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O Estrutural funcionalismo é uma corrente teórica que está ligada ao funcionalismo com o propósito que é a manutenção da ordem, da estabilidade social e forma de como essas sociedades estão organizadas. Um dos teóricos mais importantes foi o britânico Radcliffe Brown, que nos dá o conceito das funções sociais dentro do campo das Ciências Sociais, ou seja, o autor relata sobre como traçar leis gerais sobre o funcionamento da sociedade, sociedade essa de carne e osso. Radcliffe denota que, os seres humanos individuais fazem parte de uma sociedade a partir das estruturas sociais, que são as interações, as relações e as atividades feitas pelo indivíduo, cada interação tem a sua função dentro desse contexto maior e mais generalizado. O ser humano ocupa a percepção de uma personalidade social dentro de um contexto social. O autor faz uma analogia da vida orgânica, através da morfologia, da fisiologia e da evolução de dado organismo, e o situa dentro das estruturas orgânicas em que se encontram o indivíduo, ou seja, a pessoa que interessa nesse sentido. Atuar com hipóteses, que imaginar que todas as coisas têm uma função e, entender quais as funções das coisas o faz entender que a Antropologia é um ramo das ciências naturais, trazendo uma complexidade dos organismos, uma idiossincrasia, dialogando especialmente com Franz Boas, quando traz o ponto de vista funcionalista que tenhamos que investigar o mais completamente e criteriosamente possível todos aspectos da vida social. (RADCLIFFE BROWN, 1972, pág 228), mas não tendo como abordagem notadamente a cultura assim como Boas. O autor observa os extremos do processo social do indivíduo, desde a sua composição biológica (as estruturas que formam as células do corpo),até a sua atuação como ser humano dentro de uma sociedade. Radcliffe considera como parte da estrutura social, em primeiro lugar, todas as relações de pessoa a pessoa. Por exemplo a estrutura de parentesco de qualquer sociedade consiste de uma quantidade dessas relações diádicas, como entre pai e filho, ou irmão da mãe ou filho da irmã.[…] Em segundo lugar, incluo sobre estrutura social a diferenciação de indivíduos e classes por seu desempenho social. (RADCLIFFE BROWN, 2013, pág: 172) 1 Mestranda em Antropologia Social pelo Programa de Pós Graduação em Antropologia PPGAn - UFMG 2 Corrente antropológica inspirada em Durkheim e preocupava-se em entender a função de uma instituição social como uma correspondência entre ela e a necessidade da organização social. (RADCLIFFE-BROWN, 1973, pág: 220) Radcliffe faz uma crítica a obra os Nuers de Evans Pritchard, demonstrando que, mesmo com todo o aspecto estruturalista utilizado em seu trabalho de campo o autor ainda foi menos proveitoso a tratar de grupos sociais duráveis e que são aspectos importantíssimos da estrutura. (RADCLIFFE BROWN, 1972, pág 236). As observações diretas são importantes dentro desse contexto em que o Antropólogo está fazendo a etnografia, entender as estruturas e fazer uma comparação sistemática das sociedades, e as relações entre os grupos não é tarefa fácil. O estudo das estruturas sociais irá tratar de uma série de relações em uma determinada cultura em si, e com relação a outras culturas, sejam essas trocas com gado (Evans Pritchard), sejam com trocas ritualísticas na instituição do Kula (Malinowski) entretanto é preciso que ocorra essas relações de agrupamentos dos indivíduos, pois o ser humano é o utilizado de estudo do antropólogo, Radcliffe demonstra que: “Como pessoa, o ser humano é objeto de estudo do antropólogo social. Não podemos estudar pessoas a não ser nas condições de estrutura social, nem podemos estudar a estrutura social exceto em termos de pessoas que são as unidades de que ela se compõe.” (RADCLIFFE BROWN, 1972, pág: 239). A antropologia não se deve apenas analisar as funções culturais dos indivíduos utilizam na sociedade, mas, de alguma maneira entender como as estruturas sociais atuam como funcionalidade dentro de uma determinado ambiente. E saber tratar as transformações nas estruturas sociais que desempenham funções características de uma determinada cultura. O autor traz o exemplo do continente africano que foi