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Infecções sexualmente transmissíveis na gravidez Universidade Franciscana Graduação em Medicina - 1° semestre Disciplina: Embriologia Acadêmicas: Ana Laura Bizzi, Camila Minussi, Isadora Agne, Laura Filappi e Valeska Frizzo Introdução Complicações obstétricas e neonatais podem ocorrer em decorrência de infecções sexualmente transmissíveis, acarretando aumento da morbimortalidade materno-infantil. Podem resultar em abortamento, morte fetal intraútero, malformações congênitas, trabalho de parto pré-termo (isto é, parto prematuro), e, em algumas situações, interrupção da gravidez mesmo antes da implantação do pré-embrião na cavidade uterina. A transmissão pode ser via transplacentária, pela passagem através do canal do parto e até mesmo durante a amamentação. O tratamento das ISTs durante a gestação exige a observação de normas terapêuticas, levando sempre em consideração o risco que determinadas medicações podem ter sobre a gestante ou sobre o feto, nesse último caso como potenciais agentes teratógenos. A escolha deve recair sobre fármacos já testados e, logicamente, que apresentem menor risco para o feto e para a gestante. Também se deve considerar que alguns medicamentos não tratam o feto apropriadamente. A eritromicina, por exemplo, não atravessa a barreira hematoplacentária e não é suficiente para o tratamento da sífilis no feto. A recomendação para a utilização regular de preservativos e a orientação quanto aos sinais e sintomas das ISTs, visando ao diagnóstico precoce e tratamento do casal, devem fazer parte da rotina do acompanhamento pré-natal! Sumário Abordam-se no período gestacional das principais ISTs: 1. Cancro mole 2. Donovanose 3. Gonorreia 4. Clamidíase 5. Hepatites virais 6. Herpes genital 7. Infecção pelo papilomavírus humano (HPV) 8. Linfogranuloma venéreo 9. Sífilis 10. Vulvovaginites 11. HIV Cancro mole ➔ O cancro mole é uma IST provocada pela bactéria Haemophilus ducreyi. A incidência é maior em regiões tropicais e em populações com baixo nível de higiene, acometendo um homem a cada 10 a 20 mulheres no geral. Popularmente, é conhecida como “cavalo”. ➔ Após o período de incubação (1 a 4 dias, podendo se estender até 2 semanas) surge uma lesão inicial que pode ser mácula, pápula, vesícula ou pústula, que rapidamente evolui para ulceração. As úlceras são dolorosas, com fundo purulento e base mole. São comuns lesões adjacentes por autoinoculação. ➔ Nos homens, as lesões aparecem com maior frequência no prepúcio, sulco balanoprepucial e glande. Já nas mulheres, a maior ocorrência é nos lábios vaginais, fúrcula, intróito vaginal, colo uterino ou períneo. Casos raros ocorrem nos dedos, mamas, lábios e língua. Cancro Mole ➔ O linfogranuloma venéreo, geralmente unilateral, ocorre em 30 a 60% dos casos, no mesmo lado das úlceras. Pode aumentar rapidamente, tornando-se amolecido e tumefado, também doloroso. Na mulher, é bastante raro. ➔ Pode se associar à sífilis, caracterizando o cancro misto de Rollet. ➔ Não foram relatadas alterações fetais devido ao cancro mole. Quando ocorrem complicações como amniorrexe prematura, há, associadamente, coinfecção gonocócica, estreptocócica (do grupo B), por clamídia ou vaginose bacteriana. Cancro Mole Cancro Mole Cancro Mole Cancro Mole ➔ O diagnóstico baseia-se no quadro clínico. Pode-se fazer a bacterioscopia corada pelo Gram em esfregaços de exsudato da base da úlcera. A cultura revela colônias arredondadas, acinzentadas, que se desprendem facilmente do meio. A reação em cadeia da polimerase (PCR - polymerase chain reaction) é o exame padrão-ouro, apesar de caro e de acesso restrito. A biópsia é raramente empregada e tem utilidade, apenas, para afastar outros diagnósticos. ➔ Faz-se o diagnóstico diferencial