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� 1 111 INSTITUTO VI MARANATHA FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO Instituto Maranatha Cursos UNIDADE 1 CONVITE AO FILOSOFAR .................................................... 21 Conhecimento e a história de pescador ......................... 22 Filosofia: em busca do tesouro perdido ......................... 33 Amamentar, criar, educar, filosofar .............................. 44 UNIDADE 2 A FILOSOFIA ESTÁ NA HISTÓRIA ........................................... 55 De olho no retrovisor ............................................... 56 Penso, logo existo? .................................................. 61 Prudência no conhecer, decência no viver ....................... 71 UNIDADE 3 MODERNO OU PÓS-MODERNO? ........................................... 87 Tudo o que é sólido, desmorona no ar ........................... 88 Pós-modernidade: rede pensante, gandaia global ............. 95 Navegar é preciso, viver não é preciso .......................... 99 UNIDADE 4 A ÉTICA DO CUIDADO ......................................................109 Ética, o cuidado com “a toca” ...................................110 Tu não morrerás jamais ...........................................118 Valores também se aprendem ....................................125 PALAVRAS FINAIS ..........................................................135 REFERêNCIAS ...........................................................137 NOTA SOBRE O AUTOR .....................................................141 SUMÁRIO Instituto Maranatha Cursos íCONES Orientação para estudo Ao longo desta apostila, serão encontrados alguns ícones utiliza- dos para facilitar a comunicação com você. Saiba, o que cada um significa. SUGESTÃO DE LEITURA PENSE DICA DE SITE REFERÊNCIAS ATIVIDADES SUGESTÃO DE FILMES SAIBA MAIS GLOSSÁRIO Instituto Maranatha Cursos CONVITE AO FILOSOFAR 1 UNIDADE OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM Identificar o ato de conhecer nas suas diferentes formas: senso comum, ciência, arte, filosofia. Entender a filosofia como modo de conhecimento. Para início de conversa Caríssimo(a) acadêmico(a)! Já parou para pensar que cresce- mos aos poucos e, ao longo da nossa vida, vamos adquirindo compreensão das coisas que compõem a natureza e o mundo que nos rodeia, do convívio com outras pessoas, das normas morais e sociais que regem as relações entre os seres huma- nos? Acostumamo-nos a esses entendimentos a começar do momento em que os fomos adquirindo espontaneamente. Com eles, construímos nossas convicções a partir das quais conversamos, discutimos, opinamos. No entanto, dificilmente nos perguntamos sobre o que é o conhecimento, seu signifi- cado e origem. Habituamo-nos a vivenciar o mundo, como se tudo fosse normal e natural, e por isso não o problematizamos. Ao introduzirmo-nos no âmbito da filosofia, queremos começar com uma prática da origem da própria filosofia, que é a de fazer perguntas. Instituto Maranatha Cursos 2222 Sócrates, filósofo grego, ensinava que um caminho importante para o conhecimento é assim proceder. Dessa forma, nesta unida- de, começaremos perguntando: o que é conhecer? Bom trabalho, e lembre-se de que você é o sujeito de sua apren- dizagem. CONhECIMENTO E A hISTóRIA DE PESCADOR História de pescador Caro(a) acadêmico(a), uma pequena história contada pelo escritor brasileiro Ariano Suassuna (talvez com uma pitadinha de ironia) pode nos ajudar na introdução do tema. Trata-se de duas estudan- tes universitárias que aplicavam um questionário a gente simples de uma cidade do interior da Paraíba. Chegando à beira do açude local, as universitárias abordaram dois pescadores que acabavam de chegar com alguns peixes, em uma tosca embarcação. Uma das pesquisadoras pergunta: - O senhor sabe quem é o governador do estado? - Sei não moça, respondeu o pescador. Instituto Maranatha Cursos FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO | UNIDADE 1 2323 - Sabe quem é o prefeito da cidade? - Também não moça. - Conhece algum deputado? - Conheço não moça! Houve um pequeno silêncio, quando uma das meninas comentou- casualmente: - Puxa, moço, o senhor não sabe nada, hein? Um dos pescadores pegou um dos peixes pelo rabo e perguntou às forasteiras: - Vocês sabem que peixe é esse? - Sei não, moço, respondeu uma delas. - E esse outro, vocês conhecem? perguntou o pescador. Houve a mesma resposta negativa. - E esse? E esse aqui? Foi a vez do pescador comentar: Pois é moça, cada um com suas gnorâncias. Gostou da história? Ela possibilita muitas interpretações. Uma de- las é a de que com frequência é possível esquecer ou deixar de lado saberes importantes das pessoas mais simples. Outra das lições da narrativa, é de que pode-se, em nome do saber (leia-se do saber dos doutores, pessoas famosas, que ocupam cargos etc.), cultivar um certo pretensionismo que desqualifica outros saberes. Desqua- lificar é achar que se sabe mais que o outro e isso não deve ocorrer. Contudo, não se pode ignorar uma questão séria: será que todos os saberes têm o mesmo valor? Está em jogo o velho e sempre novo problema do conhecimento. Lições da natureza Você já se encantou com o nascimento de uma vida animal e ob- servou o que logo depois acontece? Com bastante sorte em nossa sociedade urbanoide, pode-se ainda hoje ver como ocorre o nas- cimento de pintinhos, passarinhos, cães e outros animais. Há num nascimento, uma lição fantástica a ser observada! Logo ao nascer, pode-se constatar que no mundo animal (e nós também pertence- mos a ele) tudo é instintivo. É o milagre da natureza que dá a pos- sibilidade de sobrevivência. Por exemplo, a criança, minutos após o nascimento, já quer sugar o seio da mãe. Nas outras espécies animais é também fabuloso ver o patinho que aprende a nadar, o Instituto Maranatha Cursos pintinho que sai andando atrás da “mamãe galinha” e, num código secreto de linguagem, vai se comunicando e tudo vai acontecendo de forma maravilhosa. Contudo, apesar da beleza que encanta, constatamos que essas atividades são instintivas, portanto, prees- tabelecidas pela natureza. No mundo animal, imerso na natureza, a instintividade é que dá conta de tudo embora se saiba que nas diferentes espécies isso possa variar e que também haja uma aprendizagem de “cunho con- creto”. No entanto, nesse aspecto, não há nada que se assemelhe ao desenvolvimento humano. E pode-se afirmar que somente o ho- mem tem a possibilidade de interferir diretamente no seu hábitat, no mundo em que vive, porque ele o conhece. E conhecer significa ter a possibilidade de o sujeito (ser humano) interagir com o ob- jeto (a realidade). Assim, o ser humano tem a oportunidade de se autoconstruir livremente, tomando consciência das coisas, proje- tando atividades, interferindo na natureza (hoje percebemos que devemos ter mais cuidado com a natureza). Também não necessi- tamos recriar a roda todo dia, nem aprender a utilizar o fogo, os metais, as forças da natureza a cada geração, pois após conhecer, armazenamos os saberes. Nossa história é, portanto, a história do conhecimento e nela distinguimos diferentes formas ou os diferen- tes níveis do saber, como o senso comum, o conhecimento mítico, o filosófico, o artístico, o científico. Todos esses níveis têm o seu valor. Você arriscaria mencionar algumas características de cada um dos níveis? Vamos tentar? O conhecimento mítico Há muitos modos de se conhecer o mundo, que dependem da situ- ação do sujeito diante do objeto do conhecimento. Por exemplo, ao olhar as estrelas no céu, um índio kaingang as enxerga a partir de um ponto de vista bastante diferente de um astrônomo. O índio vê nas estrelas as fogueiras que alguns de seus deuses acendem no céu para tornar a noite mais clara; o cientista vê astros que têm luz própria e que formam uma galáxia. O índio compreende as estrelas a partir de um ponto de vista mitológico ou religioso; o astrônomo as compreende e conhece de um ponto de vista científico. No decurso histórico da humanidade,no seu início, prevalece o que denominamos de conhecimento mítico. A palavra mythos Instituto Maranatha Cursos FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO | UNIDADE 1 25 significa aquilo que se conta, o que se diz. Mythos é uma fala, uma narrativa, cujo tema principal é a origem (do mundo, dos homens, das técnicas). É, portanto, uma narrativa tradicional, integrante da cultura de um povo, que utiliza elementos simbólicos para explicar o mundo e dar sentido à vida. Entende-se aqui que o conhecimento mítico não significa algo “atrasado”, antes é uma maneira de conhecer e de viver. Para os primitivos, o mito é um processo vivo de compreensão da realida- de, através do critério da crença. Sua função é resolver, no plano simbólico e imaginário, as tensões, os conflitos e as contradições que não podem ser solucionados pela sociedade naquele momen- to. De certa forma, podemos dizer que o mito é uma intuição da realidade, exprimindo dimensões profundas e perenes no nível da estruturação da psiqué humana. Há muitos relatos míticos. É preciso estudá-los para saber interpre- tálos, o que não era necessário ancestralmente, pois o que se dizia era compreensível para quem ouvia. Na Bíblia, cultura judaica-cristã, por exemplo, são conhecidos os textos sobre a criação do mundo e do homem. Basta abri-la, no livro do Gênesis e logo nos primeiros capítulos encontramos os relatos nos quais Deus cria o firmamento, a terra e os mares, os peixes, os animais e finalmente o homem. Inclusive há mais de uma narrativa sobre a criação humana. São textos de grande beleza e vale a pena dedicar algumas horas de pesquisa para compreendê-los melhor. Outro exemplo, o mito através do qual os antigos gregos explica- vam a origem do mundo: No princípio era o Caos, o Vazio primordial, vasto abismo insondável, como um imenso mar, denso e profundo, onde nada podia existir. Dessa