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BIBLIOTECA PIONEIRA DE CIÊNCIAS SOCIAIS 
PSICOLOGIA
Aconselhamento Psicológico & Psicoterapia
Auto-afirmação - um determinante básico
OSWALDO DE BARROS SANTOS
Conselho Diretor:
Anita de Castilho e Marcondes Cabral 
Nelson Rosamilha
Oswaldo de Barros Santos
In memorian:
Dante Moreira Leite
LIVRARIA PIONEIRA EDITORA São Paulo
Capa:
Jairo Porfírio
Nenhuma parte deste livro poderá ser reproduzida sejam quais forem os 
meios empregados (mimeografia, xerox, datilografia, gravação, reprodução em 
disco ou em fita), sem a permissão por escrito da Editora.
Aos infratores se aplicam as sanções previstas nos artigos 122e 130 da 
Lei n? 5988, de 14 de dezembro de 1973.
1982
Todos os direitos reservados por
ENLO MATHEUS GUAZZELLI & CIA. LIDA. 02515 - Praça Dirceu de 
Lima, 313 Telefone: 266-0926 - São Paulo
índice
Introdução. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
PARTE I VISÃO GLOBAL DOS PROCEDIMENTOS ORIENTADORES E
TERAPÊUTICOS
1. Diagnóstico, Orientação, Aconselhamento e Psicoterapia .. . . . . . . . . . .
.
O longo caminho: do diagnóstico para a assistência psicológica. O uso de
testes psicológicos. Orientação, aconselhamento e psicoterapia.
2. Métodos Centrados no Contexto Sócio-Cultural. . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. 
Fundamentos. Procedimentos comuns. Técnicas específicas.
3. Procedimentos Centrados no Contexto
Pessoal. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 
Fundamentos. Procedimentos comuns. Técnicas específicas.
4. Métodos Mistos e Métodos Centrados no Problema. " . . . . . . . . . . . . . . 
Fundamentos. Procedimentos comuns. Técnicas específicas. 
Aconselhamento e terapia em processos de grupo.
5. A Revolução Rogeriana no Campo do Aconselhamento Psicológico e 
da Psicoterapia . . . 
Síntese histórica. Idéias básicas e originais. As condições terapêuticas
essenciais. Evolução das idéias: o experienciar e as atuações em grupo.
PARTE 11 OBSERVAÇÕES PESSOAIS
6. Hipótese Sobre a Auto-Afirmação Como Determinante Básico do
Comportamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Resultados de terapia e fundamentos para uma nova hipótese. Seria
possível um neo-rogerianismo? A motivação e os determinantes do
comportamento. A auto-afirmação como motivo básico e emocionalmente
preponderante.
7. A Personalidade e a Auto-Afirmação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
O Eu Pessoal, o Eu Social e a emergência da auto-afirmação. A
ocorrência patológica. Neurose e significado da vida. Valores sociais e a auto-
afirmação. Perspectivas humanísticas e filosóficas.
8. Contribuições à Terapia Psicológica. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
.. 
Objetivos básicos: desenvolvimento pessoal e psicoterapia. Metodologia
psicoterápica: a dinâmica do processo.
PARTE III
APLICAÇÕES EM SITUAÇÕES ESPECIAIS
9. Filhos e Alunos Difíceis. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Como ocorrem os problemas. Medidas gerais.
10. Ações Preventivas na Educação, na Família e no Trabalho. . . . . . . . . .
. .. 
11. A Vida na sua Terceira Fase: a Valorização do
Idoso. . . . . . . . . . . . . . . . 
Técnicas de orientação e psicoterapia
Referências
bibliográficas. . . . . ., . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 
English-abstract . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . 
Introdução
Os métodos, técnicas ou modelos de atuação, originários de atitudes
naturais ou de comportamentos direcionados, freqüentemente usados para
ajudar as pessoas com problemas psicológicos, são extremamente variados;
dependem de concepções filosóficas e sociais, como, igualmente, dos recursos
situacionais, profissionais, éticos e operacionais. Ademais, as ciências do
comportamento colocam dúvidas e interrogações sobre os efeitos dos
procedimentos orientadores ou terapêuticos em virtude de pesquisas pouco
elucidativas.
Os conceitos e as indicações ou lembretes existentes neste livro
resultam, de um lado, de informações bibliográficas e, de outro, de observações
e inferências pessoais que, em muitos anos, logramos realizar. É uma ligeira
coletânea de posições teóricas e da metodologia correspondente, seguida de
uma hipótese sobre a auto-afirmação como determinante básico do
comportamento e, em conseqüência, de procedimentos e técnicas terapêuticas.
Todas as considerações, sugestões e hipóteses estão francamente
abertas à crítica de todos aqueles que se dedicam ao estudo ou à aplicação
prática do aconselhamento psicológico e da psicoterapia, seja na situação
natural e espontânea dos relacionamentos humanos, seja na situação
profissional. O que se pretende é colocar nossas observações - ainda que falhas
ou limitadas - a serviço desses alvos. Serão especialmente acolhidas as
apreciações e contribuições relacionadas com a proposição original, isto é, com
a hipótese de ser a auto-afirmação o determinante básico do comportamento no
plano psicológico.
Agradeço a meus alunos e ex-alunos da Universidade de São Paulo pelo 
incentivo e pistas que me ofereceram e aos clientes que _e proporcionaram o 
mais, fecundo material para estudos e conclusões. Agradeço, também, às 
psicólogas Alice Maria de Carvalho Delitti e Walderez B.F. Bittencourt pela 
gentileza em rever e comentar o texto do capítulo 4, oferecendo úteis 
contribuições.
O.B.S.
PARTE I
VISÃO GLOBAL DOS PROCEDIMENTOS ORIENTADORES E
TERAPÊUTICOS
1 - Diagnóstico, Orientação, Aconselhamento e Psicoterapia
O longo caminho: do diagnóstico para a assistência psicológica
Poucos terão definido tão bem a evolução da Psicologia no plano
operacional, como Rogers (1942) o fez ao examinar sua contribuição ao bem-
estar e à assistência que dela se poderia esperar. Disse o fundador do método
centrado na pessoa que, na década de 1920, o interesse pelo ajustamento do
indivíduo era essencialmente de estilo analítico e de diagnóstico. "Floresceram
os estudos de casos, os testes, os registros e observações e os rótulos de
diagnóstico psiquiátrico. Com o tempo, essa tendência voltou-se da diagnose
para a terapia, para a procura de meios e de processos pelos quais o indivíduo
encontre a ajuda de que necessita. Atualmente, preocupamo-nos mais com a
descoberta de recursos terapêuticos mais efetivos na assistência ao indivíduo. A
dinâmica do processo de ajustamento substitui a longa fase de descrições e
rotulações".
Realmente, se nos detivermos no estudo das teorias e das técnicas
psicológicas, parece ser possível inferir que a maioria dos trabalhos psicológicos
era orientada mais no sentido de conhecer a personalidade do que em intervir
no complexo enredo do comportamento humano. As técnicas de diagnóstico
tiveram seu apogeu nos anos de 1920 a 1960. A psicometria e os estudos
estatísticos relacionados com a sensibilidade, a precisão e a validade dos
instrumentos de avaliação psicológica desenvolveram-se de forma sensível
dando origem, inclusive, a um conjunto de normas publicadas, em 1954, pela
American Psychological Association, conseqüência natural do crescente
interesse pelos pormenores sobre os métodos de construção e de aferição de
testes. A classificação de reações ou de sintomas e o relacionamento de traços
e de fatores da personalidade era a tendência dominante. E a psicologia, como
estudo e avaliação do comportamento, passa a ser reconhecida como ciência na
medida em que é capaz de prever e descrever, por testes, questionários,
inventarmos e outros recursos, o comportamento de indivíduos ou de grupos. O
próprio comportamento é analisado, identificado e classificado por idades, sexo,
grupos sócio-econômicos ou em variáveis estatisticamente determinadas. Com
Binet, Kuhlmann, Stern, Terman, Claparede, Spearman eoutros, surgem o
estudo e a elaboração de testes mentais e escalas métricas. Os conceitos de
idade mental, quociente de inteligência e a psicometria atingem níveis de alta
sofisticação; há preocupações em se desvendar as "habilidades" primárias ou
básicas e têm lugar os estudos fatoriais com Thurstone, Goodman, Thomson,
Vernon, Kelley, Cattell e outros mais; aparecem famosos testes tais como o
"Differential Aptitude Test" , o "California Test of Mental Maturity" , o "Guilford
Zimmerman Aptitude Sorve", o "General Aptitude Test Bater". Na década de
1940-1950, Wechsler estuda a inteligência e desenvolve as não menos famosas
escalas denominadas W AIS e WISC. Por último, surge a contribuição de
Guilford, baseada em estudos fatoriais pelos quais 120 combinações de
habilidades são teoricamente possíveis (Guilford e Hoepfner, 1971) e os
famosos estudos de Piaget sobre o desenvolvimento intelectual da criança. Na
área da personalidade, além do Teste de Rorschach, do M.M.P.I., do T.A.T., do
Teste de Machover surgem notáveis técnicas expressivas tais como o P.M.K. e
inúmeros questionários, provas situacionais e clínicas (Anastasi, 1948, 1957;
Van Kolck, 1975). Esses estudos e trabalhos de mensuração se distanciavam
muito dos procedimentos terapêuticos como se estivéssemos em campos
independentes.