com doenças que provocam ulcerações genitais e adenopatias inguinais, sendo as mais frequentes o cancro duro (sífilis primária), o herpes genital, o linfogranuloma venéreo, a donovanose, erosões traumáticas infectadas, piodermites e neoplasia. Cancro Mole ➔ O tratamento envolve a limpeza local com soluções antissépticas, aplicadas de duas a cinco vezes ao dia, além de ceftriaxone 250mg IM (intramuscular), em dose única, ou estearato de eritromicina 500mg VO (via oral) a cada seis horas, durante sete dias. É necessário lembrar que o estolato de eritromicina é contraindicado na gestação em função da hepatotoxicidade (hepatite colestásica). ➔ Em pacientes intolerantes à eritromicina, pode-se usar a azitromicina 1g VO, em dose única, ou tianfenicol 5g, em dose única. Se ainda existirem lesões ativas após uma semana da terapêutica inicial, o tratamento deverá ser repetido. Quinolonas são contraindicadas na gestação. Os parceiros sexuais recentes (últimos dez dias) devem ser tratados mesmo sem doença clínica. ➔ Importante salientar que, ainda que seja uma doença de contágio predominantemente sexual, há relatos de profissionais da saúde que contraíram nas mãos ao tratarem diretamente de pacientes infectados. Donovanose ➔ Também conhecida por granuloma venéreo ou granuloma inguinal, é causada pela bactéria Gram-negativa Klebsiella granulomatis, frequentemente via sexual. Muitos autores consideram, também, a possibilidade de contágio não sexual. ➔ Há maior prevalência em regiões tropicais e subtropicais, sendo mais frequente em negros. A doença acomete igualmente homens e mulheres, sobretudo, entre 20 e 40 anos. Baixo nível socioeconômico, má higiene e promiscuidade sexual são fatores de risco. ➔ O período de incubação varia de 30 dias a seis meses. O quadro inicia-se com pápula ou nódulo indolor que, ao evoluir, ulcera e aumenta de tamanho, tornando-se ulcerovegetante. O fundo da lesão é amolecido e de cor vermelho vivo, com bordas irregulares, elevadas, bem delimitadas e endurecidas. A lesão pode evoluir cronicamente com deformidade da genitália, parafimose ou elefantíase. Donovanose ➔ É rara a ocorrência de sintomas gerais ou adenopatias, embora possam se formar pseudobubões (lesões inguinais caracterizadas por massas endurecidas ou abscessos flutuantes que drenam e se transformam em úlceras; representam tecido de granulação subcutâneo e não são gânglios linfáticos aumentados de volume), normalmente, unilaterais. ➔ A donovanose extragenital ocorre em 3%-6% dos casos e pode se dever à autoinoculação por contiguidade, disseminação linfática ou hematogênica. ➔ Não há relatos de algum efeito do agente etiológico sobre o desenvolvimento fetal. No entanto, a gravidez agrava consideravelmente a doença, levando ao aumento do número de lesões. Além disso, abortamento e manipulação cirúrgica das lesões podem facilitar a sua disseminação. Se houver acometimento da genitália interna, o risco de disseminação hematogênica será maior, podendo gerar complicações para a gestação e o parto. Donovanose Donovanose ➔ O diagnóstico baseia-se nas características clínicas das lesões. O diagnóstico laboratorial é realizado através da pesquisa direta dos corpúsculos de Donovan, obtido através de esfregaço de biopsia da ulceração por punch e pela biopsia realizada na ulceração. ➔ A identificação dos corpúsculos de Donovan no material de biópsia é feita pelas colorações Wright, Giemsa ou Leishman, evidenciando estruturas ovoides escuras, localizadas dentro de vacúolos ou fora das células. ➔ Faz-se o diagnóstico diferencial com sífilis primária, cancro mole, linfogranuloma venéreo, condiloma acuminado, leishmaniose tegumentar americana, algumas micoses sistêmicas, tuberculose cutânea, micobacteriose atípica, amebíase cutânea e neoplasias