colonizado pelos países europeus, que, de alguma forma, ergue-se nesse continente uma nova estrutura política, social e econômica dentro do contexto no qual viviam os africanos, bem como a língua, os valores, os costumes, etc serão modificados devido às novas estruturas funcionais da sociedade da colonização dominadora. Abordando mais a respeito da teoria do funcionalismo, em seu trabalho, Malinowski diz que em qualquer uma de suas formas o funcionalismo está estreitamente vinculado ao trabalho de campo. (MALINOWSKI, 1984, pág: 9) teve a oportunidade de realizar uma pesquisa de campo nas Ilhas Trobriand na Pápua Nova Guiné, onde se fixou e concentrou seus estudos, que deu início a sua grande obra “Argonautas do Pacífico Ocidental” em 1914, em pleno início da 1ª Guerra Mundial, com todas as dificuldades, instituindo uma metodologia mais verdadeira e absoluta devido a participação do antropólogo dentro do contexto sócio/cultural da população etnografada, refletindo um novo método de pesquisa etnográfica. Dentro do contexto etnográfico, Malinowski desconstruiu alguns conceitos referentes às práticas da cultura ocidental no decorrer de sua pesquisa, como peculiaridades em relação à ampla liberdade sexual pelos trobriandeses, no qual a castidade é uma virtude totalmente desconhecida e a sociedade estritamente matrilinear. O Kula, assim chamada a canoa que servia de trocas comerciais entre os trobriandeses, demonstra uma funcionalidade, Malinowski estudou intrinsecamente essa instituição, levando em consideração a regularidade, a ordem, mas também as exceções, as particularidades, que são marcas de complexidade, visto que as trocas são realizadas no reboque do Kula. Entender todos esses processos nos coloca numa posição metodológica de que a ciência consegue explicar fatos científicos, muita das vezes complexos, mas que são de vivências simples e cotidianas. Em sua introdução, o autor nos afirma que: “além do esboço firme da constituição tribal e dos atos culturais cristalizados que formam o esqueleto, além dos fatos referentes à vida cotidiana e ao comportamento habitual que são, por assim dizer, sua carne e seu sangue, há ainda a registrar-se-lhe o espírito – os pontos de vista, as opiniões, as palavras dos nativos: pois em todo ato de vida tribal existe, primeiro, a rotina estabelecida pela tradição e pelos costumes; em seguida, a maneira como se desenvolve essa rotina; e finalmente o comentário a respeito dela, contido na mente dos nativos.” (MALINOWSKI, 1976, pág: 32) Malinowski denota a importância da feitiçaria entre os povos das ilhas Trobriand, na descrição de condução do leitor em um contexto geral, dialogando com Frazer, que em sua obra “O Ramo de Ouro” faz alusão ao olhar do antropólogo sobre as crenças de determinadas culturas, mesmo que Frazer nunca tenha conhecido as culturas estudadas por ele, prefaciando ao grande obra os Argonautas, o teórico Frazer faz uma abordagem relacionada com os princípios da magia do Kula, revelando a importância, “a julgar pela maneira com que ele a descreve, a realização dos rituais da magia e o uso de fórmulas mágicas são indispensáveis ao bom êxito do Kula em todas as suas fases.” (FRAZER, in MALINOWSKI, 1984, pág: 09) A cultura tem a função de satisfazer as necessidades dos indivíduos, fornecendo respostas coletivas e organizadas, Malinowski inverte essa relação do evolucionismo, no qual a cultura dos primitivos era tida como grotesca, como aberrações, e inverte essa lógica particularista da característica de cada cultura, o autor torna a Antropologia como a ciência da alteridade. E o mesmo mostra que a partir de um objeto, ou de um costume simples, pode de alguma maneira funcionar como um conjunto de uma determinada sociedade tendo assim uma visão deum método mais naturalista de uma cultura integrada. Após uma antropologia de gabinete chega uma Antropologia participante, que combinou com várias técnicas de observação, no qual o Antropólogo deixa claro o passo a passo da pesquisa, tendo em vários pontos um realismo etnográfico. Do ponto de vista científico, em relação ao evolucionismo, as técnicas ainda não eram suficientes, pois a antropologia é feita a partir de ideias de comparações e de relatos. O diacronismo é