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Filosofia do Direito UNIDADE I: INTRODUÇÃO À FILOSOFIA DO DIREITO Profª. Bianca Monteiro de Castro Introdução à Filosofia do Direito 2 SUMÁRIO 1. O QUE É FILOSOFIA? ............................................................................ 3 1.1. A FILOSOFIA ........................................................................................ 3 1.2. FILOSOFAR É POSSÍVEL? .................................................................. 4 1.3. QUAL O CAMINHO? ............................................................................. 5 1.4. ÁREAS DA FILOSOFIA ........................................................................ 6 1.5. SINTETIZANDO .................................................................................... 7 1.6. PARA REFLETIR .................................................................................. 7 1.7. QUESTÕES .......................................................................................... 8 2. A FILOSOFIA DO DIREITO ..................................................................... 9 2.1. A FILOSOFIA JURÍDICA ....................................................................... 9 2.2. FILOSOFIA E DIREITO ....................................................................... 10 2.3. QUAL O CAMINHO? ........................................................................... 10 2.4. FILOSOFIA, DIREITO E CIÊNCIA ...................................................... 11 2.5. SINTETIZANDO .................................................................................. 12 2.6. PARA REFLETIR ................................................................................ 12 2.7. QUESTÕES ........................................................................................ 13 3. DIREITO – UM PENSAR FILOSÓFICO ................................................. 14 3.1. DIREITO .............................................................................................. 14 3.2. FINALIDADES DO DIREITO ............................................................... 15 3.3. CLASSIFICAÇÕES DO DIREITO ....................................................... 15 3.4. ATRIBUTOS DO DIREITO .................................................................. 17 3.5. SINTETIZANDO .................................................................................. 17 3.6. PARA REFLETIR ................................................................................ 18 3.7. QUESTÕES ........................................................................................ 18 4. JUSTIÇA – UM PENSAR FILOSÓFICO ................................................ 20 4.1. JUSTIÇA ............................................................................................. 20 4.2. ESPÉCIES DE JUSTIÇA .................................................................... 22 4.3. O DIREITO É JUSTO? ........................................................................ 23 4.4. SINTETIZANDO .................................................................................. 23 4.5. PARA REFLETIR ................................................................................ 24 4.6. QUESTÕES ........................................................................................ 24 REFERÊNCIAS ................................................................................................ 25 Introdução à Filosofia do Direito 3 UNIDADE I: INTRODUÇÃO À FILOSOFIA DO DIREITO 1. O QUE É FILOSOFIA? Antes de adentrarmos no conteúdo específico de Filosofia do Direito, é importante compreendermos sobre a própria Filosofia, para que possamos então tratar de assuntos relacionados à temas especificamente jurídicos. Nesse sentido, podemos questionar: o que é a Filosofia? Objetivos ● Compreender o significa Filosofia. ● Identificar o papel da Filosofia na formação das formas de pensar. ● Verificar como a Filosofia é capaz de desenvolver a criticidade social. 