ulceradas. Donovanose Donovanose ➔ O medicamento de escolha é o estearato de eritromicina na dose de 500mg VO a cada seis horas, por 21 dias ou até a cura. O uso concomitante de gentamicina desde o início deve ser considerado. Doxiciclina e ciprofloxacina são contraindicadas. A reconstrução cirúrgica das lesões crônicas deve ser postergada para o fim da gestação. Quando houver risco de laceração perineal, o parto cesáreo estará indicado. ➔ Devido à baixataxa de infecção, não é necessário fazer o tratamento dos parceiros sexuais. Gonorreia A gonorreia na gestação pode estar relacionada: ▫ risco maior de prematuridade ▫ ruptura prematura das membranas ▫ perdas fetais ▫ retardo do crescimento intrauterino ▫ febre no puerpério No recém-nascido, as complicações são: ▫ conjuntivite ▫ pneumonite intersticial atípica ▫ bronquite ▫ otite média Diagnóstico: cultura a partir de amostras endocervicais e PCR Agente etiológico: A Neisseria gonorrhoeae transmitida 50% das vezes pela via sexual Segundo o Ministério da Saúde, equivale a 56% do total de doenças sexualmente transmissíveis registradas no Brasil. Sintomas: na mulher, podem surgir até 10 dias após o contato com a bactéria, sendo assintomáticas, mas na maioria dos casos só é identificada após realização de exames ginecológicos. Bebê com conjuntivite gonocócica A bactéria contaminando as células Clamidíase Infecção por clamídia durante a gestação: ▫ pode levar à ruptura prematura de membranas ▫ parto pré-termo ▫ endometrite puerperal ▫ conjuntivite ▫ pneumonia no recém-nato Sintomas: ▫ secreções na região genital ▫ dor ao urinar e após as relações sexuais Agente etiológico: sorotipos K e D da Chlamydia trachomatis, bactéria obrigatoriamente intracelular cuja transmissão se dá por via sexual. Dados nacionais mostram que a incidência de clamídia na gestação varia entre 2% e 9,4%. A clamidíase apresenta quadro clínico bastante semelhante à gonorreia, exceto pelo período de incubação maior, variando de 14-21 dias. Diagnóstico: pela cultura e pela imunofluorescência direta de amostra colhida do colo uterino Bactéria causadora Erupções na pele decorrente da clamídia Hepatite A ➔ Hepatite mais frequente ➔ Vírus HAV, com média de 28 dias de incubação ➔ Assintomática ou sintomática (febre, dor muscular, vômito, fezes amarelas e icterícia) ➔ TRANSMISSÃO via fecal-oral, não atravessa a barreira placentária VACINAÇÃO disponível no SUS; crianças de 15 meses a 5 anos, indicada para gestantes que não possuem pode causar nas gestantes: ★ contrações prematuras ★ descolamento da placenta ★ ruptura prematura de membranas ★ hemorragia vaginal ➔ PROBLEMA consumo de alimentos e água contaminados ou por meio de uma pessoa infectada Hepatite B ➔ Vírus HBV, período de incubação de 2 a 3 meses ➔ Assintomática ou sintomática (febre, dor muscular, vômito e icterícia; com o passar do tempo, cirrose hepática ou câncer de fígado) ➔ TRANSMISSÃO ★ relações sexuais sem camisinha ★ transfusões de sangue contaminado ★ mãe ao bebê por meio da gravidez, parto e da amamentação rara passagem placentária geralmente, a, infecção ocorre pela exposição ao sangue e secreções da mãe; indicação de cesárea após o bebê ser imunizado, a amamentação pode ser realizada VACINAÇÃO disponível no SUS; dada em quatro doses: ao nascer, aos 2, 4 e 6 meses, indicada para gestantes que não possuem Hepatite C ➔ Vírus HCV, período de incubação de 30 a 60 dias ➔ Assintomática ou sintomática (febre, dor muscular, vômito, icterícia) ➔ Evolução lenta e diagnóstico tardio ➔ TRANSMISSÃO via parenteral (como agulhas e seringas) via perinatal (mãe para filho) contato com sangue NÃO possui vacina (NÃO é transmitido por fezes ou urina) NÃO há risco de transmissão pelo aleitamento ➔ Bebê infectado não apresenta sintomas e tem um desenvolvimento