O aperfeiçoamento das técnicas de diagnóstico conduziu o Psicólogo a
um conhecimento razoável das reações humanas, mas não lhe ofereceu
recursos suficientes no sentido de manipulá-las. O objetivo fundamental, que
seria conhecer para orientar, prevenir, corrigir, recuperar ou tratar, continuava
distante. Ainda encontramos essa situação em muitos serviços psicológicos: a
preocupação com um bom diagnóstico. Se tal exigência é por vezes necessária,
não menos o é a do estudo dos meios e dos recursos pelos quais possamos
ajudar as pessoas atendidas, por uma razão ou outra, em uma clínica
psicológica ou de orientação ou em um grupo assistencial.
O cenário retratado marca a longa trajetória da Psicologia para seu
aspecto aplicado, assistencial. Professores, chefes, supervisores, orientadores,
pais e até mesmo psicólogos tinham diante de si um quadro, tão perfeito quanto
possível, do ponto de vista descritivo, etiológico, causal, mas poucos sabiam
para alterá-lo. O mais acurado diagnóstico ficava, assim, inoperante,
simplesmente porque os recursos de ajuda, de intervenção, não eram
conhecidos ou não aplicados.
A literatura psicológica, farta em técnicas de exame psicológico,
conservou.-se relativamente pobre em estudos e informações sobre
procedimentos para atuação na conduta. Estes se limitavam, principalmente, a
manipulações ambientais, a técnicas de apoio, avisos, recomendações e
conselhos. Por outro lado, em outro universo, desenvolvia-se a Psicanálise com
teorias e técnicas delas derivadas; surgiu a contribuição rogeriana, e brotaram
os processos de Skinner bem como outras teorias e técnicas. A conjunção entre
a medida dos fenômenos psíquicos de um lado e o tratamento desses mesmos
fenômenos produziu-se de maneira lenta e até mesmo hostil como se fossem
campos mutuamente exclusivos. O relacionamento entre a psicometria e a
psicoterapia e as preocupações com solução de problemas psicológicos foram
devidos, também, ao considerável impulso motivacional a partir da II Grande
Guerra, quando contingentes imensos de ex-combatentes precisavam se
reintegrar na vida civil. Como assinalam Sundberg e Tyler (1963), drásticas
alterações ocorreram. "Uma nova ênfase nos problemas de adultos e de
crianças desenvolveu-se rapidamente. Os exames de inteligência e de aptidões
continuaram sendo necessários, porém, maior atenção foi dirigida aos
complexos e difíceis campos da personalidade e da motivação. A Psicoterapia
tornou-se a preocupação essencial".
o uso de testes psicológicos
Os testes e as medidas em psicologia remontam aos estudos da
psicologia experimental iniciados por Wundt no século passado, desenvolvidos
no começo do século por Binet e consideravelmente valorizados até a década
de 1950-1960, quando teve início forte tendência contrária a seu uso. As razões
que lhes foram opostas são, em geral, técnico.científicas e filosóficas. As
primeiras questionam a validade técnica das medidas psicológicas e as últimas o
direito que teriam as pessoas de invadir e medir um campo de fenômenos
nitidamente pessoais ou de utilizar os dados obtidos em benefício de grupos ou
de instituições, sejam estas educacionais, políticas ou empresariais.
Parece ao autor que estamos em vias de passar de um modismo
psicológico a outro, ambos impregnados de vantagens e de desvantagens, eis
que negar a existência de testes ou exames é desconhecer a realidade da
própria vida. O que se faz, na verdade, é tentar substituir a avaliação
psicométrica por entrevistas e observações clínicas, mudando-se o método mas
não a intenção. A avaliação não pode, porém, deixar de existir seja por um
processo seja por outro. O excessivo apego a resultados psicométricos sem a
devida interpretação do contexto individual e social foi, e com razão, a origem da
resistência aos testes.
O problema do diagnóstico e particularmente dos testes parece
concentrar-se em dois pólos essenciais: 1) a validade das medidas; 2) o uso das
medidas obtidas uma vez comprovada sua validade técnico-científica.
O primeiro ponto parece ser o mais relevante pois, se a medida for
precária, insegura e instável, tudo o mais que dela partir é falso e altamente
prejudicial. O segundo ponto envolve problemas sociais, políticos e
essencialmente éticos. Testes e avaliações sempre existiram e sempre existirão,
sob diferentes títulos e calcados no conhecimento acumulado e na filosofia da
época. Nosso problema é aperfeiçoar as avaliações no seu sentido intrínseco e
nas suas implicações culturais, éticas e terapêuticas. 
Quando se coloca o problema do diagnóstico prévio em aconselhamento
ou terapia, podem os testes ser necessários ou não. A tendência atual é esperar
que o diagnóstico ocorra como produto de interação entre psicólogo e cliente e
na qual este atue como participante no seu propalo Julgamento A .pessoa irá ao
pouco firmando sua Imagem e, seu autoconceito. Para fins de pesquisa e para
outras atividades no campo da psicologia, os testes funcionam como medidores
ou indicadores de comportamento e sua utilização é, às vezes, indispensável,
desde que válidos e adequadamente aplicados e Interpretados *
* . No Brasil como no restante do mundo, os testes e técnicas de
diagnóstico também floresceram nas décadas de 1930 a 1950. Vários
instrumentos de avaliação foram elaborados, dentre os quais o Teste SENAI
AG-3 e o Teste DEP, a cargo do autor e de seus colaboradores. Tais testes
destinam-se à medida da inteligência geral, em termos do Fator G.
Orientação, aconselhamento e psicoterapia
Orientar, do ponto de vista psicológico, significa facilitar o conhecimento e
a análise de caminhos ou direções para a conduta, com base em referenciais
pessoais e sociais. Aconselhar, paralelamente, refere-se: ao processo de indicar
ou prescrever caminhos, direções e procedimentos ou de criar condições para
que a pessoa faça, ela própria, o julgamento das alternativas e formule suas
opções. Psicoterapia é o tratamento de perturbações da personalidade ou da
conduta através de métodos e técnicas psicológicas,
É fácil admitir que esses três conceitos, expressos em atuações práticas
de ajuda, estão constantemente se intercruzando, seja nos hábitos e costumes
do dia-a-dia, seja nos processos educacionais ou psicológicos formais e
intencionais. Às vezes, uma simples ação orientadora, em que se facilita o
acesso a informações e se deixa à pessoa decidir por si só, pode ser muito
mais eficaz doque um conselho ou controle da conduta; noutros casos,
principalmente em situações de emergência e de grande ansiedade, um
conselho pode ser mais produtivo da que um demorado processo de orientação
ou de terapia; em muitos casos porém, orientações e conselhos não são
suficientes para alterar a conduta, recorrendo à terapia, como processo mais
complexo, mais difícil e mais demorado A efetividade de uma atuação depende
de inúmeros fatores nos quais sobressaem a personalidade do cliente, as
emergências existentes, os recursos disponíveis e principalmente, os objetivos
que se quer atingir e os critérios sociais e filosóficos que os determinam.
Os conceitos de orientação e de aconselhamento, vistos pelo lado de
seus efeitos, têm variado ao longo da história. Já dizia Sócrates quatro séculos
antes de Cristo: "Conhece-te a ti mesmo", conceito que parece se renovar no
posicionamento atual da linha existencialista e rogeriana, e que com algumas
alterações de forma e de conteúdo vem prevalecendo através dos tempos.
Todavia, há pensamentos diferentes,
Williamson (1939), um dos pioneiros do movimento acadêmico de
Orientação, identificava, em certos aspectos, o aconselhamento com a
Educação, considerando que "à parte da moderna Educação referida como
aconselhamento é a que se refere a processos individualizados e
personalizados, destinados a ajudar o indivíduo a aprender matérias escolares,
traços de cidadania, valores e hábitos pessoais e sociais e todos os outros
hábitos, habilidades, atitudes e crenças que irão constituir um ser humano
normal e ajustado'" , .
Como uma das grandes expressões no campo do aconselhamento,
Rogers (1942, 1951) não se preocupa em estabelecer conceitos e definições, De
toda sua obra, porém, se depreende que o aconselhamento é um método de
assistência psicológica destinado a restaurar no indivíduo> suas condições de
crescimento e de atualização, habilitando-o a perceber, sem distorções, a
realidade que o cerca e a agir, nessa realidade, de forma a alcançar ampla
satisfação pessoal e social. Aplica-se em todos os casos em que o indivíduo se
defronta com problemas emocionais, não importando se se trata de doenças ou
perturbações não patológicas. O aconselhamento consiste em uma relação
permissiva, que oferece ao indivíduo oportunidade de compreender a si mesmo
e a tal ponto que a habilita a tomar decisões em face de suas novas
perspectivas, O cliente passa a se dirigir através da liberação e reorganização
de seu campo perceptual. A orientação rogeriana afetou profundamente os
princípios e os métodos até então existentes, e em face dessa repercussão
dedica este livro um capítulo especial (Cap. 5) à obra desse psicólogo,
Para Robinson (1950), baseado principalmente nas técnicas de
comunicação, e originariamente colega de Rogers, o aconselhamento é a
atuação que "cobre todos os tipos de situações de duas pessoas, na qual, uma
delas, o cliente, é ajudado a ajustar-se mais eficazmente a si propalo e a seu
melo", Sua técnica principal é a comunicação, através de entrevistas
cuidadosamente conduzidas e testadas de momento a momento, que facilitam a
tomada de decisões e atuam terapeuticamente.
De ponto de vista dos efeitos da relação ocorrida no processo de
aconselhamento, Pepinskye Pepinsky (1954) os definem como resultantes da
interação que ocorre entre dois indivíduos, conselheiro e cliente, sob forma
profissional, sendo iniciada e mantida como melo de facilitar alterações no
comportamento do cliente.
Hahn e Maclean (1955), representantes, como Williamson, da corrente
clássica de aconselhamento, dão ênfase ao processo de diagnóstico e tomam o
aconselhamento no sentido de informações prestadas ao cliente sobre
alternativas que se oferecem na solução de seus problemas. Há casos, dizem
esses autores, sobre os quais o cliente precisa ser instruído! Há fatos que
precisa conhecer; há aprendizagem a ser realizada.
