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A Linguagem na Elaboração de Materiais para a Educação a Distância Clareza e precisão na elaboração de materiais para AVA Responsável pelo Conteúdo: Profa. Dr. Ana Lucia Tinoco Revisão Textual: Profa. Esp. Kelciane da Rocha Campos Nesta unidade, trabalharemos os seguintes tópicos: • Introdução • A escolha das palavras na produção de textos para AVA • Paráfrases • Organização dos enunciados • A revisão Fonte: iStock/Getty Im ages Objetivos • Compreender o conceito de clareza e precisão no uso da linguagem verbal; • Estudar o funcionamento de estratégias para a clareza e a precisão na elaboração de enunciados e textos para AVA; • Conhecer estratégias linguísticas para garantir clareza e precisão na escrita de textos para materiais para AVA. Nesta unidade da disciplina “O uso Linguagem para a Elaboração de Materiais para EAV”, vamos compreender o conceito de clareza e precisão no uso da linguagem verbal e explorar estratégias linguísticas para elaboração de enunciados e textos escritos para materiais destinados a AVA. Para um melhor aproveitamento na nossa disciplina, são muito importantes a interação e o compartilhamento de ideias com seus colegas e tutor(a) para a construção de novos conhecimentos. Para interagir com eles, utilize as ferramentas de comunicação disponíveis no Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) Blackboard (Bb), como Fórum de Dúvidas e Mensagens. Contamos com o entusiasmo e a participação de todos. Clareza e precisão na elaboração de materiais para AVA UNIDADE Clareza e precisão na elaboração de materiais para AVA Contextualização Você já deve ter lido um texto ou ouvido a fala de alguém para os quais não conseguiu atribuir nenhum sentido, ou seja, você já se deparou algumas vezes com “discursos vazios”. Assim são chamados os textos, orais ou escritos, que “falam, falam, falam e não dizem nada”, como se diz mais popularmente. Há também a expressão “encher linguiça” para textos de provas ou trabalhos, quando o produtor do texto não tem mais informações ou conteúdo a oferecer, mas precisa preencher um determinado número de linhas... Mais uma vez nos deparamos com o “tal” discurso vazio. Nesta unidade, vamos trabalhar exatamente o contrário para a elaboração de textos para materiais para AVA. Nela, vamos mostrar algumas estratégias para tornar o texto mais preciso e mais claro para veicular as informações e os conteúdos que precisamos fornecer aos estudantes numa disciplina ou curso em AVA. Veremos, no entanto, que nem sempre percebemos que não estamos sendo claros e precisos, e muitas vezes nos perdemos nas palavras, precisando da leitura de outros para nos auxiliar na elaboração de textos para AVA. Por isso, a etapa da revisão, da qual falamos ao final da unidade, também é essencial. Antes de chegarmos lá, vale a pena experimentar uma espécie de jogo, em que, combinando frases já dadas em uma determinada ordem, podemos gerar “verdadeiros” discursos vazios. Vamos tentar? Leia então com atenção o seguinte texto: A tabelinha que você encontra a seguir foi publicada na Folha de São Paulo em 1998 e, desde então, circula pela internet. Segundo a informação do jornal, sua versão original teria sido publicada numa revista polonesa. A tabelinha foi traduzida por autor desconhecido e corresponde a uma versão melhorada de uma compilação surgida pela primeira vez há mais de vinte anos, na revista “Time”. Trata-se de um verdadeiro guia para elaboração de “discurso vazio”. É pura parolagem, um verdadeiro tratado do blábláblá. Talvez não seja coisa muito nova, mas certamente é divertida (para os amigos do idioma) e útil (para os inimigos). Combinando a expressão listada na primeira coluna com outras das demais, na ordem 1, 2, 3 e 4 é possível montar um texto sem dizer nada. As variações possíveis são cerca de 10 mil e permitem ao orador embusteiro, literalmente falando, “ao orador pilantra”, que fale ininterruptamente por mais de 40 horas, sem dizer coisa nenhuma. Vamos ver se funciona mesmo? Escolha uma expressão da coluna 1; em seguida, acrescente a ela uma expressão da coluna 2, e depois da coluna 3 e da coluna 4, sucessivamente, e veja o “belo” texto que você pode formar. Você pode repetir a operação até quatro vezes e terá um belo parágrafo que não diz absolutamente nada. 6 7 Procure ir escrevendo enquanto junta essas partes para que possa vislumbrar bem o seu parágrafo e o que estamos querendo mostrar com esse “jogo”. Faça essa operação pelo menos duas vezes, variando os trechos escolhidos de cada coluna. Você vai se surpreender com a sua própria capacidade de formar textos que não dizem nada a ninguém. Vamos ao trabalho! Coluna 1 Coluna 2 Coluna 