normal, mas possuem um maior risco de complicações no fígado durante a vida adulta Herpes genital ➔ É uma virose transmitida predominantemente por via sexual. A transmissão ocorre pelo contato com lesões abertas e pode ser oral-oral, oral-genital e genital-genital. ➔ Essa infecção é causada por dois tipos de vírus e suas múltiplas cepas: o HSV-1 e o HSV-2. Ela caracteriza-se pelo fato de persistir latente após a primoinfecção e reativar- se periodicamente, com maior frequência durante a gestação. A taxa de recorrência pela reativação do vírus latente chega a 50 e 90% para o HSV-1 e o HSV-2, respectivamente. ➔ A priminfecção materna pode acarretar aborto, microcefalia, retardo do crescimento intrauterino, herpes congênito, herpes neonatal e óbito fetal. Herpes genital ➔ O diagnóstico é dado pelo quadro clínico. O diagnóstico deve ser confirmado, sempre que possível, com estudos laboratoriais, como cultura viral, PCR e detecção de anticorpos por IgM ou IgG. ➔ Quadro clínico: Após um período de incubação de três a 14 dias (na priminfecção), ocorre o aparecimento de lesões vesiculosas que, dentro de poucos dias, evoluem para exulcerações ou mesmo pequenas úlceras. As lesões, geralmente, são precedidas de sintomas como ardência, parestesia, prurido e dor. O quadro cutâneo tende à cura espontânea em torno de 15-21 dias. ➔ Tratamento: Utiliza-se aciclovir ou valociclovir. Herpes genital ➔ A transmissão para o bebê pode ser intraútero ascendente (ruptura prematura de membranas), pela passagem no canal de parto infectado ou pelo contato com lesões ativas ou secreções infectadas após o parto. ➔ Apesar de existir a chance de transmissão transplacentária (1:3.500 gestações), a contaminação do feto se dá mais frequentemente pelo canal do parto (50% de infecção se houver lesão ativa), levando ao herpes neonatal, uma afecção de elevada morbimortalidade. ➔ Portanto, a fim de evitar a transmissão para o bebê recomenda-se quanto à escolha da via de parto, cesariana em gestantes com lesões ou com ruptura prematura de membranas e parto vaginal em pacientes sem lesões. ➔ A doença no neonato em geral se apresenta com predominância de alterações neurológicas; 70% morrem em 6 a 10 dias se não forem tratados, e o restante sobrevive com sequelas. A primeira foto mostra a transiluminação da cabeça de um recém-nascido, afetada pelo vírus Herpes Simplex, com encefalite grave. Infelizmente, a infecção não foi descoberta no hospital a tempo, resultando na destruição de 90% do tecido cerebral. A luz está mostrando a extensão do dano. A segunda foto mostra o estado atual da criança. A encefalite por herpes simplex (HSE) é a causa única mais comum de encefalite viral em bebês e crianças. Fonte: Arquivo pessoal de @malinbromander Infecção pelo papilomavírus humano (HPV) ➔ 70% das mulheres sexualmente ativas vão ter contato, em algum período da vida, com o papilomavírus humano. ➔ GESTAÇÃO ★ maior probabilidade do vírus se manifestar e causar lesões - alterações hormonais - aumento da vascularização - menor resistência imunológica primeiro e segundo semestre NÃO AMEAÇA A EVOLUÇÃO DA GRAVIDEZ E NEM A SAÚDE DO BEBÊ o vírus não possui capacidade de penetrar o líquido amniótico e não é transmitido nem pelo sangue nem pela amamentação. Infecção pelo papilomavírus humano (HPV) ➔ PROBLEMA possibilidade de transmitir durante o parto vaginal Lesões não tratadas Não é recomendado, mas depende da avaliação médica ➔ Bebê infectado ★ verrugas nas cordas vocais e na mucosa da boca, olhos, nariz e na região genital ★ mais riscos de problemas respiratórios ★ manifestação mais temida: Papilomatose Respiratória Recorrente (PRR) aumentam em quantidade e tamanho obstrução do canal vaginal e maior risco de contágio Infecção pelo papilomavírus humano (HPV) TRATAMENTO