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Manuella Soussa Braga ORC I - 6º período - 2019/2 ADESÃO EM ODONTOLOGIA Os adesivos são substâncias capazes de unir o material restaurador à estrutura dentária, sendo que a adesão em esmalte sempre obteve maior sucesso que a adesão em dentina. União em esmalte O esmalte é formado basicamente por 96% de minerais, organizados em prismas e 4% de água, que por sua vez, não oferece dificuldade ao processo de adesão. A desmineralização e a desorganização desses prismas de esmalte pelo condicionamento ácido propicia a adesão por meio do embricamento mecânico (o ácido cria uma descalcificação seletiva, formando poros que, na superfície do esmalte aumenta o embricamento mecânico pela penetração da resina formando “tags” que permitem a adesão). ➤ Concentração do ácido: concentrações entre 30% e 40% promovem uma superfície de aparência mais retentiva. É indicado o ácido fosfórico 37% para superfícies dentais. Soluções mais concentradas dissolvem menos cálcio e resultam em menores profundidades de condicionamento. ➤ Tempo de condicionamento: a redução do tempo de condicionamento reduz em menor resistência de adesão. O condicionamento ácido por 15 a 60 segundos em relação a rugosidade superficial é igual, ou seja, não faz diferença ficar 15 até 60 segundos. A resistência de adesão e a microinfiltração são similares também nesse tempo. O ideal é aplicar em esmalte, imediatamente aplicar na dentina e contar 15 segundos para lavar. ➤ Benefícios do condicionamento do esmalte: a resistência de adesão de resinas compostas ao esmalte ácido condicionado está em torno de 20 MPa, sendo que este valor é o suficiente para obter sucesso clínico (não se solta com facilidade) e o condicionamento ácido reduz a infiltração nas margens das restaurações em esmalte. ➤ Fatores que dificultam o condicionamento ácido: uso frequente de flúor (esmalte mais mineralizado: aumentar tempo de condicionamento), esmalte de pacientes idosos (mais calcificado), esmalte aprismático (cervical, cúspides e decíduos), presença de umidade (dilui o ácido) e presença de biofilme (condicionamento falho). Como age o condicionamento ácido? Remove a camada superficial de esmalte (10 μm - deixando-a mais porosa), dissolve a parte inorgânica dos prismas de esmalte parcialmente, cria microporosidades ( retenção de 5 a 50 μm), aumenta a energia livre superficial e o molhamento superficial, diminuindo o ângulo de contato. Protocolo clínico do condicionamento ácido em esmalte (1) profilaxia do dente e isolamento do campo operatório (2) aplicação do ácido fosfórico por 15 a 30 segundos (3) lavagem por 30 segundos (4) secagem com ar (não tem problema desidratar) (5) verificação visual (aspecto esbranquiçado/opaco) (6) aplicação do adesivo (7) fotopolimerização ou autopolimerização Manuella Soussa Braga ORC I - 6º período - 2019/2 União em dentina A união em dentina é realizada por retenção micromecânica entre o sistema adesivo e as fibras colágenas da dentina desmineralizadas ( a adesão ocorre nas fibrilas colágenas - dentina intertubular, não no túbulo dentinário, apesar do adesivo penetrar no túbulo ). A camada híbrida é uma estrutura mista, formada por fibrilas colágenas expostas após o condicionamento envolvidas por monômeros resinosos. A dentina é um tecido altamente dinâmico, composta por 70% de substâncias inorgânicas (hidroxiapatita), 20% de substância orgânica (colágeno) e 10% água. As entidades estruturais básicas da dentina são: prolongamentos odontoblásticos e a dentina intratubular dentro dos túbulos dentinários, dentina peritubular ao redor dos túbulos e dentina intertubular, entre os túbulos. É na dentina intertubular que ocorre a adesão. Mais superficialmente, tem-se uma menor quantidade de túbulos de menores diâmetros, ou seja, há mais dentina intertubular. A medida que se aproxima da polpa, mais profundamente, aumenta o número de túbulos de maiores diâmetros e, então, diminui a dentina intertubular. Apesar do alto grau de mineralização, metade do volume da dentina intertubular é composta por uma matriz orgânica representada por fibras colágenas envolvidas por substância amorfa. Devido a estas diferenças morfológicas e de composição, mecanismo de adesão à estrutura dentinária se torna mais complexo quando comparada ao do esmalte. Quanto mais túbulos, maior a umidade, menos dentina intertubular e então pior é a adesão. Nesse caso, quanto mais superficial, menor a adesão em dentina. - smear layer : é uma camada de esfregaço de tecidos dentários (esmalte, dentina), restos de materiais restauradores, restos bacterianos, colágeno desnaturado, fracamente aderidos a superfície dental. Quando há o condicionamento ácido em dentina, há a remoção da smear layer, o que expõe os túbulos dentinários e as fibras colágenas para adesão. Classificação dos adesivos Os