3 Coluna 4 Caros colegas, a execução deste projeto nos obriga à análise das nossas opções de desenvolvimento no futuro. Por outro lado, a complexidade dos estudos efetuados cumpre um papel essencial na formulação das nossas metas financeiras e administrativas. Assim mesmo a expansão de nossa atividade exige a precisão e a definição dos conceitos de participação geral. Não podemos esquecer que a atual estrutura da organização auxilia a preparação e a estruturação das atitudes e das atribuições da diretoria. Do mesmo modo, o novo modelo estrutural aqui preconizado contribui para a correta determinação das novas proposições. A prática mostra que o desenvolvimento de formas distintas de atuação assume importantes definições das opções básicas para o sucesso do programa. Nunca é demais insistir, uma vez que a constante divulgação das informações facilita a definição do nosso sistema de formação dos quadros. A experiência mostra que a consolidação das estruturas prejudica a percepção da importância das condições apropriadas para os negócios. É fundamental ressaltar que a análise dos diversos resultados oferece uma boa oportunidade de verificação dos índices pretendidos. O incentivo ao avanço tecnológico, assim como o início do programa de formação de atitudes acarreta um processo de reformulação das formas de ação. extraído da Folha de São Paulo – 28/06/98. Agora que você verificou como podemos construir discursos vazios, vamos verificar exatamente o que é necessário fazer para evitá-los e tornar nossos textos exemplos de clareza e precisão na escrita em AVA. Contamos com sua atenção e participação! 7 UNIDADE Clareza e precisão na elaboração de materiais para AVA Introdução O tema desta unidade é clareza e precisão na elaboração de materiais para AVA. Vamos abordar a importância da escolha das palavras para garantir a clareza e a precisão na hora de elaborar os materiais para AVA. Vamos estudar também estratégias que podem auxiliar a tornar o texto mais compreensível, desde a escolha das palavras, até a organização de enunciados e de parágrafos. Mas, o que é clareza? O dicionário (Houaiss e Salles, 2001, p. 235) traz os seguintes significados para o verbete clareza: 2 qualidade do que é inteligível. 6 compreensão, percepção, entendimento. E define claro (Houaiss e Salles, 2001, p.236) como algo 14 que representa as coisas ao vivo com toda a exatidão (diz-se da memória ou da imaginação) 15 fácil de apreender ou entender 16 que compreende ou percebe facilmente (diz-se das faculdades intelectuais) Uma linguagem clara deve, então, ser de fácil compreensão, procurando representar as coisas com exatidão. Sabemos que não é fácil dizer as coisas com exatidão, com clareza, até porque, na interação verbal, os interlocutores têm conhecimentos diferentes, o que implica compreensão das coisas também diferente, não é? Como temos sempre o intuito de nos fazer compreender, devemos, portanto, procurar ser claros e buscar utilizar a linguagem com precisão. E o que é precisão? O mesmo dicionário (Houaiss e Salles, 2001, p.2281) define precisão como sendo: 4 Escolha exata das palavras e construções que expressem com fidelidade um pensamento. Concluímos, assim, que a precisão e a clarezana redação de textos escritos têm a ver especialmente com duas questões: a escolha das palavras e a organização dos enunciados. Nos próximos itens vamos abordar essas duas questões. Mas há ainda mais um detalhe ao qual devemos estar atentos na elaboração de textos escritos em geral, e especialmente se eles forem destinados a processos educativos em AVA. Além de cuidarmos da escolha das palavras e da organização do texto, precisamos, no fim da redação, realizar uma boa revisão. Também abordaremos estratégias para fazer a revisão textual. 8 9 A escolha das palavras na produção de textos para AVA Quando elaboramos um texto para AVA, devemos ter um cuidado especial com a escolha das palavras, não apenas no sentido de não escolher palavras que possam ser mal interpretadas pelos estudantes, mas também no intuito de garantir a precisão daquilo que desejamos dizer (cf. ARCOVERDE e CABRAL, 2004). É importante ter claro que quanto mais precisos formos, mais claro será nosso texto, possibilitando melhor compreensão por parte de nossos leitores, os estudantes. Com relação à escolha das palavras, vale lembrar que devemos evitar palavras de sentido genérico demais. No joguinho que lhe propusemos na seção “Contextualização” desta unidade, os enunciados todos têm um sentido bastante genérico, podemos dizer que são mesmo extremamente genéricos; por isso, não dizem nada precisamente. São também exemplos de palavras de sentido genérico: Coisa, Negócio “Coisa”, “negócio” são substantivos