oca imensidão sem onde nem quando, de um modo in- explicável e incompreensível, emergiram a Noite negra e a Morte impenetrável. Da muda união desses dois entes tenebrosos, no leito infinito do vácuo, nasceu uma entidade de natureza oposta à deles, o Amor, que surgiu cintilando dentro de um ovo incandescente. Ao ser posto no regaço do Caos, sua casca resfriou e se partiu em duas metades que se transformaram no Céu e na Terra, casal que jazia no espaço, espiàndo-se em des- lumbramento mútuo, empapuçados de amor. En- tão, o Céu cobriu e fecundou a Terra, fazendo-a gerar muitos filhos que passaram a habitar o vasto corpo da própria mãe, aconchegante e hospitalei- ro (OLIVIERI,2009). Instituto Maranatha Cursos Há outros belíssimos relatos míticos. Vale lembrar que assim como o mito, a religião, ou melhor, as religiões também apresentam uma explicação sobrenatural para o mundo. Não convém aqui discutir onde termina o mito e onde começa a religião, embora saibamos que estão intimamente unidos. Para aderir a uma religião, é obrigatório crer ou ter fé nos seus princípios. Além disso, é uma parte fundamental da crença religiosa a esperança que essa explicação sobrenatural proporciona ao homem, ou seja, uma garantia de salvação, bem como prescreve maneiras de conquistar e preservar essa garantia, através dos ritos, sacramentos, orações, amor ao próximo etc. O senso comum O senso comum é a compreensão da realidade constituída de um conjunto de hábitos, opiniões e estruturas de pensamento que são utilizados diariamente por todos os seres humanos como forma de entendimento e de orientação de suas vidas. Ou seja, todos nós servimo-nos do senso comum. Veja o que o filósofo John Dewey (Lógica, VI, 6), citado por Olivieri (2009), escreveu: Visto que os problemas e as indagações em torno do senso comum dizem respeito às interações entre os seres vivos e o ambiente, com o fim de realizar objetos de uso e de fruição, os símbolos empregados são determinados pela cultura corrente de um grupo social. Eles formam um sistema, mas trata-se de um sistema de caráter mais prático que intelectual. Esse sistema é constituído por tradições, profissões, técnicas, interesses e instituições estabelecidas no grupo. As significações que o compõem são efeitos da linguagem cotidiana comum, com a qual os mem- bros do grupo se intercomunicam. O senso comum é, desse modo, um tipo de conhecimento que deriva, dentre outros, da cultura em que se está inserido, das experiências cotidianas das pessoas e por vezes é válido, mas por vezes não tem fundamento ou justificação. Nem sempre é legítimo dizer que “Deus é brasileiro”, ou “que a voz do povo é a voz de Deus”, ou ainda “que homem que é homem não chora”. Frequentemente, o que o povo afirma (também nós) é simplesmente um conjunto de várias crenças em que tudo se mistura: paixão, ciência, religião, Instituto Maranatha Cursos FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO | UNIDADE 1 27 fideísmo. Nesse aspecto, o senso comum deve ser continuamente questionado para que haja um salto qualitativo no saber. Por outro lado, pode-se afirmar tranquilamente que o senso comum também tem validade e significado. Utilizamo-nos dele todos os dias, pois ele nada mais é do que aquele conjunto de compreensões e ações realizadas pelo ser humano, com base no conhecimento cotidiano. Além do mais, o notável filósofo italiano, Antonio Gramsci, afirmava que o bom-senso é o núcleo sadio do senso comum. E não é necessário ser diplomado para possuí-lo! Todos podem desenvolvê-lo. Imagine você, se todos nós o usássemos para resolver nossos problemas! Os políticos o usassem para não jogar dinheiro do povo fora, os educadores o utilizassem para organizar a escola e educar! Certamente muitos problemas seriam resolvidos, não é mesmo? O bom senso é o núcleo sadio do senso comum. Antonio Gramsci, filósofo italiano A ciência A palavra ciência vem do latim scientia, que significa conhecimento. De modo simples, pode-se dizer que a ciência se caracteriza pela busca do conhecimento de forma sistemática e segura. Um de seus objetivos é tornar o mundo compreensível e propiciar ao homem os meios de extrair da natureza tudo o que necessita. E como se dá esse processo? O modo de proceder dos cientistas, ao conduzirem suas investigações, envolve um núcleo comum de atividades que se denomina método científico. Considerado o pai de tal método, o filósofo René Descartes assim expressava a sua busca: Instituto Maranatha Cursos Há algum tempo eu me apercebi de que, desde meus primeiros anos, recebera muitas falsas opiniões como verdadeiras, e de que aquilo que depois eu fundei em princípios tão mal assegurados não podia ser senão duvidoso e incerto, de modo que me era necessário tentar seriamente, uma vez em minha vida, me desfazer de todas as opiniões a que até então dera crédito, e começar tudo novamente desde os fundamentos (DESCARTES, 1996, p.,67). Inaugurado na Idade Moderna, o método científico inclui várias etapas que vão do enunciado do problema à hipótese, à experimentação e à conclusão. Note-se que o método científico não é um receituário de solução de problemas. Sua estrutura é muito mais complexa. É uma estrutura lógica de ações que procura atingir um conhecimento seguro e preciso. Os resultados satisfatórios de uma investigação científica dependem de um leque de fatores que abrange vários elementos, desde a natureza do problema, os recursos materiais aplicados na pesquisa, quem financia, até se chegar à atividade do grupo de pesquisadores, seres humanos com competência técnica, mas também com valores, necessidades, idiossincrasias. Historicamente há um grande debate sobre a função da própria ciência. Questionamentos de toda ordem demonstram que é preciso ter cuidado com o pretenso domínio da ciência sobre a natureza e com as próprias teorias científicas que são marcadas pela provisoriedade de suas descobertas. Não se trata de fazer um discurso anticiência, mas antes colocar a atividade científica sobre permanente vigilância da comunidade científica e filosófica.Aprofundaremos mais esse tema nas próximas unidades. Certa vez, um cosmonauta e um neurologista russos discutiam sobre religião. O neurologista era cristão e o cosmonauta não. ‘Já estive várias vezes no espaço’, gabou-se o cosmonauta, ‘e nunca vi nem Deus, nem anjos’. ‘E eu já operei muitos cérebros inteligentes’, respondeu o neurologista, ‘e também nunca vi um pensamento’ (GAARDNER, J. 1995, p. 78) Instituto Maranatha Cursos FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO | UNIDADE 1 29 A filosofia A filosofia é outro modo de conhecimento. Conforme a tradição histórica, a criação da palavra filosofia, filos (amizade) e sofia (sabedoria), é atribuída ao grego Pitágoras, que viveu no século VI a.C. Com o decorrer do tempo, entretanto, a palavra filosofia foi ganhando outro significado: não apenas de amor pela sabedoria ou procura dela, mas a busca de um tipo especial de sabedoria, ou seja, aquela que provém do uso da razão. É bom assinalar que o conhecimento filosófico designava, desde a Grécia clássica, a totalidade do conhecimento desenvolvido pelo ser humano. Isso significa que ele era abrangente e agrupava vários campos como o da matemática, da astronomia, da física, da lógica, da ética etc. Enfim, a filosofia abarcava o conjunto dos saberes da realidade. Isso perdurou até meados da Idade Moderna, quando, a partir dos séculos XVI, XVII, houve a separação entre ciência e filosofia. Na perspectiva de um modelo científico denominado de cartesiano-newtoniano, os campos do saber foram se dividindo. Contemporaneamente presenciamos a era dos especialistas que, como disse o sábio: “especialista é aquele que sabe tudo de um nada”. Nesse novo contexto, a filosofia passou a ter, entre outros, o papel de recuperar a unidade do saber, de indagar a validade dos métodos e critérios adotados pelas ciências, isto é, passou a desenvolver o trabalho de questionar as diversas ciências, além de procurar produzir conceitos sobre a realidade, a finalidade, o sentido e o valor da vida e do mundo. Na próxima unidade será aprofundada a tarefa da filosofia, inclusive vamos tratar mais proximamente da filosofia da educação. Instituto Maranatha Cursos A arte Às vezes nos esquecemos, mas a arte é também um modo de conhecimento. Em algum momento de nossa história, já percebemos e sentimos o efeito de alguma obra- de-arte: uma música marcante, um romance, um quadro, uma dança, um poema, um filme, uma escultura. Entretanto, não é fácil explicar, de modo preciso, o que nos encanta numa obra ou entender as razões pelas quais somos atraídos pela arte ao longo da nossa história como seres humanos pois, desde a antiguidade, o homem se relaciona com a natureza, consigo próprio e com o sagrado. Nessas relações ele (re) constrói o mundo e lhe dá um significado particular, artístico. O fato é que o saber proporcionado pela arte não nos dá o conhecimento objetivo de uma coisa qualquer, mas o de um modo particular de compreendê-la, um modo que traduz também a sensibilidade do artista. Trata-se, portanto, de um conhecimento (co)produzido pelo objeto e pelo sujeito. Nesse processo vale destacar a importância do sentir. A arte é e sempre será a manifestação de sentimentos e emoções que podem revelar aquilo que se ama ou a revolta em face de um problema: alegria, esperança, agonia, decepção, cólera e outros tantos sentimentos que fazem parte da condição humana. Do ponto de vista da filosofia, podemos falar em dois grandes momentos de teorização da arte. No primeiro, inaugurado por Platão e Aristóteles, a filosofia trata as artes sob a forma da poética; no segundo, a partir do século XVII, sob a forma da estética. arte Poética é o nome de uma obra aristotélica sobre as artes da fala e da escrita, do canto e da dança: a poesia e o teatro Instituto Maranatha Cursos FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO | UNIDADE 1 31 (tragédia e comédia). A palavra poética é a tradução para poiesis que significa fabricação. A arte poética, portanto, estuda as obras- de-arte como fabricação de seres e gestos artificiais produzidos pelos seres humanos. Estética é a tradução da palavra grega aesthesis, que significa conhecimento sensorial, experiência, sensibilidade. Foi empregada para referir-se às artes, pela primeira vez, pelo alemão Baumgarten, por volta de 1750. Em seu uso inicial, dizia respeito ao estudo das obras enquanto criação da sensibilidade, tendo como finalidade o belo. Pouco a pouco, substituiu a noção de arte poética e passou a designar toda investigação filosófica que tenha por objeto as artes ou uma arte. Do lado do artista e da obra, busca-se a realização da beleza; do lado do espectador e receptor, busca-se a reação sob a forma do juízo de gosto, do bom gosto (CHAUÍ, 2004, p. 322ss.). Um belo exemplo de arte é a poesia. Usufrua o poema a seguir, de Alberto Caeiro, um dos heterônimos de Fernando Pessoa: O meu olhar é nítido como um girassol. Tenho o costume de andar pelas estradas Olhando para a direita e para a esquerda, E de vez em quando olhando para trás... E o que vejo a cada momento É aquilo que nunca antes eu tinha visto, E eu sei dar por isso muito bem... Sei ter o pasmo essencial Que tem uma criança se, ao nascer, Reparasse que nascera deveras... Sinto-me nascida a cada momento Para a eterna novidade do mundo. Observe o verso: “(...)eterna novidade do mundo”. Palavras que estão separadas e em oposição. Eterno é o que está fora do tempo, permanece idêntico a si mesmo, enquanto o novo é pura temporalidade, o tempo como movimento e inquietação que se Instituto Maranatha Cursos PEDAGOGIA32 diferencia de si mesmo. No entanto, essa unidade do eterno e do novo, aparentemente impossível, realiza-se pelos e para os humanos. Chama-se ARTE (CHAUÍ, 1994, p.314). Faça o resumo das principais ideias da seção. Anote o que mais lhe chamou atenção. O conhecimento científico A ciência não é um sistema de enunciados certos ou bem estabelecidos, nem um sistema que avança constantemente em direção a um estado final. Nossa ciência não é conhecimento (episteme); ela nunca pode pretender haver atingido a verdade, ou mesmo um substituto para ela, tal como a probabilidade. Entretanto a ciência tem mais que um simples valor de sobrevivência biológica. Ela não é apenas um instrumento útil. Embora não possa atingir a verdade nem a probabilidade, o esforço pelo conhecimento e a procura da verdade ainda são os motivos mais fortes da descoberta científica. Não sabemos: podemos apenas conjecturar. E nossas conjecturas são guiadas pela fé, não-científica, metafísica (embora explicável biologicamente), nas leis ou regularidades que podemos desvendar - descobrir (...) Todavia, testes sistemáticos controlam cuidadosa e seriamente essas nossas conjecturas ou ‘antecipações’ maravilhosamente imaginativas e audazes. Uma vez propostas, não sustentamos dogmaticamente nenhuma de nossas ‘antecipações’. Nosso método de pesquisa não consiste em defendê-las para aprovar que estávamos certos. Pelo contrário, tentamos contestá-las. Empregando todas as armas de nosso arsenal lógico, matemático e técnico, tentamos provar que nossas antecipações eram falsas - com o fim de propor, em seu lugar, novas antecipações injustificadas e injustificáveis, Instituto Maranatha Cursos FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO | UNIDADE 1 33 novos ‘preconceitos precipitados e prematuros’’, como Bacon pejorativamente as chamou (...). Mesmo o teste cuidadoso e sério de nossas ideias pela experiência inspira-se, por sua vez, em ideias: a experimentação é uma ação planejada na qual a teoria guia todos os passos. Não topamos com nossas experiências, nem deixamos que elas nos inundem como um rio. Pelo contrário, temos de ser ativos: devemos fazer nossas experiências. Somos sempre nós que formulamos as questões propostas à natureza; somos nós que repetidas vezes tentamos colocar essas questões para então obter um nítido‘sim’ ou ‘não’ (pois a natureza não dá uma resposta, a menos que seja pressionada a fazê-lo). E, finalmente, somos nós também que damos uma resposta; somos nós próprios que, após severo escrutínio, decidimos sobre a resposta à questão que colocamos à natureza - após tentativas insistentes e sérias de obter dela um inequívoco ‘não’ (...). O velho ideal científico da episteme - do conhecimento absoluta- mente certo, demonstrável - mostrou ser um ídolo. A exigência da objetividade científica torna inevitável que todo enunciado científico permaneça provisório para sempre. Ele, com efeito, pode ser corroborado, mas toda corroboração é relativa a outros enunciados que, novamente, são provisórios (Popper. K. A lógica da pesquisa científica, In: ARANHA, M L. Filosofando. Introdução à filosofia. 1993, p. 165). FILOSOFIA: EM BUSCA DO TESOURO PERDIDO Caro(a) aluno(a)! A filosofia como forma de conhecimento só pode ser compreendida se experimentada através do uso de nossa ra- zão, igual em todos nós que participamos da condição humana. Essa afirmação é também o nosso convite e revela a intenção des- se trabalho. Vamos agora aprofundar um pouco mais a noção de filosofia, sua utilidade e função. A filosofia é um tesouro perdido fabuloso para ser reencontrado por nós. Instituto Maranatha Cursos PEDAGOGIA34 Já dissemos anteriormente que a etimologia da palavra aponta para a noção de amizade, de amor, de sabedoria. Conforme Chauí (1994, p. 18), atribui-se ao filósofo grego Pitágoras de Samos (que viveu no séc. V a.C. ) a invenção da palavra filosofia. Ele teria dito que a sabedoria plena e completa pertence aos deuses, mas que os homens podem desejá-la ou amá-la, tornando-se filósofos. Segundo Pitágoras, três tipos de pessoas compareciam aos jogos olímpicos: as que iam para comerciar e, portanto, pensavam ape- nas nos próprios interesses, as que iam para competir, isto é, os artistas e atletas e as que iam contemplar os jogos e torneios para avaliar, julgar o que ali se apresentava. O terceiro tipo de pessoa, conforme Pitágoras, é semelhante ao filósofo. Com isso Pitágoras indicava que o filósofo não deve ser movido por interesses comerciais, nem tampouco por interesses de competi- ção, mas sim pelo desejo de avaliar as coisas, as ações, a vida, em resumo, pelo desejo de saber. Desse modo, como afirma Chauí : “ a verdade não pertence a ninguém, ela é o que buscamos e que está diante de nós para ser contemplada e vista, se tivermos olhos (do espírito ) para vê-la” (1994, p. 20). O filósofo não possui em ato a sabedoria, não é seu proprietário, mas a deseja e a procura para com ela estar, participando dessa convivência, dessa proximidade de aconchego, de prazer, de res- peito, que é, também, instigadora e provocante. A sabedoria é pois, o objeto de um desejo e de uma procura. Assim, prezada(o) acadêmica(o), esse é um primeiro passo de nos- so convite. Compreender a filosofia como busca constante. Busca de quê? Busca da amizade, da sabedoria, dos conhecimentos que podem nos tornar melhores. Note-se que com frequência somos habituados a querer respos- tas prontas, acabadas, “receitinhas”. A filosofia, porém, a cada momento pergunta, duvida, contesta. Um certo inacabamento faz parte dessa atividade, que nunca se dá por concluída, nem a res- posta é conclusiva, permanecendo sempre aberta, por ser feita e refeita. Conforme Bréhier, citado por Peixoto (2001, p. 41): “Tudo o que é fechado em filosofia, tudo o que se dá como solução defini- Instituto Maranatha Cursos FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO | UNIDADE 1 35 tiva e sistema acabado pode ter, certamente tem, um valor peda- gógico, mas não tem real valor filosófico”. É polêmica a afirmação, não é mesmo? Sócrates (470-399 a.C.), grande filósofo grego, é uma referência importante nesse contexto. Preocupado com o método do conhecimento, partia do pressuposto: “Só sei que nada sei”, ou seja, é fundamental reconhecer a própria ignorância, ponto de partida para a procura do saber. Por isso seu conhecido método faz história: a ironia e a maiêutica. A ironia significa em grego, perguntar, interrogar. Sócrates interrogava seus interlocutores sobre aquilo que pensavam saber. O que é o bem? O que é a justiça? E a coragem? São exemplos de perguntas. O leitor pode acrescentar outras perguntas necessárias nos dias de hoje, como o que é educar, como organizar a sociedade etc. No decorrer do diálogo, com habilidade de raciocínio, Sócrates procurava evidenciar as contradições da fala, os problemas que apareciam a cada resposta. O objetivo era desconstruir a arrogância, o saber presunçoso ou feito de certezas inabaláveis. A intenção metodológica era fazer com que os interlocutores tomassem consciência profunda de suas respostas e das consequências do saber que julgavam ter. Na segunda fase do método, vem a maiêutica, palavra grega que significa parto, arte de trazer à luz. Sócrates deu esse nome em homenagem a sua mãe, que era parteira, explicando que, se ela aju- dava as crianças a virem ao mundo, ele queria contribuir para novas ideias virem à luz. A interrogação socrática expunha os saberes dos sujeitos e, ao mesmo tempo, mostrava o quanto as pessoas tinham consciência limitada sobre aquilo que realmente julgavam saber. Essa postura, como afirmam os historiadores, fez de Sócrates uma figura singular e lhe proporcionou amigos e muitos inimigos. Com a ironia, Sócrates questionou os valores consolidados e abalou as certezas do cotidiano. Com a maiêutica, desafiou os homens de seu tempo e a todos nós, educadores, a (re)construir pacientemente os conhecimentos à nossa volta. Processo esse que nem sempre é fácil ou cômodo. Exige uma sadia disciplina, dedicação, atenção, esforço, desacomodamento. Instituto Maranatha Cursos PEDAGOGIA36 A figura socrática mostra-nos, portanto, que o exercício da filosofia é