PODE SER REALIZADO DURANTE A GRAVIDEZ (até a 34º semana de gestação) Tratamentos indicados ★ Ácido tricloroacético ★ Crioterapia A infecção por papilomavírus humano possui vacina (contraindicado para grávidas) Tratamentos não indicados ★ Eletrocauterização ★ Podofilina ➔ DIAGNÓSTICO: exame de colpocitologia ➔ PÓS-PARTO muitas lesões desaparecem em virtude do aumento da imunidade Infecção pelo papilomavírus humano (HPV) Figura 1 Figura 2 Figura 3 Figura 4 Figura 5 Figura 1, lesão próxima ao olho; Figura 2 e 3, lesões na boca; Figura 4, lesão no órgão genital; Figura 5, verruga característica observada em indivíduos com a infecção Linfogranuloma venéreo ➔ Também conhecida como doença de NicolasFavre, o linfogranuloma venéreo (LGV) é popularmente chamadode “mula”. ➔ Sua importância obstétrica reside no fato de essa afecção poder estar relacionada a outras ISTs e também às possíveis dificuldades no momento do parto, no caso de mulheres com lesões perirretais estenosantes, isto é, com lesões próximas ao reto, tornando-o muito estreito. ➔ Aparentemente, o LGV não está associado a danos diretos ao concepto. ➔ O agente etiológico do linfogranuloma venéreo é a Chlamydia trachomatis, sorotipos L1, L2 e L3, sendo sua transmissão exclusivamente pela via sexual. Linfogranuloma venéreo ➔ A distribuição da doença é mundial, com altas taxas de prevalência e predomínio em zonas tropicais e subtropicais, sendo 70%-80% dos casos assintomáticos e frequentemente não detectados. No Brasil, é uma doença mais observada nas regiões Norte e Nordeste. Classicamente, apresenta maior incidência na população sexualmente ativa, com predomínio entre 20 e 40 anos. ➔ Na maioria das vezes, o diagnóstico é feito com base em dados clínicos, não sendo necessária a confirmação laboratorial. ➔ Tratamento: As gestantes devem receber, preferencialmente, eritromicina. ➔ Lesões tardias, com fibrose e estenose que comprometem o canal do parto, podem indicar realização de parto cesáreo. Linfogranuloma venéreo Sinais e sintomas: ➔ Feridas nos órgãos genitais e outros (pênis, vagina, colo do útero, ânus e boca), as quais, muitas vezes, não são percebidas e desaparecem sem tratamento. ➔ Entre uma a seis semanas após a ferida inicial, surge um inchaço doloroso (caroço ou íngua) na virilha, que, se não for tratado, rompe-se, com a saída de pus. ➔ Pode haver sintomas por todo o corpo, como dores nas articulações, febre e mal- estar. ➔ Quando não tratada adequadamente, a infecção pode agravar-se, causando elefantíase (acúmulo de linfa no pênis, escroto e vulva). Imagem: Gânglios linfáticos da virilha aumentados e com presença de pus (linfogranuloma). Fonte: Dra. Keilla Freitas. Sífilis ➔ Vias de transmissão: via sexual, transfusão sanguínea e indiretamente por objetos contaminados e tatuagens (sífilis adquirida) ou vertical (sífilis congênita). ➔ A sífilis congênita pode trazer como consequências o aborto, prematuridade, morte neonatal ou desenvolvimento da doença nos conceptos (sífilis congênita precoce e tardia). Doença infecciosa, de evolução crônica, sujeita a surtos agudos e períodos de latência quando não tratada; → Bactéria Treponema pallidum; → Via transplacentária; → Qualquer momento da gestação. Sífilis ➔ Fase primária: normalmente 21 dias após infecção com úlceras indolores na região genital. Duração de 2-6 semanas; ➔ Fase secundária: erupção cutânea em todo o corpo acompanhada de febre e dores musculares. É seguida de uma fase latente da doença, em que não sinais nem sintomas por anos, mesmo com a presença da bactéria infectando todos os órgãos; ➔ Fase terciária: anos ou décadas após infecção, a qual pode tornar-se neurossífilis, sífilis cardiovascular ou sífilis benigna que afeta apenas a pele. APRESENTA-SE EM 3 FASES: Sífilis ➔ TAXA DE TRANSMISSÃO