1.1. A FILOSOFIA A Filosofia, um dos pilares da cultura ocidental, surgiu no século VI a.C. como fruto da cultura grega. De acordo com sua etimologia, ou seja, com a origem de sua denominação, a palavra “filosofia” decorre da soma de duas palavras gregas: philos e sophia (RACHID, 2014). Assim, podemos entender que, de acordo com sua origem, a Filosofia significa “amor ou amizade pela sabedoria” ou ainda “a busca pela sabedoria”. Ou seja, o papel da Filosofia está relacionado ao comprometimento com o pensar e com o conhecimento. Segundo André Comte-Sponville, a Filosofia é uma prática discursiva razoável e teórica/ conceitual, podendo inclusive, ser considerada como uma Philos (Amizade/ Amor) Filosofia Sophia (Saber/ Sabedoria) Introdução à Filosofia do Direito 4 prática teórica “não científica”. Isso porque a Filosofia não constitui uma ciência ou conhecimento, mas proporciona reflexões sobre as ciências e saberes existentes. 1.2. FILOSOFAR É POSSÍVEL? Segundo Kant, não é possível aprender Filosofia, mas aprender a filosofar. Assim, o ato de filosofar acontece quando o indivíduo começa a questionar seu próprio pensamento, o pensamento dos outros, mundo, a sociedade, o que a experiência nos ensina e também o que ela nos deixa ignorar. Assim, parece evidente que, filosofar é um ato individual, considerando que, cada indivíduo terá suas próprias indagações e percepções sobre as abstrações realizadas. Por isso, apesar de contar com filósofos profissionais e professores, a Filosofia se constitui como uma dimensão humana, tendo em vista que cada indivíduo dotado de vida e razão poderá articular essas duas faculdades. De acordo com Comte-Sponville: A necessidade de refletir sobre o conhecimento, sobre a vida, o futuro e tantas outras coisas, faz com que tudo à nossa volta seja objeto de investigação. Para a Filosofia, tudo deve ser questionado, pois é justamente esse momento que torna possível um conhecimento aprofundado sobre determinada coisa. Interessante observar que “mesmo diante de crenças e valores, a filosofia não admite pontos que não possam ser investigados, “É claro que podemos raciocinar sem filosofar (por exemplo, nas ciências), viver sem filosofar (por exemplo, na tolice ou na paixão). Mas não podemos, sem filosofar, pensar nossa vida e viver nosso pensamento: já que isso é a própria filosofia.” Introdução à Filosofia do Direito 5 sujeitando todas as coisas a uma análise crítica, racional e argumentativa” (RACHID, 2014, p.22). Assim, a Filosofia questiona e investiga a arte, a religião, a política, a ética, a moral, o Direito e tudo aquilo que em contato com o ser humano, pode fazê-lo refletir e então, filosofar. 1.3. QUAL O CAMINHO? Muitos são os caminhos da Filosofia. Almejando o conhecimento universal e tentando compreender os fundamentos dos seus objetos de estudo, ela se debruça sobre os estudos de elementos como valores, a Justiça, o Direito, a moral, a liberdade e muitos outros. Algumas características da Filosofia se destacam desde o seu surgimento, são elas: o conteúdo, o método e a finalidade: Nessa perspectiva, podemos entender que a Filosofia busca explicar a realidade por meio da razão para buscar o conhecimento. Fato é que não é fácil definir o que seja Filosofia, pois ela vem historicamente mostrando seu dinamismo. Ao acompanhar a realidade social, precisamos considerar que a atividade da Filosofia dependerá do contexto que CARACTERÍSTICAS DA FILOSOFIA CONTEÚDO Conteúdo MÉTODO Método FINALIDADE Finalidade A Filosofia busca a explicação de tudo, não se limitando apenas a uma parte da realidade. Utiliza-se da razão para suas explicações, substituindo a mitologia e a religião antes utilizadas. O objetivo da Filosofia, como o próprio nome denuncia, é a busca pelo conhecimento. Introdução à Filosofia do Direito 6 se apresenta, pois de acordo com a época em questão, ela buscará respostas para a realidade correspondente. De acordo com Rachid: Atualmente, a Filosofia busca o conhecimento dentro dos mais diferentes ramos, proporcionando aos profissionais de diversas áreas uma reflexão e uma perspectiva mais ampla da prática profissional que desenvolvem. A filosofia é acessível a toda sociedade, não é necessário ser filósofo para ter acesso à ela, basta que o indivíduo tenha capacidade de abstração, uma vez que a filosofia é formada por raciocínio e discursos, expressando-se através de palavras que designam ideias gerais, noções e conceitos. 