que podem referir qualquer objeto ou assunto de forma geral, mas não especificam exatamente o que é. Alguns pronomes demonstrativos também têm a propriedade de poder referir qualquer outra palavra já dita em um texto, ou mesmo um trecho inteiro de um texto. São exemplos de pronomes demonstrativos de sentido genérico: isso, isto. Veja um exemplo: Menos preciso, portanto menos claro Mais preciso, portanto mais claro A penicilina foi encontrada quase por “acaso”, no ano de 1928, por Alexander Fleming. Fleming fazia estudos sobre o combate de bactérias em feridas, que causavam muitas mortes por ferimentos do dia a dia, acidentes, ou ferimento de guerra. O cientista saiu de férias e esqueceu sua cultura da bactéria Staphylococcus aureus sobre a bancada do laboratório, exposta ao sol. Quando voltou, se deu conta do deslize e foi observar o que tinha ocorrido com a amostra. Isso o surpreendeu. A penicilina foi encontrada quase por “acaso”, no ano de 1928, por Alexander Fleming. Fleming fazia estudos sobre o combate de bactérias em feridaxs, que causavam muitas mortes por ferimentos do dia a dia, acidentes, ou ferimento de guerra. O cientista saiu de férias e esqueceu sua cultura da bactéria Staphylococcus aureus sobre a bancada do laboratório, exposta ao sol. Quando voltou, se deu conta do deslize e foi observar o que tinha ocorrido com a amostra. Essa visão o surpreendeu. Ao chegarmos ao último enunciado do texto da esquerda, ficamos nos perguntando o que de fato surpreendeu Flemming: o deslize pelo fato de ter esquecido sua cultura exposta ao sol? O que tinha ocorrido com a amostra que ficara ao sol? Para decidirmos a qual parte do texto se refere o pronome isso, precisamos pensar um pouco, pois o pronome “isso” não nos permite identificar com clareza a que termo ele se refere. O mesmo não acontece com o trecho da direita, que deixa claro que Flemming ficou surpreso em ver o que acontecera com a amostra deixada por acaso ao sol. O que nos permite determinar com certeza de que se trata do ocorrido com a amostra é a expressão “essa visão”, que, ao contrário do pronome “isso”, especifica claramente a que parte do texto ela faz referência. 9 UNIDADE Clareza e precisão na elaboração de materiais para AVA Além dos pronomes demonstrativos que elencamos acima, há também os pronomes indefinidos, que têm por característica serem vagos. Eles têm “sentido vago ou exprimem quantidade indeterminada” (BECHARA, 1999, p.168). São exemplos de pronomes indefinidos: alguém, certo, qualquer, algum, algo. Veja como eles funcionam em enunciados. Suponhamos que Pedro, ao chegar a sua casa, receba o seguinte recado: Pedro, Alguém ligou para você e disse algo, mas não compreendi muito bem. Disse para você encontrar alguma pessoa em algum lugar, a certa hora, mas confesso que já não me lembro, pois não anotei. Qualquer hora você vai conseguir compreender quem foi. Ao ler o bilhete, Pedro vai ficar completamente desinformado, pois não há informação precisa sobre quem telefonou, com quem ele deve se encontrar, onde deve encontrar essa pessoa, a que horas. Considerando o caráter genérico dessas palavras que acabamos de ver, devemos evitá-las nos textos para AVA. Mesmo quando as utilizamos em substituição a outra mais precisa no desenvolvimento do texto, devemos evitá-las, dando preferência àquelas que expressem de forma mais precisa o que desejamos dizer. Precisamos sempre utilizar palavras que expressem com precisão o que queremos dizer. O exemplo a seguir ilustra como podemos escolher de forma precisa palavras em textos teóricos: Texto menos preciso Texto mais preciso Psicologia social é um ramo da psicologia que estuda como as pessoas pensam, influenciam e se relacionam umas com as outras. Para entender a coisa do “social” com a psicologia, quer concebida como ciência da mente (psique) quer como ciência do comportamento, é preciso esclarecer como isso pode ser pensado e compreendido. Segundo Aroldo Rodrigues (alguém que escreveu sobre o tema): “a psicologia social é uma ciência básica que tem como objeto de estudo as manifestações comportamentais suscitadas pela interação de uma pessoa com outras pessoas, ou pela mera expectativa de tal interação. A influência dos fatores situacionais no comportamento do indivíduo frente aos estímulos sociais”. Psicologia social é um ramo da psicologia que estuda como as pessoas pensam, influenciam e se relacionam umas com as outras. Para entender a relação do “social” com a psicologia, quer concebida como ciência da mente (psique) quer como ciência do comportamento, é preciso esclarecer como esse “social” pode ser pensado e compreendido. Segundo Aroldo Rodrigues (um dos primeiros psicólogos brasileiros a escrever sobre o tema): “a psicologia social é uma ciência básica que tem como objeto de estudo as manifestações comportamentais suscitadas pela interação de uma pessoa com outras pessoas, ou pela mera expectativa de tal interação. A influência dos fatores situacionais no comportamento do indivíduo frente aos estímulos sociais”. 