adesivos, antigamente, eram classificados em gerações , porém essa classificação não é mais utilizada, pois leva a uma sensação errônea de evolução. A partir da quarta geração surgiram a partir das técnicas de condicionamento total do esmalte e dentina com ácido fosfórico e o uso de primers e adesivos em frascos diferentes. ➤ classificação atual: - quanto ao condicionamento ácido prévio - quanto à afinidade aos fluídos - quanto à forma de polimerização - quanto ao número de passos Classificação quanto ao condicionamento ácido prévio Os sistemas adesivos convencionais (all-etch) utilizam o condicionamento ácido prévio, removendo o smear layer. O condicionamento ácido em esmalte cria retenções que serão posteriormente preenchidas por adesivo, já em dentina, remove o smear layer, amplia e desobstrui a entrada dos túbulos dentinários, dissolve os cristais de hidroxiapatita da dentina intertubular e expõe o colágeno.Manuella Soussa Braga ORC I - 6º período - 2019/2 Nos adesivos autocondicionantes (self-etch) não existe uma etapa separada para o condicionamento ácido prévio e removem parcialmente o smear layer. No próprio adesivo tem um primer, acídico, que em contato com a dentina, a desmineralizada superficialmente. Não precisa de uma lavagem prévia. O condicionamento parcial ou autocondicionante faz a desmineralização por meio do primer acídico, mas ocorre a neutralização da sua ação desmineralizante alguns segundos após a sua aplicação devido a capacidade de tamponamento da estrutura mineralizada. Classificação quanto à afinidade aos fluídos Os hidrofílicos permitem o estabelecimento da união do sistema adesivo às fibras colágenas resultantes da dentina desmineralizada e úmida, permitindo a formação da camada híbrida. O grupamento hidrofílico está presente no primer. Os hidrofóbicos , ou simplesmente adesivos (bond), são de composição mais simples e podem ser usados separados em esmalte condicionado ou em conjunto com a porção hidrofílica (primer) sobre a dentina condicionada. Os hidrofílicos/hidrofóbicos exercem ambos os papéis, são os sistemas adesivos de frasco único para primer e bond. Classificação quanto ao número de passos condicionamento prévio convencional (all-etch) autocondicionante (self-etch) nº de passos 3 PASSOS ácido + primer (hidrofílico) + bond (hidrofóbico) 2 PASSOS ácido + primer/bond (solução hidrofílica/hidrofóbica) 2 PASSOS primer/componente acídico (hidrofílico) + bond (hidrofóbico) 1 PASSO primer/componente acídico (hidrofílico) + bond (hidrofóbico) Classificação quanto à polimerização Química (indicada para conduto radicular), f ísica (fotopolimerizante) e dual. OBSERVAÇÕES SOBRE APLICAÇÃO : Secar antes do condicionamento, condicionamento primeiro em esmalte vai pra dentina conta 15 segundos, lavar pelo dobro do tempo, secar com bolinha de algodão ou papel absorvente (não secar muito), aplicar o adesivo, esperar 20 segundos para agir, volatilizar a distância por 20 segundos e fotopolimerizar. Solventes Os solventes são encontrados na maioria dos adesivos, principalmente nos primers (como é hidrofílico, tem-se necessidade de penetrar primeiro na dentina úmida). Os principais solventes são: água, acetona e álcool. Além disso, respondem pela fluidez da solução e deslocamento da água presente na superfície dentinária desmineralizada, facilitando a penetração dos monômeros na estrutura desmineralizada. Após desempenharem sua função, os solventes devem ser evaporados. A presença do solvente remanescente dentro da camada adesiva polimerizada é deletéria, podendo causar: diluição dos monômeros dos sistemas adesivos, interferência na polimerização da camada adesiva, diminuição da resistência adesiva e do grau de conversão do monômero, Manuella Soussa Braga ORC I - 6º período - 2019/2 separação de fases dos componentes do sistema adesivo, aumento da permeabilidade na camada adesiva e favorecimento da degradação adesiva e do colágeno dentinário. A água em excesso e solventes como etanol e acetona devem ser removidos, mas com cuidado para não ressecar o substrato e, consequentemente, colabar as fibras colágenas, dificultanto a penetração do adesivo (overdry). A umidade em excesso pode alterar a composição, penetração e polimerização do adesivo. No entanto, se a dentina for demasiadamente desidratada, as fibras colágenas após colapsadas podem ser reexpandidas como a rehidratação, todavia, o excesso de água pode levar a sobreumidade (overwet) que também atrapalha na adesão. Os adesivos contendo água em sua composição precisam de mais tempo de evaporação: água > etanol > acetona. Nesse caso, sistemas adesivos com o solvente acetona possuem uma vida útil menor, pois este é mais volátil. Embora a taxa de evaporação entre os diversos solventes seja diferente, recomenda-se que sua evaporação deva ser realizada 30 segundos após sua aplicação. Um jato