Patterson (1959) é de opinião que o aconselhamento pode ser focalizado
em termos de áreas de problemas (educacionais, vocacionais, conjugais, etc.),
assim como em termos de ajustamento pessoal ou mesmo terapêutico. Segundo
esse mesmo autor, o aconselhamento não se limita a pessoas normais; aplica-
se ao excepcional, ao anormal ou ao desajustado; manipula as tendências
adaptativas do indivíduo a fim de que este possa usá-los efetivamente.
Shoben (1966), analisando as implicações científicas e filosóficas
envolvidas nos processos de assistência psicológica, afirma que do ponto de
vista educacional e clínico, há dois alvos: o primeiro é ajudar o estudante ou o
paciente a desenvolver suas capacidades para aperfeiçoar sua auto-avaliação
"sem, necessariamente, se determinar o conteúdo de suas conclusões". Um
segundo alvo, de certa forma contraposto ao primeiro, é o de se recusar ajuda
técnica sempre que esta possa ser solicitada num contexto que venha violar os
princípios intrínsecos do valor pessoal.
Na corrente comportamentista, encontramos Bijou (1966) afirmando ser
"o objetivo final do aconselhamento ajudar o cliente a lidar mais eficazmente
com seu melo e a substituir o comportamento mal ajustado pelo ajustado".
"Parece claro, do ponto de vista da análise experimental do comportamento, que
uma das mais eficientes formas de produzir as alterações desejáveis é pela
modificação direta das circunstâncias que as suportam, e um dos meios mais
efetivos de manter essas alterações é organizar um melo que continue a
suportá-las." A aplicação das leis de aprendizagem é o melo pelo qual se adquire
comportamentos desejáveis.
Krumboltz (1966), da corrente comportamentista, coloca os alvos do
aconselhamento na mesma direção dos psicólogos contemporâneos. Segundo
seus conceitos, "orientadores e psicólogos dedicam-se a ajudar as pessoas a
resolverem mais adequadamente certos tipos de problemas. Alguns desses
problemas relacionam-se com importantes decisões escolares e profissionais,
tais como: Que curso devo fazer? A que profissão devo me dedicar? Outros
problemas se relacionam com dificuldades pessoais, sociais e emocionais, tais
como: Como posso salvar meu casamento? Como poderei suportar esses
horríveis sentimentos de ansiedade, solidão e depressão? Como deverei agir
para fazer valer meus direitos? Como posso relacionar-me melhor com os
outros?" A essas questões o conselheiro acrescenta outras: Como se
conceituam os problemas? Como colocar alvos? Que técnicas serão úteis para
atingir esses alvos? Como avaliarei meu propalo trabalho? Tais questões são tão
familiares e nos apegamos tanto a elas que os novos procedimentos (refere-se
ele ao método comportamental) podem justificar uma verdadeira revolução no
aconselhamento
A posição européia, notadamente à francesa, face ao aconselhamento
psicológico, é bem diferente da americana. Piéron (Nepveu, 1961), em um de
seus últimos trabalhos, dizia que os métOdos americanos aproximam-se muito
da Psicanálise e que a concepção francesa e a americana divergem muito no
juízo que fazem sobre o papel do conselheiro. "No regime americano, onde a
educação não tem caráter nacional e onde a tendência geral é a de favorecer
em tOdos os domínios as iniciativas individuais. o conselheiro se aproxima muito
do psicoterapeuta; dirige-se a 'clientes' e não participa, de modo algum, dos
problemas gerais da educação, nem se preocupa em participar de uma obra
coletiva. Na França, ao contrário, tem-se procurado reduzir, ao máximo, a
comercialização em matéria de Orientação. Esta, que tende a se integrar, cada
vez mais, na obra nacional de educação, não visa satisfazer clientes, mas a
servir os interesses dos Jovens encarando o seu futuro..."
Embora haja movimentos renovadores, Nepveu pareceu exprimir bem a
tendência na épocadominante na França e, talvez, na Europa quando,
analisando os métodos de Rogers, de Super e de Bordin e baseando-se em
contribuições européias de Nahoum, Delys e de outros, afirma que uma das
atitudes correntes é o "conselheiro adotar uma atitude de peritO, ou de amigo
desinteressado". "Esforça-se em compreender os problemas e as pessoas, em
prever uma certa possibilidade de êxito, em formular conselhos adequados,
bem-vindos e liberais".
Não obstante algumas controvérsias, o aconselhamento psicológico
parece ter tOmado corpo e expressão na década de 1950-1960. De acordo com
relatO de Super (1955), "essa nova expressão resultou do consenso geral de um
grande número de psicólogos reunidos no Congresso Anual da American
Psychological Association, em 1951, na Northwestern University". O "Counseling
Psychology" substitui os antigos conceitos e métodos, originários da orientação
profissional, modelada por Parsons e seus seguidores, pela idéia de um trabalho
mais sensível à "unidade da personalidade, mais sensível às pessoas do que
aos problemas, pois que a adaptação a um aspecto da vida está em relação
com todos os outros". "O novo movimento encerra dados teóricos e técnicos da
psicoterapia, inclui orientação profissional e ocupa-se, sobretudo, do indivíduo
como pessoa, procurando ajudá-lo a adaptar-se com sucesso aos vários
aspectOs da vida. Os conselheiros ou orientadores, nesse novo ponto de vista,
ocupam-se de pessoas normais podendo cuidar, ainda, daquelas que
apresentam deficiências e são mal ajustados, porém, de uma maneira diferente
daquela que caracteriza a Psicologia Clínica".
Stefflre e Grant (1976), ao escreverem sobre aconselhamento
psicológico, chegam a algumas considerações que parecem exprimir a
dimensão hoje dominante: a) "a definição de aconselhamento depende dos
diferentes pontos de vista das autoridades no assunto. Essas diferenças têm
origem em diferentes pontos de vista filosóficos..."; b) "não se pode fazer uma
distinção muitO clara e precisa entre aconselhamento e psicoterapia"; c) "o
aconselhamento é uma forma deliberada de intervenção na vida dos clientes".
Esse mesmo autor classifica o aconselhamento em quatro diferentes posições
ou "sistemas", baseado em quatro diferentes teorias: a) Teoria do traço-fatOr,
segundo a qual a mudança do comportamento "depende do conhecimento que o
cliente tenha de informações"; b) Teoria centrada no cliente, pela qual o
comportamento é modificado pela "reestruturação do campo fenomenológico"; c)
Teoria comportamental, segundo a qual, após um diagnóstico da situação,
determina-se os comportamentos a serem extintos ou reforçados; d) Teoria
psicanalítica, que se propõe' 'claramente a uma redução de ansiedade na crença
de que daí resulte um comportamento mais flexível e discriminador".
Para Rollo May (1977), o campo do aconselhamento situa-se entre os
problemas da personalidade, para os quais há necessidade de um terapeUta e
o_ problemas de imaturidade ou de carência de instrução, para os quais há
necessidade de um educador.
Uma revisão de alguns textos sobre aconselhamento, aliada a nossa
própria experiência, poderia nos levar às seguintes considerações:
1. A orientação, o aconselhamento psicológico e a psicoterapia não são
meros procedimentos técnicos ou operacionais. Subjacente a eles há todo um
arcabouço de posições filosóficas operantes tanto no terapeuta ou 'conselheiro.
como nas pessoas assistidas, o que estabelece marcantes diferenças entre a
psicologia e outras ciências humanas. Mesmo na posição clássica de liberdade
e de não-diretividade há, por parte do psicólogo, uma deliberada e consciente
postura filosófico-social. Noutro extremo, em que o conselheiro visa instalar um
comportamento específico, há, igualmente, um papel social idealizado.
2. O posicionamento conceitual do orientador, conselheiro ou terapeuta
flutua, em geral, entre três premissas: a) o homem é um produto
predominantemente social; possui impulsos naturais, bons ou maus, que
precisam ser canalizados para um tipo de sociedade na qual nos localizamos e
que nos assegura a sobrevivência e o bem-estar; b) o homem é suficientemente
capaz de decidir por si mesmo e escolher as ações mais. adequadas para si
propalo e p?ra os outroS desde que sejam criadas condições facilitadoras para
avaliação auto e hetero-referente e para as opções individuais; c) a
autodeterminação é uma utopia; o homem é o produto de múltiplas variáveis;
temos que atuar nos agentes que o controlam e nos comportamentos tal como
ocorrem na vida. quotidiana.
Na prática pedagógica ou psicológica é difícil à distinção entre orientação,
aconselhamento e psicoterapia e a maioria dos autores não se preocupa muito
com essa diversificação teórica. Alguns, entretanto, tentam traçar linhas
demarcatórias. Assim, Perry (1960) distingue o aconselhamento da psicoterapia,
baseando-se nos papéis e funções sociais visados pelo primeiro e na dinâmica
da personalidade proposta pela psicoterapia. Outros autores parecem diferençar
estas duas atuações atribuindo ao aconselhamento os procedimentos que se
focalizam no plano intelectual, cognitivo, consciente, e à psicoterapia os que se
relacionam com fatores afetivos e inconscientes. Rogers (1942; 1955) usa os
dois termos de forma indiferente - como fará o autor neste trabalho - porquanto,
segundo ele, não há o que distinguir na série de contactos individuais que visam
assistir a pessoa na alteração de atitudes ou do comportamento. Wolberg (1977)
salienta que a psicoterapia é uma forma de tratamento para problemas de
natureza emocional e na qual uma pessoa, especialmente treinada, estrutura
uma relação profissional com o cliente, com o objetivo de remover ou de
modificar os sintomas ou padrões inadequados de comportamento e promover
crescimento e desenvolvimento da personalidade. Analisando o relacionamento
cada a vez mais intenso entre aconselhamento e psicoterapia, Albert (1966), por
outro lado, declara que o mesmo processo informativo, concerne-se ao
aconselhamento acadêmico e vocacional, não pode se limitar aos planos
conscientes e racionais da personalidade, já que os níveis profundos refletem-se
em todos os aspectos do comportamento.