muito presente na metodologia de pesquisa de Malinowski, pois as estruturas funcionalistas têm esse recorte sincrônico das regularidades com uma perspectiva histórica, mesmo sendo algo mais ensaísta, essa premissa a partir de uma etnografia participante e contemporânea, de convívio direto, vivendo as experiências dos nativos, existe uma certa clareza de melhora da Antropologia relacionada ao trabalho de campo como premissa de reconstrução do campo antropológico, que o Evolucionismo não evidenciou em suas vertentes antropológicas. Uma questão étnica que está por trás dessas premissas abordadas pelos funcionalistas é a tentativa de entender os valores plurais da sociedade, Malinowski em sua grande obra reforça os sistemas de linhagens que são importantes para a política, e vão ser mais fortes devido a questão do matrimônio , os sistemas de vendetas para dialogar e recair para a guerra, a relação entre as ilhas, a distribuição geográficas das aldeias, que seria uma distribuição circular e o sistema matrilinear. E a importância de uma determinada ilha em relação às outras ilhas, o autor determina o entendimento dentro do contexto etnográfico através das trocas cerimoniais ocorridas na instituição do Kula, a magia envolvida no processo de fabricação da canoa, como um método etnográfico que a reverencia. Um dos seguidores de Malinowski, Evans Pritchard desenvolveu o seu trabalho de campo com os povos nuers do Sudão, na África, através de uma pesquisa encomendada pelo país, como súdito da Coroa, esse autor trabalhou entre os povos nilotas compreendendo as relações sociais entre as tribos e trazendo a consciência da função que desempenhava cada estrutura social ali observada. O autor demonstra a dificuldade do antropólogo no contexto da pesquisa devido ao não domínio da língua, e ao “fazer uma boa etnografia” mesmo com as dificuldades encontradas ao longo de sua estadia na região de estudo. O autor denominou os nuers como povos agro pastoris, devido a funcionalidade das plantações e da criação do gado. O gado exerce várias funções, uma delas é o capital, pois é utilizado em trocas comerciais, para o acúmulo de riquezas, a prosperidade, etc, assume também a função de fornecimento de matéria-prima, artefatos, alimentação, tornando o boi como algo que faz parte da economia dos povos nuers. A temporalidade, a distribuição espacial e a geografia são bem descritivos em sua obra, Evans Pritchard traz uma marcação ecológica e cultural e uma política estrutural entre os povos nuer. Uma obra prima para a investigação científica, Pritchard teve a sutileza de observar minuciosamente muitas características estruturais entre os nilotas para então compreender o funcionamento dos processos sociais ali ocorridos. Além disso, não só entender a política segmentada dos povos, mas, o que pensam, como reagem a determinados fatores culturais/sociais, mais precisamente quando existe uma relação do 3 No caso do matrimônio, o casamento não está associado a quase nenhum ato cerimonial público ou privado. A mulher simplesmente se muda para a casa do marido, e só mais tarde é que se realiza a troca de uma série de presentes. Com efeito, uma das características mais importantes do casamento entre os habitantes de Trobriand é o fato que a família da esposa tem por obrigação contribuir substancialmente para a economia do novo lar, ao mesmo tempo que presta serviço ao marido. (MALINOWSKI, 1984, pág: 51/52) antropólogo e o nativo como uma relação de alteridade, que, no começo o autor não conseguia obter, embora no decorrer da pesquisa pode ter mais acessibilidade ao dia-a-dia das tribos. A descrição científica que, foi concebida através da participação observante do autor pode nos levar a entender que essas relações dos nuers com a natureza e a descrição etnográfica dos atores, assim como a etnografia de Malinowski, da ecologia leva um certo romantismo por parte do antropólogo, são costumes que sempre perduram entre os povos, entre as gerações. As reações de lealdade entre as sessões e as tribos, a lei que existe na tribo é reconstitutiva e os assassinatos são os extremos da lei, no sistema de linhagens coopera o sistema político e o chefe pele de leopardo, que exerce o papel de mediador e não de