1.4. ÁREAS DA FILOSOFIA A Filosofia se divide em várias áreas de estudo que se traduzem em: epistemologia, metafísica, ética e lógica: A epistemologia é a ciência do conhecimento e busca compreender elementos como a natureza, a validade, a estrutura, a origem, os métodos e os limites do objeto de estudo. A metafísica é responsável por estudar os fundamentos da realidade. Divide-se em ontologia (que estuda o ser em seus aspectos gerais e abstratos) e cosmologia (que estuda o universo e o cosmos, como por exemplo, a existência de Deus e do mundo). Verifica-se que inicialmente foi associada à perseguição da verdade através da razão, afastando-se de explicações mitológicas. Em um segundo momento, fortemente influenciada pelo cristianismo, refletiu na busca da salvação com o domínio de questões relacionadas à fé religiosa e, posteriormente, novamente moldada, se verificou como uma forma de viver e como um comportamento a ser adotado pelos homens perante o universo (RACHID, 2014, p.22). Introdução à Filosofia do Direito 7 A ética se dedica ao estudo dos valores morais e o comportamento dos indivíduos por meio da razão, almejando a melhor forma de convivência entre as pessoas. A lógica busca garantir a validade da argumentação por meio do estudo e organização dos argumentos que decorrem do raciocínio. 1.5. SINTETIZANDO A Filosofia utiliza a razão como método para seus estudos. Por meio da razão, as investigações e reflexões filosóficas, a Filosofia busca afastar o conhecimento das crenças, considerando que as crenças são subjetivas e discutíveis e que o conhecimento busca uma verdade justificada racionalmente. Assim, apesar de nem todas as crenças serem falsas, a filosofia busca o conhecimento aprofundado, dedicando-se à busca pela verdade. 1.6. PARA REFLETIR A Filosofia proporciona o questionamento de verdades inquestionáveis, que são válidas universalmente para uma organização sistematizada unificadamente pelo homem racional. Quando a capacidade de pensar, argumentar e questionar é perdida, o indivíduo se vê atrofiado mentalmente. A Filosofia constitui-se em um saber crítico, não podendo o filósofo satisfazer-se com respostas prontas, por ser questionador, crítico. Assim, o Áreas de Estudo da Filosofia Cosmologia Ontologia Ética Epistemologia Metafísica Lógica Introdução à Filosofia do Direito 8 pensar filosófico faz com que o indivíduo saia do estado de paralisia e aceitação, afinal “numa sociedade em que as respostas estão todas prontas, onde as normas são aceitas sem discussão, a tendência é estagnar”. 1.7. QUESTÕES Para testar sua compreensão sobre o conteúdo dessa aula, pense: A Filosofia tem um único significado? Como podemos explicá-la? Qual o papel da Filosofia na formação das formas de pensar? Existem verdades inquestionáveis na perspectiva filosófica? Como a Filosofia é capaz de desenvolver a criticidade social? Quais as principais características e áreas de estudo da Filosofia? Indicação de Leitura Complementar Para saber mais sobre o tema, você pode ler as páginas 1 a 9 do Livro “Filosofia do Direito” de Alysson Leandro Mascaro, disponível em Minha Biblioteca. Introdução à Filosofia do Direito 9 2. A FILOSOFIA DO DIREITO Agora, precisamos diferenciar a Filosofia e a Filosofia do Direito. Compreendemos que a Filosofia consiste em uma sistematização e enfrentamento do pensamento, do mundo e da nossa realidade. E o Direito? Pensar o direito corresponde a realizar reflexões sobre a sociedade, a história, o justo e a Justiça. Objetivos ● Compreender a identidade da Filosofia Jurídica. ● Identificar a relação entre Filosofia e Direito. ● Verificar como a Filosofia pode ser aplicada no cotidiano jurídico. 2.1. A FILOSOFIA JURÍDICA A Filosofia do Direito, conforme sua denominação anuncia, se refere à aplicação da Filosofia ao campo jurídico, observando as tendências e conhecimentos historicamente acumulados. Como vimos anteriormente, a Filosofia se dedica ao estudo aprofundado de determinado objeto e, no caso da Filosofia Jurídica, o Direito é o objeto de estudo da Filosofia e, por este fato, busca compreender os fundamentos do Direito, considerando as diferentes realidades existentes e o dinamismo social no meio em que se insere. Assim, segundo Rachid, a Filosofia do Direito analisa o comportamento e as atividades dos operadores do Direito, visando diagnosticar