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RESENHA - SCHWARZ, R. Nacional por subtração.

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Universidade Federal do Pará (UFPA) 
Núcleo de Altos Estudos Amazônicos (NAEA) 
Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento 
Sustentável do Trópico Úmido (PPGDSTU) 
 
 
 
 
 
 
RESENHA DE TEXTO 
 
Nacional por subtração.​ ​SCHWARZ, Roberto. 
Aula dada no curso "Tradição/Contradição", organizado por Adauto Novaes para a 
Funarte. Publicação original na Folha de São Paulo, 07/06/1986, e reprodução nos 
livros ​Que horas são?​ (São Paulo, Cia. das Letras, 1987) e ​Cultura e Política​ (Rio de 
Janeiro, Paz e Terra, 2001), ambos do autor. 
 
 
 
 
 
 
DISCIPLINA 
Formação Econômica e Social do Brasil e da Amazônia 
 
PROFESSOR 
Prof. Dr. Fábio Fonseca de Castro 
 
ALUNO 
Rafael Acatauassú Ferreira 
 
DATA 
19/12/2019 
 
Universidade Federal do Pará (UFPA) 
Núcleo de Altos Estudos Amazônicos (NAEA) 
Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento 
Sustentável do Trópico Úmido (PPGDSTU) 
 
Roberto Schwarz (Nascido em 1938) 
Crítico literário e professor 
 
Nascido em Viena, na Áustria, em 1938, veio para o Brasil ainda pequeno, com 
os pais, os quais eram judeus e fugiam do movimento nazista que ocorria na Europa. 
Graduou-se em Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo (USP), em 1960, e 
partiu então para os Estados Unidos, onde cursou mestrado em Teoria Literária na 
Universidade de Yale, de 1961 a 1963, para depois voltar ao Brasil e se tornar 
assistente de Antonio Candido no Departamento de Teoria Literária da USP e professor 
de Teoria Literária e Literatura Comparada na mesma Universidade. Foi autor de uma 
obra crítica extensa, respeitada nas principais universidades do Brasil, em especial 
sobre a obra de Machado de Assis, também muito pesquisada por Candido. 
 
Em 1968, com a ditadura militar, partiu para o exílio em Paris, onde, anos 
depois, obteve o doutorado em Estudos Latino-Americanos na Sorbonne (Universidade 
de Paris III). Quando retornou ao Brasil, em 1978, começou a lecionar literatura e teoria 
literária na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), pela qual se aposentou, 
em 1992. Suas principais obras literárias, além dos livros onde esse texto está 
presente, são críticas relacionadas à literatura nacional e à obra de Machado de Assis. 
 
 
 
RESENHA DO TEXTO 
 
O texto de Schwarz foi fruto de uma aula dada em 1986 no curso 
"Tradição/Contradição", realizada no Núcleo de Estudos e Pesquisas da Fundação 
Nacional de Artes (FUNARTE). Desde sua criação, em 1978, o núcleo oferecia ciclos 
de debates sobre diversos temas e os debates filosóficos acabaram por se tornar, 
através da reunião dos originais das conferências, em livros editados pela Companhia 
das Letras, como foi o caso do material de Schwarz. 
 
 
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Figura 1. 
Capa do livro Que horas são?, 
de Roberto Schwarz, da Cia. 
das Letras de 1987. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 2. 
Mesmo livro, em sua 3ª 
reimpressão, de 2002. 
 
A aula de Schwarz, que gerou o texto, é voltada ao tema da cultura e de sua 
formação em nosso país, visando debater o papel das elites intelectuais, especialmente 
a partir da cultura literária nacional. O texto tem uma certa fluidez, como toda aula, 
mas, ainda assim, é possível identificá-lo e dividi-lo em três partes: a primeira onde o 
autor apresenta o contexto histórico-nacional, conceitos e referências para debater 
teoria da cultura e a ideia de elites intelectuais; a segunda, onde ele faz uma análise de 
um texto de Sílvio Romero, de 1897, sobre imitação cultural e a cultura nacional; e, 
finalmente, apoiando-se na crítica feita ao texto de Silvio e nas ideias e conceitos 
originalmente apresentados, a conclusão do texto. 
 
