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e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes Escola Técnica Aberta do Brasil Gerência em Saúde Relações Interpessoais e Ética Profissional Eveline Andries de Castro Francisco de Assis Xavier Neto Montes Claros - MG 2011 Ministro da Educação Fernando Haddad Secretário de Educação a Distância Carlos Eduardo Bielschowsky Coordenadora Geral do e-Tec Brasil Iracy de Almeida Gallo Ritzmann Governador do Estado de Minas Gerais Antônio Augusto Junho Anastasia Secretário de Estado de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior Alberto Duque Portugal Reitor João dos Reis Canela Vice-Reitora Maria Ivete Soares de Almeida Pró-Reitora de Ensino Anete Marília Pereira Diretor de Documentação e Informações Huagner Cardoso da Silva Coordenador do Ensino Profissionalizante Edson Crisóstomo dos Santos Diretor do Centro de Educação Profissonal e Tecnólogica - CEPT Juventino Ruas de Abreu Júnior Diretor do Centro de Educação à Distância - CEAD Jânio Marques Dias Coordenadora do e-Tec Brasil/Unimontes Rita Tavares de Mello Coordenadora Adjunta do e-Tec Brasil/ CEMF/Unimontes Eliana Soares Barbosa Santos Coordenadores de Cursos: Coordenador do Curso Técnico em Agronegócio Augusto Guilherme Dias Coordenador do Curso Técnico em Comércio Carlos Alberto Meira Coordenador do Curso Técnico em Meio Ambiente Edna Helenice Almeida Coordenador do Curso Técnico em Informática Frederico Bida de Oliveira Coordenador do Curso Técnico em Vigilância em Saúde Simária de Jesus Soares Coordenador do Curso Técnico em Gerência em Saúde Zaida Ângela Marinho de Paiva Crispim RELAÇÕES INTERPESSOAIS E ÉTICA PROFESSIONAL e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes Elaboração Eveline Andries de Castro Francisco de Assis Xavier Neto Projeto Gráfico e-Tec/MEC Supervisão Alcino Franco de Moura Júnior Diagramação Hugo Daniel Duarte Silva Marcos Aurélio de Almeida e Maia Impressão Gráfica RB Digital Designer Instrucional Angélica de Souza Coimbra Franco Kátia Vanelli Leonardo Guedes Oliveira Revisão Maria Ieda Almeida Muniz Patrícia Goulart Tondineli Rita de Cássia Silva Dionísio Presidência da República Federativa do Brasil Ministério da Educação Secretaria de Educação a Distância e-Tec Brasil/CEMF/UnimontesRelações Interpessoais e Ética Profissional AULA 1 Alfabetização Digital 3 Prezado estudante, Bem-vindo ao e-Tec Brasil/Unimontes! Você faz parte de uma rede nacional pública de ensino, a Escola Técnica Aberta do Brasil, instituída pelo Decreto nº 6.301, de 12 de dezem- bro 2007, com o objetivo de democratizar o acesso ao ensino técnico público, na modalidade a distância. O programa é resultado de uma parceria entre o Ministério da Educação, por meio das Secretarias de Educação a Distancia (SEED) e de Educação Profissional e Tecnológica (SETEC), as universidades e escola técnicas estaduais e federais. A educação a distância no nosso país, de dimensões continentais e grande diversidade regional e cultural, longe de distanciar, aproxima as pes- soas ao garantir acesso à educação de qualidade, e promover o fortalecimen- to da formação de jovens moradores de regiões distantes, geograficamente ou economicamente, dos grandes centros. O e-Tec Brasil/Unimontes leva os cursos técnicos a locais distantes das instituições de ensino e para a periferia das grandes cidades, incenti- vando os jovens a concluir o ensino médio. Os cursos são ofertados pelas instituições públicas de ensino e o atendimento ao estudante é realizado em escolas-polo integrantes das redes públicas municipais e estaduais. O Ministério da Educação, as instituições públicas de ensino téc- nico, seus servidores técnicos e professores acreditam que uma educação profissional qualificada – integradora do ensino médio e educação técnica, – não só é capaz de promover o cidadão com capacidades para produzir, mas também com autonomia diante das diferentes dimensões da realidade: cul- tural, social, familiar, esportiva, política e ética. Nós acreditamos em você! Desejamos sucesso na sua formação profissional! Ministério da Educação Janeiro de 2010 Apresentação e-Tec Brasil/Unimontes e-Tec Brasil/CEMF/UnimontesRelações Interpessoais e Ética Profissional AULA 1 Alfabetização Digital 5 Indicação de ícones Os ícones são elementos gráficos utilizados para ampliar as formas de linguagem e facilitar a organização e a leitura hipertextual. Atenção: indica pontos de maior relevância no texto. Saiba mais: oferece novas informações que enriquecem o assunto ou “curiosidades” e notícias recentes relacionadas ao tema estudado. Glossário: indica a definição de um termo, palavra ou expressão utilizada no texto. Mídias integradas: possibilita que os estudantes desenvolvam atividades empregando diferentes mídias: vídeos, filmes, jornais, ambiente AVEA e outras. Atividades de aprendizagem: apresenta atividades em diferentes níveis de aprendizagem para que o estudante possa realizá-las e conferir o seu domínio do tema estudado. e-Tec Brasil/CEMF/UnimontesRelações Interpessoais e Ética Profissional AULA 1 Alfabetização Digital Sumário 7 Palavra dos professores conteudistas .........................................9 Projeto instrucional ........................................................... 11 Aula 1 - O ser humano ........................................................ 13 1.1 Quem é o ser humano? ............................................ 13 1.2 A constituição social do ser humano ............................. 14 1.3 O que caracteriza o humano ...................................... 18 Resumo ................................................................... 20 Atividades de aprendizagem ........................................... 20 Aula 2 - Convivência interpessoal e profissional ........................ 21 2.1 A arte da convivência .............................................. 21 2.2 Viver é conviver ..................................................... 23 2.3 Viver e comunicar .................................................. 28 Resumo ................................................................... 30 Atividades de aprendizagem ........................................... 31 Aula 3 - Cidadania, direitos humanos e sociais ............................ 33 3.1 Para pensar .......................................................... 34 3.2 Cidadania ............................................................ 35 3.3 Direitos humanos e sociais ......................................... 40 Resumo .................................................................. 43 Atividades de aprendizagem ........................................... 43 Aula 4 - Ética .................................................................. 45 4.1 Os costumes e a moral ............................................. 45 4.2 A ética ................................................................ 48 Resumo ................................................................... 50 Atividades de aprendizagem ........................................... 50 Aula 5 – Ética profissional na saúde ......................................... 51 5.1 Ética e saúde ........................................................ 52 5.2 A Política Nacional de Humanização ............................ 60 Resumo ................................................................... 61 Atividades de aprendizagem ........................................... 61 Referências ..................................................................... 62 Currículos dos professores conteudistas ................................... 63 e-Tec Brasil/CEMF/UnimontesRelações Interpessoais e Ética Profissional AULA 1 Alfabetização Digital 9 Prezado discente, vamos iniciar uma nova disciplina e já desejo que o nosso trabalho seja muito proveitoso. O meu nome é Eveline Andries de Castro e sou a professora da disciplina Relações Interpessoais e Ética Profis- sional. Juntos, vamos refletir acerca do ser humano no conjunto de suas relações sociais e sobre valores e princípios de condutasque devem nortear a convivência na sociedade. Desse modo, na primeira aula, analisaremos o ser humano a partir do ponto de vista que afirma a importância da cultura para a sua constitui- ção, questionando a ideia de que as nossas aptidões são inatas. Na segunda aula, vamos discutir sobre a convivência e a comuni- cação com os outros e, na terceira, trataremos da razão de ser dos direitos humanos e sociais, que possibilitam a construção da vida com dignidade. Na quarta e quinta aulas, consideraremos ainda o significado do pensamento crítico para a ampliação da nossa capacidade de atuação no mundo, ao tratar sobre ética e ética na saúde. Procure ler os textos com atenção, voltando sempre aos pontos de maior dificuldade. Escreva também, anotando as ideias principais para, de- pois, articulá-las. E no mais, conversaremos sempre, pois estarei aqui para ajudá-lo no que for preciso. Seja bem-vindo! Palavra dos professores conteudistas e-Tec Brasil/CEMF/UnimontesRelações Interpessoais e Ética Profissional AULA 1 Alfabetização Digital 11 Projeto instrucional Disciplina: Relações Interpessoais e Ética Profissional (30h). Ementa: Relacionamento interpessoal e profissional. Cidadania, di- reitos humanos e sociais. Ética profissional na saúde. AULA OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM MATERIAIS CARGA HORÁRIA Aula 1. O ser humano 1) Identificar as premissas básicas para entender o ser humano na perspectiva sócio- -histórica da Psicologia Social. Caderno Didático 6 h Aula 2. Relacionamento interpessoal e profissional 1) Conceituar relacionamento interpessoal e profissional. 2) Conceituar comunicação e descrever os seus elementos básicos. 3) Identificar a importância da comunicação para o relacionamento interpessoal. 4) Identificar as habilidades relacionadas à competência interpessoal. Caderno Didático 6 h Aula 3. Cidadania, direi- tos humanos e sociais 1) Conceituar cidadania. 