como ele é e como deveria ser, auxiliando nos posicionamentos, formas de pensar e agir no âmbito jurídico. Nessa perspectiva, “a Filosofia do Direito possui como característica a função de a função de procurar adequar o direito à realidade jurídica, buscando, sempre, a solução mais justa ao caso concreto” (RACHID, 2014, p.24). Introdução à Filosofia do Direito 10 2.2. FILOSOFIA E DIREITO A filosofia do Direito indaga a da legitimidade e a aplicação das normas jurídicas. Por isso, a especificidade da disciplina permeia as noções do que se possa considerar por direito. Para alguns, o fenômeno jurídico se circunscreve às normas estatais. Para outros, as apreciações sobre o justo também entram na composição do direito. Assim, a filosofia do direito não se limita à responder o que é Direito, se estendendo para além da compreensão média do operador do direito sobre si próprio e sua atividade. Dessa forma, a filosofia do direito pretende desvendar as relações entre o direito e a política, o direito e a moral, o direito e o capitalismo, e as demais relações que possam escapar à visão do jurista. 2.3. QUAL O CAMINHO? A partir dos estudos filosóficos aplicados ao Direito, o jurista consegue refletir e operar os mecanismos sociais existentes. O corpo jurídico bem como o conjunto de leis e códigos é de conhecimento de todos que trabalham no campo do Direito. No entanto, cada DIREITO Política Moral Capitalismo Introdução à Filosofia do Direito 11 vez mais, busca-se o profissional que vai além, ou seja, não apenas conhece as leis e decora modelos de petições, mas é capaz de desenvolver uma capacidade reflexiva e crítica sobre sua prática profissional. Assim, a Filosofia do Direito compreende que a liberdade e a justiça são inerentes à todos os indivíduos e que o profissional do Direito deve se conscientizar da sua capacidade de aplicar seu conhecimento para a concretização desse fim. 2.4. FILOSOFIA, DIREITO E CIÊNCIA Cientes de que o Direito é uma ciência social, podemos nos questionar se, enquanto ciência, ele pode se relacionar com o pensamento filosófico. De acordo com Magri: A Filosofia proporciona a investigação aprofundada, portanto, o profissional do Direito deve manter-se atento ao constante questionamento de sua prática, sendo capaz de compreender também as demais realidades existentes na sociedade. O direito não se revela apenas em seu aspecto interno, ou seja, apenas na aplicação das normas técnicas do corpo jurídico. Ele se manifesta O conhecimento científico e o filosófico devem coexistir, uma vez que o operador do Direito deve saber tanto como se dá a aplicação da norma jurídica ao caso concreto quanto também como se sustenta o ordenamento jurídico a fim de que o Direito atinja seus fins. Assim, se você estivesse na fila do caixa ouvindo aqueles dizeres daquele senhor que reclamava do sistema jurídico, deveria estar apto a lhe dar a explicação jurídica, mas também compreender filosoficamente a causa de seu equívoco de pensamento e, ao mesmo tempo, constatar que o atual sistema jurídico, de fato, não confere a sensação de justiça que os jurisdicionados esperam dele (MAGRI, 2014, p. 50) Introdução à Filosofia do Direito 12 socialmente, de modo histórico, a partir de determinadas estruturas e relações sociais. Por isso, a filosofia do direito deve refletir sobre questões relacionadas a economia, ao capitalismo, política, cultura, religiões e as classes sociais. Assim, podemos entender que a filosofia do Direito se refere a expressão máxima do próprio direito enquanto verdade social. 2.5. SINTETIZANDO Vamos entender um pouco mais sobre a essência do Direito se pensarmos que a Filosofia do Direito se ocupa das relações sociais que são constituintes e constituídas pelo direito, e isso envolve também o campo da apreciação do Direito enquanto manifestação do justo e do injusto na sociedade. Nesse sentido, precisamos compreender que a Filosofia do Direito tomada no seu sentido mais amplo, almeja a busca pela verdade, ocupando-se da relação do fenômeno jurídico com a totalidade da sociedade, e não somente com a totalidade interna das técnicas jurídicas. Ou seja, acima de tudo, sendo uma provocação ao direito e ao mundo, a Filosofia do Direito aponta as razões estruturais e o caráter injusto ou justo do direito e do próprio mundo. Ou seja, além de apenas aplicar a norma jurídica, busca compreender como essa norma refletirá no contexto social, os efeitos e impactos que poderá gerar socialmente. 