Nossa experiência vem indicando uma razoável ocorrência de casos nos
quais os métodos de orientação e aconselhamento confundem-se com os de
terapia. Se um jovem tem dificuldade de relacionamento. Com os pais _ se
aplicarmos determinadas técnicas de tratamento emocional, sejam elas
rogenanas, comportamentais ou outras, estaremos fazendo aconselhamento ou
terapia? Se uma mulher procura o psicólogo para libertar-se de um contínuo
desinteresse sexual pelo marido, tendo-se constatado, previamente, não haver
problemas na área orgânica que possam ser responsáveis pelo fato e verificar-
se haver uma real incompatibilidade emocional entre mulher e marido e se
técnicas psicológicas forem usadas para tentar soluções, seria essa tarefa
aconselhamento ou psicoterapia? Se um jovem, movido por profundos
sentimentos de insegurança na escolha de carreira, não consegue tomar
decisões e o psicólogo passa a cuidar do problema nos seus aspectos
emocionais, estaria efetuando intervenção terapêutica?
Atualmente, a tendência é distinguir aconselhamento de psicoterapia mais
em termos de grau do que em forma de atuação. Esta última é semelhante e até
certo ponto indistinguível do primeiro, tanto no seu feitio profilático como no de
recuperação ou .. Cura' '. Deixar ao psicólogo os chamados" casos normais com
problemas", diferenciando-os dos patológicos ou anormais para os psiquiatras, é
praticamente impossível, mesmo porque o conceito de normalidade é apenas
uma proposição teórica (Mowrer, 1954). Quer nos parecer, pois, que a
psicoterapia ou o aconselhamento são melhor descritos em termosde um
continuum, em lugar de um julgamento dicotômico. A flexibilidade do trabalho do
orientador e do psicólogo deve ser assegurada, em benefício do propalo cliente
por ele assistido. Essa atuação, face a casos claramente patológicos, pode ser
associada à de outros profissionais. A evolução de cada caso indicará a
colaboração pessoal de outros especialmente sem que tenhamos de determinar,
com base em supostas demarcações, os limites da atuação orientadora e da
ação terapêutica.
Uma das mais explícitas conceituações e descrições dos papéis
atribuídos aos que se especializam em Aconselhamento Psicológico é proposta
por Jordaan (1968), em seu levantamento sobre as funções do Conselheiro
Psicológico. Segundo dados por ele compilados, este atua em diferentes setores
da vida social (consultórios, centros universitários, escolas, hospitais, centros de
reabilitação, serviços de orientação profissional, departamentos de pessoal,
serviços de colocação e de treinamento, etc.). Analisando as eventuais
diferenças entre Clínica e Aconselhamento, assinala que alguns especialistas
apontam diferenças entre essas duas especializações, outros, porém,
consideram tais diferenças como irrelevantes. Segundo muitos especialistas, o
psicólogo-conselheiro tende a trabalhar com pessoas normais, convalescentes
ou recuperadas e a encaminhar casos mais sérios a outros especialistas. Usa
técnicas psicoterápicas e outros recursos, tais como exploração de condições
ambientais, informações, testes, experiências exploratórias e outros
procedimentos mais freqüentemente do que o psicólogo clínico. .Em geral, o
conselheiro terá desempenho profissional de acordo com a formação que
recebeu e das expectativas de trabalho que se oferecem..
Os dados hoje existentes parecem caracterizar o psicólogo-
conselheiro como o profissional da psicologia de formação mais eclética o que
não impede, contudo, que se dedique também a um determinado tipo de
atuação na qual, particularmente, venha a especializar-se, a exemplo dos que se
dedicam a problemas psicológicos do Trabalho, da Educação, da Família, etc.
Do ponto de vista psicológico, a atuação assistencial, profilática,
terapêutica ou corretiva pode assumir diferentes rótulos classificados por alguns
autores como formas suportivas, reeducativas ou reconstrutivas de tratamento
(Pennington & Berg, 1954; Wolberg, 1977). Sem nos apegarmos a essa
classificação, pois parece-nos difícil distinguir o que realmente ocorre, em face
de um rótulo predeterminado, vamos nos limitar a mencionar apenas exemplos
de métodos mais conhecidos, dando maior extensão ãqueles com os quais está
o autor mais familiarizado. Procurou-se, porém, agrupá-los, tanto quanto
possível, em capítulos próprios, pelo critério de seu posicionamento conceitual.
Essa divisão setorial não reflete, porém, nenhuma tentativa de introduzir uma
nova taxionomia no campo da psicoterapia. O Quadro 1, a seguir, relaciona
exemplos de métodos, devendo-se notar que muitos destes, consoante a
situação, podem se enquadrar em outras categorias.
QUADRO 1
EXEMPLOS DE MÉTODOS DE ORIENTAÇÃO, ACONSELHAMENTO
PSICOLÓGICO E PSICOTERAPIA
MÉTODOS ENTRADOS NO CONTEXTO SÓCLO-
CULTURAL
MÉTODOS CENTRADOS NO CONTEXTO 
PESSOAL
Informação - orientação Persuasão Manipulação
ambiental Aproveitamento de interesses e recursos 
pessoais e ambientais Terapia ocupacional 
Socioterapia Comunidades terapêuticas e 
vivenciais; processos de grupo
Psicanálise e técnicas analiticamente orientadas 
Técnicas de reorganização cognitiva Técnicas de 
crescimento pessoal e autodeterminação Técnicas 
suportivas ou de tranquilização Terapia gestáltica 
Terapia biofuncional e bioenergética Psicodrama 
Análise transacional Terapia primal Psicobiologia 
Logoterapia Existencialismo 
Nota: Alguns métodos podem ser classificados em uma ou mais 
categorias: outros não são apresentados sob a nomenclatura habitual e 
enquadram-se na classe geral em que são colocados no texto (capítulos 2, 3 e 
4).
2 - Métodos Centrados no Contexto Sócio-Cultural
Fundamentos
A imposição de padrões culturais, nos seus vários aspectos, é, sempre,
teoricamente repelida, na ânsia de liberdade e autenticidade que envolve o ser
humano. O homem busca afirmar-se e talvez nisto consista todo o móvel da
conduta humana e sobre o qual falaremos no Capítulo 6.
Não obstante o alvo tantas vezes cultivado, vê-se o homem julgado,
aceito ou rejeitado pela forma como se ajusta aos padrões que o cercam. A
acepção é válida em todas as épocas e em todos os lugares, em todas as
classes e faixas etárias. Mesmo a adolescência contestatória, às vezes
iconoclasta e irreverente, mas criativa e pura em muitos ideais que tenta opor à
tradição e aos hábitos e costumes, cria, para si mesma, um modelo ao qual os
adolescentes aderem, com normas e valores próprios. Estes passam a ser os
critérios de conduta e de ajustamento pelos quais os próprios adolescentes são
entre si aceitos ou rejeitados. O comportamento grupal, diluído em pequenas
castas e classes ou generalizado em amplos segmentos populacionais, envolve
princípios normativos. Chega-se ao paradoxo de propor-se a liberdade, a
autenticidade, o ser-ele-próprlo e essa atitude transforma-se em valor Imposto, o
que contraria a idéia fundamental de liberdade.
A adaptação da pessoa a certas normas, estilos ou formas de vida é,
pois, um critério comum de ajustamento, embora tentemos rejeitá-lo. Daí se
deduz que muitos procedimentos profiláticos ou educacionais, como técnicas de
reeducação ou de terapia, pautam-se, inexoravelmente, por padrões sócio-
culturais, alguns transitórios ou superficiais, frutos de modismos ou situações de
emergência, outros permanentes e profundos, produtos da experiência
acumulada na sucessão de gerações em uma espécie de inconsciente coletivo
de que nos fala Jung. Como ser diferente, marginalizado, ou não reconhecido
socialmente, pode, em certos casos ter o sentido de destruição, a pessoa
procura adaptar-se aos sistemas existentes para atender à necessidade
biológica, básica, de sobreviver. A sociedade indica-lhe os caminhos para se
preservar; exige, de forma aparente ou velada, que se "eduque", isto é, que
saiba falar, andar, vestir-se e usar o sistema social tal como existe; exige que
estude, trabalhe, cuide dos filhos ou de pessoas, segundo certos padrões;
espera que participe da vida comunitária, que pague impostos e que desfrute de
seus bens, móveis e imóveis, segundo certas regras e limitações. Em suma,
estabelece certos determinismos cuja observância é essencial para que a
pessoa seja aceita. O aconselhamento e a terapia são, nestes casos, uma
proposta de adaptação a uma vida pré-definida. A liberdade seria apenas a
possibilidade de escolha entre os determinismos que nos pressionam.
Muitos procedimentos de aconselhamento psicológico e de psicoterapia
visam atingir os alvo_ de que falamos: tentam conduzir as pessoas às situações
que os valores sociais estabelecem como adequadas. Essa imposição, se, em
muitos casos, produz reações de crítica e de oposição e até de uma alienação
conducente a quadros patológicos, por outro lado pode gerar segurança aos que
se incorporam à massa, às tradições, ao pensamento grupal. E coletivo. É a
tendência sociocêntrica em oposição à linha individualista ou centrada na
pessoa. Até que ponto as tendências socializantes ou personalizantes são
benéficas ou prejudiciais, aprazíveis ou aterradoras não sabemos. É assunto
Dara os filósofos, sociólogos e psicólogos sociais. O que nos parece evidente é
a ausência de padrões, valores ou pressões que, de uma forma ou outra,
balizam o comportamento humano.