2) Conceituar direitos humanos e sociais, identificando os seus fundamentos. 3) Identificar ações favoráveis à promoção da democracia e da cidadania. Caderno Didático 6 h Aula 4. Ética 1) Conceituar moral. 2) Conceituar ética. 3) Diferenciar moral e ética. 4) Compreender a relação entre liberdade e responsabilidade, analisando a importância da ética para o desenvolvimento do ser humano. Caderno Didático 6 h Aula 5. Ética profissional na saúde 1) Conceituar ética profissional. 2) Conceituar humanização . 3) Relacionar humanização com os direitos dos pacientes e a ética direcionada ao respeito ao outro. Caderno Didático 6 h e-Tec Brasil/CEMF/UnimontesRelações Interpessoais e Ética Profissional AULA 1 Alfabetização Digital 13 Aula 1 - O ser humano Objetivos Ao final desta aula, você deverá ser capaz de: 1. identificar as premissas básicas para compreender o ser humano na perspectiva sócio-histórica da Psicologia Social. Para início de conversa, vamos relembrar o escritor João Guimarães Rosa que, entre outras atividades, dedicou-se à literatura e registrou, em seu livro Grande Sertão: Veredas, que o mais importante e bonito do mundo é o fato das pessoas não estarem sempre iguais, uma vez que não foram terminadas. Você já refletiu sobre isso? O que o pensamento dele assinala? 1.1 Quem é o ser humano? Como outros homens e mulheres, você já deve ter se perguntado quem é ou, de forma mais geral, quem somos nós, seres humanos. O que nos caracteriza? O que nos distingue dos outros seres vivos? Somos, conforme se afirma popularmente - a partir de uma concep- ção inatista - “pau que nasce torto, morre torto”? Ou seja, somos dotados, desde o nascimento, com capacidades básicas prontas ou potencialmente definidas que amadurecem com o passar do tempo, independentes da apren- dizagem? Ou podemos pensar o contrário? Podemos afirmar que as nossas aptidões se formam, aos poucos, a partir da relação com os outros e do trabalho? Isto é, dizer que somos seres sociais que transformam a natureza buscando a satisfação das nossas ne- cessidades, produzindo conhecimentos, construindo a sociedade e fazendo história? Afinal, quem somos nós? No amplo campo do conhecimento hu- mano, muitas respostas têm sido dadas à questão, expressando diferentes visões. Nessa unidade, veremos que uma delas, no campo da Psicologia, esclarece que nós, seres humanos, aprendemos a ser homens e mulheres, portanto, vamos construindo nossa subjetividade à medida que vivenciamos as experiências da vida social e cultural: a da Psicologia Sócio-Histórica, fundamentada nas propostas do psicólogo bielo-russo Vygotsky e de seus colaboradores, Luria e Leontiev, no inicio do século XX. Acessando o site Domínio Público, você conhecerá um pouco mais sobre a vida e a obra de Guimarães Rosa. Procure por Mestres da Literatura / Ministério da Educação, Brasil. Disponível em: http://www. dominiopublico. gov.br/pesquisa/ DetalheObraForm. do?select_action=&co_ obra=20773 Para conhecer um pouco mais sobre Lev S. Vygotsky, acesse: http://www.youtube. com/watch?v=YJla-2t- HRY. O vídeo mostra quais são as suas principais ideias, divulgando as contribuições da teoria psicológica sócio- histórica à Educação. e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes Gerência em Saúde14 Segundo Bock, Furtado e Teixeira (2002), a Psicologia apresenta dificuldades para afirmar um único objeto de estudo por ser uma ciência recente, pois, de acordo com as diferentes concepções sobre o ser humano adotadas pelas atuais teorias psicológicas, os objetos de estudo divergem, podendo abranger desde o comportamento humano até a consciência - den- tre outros. Nesse sentido, esses autores chegam a afirmar que “não existe uma psicologia, mas Ciências psicológicas embrionárias e em desenvolvimento” (p. 22). Porém, apresentam uma definição que busca englobar uma ampla variedade dos fenômenos psicológicos existentes, servindo de referência para os nossos estudos. Desse modo, com eles, afirmaremos que a Psicolo- gia, no campo das Ciências Humanas, tem por objeto de estudo a Subjetivi- dade e que essa é compreendida como: “... a maneira de sentir, pensar, fantasiar, sonhar, amar e fazer de cada um. É o que constitui o nosso modo de ser: sou filho de japoneses e militante de um grupo ecológico, detesto Matemática, adoro samba e black music, pratico ioga, tenho vontade, mas não consigo ter uma namorada. Meu melhor amigo é filho de descendentes de italianos, pri- meiro aluno da classe em Matemática, trabalha e estuda, é corinthiano fanático, adora comer sushi e navegar pela Inter- net. Ou seja, cada qual é o que é: sua singularidade.” (Bock, Furtado e Teixeira, 2002, p. 23). 1.2 A constituição social do ser humano Aninha tem quase um mês de vida. Nasceu enxergando, ouvindo, sentindo cheiros e também realizando movimentos motores, como virar a cabeça de um lado para o outro, se encolher, fechar as mãos, buscar o bico do seio, sugar o leite e deglutir. Além disso, mostra suas vontades choran- do quando sente sono ou está com a fralda suja, mordendo o bico do seio quando não consegue abocanhá-lo e agitando os braçinhos e perninhas, se irritada. Ao observar uma criança recém-nascida, como Aninha, verifica- mos que ela é capaz de apresentar comportamentos reflexos, a exemplo dos de busca e sucção que, garantindo a alimentação, são essenciais para a função nutritiva. Mas, ao mesmo tempo, constatamos que, diferente- mente dos animais que já nascem praticamente preparados para a vida, nós, seres humanos, quando nascemos, somos incapazes de sobreviver sem a ajuda externa. Essa condição humana inicial, caracterizada como desamparo, é consequência da nossa incapacidade de satisfazer, por forças próprias, as exigências das necessidades vitais, a exemplo da alimentação e da proteção. Por isso, dependemos das pessoas responsáveis pelo nosso cuidado. Nesse sentido, constatamos que o corpo de Aninha impõe neces- sidades variadas que exigem ações específicas para que sejam atendidas e,diante das mesmas, ela não tem como responder a não ser chorando. Comportamento reflexo: é uma resposta muscular involuntária à estimulação sensorial de uma parte do organismo e, como padrão motor inato, determinado geneticamente, não depende da aprendizagem para ocorrer. Tanto o seu surgimento quanto a sua inibição dependem de uma sequência ordenada e previsível baseada no amadurecimento neurológico. e-Tec Brasil/CEMF/UnimontesRelações Interpessoais e Ética Profissional 15 O choro infantil pode ser traduzido, então, como um pedido que traz até a criança alguém que vai lhe proporcionar ajuda e promover a sua satisfação, ao eliminar a tensão que sente devido à fome ou à sede, por exemplo. Esse alguém que, no inicio da vida, cuida e atribui significado ao choro, frequentemente é a mãe (ou quem se ocupa de sua função), e, nas trocas afetivas e simbólicas estabelecidas com ela, Aninha experimentará - como as demais crianças que recebem cuidados adequados - vivências de satisfação, com a sensação de bem-estar, essenciais para a sua sobrevivência e para o processo de constituição do seu Eu (GARCIA-ROSA, 1998). Figura 1: A ligação afetiva com a mãe é a primeira relação social do bebê. A criança aprende a amar as pessoas que a ajudam em seu desamparo e satisfazem suas necessidades. Fonte: André Assis (2010). Posteriormente, de modo semelhante, outras pessoas vão mediar a sua relação com o mundo, atribuindo significados e sentidos à realidade, ajudando-a a assimilar as habilidades construídas por nós ao longo do desen- volvimento da espécie, como falar, fazer contas, escrever, sentar-se à mesa ou comer com talheres. Desse modo, podemos dizer, como Baremblitt (2002), que, no con- vívio com os outros seres humanos, aprendemos como nos comportar na sociedade, considerando as ideias e as práticas existentes sobre o que é e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes Gerência em Saúde16 prescrito, ou seja, o que é aceito, e também sobre o que não deve ser, isto é, o que é proscrito. Adquirimos também a capacidade de planejar, direcionar e avaliar as nossas ações ou a de questionar e a mudar, perguntando o motivo de algo ser de um jeito e não de outro. Além disso, aprendemos funções e papéis sociais, dentre muitas outras ações, sentimentos, pensamentos e valores que dizem respeito aos costumes e às tradições que caracterizam o nosso jeito de viver, ou seja, a nossa cultura. Vamos pensar um pouco mais sobre isso! Rememore como era a relação com seus pais, conversando um pou- co sobre a sua infância e adolescência. Lembra-se como gostava de usar batom ou salto alto, como a sua mãe, ou tentava fazer a barba, como o pai, imitando o que faziam? Ou, como, à medida que seus pais faziam exigências, por meio de proibições e obrigações, davam o seu amor de acordo com o cumprimento da lei que exigiam? Assim, se você fosse desobediente, eles chamavam a sua atenção, ao passo que, se aceitasse as regras e as ordens, era premiado por meio de um elogio ou presente. Lembra-se também que, apesar disso, já comparou os seus valores com os deles e não concordou com tudo o que diziam e, muitas vezes, até se aborreceu com os limites dados? Pois é, ao pensar um pouco sobre a sua própria vida, já deve ter percebido que o desenvolvimento humano é facilitado pela mediação de pessoas mais experientes: a mãe e o pai, inicialmente, e, depois, os amigos, familiares ou professores, entre outras. Todos vão dando explicações e de- monstrações para ajudar a promover novas aprendizagens, não é mesmo? Portanto, as constantes interações do sujeito humano com o meio físico e social são essenciais para a sua constituição porque, a partir delas, vamos internalizando conhecimentos importantes. Em vista disso, na pers- pectiva da Psicologia sócio-hstórica afirma-se que: O ser humano é um ser social. Desde o nascimento, vivemos em in- teração com os outros