autoridade da Lei, como representação da soberania popular, como função de representatividade e não de autonomia, e nos leva a entender como pensar a política de outras maneiras em relação ao chefe pele de leopardo, o autor busca isso no sistema de linhagens, através da coesão social, moral. Pritchard consegue realizar um relatório muito minucioso a respeito dos povos Nuer, bem organizado, o método de fazer etnografia entre os nativos consistiu na observação participante, no qual o antropólogo vivenciou as estruturas de relações sociais dentro da tribo, e nos remete a uma habilidade literária ao narrar em sua obra as experiências traçadas entre os Nuer. O trabalho de campo é algo que perpassa os limites da singularidade do antropólogo e atravessa o campo subjetivo. O autor trabalha necessariamente as ferramentas de linguagem para o entendimento da língua dos povos, para tentar entender as escalas que ocorrem nas classificações, organizações e entendimentos, o estudo da linguagem assim surge para entender o outro. A narrativa estruturalista é muito evidente devido a organização da etnografia feita nos povos Nuer, a classificação dos dados e a função de cada estrutura que um nuer têm com outros povos de sua tribo e com os Dinka, nos denotam como existe a organização da etnografia como forma econômica de examinar os dados, ocorrendo da natureza para a política, é preciso entender cada função que o boi, a pesca, a agricultura, a ecologia, o sistema de linhagens, etc dentro de um conjunto que os evidenciam como povos agro pastoris e que os permitem ter relações entre si e com outras tribos. A estruturação da pesquisa em abordar o entendimento das relações, a reflexão crítica e profunda sobre como fazer Antropologia com algo que o antropólogo gosta é de suma importância para o processo constitutivo da pesquisa de campo, mesmo que para em primeira instância para Pritchard isso havia de certo, ser algo que iria lhe custar um tempo, o autor utilizou da diversidade da etnografia em várias abordagens para entender que a estrutura política funciona com existência 4 O chefe pele de leopardo é simplesmente um mediador numa situação social específica, e sua mediação têm êxito apenas porque os laços comunitários são reconhecidas por ambas as partes e porque estas desejam evitar – apenas por enquanto – mais hostilidades. Somente quando ambas as partes querem que o caso seja resolvido é que o chefe pode intervir com sucesso. Ele constitui o artifício que permite que os grupos normalizem um estado de coisas, quando desejam atingir esse objetivo. (PRITCHARD, 2002, pág:184/185) de um governo, e abordando os diversos aspectos em que a tribo vive, sejam eles ecológicos, culturais, políticos, de linhagens, tempo e espaço. Tomando como fim de exemplificação, a teoria funcional estruturalista nos remete a vida cotidiana de uma base de uma residência, os pilares são estruturas que dão sustentação, sendo elas feitas de concreto e ferro, essas estruturas básicas e comuns e não se diferenciam no processo de construção, são feitas por um processo semelhante, e tem funções semelhantes, contudo, esses pilares têm acabamentos distintos, após a sua construção, o dono da residência pode optar por dar o acabamentoque julgar necessário, assim é com a sociedade, existe uma estrutura universal, traços comuns entre as sociedades, entretanto cada grupo humano vai olhar para essa estrutura e vai atribuir sentidos e significados diferentes, então, não podemos dizer que os selvagens e primitivos são povos menos evoluídos em detrimento a outros seres humanos, cada sociedade trata a estrutura comum a maneira que lhe é dada, fazendo-a detentora de aspectos culturais importantes dentro do contexto de temporalidade sócio/cultural. REFERÊNCIAS RADCLIFFE BROWN, A.R., 1881 – 1955. Estrutura e função na sociedade primitiva / A.R. Radcliffe Brown; tradução de Nathanael C. Caixeiro. - 2. ed. - Petrópolis, RJ: Vozes, 2013. MALINOWSKI, Bronisław. Argonautas do pacífico ocidental: um relato do empreendimento e da aventura dos nativos nos arquipélagos da Nova Guiné. São Paulo: Abril, 1978 [1922] EVANSPRITCHARD, Edward Evans. Os Nuer. São Paulo: Perspectiva, 2002 [1940]
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