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Decisão de Rescisão de Contrato de Compra e Venda

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TRIBUNAL DE JUSTIÇA
PODER JUDICIÁRIO
São Paulo
Nº de ordem do processo na sessão de julgamento Não informado
Registro: 2018.0000421771
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos do Apelação nº 
1011341-35.2015.8.26.0566, da Comarca de São Carlos, em que é 
apelante/apelada FLAVIANA MARTINS BRANCA ANTONELI 
(JUSTIÇA GRATUITA), é apelado/apelante LUIS ANTONIO 
TREVISANI.
ACORDAM, em 29ª Câmara de Direito Privado do 
Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: 
"Deram provimento em parte ao recurso da ré e negaram provimento 
ao recurso do autor. V.U.", de conformidade com o voto do Relator, 
que integra este acórdão.
O julgamento teve a participação dos Exmos. 
Desembargadores SILVIA ROCHA (Presidente) e FABIO TABOSA.
São Paulo, 6 de junho de 2018.
CARLOS DIAS MOTTA
RELATOR
Assinatura Eletrônica
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Nº de ordem do processo na sessão de julgamento Não informado
Apelação nº 1011341-35.2015.8.26.0566 - São Carlos - Voto nº13341 - p.2/7
Apelação nº 1011341-35.2015.8.26.0566
Apelante/Apelado: Flaviana Martins Branca Antoneli 
Apelado/Apelante: Luis Antonio Trevisani
Comarca: São Carlos
Voto nº 13341
COMPRA E VENDA. Ação de rescisão contratual 
cumulada com indenização por danos materiais e morais. 
Sentença de procedência. Interposição de apelações pelo 
autor e pela ré.
Preliminar de cerceamento de defesa. Documentos 
juntados aos autos são suficientes para esclarecer a matéria 
controvertida desta demanda. Desnecessidade de produção 
de outras provas. Cabimento do julgamento antecipado da 
lide. Artigo 330, inciso I, do CPC/1973. Rejeição da 
pretensão de anulação da r. sentença. Cerceamento de 
defesa não configurado.
Mérito. Autor que não conseguiu transferir para o seu 
nome o veículo que havia adquirido da ré, em razão de 
constrição judicial proveniente de penhora deferida em 
processo movido contra anterior proprietário do bem. 
Impossibilidade de transferência da propriedade do veículo 
caracteriza evicção, visto que impede o adquirente de 
exercitar plenamente os direitos decorrentes da titularidade 
do bem. Alienante, ora ré, que responde pelos prejuízos 
decorrentes da evicção do veículo. Artigo 447 do Código 
Civil. Alegação de desconhecimento da penhora havida 
sobre o veículo que não afasta a responsabilidade da ré. 
Rescisão do contrato de compra e venda, com o retorno das 
partes ao estado anterior, mediante a devolução do veículo 
pelo autor e a reparação dos prejuízos decorrentes da 
evicção pela ré. Danos morais não caracterizados. Reforma 
da r. sentença. Apelação da ré parcialmente provida e 
apelação do autor não provida.
Trata-se de apelações interpostas em razão da r. 
sentença de fls. 82/86, que julgou procedente a ação movida por 
Luís Antônio Trevisani em face de Flaviana Martins Branca Antoneli, 
para decretar a rescisão do contrato de compra e venda entre as 
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Apelação nº 1011341-35.2015.8.26.0566 - São Carlos - Voto nº13341 - p.3/7
partes e condenar a ré à devolução do preço do bem, R$ 12.500,00, 
com correção monetária a partir da prolação da r. sentença, e ao 
pagamento de indenização correspondente às despesas 
experimentadas pelo autor com o próprio bem, R$ 225,08, e com os 
honorários da advogada por ele constituída, R$ 3.120,00, com 
correção monetária desde o desembolso, além de indenização por 
dano moral, arbitrada em R$ 2.500,00, com correção monetária a 
partir da prolação da r. sentença, tudo acrescido de juros moratório 
à taxa legal, contados desde a citação, incumbindo ao autor restituir 
à ré a posse do bem, tão logo seja indenizado
Irresignada, a ré interpôs apelação, sustentando, em 
síntese, que: o julgamento antecipado da lide acarretou cerceamento 
de defesa, pois impediu a oitiva de testemunhas, que demonstrariam 
a verdade real dos fatos; a sentença deve ser anulada, retornando os 
autos à origem, para que seja realizada a oitiva das testemunhas 
arroladas; transferiu a propriedade do veículo para si no dia 
30.01.2013; se houvesse alguma constrição sobre o veículo, não 
teria transferido o veículo para seu nome; no dia 19.03.2014, vendeu 
o veículo ao autor, mas desconhecia qualquer constrição sobre o 
veículo; a constrição somente foi gravada em 20.01.2014, ou seja, 
após a realização da venda do veículo ao autor; a constrição ocorreu 
em razão de o primitivo proprietário, Donizete de Oliveira, ter sido 
executado em um processo, do qual a ré não tinha conhecimento; 
não deve responder pelos prejuízos decorrentes da evicção do bem, 
pois não deu causa à constrição, tampouco tinha conhecimento 
desta; a sentença deve ser reformada, para julgar improcedente a 
ação (fls. 90/97).
Por sua vez, o autor interpôs apelação adesiva, 
alegando, em resumo, que: a indenização por danos morais foi fixada 
em patamar muito aquém do almejado e merecido; foi frustrado o 
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seu desejo de adquirir um veículo que serviria para o trabalho e 
conforto dos seus familiares; a indenização por danos morais deve 
ser fixada, no mínimo, em 30% do valor do negócio jurídico (fls. 