2.6. PARA REFLETIR A Filosofia, por meio de sua reflexão, pretende proporcionar ao operador do Direito a capacidade crítica necessária para transformar o Direito em Justiça. Nesse sentido, ao afirmar que “a Filosofia do Direito é verdade jurídica maior que o próprio Direito”, Mascaro evidencia o caráter dinâmico das normas jurídicas, visto que estas não são inquestionáveis e/ou imutáveis. No entanto, para que as mudanças aconteçam, é necessário pensar no que existe, para que seja identificado um ideal ou meta e, então seja estabelecida a transformação. Introdução à Filosofia do Direito 13 2.7. QUESTÕES Para testar sua compreensão sobre o conteúdo dessa aula, pense: ● Em que consiste a Filosofia Jurídica? ● Quais as relações entre Filosofia e Direito? ● Como a Filosofia pode ser aplicada no cotidiano jurídico? ● Qual a importância da Filosofia para o operador do Direito? Qual perfil se espera desse profissional? Indicação de Leitura Complementar Para saber mais sobre o tema, você pode ler as páginas 10 a 17 do Livro “Filosofia do Direito” de Alysson Leandro Mascaro, disponível em Minha Biblioteca. Introdução à Filosofia do Direito 14 3. DIREITO – UM PENSAR FILOSÓFICO Nesse momento, depois de perpassar por estudos de Filosofia e suas contribuições para o campo jurídico, é chegada a hora de pensar o direito e suas estruturas! O Direito se acha intimamente ligado à Filosofia. Atuando sobre os indivíduos ao nortear a conduta social, o Direito ocupa-se de questões polêmicas, que exigem reflexão e acabam gerando juízos de valor. Não há como se elaborar o Direito ou aplicá-lo sem filosofia. O espírito do jurista há de estar receptivo à lei, mas ao mesmo tempo sensível à teleologia do Direito, e o fim deste é sempre o bem-estar dos homens em sociedade ou a organização do Estado. Lembrem-se, o pensamento jurídico não é só uma explicação profunda do direito, mas também o enfrentamento do direito e da sociedade. Mas, afinal... O que é o Direito? Ele é o mesmo em todos os tempos? Objetivos ● Refletir sobre os conceitos de Direito. ● Conhecer as classificações do Direito ● Analisar os atributos do Direito por um viés filosófico. 3.1. DIREITO Segundo Mascaro, “o direito não é o mesmo em todos os tempos históricos”. Ou seja, no decorrer do tempo diversas formas de pensamento sobre o Direito e o justo se manifestam e, de acordo com cada época, a concepção sobre tais institutos era correspondente à sociedade vigente. Nesse sentido, vale lembrar que o Direito surgiu em decorrência da necessidade de regular a convivência social. A necessidade de viver em sociedade fez com que os seres humanos, mesmo com valores, costumes, hábitos, comportamentos e pensamentos diferentes, tentassem estabelecer padrões para a convivência. Introdução à Filosofia do Direito 15 Esses padrões se referem às regras jurídicas estabelecidas para que a coesão social se mantenha. Segundo Nader, “ao criar modelos de comportamento social, à luz dos valores de conservação e desenvolvimento do homem, o Direito torna possível a convivência e participa, por sua importância e como área definida do saber, na ordem geral das coisas”. Com a evolução da sociedade, o pensamento jurídico, social e político sofre alterações e influencia o entendimento acerca do Direito. Por isso, é preciso pensar que, se a sociedade está em constante evolução, o Direito, enquanto mecanismo de regulação, também está. Por tal motivo, o termo “Direito” possui diversas interpretações. Ao menos do plano ideal, o objetivo principal do Direito pode ser entendido como a busca pela concretização da Justiça e do bem comum, o que nos faz perceber que o estudo filosófico do Direito compreende em observá-lo como um sistema vivo, que acompanha a transformação das civilizações (RACHID, 2014). 