmeas do que machos (relação 2:1) (WATSON, 2000). É importante lembrar que Greyhounds (normalmente tem um hematócrito ≥ 60%) e Dachshunds normalmente possuem valores mais altos de hematócrito que outras raças de cães (FRASER, 2006; STRAIT et al, 2005). Perkings (2000) e Rebar (2003) dizem que a leucocitose ocorre em aproximadamente 50% dos casos em cães. Esplenomegalia é rara. Anormalidades hematológicas encontradas na maioria dos casos são: a eritrocitose; a leucocitose ocorre na minoria e a trombocitose é rara. O aspirado da medula óssea podem parecer normal ou hipercelular, algumas vezes com hiperplasia eritróide. Segundo Watson (2000) na policitemia vera os sinais clínicos incluem letargia, inapetência e sinais variados (apreensão, colapso, ataxia posterior e desorientação), hemorragias e poliúria ou polidipsia. Conforme Perkins (2000), a hiperemia das membranas mucosas e o vaso sanguíneo retinal são os sinais mais freqüentemente reconhecidos, e as anormalidades neurológicas podem ocorrer devido a hipóxia sistêmica do centro nervoso. Os sinais clínicos são atribuídos a hiperviscosidade causada pelo aumento na massa de células vermelhas. Segundo Watson (2000), hemácias microcíticas podem estar presentes em alguns casos de eritrocitose absoluta primária. O aspirado da medula óssea pode parecer normal ou hipercelular (hiperplasia eritróide). De acordo com Perkins (2000 apud MCGRATH et al, 1982), a relação mielóde:eritróide está dentro dos limites normais e a linhagem de células eritróides apresenta ordem de maturação normal. Os eritrócitos na circulação são tipicamente normais em morfologia e função, as células estão microcíticas e hipocrômicas, o que nos leva a pensar que o aumento da eritropoiese e as flebotomias terapêuticas diminuem os estoques de ferro. O cão policitêmico mostra sinais clínicos não específicos e características hematológicas anormais. A concentração sérica de eritropoietina está abaixo do normal e junto com os sinais clínicos, possibilita o diagnóstico da policitemia vera (COMAZZI et al, 2000). Em alguns cães, o diagnóstico presuntivo de policitemia vera pode ser confirmado pela 28 “baixa ou indetectável concentração de eritropoietina sérica” (QUESNEL e KRUTH, 1992, p. 671). “A fragilidade osmótica dos eritrócitos de cães com policitemia vera é normal” (COMAZZI et al, 2000 apud JAIN, 1973, p.332). Conforme Morrinson (1997, p. 278), a atividade anormal da hemoglobina desvia a curva de dissociação do oxigênio para a esquerda, resultando num desligamento deficiente do gás nos tecidos, e estimulando a produção de eritropoetina e, finalmente, policitemia. A anormalidade adquirida mais comum da hemoglobina é a intoxicação pelo acetaminofenol em cães e gatos. Em sua maioria, os casos clínicos de intoxicação por este agente são agudos, e não crônicos, e assim torna-se improvável a policitemia decorrente de anormalidades adquiridas da hemoglobina em cães e gatos. 5.5 Policitemia em Gatos A eritrocitose primária é o diagnóstico mais comum em gatos. A eritrocitose secundária inapropriada é raramente identificada nesta espécie. Gatos que tem eritrocitose primária são geralmente animais velhos (a idade média relatada é de 6 ou 7 anos) e a relação macho:fêmea é de 2:1. A concentração de eritropoietina sérica em gatos que tem eritrocitose primária está, geralmente, dentro do intervalo de referência (WATSON, 2000). Segundo Cowel e Decker (2000), gatos com policitemia vera tem hematócritos altos (56 a 84%), concentração de hemoglobina e contagem de eritrócitos causados por um aumento na massa de células vermelhas. A pressão de oxigênio arterial está dentro dos limites de referência, visto que a concentração de eritropoietina é variável. Watson (2000) complementa que os sinais clínicos comuns incluem distúrbios neurológicos (apreensão, cegueira, comportamento anormal e aparente depressão mental) e ocasionalmente, letargia, anorexia, poliúria ou polidipsia e vômito. Hiperemia das membranas mucosas é o mais anormal dos achados físicos. Segundo Cowel e Decker (2000), o processo diagnósticoda policitemia vera em gatos terá que eliminar as causas de policitemia relativa (desidratação e contração esplênica) e policitemia secundária. Leucocitose e esplenomegalia foram descritas em gato com policitemia vera (KLERK, 1981). Trombocitose e panleucocitose também foram relatadas em gatos. Hipoglicemia concorrente em alguns pacientes pode ser um artefato “in vitro” associada com a alta contagem de células (WATSON, 2000). 29 6 DIAGNÓSTICO O caminho investigativo na eritrocitose depende do caso e da avaliabilidade dos resultados. Primeiramente devemos excluir erro laboratorial, ou seja, verificar se a eritrocitose é um achado que pode se repetir. Em seguida, considerar a possibilidade de excitação ou contração esplênica ou a presença de doença subjacente causando perda de fluidos ou reduzida entrada. Verificar se há desidratação ou hemoconcentração para esperar por sinais físicos sugestivos e anormalidades do teste laboratorial (WATSON, 2000 apud COUTO, 1988). Conforme Watson (2000), adicionalmente devemos verificar se há doença cardiopulmonar, usando de palpação torácica, auscultação e radiografia, exame ultrassonográfico dos rins e urografia intravenosa também podem ajudar no diagnóstico. Verificar a existência de neoplasias em outros órgãos e realizar a determinação da eritropoietina sérica (para distinguir a eritrocitose primária da secundária e das formas atípicas). 6.1 - Eritrocitose Relativa Uma forma prática para diagnosticar uma policitemia relativa por hemoconcentração ou desidratação é registrar o retorno do hematócrito ao normal depois que a fluidoterapia substitui o volume plasmático reduzido. Nos casos de contração esplênica podemos fazê-lo quando o animal parecer calmo. A contração esplênica seria esperada logo após o exercício ou em uma situação de medo (WILLARD,1993). De acordo com Willard (1993), a policitemia relativa de origem esplênica é de diagnóstico mais difícil, porque nem sempre se pode prever o grau de contração ou relaxamento do baço. Conforme Watson (2000), pacientes que tem um aumento da massa de células vermelhas e diminuição do volume de plasma tem uma policitemia relativa. Condições como o choque e a desidratação, que são comumente encontrados em espécies veterinárias, podem induzir a policitemia relativa, em adição, esta doença pode se desenvolver em pacientes que estão recebendo diuréticos ou medicações cardíacas. 30 6.2 Eritrocitose Absoluta 6.2.1 Eritrocitose Absoluta Primária Segundo Morrinson (1997) o diagnóstico definitivo de policitemia vera baseia-se na presença do aumento na massa eritrocitária, em associação com PO2 arterial normal e atividade baixa a nula da eritropoetina sérica. Segundo Watson (2000) o diagnóstico da policitemia vera requer a avaliação do volume de plasma e da massa de células vermelhas. Na medicina humana, além da história clínica e um exame físico completo, os procedimentos de diagnóstico da policitemia podem incluir exames adicionais de sangue para observar o aumento do número de glóbulos vermelhos no corpo e distingui-lo de outras condições que poderiam causar uma elevação na quantidade de glóbulos vermelhos (como acontece em determinadas enfermidades respiratórias e cardíacas, eritremia e determinados tumores) (MACIK e HESS, 2004). De acordo com Campos (2005, p. 2), a policitemia vera humana pode ser diagnosticada através de exames de sangue de rotina realizados por uma outra razão, inclusive antes do indivíduo apresentar qualquer sintoma. A concentração de hemoglobina (a proteína que transporta oxigênio nos eritrócitos) e