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Malinowski e o Funcionalismo - AULA 4

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Malinowski e o Funcionalismo – AULA 4
Bronislaw Malinowski: Vida e Obra
Bronislaw Malinowski nasceu em 16 de maio, na Cracóvia, antiga cidade polonesa em 1884. Interessou-se primeiramente pelas Ciências Exatas, obtendo o título de doutor em Física e Matemática na Universidade de Cracóvia aos 24 anos de idade, ou seja, em 1908. Logo após sua defesa de tese adoeceu, sendo orientado pelo seu médico a abandonar definitivamente os estudos científicos.
Naquele momento, teve contato pela primeira vez com a obra de James Frazer – O ramo de ouro – e, inclusive, afirmou em inúmeras ocasiões que a leitura desse autor fez dele um antropólogo.
O início da carreia de Malinowski foi marcado por um período de mudanças na Antropologia, caracterizado pelo desenvolvimento de novas técnicas de pesquisa e pela crítica aos métodos de análise vigentes.
De acordo com Durham (1978), até o fim do século XIX, quase todos os antropólogos jamais tiveram contato presencial com os povos primitivos sobre os quais escreviam. Seus trabalhos eram baseados, principalmente, em material histórico e arqueológico sobre as civilizações clássicas e orientais, e em informações sobre as sociedades tribais, oriundas dos relatos de viajantes missionários e funcionários dos governos coloniais.
É claro, havia exceções:
· Vimos que Morgan trabalhava com informantes iroqueses.
· Boas foi o precursor do trabalho de campo nos Estados Unidos, desenvolvendo pesquisas sistemáticas entre os índios da costa noroeste.
· Na Europa, Marett observava com clareza a mudança de ênfase com as pesquisas de campo, ganhando ascendência sobre as preocupações teóricas.
Assim, no final do século XIX, a pesquisa de campo na Europa começava a ter relevância, pois os antropólogos ou estudiosos e missionários com formação em Antropologia reconheceram a importância das informações obtidas por meio da etnografia para a solução dos problemas teóricos colocados pela Antropologia.
Quando Malinowski chega a Inglaterra, em 1910, a pesquisa de campo em Antropologia já estava consolidada naquele país e toda uma nova geração de pesquisadores investigadores de campo tinha sido formada, entre eles Radcliffe-Brown (1881-1954) que havia acabado de finalizar sua pesquisa entre os povos andamendeses realizada entre os anos de 1906 e 1908.
O Funcionalismo
A emergência do trabalho de campo possibilitou a sistematização de novos conhecimentos e colocou em evidência o modo tradicional de utilizar os dados empíricos 2 .
A nova geração de antropólogos de campo, cujo os nomes principais são justamente Radcliffe-Brown e Malinowski, foi a responsável pela crítica feroz dos postulados evolucionistas e difusionistas que dominavam até então a Antropologia clássica, instaurando um novo método de investigação e interpretação conhecido como “Escola Funcionalista”.
O funcionalismo, na Antropologia, como explica Durham (1978), desenvolve-se em três linhas distintas: aquele praticado pelos discípulos de Franz Boas, nos Estados Unidos; e a de Malinowski e a de Radcliffe-Brown, na Inglaterra.
Seja qual for o funcionalismo praticado, ele é sinônimo de trabalho de campo. Com essa afirmação, não queremos dizer que o funcionalismo se limita a uma técnica de pesquisa. A crítica realizada por Malinowski à Antropologia Clássica e aos problemas antropológicos por ela solucionados precede seu trabalho de campo. Ainda de acordo com Durham (1978, p. 10):
Contudo, como deixa evidente Kuper (1978), Malinowski manteve-se evolucionista durante toda a sua carreira. Acreditava que a coleta dos fatos culturais vivos iria gerar, em última análise, leis evolucionárias.
No prefácio que escreveu para a publicação de A vida sexual dos selvagens, Malinowski incluía uma retratação do evolucionismo.
Reconheceu que, ainda em 1927, seu principal interesse era pelo estudo do evolucionismo e, até aquele momento, não se sentia à vontade para abandonar tal estudo. Escreveu ele:
Vimos – em nossa aula 3 – que Émile Durkheim forneceu vários conceitos que contribuíram para o estudo científico da realidade social. Dentre esses, o conceito de função e integração funcional foram incorporados por Malinowski e Radcliffe-Brown pelos quais buscaram formular um método próprio e chegar a uma nova teoria Antropológica.
Durham (1978, p.10) afirma que a crítica que Malinowski e os demais funcionalistas dirigem à Antropologia clássica destina-se, sobretudo:
À arbitrariedade das categorias utilizadas. A comparação entre sociedade diversas é feita por meio de um desmembramento inicial da realidade em itens culturais tomados como elementos autônomos; com os fragmentos assim obtidos os autores procedem a um rearranjo arbitrário, agrupando-os de acordo com categorias tomadas de sua própria cultura e fabricando com isso instituições, complexos culturais e estágios evolutivos que não encontram correspondências em qualquer sociedade real.