110/113).
As apelações foram regularmente recebidas e 
encaminhadas para este E. Tribunal de Justiça, com apresentação 
de contrarrazões pela autora (fls. 102, 105/109, 114 e 117).
É o relatório.
Primeiramente, analisa-se a preliminar de 
cerceamento de defesa.
A controvérsia desta demanda versa sobre a 
responsabilidade de a ré reparar os prejuízos que o autor suportou 
em decorrência da evicção do veículo objeto do contrato de compra e 
venda firmado entre as partes.
Ocorre que os documentos juntados aos autos são 
suficientes para esclarecer a matéria controvertida desta demanda, 
não havendo necessidade de produção de outras provas.
Logo, o julgamento antecipado da lide era cabível, 
conforme o artigo 330, inciso I, do CPC/1973.
Rejeita-se, portanto a pretensão de anulação da r. 
sentença, porquanto a ausência de produção de provas 
desnecessárias não configura cerceamento de defesa.
Superada tal questão, passa-se à análise do mérito.
Depreende-se dos autos que o autor não conseguiu 
transferir para o seu nome o veículo que havia adquirido da ré, em 
razão de constrição judicial proveniente de penhora deferida em 
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processo movido contra anterior proprietário do bem (fls. 22/26).
Com efeito, a impossibilidade de transferência da 
propriedade do veículo junto ao Detran caracteriza evicção, visto que 
impede o adquirente de exercitar plenamente os direitos decorrentes 
da titularidade do bem.
Dito isso, cumpre ressaltar que, por se tratar de 
contrato oneroso, a alienante, ora ré, responde pelos prejuízos 
decorrentes da evicção do veículo, consoante os termos do artigo 447 
do Código Civil.
E a alegação de desconhecimento da penhora havida 
sobre o veículo não afasta a responsabilidade da ré.
Isto porque a ré, antes de adquirir o veículo e repassá-
lo a terceiro, deveria ter adotado a cautela de verificar a idoneidade 
financeira dos proprietários anteriores, a fim de resguardar o autor 
de eventuais riscos, inclusive de perda da coisa em virtude de 
evicção, o que não se verificou no caso concreto.
Assim, uma vez caracterizada a responsabilidade da 
alienante pela evicção, mostra-se adequada a rescisão do contrato de 
compra e venda, com o retorno das partes ao estado anterior, 
mediante a devolução do veículo pelo autor e a reparação dos 
prejuízos decorrentes da evicção pela ré.
Dito isso, observa-se que o autor despendeu a quantia 
deR$ 12.500,00 na aquisição do veículo evicto (fls. 18).
Ademais, observa-se que, na tentativa frustrada de 
efetivar a transferência do veículo, o autor desembolsou a quantia de 
R$ 225,08, sendo R$ 70,00 referentes ao laudo de vistoria do veículo 
e R$ 155,08 referentes à taxa de transferência.
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Cumpre salientar que o pagamento da taxa de 
transferência foi demonstrado por meio do comprovante de fls. 21. 
Por sua vez, o valor despendido no laudo de vistoria não foi 
demonstrado por meio de prova documental. Entretanto, a ré não 
impugnou especificamente o valor alegado pelo autor, razão pela 
qual deve ser presumido como verdadeiro, conforme artigo 302 do 
CPC/1973.
Observa-se, ainda, que o autor constituiu advogada 
particular para o ajuizamento desta ação, assumindo a obrigação de 
pagar honorários contratuais no valor de R$ 3.120,00 (fls. 27/29). 
Esse ressarcimento está expressamente previsto no art. 450, III, do 
Código Civil, que cuida especificamente das verbas devidas 
decorrentes da evicção.
Desse modo, a fim de restituir as partes ao estado 
anterior, a condenação da ré de ressarcir ao autor o valor 
despendido na aquisição do veículo evicto, as despesas 
experimentadas com a tentativa frustrada de transferência 
propriedade do veículo em questão e os honorários da advogada por 
ele constituída era medida que se impunha, consoante os termos do 
artigo 450 do Código Civil. 
Em contrapartida, a rescisão do contrato de compra e 
venda em virtude de evicção, por si só, não causa danos morais, pois 
não implica abalo psíquico, tampouco macula a honra e dignidade 
do adquirente.
Por consequência, rejeita-se a pretensão recursal do 
autor, que se restringia à majoração do valor da indenização por 
danos morais.
Nesse sentido, menciona-se o seguinte precedente 
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deste E. Tribunal de Justiça:
COMPRA E VENDA de veículo usado. Preço 
financiado. Penhora incidente sobre a coisa 
posteriormente a aquisição pelo autor. Rescisão que se 
impõe diante da evicção, cujo reconhecimento 
prescinde do desapossamento da coisa, bastando a 
impossibilidade de exercitar plenamente os direitos 
derivados de sua titularidade. Dano moral, porém, não 
caracterizado. Recurso do Autor parcialmente provido.
(Apelação nº 0017143-93.2010.8.26.0602 36ª 
Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de 
São Paulo Relatora Gil Cimino j. 17.12.2015) 
Destarte, a r. sentença deve ser reformada, apenas 
para afastar a condenação da ré ao pagamento da indenização por 
danos morais.
Diante da sucumbência maior da ré, deverá arcar com 
70% das despesas processuais e dos honorários advocatícios, que 
arbitro em 7% sobre o valor da condenação.
Ante o exposto, dou parcial provimento à apelação 
da ré e nego provimento à apelação do autor.
 
Carlos Dias Motta
Relator
		2018-06-08T11:56:56+0000
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