o hematócrito (a porcentagem de glóbulos vermelhos no volume sangüíneo total) encontram-se anormalmente elevados. Um valor do hematócrito superior a 54% no homem e 49% na mulher pode indicar policitemia, mas o diagnóstico não pode ser estabelecido baseando-se apenas num hematócrito anormal. Alguns critérios auxiliam os médicos a firmarem o diagnóstico (Quadro 3) de policitemia vera, em humanos, são eles: saturação de oxigênio > 92%; esplenomegalia; trombocitose; leucocitose; aumento da fosfatase alcalina granulocítica; ausência de febre e infecção; vitamina B12 > 90ηg/ml ( devido a liberação da transcobalamina procedente do aumento da massa granulocítica) (LÓPES & DÍAZ, 2002; ZAMBON, 2007). 31 Quadro 3 - Critérios Diagnósticos para a Policitemia Vera em Humanos:* Critérios Características A1 Massa eritrocitária 25% acima dos valores médios de referência, A2 Exclusão de causas de policitemia secundária, A3 Esplenomegalia palpável. A4 Positividade para marcadores clonais (anormalidades citogenéticas). B1 Trombocitose 400.000/ mm3 B2 Leucocitose neutrofílica ( 10.000/ mm 3) na ausência de febre ou infecção. B3 Esplenomegalia evidenciada ao ultra-som ou por estudos com radioisótopos. B4 Baixos níveis séricos de eritropoietina. Fonte: Zambon (2007). *O diagnóstico é estabelecido pelas seguintes combinações: A1 + A2 + A3, ou A4/A1 + A2 + 2 itens da categoria B. 6.2.2 Eritrocitose Absoluta Secundária “O diagnóstico da policitemia absoluta secundária a doença renal não deve ser feito sem o assessoramento da aferição dos níveis séricos de eritropoietina”. O hematócrito estará elevado, a medula óssea possivelmente apresentará hiperplasia eritróide e a saturação de oxigênio estará diminuída (QUESNEL & KRUTH, 1992, p. 672). 6.3 Diagnóstico Diferencial Meyer et al (1995) dizem que a abordagem para o diagnóstico diferencial da eritrocitose é normalmente um processo de eliminação. Exames citológicos/histológicos da medula óssea não são de grande valia. As provas de imagem são úteis, em seres humanos, para fazer diagnóstico diferencial com patologias causadoras de policitemia secundária (ecografia de abdômen, de ovários e radiografia de tórax) (LÓPES & DÍAZ, 2002). Para distinguir a policitemia vera das formas de policitemia secundária, mede-se a concentração de oxigênio numa amostra de sangue extraída de uma artéria (ADAM, 2007). Se os valores de oxigênio se encontrarem 32 anormalmente baixos, é possível que se trate de uma policitemia secundária (BERKOW, 2006). Em humanos, a eritrocitose absoluta primária e secundária podem ser diferenciadas pelo decréscimo ou incremento nos níveis de eritropoietina, respectivamente. Enquanto que os elevados níveis de eritropoietina são diagnosticados em animais com eritrocitose absoluta secundária, alguns tem normal ou mesmo níveis baixos deste hormônio. A similaridade, com animais em eritrocitose absoluta primária, os níveis de eritropoietina não estão necessariamente diminuídos e podem estar dentro do intervalo de referência. Além disso a eritropoietina é teoricamente um importante instrumento diagnóstico, na prática este é, freqüentemente, de limitada acurácia e importância (STRAIT et al, 2005). Segundo Berkow (2006), não podemos diferenciar as policitemias pelo hematócrito, pois em todos os casos estarão aumentados. A dosagem de eritropoietina é um dado bastante importante, pois se apresenta diferente nos três casos. De acordo com López & Diaz ( 2002), a presença de hepatomegalia e esplenomegalia em um paciente com policitemia orienta para um diagnóstico de policitemia vera ou um hepatoma secretor de eritropoietina . O diagnóstico diferencial em cães e gatos é realizado através da interpretação de determinados dados, apresentados no quadro abaixo (RIBEIRO, 2001) e no fluxograma. Quadro 4 –Considerações diferenciais