essencialmente o exercício do questionamento, da interrogação, da construção dos conceitos sobre o sentido do homem e do mundo. A partir dessa atividade Sócrates foi considerado “subversivo”, julga- do e condenado à morte. No percurso histórico, a filosofia incomo- da a dimensão instituída da sociedade, pois é um saber instituinte, ou seja, coloca em debate as relações e situações que são aceitas pacificamente sem discussão e que são tidas como verdadeiras. A filosofia procura, desse modo, a verdade para além das aparências. A coruja é o símbolo da filosofia, pois con- segue enxergar o mundo mesmo nas noites mais escuras. A constituição física de seu pescoço permite que ela veja tudo à sua volta. Essa seria a pretensão da filosofia, por meio da razão poder ver racionalmente e entender o mundo mesmo nos seus momen- tos mais obscuros. E ainda procurar enxer- gá-lo sob os mais diversos ângulos possíveis. Platão e o Mito da Caverna A narrativa do mito da caverna, apresenta- da por Platão, é uma das mais belas e mais conhecidas de toda a história da filosofia e descreve a situação em que se encontra a hu- manidade. Para o filósofo, todos nós estamos presos em uma caverna da qual vemos apenas sombras a nossa frente e as tomamos como verdadeiras. O mito da caverna faz parte do Livro 7, da obra A República. Esse livro foi es- crito entre os anos 380-370 a.C e é um diálogo entre Sócrates e seus amigos, que apresenta o método dialético de investigação filosófica. Através de aproximações sucessivas, o mestre discute a organização da sociedade, a natureza da política, o papel da educação e a essência da justiça. Platão (428-347 a.C.) Instituto Maranatha Cursos FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO | UNIDADE 1 37 Vamos aqui reproduzir parcialmente uma das várias interpre- tações dessa narrativa, feita pelo escritor José Saramago (dis- ponível em http://educaterra.terra.com.br/voltaire/cultura 2006/05/17/000htm) A condição humana Platão viu a maioria da humanidade condenada a uma infelizcon- dição. Imaginou todos presos desde a infância no fundo de uma caverna, imobilizados, obrigados pelas correntes que os atavam a olharem sempre a parede em frente. O que veriam então? Su- pondo a seguir que existissem algumas pessoas, uns prisioneiros, carregando para lá para cá, sobre suas cabeças, estatuetas de ho- mens, de animais, vasos, bacias e outros vasilhames, por detrás do muro onde os demais estavam encadeados, havendo ainda uma es- cassa iluminação vinda do fundo do subterrâneo, disse que os ha- bitantes daquele triste lugar só poderiam enxergar o bruxuleio das sombras daqueles objetos, surgindo e se desfazendo diante deles. Era assim que viviam os homens, concluiu ele. Acreditavam que as imagens fantasmagóricas que apareciam aos seus olhos (que Pla- tão chama de ídolos) eram verdadeiras, tomando o espectro pela realidade. A sua existência era, pois, inteiramente dominada pela ignorância (agnoia). Libertando-se dos grilhões Se por um acaso, segue Platão na sua narrativa, alguém resolvesse libertar um daqueles pobres diabos da sua pesarosa ignorância e o levasse, ainda que arrastado, para longe daquela caverna, o que poderia então suceder-lhe? Num primeiro momento, chegando ao lado de fora, ele nada enxergaria, ofuscado pela extrema lumino- sidade do exuberante Hélio, o Sol, que tudo pode, que tudo provê e vê. Mas, depois, aclimatado, ele iria desvendando aos poucos, Instituto Maranatha Cursos PEDAGOGIA38 como se fosse alguém que lentamente recuperasse a visão, as manchas, as imagens, e, finalmente, uma infinidade outra de objetos maravilhosos que o cercavam. Assim, ainda estupe- fato, ele se depararia com a existência de um outro mundo, totalmente oposto ao subterrâneo em que fora criado. O uni- verso da ciência (gnose) e o do conhecimento (episteme), por inteiro, se escancarava perante ele, podendo então vislumbrar e embevecer-se com o mundo das formas perfeitas. As etapas do saber Com essa metáfora – o tão justamente famoso Mito da Caverna - Platão quis mostrar muitas coisas. Uma delas é que é sempre doloroso chegar-se ao conhecimento, tendo-se que percorrer ca- minhos bem definidos para alcançá-lo, pois romper com a inércia da ignorância (agnosis) requer sacrifícios. A primeira etapa a ser atingida é a da opinião (doxa) quando o indivíduo que se ergueu das profundezas da caverna tem o seu primeiro contato com as novas e imprecisas imagens exteriores. Neste primeiro instante, ele não as consegue captar na totalidade, vendo apenas algo im- pressionista flutuar à sua frente. No momento seguinte, porém, persistindo em seu olhar inquisidor, ele finalmente poderá ver o Instituto Maranatha Cursos FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO | UNIDADE 1 39 objeto na sua integralidade, com os seus perfis bem definidos. Aí então atingirá o conhecimento (episteme). Essa busca não se limi- ta a descobrir a verdade dos objetos, mas algo bem mais superior: chegar à contemplação das ideias morais que regem a sociedade - o bem (agathón), o belo (tokalón) e a justiça (dikaiosyne). O visível e o inteligível Há, pois, dois mundos. O visível é aquele em que a maioria da hu- manidade está presa, condicionada pelo lusco-fusco da caverna, crendo, iludida, que as sombras são a realidade. O outro mundo, o inteligível, é apanágio de alguns poucos. Os que conseguem su- perar a ignorância em que nasceram e, rompendo com os ferros que os prendiam ao subterrâneo, ergueram-se para a esfera da luz em busca das essências maiores do bem e do belo (kalogathia). O visível é o império dos sentidos, captado pelo olhar e dominado pela subjetividade; o inteligível é o reino da inteligência (nous) percebido pela razão (logos). O primeiro é o território do homem comum (demiurgo), preso às coisas do cotidiano, o outro é a seara do homem sábio (filósofo) que se volta para a objetividade, des- cortinando um universo diante de si. O desconforto do sábio Platão então pergunta pela boca de Sócrates, personagem cen- tral do diálogo a República, o que aconteceria se este ser que repentinamente descobriu as maravilhas do mundo dominado por Hélio, o fabuloso universo inteligível, descesse de volta à caver- na? Como ele seria recebido? Certamente que os que se encon- travam encadeados fariam mofa dele, colocando abertamente em dúvida a existência desse tal outro mundo que ele disse ter visitado. O recém-retornado certamente seria unanimemente hostilizado e ridicularizado. Dessa forma, Platão traçou o des- Instituto Maranatha Cursos PEDAGOGIA40 conforto que o sábio sente quando é obrigado a conviver com os demais seres comuns, presos à ignorância. Não acreditam nele, não o levam a sério. Imaginam-no um excêntrico, um idiossincrático, um extravagan- te, um tonto, alguém não dotado de um sentido prático, quando não um rematado doido (destino comum a que a maior parte dos cientistas, inventores e demais revolucionários do pensamento tiveram que enfrentar ao longo da história). Quais as alternativas? Deveria, por essa razão, o sábio desistir? O riso e o deboche com que invariavelmente é recebido, tomado quase sempre como um homem que vive com a cabeça metida nas nuvens, fariam com que ele devesse se afastar do convívio social? Quem sabe não seria preferível o isolamento num retiro solitário qualquer, com as costas voltadas para a cidade? Hostil à ideia da vida mo- nacal ao estilo dos pitagóricos, Platão foi incisivo: o conheci- mento do sábio deve ser compartilhado com seus semelhantes, deve estar a serviço da cidade. O filósofo, cheio de sabedoria e geometria que leva uma existência de eremita, acreditando- se um habitante das ilhas afortunadas, sem ter contato com ninguém de nada serve. Isto porque a lei não se preocupa em assegurar a felicidade apenas para uma determinada classe de cidadãos (no caso, os sábios), mas sim se esforça para “realizar a ventura da cidade inteira”. A liberdade que os sábios pare- cem gozar - o conhecimento dá aos seus portadores a sensação de liberdade - não é para eles se voltarem para o lado que lhes aprouver, mas para fazê-los concorrer ao fortalecimento do laço do Estado. Instituto Maranatha Cursos FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO | UNIDADE 1 41 O governo dos sábios Platão não ficou apenas na recomendação de que os sábios devem socializar o conhecimento. Ousou ir bem mais além. Justamente por eles, os filósofos, serem menos “apressados em chegar ao po- der” (sabendo perfeitamente distinguir o visível do inteligível, a imagem da realidade, o falso do verdadeiro), é que eles devem ser chamados para a regência suprema da sociedade. O texto que você acabou de ler, sobre o mito da caverna, traz mui- tas informações importantes. 1) Faça uma síntese dos principais conceitos descritos. Responda ainda a diferença entre opinião (doxa) e conhecimento autên- tico (episteme), segundo Platão. Afinal, qual a utilidade da Filosofia? (...) Afinal, para que Filosofia? É uma pergunta interessante. Não vemos nem ouvimos ninguém perguntar, por exemplo, para que matemática ou física? Para que geografia ou geologia? Para que his- tória ou sociologia? Para que biologia ou psicologia? Para que astro- nomia ou química? Para que pintura, literatura, música ou dança? Mas todo mundo acha muito natural perguntar: para que Filosofia? (...) Qual seria, então, a utilidade da Filosofia? Se abandonar a ingenuidade e os preconceitos do senso comum for útil; se não se deixar guiar pela submissão às ideias dominantes e aos pode- res estabelecidos for útil; se buscar compreender a significação do mundo, da cultura, da história for útil; se conhecer o sentido das criações humanas nas artes, nas ciências e na política for útil; se dar a cada um de nós e à nossa sociedade os meios para serem conscientes de si e de suas ações numa prática que deseja a liber- dade e a felicidade para todos for útil; então podemos dizer que a Filosofia é o maisútil de todos os saberes de que os seres humanos são capazes (CHAUÍ, M., 2004, p. 19). Instituto Maranatha Cursos PEDAGOGIA42 A filosofia no mundo Seja a filosofia o que for, está presente em nosso mundo e a ele necessariamente se refere.