O autor inicia o texto afirmando que, desde a independência, em 1822, muitas 
reflexões têm sido feitas a respeito do ​"caráter postiço, inautêntico, imitado da vida 
cultural que levamos"​. É importante perceber a ênfase que Schwarz apresenta ao fato 
desse debate se aprofundar a partir da independência nacional, pois, posteriormente, 
ele irá retornar nesse ponto para defender suas considerações finais. 
 
Ele continua citando exemplos de como esse característica de arremedo está 
evidentemente impregnada em nossa cultura: ​"O Papai Noel enfrentando a canícula em 
roupa de esquimó é um exemplo de inadequação… a guitarra elétrica no país do 
samba é outro". ​A questão do samba como representante cultural do Brasil também é 
observado, em outras palavras, por outra figura da cultura nacional, Gilberto Gil, na 
canção Chiclete com Banana (1972), quando diz: ​"​Só ponho bebop no meu samba, 
Quando o tio Sam pegar no tamborim"​. ​Tais exemplos têm em comum o fato de que 
"todos comportam o sentimento da contradição entre a realidade nacional e o prestígio 
 
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ideológico dos países que nos servem de modelo" (Scharwz, 1986). Ainda, segundo o 
autor, na vontade de se adequar às realidades culturais externas, muitas vezes a 
cultura nacional atropela movimentos e ciclos culturais internos, gerando uma certa 
frustração, além de não aproveitar todos os aspectos dos movimentos culturais internos 
em voga: 
 
 
"Mas é fácil observar que só raramente a passagem de uma 
escola a outra corresponde, como seria de esperar, ao esgotamento 
de um projeto; no geral ela se deve ao prestígio americano ou 
europeu da doutrina seguinte." (SCHARWZ, 1986) 
 
 
No universo literário, segundo o autor, aqueles que ​"souberam retomar 
criticamente e em larga escala o trabalho dos predecessores, entendido não como 
peso morto, mas como elemento dinâmico e irresolvido, subjacente às contradições 
contemporâneas."​, como Machado de Assis, Mário de Andrade e Antonio Candido, 
foram aqueles que acabaram se sobressaindo na literatura nacional do período. Por 
exemplo, como afirmam Pires e Oliveira (2010): 
 
 
“Vejamos um trecho no qual Machado, ironicamente, não 
poupa a narrativa de O Primo Basílio (de Eça de Queirós) povoada 
de minúcias e pormenores: "Quanto à preocupação constante do 
acessório, bastará citar as confidências de Sebastião a Juliana, 
feitas casualmente à porta e dentro de uma confeitaria, para termos 
a ocasião de ver reproduzidos o mostrador e as suas pirâmides de 
doces, os bancos, as mesas, um sujeito que lê um jornal [...] mas 
por que avolumar tais acessórios ao ponto de abafar o principal?" 
(ASSIS, 1961, apud PIRES E OLIVEIRA, 2010)." 
 
 
Schwarz ressalta também que o retorno crítico não se trata de uma continuidade 
pela continuidade, e sim da construção de um campo de debate sobre "problemas 
reais, particulares, com inserção e duração histórica próprias", ​e que podem acabar 
posteriormente constituindo conhecimento novo. 
 
 
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Finalizando a "​introdução do texto​", o autor apresenta o conceito do título, 
explicando que nacional por subtração era o tipo de pensamento intelectualnacionalista - fruto desse raciocínio contrário ao pastiche, à cópia de padrões culturais 
europeus não portugueses - que durou até o começo do século XX, onde buscava-se, 
através da eliminação de tudo que não era nativo, uma cultura nacional. "​O resíduo, 
nesta operação de subtrair, seria a substância autêntica do país". ​(Schwarz, 1986) 
 