sujeitos, e a vida social supõe o entrelaçamento entre necessidades e desejos, em uma alternância entre dar e receber, ensinar e aprender. Se estudarmos um pouco mais sobre Vygotsky, verificaremos que, para ele, toda aprendizagem é um aspecto indispensável do nosso proces- so de desenvolvimento e que, por meio dela, concretiza-se a aquisição das funções psicológicas superiores, que não estão presentes ao nascimento e marcam a principal diferença entre nós e os animais (REGO, 1995). As funções superiores são complexas e, consequentemente, di- ferenciam-se das funções elementares do tipo estímulo-resposta, que não empregam o raciocínio e são observadas em crianças pequenas e animais, a exemplo das reações reflexas do início da vida, das reações automáticas (viramos a cabeça na direção de um som forte) ou das associações simples entre acontecimentos, como a ação de retirar o contato da mão com uma vela acesa, que nos queima (OLIVEIRA, 1997). Símbolo: é um signo e, como tal, refere-se a tudo que representa ou substitui alguma coisa, isto é, “está no lugar de”. Como instrumento de comunicação e de representação da realidade, é convencional, ou seja, depende da aceitação social para ser compreendido: assim, por exemplo, o luto é representado pela cor preta, na cultura ocidental, e pela cor branca, na China; a palavra casa representa cada casa concreta que existe nas ruas, entretanto, nas línguas inglesa e francesa, não se diz casa, e sim house e maison, respectivamente (ARANHA, 1993). e-Tec Brasil/CEMF/UnimontesRelações Interpessoais e Ética Profissional 17 Desse modo, referem-se à ação intencional, ao controle consciente do comportamento e à capacidade de representar o mundo por meio do símbolo – englobando o raciocínio, a linguagem, a consciência, a atenção voluntária, a imaginação, a capacidade de planejar ações ou de solucionar problemas e formar conceitos, dentre outras. Figura 2: Para compreender o mundo, a criança deve realizar ações investigativas, internalizando as funções psicológicas superiores que permitem, por exemplo, a compreensão das relações entre as coisas e a utilização da lógica para resolver problemas. Fonte: André Assis (2010). Para desenvolver as funções superiores, adquirindo capacidades variadas, toda criança terá que internalizar a cultura do meio em que vive, apropriando-se dos conhecimentos historicamente acumulados pela Huma- nidade, pois o que a natureza (biológico) lhe permite realizar quando nasce não é suficiente para conviver em sociedade, como já vimos. Portanto, na perspectiva da Psicologia sócio-histórica, considera-se também que: O ser humano é um ser ativo e histórico. Desde o nascimento, somos sujeitos inseridos na história social hu- mana, que apreendem o mundo ativamente, pelo aprendizado da cultura, atribuindo-lhe, aos poucos, um significado pessoal. Ou seja, não há história sem sujeito e nem sujeito sem a história social que o constitui. Assim, nosso desempenho cognitivo se efetivará a partir dos con- tatos estabelecidos com o meio sociocultural no qual nos inserimos. Para tanto, todas as possibilidades de aprendizagem proporcionadas por esse am- biente serão importantes e, no contexto, o acesso a instrumentos físicos ou simbólicos é fundamental. Cognição ou desempenho cognitivo: diz respeito à nossa capacidade de adquirir conhecimentos e adaptarmo-nos a situações diversas. e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes Gerência em Saúde18 1.3 O que caracteriza o humano Segundo Oliveira (1997), para compreender as características pro- priamente humanas, buscando as origens sociais das nossas capacidades superiores, Vygotsky concluiu, após estudos acerca do desenvolvimento da nossa espécie, que elas foram surgindo a partir do trabalho, da criação e do uso de instrumentos ao longo do tempo. O trabalho humano diz respeito à ação consciente de modificar a natureza para o atendimento das nossas necessidades na luta pela sobrevi- vência. Por meio dele, criamos o mundo que chamamos de cultura, produ- zindo coisas necessáriasà vida. E os instrumentos referem-se a qualquer elemento colocado entre o trabalhador e o objeto de seu trabalho para ampliar as possibilidades de transformação da natureza, a exemplo do machado (instrumento material), para rachar troncos e cortar árvores, ou dos signos (instrumento psicológi- cos), que representam um objeto ou situação, auxiliando o ser humano em tarefas que demandam memória ou atenção, entre outras. No dia a dia, vemos que as formas de utilizar esses instrumentos são variadas e que, no caso dos signos, a linguagem é a principal delas. Surgiu porque o trabalho, como atividade que estabelece a ação coletiva e social, sendo, consequentemente, feito por muitos, exigiu a criação de um sistema de comunicação para a troca de informações e de ações no mundo. E porque a criamos e a utilizamos, podemos pensar sobre o que já foi vivido e planejar o que virá no futuro, para além do que vivenciamos no “aqui e agora”. Isso porque, como um dos principais instrumentos na forma- ção do mundo cultural, a linguagem também permite a representação da realidade ao tornar presente, para nossa consciência, os objetos reais que estão longe de nós. Você pode pensar em um elefante sem precisar ter sempre um por perto, não é? Basta usar conceitos e abstrações construídos a partir de expe- riências, diretas ou indiretas, com eles. Desse modo, a utilização de instrumentos - materiais e psicológicos - permitiu ao ser humano ir além de suas limitações naturais, o que nos faz muito diferentes dos animais. Primeiro, porque modificamos a natureza, de acordo com as nos- sas possibilidades, criando formas diferentes de agir no mundo em diversas sociedades e culturas - e eles não. Segundo, porque somente nós, seres humanos, criamos a linguagem simbólica. Os animais ficam limitados ao uso do instinto ou da inteligência concreta para agirem no mundo, tanto quanto limitados ao uso do signo chamado de índice para se comunicarem. Dessa forma, somos capazes de projetar qualquer trabalho antes mesmo da sua execução, e temos a capacidade de definir os meios que permitem o alcance do nosso objetivo para escolher, entre eles, o melhor. Também podemos alterar o trabalho, se for necessário, e transmitir, pelas palavras, uns aos outros, o conhecimento acumulado, organizando as múlti- plas instituições sociais que preservam o nosso mundo cultural. Instintos: são comportamentos regidos por leis biológicas, típicos de uma espécie animal. Assim, todos os membros de uma espécie realizam de um mesmo jeito uma ação, sem consciência de sua finalidade. É por isso, por exemplo, que toda casa construída pelo passarinho joão- de-barro é igual uma à outra (ARANHA, 1993). Inteligência concreta: refere-se à ação, vinculada à experiência presente, que envolve improvisação e criatividade na resolução de problemas. Aranha (1993) cita como exemplo os experimentos realizados pelo psicólogo Köhler com chimpanzés, “que consistiam em colocar um animal faminto numa jaula onde eram penduradas bananas que o animal não conseguia alcançar” (p. 3). O problema era resolvido quando o chimpanzé puxava um caixote e o colocava sob a fruta para pegá-la, sendo capaz de usar, deste modo, um instrumento para adaptar-se às necessidades momentâneas. Índice: é um tipo de signo que mantém uma relação de causa e efeito com o objeto que representa: o chão molhado pode ser índice de chuva; a fumaça, de fogo; e a febre, índice de doença (ARANHA, 1993). e-Tec Brasil/CEMF/UnimontesRelações Interpessoais e Ética Profissional 19 Portanto, quando Aninha já tiver aprendido a escovar os dentes, a comer com talheres e a utilizar outros objetos, como uma faca para cortar o pão, ou ainda a contar, escrever, ler e discutir um texto, comparar as coisas e relatar algo já acontecido - dentre as inúmeras coisas que aprenderá a fazer enquanto viver -, afirmaremos que a interação com o outro e a influência do meio social e cultural (além da base dada pelo biológico) foram vitais para o seu desenvolvimento, pois permitem o acesso ao mundo criado por homens e mulheres que lhe antecederam. Afirmaremos ainda que, em constante transformação, Aninha vai construindo a si própria e ao mundo em que vive, a partir da ação sobre a realidade, desenvolvendo capacidades variadas. Figura 3: Quando adultos, temos um amplo universo de conhecimentos acumulados. Fonte: André Assis (2010). Tendo em mente tais considerações, podemos, para concluir, di- recionar o olhar para os sujeitos que trabalham nas organizações de saúde, reconhecendo que as suas singularidades interferem na percepção dos con- textos em que se inserem. Em decorrência, no ambiente de trabalho, eles se comportam de forma complexa, influenciados por fatores cognitivos e afetivos, dentre outros. Assim, apesar de possuírem características comuns, são, ao mesmo tempo, diferentes. Pensam, agem e reagem considerando a reação do outro e o impacto da reação em si; comunicam-se, afirmam desejos e movimen- tam-se para satisfazê-los; vivem no tempo presente e projetam o futuro, mas são influenciados pelo passado. Enfim, compartilham valores, ideias, práticas e representações diversas em um amplo contexto cultural. A linguagem é compreendida como um conjunto de signos articulados em um sistema simbólico. Assim, operando por meio de palavras e gestos para expressar sentidos e valores diversos, ajuda a organizar a realidade, nomeando-a. Como toda e qualquer forma de expressão, representa um salto qualitativo na evolução da espécie humana. e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes Gerência em Saúde20 Percebê-los (e tratá-los) como elementos importantes no todo orga- nizacional, como sujeitos ativos e reflexivos, que se relacionam uns com os outros, de diversas maneiras, é de significativa importância para que contri- buam, de forma consciente, na busca da responsabilização com os objetivos