3.2. FINALIDADES DO DIREITO 3.3. CLASSIFICAÇÕES DO DIREITO O Direito é classificado pela Filosofia do Direito de diversas formas: Direito Objetivo e Direito Subjetivo, Direito Natural e Direito Positivo e, Direito Finalidades do Direito Solucionar conflitos Regular a vida social Introdução à Filosofia do Direito 16 Direito Objetivo: Refere-se à norma ou ao conjunto de normas impostas pelo Estado que compõem o ordenamento jurídico Direito Subjetivo: Trata-se das faculdades jurídicas do indivíduo, ou seja, a possibilidade de usar as leis para reconhecer um Direito. Direito Natural: Sistema de normas de condutas intersubjetivas que buscam uma compreensão universal para o fenômeno jurídico. Direito Positivo: É o Direito posto, escrito, elaborado pelo homem e que compõe um sistema de normas de conduta fixado pelo Estado. Direito Estatal: Refere-se às normas editadas pelo Estado que vinculam a sociedade e compõe o ordenamento jurídico. Direito não Estatal: Considera que as normas criadas para os particulares também fazem parte do ordenamento jurídico. Estatal e Direito não Estatal. Vejamos a seguir, de forma esquematizada, o que essas classificações significam: Direito Objetivo x Direito Subjetivo Classificações do Direito Direito Estatal x Direito Não Estatal Direito Natural x Direito Positivo Introdução à Filosofia do Direito 17 3.4. ATRIBUTOS DO DIREITO 3.5. SINTETIZANDO Para compreendermos o Direito e sua aplicação de forma mais clara, devemos estudar a Filosofia do Direito considerando os aspectos e variações históricas, culturais, políticas, sociais, entre outras, que sejam capazes de contribuir com nossa formação. Apesar de existirem diversas interpretações sobre o Direito, tais interpretações não devem ignorar a realidade social. Por tal motivo, Montalvão afirma que “posicionamentos estritamente legalistas são incompatíveis a complexidade do fenômeno jurídico”. Nesse sentido, é preciso desenvolver a capacidade de enfrentamento para que seja possível obter o melhor resultado na prática profissional. A Filosofia do Direito contribui com as formas de classificação do Direito: Direito Objetivo e Direito Subjetivo, Direito Natural e Direito Positivo e, Direito ATRIBUTOS DE VALIDEZ DO DIREITO VIGÊNCIA Vigência EFICÁCIA Eficácia EFETIVIDADE Efetividade Validade extrínseca na norma pelo preenchimento de formalidades essenciais à sua formação. Período de tempo no qual a norma se mantém obrigatória. Resultado social positivo alcançado pelas normas jurídicas. Lei eficaz é a que provoca as consequências sociais almejadas em sua elaboração. Fenômeno social de obediência às normas jurídicas. Norma que logra extensa adesão entre os seus destinatários e acatamento pelos órgãos encarregados. LEGITIMIDADE Legitimidade Justificação ética das normas. Introdução à Filosofia do Direito 18 Estatal e Direito não Estatal. E, por fim, denominamos genericamente os vários atributos do Direito: vigência, eficácia, efetividade, legitimidade. 3.6. PARA REFLETIR “Nos Estados democráticos, o Direito se apresenta como instrumento da justiça e visa a proporcionar o bem-estar dos indivíduos, a inserção social, o progresso coletivo. Nos Estados totalitários, constitui aparelho de dominação; meio de efetivação ou permanência da ideologia institucionalizada. Neles, em primeiro lugar, o Direito é posto na salvaguarda dos interesses do Estado e de seus dirigentes; preservada esta ordem de prioridades, tutela os valores privados desde que compatíveis com os públicos.” (PAULO NADER) Muitas pessoas consideram que Direito e Justiça são sinônimos. No entanto, isso consiste em um equívoco. O Direito é um mecanismo para a obtenção da Justiça, mas nem sempre o Direito é justo. Como fenômeno complexo que admite diversas possibilidades de definição, segundo Ferraz Jr., o Direito “de um lado, protege-nos do poder arbitrário, exercido à margem de toda regulamentação” e, de outro, “é um instrumento manipulável que frustra as aspirações dos menos privilegiados e permite o uso de técnicas de controle e dominação que, por sua complexidade, é acessível apenas a uns poucos especialistas”. Nesse sentido, a Filosofia proporciona o questionamento do Direito, fazendo com que o jurista tenha a possibilidade de transformá-lo. 3.7. QUESTÕES Para testar sua compreensão sobre o conteúdo dessa aula, pense: ● O Direito tem um único significado? Como você o explicaria? ● O Direito é imutável? Explique. Introdução à Filosofia do Direito 19 ● Quais as classificações do Direito, de acordo com a Filosofia Jurídica? ● Explique