de ar suave é aplicado a uma distância mínima de 10 cm somente para que haja uma circulação de ar, favorecendo a evaporação. Jato de ar excessivo ou perto demais incorpora oxigênio e atrapalha a polimerização. Técnicas de aplicação conforme solventes Acetona Exige a aplicação de várias camadas (3 a 5) sem jato de ar entre as camadas. A remoção do excesso de solve deve ser realizada após a aplicação das camadas de forma cuidadosa, por pelo menos 20 segundos. Dispensar produto somente na hora de aplicar para não volatizar. Adesivos a base de acetona geralmente apresentam alta concentração de solvente e baixa concentração monomérica, assim, é importante aplicar várias camadas, até que esteja com aspecto brilhante após jato de ar. A aplicação deve ser feita passivamente sobre o substrato desmineralizado, que preferencialmente pode encontrar-se com a umidade mais aparente (aplicar de forma suave pois já volatiza muito). Etanol Basta uma aplicação (alta concentração de monômero e baixa concentração de solvente), tempo de aplicação mínima de 30 segundos, a aplicação deve ser passiva sobre o substrato desmineralizado, que preferencialmente pode encontrar-se com a umidade mais aparente (adere na água e volatiliza junto com ela). Água A aplicação deve ser com suave fricção sobre o substrato desmineralizado, que deve estar úmido mas sem excesso. A dentina tem que estar mais seca e atualmente tem-se preferência desse tipo de solvente. ADESÃO DENTINÁRIA Dificuldades do condicionamento ácido total ou convencional (all-etch) É necessário que a dentina esteja levemente úmida para a aplicação do sistema adesivo convencional, após o uso do condicionamento ácido prévio. A presença de solventes e água Manuella Soussa Braga ORC I - 6º período - 2019/2 residuais na camada híbrida acarretana redução da durabilidade de união, porosidades, polimerização inadequada, sensibilidade pós-operatória e degradação no meio bucal. A dentina deve ser mantida levemente úmida, uma vez que a água apresenta a capacidade de manter a rede de colágeno íntegra de forma a permitir a difusão dos monômeros. A excessiva desidratação leva ao colapso do colágeno e impede a entrada dos monômeros do sistema adesivo para formar a camada híbrida. A umidade excessiva leva a redução da efetividade da adesão (formação de water tree que degrada a camada híbrida e prejudica a adesão). No momento da aplicação do primer, a cavidade deve estar levemente umedecida. O excesso de água pode ser removido com bolinhas de papel absorvente compatíveis com o tamanho da cavidade ou com leves jatos de ar, tomando a precaução para não ressecar a dentina. Quando o primer é aplicado sobre a estrutura, o solvente desloca a água e auxilia na penetração do sistema adesivo em toda a área condicionada e umedecida. Após a sua aplicação, a presença do solvente não é mais necessária, visto que ele já auxiliou na penetração. Nesse momento deve-se aplicar um leve jato de ar para evaporá-lo. É importante salientar que o jato de ar não tem a função de deixar a camada de adesivo mais delgada, e sim de remover o solvente. Os sistemas convencionais continuam sendo o padrão ouro na adesão em esmalte e dentina. Dificuldades do condicionamento ácido nos autocondicionantes (self-etch) Não utilizam o condicionamento ácido em passo separado e condicionam o esmalte e dentina simultaneamente, infiltrando e dissolvendo parcialmente a smear layer e hidroxiapatita para criar a zona híbrida. O primer acídico geralmente é composto por um ácido fosfórico ou carboxílico em um pH mais alto que o ácido em gel. No condicionamento convencional, a camada híbrida fica mais profunda e no self-etch é mais superficial e irregular. Podem ser classificados de acordo com sua agressividade: fracos, moderados e agressivos. Os sistemas autocondicionantes não são tão acídicos como o ácido fosfórico utilizado nos sistemas convencionais e portanto têm uma menor performance sobre o esmalte intacto. Por isso, faz-se condicionamento SELETIVO do esmalte no uso de autocondicionantes, pois há dificuldade de desmineralizar o esmalte com o primer acídico. Ou seja, se tiver esmalte na cavidade, tem que condicionar previamente de qualquer forma: condicionar as bordas da cavidade, lavar, secar e não fazer nas regiões que tem dentina. Em cavidades muito profundas, usar o ácido pode criar ou aumentar a sensibilidade, então pode recomendar o uso de adesivos autocondicionantes. Se a dentina está hipermineralizada (como em classes V) usa o convencional, pois o primer acídico tem dificuldade de desmineralizar essa dentina. Adesivos universais : pode ser utilizado tanto como autocondicionante quanto convencional, ou seja, pode usar ou não o condicionamento ácido prévio. Usado como o autocondicionante, com condicionamento seletivo do esmalte.
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