(...). Mas como se põe o mundo em relação à filosofia? Há cátedras de filosofia nas universidades. Atualmente, representam uma posição embaraçosa. Por força da tradição, a filosofia é polidamente respeitada, mas, no fundo, objeto de desprezo. A opinião corrente é a de que a filosofia nada tem a dizer e carece de qualquer utilidade prática (...). A oposição se traduz em fórmulas como: a filosofia é demasiada complexa; não a compreendo; está além de meu alcance; não tenho vocação para ela; e, portanto, não me diz respeito. Ora, isso equivale a dizer: é inútil o interesse pelas questões mais fundamentais da vida; cabe abster-se de pensar no plano geral para mergulhar, através de trabalho consciencioso, num capítulo qualquer de atividade prática ou intelectual; quanto ao resto, bastará ter ‘opiniões’ e contentar-se com elas. A polêmica torna-se encarniçada. Um instinto vital, ignorado de si mesmo, odeia a filosofia. Ela é perigosa. Se eu a compreendesse, teria de alterar minha vida. Adquiriria outro estado de espírito, veria as coisas a uma claridade insólita, teria de rever meus juízos. Melhor é não pensar filosoficamente. Muitos políticos veem seu nefasto trabalho pela ausência de filosofia. Massas e funcionários são mais fáceis de manipular quando não pensam, mas tão somente usam de uma inteligência de rebanho. É preciso impedir que os homens se tornem sensatos. Mais vale, portanto, que a filosofia seja vista como algo entediante. Oxalá desaparecessem as cátedras da filosofia. Quando mais vaidades se ensinem, menos estarão os homens arriscados a se deixar tocar pela luz da filosofia. Assim, a filosofia se vê rodeada de inimigos, a maioria dos quais não tem consciência dessa condição. (...) Os convencionalismos, o hábito de considerar o bem-estar material como razão suficiente de vida, o hábito de só apreciar a ciência em função de sua utilidade técnica, Instituto Maranatha Cursos FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO | UNIDADE 1 43 o ilimitado desejo de poder, a bonomia dos políticos, o fanatismo das ideologias, a aspiração a um nome literário – tudo isso proclama a antifilosofia. E os homens não o percebem porque não se dão conta do que estão fazendo. E permanecem inconscientes de que a antifilosofia é uma filosofia, embora pervertida, (...). O problema crucial é o seguinte: a filosofia aspira à verdade total, que o mundo não quer. A filosofia é, portanto, perturbadora da paz. E a verdade o que será? A filosofia busca a verdade nas múltiplas significações do ser (...) Busca, mas não possui o significado e substância da verdade única. Para nós, a verdade não é estática e definitiva, mas movimento incessante, que penetra no infinito. (...) Quem se dedica à filosofia põe-se à procura do homem, escuta o que ele diz, observa o que ele faz e se interessa por sua palavra e ação, desejoso de partilhar com seus concidadãos, do destino comum da humanidade (JASPER, 1971, p. 138). 1) Anote as ideias mais importantes dessa seção. Qual a real im- portância da Filosofia para você? Instituto Maranatha Cursos PEDAGOGIA44 AMAMENTAR, CRIAR, EDUCAR, FILOSOFAR Caríssimo(a) acadêmico(a)! Você sabia que a etimologia da palavra educação na língua latina tem sentidos riquíssimos? Educar vem de educare, quer dizer criar, amamentar. E educere: levar para fora, fazer sair, dar à luz, produzir. Desse modo, educação tem relação direta com o amamentar, criar, dar à luz e, por que não, com o filosofar. E sabemos muito bem que não há apenas uma educação, mas várias práticas educativas. Um belo trecho do texto conhecido como Carta à Virgínia, pode nos ajudar a compreender as diferentes práticas educativas e seus pressupostos. (...) Nós estamos convencidos, portanto, de que os senhores desejam o nosso bem e agradecemos de todo o coração. Mas aqueles que são sábios recon- hecem que diferentes nações têm concepções diferentes das coisas e, sendo assim, os senhores não ficarão ofendidos ao saber que a vossa ideia de educação não é a mesma que a nossa. (...) Mui- tos dos nossos bravos guerreiros foram formados nas escolas do Norte e aprenderam toda a vossa ciência. Mas, quando eles voltaram para nós, eram maus corredores, ignorantes da vida da floresta e incapazes de suportar o frio e a fome. Não sabiam caçar o veado, matar o inimigo ou construir uma cabana e falavam nossa língua muito mal. Eles eram, portanto, inúteis. (...) Ficamos extrema- mente agradecidos pela vossa oferta e, embora não possamos aceitá-la, para mostrar a nossa gratidão, concordamos que os nobres senhores de Virgínia nos enviem alguns de vossos jovens, que lhes ensinaremos tudo que sabemos e faremos de- les homens (BRANDÃO, C. R. 1984 p. 13). Facilmente constatamos que a educação, no decorrer dos tempos, está presente de diferentes formas nas várias sociedades e responde aos anseios, necessidades e problemas aí encontrados. Também a Filosofia da Educação está presente nas significações filosófico-educacionais que estão subentendidos nas nossas práticas e teorias pedagógicas. Onde houver prática pedagógica, haverá filosofia da educação. Instituto Maranatha Cursos FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO | UNIDADE 1 45 O que desejamos ser como homens e mulheres, cidadãos de nosso tempo, supõe pressupostos, que em filosofia chamamos de pressu- postos antropológicos. Além disso, há metodologias e racionalidades filosóficas distintas, motivo pelo qual é prudente alertar o leitor para essa variedade que se constitui muito mais em riqueza do que em limites. A fi- losofia da educação está presente nas elaborações filosóficas que implicitamente trazem uma concepção de educação: pode-se falar em concepção humanista, marxista, positivista e assim por diante. Assim, se a filosofia é uma forma de conhecimento válido, também o é quando se volta para as questões educacionais. Há uma lista de grandes autores brasileiros que se dedicaram e se dedicam a esse trabalho. Para citar alguns: Anísio Teixeira, Paulo Freire, Moacir Gadotti, Dumerval Trigueiro Mendes, Antonio Joa- quim Severino, Dermeval Saviani, Silvio Gallo, Rubem Alves e mui- tos outros. Para o professor Dermeval Saviani (1986, p. 27), “a filosofia é uma reflexão radical, rigorosa e de conjunto sobre os problemas da existência humana”. Assim sendo, de acordo com o autor, pode-se afirmar que a Filosofia da Educação é uma reflexão sobre os pro- blemas que surgem no ato de educar, pois a educação, enquanto prática social, deve responder aos anseios humanos de aperfeiçoa- mento do homem e da sociedade. Para Saviani (1986 p. 24), a reflexão filosófica apresenta algumas características. Ela é: radical - exige que se vá até a raiz da questão, até seus fundamen- tos, ou seja, que se faça uma reflexão em profundidade; rigorosa – o filosofar exige que se proceda com rigor, de forma crítica e sistemática, de acordo com métodos determinados, colo- cando em questão as conclusões da sabedoria popular e até mesmo as generalizações das ciências; de conjunto - o problema não pode ser examinado de modo par- cial; deve ser relacionado com os diversos aspectos do contexto em que está inserido. A filosofia estrutura uma visão global e unitária do saber, distinguindo-se assim das ciências que se detêm em as- pectos particulares do conhecimento. Instituto Maranatha Cursos PEDAGOGIA46 Segundo Severino (1994, p.10), é necessário distinguir entre a experiência histórico-cultural da filosofia através dos tempos e a função da filosofia da educação como atividade de todos os que se preocupam com a educação. Assim, para esse autor, a refle- xão filosófica/educacional compreende diferentes abordagens: a abordagem antropológica, uma vez que discute o sentido daexistência humana em condições sociohistóricas determinadas; a abordagem axiológica, na medida em que investiga os valores que norteiam a consciência individual e as relações humanas; e a abordagem epistemológica, porque discute os processos de pro- dução, sistematização e transmissão do conhecimento presentes na ação educativa. Note-se a abrangência de funções dada à ati- vidade filosófica, o que pressupõe que tal atividade seja sistemá- tica, tenha método. Inspirado nos filósofos franceses Deleuze e Guattari, o educador brasileiro Silvio Gallo (2002) entende a filosofia como criação de conceitos. A filosofia é a arte de formar, de inventar, de fabricar conceitos (...). O filósofo é o amigo do conceito, ele é conceito em potência. Quer dizer que a filosofia não é uma simples arte de formar, de inventar ou de fabricar conceitos, pois os con- ceitos não são necessariamente formas, achados ou produtos. A filosofia, mais rigorosamente, é a disciplina que consiste em criar conceitos (DE- LEUZE e GUATTARI, 1992, p. 19s). Essa definição é importante em dois aspectos: primeiro, por to- mar a filosofia como uma ação, uma atividade, apresentando-a como um ato, ato de pensamento. Para o ensino e o aprendizado da Filosofia, isso é determinante, pois, para sermos fiéis a esse tipo de experiência de pensamento, não basta que ensinemos seu produto (as ideias inscritas na História da Filosofia), mas é essen- cial que façamos a própria experiência. O segundo aspecto é que eles atribuem à Filosofia uma especificidade que só ela tem: a de produzir conceitos. Instituto Maranatha Cursos FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO | UNIDADE 1 47 Conforme Gallo (2002, p.278): Compreendida dessa forma, a filosofia aparece necessariamente como ação e não como algo sempre já presente. A filosofia mostra-se como produção, como ato essencialmente criativo, e o filósofo como artesão, como um demiurgo que, da vivência cotidiana, produz seus conceitos como pequenas ou