organizacionais propostos. Resumo Nesta unidade, estudamos a contribuição da Psicologia sócio-histó- rica para a compreensão do ser humano. Vimos que: • o ser humano constitui-se nas relações que estabelece com os outros sujeitos, compreendidos como importantes auxiliares, modelos e interlocutores. Somos seres sociais; • desde o nascimento, estamos inseridos em um processo histórico que nos oferece dados e visões sobre o mundo, permitindo a construção de uma visão pessoal sobre o mesmo a partir de nossas ações; • por causa das ações dos homens e das mulheres, o mundo muda. Assim, somos seres ativos e históricos, situados no mundo em contínua transformação; • para a apropriação do patrimônio cultural da Humanidade, uti- lizamos instrumentos variados, que nos permitem agir sobre a realidade, organizando as funções psicológicas superiores, inclu- sive a nossa consciência. Aprendemos e, assim, nos desenvolvemos; • o modo de funcionamento psicológico superior, típico da espécie humana, é mediado pelo sistema simbólico básico de todos os grupos: a linguagem; • por meio de práticas culturais, criamos a nossa existência social, econômica, política, religiosa, intelectual e artística; • a subjetividade, ou seja, o modo de ser de cada um, expresso em pensamentos, condutas, emoções e ações interfere na visão do contexto no qual os sujeitos se inserem; • no contexto dos elementos organizacionais, a compreensão das pessoas oferece subsídios para que sejam tomadas decisões co- erentes com as suas necessidades e as da organização. Atividades de aprendizagem 1) Guimarães Rosa escreveu, em seu livro Grande Sertão: Veredas, que o mais importante e bonito do mundo é o fato das pessoas não serem sempre iguais, uma vez que não foram terminadas. O que o pensamento dele assinala? 2) Considerando a concepção sócio-histórica do ser humano, podemos afirmar que “pau que nasce torto, não tem jeito, morre torto?” Justifique a sua resposta. 3) Bock e colaboradores fazem uma reflexão interessante, em seus estudosacerca da subjetividade (2002), questionando sobre o que aconteceria no mundo se, por uma catástrofe no planeta, só sobrevivessem crianças peque- nas. Com base nos estudos feitos, responda o que aconteceria se houvesse uma catástrofe no planeta e só sobrevivessem crianças pequenas. Para ampliar o conhecimento da obra de Vygotsky, acesse: Marta Kohl - Vygotsky - Parte 1 http://www. youtube.com/ watch?v=2qnBE_8A6Fk Marta Kohl - Vygotsky - Parte 2 http://www. youtube.com/ watch?v=TpFLOsoyKTA Marta Kohl - Vygotsky - Parte 3 http://www. youtube.com/ watch?v=apDADNFTUQA Marta Kohl - Vygotsky - Parte 4 http://www. youtube.com/ watch?v=QSOBXfcHbHI Marta Kohl - Vygotsky - Parte 5 http://www. youtube.com/ watch?v=mj2XBkwTVDw Marta Kohl - Vygotsky - Parte 6 (final) http://www. youtube.com/ watch?v=EapR3rNTkAs e-Tec Brasil/CEMF/UnimontesRelações Interpessoais e Ética Profissional AULA 1 Alfabetização Digital 21 Aula 2 - Convivência interpessoal e profissional Objetivos Ao final desta aula, você deverá ser capaz de: 1. conceituar relacionamento interpessoal e profissional; 2. conceituar comunicação e descrever os seus elementos básicos; 3. identificar a importância da comunicação para o relacionamento interpessoal; 4. identificar as habilidades relacionadas à competência interpessoal. 2.1 A arte da convivência Leia o texto a seguir! Fábula da Convivência Autor desconhecido Durante uma era glacial, muito remota, quando parte do globo terrestre esteve coberto por densas camadas de gelo, muitos animais não resistiram ao frio intenso e morreram indefesos por não se adaptarem às condições do clima hostil. Foi então que uma grande manada de porcos-espinhos, numa ten- tativa de se proteger e sobreviver, começou a se unir, a juntar-se mais e mais. Assim, cada um podia sentir o calor do corpo do outro. E todos juntos, bem unidos, agasalhavam-se mutuamente, aqueciam-se, enfrentando por mais tempo aquele inverno tenebroso. Porém, vida ingrata, os espinhos de cada um começaram a ferir os companheiros mais próximos, justamente aqueles que lhes forneciam mais calor, aquele calor vital, questão de vida ou morte. E afastaram-se, feridos, magoados, sofridos. Dispersaram-se, por não suportarem mais tempo os espinhos de seus semelhantes. Doíam muito. Mas essa não foi a melhor solução: afastados, separados, logo começaram a morrer congelados. Os que não morreram voltaram a se aproximar, pouco a pouco, com jeito, com precauções, de tal forma que, unidos, cada qual conservava certa distância do outro (mínima), mas o suficiente para conviver sem ferir, para sobreviver sem magoar, sem causar danos recíprocos. Assim, suportaram-se, resistindo à longa era glacial. Esta narrativa figurada, na qual os personagens são animais com características humanas, procura sustentar uma lição em seu final. Você já percebeu qual é? Reflita! e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes Gerência em Saúde22 Figura 4: A reflexão é o movimento pelo qual o pensamento volta-se para si mesmo, interrogando a si mesmo. Fonte: André Assis (2010). Escreva aqui o que você pensou. ___________________________________________________________ ___________________________________________________________ ___________________________________________________________ ___________________________________________________________ ___________________________________________________________ Se, nas suas reflexões, considerou a ideia de que viver é conviver, já deu a largada para debater a temática a ser analisada nesta unidade, pois a vida de cada um de nós, homens e mulheres, relaciona-se ao fato de que vivemos entre pessoas, com pessoas. e-Tec Brasil/CEMF/UnimontesRelações Interpessoais e Ética Profissional 23 E convenhamos, esse convívio é desafiador, difícil. Afinal, como harmonizar os nossos desejos e os dos demais sujeitos? O que fazer quando nosso interesse particular não coincide com o interesse comum, ou seja, com o bem da sociedade? De que forma resolver os problemas de comunicação que surgem em diferentes contextos? Como enfrentar o problema da com- petição? Como lidar com a nossa agressividade? Como manter o ambiente de trabalho em paz? Por que, às vezes, os outros interpretam nossos atos e palavras de um jeito errado? Bem, já dizia o cantor e compositor Gonzaguinha que viver implica em ser feliz e em cantar “a beleza de ser um eterno aprendiz”. É verdade, estamos sempre aprendendo, e assim estabelecemos estratégias que nos auxiliam a levar adiante a tarefa de construir e de manter a civilização hu- mana, uns com os outros. 2.2 Viver é conviver Você já deve ter notado que não podemos evitar ser membro de al- gum grupo, pois, desde o nascimento, estamos incluídos em alguns, a exem- plo da nossa família ou do grupo de amigos mais próximos. Somente depois é que participaremos de outros grupos, chamados de secundários, em que os membros, habitualmente, não possuem semelhante grau de proximidade, como acontece no clube ou no trabalho. Desse modo, é importante relembrar o que já estudamos na pri- meira aula: nós, seres humanos, somos seres sociais, que desenvolvem os relacionamentos interpessoais em decorrência do processo de interação, isto é, do convívio, da comunicação. Nesse sentido, segundo Moscovici (1985), as relações interpessoais podem ser conceituadas como todos os contatos que ocorrem entre sujeitos em diferentes circunstâncias e espaços, a exemplo do meio familiar ou de trabalho. E, nessa convivência, descobrimos que temos afinidades maiores com algumas pessoas e menores com outras, uma vez que existem diferen- ças nas maneiras de perceber, pensar, sentir e agir. Afinal de contas, nin- guém é igual a ninguém! e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes Gerência em Saúde24 Figura 5: Group of Kids. Fonte: Dreamstime. Disponível em: <http://www.dreamstime.com/royalty-free-stock- photography-group-of-kids-image12210077>. Acesso em 18.04.2011. Assim, as diferenças individuais são inevitáveis e provocam inter- ferências na dinâmica interpessoal, mas, em si, não são boas nem ruins. Por vezes, provocarão prejuízos a um indivíduo ou a um grupo e, em muitas outras, permitirão possibilidades de aprendizagem e de desenvolvimento. De acordo com Moscovici (1985), quando as diferenças implicam em discordâncias de opinião, elas podem conduzir a insatisfações e conflitos, estimulando sentimentos e emoções intensas. Se aparecem, então, em um ambiente de trabalho - estando relacionadas à percepção da tarefa, dos objetivos, dos procedimentos, dos valores, ou de outras questões -, podem até afetar a objetividade necessária para a execução das atividades laborais, transformando, inclusive, o clima emocional do grupo. E, na situação, ou em outras, como lidar com os conflitos pode ser uma grande preocupação para muitos, porque nem sempre nos sentimos preparados para tanto, e também porque não há uma fórmula mágica que traga uma solução pronta. Você já viveu uma situação dessa natureza? Como se saiu? Tente se lembrar. Agora, faça mais do que se lembrar! Se já viveu uma situação con- flitiva no trabalho, compartilhe conosco o que fez para compreender a dinâ- mica do conflito e chegar a uma conclusão que servisse de base para a sua ação. Escreva a seguir. ___________________________________________________________ ___________________________________________________________ ___________________________________________________________ ___________________________________________________________ e-Tec Brasil/CEMF/UnimontesRelações Interpessoais e Ética Profissional 25 Pronto? Talvez a sua solução tenha destacado algo que é importan- te ressaltar: a exemplo do que acontece com as diferenças individuais, um conflito, por si só, também não é ruim, podendo mesmo ser considerado com uma oportunidade parao enfrentamento dos problemas que varremos para “debaixo do tapete”, pois podemos mudar o que é necessário mudar. E