10 11 No quadro que acabamos de ler, o texto da esquerda traz destacados três exemplos de como podemos ser vagos ao expor informações. Na coluna da esquerda, temos “coisa” em vez de “relação”; “isso” em vez de “esse social”; “alguém” em vez de “um dos primeiros psicólogos brasileiros”. Observe que a palavra “relação” exprime de forma clara o que se estabelece entre social e psicologia, que entre eles há uma relação, não uma coisa qualquer. O uso da palavra “coisa” pode dizer respeito a qualquer outra palavra, como, por exemplo, contradição, oposição, descaso. A escolha da palavra com precisão deixa claro que o que se estabelece no texto é uma relação. Da mesma forma, a escolha de “esse social” diz com precisão a que palavra o trecho do texto se refere, isto é, refere-se ao fator social da psicologia, não a qualquer outro. Com o emprego de isso, podemos ficar nos perguntando se o que pode ser pensado e compreendido não seria a psique, ou o comportamento, palavras que aparecem antes no texto. O uso preciso da expressão “esse social” nos indica com clareza a que parte do texto devemos relacionar o que vem em seguida e isso representa uma economia de tempo para o estudante. Por último, quando lemos a citação de Aroldo Rodrigues sabendo que ele foi um dos primeiros psicólogos brasileiros a escrever sobre psicologia social, nosso interesse pela citação dele e nossa atençãona sua leitura aumenta relativamente a saber apenas que ele é alguém a mais que tenha escrito sobre o tema. Podemos dizer até que a precisão na explicação do autor da citação chama a atenção do leitor e funciona argumentativamente, motivando seu interesse. Veja como é importante a escolha das palavras para garantir clareza e precisão na elaboração dos textos teóricos! As escolhas auxiliam, inclusive, na orientação da leitura! Uma questão prática que envolve também a escolha das palavras diz respeito aos comandos que elaboramos para os estudantes. Precisamos dizer com clareza o que esperamos que eles façam numa atividade, por exemplo, e para onde eles devem enviar a atividade realizada. Devemos, portanto, utilizar palavras precisas sobre o que deve ser realizado. Veja o exemplo a seguir: Menos preciso Mais preciso Leia parte do quinto capítulo do livro X. Depois de realizar a leitura indicada, responda as questões que estão disponíveis no fórum desta semana. Envie as respostas até o dia 24/06. Leia a Parte II, do quinto capítulo do livro X. Depois de realizar a leitura indicada, responda as questões que estão disponíveis no fórum desta semana. Envie as respostas até o dia 24/06. No enunciado que se encontra na coluna da esquerda, pede-se que o estudante leia “parte” de um capítulo de livro, mas não há informação de que parte é essa, o que deixa o estudante sem orientação precisa do que deve fazer. O enunciado da coluna da direita, ao contrário, apresenta claramente qual parte o estudante deve ler, o que torna o comando preciso, facilitando a realização da tarefa. 11 UNIDADE Clareza e precisão na elaboração de materiais para AVA Na elaboração dos enunciados de atividades, é importante também o emprego de verbos no imperativo para indicar as ações a serem tomadas. Como o imperativo é o modo incitativo por excelência, ele constitui a forma mais clara de enunciar comandos no AVA: Menos preciso Mais preciso A indicação de leitura é do quinto capítulo do livro X. Depois da leitura, você irá responder as questões que estão disponíveis no fórum desta semana. Você pode enviar as respostas até o dia 24/06. Leia o quinto capítulo do livro X. Depois da leitura, responda as questões que estão disponíveis no fórum desta semana. Envie as respostas até o dia 24/06 No exemplo elaborado na coluna da esquerda, apresentamos comandos das atividades por meio de substantivos (indicação de leitura); pela expressão verbal no futuro (você irá responder); e pela expressão verbal (você pode enviar). Esses três exemplos nos permitem observar a importância de utilizarmos verbos para nos referirmos às ações que esperamos dos estudantes, afinal o verbo é a classe gramatical ligada à ação. O primeiro exemplo nos permite observar a diferença: é mais objetivo dizer “leia” do que dizer “a indicação de leitura”. A expressão “indicação de leitura” não necessariamente quer dizer que o estudante deve ler, como atividade obrigatória. Ora, uma atividade que vale pontuação no AVA torna-se