Do ponto de vista do aconselhamento psicológico e de tratamento, há
recursos terapêuticos que visam adaptar o homema seu contexto sócio-cultural
embora se procure, atualmente, limitar ao máximo a subserviência a valores
preestabelecidos, sem, porém, ignorá-los; tenta-se colocar a pessoa em
condições de opção, ampliando-se o leque de escolha; procura-se aproveitar as
potencialidades individuais e abrir perspectivas para mudanças sociais; procura-
se facilitar o questionamento de problemas e situações de vida. E de forma tal
que as transições ocorram na pessoa e na sociedade sem violentá-las na sua
essência, mas vigorosas no seu posicionamento. O aconselhamento imposto,
extremamente autoritário, é coisa do passado, ainda que as informações, os
conselhos, as advertências atuem em certos casos. Se os conselhos e
recomendações fossem; por si sós, eficientes, as Prisões estariam vazias e os
instrumentos; de repressão teriam amplo sentido. Há, pois, que estabelecer um
sistema de comunicação, de orientação e de atuação psicológica que produza
resultados benéficos para a pessoa e para a sociedade. E, no caso em que os
valores sociais sejam predominantes, muitos processos são usualmente
aplicados com maior ou menor benefício pessoal ou social consoante as
exigências que, naquele momento, fluem da pessoa ou do grupo.
Procedimentos comuns
Como se verifica em vários autores (hahn & MacLean, 1955; Stefflre &
Grant, 1976; Sundberg & Tyler, 1963; Wolberg, 1977), há grande variação nos
procedimentos adotados nesta categoria metodológica de tipo "orientador" ou
“diretivo" .
Ainda que prevaleça o sentido sociocêntrico,. Baseado em padrões
culturais, tenta-se, do ponto de vista psicológico, reduzir ao mínimo a
diretividade procurando-se reduzir tensões e preparar a pessoa para decisões
socialmente desejáveis. Em geral, os procedimentos mais comuns são: 1)
Discussão com o psicólogo dos prós e contras de cada situação; 2) Informação,
pelo psicólogo, com base no diagnóstico, das possíveis causas e da possível
evolução das reações observadas; 3) Opinião do psicólogo no sentido de
estimular ou de impedir a consecução de certos planos; 4) Planejamento de
situações, com o cliente, envolvendo assuntos relacionados com os problemas
tratados.
Dificilmente se encontra, na literatura, a citação de pormenores técnicos
do método, isto é, sobre o tipo de diálogo e atuação pelo qual o psicólogo
conduz o relacionamento com o cliente. Em geral" são citados métodos de
interpretar resultados de testes face a uma situação considerada e prognósticos
que podem ser levantados. Limitam-se os autores a afirmar que "o cliente deve
ser informado", que" deve tomar conhecimento J' , que o psicólogo deve
considerar isto ou aquilo e que o cliente deve decidir.
Em geral, qualquer dos procedimentos aqui citados, como outros,
análogos, ,embora com nomenclatura diferente, compreendem três etapas:
Fase catártica
O psicólogo ouve o cliente mantendo atitudes não críticas, facilitando sua
expressão. O cliente expõe seus problemas e o psicólogo usa várias
intervenções, tais como repetição, sumário e proposição de questões,
esperando que o problema seja devidamente enquadrado em hipóteses
prováveis. Essa fase pode durar uma ou mais sessões, na medida em que seja
necessário chegarem, psicólogo e cliente, a uma estruturação formal dos
problemas a enfrentar.
Fase de diagnóstico
Preparado emocionalmente o cliente na fase catártica, pode seguir-se o
diagnóstico, orientando-se sua execução de acordo com os problemas ou
hipóteses fixados na etapa anterior. Anamnese, testes, questionários, entrevistas
com familiares.e outras pessoas são usados. Exames médicos e pareceres
escolares ou profissionais podem ser incluídos no diagnóstico. Este envolve
mais de uma pessoa e, em algumas clínicas, uma grande equipe participa do
estudo do caso e da formulação de hipóteses e de planos (Vide outros
comentarmos sobre o diagnóstico, no Capítulo anterior).
Ao mesmo tempo, o psicólogo procura conhecer as oportunidades
de estudos, de trabalho, de vida social, de recreação e de eventuais tratamentos
específicos disponíveis para o cliente; precisa recorrer a diferentes especialistas,
entre os quais orientadores educacionais, assistentes sociais, médicos,
professores e até mesmo a outros profissionais. Como tem que julgar a
disponibilidade de recursos da comunidade, seu trabalho pessoal geralmente é
insuficiente.
Quando o diagnóstico é necessário, temos notado ser mais eficaz o
procedimento que identifique: 1) o nível potencial do cliente, e que se estende
desde suas condições de saúde até seus níveis de escolarização e de
condições sócio-econômicas, incluindo nível de inteligência, de aptidões e
reações sensoriais e motoras; 2) as condições de adaptabilidade que favorecem
ou delimitam o uso de suas potencialidades, penetrando-se no estudo da
personalidade do cliente e nos seus dinamismos. Todos os planos geralmente
consideram as expectativas sociais e, de outro lado, as potencialidades
individuais, inclusive as facilitações ou barreiras que a pessoa pode encontrar
(Barros Santos, 1978).
Fase de decisões
Com o quadro do cliente diante de si, o psicólogo é levado à
compreensão do comportamento do cliente e à decisão sobre os procedimentos
aplicáveis para prevenção, ajustamento ou alteração de conduta. A característica
básica reside na maior dose de iniciativa e decisão atribuída ao psicólogo. Este
espera o cliente colocar os problemas e as soluções, mas, se estas não
surgirem, assume o psicólogo o papel de proponente. O diálogo é Uma troca de
idéias. O psicólogo informa, de modo impessoal, sobre os dados apurados,
baseando-se em interpretações clínicas e estatísticas (Meehl, 1954; Super,
1955; Coule, 1960; Goldman, 1961). Evita personalizar as situações e oferece
panoramas gerais, impedindo o aparecimento de nova ansiedade quando certos
dados possam contrariar os alvos do cliente. Ao discutir com este, o psicólogo,
ao mesmo tempo que informa, tenta explorar em cada idéia ou fato novo os
sentimentos manifestos. Essa atuação, informativa e exploratória, leva o cliente
a conhecer suas possibilidades e, desde que não gere tensões, produz
condições favoráveis para escolhas e decisões. É uma etapa difícil,
principalmente quando existem dados fortemente contrários às expectativas da
pessoa. Em geral, é mais cauteloso esperar que esta, pouco a pouco, com a
atmosfera de conforto criada pelo psicólogo, possa ir, ela própria, inferindo
conclusões. As interferências no sentido de ordenar, proibir, persuadir não têm,
em geral, mostrado eficácia. A informação e a exploração subseqüentes e
imediatas nos parecem ser o procedimento mais adequado até agora
encontrado. O psicólogo julga e avalia as possibilidades do cliente, mas o faz
atenuando qualquer grau de dependência ou de ansiedade, na medida em que
seja capaz de, concomitantemente com a informação, incluir atitudes que
conduzam o cliente a explorar-se a si mesmo e à tomada de decisões.
Variações no processo
Em inúmeros casos, na fase catártica ou na fase de decisões, o cliente se
sente mais à vontade "falando dos seus problemas" do que dos motivos
originariamente expostos como razões para consulta. A redução da ansiedade
criada pelas atitudes do psicólogo permite, pois, distinguir os casos em que
ocorrem problemas emocionais generalizados dos que procuram, apenas,
informações para uso predominantemente intelectual. Nessas circunstâncias,
vê-se o psicólogo na contingência de continuar o processo no esquema original
previsto, de transformá-Lo em processo terapêutico específico ou, ainda, de
combinar ambos.
O atendimento do caso pode ter início com atitudes e técnicas centradas
na pessoa, o que, além de preparar o cliente para um melhor diagnóstico,quando este se revelar necessário, permite iniciar uma assistência terapêutica
que será útil nas situações em que, ao lado dos aspectos intelectuais, haja
situações emocionais a serem manipuladas.
Quando o método é aplicado principalmente em casos de orientação
vocacional ou profissional, sem problemas emocionais graves, temos notado
que os clientes, quando submetidos apenas à reflexão de sentimentos,
mostraram pouco ou nenhum avanço no sentido de equacionar melhor suas
opções. Sempre que o psicólogo intervinha apenas com técnicas rogerianas,
não se notava o aparecimento de respostas que revelassem modificação de
comportamento associada a eventuais decisões. Em se tratando de casos em
que predominavam problemas cognitivos 
O que se supôs antes e se verificou posteriormente - a técnica de
informação, discussão e explanação refletiu-se favoravelmente no aumento das
possibilidades de decisão. Tais efeitos concordam, em parte, com o que afirmam
os partidários desse método e segundo os quais os problemas de escolha nem
sempre são originariamente emocionais. Estudos de Watley (1967),
concernentes à predição do sucesso de estudantes atendidos por conselheiros
de orientação doutrinária e técnicas diferentes, demonstraram que os
conselheiros filiados à teoria informativa (teoria e traços da personalidade)
predisseram com mais exatidão o grau de sucesso dos indivíduos estudados do
que os filiados à orientação não diretiva, dos chamados ecléticos ou dos que
não tinham doutrina técnico-científica bem definida.
A maioria das técnicas ou de recursos terapêuticos baseados no contexto
sócio-cultural não tem nomes consagrados. Muitos mesclam-se entre si. Vamos
enumerá-los com pequenas explicações já que constituem variações do
procedimento geral descrito.