isso é muito positivo! Ainda que as mudanças nem sempre sejam fáceis de serem vividas. Nesse contexto, constata-se também que a maneira de lidar com situações conflitivas relaciona-se a uma série de fatores que vão desde a sua intensidade, natureza ou importância dada às suas consequências até a mo- tivação dos oponentes ou o contexto grupal e organizacional, dentre outros (MOSCOVICI, 1985). Do mesmo modo, as nossas vivências anteriores em relação aos conflitos influenciam os futuros enfrentamentos e, por isso, é importante que aprendamos a fazê-los de forma resolutiva e mais harmoniosa possível. Para Moscovici (1985), são diversas as formas de enfrentamento, tanto quanto os resultados. Vejamos a seguir. No dia a dia, podemos evitar conflitos procurando conviver entre pessoas com maior afinidade de pontos de vista e valores, ou seja, em grupos mais homogêneos. Contudo, corremos o risco de reduzir o nosso potencial criativo e as possibilidades de aprendizagem, se limitar a tal ponto os nossos contatos. Podemos também reprimi-los, mantendo as diferenças encobertas, sob controle, buscando realçar somente os valores considerados positivos, como a lealdade, a cooperação e o trabalho em equipe, sendo, portanto, desfavoráveis à expressão das discordâncias. Observa-se que, em organizações, os líderes costumam reprimir ati- vamente essas situações conflitivas por meio de recompensas ou castigos, isto é, premiando os sujeitos ou os grupos pela aceitação das normas vigen- tes e enfatizando a concordância e a cooperação. Ou, então, punindo as di- versas formas de discordância e de expressão de ideias divergentes. Mas, podemos perguntar: e os conflitos que ficam latentes? Sim, porque reprimir não vai impedir a existência dos mesmos. No muito, vai impedir que os sujeitos falem sobre eles. Assim, se, de alguma forma, essa maneira de lidar com os conflitos pode ser importante em curto prazo - se não há, tem tempo para a resolução das diferenças individuais -, por outro lado, o não esclarecimento das dificuldades tende a provocar sentimentos de frustração e de hostilidade. No âmbito organizacional, esses sentimentos são geralmente inten- sos, levando à procura de alguém que sirva de “bode expiatório” para rece- ber essa carga de frustração e hostilidade. Tal situação acaba por perturbar também a produtividade do grupo e das pessoas. e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes Gerência em Saúde26 Figura 6: O “ bode expiatório” é a pessoa sobre quem recai a culpa dos outros ou a quem se atribui todas as desgraças. Fonte: André Assis (2010). O que fazer, então? Ao contrário de reprimir, podemos reconhecer e aceitar as divergências, procurando criar uma situação para a franca expres- são das mesmas. No dia a dia, não é comum pararmos para examinar as nos- sas ideias e posições, e nem as dos outros, no entanto, fazer isso é benéfico, já que permite esclarecimentos e aprendizagem para todos. Mas, agora, atenção: se nessa expressão livre, feita no auge da dis- cussão, são ditas palavras duras, as marcas que ficam podem favorecer a per- manência de relações estremecidas. E quem opta por pela abordagem dos conflitos deve ter clareza dessa possível consequência, tanto quanto deve procurar pensar que medidas tomar para mantê-los dentro de adequadas limites. Ainda acompanhando o raciocínio estabelecido por Moscovici (1985), podemos pensar outra forma possível de lidar com os conflitos, que vai exigir a dedicação de todos na organização: implica em transformá-los em proble- mas a serem enfrentados de forma criativa. Ou seja, levando-se em conta que a resolução de problemas facilita a aprendizagem e aprimora as rela- ções, as pessoas se reúnem para analisá-los sob diferentes perspectivas. Assim, por meio da aceitação e da colocação aberta de sentimentos - para evitar a repressão dos mesmos e a consequente explosão em ocasiões inoportunas -, as pessoas devem, então, buscar a promoção de um consenso que, mesmo não agradando a todos inteiramente, não estimule uma compe- tição para determinar quem está certo ou quem está errado. Nesse contexto, a situação de argumentação deve proporcionar o diálogo - que envolve falar e ouvir, valorizar a nossa fala e a fala do outro, e-Tec Brasil/CEMF/UnimontesRelações Interpessoais e Ética Profissional 27 de modo a não permitir que os conflitos fiquem incontroláveis. Direcionan- do a energia para atividades construtivas, trabalharemos os sentimentos de frustração e de hostilidade, e aprenderemos que as discordâncias podem ser vantajosas, se são usadas para o enriquecimento dos objetivos, das ideias, dos procedimentos de qualquer atividade, inclusive a profissional. Portanto, o diálogo tem importância fundamental nos relaciona- mentos interpessoais. Com Paulo Freire, podemos considerar que dialogar é relacionar, e relacionar é dar e receber ao mesmo tempo. Em nosso cotidiano, é fácil verificar que a aceitação das diferenças inicia-se pela capacidade de escutar o outro, colocar-se no lugar dele e procurar compreender seus sentimentos, ações e pensamentos – desenvolvendo o que chamamos de capacidade de empatia. Em sua casa, nos contatos com seus pais e irmãos, é possível cons- tatar a importância desse diálogo e da empatia. Experimente acordar de cara fechada, sem dar bom dia a quem encontrar pelo caminho e ainda reclame do jeito do seu irmão ou do jeito da sua mãe, que vive implicando com você, sem escutá-lo. Verá que, rapidamente, todos ficarão chateados, não desejando trocar outras palavras além das acusações mútuas. Logo, ninguém vai procu- rar entender as razões de tais condutas e, obviamente, ninguém vai conse- guir resolver satisfatoriamente as questões que provocam o conflito. Também no trabalho é possível realizar essa constatação. Em seu contexto, um dos fatores que mais contribuem para uma realização favorável das relações interpessoais, estimulando o diálogo, é o trabalho em equipe - que envolve a troca de experiências e a capacidade de participar coletiva- mente de um projeto em comum. Figura 7: Cheerful Team of Business People Enjoying At Work (2009), de Yuri Arcurs. Fonte: Disponível em: <http://www.dreamstime.com/royalty-free-stock-images-cheerful-team-of- business-people-enjoying-at-work-image9428399>. Acesso em 04.10.2010. “O educador brasileiro Paulo Freire afirmava que o diálogo é o encontro amoroso dos seres humanos que, mediatizados pelo mundo, o “pronunciam”, isto é o transformam e, transformando-o, o humanizam para a humanização de todos. De acordo com essa afirmação de Paulo Freire, o diálogo, além de ser um encontro, é um encontro amoroso. É ele que nos torna humanos e nos mantém em contato com o mundo.” (SÁTIRO, A., WUENSHC, A.M., 2003, p.198). e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes Gerência em Saúde28 Desse modo, uma equipe é mais do que o mero aglomerado de sujeitos que exercem as suas funções específicas. Em seu âmbito, exige-se, para além da competência técnica, o exercício da competência ética e da competência interpessoal, que pode ser conceituada da seguinte forma: “é a habilidade de lidar eficazmente com as relações interpessoais, de lidar com as pessoas de forma adequada às necessidades de cada uma e às exigências da situação” (MOSCOVICI, 2007, p.36). Em ambientes de trabalho, a liderança e a participação eficaz de- pendem tanto do líder e dos membros do grupo quanto da competência interpessoal, que normalmente nem é valorizada por todos. Costumamos valorizar mais a competência técnica, já que se refere ao saber fazer em nossa área específica de atividade. Mas, se na convivência com os outros não houver respeito, se a ideia de cada um não for ouvida e discutida, se não aprendermos a nos comunicar melhor – exercitando a com- petência interpessoal -, até a competência técnica fica comprometida. Não se esqueça disso! E quanto a você? Registreo que entende por diálogo. Figura 8. Fonte: Stock. Xchng. Stock photo: Draw the line! Disponível em: <http://www.sxchu/ photo/1106139>. Acesso em 04.10.2010. ___________________________________________________________ ___________________________________________________________ ___________________________________________________________ ___________________________________________________________ 2.3 Viver e comunicar Vimos que a forma como as diferenças entre as pessoas são enfren- tadas ajuda a determinar a modalidade de relacionamento interpessoal e, no contexto, a comunicação tem um papel importante, já que a sua realização adequada favorece o convívio com os outros. Assim, se as diferenças são aceitas, a interação e a comunicação tendem a se estabelecerem de forma adequada e prazerosa, permitindo que as pessoas ouçam umas às outras, e-Tec Brasil/CEMF/UnimontesRelações Interpessoais e Ética Profissional 29 falem o que pensam e sentem, constituindo diálogos. Em ambiente de traba- lho, permitem a cooperação e a integração de esforços, por meio de trocas de experiências e de conhecimentos. Mas, se ao contrário, as diferenças forem negadas, a interação e a comunicação tornam-se falhas, com bloqueios e barreiras. O relacionamento torna-se tenso e tende a comprometer o desempenho grupal, tornando-o desagradável. Portanto, lembre-se de que: Procurar relacionar-se bem com as pessoas, mantendo uma comu- nicação adequada, é importante para o desenvolvimento de interações satis- fatórias em qualquer ambiente. Para uma comunicação ser adequada, é preciso que estejamos atentos à maneira como é estabelecida. Você ouve com atenção e cuidado? Quando alguém está falando, corta o assunto, achando que já o compreen- deu? Tem dificuldades de expressão? Após ouvir alguém, dialoga um pouco com o expositor, a fim de que o tema fique esclarecido? Como já deve ter percebido, para se comunicar bem é preciso ter alguns cuidados, pois a comunicação não é conceituada como uma transfe- rência unilateral de informação, ou seja, não basta falar