atividade obrigatória e isso precisa ficar claro para o estudante. Nos dois outros exemplos, temos, ainda na coluna da esquerda, o emprego de verbos nas expressões – você irá responder; você pode enviar – então por que eles não são adequados? A expressão verbal no futuro (você irá responder) indica a declaração de um fato que acontecerá no futuro, envolvendo o estudante (você), mas sem nenhum envolvimento do produtor do comando, no caso o produtor do material ou o tutor que gerencia a ação educativa. Comparando a expressão verbal “você irá responder” com o verbo no imperativo “responda”, podemos notar que com “responda” fica muito mais claro para o estudante que se trata de uma “ordem”, um comando de atividade a ser realizada obrigatoriamente. O imperativo é a forma mais clara de expressar a ordem, o comando. Por isso é a forma mais adequada para dizer ao estudante o que ele deve fazer nas atividades. Já a expressão verbal “Você pode enviar” é de caráter epistêmico, isto é, da ordem da possiblidade, ou da probabilidade. Quando dizemos que alguma coisa pode acontecer, estamos também admitindo que ela pode não acontecer. No caso, o ato de enviar ou não fica totalmente à mercê do estudante: ele pode enviar e pode não enviar, de maneira idêntica. Ele pode ainda compreender que ele tem a possibilidade de enviar a atividade até aquela data. Fica como se a decisão de realizar ou não a atividade dependesse da vontade dele apenas. Ora, a atividade é obrigatória e isso precisa ficar claro para o estudante. Por isso, a melhor forma de dizer é com o verbo no imperativo, como está na coluna da direita: “envie a resposta até o dia 24/06”. 12 13 Todas as três formas que se encontram na coluna da esquerda foram substituídas pelo verbo no imperativo na coluna da direita. O imperativo imprime um caráter de obrigação, de dever, incitando o estudante a realizar as ações previstas para seu bom desempenho nos estudos. É importante que a obrigação relativa às tarefas exigidas no desempenho dele em seus estudos fique clara para o estudante. Estamos, assim, dizendo ao estudante que ele tem permissão para enviar a atividade, apenas, até tal data. Veja outros exemplos de como o uso do verbo, no imperativo, torna o texto mais claro em relação à ação esperada: Menos preciso, Uso de Nomes Mais preciso, Uso de Verbos Para a realização desta atividade será necessária a leitura da parte 10, intitulada “Memória”, do livro x (páginas 233 a 256). A leitura do capítulo indicado é importante para a produção de uma síntese, ressaltando os pontos relevantes do texto. O envio da atividade deve se dar até o dia 24/06. Leia a parte 10, intitulada “Memória”, do livro x (páginas 233 a 256) antes de realizar a atividade. Depois de ler o capítulo indicado, produza uma síntese, ressaltando os pontos relevantes do texto. Envie a atividade até o dia 24/06 Evidentemente exageramos um pouco para tornar o exemplo mais significativo e claro. Todas as ações que o estudante deve realizar estão expressas na coluna da esquerda por meio de substantivos abstratos. O emprego de substantivos abstratos para designar as ações no lugar dos verbos permite organizar o texto em termos de ideias e razões, distanciando o produtor do conteúdo do texto, por torná-lo ausente do texto. Já o emprego de verbos, estando a maioria no imperativo, aproxima o produtor do texto e, em consequência, aproxima o leitor também. Quando dizemos “a leitura do capítulo indicado possibilitará a melhor compreensão dos conteúdos que estudamos nesta unidade”, estamos afastando qualquer agente do ato de ler e de compreender, expressos por meio de dois substantivos abstratos: leitura e compreensão. Já quando dizemos: “Leia o capítulo indicado; ele possibilitará que você compreenda melhor os conteúdos estudados nesta unidade”, instauramos nesse enunciado dois sujeitos: um que diz ao estudante para ler o capítulo e outro, que é o estudante, a quem se aconselha a ler determinado texto para compreender melhor o conteúdo estudado. Lembre-se ainda de que, para se fazer entender, não é necessário dizer duas vezes a mesma coisa. Observe na tabela a seguir a diferença entre as duas colunas, explicitando a questão da redundância. Muitas vezes, na escolha de palavras, não nos damos conta desse efeito, não é mesmo? 