Tal ideia encontraria a encarnação ideal, no universo literário, ​"na figura de 
Policarpo Quaresma," ​personagem criado por Lima Barreto em 1915, ​"a quem o afã de 
autenticidade o leva a se expressar em tupi, língua estranha para ele"​. A título 
comparativo, as próximas gerações pensadores nacionais, podem ser encarnadas na 
figura de Macunaíma (1928) - de Mário de Andrade, o herói preguiçoso e sem caráter - 
e de ​Quarup (1973) ​- de Antonio Calado, que sai a procura do núcleo interior, do ponto 
geográfico central do Brasil, só para encontrar um formigueiro -, personagens que não 
se importam tanto com a importância da existência de uma cultura pura, nacional de 
origem. Assim, inicialmente, teríamos dois movimentos nacionalistas culturais, com a 
diferença que no primeiro e inicial, o ideal de nacionalismo era orientado ao nacional 
por subtração, enquanto no segundo, a partir do movimento liderado por Oswald de 
Andrade nos anos 20, o ideal era o nacional por reinterpretação, onde deglutir e 
regurgitar seria considerado cultura, ​"cópia sim, mas regeneradora"​. Oswald, inclusive 
consegue refletir bem todas as questões relacionadas ao movimento, assim como a 
importância de se revisitar o passado cultural, em uma única e célebre frase de seu 
manifesto antropofágico: ​"Tupy or not tupy, ​that is the question​"​. 
 
Um terceiro momento cultural, surgido a partir da segunda metade do século XX, 
com a intensificação da comunicação de massa e da globalização, é aquele no qual 
"Pela primeira vez, … entra em circulação o sentimento de que a defesa das 
singularidades nacionais contra a uniformização imperialista é um tópico vazio", 
(Schwarz, 1986) no qual já nem se analisa o que vem de fora, apenas apropria-se da 
cultura internacional como própria também e no qual ​"o combate por uma cultura 
"genuína" faz papel de velharia"​. Importante lembrar que essa aula foi ministrada 
durante um momento político econômico conturbado de nosso país, no qual a crise 
mundial do petróleo tinha devastado o capital mundial e o Brasil possuía uma inflação 
galopante e descontrolada. Além disso, o país estava saindo de um longo período 
ditatorial, que se refletiu na cultura como um período de "vazio cultural", segundo 
 
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Gaspari, Hollanda y Ventura (2000). Ainda que o debate sobre a redemocratização 
política estivesse em pauta, seria possível se produzir e se debater cultura nacional 
num cenário caótico como esse? 
 
Para Roberto Schwarz sim. Tanto que o autor critica a ausência do conceito de 
nacionalismo no debate intelectual sério dos anos 80 e de como era incongruente tal 
fato, já que em áreas como a de administração da cultura, ​"não há como fugir à 
existência efetiva da dimensão nacional"​. Hollanda (2000) concorda com o raciocínio 
de Roberto Schawrz afirmando que, ​"apesar de reconhecer a “vitalidade do silêncio”, … 
a produção cultural precisava redefinir seu espaço e seu papel na sociedade durante 
os anos 80" e não manter-se nas ​"novidades literárias" do período, como o gênero de 
“memórias de exílio/poesia na prisão”​, uma nova forma de retratar os anos de chumbo 
(O que é isso companheiro?, Dossiê Herzog, etc). Para a autora, apesar da relevância, 
esse tipo de literatura ficava devendo um balanço crítico das intervenções políticas do 
período, pois sustentava-se apenas no relato das experiências vividas. 
 
Finalizando seu raciocínio e utilizando uma linha de pensamento semelhante ao 
do químico Lavoisier, que há cerca de 200 anos atrás, afirmou que ​"Na Natureza, nada 
se cria, tudo se transforma", ​o autor questionava também o conceito de cópia 
apresentado pelos nacionalistas por subtração: 
 
 
“Por que dizer que o anterior prima sobre o posterior, o 
modelo sobre a imitação, o central sobre o periférico, a 
infra-estrutura econômica sobre a vida cultural e assim por 
diante? Segundo os filósofos em questão [Foucault e Derrida], 
trata-se de condicionamentos… preconceituosos, que não 
descrevem a vida do espírito em seu movimento real, antes 
refletindo a orientação inerente às ciências humanas tradicionais. 
Seria mais exato e neutro imaginar uma seqüência infinita de 
transformações, sem começo nem fim, sem primeiro ou segundo, 
pior ou melhor… Resta ver se o rompimento conceitual com o 
primado da origem leva a equacionar ou combater relações de 
subordinação efetiva.” (SCHWARZ, 1986) 
 
 
 