para que ela acon- teça. Pelo contrário, para o processo de comunicação acontecer, é pre- ciso que a informação transferida seja realmente compreendida por quem a recebe. Vamos procurar entender um pouco mais sobre esse processo. O circuito da comunicação humana apresenta elementos básicos: (1) o comunicador, chamando também de emissor; (2) a mensagem, ou seja, o conteúdo; (3) o receptor;. e (4) o canal. O emissor ou a fonte da mensagem é a pessoa que tem as informações e inicia a comunicação. O receptor é aquele a quem se dirige a mensagem. A mensagem diz respeito ao conteúdo da comunicação e o canal refere-se à forma de transmissão da mesma. Muitos são os fatores que podem perturbar a comunicação e a eles damos o nome de ruídos. Assim, se você não estiver prestando atenção a uma conversa ou não a compreender direito porque há muito barulho no ambiente, podemos dizer que um ruído interno e um externo estão, respec- tivamente, presentes e interferindo em seu diálogo! Fique atento para evitar que isso aconteça. Procure prestar atenção ou deixe para conversar em outro momento. Também procure um lugar cal- mo, sem muitos barulhos, para iniciar e manter qualquer diálogo. Entre outras barreiras comuns da comunicação podemos citar: per- cepções diferentes de um mesmo fenômeno ou diferenças de linguagem en- tre o emissor e o receptor, o fechamento para o outro - provocando condutas do tipo “eu sei tudo e não preciso aprender nada” -, a intolerância, a impa- ciência, as dificuldades de ouvir, a presença de estereótipos e preconceitos ou, ainda, de exageros na linguagem (uso de gírias e de palavras regionais). Como no trabalho, toda situação problemática na comunicação é pouco tolerada; uma vez que a sua eficiência é fator relevante para o desen- volvimento das atividades, torna-se necessário, portanto, evitar essas bar- reiras da comunicação ou, então, superá-las. e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes Gerência em Saúde30 Por conseguinte, para que a comunicação seja bem feita, atenden- do aos seus objetivos, existem algumas condições que devem ser observa- das. Assim sendo, escute atentamente o outro, mantendo contato visual. Não pense no que vai responder enquanto o outro fala e evite interrompê-lo enquanto estiver falando. Do mesmo modo, demonstre respeito e consideração pelo seu in- terlocutor; admita que ele, como você, tem valores e crenças que podem ser diferentes das suas e, ainda assim, crie condições para que ele expresse os seus sentimentos, seus valores e suas ideias (o que não significa que você tenha que concordar com elas). Também compreenda com empatia o seu interlocutor, procurando acompanhar a sua linha de pensamento, esforçando-se para perceber a rea- lidade por ele concebida. Faça perguntas, claro, procurando esclarecer o que não compreendeu. Evite agressões ou comentários avaliadores. Tente fazer perguntas abertas e seja claro ao falar algo. Igualmente, peça ou dê o que chamamos de feedback. Feedback significa retorno, retroalimentação. Permite informar so- bre como a atuação de uma pessoa ou de um grupo está afetando as outras pessoas ou grupos. Não sendo levado para o lado pessoal, sem ofensas, pode ser encarado como uma possibilidade de melhoria, já que permite o autoco- nhecimento, a reformulação de percepções, de valores ou de posições. E, para que seja positivo, é necessário considerar-se que: (1) todo feedback eficaz é o que ajuda as pessoas a melhorarem o desempenho; (2) deve ser feito numa relação de confiança mútua; (3) deve ser dado de for- ma habilidosa, sem conotações emocionais, julgamentos ou acusações; e (4) deve ser expresso no momento adequado. Agindo assim estará construindo as bases para o relacionamento interpessoal adequado, tendo por fundamento condutas que chamamos de assertivas, pois você se valoriza, se expressa, sente-se bem consigo e atin- ge os objetivos propostos. O que fortalece, portanto, a sua autoconfiança, tornando-o mais preparado para lidar com os problemas que surgem em sua vida pessoal e profissional. Resumo Nesta aula, vimos que: • mesmo sabendo que nem sempre é fácil viver com o(s) outro(s), principalmente quando as crenças de cada um são antagônicas, produzindo posicionamentos diferenciados, é importante lem- brar que qualquer projeto civilizatório depende desse esforço em comum, senão, tornar-se-ia impossível garantir o bem viver individual e coletivo, contrariando o objetivo de sobrevivência na face da Terra; • conflito é um fenômeno próprio das relações humanas e acon- tecem porque temos posições divergentes em relação a algum comportamento, necessidade ou interesse comum. Contudo, e-Tec Brasil/CEMF/UnimontesRelações Interpessoais e Ética Profissional 31 devemos resolvê-los, tratando os outros e sendo tratados com respeito e igualdade; • o diálogo, em qualquer situação de vida, é de grande importân- cia para exercitar novos modos de ver e de criar significados em conjunto; • no ambiente profissional, comete-se o equívoco de minimizar a importância do plano das relações interpessoais para o alcance do resultado satisfatório que objetivamos; • o desenvolvimento interpessoal pode ser planejado para atender objetivos tanto individuais como grupais; • cuidar da comunicação é importante para o estabelecimento de um adequado desenvolvimento interpessoal. Desse modo, é pre- ciso evitar ou superar as barreiras na transmissão da mensagem. Atividades de aprendizagem 1) Conceitue relações interpessoais. 2) Conceitue competência interpessoal. 3) Conceitue comunicação. 4) Qual a importância da comunicação para o ser humano? e-Tec Brasil/CEMF/UnimontesRelações Interpessoais e Ética Profissional AULA 1 Alfabetização Digital 33 Aula 3 - Cidadania, direitos humanos e sociais Objetivos Ao final desta aula, você deverá ser capaz de: 1. conceituar cidadania; 2. conceituar direitos humanos e sociais, identificando osseus fundamentos; 3. identificar ações favoráveis à promoção da democracia e da ci- dadania. Conhece a música “Alagados”, do grupo Paralamas do Sucesso? Logo no seu início, já escutamos que algumas pessoas, quando acordam, enfren- tam um grande desafio para viver o novo dia. Isso porque a vida se estabele- ce em condições tão precárias, à margem da cidade, que, embora seja bela para muitos, lhes nega oportunidades, acentuando as desigualdades sociais. Procure escutá-la para responder às questões a seguir. Figura 9. Fonte: Stock. Xchng. Stock photo: Draw the line! Disponível em: <http://www.sxc.hu/ photo/1106139> Acesso em 04.10.2010. a) Em que consiste a atualidade da música? ___________________________________________________________ ___________________________________________________________ ___________________________________________________________ b) Essa esperança que “não vem do mar nem das antenas de TV” é possível de ser inventada? De que modo? ___________________________________________________________ ___________________________________________________________ ___________________________________________________________ e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes Gerência em Saúde34 3.1 Para pensar Observe as fotografias. O que você sabe sobre as situações retrata- das, o que pode falar sobre elas? Figura 10: Mendigos disputam comida com o lixeiro (2008), de Thiago Piccoli. Fonte: Wikimedia Commons. Disponível em: <http://commons.wikimedia.org/wiki/ File:MendigosDisputamComLixeiro.jpg>. Acesso em 04.10.2010. Figura 11: Children Misery (2009), de Sodeit. Fonte: Wikimedia Commons. Disponível em: <http://commons.wikimedia.org/ wiki/File:Children_misery.jpg>. Acesso em 04.10.2010. Quando você se encontra em uma situação na qual é vitima de algum preconceito, o que você faz? Reage, reclamando? Faz valer os seus direitos? Você conhece ou participa de grupos organizados ou entidades comunitárias em seu bairro ou região? Se você soubesse que, na cadeia municipal da sua cidade, os detentos sofrem torturas ou maus tratos, qual atitude tomaria? Denunciaria o fato ou não? Devemos defender os criminosos? Muito se fala sobre direitos e deveres nos tempos atuais. Basta abrir revistas, jornais ou ver televisão para termos acesso a denúncias sobre abuso de poder, reclamações quanto ao aumento de impostos ou de serviços que não são corretamente prestados, observações acerca de situações de miséria ou de violência, além de questionamentos sobre as responsabilidades individuais e coletivas na condução de políticas públicas, dentre outras inúmeras notícias. O progressivo desenvolvimento dos meios de comunicação, nos úl- timos anos, certamente tem modificado a nossa relação com o universo das questões políticas. Hoje, detemos informações cada vez mais amplas, veicu- ladas em mídias diversas; passamos a conhecer melhor os nossos direitos e, ao mesmo tempo, a reivindicá-los de diferentes formas. Nesse contexto, observamos que os diversos movimentos sociais, surgidos em meados da década de 1970 e início da década de 1980, con- quistaram ou estão conquistando espaços organizados em nossa sociedade. As lutas por igualdade e liberdade ampliaram os direitos políticos e, a partir destes, criaram os direitos sociais e os direitos das chamadas “minorias”. Você já ouviu falar do Movimento Operário no ABC paulista, com greves por aumento salarial? Ou sobre o Movimento dos Sem-terra? Ou sobre os Mo- vimentos pela Reforma Sanitária e Psiquiátrica? Ou ainda o Movimento dos Negros, dos Quilombolas? Parece que (re)descobrimos a condição de sujeitos históricos do processo de desenvolvimento social e humano, adquirindo maior consciência O videoclipe de “Alagados” mostra cenas de moradias habitadas por diversos sujeitos em condições de exclusão social. Também critica a atenção dada pelo poder público à realidade e questiona as possibilidades de mudanças da situação. Assista aqui: http://www. youtube.com/ watch?v=o7N76QdXc6E Alagados e Favela da Maré são grandes favelas situadas, respectivamente, nas cidades de Salvador e do Rio de Janeiro, em nosso país. Trenchtown também é uma favela situada na Jamaica, ilha do mar do Caribe, na América Central. e-Tec Brasil/CEMF/UnimontesRelações Interpessoais e Ética Profissional 35 crítica quanto à condução do próprio destino. O que é muito bom porque, ao contrário do que possa parecer, somos sujeitos políticos (e política não diz respeito somente aos políticos). Nossa parcela de participação é condição importante para o exer- cício da justiça em seu sentido mais amplo, ou seja, o bem comum. E se você tem dúvidas quanto a isso, ouça e reflita sobre a reportagem inicial veiculada no Programa Escola Brasil, que mostra iniciativas de brasileiros que querem exercer sua cidadania. 