Informação-Orientação
É um processo tradicional de interação, de natureza predominantemente
Profilática. Visando oferecer. E discutir alternativas de ação conduzidas, em
geral, Sob a forma de: a) procedimentos de apoio; b) análise de opções
envolvendo Questões. Lembretes. Consulta a dados existentes. Observação da
realidade circunstancial confrontação com modelos de conduta e resultados; c)
reflexão dos sentimentos provocados pelas alternativas estudadas. Aplica-se,
em geral, a pessoas que mantenham contato com a realidade. Motivadas e
suficientemente desenvolvidas para análise de informações.
Os procedimentos informativos ou orientadores atuam geralmente no
plano racional, desde. que haja prévia liberação de estados emocionais que
perturbem a tomada de decisões. É um dos procedimentos mais usados através
do tempo e útil sempre que a pessoa precise de informações para comparar os
possíveis efeitos de suas opções. Enquadram-se estes procedimentos no campo
habitual dos Orientadores ou conselheiros. Seja no campo familiar, escolar,
profissional ou social.
Persuasão
Trata-se de imposição comportamental, no plano da ideação e da ação,
baseada em padrões de conduta previamente definidos como únicos possíveis e
válidos. De efeito sugestivo, atua sob a forma de dissuasão racional, geralmente
associada a recompensas e punições. É de valor ético discutível e somente
indicado em situações de emergência e de perigo para o cliente ou para outras
pessoas. Inclui, muitas vezes, a doutrinação e a orientação das pessoas para
comportamentos sociais ou políticos emanados de um grupo dominante. Um
exemplo extremado deste procedimento é a chamada "lavagem cerebral".
Manipulação ambiental
Consiste em uma atuação planejada e diretiva sobre agentes externos,
presentes na família, na escola, no trabalho ou na comunidade, visando eliminar
ou atenuar a exposição do cliente às fontes de frustração ou de conflito. Pode
exigir amplo diagnóstico do cliente e dos fatores externos atuantes em seu
comportamento para localizar as variáveis nele intervenientes e a aplicação de
medidas que conduzam alvos desejados. Muitas vezes o processo é indireto, ou
seja, o próprio cliente não tem conhecimento dos alvos e das intenções que
visam alterar seu comportamento, o que ocorre em casos de deficiência grave e
incapacitante no plano intelectual ou emocional.
Aproveitamento de interesses e de recursos pessoais e ambientais
Partindo de prévio diagnóstico global! E diferencial, visa utilizar ao
máximo o potencial e a estrutura individual, usando caminhos não bloqueados.
Inclui o Estudo da dinâmica do comportamento e dos alvos e das necessidades
individuais, procurando-se conciliá-las com as ofertas e as necessidades sociais.
Multo usado no Campo da Orientação Vocacional e Profissional e na Educação,
baseia-se nas possibilidades da comunidade ou da instituição, procurando-se
facilitar à pessoa seu ajustamento a uma ou mais alternativas que a sociedade
oferece. É menos diretivo Do que os procedimentos _tj.anteriores, já que oferece
opções no campo do trabalho, Do lazer, da família, das atividades comunitárias
ou em outras áreas do comportamento social. 
Terapia ocupacional
Compreende atividades de lazer, de recreação e, principalmente, tarefas
que revelem utilidade e sentimento de auto-afirmação. As atividades podem ser
livres, dirigidas ou semidirigidas e propiciam redução de tensões, exploração de
aptidões e de interesses, melhora de comunicação e: da expressão e podem ter
ação preventiva. educativa ou terapêutica (Willard &Spackman. 1970). Pode
atuar como procedimento complementar ou como técnica terapêutica essencial,
principalmente quando outros métodos são inviáveis. Pode incluir outras
atividades, tais como esporte, teatro, movimentos associativos, atividades
artísticas, cívicas, sociais, religiosas, bem como trabalhos manuais e artesanais.
É aplicável, também, no campo empresarial para liberação de tensões,
desenvolvimento pessoal enriquecimento do trabalho e melhora da
comunicação.
A laborterapia é algo paralelo que se diferencia de terapia ocupacional
porque estabelece um padrão mínimo de (desempenho a atingir, periodicamente
revisto e neste sentido, tem amplos efeitos pedagógicos e psicológicos tanto
para pessoas ditas normais corno deficientes. Muitas vezes recorre-se a oficinas
especiais ou "protegidas", mas a tendência atual é usar o ambiente normal de
trabalho.
Socioterapia
Confunde-se com outros métodos e técnicas já que o aconselhamento e a
psicoterapia de qualquer estilo são, também, socioterápicos. Mescla-se, mais
comumente, com a manipulação ambiental, com comunidades terapêuticas e
com as técnicas de grupo em geral. Em essência, visa um contexto grupal, de
que são exemplos a terapia familiar (Bowen, 1978), a terapia institucional (para
pessoas que têm vida em comum) e equipes de trabalho. Nestes e noutros
casos, a ênfase é dirigida para os sentimentos e as relações intragrupos e
intergrupos; concentra-se nos problemas de agrupamentos humanos em geral
como, também, em grupos especiais tais como grupo de doentes, grupo de
viciados (o A.A.A. é um exemplo), grupo de minorias raciais, grupo de
delinqüentes, etc.
Os procedimentos aplicados correspondem, em geral, às técnicas de
grupo, sob orientações psicológicas as mais diversas (vide capítulo 4).
Comunidades terapêuticas e vivenciais; processos de grupo
São geralmente usadas quando se busca um relacionamento grupal e um
trabalho de grupo e, neste caso, assemelha-se à socioterapia. As comunidades
terapêuticas e vivenciais são, também, destinadas aos casos que não possam
ser atendidos em clínicas ou consultórios comuns por dificuldades diversas.
Aplicam-se igualmente às pessoas que tenham problemas de residência, de
locomoção e as que precisam de constante assistência, seja médica ou
psicológica.
Em alguns casos caracteriza-se uma internação ou seja um regime de
vida em clínica, hospital ou comunidade em que a pessoa submete-se a um
tratamento médico, psicológicoe social em geral programado pela instituição
que a acolhe. Modernamente, os "internos" são convidados para colaborar,
podendo até participar da direção dos programas em regime de co-gestão,
visando-se confrontação com a realidade e auto-afirmação. A interação entre os
participantes é discutida em sessões especiais prevendo-se, também, relações
externas e o gradativo término da internação com o conseqüente autogoverno.
.
Os procedimentos e todas suas variações médicas, psicológicas ou
sociais são planejados e aplicados por equipes multidisciplinares, com a
cooperação dos participantes, podendo ser usados tanto em hospitais como em
escolas, empresas, estabelecimentos penais, centros de abrigo e proteção e
obras assistenciais.
O hospital-dia, centro-dia ou centro terapêutico é uma variação
metodológica na qual o cliente conserva o vínculo com a família e freqüenta o
centro diariamente ou algumas vezes por semana. Aplica-se a pessoas para as
quais a tarefa terapêutica de consultório ou de ambulatório é insuficiente e para
as quais a internação comum é desnecessária ou contra-indicada.
Tanto a internação ou hospitalização comum como o centro-dia implicam
na existência de várias atividades que compreendem, em geral: 1) Assistência
médica em geral; 2) Atividades psicoterápicas tais como sessões de grupo,
jogos, dança, esporte, artes plásticas e musicais, artesanato, participação em
tarefas para o centro; 3) Psicoterapia específica, conforme o caso; 4) Contacto
com a realidade; 5) Trabalho com a família, fazendo desta uma ativa
participante.
O centro-dia, ou centro terapêutico, vem sendo usado também no campo
da gerontologia, pelo qual conserva o idoso seus vínculos familiares sendo,
simultaneamente, assistido por uma equipe especializada, em um melo que lhe
proporciona convivência e atividade produtiva.
A vivência comunitária é outra variação do procedimento de internação e
comunidade terapêutica. Pode assumir várias formas, desde instituições
destinadas a menores excepcionais ou desemparados, até instituições penais ou
conjunto residencial para idosos. Esse sistema tem algumas vantagens e
algumas desvantagens. Em geral provê meios assistenciais mais facilmente e
menos onerosos mas, por outro lado, afasta o indivíduo da realidade existencial
contribuindo, até certo ponto, para uma segregação social ou etária. Outro
perigo é o envelhecimento ou saturação da comunidade ou seja, o cansaço
resultante de uma constante vida em comum. Os inconvenientes apontados
podem ser removidos com uma organização suficientemente ampla e flexível,
com programações variadas e com população parcialmente rotativa. Pode-se,
também, em certos casos, limitar a estada residencial a alguns dias por semana
ou intercalá-la com temporadas em outros locais, principalmente junto à família.
3 - Procedimentos Centrados no Contexto Pessoal
Fundamentos
Ao longo dos tempos, a sociedade revê os focos de referência em que
balisa seus alvos, concentrando-se ora na pessoa, ora no grupo ou 'sistema, o
que acarreta, no campo do aconselhamento psicológico ou da psicoterapia,
correspondentes alterações. O conceito humanístico, 'voltado para uma atitude
antropocêntrica, geralmente se sucede ao período sociocêntrico, no retorno a
um equilíbrio natural. Essas tendências se alternam e, às vezes, coexistem. Hoje
parece estarmos diante de uma orientação predominantemente personalista em
que o indivíduo é o centro. Nesta conceituação, acentuada depois da II Grande
Guerra, o foco preferencial tem sido o homem, a pessoa antes do grupo, embora
alguns sistemas sociais existam como alvo prioritário.
Embora essas colocações e a luta pelos direitos humanos definam uma
marcante filosofia social, a distância é bem grande entre a idéia e a ação.