É MAIOR NOS ESTÁGIOS INICIAIS DA DOENÇA → Número de espiroquetas na circulação é maior; → Lesões ricas em treponemas altamente infecciosas. ➔ Já na segunda fase existem anticorpos circulantes. Sífilis ➔ Sinan (Sistema de Informação de Agravos de Notificação): de 2005 a 2019, 324.321 casos de sífilis em gestantes no Brasil; ➔ Em 2018, entre as unidades federadas com as maiores proporções de gestantes estava o Rio Grande do Sul com 7,9% dos casos; ➔ DETECÇÃO DA SÍFILIS: Veneral Disease Research Laboratory (VDRL), na 1ª consulta do pré-natal e repetida no 3º trimestre. Caso positivo, o casal é encaminhado ao tratamento. Sífilis Imagem: Pênfigo sifilítico nas mãos e pés de recém-nascido com sífilis congênita. Fonte: Doenças sexualmente transmissíveis na gestação: uma síntese de particularidades. Vulvovaginites ➔ As vulvovaginites caracterizam-se por inflamação ou infecção na vulva, vagina e ectocérvice, com presença de corrimento vaginal e sintomas associados, como prurido vulvar, dispareunia, disúria e sensação de desconforto pélvico, embora muitos casos possam ser completamente assintomáticos. ➔ Diversos fatores ou agentes agressores podem favorecer o surgimento das vulvovaginites por meio da modificação da flora vaginal não patológica. Agentes infecciosos endógenos, trauma, uso de absorventes internos e externos, agentes de transmissão sexual, alterações hormonais e anatômicas, bem como imunodepressão, são alguns deles. Entre as vulvovaginites estão a vaginose bacteriana, a tricomoníase e a candidíase vulvovaginal, que serão abordadas a seguir. Vulvovaginites: Vaginose bacteriana o É causada por bactérias anaeróbias, como Gardnerella vaginalis, Bacteroides sp, Mobiluncus sp, micoplasmas, peptoestreptococos. A infecção ocorre, normalmente, quando há um desequilíbrio da flora vaginal normal, com diminuição dos lactobacilos acidófilos, permitindo a proliferação desses agentes etiológicos. Pode ser excepcionalmente transmitida por via sexual. o É a infecção mais comum do trato genital inferior entre as mulheres em idade reprodutiva, independentemente de gravidez. A incidência da vaginose bacteriana durante a gestação é maior do que a de outras infecções, como bacteriúria assintomática, infecção por Neisseria gonorrhoea, Chlamydia trachomatis e Trichomonas vaginalis. Múltiplos parceiros sexuais, uso de duchas vaginais, tabagismo e início precoce das atividades sexuais são fatores de risco. Vulvovaginites: Vaginose bacteriana ▫ Aproximadamente 50% das mulheres com vaginose bacteriana são assintomáticas. O corrimento vaginal, quando presente, caracteriza-se por exsudato branco- acinzentado, com aspecto cremoso e odor fétido, que se acentua após o coito ou a menstruação. Ausência de prurido e sinais inflamatórios são característicos. ▫ Ainda que seja assintomático, o não tratamento da Vaginose pode ocasionar problemas mais sérios, como endometrites e salpingites (inflamação das trompas). No homem, não há sintomas da doença. ▫ Além disso, A vaginose bacteriana tem sido associada a diversos efeitos adversos durante a gravidez, como ruptura prematura de membranas amnióticas, corioamnionite, parto prematuro, endometrite pósparto, infecção intra-amniótica e baixo peso do recém-nascido. Vulvovaginites: Vaginose bacteriana ▫ O diagnóstico da Vaginose ocorre primeiramente em um exame ginecológico, no qual o médico nota se há a alteração do conteúdo vaginal. ▫ A partir daí, poderá ser solicitado uma cultura e testes imunológicos. ▫ Todas as gestantes sintomáticas devem ser tratadas e também as gestantes assintomáticas com alto risco para parto pré-termo, como as que têm história de parto prematuro anterior. Vulvovaginites: Vaginose bacteriana ▫ O tratamento pode ser feito com metronidazol 250mg VO três vezes ao dia, durante