3.2 Cidadania O que significa essa palavra, normalmente presente nos discursos de políticos, sociólogos e de outros sujeitos que se preocupam com os desti- nos da sociedade em que vivem? Converse com seus colegas. Escreva a seguir a sua resposta. ___________________________________________________________ ___________________________________________________________ ___________________________________________________________ ___________________________________________________________ Agora, vamos aprofundar os estudos! Frequentemente, a palavra cidadania tem sido empregada referin- do-se ao direito, porque a sua história confunde-se com a dos direitos huma- nos, isto é, com a luta para afirmar valores éticos diversos, importantes para a vida humana: a liberdade, a dignidade, a igualdade ou a luta por direito à educação, à saúde, dentre outros. Considerando os seus significados, nos diferentes momentos históri- cos, podemos verificar que a sua origem é a palavra latina civitas, que pode ser traduzida por cidade, fazendo referência à vida coletiva, ou seja, em sociedade. Nesse sentido, na Grécia antiga, a cidadania foi associada aos direi- tos políticos referentes à participação dos sujeitos nas decisões sobre a co- letividade, sendo vista como um bem inestimável, isto é, um caminho para a plena realização do ser humano. Entretanto, à época, nem todos os sujeitos eram considerados livres para essa participação, a exemplo dos comercian- tes, dos artesãos, dos escravos, das mulheres e dos estrangeiros. Assim, o exercício da cidadania, na realidade, concretizava-se para poucos sujeitos. Na Roma antiga, a ideia de cidadania, como essa capacidade para exercer direitos políticos, civis e religiosos, também era presente. Como para os gregos, apenas alguns homens livres podiam ser cidadãos, mais espe- cificamente, os patrícios – descendentes dos seus fundadores. Aos plebeus, descendentes dos estrangeiros, às mulheres e aos escravos não se assegurava a igualdade para serem cidadãos. Somente com conflitos entre patrícios e plebeus é que a situação se alterou, no decorrer do tempo. O Programa Escola Brasil, dentre outros assuntos, coloca em pauta a importância da organização social para o exercício da cidadania. Portal Domínio Público. Título: Direito de ser cidadão. Autor: Ministério da Educação. http://www. dominiopublico. gov.br/pesquisa/ DetalheObraForm. do?select_action=&co_ obra=46484 e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes Gerência em Saúde36 Posteriormente, a partir da decadência do Império Romano, impor- tantes alterações ocorreram nas estruturas sociais e, no período histórico seguinte, chamado de Idade Média, registrou-se uma hierarquia rígida entre as classes existentes: o clero, a nobreza e os servos. Nesse contexto, a igreja cristã estabeleceu-se como instituição de referência, e as relações passaram a ser controladas segundo as suas regras. Ainda que a igualdade entre os homens fosse afirmada em seu âmbito, o relacionamento estabelecido entre os senhores e os servos não permitiu a consolidação do conceito de cidadania, com base nos princípios antigos, dos gregos e romanos. Esses só foramretomados com a formação dos Estados Modernos, tempos depois. Portanto, somente na Modernidade, em decorrência das transfor- mações advindas a partir da Revolução Francesa, é que os princípios de igualdade e liberdade foram reafirmados e ampliados entre os homens, sen- do consolidados perante a lei. Figura 12: Lema da Revolução Francesa. Fonte: Stock Xchng. Disponível em <http://www.istockphoto.com/file_closeup/?id=4945208&refn um=776692&source=sxchu04&source=sxchu04>. Acesso em 04/10/2010. Com as mudanças, o indivíduo passou a ser visto sob duas pers- pectivas: como pessoa privada e, ao mesmo tempo, como uma pessoa pú- blica, ou seja, um cidadão. Como cidadão, é considerado livre e membro de um estado que a ele garante direitos civis e políticos, e dele exige o cumprimento de deveres e obrigações e, por consequência, a participa- ção na vida social. Revolução Francesa: movimento político- social que ocorreu na França, em 1789. Instaurou o estado democrático, objetivando representar e assegurar os direitos de todos, após a derrubada do antigo regime, caracterizado pela dominação da nobreza e pela perpetuação do sistema de privilégios, baseado em critérios de castas. Inaugurou a Era Moderna a partir de ideias iluministas, difundidas por Locke, Montesquieu, Voltaire, Diderot, entre outros. Para eles, em síntese, a ordem social era construída por nós, seres humanos, estando, por isso, sujeita a modificações. No decorrer do século XX, o lema da revolução, Liberté, Egalité, Fraternité (Liberdade, Igualdade, Fraternidade), universalizou- se, tornando-se uma bandeira da Humanidade. e-Tec Brasil/CEMF/UnimontesRelações Interpessoais e Ética Profissional 37 Figura 13: Urna eletrônica que é usada nas eleições brasileiras. O objeto da urna, no caso, é sobre o referendo sobre a proibição da comercialização de armas de fogo e munições (2005), de José Cruz. Fonte: Wikimedia Commons. Disponível em: <http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Urna_ eletr%C3%B4nica.jpeg>. Acesso em 04.10.2010. Desse modo, afirma-se o cidadão como o indivíduo que possui di- reitos e deveres para com a sociedade em que vive. Direitos e deveres di- versos, como poder votar em quem quiser, reclamar, devolver um produto com defeito e receber o dinheiro de volta, pagar impostos, cumprir as leis, respeitando e defendendo interesses comuns na sua atuação pública, dentre outros. Em decorrência, na atualidade, a cidadania como ideia política é um dos princípios fundamentais do estado democrático de direito, sendo ga- rantida de forma legal por um conjunto de liberdades e obrigações políticas, sociais e econômicas. Refere-se a valores construídos ao longo do tempo, de forma coletiva, a exemplo da equiparação dos direitos entre homens e mu- lheres ou aos deveres relativos à prestação do serviço militar. Resumindo: podemos dizer que cidadania refere-se ao direito de ter direitos e que, no Brasil, já caminhamos muito no sentido da sua conquista. Os primeiros esforços para o estabelecimento dos direitos humanos e os de cidadania podem ser reconhecidos na luta pela independência do país, pela abolição da escravatura e no Movimento da Inconfidência Mineira. Ou, mais recentemente, com a volta das eleições diretas, após o fim do regime militar, com a promulgação da Constituição de 1988, no Mo- vimento da Ação Cidadania contra a Miséria e pela Vida, defendido pelo sociólogo Herbert de Souza. Também nos movimentos pela ética na política, pela erradicação da tortura nas prisões e, sobretudo, pela garantia contra qualquer espécie de tratamento violento, degradante e desumano imposto aos cidadãos, dentre outros exemplos. e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes Gerência em Saúde38 Figura 14: Diretas Já (1984), de Jorge Henrique. Fonte: Wikimedia Commons. Disponível em: <http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Diretas_ ja_1.JPG>. Acesso em 04.10.2010. Entretanto, se pensamos na questão indígena ou na agrária, na de- sigual concentração da renda nacional, no desemprego ou no analfabetismo, dentre outras graves problemáticas sociais presentes no país, constatamos que há um longo caminho a percorrer para que a participação política de um grande número de cidadãos não fique reduzida por causa da exclusão social. E como os direitos de cidadania podem ser violados, já pensou nis- so? Registre o que pensou no espaço a seguir. ___________________________________________________________ ___________________________________________________________ ___________________________________________________________ ___________________________________________________________ Agora, imagine essa situação: alguém entra em sua casa sem pedir licença, provocando tumulto. Acha correto? Pois bem, possivelmente não é uma situação que você já tenha vivenciado. Mas, se pensar nos sujeitos que moram em favelas, como a da Maré, que têm suas casas invadidas, por ve- zes, vai constatar que o direito à proteção e o princípio da inviolabilidade de domicilio, garantidos por lei, nem sempre são respeitados. Assim, se a polícia invade os barracos, nas situações em que a en- trada da força policial em residência, sem ordem judicial, não atende aos ca- sos previstos na legislação, a exemplo de flagrante delito, desastre ou pedido de socorro, estamos falando em abuso de poder e em violação de direitos. É um tipo de ação que demonstra como diversos sujeitos podem ser alvos de arbitrariedades em nome do estado, sofrendo discriminação social e sendo destituídos de sua cidadania na prática cotidiana. A exclusão social é imposta pela divisão de classes em uma sociedade capitalista, e o bem-estar, que deveria ser de todos, é um privilégio para poucos, pois a repartição da riqueza social gerada pelo trabalho e o acesso aos bens e serviços, que garantem a vida com dignidade, são feitos de forma desigual. A desigualdade social não permite o exercício pleno da cidadania, portanto, em seu contexto, muitos direitos são violados. (SOUZA, 