Do ponto de vista dos funcionalistas, os componentes culturais não podem ser manuseados e misturados aleatoriamente porque fazem parte de um sistema definido, próprio de cada cultura, e que cabe ao antropólogo descobrir.
Nesse tipo de investigação o conceito de função é utilizado como instrumento permitindo reconstruir, a partir dos dados supostamente incoerentes que se oferecem à observação de um pesquisador, de outra cultura, os sistemas que ordenam e dão lógica aos costumes que ordenam o comportamento humano.
O Trabalho de Campo
 Mapa da rota do Kula realizado pelos povos trobriandeses pesquisados por Malinowski.
A grande mudança de Malinowski no trabalho de campo deve-se à prática da observação participante. Os princípios dessa prática e seu desenvolvimento estão relatados na introdução do livro Argonautas do Pacífico Ocidental. (MALINOWSKI, 1975, p. 20):
De fato, em minha primeira pesquisa etnográfica no litoral sul, foi somente quando me vi só no distrito que pude começar a realizar algum progresso nos meus estudos e, de qualquer forma, descobri, onde estava o segredo da pesquisa de campo eficaz. Qual é, então, esta magia do etnógrafo, com a qual ele consegue evocar o verdadeiro espírito dos nativos, numa visão autêntica da via tribal? Como sempre, só se pode obter êxito por meio da aplicação sistemática e paciente de algumas regras de bom-senso assim como de princípios científicos bem conhecidos, e não pela descoberta de qualquer atalho maravilhoso que conduza ao resultado desejado, sem esforços e sem problemas. Os princípios metodológicos podem ser agrupados em três unidades: em primeiro lugar, é lógico, o pesquisador deve possuir objetivos genuinamente científicos e conhecer os valores e critérios da etnografia moderna. Em segundo lugar, deve o pesquisador assegurar boas condições de trabalho, o que significa, basicamente em viver mesmo entre os nativos, sem depender de outros brancos. Finalmente, deve ele aplicar certos métodos especiais de coleta, manipulação e registros da evidência.
 Canoa utilizada pelos povos trobriandeses para a realização do Kula. Note o antropólogo Malinoswki em pé segurando o mastro em cima da canoa.
Por meio da observação participante inovou a prática antropológica, passando a viver por longos períodos de tempo na aldeia, mantendo-se distante do convívio com outros europeus e aprendendo o idioma nativo.
Embora não tenha dispensado o uso de informantes locais, substituiu-o em grande parte pela observação direta, que só é possível por meio da convivência direta, da capacidade de compreender o que está sendo dito e de participar dos diálogos e eventos d
É importante salientarmos que o princípio dessa técnica repousa no processo de aculturação do observador consistindo na assimilação das categorias inconscientes que organizam a totalidade da cultura investigada.
Assim, o observador pode captar uma totalidade de significados presente no cotidiano da vida tribal, que é anterior ao processo sistemático de coleta e ordenação das informações etnográficas.
Dito de outra maneira, a compreensão inconsciente da totalidade da vida tribal, antecede e permite o procedimento analítico conscienteda investigação da realidade cultural.
A observação participante trás de volta, para Malinowski, o problema da totalidade. Mas ela não o soluciona. A familiaridade com a vida nativa e a capacidade de conviver no seu cotidiano constituem condições prévias para o etnógrafo; trabalho de coleta e sistematização de dados, e a interpretação e integração de dados empíricos de modo a recriar a realidade vivida pelo nativo e apreendida pela intuição do pesquisador.
Malinowski dedicou-se à solução dessa tarefa na elaboração das monografias que realizou sobre os trobriandenses.
O Kula
No ano de 1921, Malinowski finalizou sua primeira monografia sobre os trobriandeses, à qual deu o nome de Argonautas do Pacífico Ocidental: um relato do empreendimento e da aventura dos nativos nos arquipélagos de Nova Guiné Melanésia. Em 1922, a obra foi publicada na Inglaterra.
Essa monografia difere, em grande parte, daquelas já então publicadas, pois não realiza uma descrição da totalidade da vida na aldeia nem uma análise particular de um dos aspectos da cultura: economia, parentesco, religião, mitologia, cultura, matérias etc.
O que Malinowski faz é analisar todos esses aspectos a partir de uma única instituição: o Kula.
Malinowski faz a análise institucional do kula, onde encontra a solução para reconstituir, por meio da descrição etnográfica, a integração e a coerência da vida tribal.
Para Malinowski, a cultura é constituída de um todo integrado e não diferenciado, pois apresenta núcleos de ordenações e correlações: as instituições. Por sua vez, as instituições são apresentadas e criadas pela própria cultura, evitando que a análise funcionalista seja estabelecida de infindáveis correlações.
De acordo com Durham (1978, p. 15), para Malinowski, a instituição:
É sempre uma unidade multidimensional, conforme a formulação elaborada anos mais tarde, no seu ensaio “Uma teoria científica da cultura”, ela compreende uma constituição ou um código, que consiste no sistema de valores em vista dos quais os seres humanos se associam; isto é, corresponde à ideia da instituição tal como é concebida pelos membros da própria sociedade. Compreende também um grupo humano organizado, cujas atividades realizam a instituição. Essas atividades se processam de acordo com normas e regras, que constituem mais um elemento dessa totalidade. Finalmente, compreende um equipamento material que o grupo manipula no desenvolvimento de suas atividades. Esses diferentes elementos definem o que Malinowski chama estrutura da instituição.