grandes obras de arte, que perdurar- ão por séculos (...) ou serão esquecidos nos porões desabitados (...). Para o autor supracitado é significativo compreender a educação como área aberta. Isso significa conceber a educação como: [...] uma terra de ninguém, que não tem espe- cificidade nem se encontra mapeada e loteada, com proprietários dos saberes ali produzidos. Para dizer de outra forma, não consigo ver ‘especialis- tas em educação’. Prefiro a imagem da educação como ‘ terra de ninguém’ povoada por forasteiros, que seriam os filósofos, cientistas, artistas que, com espírito aventureiro, dedicamse a desbravar esta ‘terra incógnita’, de todos e de ninguém. Sendo uma área aberta, a educação abre-se para o diálogo e para a contribuição dos diferentes campos de saberes, sendo por eles potencializada e mutuamente potencializando-os. (GALLO, 2002, p. 279). Para superar os problemas que derivam de um pretensionismo des- cabido na filosofia e na educação, o autor propõe um diálogo per- manente entre as duas áreas, de forma que os dois campos de saber possam ser criativos e potencializados um para com o outro. Nesse contexto, propõe-se a noção de transversalidade. Conforme Gallo (2000, p.283), na noção de transversalidade: Assume-se a necessidade de que a produção de saberes se dê através de atravessamentos dos mais distintos e diversos campos, e não esteja apenas circunscrita a um campo singular. Dessa forma, a produção dos saberes filosóficos não se dá apenas e tão somente no solo clássico da filosofia, mas ela deve alimentar-se, fecundar e ser fecunda, na me- dida em que transversaliza com outros campos: as artes, as diferente ciências etc. (...) O conceito de transversalidade permite uma relação de atraves- samento na qual não há hierarquia, na qual as in- terações são mútuas e múltiplas. Instituto Maranatha Cursos PEDAGOGIA48 Note-se, portanto, a riqueza de abordagens sobre a filosofia da educação e suas possibilidades de fecundar o campo edu- cacional Sem esgotar tal universo, conclui-se que a atividade filosófica não deve ser uma mera abstração, ou apenas reflexão, ainda que a suponha. Deve ser uma experiência que implica uma posi- ção ativa do educador frente às realidades educacionais, sejam quais forem. Por meio da atividade filosófica, de criação de conceitos, é possível não só romper com o espontaneísmo simplista, mas também com a atitude rançosa, panfletária, ou que queira atribuir ao discurso filosófico uma função utilitarista, ou ainda, meramente moralista. Isso não significa negar a função também propositiva da atividade filosófica, ao contrário, a propositividade deve vir transversalizada por outros saberes, mesmo de outras áreas, como foi afirmado an- teriormente. Daí decorre que as áreas da filosofia e da educação podem ser fecundadas, potencializadas, articulando e (re)articulando os sa- beres. Assim se estabelece a conexão entre as diversas ciências pe- dagógicas e se propicia ao professor-educador maior compreensão da condição humana. Cabe à escola, como instituição que se organiza em torno de um projeto intencional e sistemático de desenvolvimento humano, proporcionar espaço para esse trabalho junto aos docentes, oportunizando-lhes também vivências educativas enriquecedoras, que favoreçam a tomada de consciência da prática pedagógica desenvolvida, dos seus fins e valores. Instituto Maranatha Cursos FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO | UNIDADE 1 49 Prática pedagógica Mas, onde está definida a filosofia da minha escola? A definição da filosofia de uma escola, além das convicções e práticas indivi- duais dos professores, se dá também na elaboração do projeto pedagógico de uma comunidade escolar. O proje- to não é simplesmente modismo (não deveria ser) ou discurso sem relação com a prática. Ele é o fio condutor das demais ações escolares. Uma escola sem uma posição filosófica clara é como um barco sem rumo: não sabe para onde vai e nem aonde quer chegar. A filosofia norteadora da escola deve ser fruto de estudo e trabalho de toda a comunidade escolar. Entretanto, nem sempre isso acontece, pois o projeto pedagógico é elaborado por um pequeno grupo, o que faz com que a maioria ignore a filosofia que norteia o seu trabalho. Que pena quando o projeto pedagógico fica na gaveta juntando poeira e esquecido! Contudo, há boas experiências educativas em que se busca utilizar o projeto como uma metodologia, ou seja, como um caminho, maneira de explicitar valores, planejar e rever ações. Um bom projeto pedagógico deve conter, entre outras informações, respostas às seguintes questões: - Quem somos? - Aonde queremos chegar? O que queremos ensinar ? - Como chegar aos objetivos propostos? - Por quê, para quê e a favor de quem estamos trabalhando? Tais questões implicam definir claramente a visão de mundo e de educação que orienta a nossa escola e que tipo de ser humano e de sociedade esta escola quer ajudar a formar. As respostas a essas questões envolvem um posicionamento filosó- fico e pedagógico da maior importância, que deverá nortear todas as atividades escolares. Instituto Maranatha Cursos PEDAGOGIA50 Definida a filosofia e os demais componentes do projeto pedagógi- co, segue-se outro desafio: fazer com que todos se conscientizem da necessidade de concretizá-lo e selecionar os meios adequados para os fins que se deseja alcançar, tarefa nem sempre fácil, não é mesmo? O que você pode fazer para colaborar? Não se esqueça de fazer o resumo dos principais conceitos dessa seção. síntese Caríssimo(a) acadêmico(a)! Nesta primeira unidade você foi con- vidado ao ler os textos, a iniciar uma experiência importante para todo ser humano que é a experiência filosófica, fundamen- tada no fato de que a filosofia é um modo de conhecimento vá- lido tanto quanto outros modos de conhecimento, como a arte e a ciência. A dificuldade que se tem com a filosofia é fruto de preconceitos difundidos que identificamo filosofar como apenas ter opinião sobre alguma coisa, ou ainda, aquele que vê a filosofia um co- nhecimento demasiado complexo e que não dá soluções práticas. Para superar esses preconceitos, é necessário fazer a experiên- cia filosófica que, na sua mais bela tradição, está ligada ao ato de perguntar, de interrogar sobre coisas, fatos, acontecimentos, valores. Ao assumir tal atitude todo ser humano é convidado a “parturir novas ideias”, gerar novos conceitos, criar novas res- postas para os problemas que se apresentam no cotidiano da existência humana. Uma grande questão que todo educador deve esclarecer é a respeito do próprio ato de conhecimento. O que é, afinal, conhecer? Instituto Maranatha Cursos FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO | UNIDADE 1 51 Com o filósofo Platão, a metáfora do mito da caverna traz à tona o risco do engano, da ilusão. Platão viu a maioria da humanidade condenada a uma infeliz condição, pois imaginou todos presos desde a infância no fundo de uma caverna, imobilizados, obrigados, pelas correntes que os atavam, a olharem sempre a parede em frente. O que veriam então? Apenas sombras da realidade. Para superar essa condição de ignorância, a narrativa insiste na libertação do homem através do conhecimento, tarefa difícil, mas não impossível. Assim é também com a educação. Se é necessário superar a igno- rância, mudar pontos de vista, romper preconceitos, criar novas perspectivas, então a filosofia é mais do que necessária. A filoso- fia da educação é, desse modo, um modo de conhecimento, uma potência humana que gera pensamento, permite aos educadores superar o instituído para tornar-se instituinte de novos saberes e conhecimentos. 1) Em nosso cotidiano, seja em casa ou na prática pedagógica, encontramos situações nas quais o senso comum está presente. Cite provérbios populares que você conhece e faça a crítica. Exemplos: Mulher no volante, perigo constante! As mulheres são frágeis e sensíveis. Homem que é homem não chora. 2) Encontre exemplos do senso comum que estão presentes na área da saúde e relacione com o que afirma o conhecimento científico. Por exemplo: Não se deve comer tal e tal fruta com leite, pois faz mal Quem ama não pega doença. 3) Leia o texto da seção 2, A filosofia no mundo, e promova um debate com colegas ou alunos. Algumas questões devem ser abordadas: Quais são as dificuldades para o desenvolvimento da filosofia? Por que a filosofia pode ser “perigosa”? Quais os inimigos da filosofia? Assista ao filme Matrix, o primeiro da série, e perceba as referências que o filme faz à filosofia e ao mito da caverna. Quais os paralelos que podemos estabelecer entre o personagem Neo e o filósofo Sócrates? Leia bons livros de filosofia, como: O mundo de Sofia. Jostein Gaardner. Editora Cia. das Letras, 1995. Convite à Filosofia. Marilena Chauí. Editora Ática, 2004. Aprender a Viver. Filosofia para novos tempos. Luc Ferry. Editora Objetiva, 2007. Instituto Maranatha Cursos PEDAGOGIA52 4) A ironia não é privilégio da filosofia. Ela ocorre na literatura, na música, no teatro. Sua característica fundamental é descons- truir um determinado discurso, valor ou forma de interpretar. O questionamento é sua marca registrada. Encontre expressões artísticas que exercem a ironia (músicas, por exemplo). 