das policitemias: RELATIVA ABS. PRIMÁRIA ABS. SECUNDÁRIA Hematócrito Aumentado Aumentado Aumentado Massa dos eritrócitos circulantes (volemia) Normal Aumentada Aumentada Eritropoietina Normal Diminuída Aumentada Leucometria Global Normal Aumentada Normal Plaquetometria Normal Aumentada Normal Medula Óssea Normal Hiperplásica Hiperplasia eritróideSaturação de Oxigênio Arterial Normal Normal Diminuída Ferro Sérico Normal Diminuído Normal Fosfatase Alcalina Leucocitária Normal Aumentada Normal Baço Normal Aumentado Normal Fonte: Ribeiro (2001). A policitemia familiar e congênita preliminar é igualmente uma desordem policitêmica preliminar de humanos caracterizada pela baixa eritropoietina do soro e por colônias eritróides hipersensitivas a eritropoietina (PRCHAL, 2005). No diagnóstico diferencial com 33 as demais doenças mieloproliferativas destaca-se a pesquisa do cromossomo Philadelphia (translocação do cromossomo 9 e 22) que está presente na Leucemia Mielóide Crônica (PARDINI, 2006). DADOS MÍNIMOS PARA BASEAR-NOS: hematócrito, ultrassonografia abdominal, an. bioquímica ↑Contagem de eritrócitos, ↑ Concentração de Hemoglobina, ↑ volume de células ERITROCITOSE Avaliar a hidratação NORMAL ↑ PT, ↑ CRT, ↑ USG IATROGÊNICA ABSOLUTA Azotemia pré-renal Tire sangue arterial para análise de gases desidratação Relativa PO2 > 92 mmHg PO2 < 92 mmHg Ultrassonografia anormal, radiografias, biópsia Hipóxia Pielograma IV para descartar a possibilidade de Ecocardiografias, radiografias torácicas, Neoplasia ou doença renal. Histórico para determinar a causa inicial. Normal Anormal Secundária Apropriada Mensuração de EPO? Secundária Inapropriada Todas as outras causas foram excluídas? Primária Não recebeu transfusão sangüuínea Transfusão sangüínea recente Membranas mucosas úmidas Figura 2 - Fluxograma descrevendo a seqüência clínica lógica para o diagnóstico diferencial de eritrocitose em cães e gatos. Fonte: Strait e colaboradores (2005). 34 7 PROGNÓSTICO 7.1 Eritrocitose Relativa O prognóstico da eritrocitose relativa por desidratação, em cães e gatos, geralmente é bom desde que os pacientes normalizem seu estado de hidratação (STRAIT et al, 2005) e a causa da desidratação seja tratada (MORRINSON, 1997). 7.2 Eritrocitose Absoluta 7.2.1 Eritrocitose Absoluta Primária Sem tratamento, aproximadamente metade dos humanos com policitemia vera sintomáticos morre em menos de 2 anos. Com tratamento, eles vivem, em média, 15 a 20 anos (CAMPOS, 2005). Caso o tratamento não seja realizado, cerca de metade dos pacientes humanos evoluem para óbito após uma média de 18 meses de evolução (na maioria dos casos, em decorrência de episódios trombóticos) (ZAMBON, 2007). A flebotomia (sangria) é o tratamento padrão da policitemia vera. Como método único fornece sobrevida de 12,5-13,5 anos (PARDINI, 2006). Conforme Fontelonga (2001), em recentes estudos do “Grupo de Estudos da Policitemia Vera”, a sobrevivência média dos humanos doentes tratados apenas com flebotomias é de 13.9 anos, enquanto que a sobrevida dos doentes tratados com clorambucil é bastante inferior (8.9 anos), devido à alta taxa de desenvolvimento de leucemias agudas. As grandes causas de morte em doentes com PV incluem fenômenos tromboembólicos (31%), leucemias agudas (19%), outras neoplasias malignas (15%), hemorragias (5%), e as complicações da mielofibrose (5%) que, juntas, são responsáveis por 75% da mortalidade na policitemia vera. Podemos esperar sobrevida prolongada e boa tolerância da parte dos pacientes caninos com policitemia vera submetidos a tratamento com hidroxiuréia (MORRINSON, 1997). 7.2.2 Eritrocitose Absoluta Secundária Embora o prognóstico seja reservado, cães com policitemia secundária devido à neoplasia renal unilateral tratados com nefroneuretectomia podem ter sobrevidas pós- operatórias de até 30 meses (MORRINSON, 1997, p. 278). 