sete dias, ou, ainda, metronidazol 500mg a cada 12 horas, durante sete dias. Outra opção seria clindamicina 300mg VO a cada 12 horas, durante sete dias. ▫ O tratamento deve ser feito após o primeiro trimestre de gestação e durante a amamentação. Os parceiros sexuais não precisam ser tratados, obrigatoriamente. Vulvovaginites: Tricomoníase ▫ Infecção causada pelo Trichomonas vaginalis, protozoário anaeróbio, flagelado, com movimento contínuo característico, de transmissão, principalmente, sexual. ▫ Segundo a OMS, as taxas de prevalência da tricomoníase entre mulheres de países em desenvolvimento chegam a 15% ou mais. Tais índices a definem com uma das ISTs mais prevalentes em nível mundial. É provável que até 25 milhões de grávidas em todo o planeta estejam infectadas com tricomoníase. Vulvovaginites: Tricomoníase ▫ A tricomoníase pode ser assintomática em até 30% dos casos, inclusive, por longos períodos. ▫ O período de incubação varia de quatro a 28 dias, após o qual surge corrimento abundante (presente em cerca de 50% dos casos), purulento, espumoso, amarelado ou amarelo-esverdeado, com mau cheiro. Outros sintomas que podem estarpresentes são prurido e/ou irritação vulvar, hiperemia da mucosa com placas avermelhadas, junto de sintomas urinários como disúria e polaciúria. Além disso, pode levar ao desenvolvimento de outras ISTs. Vulvovaginites: Tricomoníase ▫ A tricomoníase vaginal está associada a efeitos deletérios na gravidez, como ruptura prematura de membranas, trabalho de parto prematuro e baixo peso ao nascer. ▫ Após o reconhecimento dos sintomas, a mulher deve procurar o médico ginecologista, que solicitará exames laboratoriais como coleta da secreção vaginal, cultura de secreção ou PCR (esse último caso sendo limitado pelo custo). Vulvovaginites: Tricomoníase ▫ Nas gestantes, o tratamento preconizado pelo MS após o primeiro trimestre da gestação e durante a amamentação é feito com metronidazol 2g VO em dose única ou, em casos resistentes, metronidazol 400mg VO a cada 12 horas, durante sete dias. ▫ Além de aliviar os sintomas de corrimento vaginal e evitar novos episódios de transmissão sexual, o tratamento impede infecção respiratória ou genital no recém-nascido. Até o momento, nenhum estudo demonstrou associação entre o metronidazol e efeitos teratogênicos quando utilizado na gestação. As relações sexuais devem ser evitadas durante o tratamento. Vulvovaginites: Tricomoníase ▫ O aconselhamento adequado da gestante também é importante, devendo-se orientá-la sobre a necessidade de utilização de preservativos, bem como do risco permanente de transmissão sexual. ▫ Os parceiros devem sempre ser tratados, sem necessidade de confirmação diagnóstica. Durante o tratamento, deve-se evitar a ingestão de bebidas alcoólicas. Vulvovaginites: Candidíase vulvovaginal ▫ A Candida albicans é o agente etiológico mais comum, responsável por até 90% dos casos. Pode ser transmitida por via sexual, porém esta não é considerada a principal forma de transmissão. ▫ São fungos comensais da mucosa digestiva e vaginal, tornando-se patogênicos em ocasiões que alteram o padrão normal do meio vaginal. ▫ É o tipo mais comum de vaginite aguda nos países tropicais. Estudos mostraram que 25% das mulheres adultas apresentam colonização assintomática e 75% delas apresentarão infecção clínica em algum momento da vida. Vulvovaginites: Candidíase vulvovaginal ▫ O quadro clínico da candidíase caracteriza-se por prurido vaginal e vulvar, sintoma predominante, além de corrimento branco e espesso, sem odor. A vagina e o colo podem estar recobertos por placas brancas aderidas à mucosa. Fissuras e maceração da pele, pela coçadura, também podem ser observadas. Hiperemia e edema vulvar são frequentes, além de disúria e dispareunia. ▫ Os homens