Mesmo no aconselhamento tipicamente centrado na pessoa, quando terapeuta e
cliente buscam libertar-se das amarras sociais, estas não conseguem ser
eliminadas. Os seres vivos têm medo de mudanças e apegam-se às estruturas
existentes. No humanismo psicológico, pois, o efeito máximo atingido parece
limitar-se a uma proposição para o futuro, isto é, ao planejamento para geração
posterior. O humanismo é um desenvolvimento e um aproveitamento daquilo
que é a pessoa, com ênfase na inovação, no enriquecimento experiencial e no
crescimento, o que não significa constante oposição social mas a capacidade e
a habilidade de extrair do melo o que é útil à pessoa e, em contrapartida,
oferecer ao melo o que pode ser a ele necessário para o equilíbrio geral. Neste
ponto, o aconselhamento e a psicoterapia de linha chamada' 'humanística" são
contrários à educação de massa, à modelagem social e à socialização
planejada.
Os métodos e técnicas dirigidos pelo enfoque humanístico partem do
princípio de que a pessoa, como organismo total, é um ser com características
próprias, que age e interage de acordo com as coordenadas básicas,
biopsíquicas e sociais de sua personalidade, em uma equação pessoal de que
nos falam tantos autores. O meio social é um corpo à parte, tão significativo
quanto O ente biopsíquico, mas não o alvo irremovível e indiscutível. A pessoa é
o centro e não o sistema de valores e de hábitos sociais. Francamente opostos
ao domínio sóclo-cultural, da primeira categoria de métodos (Capítulo 2), coloca
como objetivo básico a satisfação e o bem-estar individual, sem que isto
implique em rebeldia ou subversão mas, ao contrário, em busca de valores e de
opções que conciliem o EU pessoal com o EU social.
Os métodos e os procedimentos práticos atuam tanto no plano consciente
como no inconsciente da personalidade e tendem a ser fenomenológicos ou,
como diz Tyler: "Lida com o mundo como a pessoa o vê mais do que com a
realidade existente" (Sundberg e Tyler, 1963).
A pessoa atingida pela orientação individualista passa a sentir-se segura
e tranqüila à medida em que entende e vivencia seus problemas pessoais e
quando se torna capaz de enfrentar a realidade em todos os seus aspectos;
sente redução de tensões; o autoconceito se eleva; a crítica a si mesmo e aos
outros tende a diminuir e os sucessos e fracassos são percebidos como fatos
naturais próprios do viver e do vivenciar de cada um no seu momento de vida.
O aconselhamento psicológico e as técnicas psicoterápicas que
freqüentemente se intitulam humanísticas, ou centradas na pessoa, nem sempre
assim atuam, quer colocando como referencial o contexto sóclo-cultural (ver
capítulo anterior), quer focalizando o problema em si, a exemplo de outras
ciências. No enfoque centrado na pessoa, o trabalho terapêutico ou profilático é
intencionalmente voltado para o processo particular pelo qual os eventos
psíquicos ocorrem em uma dada pessoa. I 'Os erros da vida ocorrem quando o
indivíduo tenta representar algum papel que não o seu". Esta frase de May
(1977) esclarece bem a individualidade de cada um de nós. Não há tipos, nem
rótulos ou categorias de indivíduos ou de problemas. Há pessoas nas quais
condições orgânicas ou sociais geraram dificuldades, as quais foram
manipuladas de acordo com recursos pessoais em um dado momento. Todo
psicólogo experiente sabe que não há dois clientes iguais, embora,
aparentemente, os problemas sejam os mesmos. A vivência de cada um deles é
sempre “sui-generis". Diz Jung que cada um de nós traz em si uma constituição
específica de vida, indeterminável, que não pode ser substituída por outra. A
singularidade de cada pessoa e sua harmonia intrínseca são os alvos. A
Psicanálise de Freud, bem como as teorias e técnicas que dele se originaram,
constituem exemplos clássicos da orientação antropocêntrica, embora o controle
social e cultural esteja sempre presente.
Procedimentos comuns
A abordagem inicial, muitas vezes, é semelhante à usada na metodologia
da primeira categoria(capítulo 2), ou seja, há uma fase de relacionamento e
catarse na qual o cliente expõe seus problemas, formula sua "queixa" e o
psicólogo o assiste, refletindo seus sentimentos e demonstrando aceitação e
empatia (o que não significa aprovação ou reprovação). A partir dessa fase e de
acordo com um pré-julgamento que o psicólogo efetua sobre o cliente e as
possibilidades de atendimento, é fixado um sistema de encontros periódicos,
individuais ou em grupo.
Pode ou não haver diagnóstico psicológico no seu sentido tradicional.
Geralmente essa providência é dispensável em certas modalidades de atuação;
noutras, faz parte do processo e noutras é contra-indicado, como na
metodologia rogenana.
As técnicas de atuação são bastante variadas, subordinadas a uma
nomenclatura clássica e bem definida, como a Psicanálise, o Psicodrama, a
Gestalt e outras mais. Todas' lidam com a dinâmica do comportamento e
procuram levar o cliente a descobrir e manipular fontes profundas de ansiedade
que, conscientemente ou não, atuam sobre ele. À medida em que o cliente
consegue recompor as situações traumatizantes, em termos que suavizem suas
frustrações e conflitos, pela redução da sensibilidade (nível de tolerância), pela
melhor compreensão de si mesmo, do outro e do mundo que o cerca, ocorre
maior enriquecimento e fortalecimento do EU e conseqüentemente maiores e
melhores recursos para enfrentar e resolver dificuldades emocionais. A seguir
veremos, resumidamente, alguns exemplos de técnicas desta categoria.
Psicanálise e técnicas analiticamente orientadas
A Psicanálise parece constituir o mais significativo movimento no campo
da Psicologia, em todos os tempos. Embora os efeitos de seus métodos
terapêuticos sejam questionados por muitos, os referenciais teóricos por ela
estabelecidos vieram contribuir poderosamente para que o homem entendesse
muito do que se passa em seu comportamento. De tal forma suas proposições
corresponderam à necessidade de explanação da conduta humana, que seus
conceitos e sua terminologia tornaram-se elementos comuns, quer na linguagem
científica ou profissional, quer no dia-a-dia; impregnaram muitos dos conceitos
atuais sobre as reações humanas e tendem a universalizar-se pelo uso corrente.
Devida a Sigmund Freud, seu genial criador, as teorias e técnicas
passaram, posteriormente, por grandes e minuciosas elaborações e que se
classificam, hoje, em métodos freudianos ou ortodoxos, e muitos outros,
classificados de analiticamente orientados; envolvem associação livre, catarse,
interpretação de idéias, de atos, de atitudes, de sonhos, de resistências e a
manipulação do fenômeno de transferência (Freud, 1949, 1958).
Os conceitos básicos, derivados da Psicanálise, não se limitam
atualmente à tradicional relação terapeuta-cliente, no inviolável gabinete do
psicanalista, mas estendem suas aplicações a quase todos os campos do
comportamento humano, seja na educação, na política, na religião, como, mais
recentemente, dento das organizações de trabalho, a serviço do bem estar e da
produtividade. Assim, conflitos existentes nas relações profissionais,
enriquecimento do trabalho e o desempenho de chefes e subordinados têm sido
analisados e interpretados em termos freudianos.
Como processo terapêutico, a Psicanálise t': seus derivados constituem
tratamentos demorados e dispendiosos, aplicáveis às pessoas com repressões
e conflitos profundos, servindo o terapeuta como uma espécie de ponte pela
qual o cliente revive suas experiências passadas e o "aqui e agora" e reorganiza
seus sentimentos em relação a essas experiências e ao quadro geral da
personalidade.
A topografia da vida mental é entendida em termos de Id, Ego e
Superego, quando se utiliza a linguagem freudiana, ou com nomenclatura
diversa, mas de conceitos equivalentes, quando empregada por outras correntes
psicológicas. Na sua mais ampla acepção, o método empregado tem em vista o
estudo e a manipulação das forças psicológicas inconscientes que motivam o
comportamento humano. Este é analisado e interpretado, seja na atividade
manifesta no dia-a-dia, seja nos seus simbolismos mais diversos no trabalho, na
vida social, na arte e noutros aspectos do pensamento e da ação.
O alvo terapêutico básico e original é dotar a pessoa de consciência de
suas características e dos dinamismos que emprega para lidar com suas
experiências traumáticas anteriores, com seus instintos e suas energias. Como
técnica, o terapeuta assume um comportamento neutro, distante, de certa forma
ambíguo. A essência da terapia é a análise, interpretação e manipulação da
transferência, isto é, o encontro, pelo cliente, na figura do terapeuta, de um
substituto aceitável que simboliza seus problemas. Qualquer modificação
profunda na personalidade implica em compreender e explorar ativamente essa
transferência, de forma que o cliente perceba como seu passado interfere no
presente. À medida que o processo continua, o cliente liberta-se, pouco a pouco,
da dependência do analista e reformula suas atitudes básicas, o que geralmente
exige longo tempo e considerável habilidade do terapeuta. .
Muitas e profundas alterações ocorreram no campo aberto por Freud, de
tal forma que algumas delas passaram a constituir “escolas" ou movimentos com
concepções e métodos dificilmente ligados às raízes originais. Não vamos
comentá-las, dada a magnitude do assunto mas, apenas, citar os nomes mais
expressivos devendo-se notar que alguns destes aparecem nos itens seguintes,
uma vez que suas concepções podem se enquadrar em classificação
metodológica diferente. Dentre, pois, tais "escolas" ou movimentos significativos,
poderiam ser lembrados, em ordem alfabética: Abraham (1927); Alexander e
French (1946); Berne (1976); Binswanger (1956); Erickson (1950); Fenichel
(1941); Ferenczi (1926); Fromm (1941); Horney (1950, 1959); Jung (1927, 1939,
1968); Klein (1949); Lacan (1968, 1977, 1979); Laing (1963, 1967); Lowen
(1967); Perls (1976); Rank (1945); Reich (1945); Reik (1948); Rosen (1953);
Stekel (1940); Sullivan (1940, 1954)*. Algumas das contribuições destes autores
são mencionadas mais adiante.