35 8 TRATAMENTO 8.1 Eritrocitose Relativa A base do tratamento da eritrocitose relativa é a reposição do volume perdido de fluido intravenoso. A escolha do fluido e o tipo de administração precisam ser baseados nos resultados dos testes bioquímicos do paciente e do nível de desidratação (STRAIT et al, 2005). A eritrocitose relativa devido à contração esplênica é transitória e irá se resolver quando o paciente se acalmar (STRAIT et al, 2005, p. 7). 8.2 Eritrocitose Absoluta 8.2.1 Eritrocitose Absoluta Primária De acordo com Berkow (2006), o objetivo do tratamento da policitemia vera é atrasar a produção de glóbulos vermelhos e diminuir a sua quantidade. Segundo Watson (2000), na eritrocitose absoluta primária severa o tratamento baseia-se na repetição sucessiva de flebotomias seguida pela reposição de fluidos isotônicos equivalentes a quantidade de sangue retirada. O objetivo é manter o hematócrito pouco acima do valor normal. A longo prazo, suplementos de ferro podem ser usados para suprir a deficiência de ferro. Outro tratamento satisfatório da policitemia vera em cães e gatos consiste na administração de hidroxiuréia (40 a 50 mg/kg divididos em duas doses diárias [dose inicial], e a hidroxiuréia será titulada com relação à resposta e intoxicação) (BONAFINE, 2000). Em cães, hidroxiuréia pode ser dada oralmente na dose de 30 mg/kg, uma vez ao dia, por 7 a 10 dias, depois a dose e a freqüência podem ser ajustadas de acordo com a resposta hematológica. O regime sugerido para gatos é 125 mg a cada dois dias por duas semanas, então 250 mg, duas vezes por semana, por duas semanas, seguido por 500 mg, uma vez por semana (WATSON, 2000). Conforme Watson (2000, p. 221), o intervalo é aumentado para 10 a 14 dias uma vez que o hematócrito (40 a 45%) é alcançado. A monitoração regular do hematócrito é requerida e o tratamento suspendido com hidroxiurea embora neutropenia, trombocitopenia ou anemia ocorram. Metemoglobinemia e anemia hemolítica são outras complicações potenciais da terapia em gatos. A hidroxiurea ou o fósforo radioativo podem ser administrados sozinhos ou com uma flebotomia inicial ou repetidas flebotomias. Tratamento com P32 pode ser avaliável em algumas instituições e determinar um excelente controle a longo prazo depois da primeira dose intravenosa em muitos casos. 36 A vasta maioria dos pacientes humanos com policitemia vera pode ser tratada ambulatorialmente. Apenas alguns raros casos necessitam hospitalização. Quando internados, é importante manter um bom estado de hidratação e estimular a deambulação para evitar complicações trombóticas. O seguimento terapêutico extra-hospitalar depende do estado geral do paciente (ZAMBON, 2007). O principal objetivo da abordagem terapêutica de pacientes humanos com policitemia vera é evitar complicações trombóticas relacionadas ao aumento da massa eritrocitária. Esta medida em geral requer redução dos níveis de hemoglobina para 14 g/dL ou menos (em homens) e 12 g/dL ou menos (em mulheres) (ZAMBON, 2007). Em geral, o sangue é extraído do organismo por meio de um procedimento denominado flebotomia (BERKOW, 2006). De acordo com Berkow (2006) e Zambon (2007), o tratamento humano é longo, dura no mínimo de 6 a 8 anos e visa retardar a produção e diminuir o número de eritrócitos. Conforme Campos (2005) normalmente, é realizada a remoção do sangue do corpo através de uma flebotomia. São removidos 500 ml de sangue em dias alternados até o hematócrito começar a diminuir. Quando ele atinge o nível normal, o sangue é removido em intervalos de alguns meses, de acordo com a necessidade. Em seres humanos, o tratamento específico da policitemia vera baseia-se no seguinte: 1º) idade, estado geral de saúde e história médica;
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