apresentam pequenas manchas vermelhas no pênis, edema leve, lesões em forma de pontos e prurido. Em casos mais graves distúrbios gastro-intestinais, respiratórios e outros problemas dermatológicos podem aparecer. Vulvovaginites: Candidíase vulvovaginal Vulvovaginites: Candidíase vulvovaginal ▫ Durante a gravidez, o aumento do glicogênio no epitélio vaginal leva à diminuição do pH a níveis inferiores aos considerados normais, acidificando o meio. Essa mudança favorece o desenvolvimento do fungo, que só ocorre em ambiente ácido. ▫ Além dessa alteração observada durante a gravidez, outros fatores podem favorecer o desenvolvimento da candidíase vulvovaginal, como quadros de diabetes melito descompensado, obesidade, uso de anticoncepcionais orais, uso de antibióticos, corticoesteróides ou imunossupressores, vestuário inadequado, como roupas de tecido sintético e mal ventiladas, que aumentam a umidade e o calor local, hábitos de higiene inadequados, contato com substâncias irritantes e alérgenas e imunodeficiências. Vulvovaginites: Candidíase vulvovaginal ▫ O diagnóstico é feito pelo exame clínico ginecológico, de laboratório e pelo exame de Papanicolau. ▫ Em gestantes, o MS preconiza o tratamento da candidíase vulvovaginal, após o primeiro trimestre da gravidez e durante a amamentação, com miconazol 2% em creme, via vaginal, aplicado à noite, ao deitar-se, durante sete dias. ▫ Outra opção seria clotrimazol 1% em creme, via vaginal, aplicado à noite, ao deitar-se, por 6- 12 dias, ou, ainda, nistatina 100.000 UI, aplicada à noite, ao deitar-se, via vaginal, por 14 dias. Vulvovaginites: Candidíase vulvovaginal ▫ Alguns autores recomendam ainda, para casos recorrentes de candidíase na gestação, a correção do pH vaginal com banhos de assento com bicarbonato de sódio diluído em água. ▫ O tratamento do parceiro não é necessário, considerando-se que a transmissão sexual não é rotineira, exceto os casos sintomáticos e recidivantes. HIV . Síndrome da Imunodeficiência Adquirida é a infecção, pelo vírus HIV, do sistema imunológico com destruição dos linfócitos T-CD4+. ➔ Cerca de 65% dos casos de transmissão ocorrem durante o trabalho de parto e no parto propriamente dito, e os 35% restantes ocorrem intra-útero, principalmente nas últimas semanas de gestação. ➔ O aleitamento materno aumenta o risco de transmissão a cada mamada, por isso é contraindicado para mães portadoras de HIV. Três vias principais de transmissão: sexual, sanguínea e vertical HIV ➔ O teste sorológico anti- HIV deve ser oferecido na primeira consulta pré-natal e no terceiro trimestre de gestação também; ➔ TRATAMENTO com os medicamentos antirretrovirais durante toda gestação e, se orientado pelo médico, também no parto. Previne a transmissão vertical do HIV para a criança, entretanto, recém-nascido deve receber o medicamento antirretroviral (xarope) e ser acompanhado no serviço de saúde. ➔ Caso o tratamento não esteja em dia e a carga viral esteja acima de 1000 cópias/Ml a cesariana eletiva é indicada para reduzir o risco de transmissão. Referências Bibliográficas ➔ DUNCAN. B. B; Medicina Ambulatorial: condutas de atenção primária baseadas em evidências. 4ª edição. Porto Alegre. Artmed, 2013. ➔ COSTA C. M.; DEMARCH B. E.; AZULARY R. D. et al. Doenças sexualmente transmissíveis na gestação: uma síntese de particularidades. An. Bras. Dermatol. Vol.85 No.6 Rio de Janeiro Nov./Dec. 2010. Disponível em: <https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0365-05962010000600002&script=sci_arttext&tlng=pt>. Acesso em 05 jun. 2020. ➔ WILEY J. & SONS; Efficacy and safety of cesarean delivery for prevention of mother‐to‐child transmission of HIV‐1. Banco de Dados Cochrane de Revisões Sistemáticas, 19 out 2005. 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