13 UNIDADE Clareza e precisão na elaboração de materiais para AVA Expressões redundantes Expressões simples Certeza absoluta Certeza Expressamente proibido Proibido Sintomas indicativos Sintomas Demasiadamente excessivo Excessivo Surpresa inesperada Surpresa Escolha opcional Escolha Encarar de frente Encarar Desaparecer de vista Desaparecer Consenso de opinião Consenso Perspectivas futuras Perspectivas Grande maioria Maioria Além disso, vale lembrar que é do senso comum a ideia de que o uso de expressões mais longas torna o texto mais erudito e, portanto, mais valorizado. Podemos observar, na seguinte tabela,alguns exemplos que ilustram bem essa crença. No entanto, essas expressões tornam a leitura mais longa e cansativa e representam um risco para a eficácia do texto e da realização de nossas intenções. Evite-as. Veja a diferença entre as duas colunas, a seguir: Expressões longas Expressões simples Em relação a Sobre, referente Em excesso de Mais de No momento presente Agora Anteriormente a Antes de Subsequentemente a Depois de Ainda com relação à escolha das palavras na produção de um texto para AVA, lembramos a importância de utilizar palavras de fácil compreensão. Há uma regra de ouro na elaboração de texto para AVA: Procure utilizar linguagem simples, de fácil compreensão. Vale lembrar que a tela torna a leitura mais lenta e mais cansativa, dificultando-a. Então, para minimizar as dificuldades de leitura, devemos simplificar a linguagem, a fim de torná-la mais fácil de ser compreendida, com um menor custo cognitivo para os estudantes. Lembre-se, ninguém se queixa por compreender facilmente o conteúdo de um documento. Palavras simples, do dia a dia, são mais fáceis de ser compreendidas e garantem um maior impacto no leitor. 14 15 O exemplo a seguir nos mostra como a simplicidade da linguagem pode facilitar a leitura. Linguagem mais difícil Linguagem mais simples O desenho evoluiu para o pictograma até chegar ao ideograma, o que resultou, mais tarde, no surgimento das artes plásticas: pintura, escultura, etc. O desenho, então, representa a modelização da cultura, pois, por intermédio da linguagem gráfica contida no traço, a partir de suas noções espácio-temporais de profundidade, de tridimensionalidade, de perspectiva, permite uma leitura. O desenho evoluiu para a representação figurativa das palavras, ou pictograma, até chegar ao ideograma, isto é, um símbolo gráfico que serve para representar uma ideia. Essa evolução resultou, mais tarde, no surgimento das artes plásticas: pintura, escultura, etc. O desenho, então, representa um meio de transmissão da cultura, pois, por intermédio da linguagem gráfica contida no traço, a partir de suas noções espácio- temporais de profundidade, de tridimensionalidade, de perspectiva, permite uma leitura. Você deve ter notado que, no texto apresentado no quadro, na coluna da direita, logo após a palavra simplificada, há o termo técnico, ou, inversamente, após o termo técnico, há a sua explicação. Essa explicação se dá por meio de uma paráfrase. As paráfrases são muito úteis para explicar conceitos ou definições um pouco complicadas. Paráfrases A paráfrase define-se como sendo o modo diverso de expressar um enunciado, sem que se altere seu significado. A paráfrase sempre remete a um enunciado que lhe é anterior, para reafirmá-lo, esclarecê-lo. A paráfrase serve para reiterar, fixar, explicar, precisar, expandir ou sintetizar uma mensagem - no todo ou parcialmente e, por isso, constitui um recurso muito útil à redação de textos, especialmente de textos acadêmicos ou ainda de textos direcionados para AVA. Ela pode contribuir para torná-los mais claros, facilitando a leitura e a compreensão dos conteúdos por parte dos estudantes. A forma da paráfrase leva em conta a finalidade com que o autor a utilizou. Assim, uma paráfrase para sintetizar deve ser menos extensa do que o enunciado original, caso contrário ela não corresponde a uma síntese. A paráfrase, no desenrolar de um texto, é normalmente introduzida por uma expressão que a sinaliza: vale dizer; isto é; ou seja; ou melhor; dito de outra forma; em outras palavras; em suma. Essas expressões apresentam-se sempre marcadas por vírgulas. 15 UNIDADE Clareza e precisão na elaboração de materiais para AVA Veja alguns exemplos de paráfrases: O estudo regionalizado do impacto da agricultura é necessário para que possibilite a busca de alternativas sustentáveis para a agricultura regional, perfazendo uma maior fixação do homem no setor agrícola, ou seja, permitindo que ele continue residindo e trabalhando na área rural. Um spam, isto é, uma mensagem não solicitada, que vem entupindo as caixas de entrada dos e-mails, alerta sobre um plano para transformar a Amazônia em uma reserva internacional. As doenças crônicas, ou seja, aquelas que não são resolvidas num tempo curto, quer dizer, em até três meses, não põem em risco a vida da pessoa num prazo curto, logo não são emergências médicas. No entanto, elas podem ser extremamente sérias, e várias delas causam morte certa. Sempre que necessitar apresentar um termo técnico que você acredite que não seja do