o que são os atributos de validez do Direito. Indicação de Leitura Complementar Para saber mais sobre o tema, você pode ler as páginas 10 a 17 do Livro “Filosofia do Direito” de Alysson Leandro Mascaro, disponível em Minha Biblioteca. Introdução à Filosofia do Direito 20 4. JUSTIÇA – UM PENSAR FILOSÓFICO Nesse momento, depois de perpassar por estudos de Filosofia e suas contribuições para o campo jurídico, é chegada a hora de pensar o direito e suas estruturas, no sentido de pensar e refletir sobre o injusto, o justo e a Justiça a partir da Filosofia do Direito. A nossa compreensão acerca do significado de Justiça está intimamente ligado à nossa capacidade de analisar e compreender a realidade social. Nesse sentido, é possível que você esteja se perguntando: O que é a Justiça? O Direito é justo? Objetivos ● Refletir sobre os conceitos de Justiça. ● Analisar o justo e a Justiça na perspectiva do Direito. ● Perceber como as estruturas de Justiça e injustiça se apresentam socialmente. ● Relacionar lei e Justiça, bem como Direito e Justiça. 4.1. JUSTIÇA Assim como o Direito, a definição de Justiça também pode variar. Isso porque, de acordo com cada contexto (tempo, sociedade, cultura, etc.) ela será entendida de uma forma. No entanto, a noção de Justiça refere-se à valores ou princípios sociais superiores como a equidade, o respeito e a verdade. A Filosofia vislumbra a Justiça como uma virtude ou uma qualidade subjetiva do indivíduo. Além disso, sob o ponto de vista aristotélico, pretende dar a cada um aquilo que é seu. Sandel nos faz a seguinte provocação: “Uma sociedade justa procura promover a virtude de seus cidadãos? Ou a lei deveria ser neutra quanto às concepções concernentes à virtude, deixando os cidadãos livres para escolher, por conta própria, a melhor forma de viver? Introdução à Filosofia do Direito 21 Segundo uma ideia comumente aceita, essa questão divide o pensamento político em antigo e moderno. Em um sentido importante, essa ideia está correta. Aristóteles ensina que a justiça significa dar às pessoas o que elas merecem. E para determinar quem merece o quê, devemos estabelecer quais virtudes são dignas de honra e recompensa. Aristóteles sustenta que não podemos imaginar o que é uma Constituição justa sem antes refletir sobre a forma de vida mais desejável. Para ele, a lei não pode ser neutra no que tange à qualidade de vida. Em contrapartida, filósofos políticos modernos - de Immanuel Kant, no século XVlll, a John Rawls, no século XX - afirmam que os princípios de justiça que definem nossos direitos não devem basear-se em nenhuma concepção particular de virtude ou da melhor forma de vida. Ao contrário, uma sociedade justa respeita a liberdade de cada indivíduo para escolher a própria concepção do que seja uma vida boa.” Nessa perspectiva, temos que considerar que, devido à amplitude do tema e suas diversas acepções, não podemos conceituar o termo Justiça de uma única forma. No entanto, partindo do sentido Filosófico, podemos afirmar que a Justiça corresponde a um conceito fundamental da vida jurídica, política, social e religiosa, surgindo como uma das quatro virtudes cardinais: prudência, justiça, coragem e temperança. Radbruch, propõe que a Justiça divide-se em três aspectos: IGUALDADE (Justiça Formal) ADEQUAÇÃO (Justiça material) SEGURANÇA JURÍDICA (Paz jurídica) Todos são iguais perante a lei. A lei determina quem são os iguais e os desiguais. O conteúdo da justiça é o que melhor se adequar ao caso concreto. Não pode ser cientificamente estabelecido Igualdade como justiça em sentido estrito Adequação como justiça social Segurança jurídica Observa-se a forma da justiça. Observa-se o conteúdo da justiça. Observa-se a função da justiça. Introdução à Filosofia do Direito 22 4.2. ESPÉCIES DE JUSTIÇA Historicamente, a Justiça foi entendida de formas diferentes: ESPÉCIES DE JUSTIÇA CARACTERÍSTICAS Justiça Divina (Aurélio Agostinho) Perfeita, justa e imutável Aplica-se a todos O homem conhece por revelações Justiça Humana (Aurélio Agostinho) Resulta do homem Falível Passível de alterações Justiça Legal/ Geral/ Social (São Tomás de Aquino) Possui o bem comum como objeto As partes dão a comunidade o que lhe é devido Justiça Comutativa (São Tomás de Aquino) Trata das