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Feitas tais considerações, Schwarz começa a segunda parte do texto, 
retornando a sua introdução, para dizer que ​"Em síntese, desde o século passado 
existe entre as pessoas educadas do Brasil - o que é uma categoria social, mais do que 
um elogio - o sentimento de viverem entre instituições e idéias que são copiadas do 
estrangeiro e não refletem a realidade local" ​e, para explicar melhor o surgimento 
desse sentimento e do ideal nacionalista por subtração, o autor traz o trecho de um 
livro de Silvio Romero, de 1897, onde ele criticava um trabalho de Machado de Assis 
da época, por ter elementos novos, frutos de uma ​"anglomania inepta, servil e 
inadequada"​. Ainda, seguindo esse texto: 
 
 
… Deu-se, entretanto, uma espécie de disparate (...): 
uma pequena elite intelectual separou-se notavelmente do 
grosso da população, e, ao passo que esta permanece quase 
inteiramente inculta, aquela, sendo em especial dotada da 
faculdade de aprender e imitar, atirou-se a copiar na política e 
nas letras quanta coisa foi encontrando no Velho Mundo, e 
chegamos hoje ao ponto de termos uma literatura e uma política 
exóticas, que vivem e procriam em uma estufa, sem relações 
com o ambiente e a temperatura exterior… É este o mal de 
nossa habilidade ilusória e falha de mestiços e meridionais, 
apaixonados, fantasistas, capazes de imitar, porém 
organicamente impróprios para criar, para inventar, para produzir 
coisa nossa e que saia do fundo imediato ou longínquo de nossa 
vida e de nossa história… Durante os tempos coloniais, a hábil 
política da segregação, afastando-nos dos estrangeiros, 
manteve-nos um certo espírito de coesão. Por isso tivemos 
Basílio, Durão, Gonzaga, Alvarenga Peixoto, Claudio e Silva 
Alvarenga, que se moveram num meio de idéias puramente 
portuguesas e brasileiras… (ROMERO, 1897) 
 
 
Além de diminuir as culturas não portuguesas que passavam a influenciar os 
modos de vida brasileiro, como a francesa e a inglesa, o texto de Romero insinuava 
que a independência era algo ruim para acultura nacional, ao ampliar a gama de 
relações culturais com outros países, chegando até a dizer que a origem do ​"disparate" 
cultural que estava se originando, estava ​"na aptidão imitativa de mestiços e 
 
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meriodionais, poucos dotados para a criação"​. ​Ora, tais pensamentos parecem ser no 
mínimo imperialistas, segregadores, anti-republicanos, racistas e xenofóbicos. 
 
Schwarz então rechaça os argumentos de Romero apoiando-se em observações 
como a de Antonio Candido (1969): ​"o poeta árcade que metia uma ninfa no ribeirão do 
Carmo não estava faltando com a originalidade: incorporava Minas Gerais à tradição do 
Ocidente, e, meritoriamente, cultivava esta mesma tradição naquelas afastadas terras"​. 
Corroborando com tal raciocínio, podemos encontrar tais exemplos até mesmo no 
Teatro da Paz, em Belém do Pará, inaugurado em 1878, onde a Deusa Atenas aparece 
junto à uma onça pintada no teto do ambiente central. Isso não era considerado cópia, 
nem inválido, e sim uma homenagem à estética neoclássica de nossos antepassados 
europeus. 
 
Ainda discordando da ​"denúncia do transplante cultural" que o texto de Romero 
quer fazer, para Schwarz fica nítido que foi devido a deliberação de uma elite cultural, 
da qual Silvio Romero fazia parte, que a imitação passou a ter conotação pejorativa, 
especialmente se não fosse de Portugal, e que tal argumento era, na verdade, mais 
usado para mascarar o grande problema decorrente da segregação da produção 
cultural de outras classes não dominantes. Tal segregação inclusive ficava explícita em 
casos como os das críticas a Machado de Assis, mulato e filho de escravos alforriados, 
considerado hoje um dos maiores escritores escritores brasileiros, mas que durante 
muito tempo foi renegado, especialmente por parte de alguns de seus 
contemporâneos. Finalizando a segunda parte do texto, o autor diz: 
 