conhecimento dos estudantes, depois do termo técnico, apresente uma paráfrase para explicá-lo. Lembre-se de sinalizar a paráfrase com uma expressão introdutora de paráfrase. As expressões introdutoras de paráfrase devem estar sempre entre vírgulas. Organização dos enunciados A nossa língua tem uma ordem canônica de apresentação dos elementos que compõem as frases. Em português, a ordem normal dos termos na frase é a seguinte: sujeito + verbo + complemento verbal + circunstância (adjuntos adverbiais) Veja os termos no enunciado a seguir: Meus alunos entregaram os trabalhos ontem Sujeito Verbo Objeto Circunstância (complemento verbal) A inversão nessa ordem é sempre possível. Ela, pode, no entanto, representar um trabalho a mais para o leitor, pois ele precisará raciocinar um pouco mais para compreender as relações que estão estabelecidas no enunciado. 16 17 Veja como ficaria o mesmo enunciado acima construído com uma outra organização de seus componentes: Entregaram ontem meus alunos os trabalhos Verbo Ciscunstância Sujeito Objeto (complemento verbal) Ou mesmo: Os trabalhos ontem meus alunos entregaram Objeto Ciscunstância Sujeito Objeto Evidentemente, todo falante de português compreende esses enunciados, pois nossa língua prevê a possibilidade de inversões. Mas o leitor, para compreender bem os dois últimos enunciados, deverá invocar seus conhecimentos gramaticais, por exemplo, para identificar a concordância que permite associar o verbo “entregaram” a “meus alunos”, identificando o sujeito desse verbo. Não há dúvida de que a organização respeitando a ordem direta, canônica, é mais fácil de compreender e mais rápida de ler. Considerando as dificuldades impostas pela leitura na tela, devemos procurar evitar outras complicações de leitura, procurando facilitar o trabalho dos estudantes. Devemos evitar que à complexidade do texto se acrescente a dificuldade imposta pela própria tela, o que tornaria a leitura ainda mais cansativa. Por isso, uma das recomendações é: evite a inversão; dê preferência à ordem direta. Ordem Invertida Ordem direta No final do século XIX, cobriam todo o mercado americano grandes redes ferroviárias. [...] À medida que aumentava o número de empresas, as pessoas do campo migravam para os centros urbanos para trabalharem, o que gerou novas necessidades de recursos e provocou um rápido crescimento das empresas voltadas para o consumo direto. Começam a surgir grandes impérios empresarias. No final do século XIX, grandes redes ferroviárias cobriam todo o mercado americano. [...] As pessoas do campo migravam para os centros urbanos para trabalharem à medida que o número de empresas aumentava; essa migração gerou novas necessidades de recursos e provocou um rápido crescimento das empresas voltadas para o consumo direto. Grandes impérios empresarias começam a surgir. Vale ainda apontar que não é apenas a ordem invertida nas frases que dificulta a leitura. Também encontramos dificuldade de compreensão quando estamos diante de períodos longos e complexos. Por isso, devemos evitá-los. Frases curtas possibilitam rápida compreensão. Ao terminar a leitura de um enunciado curto, é provável que o leitor já o tenha assimilado e esteja pronto para receber novas informações. 17 UNIDADE Clareza e precisão na elaboração de materiais para AVA Ao empregarmos enunciados curtos, no entanto, precisamos ter certo cuidado paraque o texto não fique monótono, entrecortado, dando impressão de uma simples enumeração de dados e fatos. Embora a enumeração de fatos seja o bastante para garantir a informação, vale lembrar que o encadeamento entre os fatos enunciados, mostrando de forma clara a relação entre eles torna a leitura mais agradável, e, por conseguinte, menos cansativa. Um conselho, então: ao elaborar um texto para AVA, lembre-se do encadeamento entre os enunciados. Observe os exemplos que apresentamos no quadro a seguir: Períodos longos Períodos curtos O homem é um ser social, que só realiza sua existência na convivência com outros homens, sendo que todas as suas ações e decisões afetam as outras pessoas; convivência e coexistência em que, naturalmente, têm que existir regras que coordenem e harmonizem essa relação, regras que, dentro de um grupo qualquer, indicam os limites em relação aos quais podemos medir as nossas possibilidades e as limitações a que devemos nos submeter, por meio de códigos culturais que nos obrigam, mas ao mesmo tempo nos protegem O homem é um ser social, que só realiza sua existência na convivência com outros homens. Por isso, todas as suas ações e decisões afetam as outras pessoas. Nessa coexistência, naturalmente, deve haver regras que coordenem e harmonizem a relação entre os homens. Essas regras, em