5) Relacione o mito da caverna com a educação. Instituto Maranatha Cursos FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO | UNIDADE 1 53 Anotações________________________________________________________ ________________________________________________________ ________________________________________________________ ________________________________________________________ ________________________________________________________ ________________________________________________________ ________________________________________________________ ________________________________________________________ ________________________________________________________ ________________________________________________________ ________________________________________________________ ________________________________________________________ ________________________________________________________ ________________________________________________________ ________________________________________________________ ________________________________________________________ ________________________________________________________ ________________________________________________________ _________________________________________________________ ________________________________________________________ ________________________________________________________ ________________________________________________________ ________________________________________________________ ________________________________________________________ ________________________________________________________ ________________________________________________________ ________________________________________________________ ________________________________________________________ ________________________________________________________ ________________________________________________________ ________________________________________________________ ________________________________________________________ ________________________________________________________ ________________________________________________________ ________________________________________________________ ________________________________________________________ ________________________________________________________ _________________________________________________________ Instituto Maranatha Cursos Instituto Maranatha Cursos 1 OBJETIVO DESTA UNIDADE:OBJETIVOS DESTA UNIDADE: Adquirir noções de metodologia filosófica; Problematizar a questão do conhecimento científico; Refletir sobre a possibilidade de um modelo cientifico emergente. 2 A FILOSOFIA ESTÁ NA hISTóRIA Para início de conversa Prezado(a) acadêmico(a)! Ao adentrar no universo da filosofia é fundamental lembrar que os filósofos foram seres humanos situados no seu tempo. Platão, Aristóteles, Agostinho, Tomás de Aquino, Descartes, Kant, Marx, Rousseau e outros pensa- dores renomados fizeram filosofia e são importantes na medi- da em que estavam situados profundamente no contexto de suas respectivas sociedades e épocas e por isso criaram novos conceitos. Assim, pode-se afirmar que a filosofia como expe- riência cultural está na história, porque ela manifesta e ex- prime os problemas e as questões que em cada época de uma sociedade, as pessoas colocam para si mesmas. Como afirma a filósofa brasileira Marilena Chauí: “A filosofia enfrenta essa novidade, num diálogo permanente com a sociedade e com a cultura”. E é por isso que, além de estar na história, a filo- sofia acaba tendo ela própria uma história singular, pois “as respostas, as soluções e as novas perguntas que os filósofos UNIDADE Instituto Maranatha Cursos PEDAGOGIA56 de uma época oferecem tornam-se saberes adquiridos que outros prosseguem, ou tornam-se novos problemas que outros tentam resolver, seja aproveitando o passado filosófico, seja criticando-o e refutando-o” (2004, p. 46). Nessa disciplina não podemos tratar de todos os temas da história da filosofia, em razão da amplitude e riqueza da própria história humana. Recomenda-se aos estudantes que desejarem aprofundar algum tema, consultar livros de história da filosofia e história da educação. Há ótimos trabalhos disponíveis no Brasil e alguns são indicados no decorrer deste livro. Então, vamos em frente? DE OLhO NO RETROVISOR Prezado(a) estudante! Olhar no retrovisor é um ato pelo qual per- cebemos aquilo que está atrás, ou aquilo que já passou, mas que esteve e está em nosso caminho. Assim é com a filosofia: é uma ex- periência de conhecimento sempre presente no decurso da história humana há milênios. Ela tem, pois, uma história e está nahistória. Um dos grandes temas que perpassa os séculos é a velha e sempre nova discussão sobre o método. A questão do método em filosofia A questão do método é importante em todos os campos do saber. A ciência moderna problematiza constantemente esse tema e a filo- sofia, por sua vez, ao longo de sua história, também. É aceito que a filosofia se preocupa com o método, enquanto prá- tica sistemática da atividade filosófica, a partir de Sócrates. Na Unidade I desse livro, já foi indicado o método socrático da ironia (pergunta) e da maiêutica (parto). O objetivo de Sócrates era de Instituto Maranatha Cursos FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO | UNIDADE 2 57 chegar à verdade, que se compunha de conceitos universais coe- rentes e válidos que pudessem orientar e direcionar a prática mo- ral dos seres humanos. Em Platão, discípulo de Sócrates, o método alcança a noção de dialética. O que significa isso como método de filosofar? Significa que a maiêutica so- crática é retomada, acrescida da con- traposição, isto é, as ideias vão sendo contrapostas até que se chegue próxi- mo das essências ideais. Nesse cami- nho, o entendimento humano iria do mundo sensível para o mundo das idéias, que, na teoria platônica, é o mundo das essências e, por isso mesmo, o mundo da perfeição, da verdade, da Beleza. Já em Aristóteles, a atividade do filosofar necessita de um ins- trumento apropriado, chamado de lógica. Nesse exercício mental, procede-se por meio do encadeamento de proposições lógicas, ou seja, de raciocínio dedutivo, tendo em vista chegar à verdade. Um exemplo pode ser útil. Se eu disser que os homens são mortais e que Pedro é homem, devo concluir necessariamente, pela via de- dutiva, que Pedro é mortal. Aristóteles formulava, inicialmente, proposições universais que eram assumidas como verdadeiras, e, a partir daí, deduzia tantas outras proposições coerentes com a primeira, de tal forma que se a primeira premissa fosse verdadeira, todas as que dela fossem deduzidas, também o seriam. Em Santo Agostinho, no período cha- mado de Patrística (do latim, pater = pai, ou seja, os pais da fé cristã), há uma retomada da perspectiva platô- nica, na qual a busca da verdade está no interior do homem. Para Agosti- nho, a verdade está dentro de cada homem, na sua alma. Desse modo, o método fundamental é o diálogo consigo mesmo para, na interioridade, encontrar a verdade eterna, que é Deus. Há muitos cantos religiosos que enfatizam esse conceito. Se você costuma frequentar igrejas, fique atento (a) para perceber. Instituto Maranatha Cursos PEDAGOGIA58 Tomás de Aquino, no período medieval, retomará a contribuição aristotélica, buscando constituir uma verdade universal da qual se deduziram outros tantos argumentos que seriam verdadeiros e que pudessem nortear a inteligência das pessoas. A contribuição desse pensador é bastante interessante. Ilustremos com um exemplo de suas teses, citado por Luckesi (2002), indicado aqui de forma re- sumida. Em primeiro lugar, Tomás de Aquino apresenta uma proposição em forma de dúvida: “Parece que Deus é verdadeiro”. Observe que Tomás não afirmou já de início que Deus é verdadeiro, mas sim “pa- rece” que ele é verdadeiro. A seguir, esclarece o que está querendo entender com essa proposição e chama a isso de cabeça (caput, em latim) da tese. Na sequência, elenca os argumentos tanto daqueles que se opõem à afirmação de que Deus é verdadeiro, quanto da- queles que concordam com a ideia. No passo seguinte do método, Tomás discute os acertos e os erros das afirmações a favor e contra a proposição, chegando assim a uma conclusão, que sempre é apresentada como a afirmação da proposição inicial sob o seu aspecto positivo. O que parecia ser uma dúvida, passa a ser uma verdade. Agora basta deduzir outras verdades a partir dessa que foi demonstrada. Desse modo, Tomás de Aquino utiliza-se de uma disputa entre opo- sitores, para chegar a uma conclusão que admite como verdadeira e que, por isso, lhe possibilita deduzir consequências logicamente encadeadas. Instituto Maranatha Cursos FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO | UNIDADE 2 59 Neste texto Umberto Eco, escritor italiano, situa importantes as- pectos da filosofia de Tomás de Aquino, empenhada em conciliar o cristianismo com uma ótica mais racional do mundo. Platão e Agostinho tinham dito tudo o que era necessário para compreender os problemas da alma, mas quando se tratava de saber o que seja uma flor ou o nó nas tripas que os médicos de Salermo exploravam na barriga de um doente, e porque era saudável respirar ar fresco numa noite de primavera, as coisas se tornavam obscuras. (...) Desse modo dividia-se a cultura europeia, quando se entendia o céu, não se entendia a terra. Se alguém ainda quisesse entender a terra deixando de lado o céu, a coisa ia mal. (...) A essa altura os homens da razão aprendem dos árabes que há um antigo mestre (um grego) que poderia fornecer uma chave para unificar esses membros esparsos da Cultura: Aristóteles. Aristóteles sabia falar de Deus, mas classificava os animais e a as pedras, e se ocupava com o movimento dos astros. Sabia lógica, preocupava-se com a psicologia, falava de física, classificava os sistemas políticos. Mas Aristóteles, sobretudo, oferecia as chaves (e Tomás disso saberá tirar dele o máximo) para inverter a relação entre a essência das coisas (e isso significa aquela porção das coisas que pode ser entendida e dita, mesmo quando as coisas não estão ali debaixo dos nossos olhos) e a matéria de que as coisas são feitas. (...) Tomás não era nem herege nem revolucionário. Tem sido chamado de ‘concordista’. Para ele tratava-se de afinar aquela que era a nova ciência com a ciência da revelação (...). Mas nesse plano ele aplica um extraordinário bom senso e (mestre em sutilezas teológicas) uma grande aderência à realidade natural e ao equilíbrio terreno. Fique claro que Tomás não aristoteliza o cristianismo, mas cristianiza Aristóteles. Fique