relações particulares Um sujeito (particular) dá a outro (particular) o que lhe é devido Justiça Distributiva (São Tomás de Aquino) (Aristóteles) Distribui/ confere a cada um aquilo que lhe é devido por sua participação na sociedade Hipótese em que se distribui honra ou riqueza Observa o princípio da atribuição em função do mérito Pode-se dar de forma desigual na comunidade, conforme o mérito do indivíduo A sociedade confere ao particular Diz respeito aos bens públicos Justiça Retificadora/ Vindicativa/ Corretiva (Aristóteles) Possui papel coercitivo Impõe punição ao ofensor Trata do justo nas relações particulares Conforme as relações privadas, se dividem em: voluntárias e involuntárias Justiça Objetiva Interpretação da norma por que aquele que detém competência perante a sociedade Justiça Subjetiva Justiça pessoal do indivíduo associada aos seus sentimentos Fonte: Adaptado de Rachid, 2014. Introdução à Filosofia do Direito 23 4.3. O DIREITO É JUSTO? Não raro, os operadores do Direito estão tão imersos na sua realidade profissional, na resolução de seus casos concretos, ocupados com seus afazeres, que acabam se distanciando da das reflexões sobre as concepções da Justiça e do Justo. Nesse sentido, precisamos compreender que, o justo é uma espécie de sombra do próprio Direito, porque mesmo que não se concretize, uma das funções do Direito não está ligada à aplicação das normas jurídicas visando a obtenção da Justiça? É aqui que a Filosofia do Direito mostra grandes contribuições, tendo em vista que, proporciona intensas reflexões sobre o que seria justo. Por esse motivo, devemos nos preocupar também com a relação estrutural do direito com o todo histórico e social e a preocupação com as apreciações do justo e do injusto, no sentido de ampliar nossos horizontes, refletindo sobre as injustiças existentes a nossa volta. 4.4. SINTETIZANDO Em geral, na história do pensamento jurídico, o justo foi sempre tomado como uma preocupação legitimadora e conservadora. Nos tempos medievais e modernos, o justo era a manutenção do já dado, não importando qual fosse esse dado, porque, para os medievais, a Justiça estava entrelaçada aos ideais religiosos que visava a manutenção da ordem existente. Deus o queria, e, para os modernos, a ordem exigia a conservação do já existente. Mas, a reflexão sobre a verdade na esfera do direito exige uma postulação crítica sobre a Justiça, afinal, o justo acaba revelando as estruturas do injusto nas sociedades existentes. Nesse sentido, o filósofo do Direito deve estar ciente que a exploração capitalista, a distribuição desigual das riquezas, a indignidade, a tortura e a perseguição são exemplos daquilo que pode passar até hoje por direito, mas que se relacionam à estruturas de injustiça e devem ser rejeitadas. Introdução à Filosofia do Direito 24 4.5. PARA REFLETIR 4.6. QUESTÕES Para testar sua compreensão sobre o conteúdo dessa aula, pense: ● Como podemos compreender o conceito de Justiça? ● Qual o papel do operador do Direito frente ao justo e a Justiça? ● O que são estruturas de Justiça e injustiça e como se apresentam socialmente? ● Relacione lei e Justiça, bem como Direito e Justiça. ● Quais são as espécies de Justiça e quais as suas principais características? ● Explique a seguinte afirmação: “Ocupar-se do justo, portanto, é uma espécie de tensão máxima à qual há de se conduzir a filosofia do direito” (MASCARO, 2018). Indicação de Leitura Obrigatória “Até que ponto as pessoas estão livres em vez de coagidas?” MICHAEL SANDEL Introdução à Filosofia do Direito 25 Para saber mais sobre o tema, você deve ler as páginas 95 a 102 do Livro “Filosofia do Direito” de Paulo Nader, disponível em Minha Biblioteca. REFERÊNCIAS COMTE-SPONVILLE, André. Apresentação da filosofia. São Paulo. Martins Fontes, 2002. p.11-16. MASCARO. Filosofia do Direito. São Paulo, Atlas, 2018. MONTALVÃO, Bernardo. Manual de Filosofia e Teoria do Direito. Bahia. Juspodivm, 2018. NADER, Paulo. Filosofia do Direito. São Paulo. Gen, 2018. RACHID, Alyson. Filosofia do Direito. São Paulo. Revista dos Tribunais, 2014. SANDEL, Michael J. Justiça – o que é fazer a coisa certa. 26ª Edição, Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2019.
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