qualquer grupo, indicam os limites dentro dos quais podemos agir e as limitações que devemos respeitar. Elas constituem códigos culturais que nos obrigam, mas, ao mesmo tempo, nos protegem. Note que o período que se encontrava excessivamente longo na coluna da esquerda foi desmembrado em vários pequenos períodos, mas o sentido do texto se manteve. Provavelmente, se levarmos em conta as estratégias apontadas nesta unidade, chegaremos ao final à elaboração de um texto claro e preciso. Para nos certificarmos de que alcançamos essa importante meta na redação de textos escritos para AVA, vale a pena, no entanto, observar uma etapa essencial da produção escrita: a revisão. A revisão Ao terminar de elaborar um material, portanto, é importante fazer uma revisão cuidadosa dele, antes de publicá-lo no AVA, ou melhor, antes mesmo de enviá-lo à equipe de produção e de designer instrucional. Devemos, nessa revisão, observar se o vocabulário está adequado e acessível, se a construção dos enunciados, períodos e parágrafos está clara, se conseguimos, enfim, colocar em prática as várias estratégias ligadas à clareza e precisão, e, ainda, observar se não há problemas relativos à gramática normativa. Vamos, então, repassar alguns pontos de que tratamos nesta unidade e sobre os quais devemos ficar atentos. Assim, você poderá seguir um roteiro na sua revisão, como um “check list”. Vamos lá? 18 19 Com relação à escolha das palavras: • Observe o vocabulário de seu texto: troque as palavras de difícil compreensão por palavras mais simples. • Observe os termos técnicos, veja se estão bem explicados e, se necessário, inclua paráfrases para explicá-los. Com relação à organização dos enunciados, períodos e parágrafos: • Observe se você utilizou a ordem direta na construção de seus enunciados. • Observe se os períodos e parágrafos estão muito longos. Se estiverem longos, divida- os em partes menores, mas não se esqueça de estabelecer a relação entre eles. Com relação à organização geral do texto: • Observe as partes de seu texto. Veja se há progressão na apresentação dos conteúdos, se há relação entre eles. Observe se estão garantidas a coesão e a coerência na elaboração dos materiais. Uma última dica: se puder, peça para alguém ler o material para você e verificar se não há nada estranho, nenhum erro de digitação, nenhum erro gramatical. Peça também a opinião dessa pessoa sobre a facilidade ou dificuldade na leitura e na compreensão do que se quer dizer no texto. Somos maus leitores de nossos próprios textos e o olhar de uma terceira pessoa pode nos ajudar a encontrar pequenos deslizes. Nesta unidade, estudamos a importância da clareza e da precisão na elaboração de textos para AVA. Vimos como a escolha das palavras é importante, assim como a organização dos enunciados, inclusive a ordem em que os elementos devem ser apresentados nos enunciados. Observamos a necessidade de utilizar linguagem de fácil compreensão e verificamos como o emprego de paráfrases pode nos auxiliar a explicar termos técnicos e tornar nossos textos mais fáceis de serem compreendidos pelos estudantes. Finalmente, destacamos a importância da revisão, para verificação de todos os detalhes que podem assegurar a boa escrita de nossos textos para AVA. 19 UNIDADE Clareza e precisão na elaboração de materiais para AVA Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Nesta unidade, apresentamos a importância dos conceitos de precisão e clareza na elaboração de materiais para AVA e destacamos algumas estratégias linguísticas que nos auxiliam a alcançar essa meta nos textos escritos para cursos e disciplinas em EaD. Vimos que uma etapa essencial do processo de elaboração do material escrito é a revisão final do texto, que inclui também uma verificação das regras da gramática normativa. Sendo assim, indicamos a seguir alguns sites que contêm informações sobre usos da Língua Portuguesa e podem ser úteis para responder a suas dúvidas tanto na hora da escrita quanto nos momentos de revisão. Não deixe de conhecê-los e utilizá-los! Sites Educacional http://goo.gl/8YDpk5 Editora LPB http://goo.gl/SvjxzW Gramática Online http://goo.gl/is6KFq Português http://goo.gl/8MHUR3 20 21 Referências ARCOVERDE, R e CABRAL, A. L. T. Linguagem e navegabilidade: uma leitura crítica de três sites de ensino de língua portuguesa. In: COLLINS, H. e FERREIRA, A. Relatos de experiência de ensino e aprendizagem de línguas na internet. Campinas SP: Mercado de Letras, 2004. BECHARA, E. Moderna gramática portuguesa. 37a edição revisada e ampliada. Rio de Janeiro: Lucerna, 1999. HOUAISS, A. e SALLES, M. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001. 21
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