1994). e-Tec Brasil/CEMF/UnimontesRelações Interpessoais e Ética Profissional 39 Essa mesma discriminação amplia-se quando deparamo-nos com as nossas diferenças raciais e culturais. Pense no sistema de cotas para negros nas universidades, adotado pela primeira vez na Universidade Estadual do Rio de Janeiro, em 2001. Ainda que divida opiniões, gerando polêmica, a questão apresenta um ponto positivo ao possibilitar um debate importante sobre o racismo no Brasil. E você? O que acha do sistema de cotas para negros na Unimoontes? Também pense nos índios que vivem em nosso país. Conhece al- gum? Sabe como vivem ou que problemas estão enfrentando? E quanto ao Sistema Único de Saúde – SUS? Temos conseguido garantir o acesso de todos? De que forma? O que ainda é necessário fazer para que ele cumpra efetiva- mente os seus objetivos? Um grande desafio para ampliar o exercício da cidadania no Brasil implica em questionar o caráter excludente de nosso modelo econômico, no sentido do aprimoramento da democracia. Considerando que tanto a cidadania quanto a democracia se fazem presentes em âmbitos para além do poder público instituído, ou seja, do po- der estatal, em suas mais complexas esferas de poder, constata-se que o seu exercício engloba aprendizagem permanente e a luta por condições dignas de trabalho, vida e educação. Os movimentos sociais, de articulação entre minorias, têm aí um papel de suma importância, pois viabilizam espaços de manifestação na so- ciedade civil, onde esses interesses comuns são defendidos, permitindo aos indivíduos a tomada de consciência do papel que desempenham. Busca-se superar, comumente, práticas assistencialistas que não promovem uma real mudança na vida das pessoas, uma vez que não contribuem para o empode- ramento das mesmas (CORDI, 1995). Figura 15: Friendly neighbors Fonte: Stock Xchng. Disponível em: <http://www.istockphoto.com/file_closeup/?id=3937940&refn um=1426749&source=sxchu04&source=sxchu04>.Acesso: 04.10.2010. A luta por uma política que viabilize mudanças econômicas, para enfrentar os problemas sociais, e que defenda os direitos do cidadão, garantindo o pluralismo e os direitos das minorias, é importante. O Fórum Social Mundial (FSM) é um espaço para a articulação das lutas por direitos humanos em suas várias dimensões sociais. Outro tipo de ativismo que se destaca nos últimos anos, baseando-se nos valores da democracia, de solidariedade e da cooperação, é o Movimento de Economia Solidária. Suas práticas podem ser observadas nos empreendimentos populares solidários, no Fórum Brasileiro de Economia Solidária (FBES) e na Rede de Entidades Brasileiras de Economia Solidária (REBES). e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes Gerência em Saúde40 Logo, o aprendizado político pode e deve ser feito nos pequenos espaços sociais (micropolítica), através do relacionamento diário com os ou- tros, a partir do qual se aprende a conviver e a respeitar as diferenças – pas- so importante para a cidadania e a democracia. A política, conforme já dito, deve ser compreendida de forma am- pla, por não se limitar apenas à ideia de atividades político-partidárias, ao ofício desenvolvido por um determinado político eleito ou ainda ao ato de votar, mesmo que o voto seja um importante instrumento de participação política. Fazendo parte do amplo contexto da organização social, refere-se às relações de poder estabelecidas entre as pessoas ou grupos, nas quais estamos todos implicados (CHAUÍ, 1995). 3.3 Direitos humanos e sociais Os conceitos de cidadania e de direitos de cidadania (sociais) estão ligados ao conceito de direitos humanos, no entanto, segundo Soares (2001), há diferenças entre eles, vejamos a seguir. Os direitos do cidadão são específicos de um determinado estado, ou seja, construídos e garantidos nas leis a partir de condições jurídicas e políticas específicas. Assim, na Constituição de cada país, define-se quem é cidadão e que direitos e deveres ele tem, o que nos permite falar em cidadão brasileiro, americano, italiano e francês, por exemplo. Os direitos humanos são direitos universais, portanto, mais amplos e abrangentes. Por isso, devem ser considerados, no Brasil e em qualquer outra parte do mundo, para todos os seres humanos, indistintamente, e, nes- se sentido, superam as fronteiras jurídicas e a soberania dos estados. Também são indivisíveis e interdependentes, porque, depois de re- conhecidos como direitos humanos, não podem ser excluídos dessa catego- ria. Além disso, não permitem divisões que os limitem, a exemplo do que se veicula em falas do tipo: “esse direito é só para homens”. Como direitos fundamentais, baseiam-se, de acordo com Compara- to (1997), no reconhecimento universal da dignidade humana, tomada como um fim em si mesma. Por isso, não precisam estar especificados na legislação para serem reconhecidos, sendo, portanto, anteriores a qualquer lei. Os direitos humanos são históricos, uma vez que evoluem ao lon- go do tempo, sendo uns mais recentes do que os outros. Atualmente, em algumas sociedades, já podemos debater, por exemplo, sobre o casa- mento entre pessoas do mesmo sexo - o que era impensável em outros momentos. Sob esse ponto de vista, portanto, os direitos humanos podem ser, segundo Soares (2001), classificados considerando-se tempos históri- cos ou gerações. A primeira geração é a das liberdades individuais, também cha- madas de direitos civis. Envolve a liberdade de opinião, de locomoção, de propriedade, de segurança, de crença religiosa, de acesso à justiça e da integridade física. e-Tec Brasil/CEMF/UnimontesRelações Interpessoais e Ética Profissional 41 A segunda geração é a dos direitos sociais, marcada pela luta dos trabalhadores, já no séc. XIX. Diz respeito aos direitos de caráter social liga- dos, ou não, ao mundo do trabalho: o direito à educação, à saúde, à habita- ção, ao salário, à seguridade social, às férias, à previdência, dentre outros. E a terceira geração refere-se aos direitos coletivos da humanidade: paz, meio-ambiente, desenvolvimento, partilha do patrimônio científico, cul- tural e tecnológico, defesa ecológica, autodeterminação dos povos. Figura 16: Direitos Humanos, de Carina Perez. Fonte: Wikimedia Commons. Disponível em: <http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Direitos_ humanos.jpg>. Acesso em: 04.10.2010. Após a 2ª Guerra Mundial, os direitos humanos consolidam-se na De- claração Universal dos Direitos do Homem, aprovada pela Assembleia Geral das Nações Unidas – ONU -, no ano de 1948. Em seu âmbito, a prioridade foi dada aos direitos civis e políticos (direito a igualdade perante a lei, proteção contra torturas, liberdade de opi- nião, pensamento, religião, dentre outros) e, a partir daí, alguns dos direitos elementares, como, o direito à liberdade e ao tratamento igualitário que se sedimentaram nas Constituições de diversos países. O seu primeiro artigo já se afirma: Art. 1º: “Todos os Homens nascem livres e iguais em dignidade e direitos”. Nesse sentido, todo ser humano deve ter a sua dignidade respeitada e a sua integridade protegida, independentemente da origem, da raça, da etnia, da idade, do gênero, da condição econômica e social, do credo religio- so, da convicção política e da orientação sexual, conforme anunciado no Art. 2º da Declaração Universal dos Direitos do Homem. Entretanto, com já vimos, é preciso que todos os cidadãos se mo- bilizem para manter os direitos conquistados e ampliá-los quando for ne- Aqui você pode ler detalhadamente a Declaração Universal dos Direitos do Homem: http://portal.mj.gov.br/ sedh/ct/legis_intern/ ddh_bib_inter_ universal.htm E, aqui, você poderá conhecer melhor a Organização das Nações Unidas – ONU -, que foi criada após a 2ª Guerra Mundial para manter a paz e a segurança no mundo. Acesse: http:// www.onu-brasil.org.br/ index.php e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes Gerência em Saúde42 cessário, porque ainda constatamos, na prática, desrespeito aos mesmos, a exemplo do que acontece em épocas de Ditadura. Somente com a nossa atenção e com a cobrança é que as auto- ridades públicas, responsáveis pela efetivação dos direitos, continuarão se comprometendo a respeitá-los e a garanti-los. Você concorda com o que foi dito? É nosso dever cobrar dos gover- nantes a garantia dos direitos do cidadão? Justifique a sua resposta. ___________________________________________________________ ___________________________________________________________ ___________________________________________________________ ___________________________________________________________ Cobrar dos governantes o dever de zelar por uma sociedade justa é um poder legitimo do povo, de todos nós, em sociedades democráticas. Observamos que, na história, a ampliação dos direitos humanos, em suas dimen- sões políticas, sociais e econômicas, tem ocorrido a partir dessa atenção dada à questão, por meio de questionamentos e reivindicações feitos por muitos. Até os direitos sociais são conquistas do século XX. Consistem em garantir as condições mínimas para que os cidadãos possam gozar plenamen- te de seus direitos civis e políticos. Adota-se, como princípio norteador, o argumento de que as desigualdades econômicas e sociais não podem gerar outras desigualdades no âmbito desses direitos civis e políticos. Ou seja, a desigualdade econômica e social não pode impedir o pleno exercício da cidadania para ninguém! Então, as pessoas que moram na favela ou que possuem baixa renda devem ter acesso à educação e à saúde, entre outros direitos, como todos os demais cidadãos. A Constituição Federal, no Art. 6º, anuncia: “São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a seguran- ça, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição.” No Brasil, o reconhecimento dos direitos sociais também é resulta- do de lutas estabelecidas.
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