claro que nunca pensou que com a razão se pudesse entender tudo, mas que tudo se compreende pela fé: só quis dizer que a fé não estava em desacordo com a razão, e que, portanto, era até possível dar-se ao luxo de raciocinar, saindo Instituto Maranatha Cursos PEDAGOGIA60 do universo da alucinação. E assim compreende- se porque na arquitetura de suas obras os capítulos principais falam apenas de Deus, dos anjos, da alma, da virtude, da vida eterna; mas no interior desses capítulos tudo encontra um lugar, mais que racional, ‘razoável’ (...). Não se esqueça de que antes dele, quando se estudava o texto de um autor antigo, o comentador ou o copista, quando encontravam algo que não concordava com a religião revelada, ou apagavam as frases ‘errôneas’ ou as assinalavam em sentido dubidativo, para pôr em guarda o leitor, ou as deslocavam para a margem. O que faz Tomás por sua vez? Alinha as opiniões divergentes, esclarece o sentido de cada uma, questiona tudo, até o dado da revelação, enumera as objeções possíveis, tenta a mediação final. Tudo deve ser feito em público, como pública era justamente a disputatio (o debate) na sua época: entra em função o tribunal da razão (Eco, Umberto, In: COTRIM, 2000, p. 134). Na próxima seção vamos estudar autores do pensamento moderno que abordaram o problema do método. Instituto Maranatha Cursos FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO | UNIDADE 2 61 PENSO, LOGO EXISTO? Prezado(a) aluno(a)! Com o advento da Idade Moderna, mudan- ças radicais aconteceram na discussão sobre o conhecimento, que toma um novo direcionamento ao compreender o papel do sujeito no ato de conhecer. É por isso que este período questionará as verdades então estabelecidas pelo modelo Platônico-Agostiniano e Aristotélico-Tomista. O grande nome tido como referência para esse período (século XVI- XVII) é o de René Descartes. A partir dele, a questão metodológica passou a assumir o papel principal, tanto para a filosofiacomo para a ciência emergente, denominada de ciência moderna. A socieda- de moderna necessitava de novos métodos do conhecer, uma vez que o conhecimento tornou-se uma questão fundamental e com ele surge uma nova visão de mundo. René Descartes (1596-1650), filósofo, médico e matemático francês, é con- siderado o fundador da ciência mo- derna, pai do racionalismo moderno, e aquele que concluiu a formulação que deu sustentação ao surgimento da ciência moderna. Descartes entende ser fundamental a proposição de um método novo para a construção do conhecimento científico e passa a detalhar tais preceitos, presentes até hoje no fazer científico, cujos benefícios e consequências têm sido debatidos. No Discurso do Método, obra de Descartes, encontram-se os seguintes preceitos: O primeiro era o de jamais acolher alguma coisa como verdadeira que eu não conhecesse evidentemente como tal; isto é, evitar cuidadosamente a precipitação e a prevenção, e de nada incluir em meus juízos que não se apresentasse tão clara e tão distintamente a meu espírito, que eu não tivesse nenhuma ocasião de pô-lo em dúvida. Instituto Maranatha Cursos PEDAGOGIA62 O segundo, o de dividir cada uma das dificuldades que eu examinasse em tantas parcelas quantas possíveis e quantas necessárias fossem para melhor resolvê-las. O terceiro, o de conduzir por ordem meus pensamentos, começando pelos objetos mais simples e mais fáceis de conhecer, para subir, pouco a pouco, como por degraus, até o conhecimento dos mais compostos, e supondo mesmo uma ordem entre os que não se precedem naturalmente uns aos outros. E o último, o de fazer em toda parte enumerações tão completas e revisões tão gerais, que eu tivesse a certeza de nada omitir (DESCARTES, 1996, p. 78). O método cartesiano, em seus quatro passos, fundamenta-se no uso prioritário da razão. Trata-se de uma profissão de fé na razão, de onde o filósofo passa para o exercício da dúvida total como critério para descobrir a verdade: De há muito observara que, quanto aos costumes, é necessário às vezes seguir opiniões, que sabemos serem muito incertas, tal como se fossem indubitáveis,(...) mas por desejar então ocupar- me somente com a pesquisa da verdade, pensei que era necessário agir exatamente ao contrário, e rejeitar como absolutamente falso tudo aquilo em que pudesse imaginar a menor dúvida, a fim de ver se, após isso, não restaria algo em meu crédito que fosse inteiramente indubitável (DESCARTES, 1996, p. 88). Daí surge a necessidade de Descartes encontrar ao menos uma certeza para não recair num ceticismo completo, de onde vem a máxima cartesiana: Mas, logo em seguida, adverti que, enquanto eu queria assim pensar que tudo era falso, cumpria necessariamente que eu, que pensava, fosse alguma coisa. E, notando que esta verdade: eu penso, logo existo, era tão firme e tão certa que todas as mais extravagantes suposições dos céticos não seriam capazes de abalar, julguei que podia aceitá-la, sem escrúpulo, como o primeiro princípio da Filosofia que procurava (DESCARTES, 1996, p. 92). Instituto Maranatha Cursos FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO | UNIDADE 2 63 Observe, portanto, que o recurso metodológico proposto por Descartes é a dúvida metódica sobre todas as afirmações, até encontrar um ponto de apoio, a partir do qual as verdades po- deriam ser assumidas como corretas. Não se poderia acredi- tar em afirmações que não fossem demonstradas a partir desse ponto de apoio, que seria a única certeza possível e ao qual se chegaria depois de duvidar de todas as coisas. A expressão latina cogito ergo sum, isto é, eu penso, logo existo, resume a preocupação do autor. A força do pensamento cartesiano na filosofia e na ciência é sig- nificativa até os dias de hoje, pois Descartes coloca o sujeito do conhecimento no centro do processo de conhecer e é por isso cha- mado de “pai” do método científico. Outros autores colaboraram ainda para o desenvolvimento do método, no período que conhece- mos por período da revolução científica. Dos vários cientistas que contribuíram para a denominada re- volução científica, destaca-se Galileu Galilei (1564-1642), físi- co, matemático e astrônomo italiano, conhecido como o grande gênio de sua época. A ciência para Galileu é um saber que não está mais a serviço da fé, antes busca a autonomia. Galileu introduz a descrição matemática da natureza e a abordagem empírica como características predominantes do pensamento científico do século XVII. Outras características da ciência para Galileu, segundo Reale e An- tiseri (1990, p. 278), são: a) A ciência pode nos dar uma descrição verdadeira da realidade, alcançando os objetos e, assim, sendo objetiva. b) A ciência descreve a realidade, sendo conhecimento e não pseudofilosofia, pelo fato de que descreve as qualidades obje- tivas (isto é, primárias) e não as subjetivas (secundárias) dos corpos. c) A ciência é o conhecimento objetivo das ‘sensações’ ou quali- dades mensuráveis dos corpos. Instituto Maranatha Cursos PEDAGOGIA64 Basear-se nas qualidades objetivas ou primárias dos corpos e nas suas qualidades geométricas e mensuráveis comporta toda uma sé- rie de consequências: 1) a exclusão do homem do universo de investigação da física; 2) excluindo o homem, exclui-se também um cosmos inteiro de coisas e objetos ordenados e hierarquizados em função do homem; 3) elimina a investigação qualitativa em benefício da quantitativa; 4) eliminam-se as causas finais em favor das causas mecânicas e eficientes. Desse modo, embora a ciência galileana se situe em rivalidade com os conceitos do saber aristotélico, ela deixa marcas indeléveis em outros campos. A estratégia de Galileu de dirigir a atenção do cientista para as propriedades quantificáveis da matéria foi extremamente bem su- cedida em toda ciência moderna. A revolução científica teve ainda outros teóricos exponenciais, como Francis Bacon (1561-1626). Descartes, ao acentuar a questão do método, particularizou a razão sobre a experiência (fomentan- do o racionalismo); Bacon privilegiava, no ato científico, a experi- ência sobre a razão (desembocando no empirismo). Instituto Maranatha Cursos FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO | UNIDADE 2 65 CURIOSIDADE: Galileu e o telescópio Embora ainda exista al- gum debate sobre quem precisamente inventou o telescópio, está claro que esse alguém não foi Galileu. A primeira licen- ça para construir teles- cópios foi obtida por um oculista holandês chama- do Johannes Lippershey no dia 02 de outubro de 1608, mas já em setembro “tubos ópticos de magnificação” foram vistos numa feira em Frankfurt (Alemanha). Os instrumentos atraíram tanta atenção que, em abril de 1609, era possível comprá-los em Paris. Assim que Galileu ouviu as novidades, ele rapidamente construiu seu próprio telescópio, de melhor qualidade do que os que existiam na época. Sendo uma pessoa astuta e de grande ambição social, no dia 08 de agosto de 1609 ele convidou o Senado de Veneza a examinar o instrumento do alto da torre de São Marco, frisando o quanto o objeto era importante como arma de defesa contra uma invasão marítima. Seu sucesso foi enorme. O Senado ficou tão impressiona- do com Galileu e seu telescópio que tornou sua posição em Pádua permanente, dobrando seu salário. Além de melhorar sua situação profissional e financeira, o telescópio iria se tornar a maior arma de Galileu na cruzada contra a visão de mundo aristotélica; os céus jamais seriam os mesmos após Galileu apontar seu telescópio para as estrelas (GLEISER, 2002, p. 141). Francis Bacon (1561-1626) descreveu o seu método empírico de ciência, formulando a teoria do procedimento indutivo, cuja metodologia se baseava no exame de alguns casos particulares para chegar a conclusões gerais a serem testadas por novos ex- perimentos, tornando-se, então, o novo método de experimen- tação científica. Instituto Maranatha Cursos
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