. As datas mencionadas neste trecho, bem como em todo o livro,
correspondem às datas das publicações citadas nas referências bibliográficas.
Técnicas de reorganização cognitiva
A ênfase terapêutica, nesta linha de ação, é dirigida para os conceitos e
valores que o cliente desenvolveu e em função dos quais as dificuldades
vivenciais emergiram. Procura o psicólogo descobriras concepções "errôneas"
ou "inadequadas" do cliente e trazê-las a sua compreensão, modificando, assim,
o que Adler denominou de "estilo de vida" (1917).
O processo varia muito entre seus aplicadores consistindo,
genericamente, em entrevistas com o cliente, seus familiares, professores e
outras pessoas da sua constelação de vida, a fim de se ter idéias precisas das
desordens comportamentais. O mapa cognitivo é explorado; as dificuldades são
francamente discutidas, apontando-se as incoerências, ilogicidades e erros
interpretativos, atuando-se, principalmente, no plano consciente, racional e do
chamado bom senso. Adler dá grande atenção ao clima e às relações familiares
(1917); Ellis procura detectar as principais falsas concepções e tenta modificá-
las (1958, 1971); Phillips (1956), Dreikurs (1959), Mowrer (1953) e Frankl (1955)
têm idéias básicas correlatas, no sentido de uma abordagem cognitiva e racional
dos problemas. Este último de quem falaremos mais adiante, salienta-se pelo
foco dirigido ao encontro de um sentido de vida e à responsabilidade que a
pessoa assume no contribuir para a vida mais do que no usá-la. Um extenso
estudo da terapia cognitiva é encontrado em Beck (1976).
O cliente é instruído a lutar contra as falsas concepções, aignorar as
depressões ou ansiedades, enfrentando-as como algo passageiro, até certo
ponto inevitável, e a aceitar seus efeitos, bem como a culpa e as falhas pessoais
como indicadores de algo errado no seu estilo de vida.
A terapia cognitiva envolve técnicas especiais (Beck, 1976) que
abrailgem, também, a análise do que o cliente pensa e diz para si mesmo, no
seu monólogo interior. A teoria da dissonância cognitiva (Festinger, 1957) pode
oferecer pistas para estratégias de tratamento na linha comportamentalista
(Jensen, 1979). As técnicas de persuasão são também incluídas e analisadas
por diversos autores (Harrell, 1981) e, além disso, muito relacionadas com a
terapia comportamental na medida em que se cuida de um processo de
aprendizagem. Neste enfoque, os procedimentos têm em vista manipular os
sintomas e os problemas de ajustamento sem atentar para eventuais causas. As
sessões terapêuticas assumem, muitas vezes, as características de instruções e
de aulas. O uso de reforços, comportamento imitativo e observação de modelos
são largamente usados (vide Capítulo 4).
Técnicas de crescimento pessoal e autodeterminação
Embora haja algo em comum com outras posições psicodinâmicas, coube
a Rogers (1942) dar início a um posicionamento considerado, na ocasião,
revolucionário em matéria de aconselhamento e de psicoterapia. Em virtude de
sua larga repercussão e de tratar-se de uma linha de atuação que interessou
particularmente ao autor e a seus alunos dos cursos de Psicologia, é dedicado
um espaço especial sobre o assunto, apresentado no capítulo seguinte.
Técnicas diversas
Presenciamos, atualmente, uma babel de terapias, seja nesta categoria,
seja em outras, assinaladas nos Capítulos 2 e 4. Há grupos, movimentos e
serviços públicos e particulares (centros pastorais, centros de valorização da
vida, centros de emergência e de assistência a ansiosos, viciados ou
marginalizados, encontro de casais, encontro de jovens, grupos comunitários e
grupos de encontro em geral, grupos de gestantes e de idosos e um sem-fim de
proposições). Alguns se utilizam de lazer, entretenimentos, recreação comum;
outros utilizam o' esporte e os exercícios físicos; alguns empregam o esforço,
outros o repouso; uns propugnam o relaxamento e a descontração, outros, ao
contrário, a assunção da responsabilidade e da preocupação; alguns promovem
estados solitários e de meditação, outros o companheirismo e a convivência
grupal; outros, enfim, propõem a criatividade, a libertação e a expressão de si
mesmo, enquanto outros proclamam a submissão, a obediência e o
conformismo. Todos eles têm em comum a busca de soluções para problemas
emocionais ou circunstanciais, no plano existencial. As proposições terapêuticas
parecem estar ao sabor da atividade de muitos, bem como do charlatanismo de
alguns, embora haja um bom número de profissionais seriamente empenhados
em aplicar, controlar e estudar novas técnicas e seus efeitos nos clientes. Dentre
as técnicas que têm merecido considerável estudo, poderiam ser citadas
algumas, tais como:
 As técnicas suportivas ou de tranquilização, individuais ou em
grupo, geralmente destinadas a clientes em estado de grande ansiedade ou
depressão. Usam-se vários procedimentos, dentre os quais a catarse,
atividades físicas, compreensão e empatia, sugestão, persuasão, hipnose,
relaxamento físico e mental, repouso, placebos, em geral como
procedimentos iniciais seguidos, depois, por atividades programadas no
sentido lúdico, artístico, filantrópico, profissional, etc.
Nas técnicas suportivas procura-se, inicialmente, baixar o nível de
ansiedade, ou de depressão, elevando-se, por outro lado, o nível de
tolerância às frustrações e conflitos, principalmente quando estes são
irremovíveis (redução do autoconceito, perda de bens ou de parentes,
incapacidade física, convivência forçada com fontes de atrito, etc.). Não se
cogita de reorganizar a personalidade, mas de reduzir ou eliminar os
sintomas agudos, propiciando condições para uma programação terapêutica
posterior.
 A terapia gestáltica que parte da experiência organísmica,
colocando o corpo, com seus movimentos e sensações, no mesmo plano da
mente. A ênfase terapêutica consiste em colocar a pessoa em contacto com
as necessidades correntes e imediatas do organismo, Perls (1976), seu
principal fundador, coloca como fundamental a estrutura e a configuração da
percepção, isto é, o processo ativo que leva à construção de um todo
perceptivo organizado e significativo entre o organismo e seu meio. Os
desajustes e neuroses são conseqüências de separações e espaços não
naturais na formação das "gestalten" (configurações) e a ansiedade seria a
sensação de ameaça a essa unificação criativa.
O tratamento é, em geral, grupal, sob a forma de "workshops", nos quais
são usadas dramatizações, troca de posições e papéis, visando-se "minimizar o
espaço vazio entre os processos subjetivos e objetivos e restaurar na pessoa a
totalidade da experiência não-verbal concebida como uma espécie de elam vital"
(Kovel, 1976). Uma extensão do método é a terapia gestáltica centrada na
pessoa, como forma de conjunção entre a posição rogeriana e gestaltista e da
qual falamos a seguir.
 A terapia gestáltica centrada na pessoa é, no dizer de
Maureen MilIer * , uma' 'terapia de movimento; movimento através do
espaço, do tempo e dos níveis de consciência. O objetivo é a
libertação do movimento natural de energia de vida, através de ação
espontânea e livre que leva a pessoa à percepção e à satisfação de
suas necessidades através de harmonioso contacto com o universo
de onde provém energia para a vida".
* Tradução do autor, de manuscrito a ele enviado pela autora.
Os seguintes conceitos são básicos:
1. O universo é um todo; é racional; comporta-se' de acordo com suas
próprias leis e está em evolução;
2. A vida, inclusive a vida humana, segue um caminho de crescimento em
direção à complexidade. Essa tendência formativa é um movimento no sentido
da realização construtiva de possibilidades que lhe são inerentes e que não
podem ser destruídas sem se destruir todo o organismo;
3. É da natureza da consciência humana procurar sempre contacto cada 
vez mais profundo com uma realidade absoluta;
4. A consciência tem capacidade para expandir-se aprofundando o 
contacto com a realidade absoluta.
A postura do terapeuta na abordagem gestáltica centrada na pessoa é a
de fé nesses conceitos, de humildade face ao reconhecimento de que aquilo que
é conhecido como personalidade é, apenas, um pequeno fragmento da
totalidade. É uma postura de curiosidade à procura de uma visão mais ampla da
realidade; é uma postura de incursão e experimento, do cliente e do terapeuta,
em novos e mais ricos contactos com o mundo. O terapeuta é alguém em quem
se confia como co-explorador dós mistérios internos e externos que constituem a
existência do cliente e que o ajuda a descobrir os limites de sua energia.. de seu
movimento e de sua capacidade para nutrir seu contacto com seu mundo (Miller,
1981).
 A terapia biofuncional e bioenergética, resultante das
contribuições de Reich (1945), tem como núcleo a idéia de que o
estado emocional depende da função. do organismo; vivemos e
atuamos fundamentalmente através do corpo e de suas energias,
expressas ou reprimidas. Neste sentido, a função vital e saturar do
orgasmo é um exemplo frisante. É necessário penetrar na "couraça
muscular" que o cliente desenvolve a fim de libertar o material
inconsciente. Essa liberação de emoções reprimidas, através da
manipulação dos estados e tensões corporais, permite a mobilização
da energia orgânica. Daí Q nome de orgonoterapia a essa posição.
Posteriormente, Lowen desenvolveu o pensamento reichiano, com
algumas contribuições, sob o nome de terapia bioenergética.

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