 
“Complementarmente a esfera segregada tampouco 
permanecia improdutiva, e suas manifestações mais adiante 
teriam, para o intelectual de extração culta, o valor de uma 
componente não-burguesa da vida nacional, servindo-lhe como 
fixador da identidade brasileiras… Noutras palavras o sentimento 
aflitivo da civilização imitada não é produzido pela imitação, 
presente em qualquer caso, mas pela estrutura social do país, 
que confere à cultura uma posição insustentável, contraditória 
com o seu autoconceito, e que entretanto já na época não era 
tão estéril quanto os argumentos de Silvio fazem crer.” 
(SCHWARZ, 1986) 
 
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Além disso, concluindo, Schwarz encerra o texto apresentando os principais 
problemas que a ​"denúncia do transplante cultural"​, a ​percepção de cópia, de ​"pastiche 
para inglês ver", sobre o trabalho dos produtores culturais não burgueses da época, 
feita por Romero e seus contemporâneos gerava: ​Fazia supor que a imitação poderia 
ser evitável; Que o mal-estar da classe dominante, seria também o de toda nação; 
Dava a entender que as elites deveriam conduzir a si próprias de outro modo; 
Concentrava a crítica na relação entre elite e modelo, quando o ponto decisivo estava 
na segregação dos pobres, excluídos do universo de produção da cultura 
contemporânea; Formulava uma solução voltada à auto-reforma da classe dominante, 
quando a solução deveria estar focada no acesso dos trabalhadores à condição de 
produzir conteúdo cultural para expressar assim seus interesses; Via a cópia como algo 
inferior mas não motivada por questões históricas e evolutivas; E fazia com que se 
opusesse o nacional ao estrangeiro, o original ao imitado, oposições que eram irreais, 
não permitindo ver a parte do estrangeiro no próprio, a parte do imitado no original, e 
também a parte original no imitado. 
 
Trata-se de um texto com muitas referências culturais, importante para 
esclarecer as visões que o conceito de nacionalismo cultural teve ao longo do tempo e 
para o debate da cultura de um modo geral. Apesar de ter uma forte orientação para o 
universo literário, o autor usa referências bem conhecidas, o que torna seu texto mais 
acessível. Como foi fruto de uma aula, podem ser necessárias várias leituras para que 
o leitor absorva detalhes mais específicos da ideia de Schwarz, mas vale a pena, uma 
vez que alguns questionamentos e raciocínios apresentados no texto são relevantes 
até os dias atuais. 
 
 
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
 
ANDRADE, M. de. Macunaíma, o herói sem nenhum caráter. Rio de Janeiro : Nova 
Fronteira, 2015. 
 
ANDRADE, O. de. O manifesto antropófago. In: TELES, Gilberto Mendonça. 
Vanguarda européia e modernismo brasileiro: apresentação e crítica dos principais 
manifestos vanguardistas. 3ª ed. Petrópolis: Vozes; Brasília: INL, 1976. 
 
Universidade Federal do Pará (UFPA) 
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ASSIS, J. M. M. de. Instinto de nacionalidade. In: Crítica literária. São Paulo: Mérito, 
1961. 
 
BARRETO, Lima. Triste Fim de Policarpo Quaresma. 17 ed. SP: Ática, 1997 
 
CALLADO, A. Quarup. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1967 
 
CANDIDO, A. Formação da literatura brasileira, São Paulo, Martins, 1969, v. 1, p.74. 
 
GASPARI, E., HOLLANDA, H. B., VENTURA, Z. Cultura em trânsito 70/80: Da 
repressão à abertura. Rio de Janeiro, RJ: Aeroplano, 2000. 
 
GIL. G. Chiclete com Banana. In: Expresso 2222.São Paulo: Philips Records, 1972. 
 
OLIVEIRA R. P. M. de. Machado de Assis: a realidade e o Realismo. CES Revista, Juiz 
de Fora v. 24, n. 1, 2010, p 221-236. 
 
ROMERO, S. Machado de Assis. Rio de Janeiro:Laemmert & C., 1897, p.121-123. 
 
SCHWARZ, R. Nacional por subtração. In: ​Que horas são?​ ​Ensaios. ​São Paulo: Cia. 
das Letras, 1987.

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