Para Malinowski, a cultura envolve sempre seres humanos em suas relações concretas, pessoas que manuseiam objetos e se comunicam por meio da linguagem e de outras formas variadas de simbolismo.
Os objetos materiais, a organização social e o simbolismo constituem, para Malinowski, as três dimensões ligadas, e a realidade social nunca poderá ser compreendida na sua totalidade se não levarmos em consideração todas as suas dimensões.
 À esquerda a antropólogo Malinowski durante sua permanência nas Ilhas Trobians.
Escreve Malinowski (1978, p. 32) na introdução de Argonautas:
“Além do esboço firme da constituição tribal e dos atos culturais cristalizados que formam o esqueleto, além dos dados referentes à vida cotidiana e ao comportamento habitual que são, por assim dizer, sua carne e seu sangue, há, ainda, a lhe registrar-se o espírito – os pontos de vista, as opiniões, as palavras dos nativos, pois, em todo ato da vida tribal, existe, primeiro, a rotina estabelecida pela tradição e pelos costumes; em seguida, a maneira como se desenvolve essa rotina; e, finalmente, o comentário a respeito dela, contido na mente dos nativos”.
Em Os argonautas, Malinowski formulou as linhas gerais de seu método e lançou novas bases para a Antropologia moderna – produto de uma reflexão meticulosa que elaborou novas técnicas de investigação e novos métodos de interpretação, combinando objetividade científica e vivência pessoal.
De acordo com Durham (1978), os trabalhos de Malinowski ultrapassaram, em muito, o caráter restrito dos especialistas em Antropologia. Talvez apenas Morgan (1818-1881), antes de dele, e Lévi-Strauss (1908-2009), depois, tenham deixado uma repercussão ampla de seus trabalhos inclusive entre o público leigo.
A partir do texto estudado, comente alguns dos possíveis fatores da popularidade da obra de Malinowski.
Gabarito
A popularidade da obra de Malinowski reside na apresentação de uma nova abordagem sobre o homem e na maneira de entender o comportamento humano. Uma das maiores contribuições contida nos “Argonautas”, é a desmistificação de que as sociedades tribais são “museus do passado do homem”, “fósseis vivos”, “aglomerados de crenças e costumes irracionais”. As culturas das sociedades não ocidentais adquirem, a partir da obra de Malinowski, plenitude de significado e o comportamento nativo aparece como um todo coeso e integrado.
2. Em sua monografia Argonautas do Pacífico Ocidental: um relato do empreendimento e da aventura dos nativos nos arquipélagos da Nova Guiné Melanésia, publicada, originalmente, em 1922, Malinowski usou pela primeira vez a fotografia como recurso etnográfico.
Analise a fotografia a seguir, tendo como referência o texto discutido nesta aula.
Gabarito
A foto pode ser analisada sob diferentes aspectos, por exemplo, uma das ideias centrais de Malinowski a aculturação do pesquisador. Para que esse processo de aculturação aconteça se faz necessário assimilar as categorias inconscientes que organizam a totalidade da cultura observada. O pesquisador compreende a totalidade de significados presentes no dia a dia da aldeia que precede ao processo sistemático de coleta e ordenação das informações etnográficas.
De acordo com Malinowski, a pesquisa etnográfica deve ser organizada em que fases?
Gabarito
Para o autor, a primeira fase é a produção de documentação estatística por evidência concreta, o que possibilita, por exemplo, a criação de quadros sinóticos. Em seguida, vem a captura do tipo de comportamento do cotidiano da vida tribal a partir da coleta de dados da vida ordinária, o que identifica a rotina do trabalho, o cuidado com o corpo, a maneira de comer e preparar as refeições etc. Por fim, há a busca da mentalidade do nativo e de seus modos de pensar e sentir.
4. Um dos pressupostos básicos da Antropologia é a relação de estranhamento entre o pesquisador e o objeto de estudo. Tendo Malinowski permanecido longo tempo de vivência entre o povo que pesquisou, em sua opinião, é possível, nessas condições, praticar o estranhamento antropológico?
Gabarito
Embora, Malinowski tenha vivido por um longo período de tempo em os trobriandeses, essa vivência prolongada não o fez um trobriandês. O estranhamento continuou a existir, mas o fato a ser notado é que, já na década de 1970, o antropólogo Gilberto Velho (1978) chama a atenção para o fato de haver um envolvimento inevitável com o objeto de estudo e de que isso não constitui um defeito ou uma imperfeição. Assim, segundo Velho (1987, p. 126):
O que sempre vemos e encontramos pode ser familiar mas não é, necessariamente, conhecido; e o que não vemos e encontramos pode ser exótico mas, até certo ponto, conhecido. No entanto, estamos sempre pressupondo familiaridade e exotismo como fontes de conhecimento ou desconhecimento, respectivamente.

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