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Colisão entre a atuação do estado e a vida privada[1371]

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Colisão entre a atuação do estado e a vida privada: limites do intervencionismo 
 
Giovane Nicéas 
 
Resumo 
 
Este trabalho apresenta o surgimento e evolução da sociedade, passando desde o período do estado 
natural aos dias atuais. Verifica-se que o ser humano trocou o estado de natureza onde a liberdade 
era total, mas também a guerra de todos contra todos era constante e o direito era do mais forte, 
para viver em coletividade de forma cooperada, outorgando parte de sua liberdade a um terceiro - o 
Estado - e em troca seria protegido por ele. Todavia, o que se observa foi que, ao longo do tempo o 
Estado passou a intervir excessivamente na vida privada dos indivíduos. Então, o presente estudo, 
demonstra níveis de intervenção estatal diversos ao longo da história, enfocando no estado 
brasileiro atual, com o fito de contribuir como alicerce coadjuvante no posicionamento do Brasil na 
resolução de problemas sociais que só tem se agravado, em decorrência de uma intervenção 
inadequada do estado soberano na sociedade. Palavras-chave: estado natural, sociedade, Estado, 
intervenção, Brasil. 
 
Abstract 
This paper presents the emergence and evolution of society, since the period of the state of nature 
to the present days. It should be verified that humans swapped the state of nature where freedom 
was total, but also the war of all against all was constant and the right was of stronger one, to live in 
a community cooperative, giving part of their freedom to a third - the State - and in return would be 
protected by it. However, it was observed that over time the state has to intervene on the privacy of 
excessively individuals. So, this study demonstrates different levels of state intervention in the 
world and throughout history, focusing on the Brazilian current state, with a goal to contribute as a 
foundation supporting the position of Brazil in solving its social problems that has only worsened 
due to an inadequate intervention of the sovereign state in society.Keywords: state of nature, 
society, state intervention, Brazil. 
 
SUMÁRIO: Introdução 2 O Estado de Direito: Contextualização e Conceitos 2.1 Surgimento do 
Estado 2.2 Evolução Histórica 2.2.1 O Estado Sob a Perspectiva Karl Marx 2.2.2 O Estado Sob a 
Perspectiva de Max Weber 2.2.3 O Leviatã de Thomas Hobbes 2.4.4 O estado Sob a Perspectiva de 
John Locke 2.4.5 Liberalismo 2.5 Estado Contemporâneo 3 Do Pacto Social 3.1 O Homem Natural 
3.2 Jus-Naturalismo 3.3 Contrato Social Compulsório 3.4. Contrato Social Vigente 3.5 Contraponto 
Entre Estado Natural e o Contrato Social 4 Limites do Intervencionismo Estatal 4.1 Estado 
Intervencionista 4.2 Estado Mínimo 4.3 Indispensabilidade do Intervencionismo 4.5 
Intervencionismo e Interesse Político 5 Princípios da autonomia da vontade individual 5.1 
Relativização da Autonomia da Vontade 5.3 Direito a própria Vida 5.3.1 Crime de Suicídio 5.3.2 
Direito ao Próprio Corpo 5.4 Liberdade de União Civil 5.5 Autonomia Familiar 5.5.1 Autonomia na 
Educação Filosófica dos Filhos 5.5.2 Liberdade no Sistema de Educação Intelectual 5.6 Estado 
Laico: Liberdade Religiosa 5.7 Liberdade no Uso de Entorpecentes 6 Analise dos resultados 6.1 
Impactos da Política Minimalista 6.2 Diminuição da Criminalidade 6.3 Holanda: Referencial Social 
6.4 A Anomia e o Estado Brasileiro 7 Conclusão Referências 
Introdução 
Na história da humanidade observa-se que o ser humano vivia isoladamente, tendo contato 
limitado somente para fins de procriação. Seus interesses, naturalmente, diversos geravam graves 
conflitos que eram dirimidos entre os próprios envolvidos por meio de guerras, quase sempre 
mortais. Os principais motivos eram variados, como conquista de alimentos, posse territorial pelas 
fêmeas da espécie. Este período, denominado como estado natural, era dizimador da própria 
humanidade, pois era uma guerra constante de todos contra todos, na tentativa da satisfação dos 
interesses unicamente individuais, sendo a tutela do direto, pertencente ao mais forte (em sentido 
amplo). Destarte, com guerras constantes de todos contra todos, a humanidade não prosperava, não 
http://giovaneandreas.jusbrasil.com.br/
evoluía intelectualmente e, por conseguinte eram completamente a suscetíveis à extinção da 
espécie. 
Então, o homem em determinado momento, passa a viver em coletividade outorgando seus 
interesses a um terceiro, que tutelaria o direito de todos. Este advento ficou conhecido como 
Contrato ou Pacto Social. Cada individuo signatário deste pacto renunciaria parte de toda sua 
liberdade que possuía no estado natural ao Estado Soberano, para que todos pudessem viver 
coletivamente em paz, e em cooperação. Em qualquer momento em que se deflagrasse algum 
conflito entre os indivíduos, o Estado, único legitimo para tutelar os direito de todos, interviria 
concedendo o ganho da causa a quem julgasse ter a razão, pacificando-se assim o conflito. 
Hipoteticamente esta seria a condição ideal para humanidade, se não fosse distorções no processo 
de intervenção estatal que pode retroceder o estado social aos problemas do estado natural, 
acrescido de outros ônus. 
Verifica-se que o Estado detém todo o poder, é legítimo na tutela do direito de todos e portanto é 
soberano sobre seus governados. A sociedade é governada por um representante que na vigência 
desta posição toma todas as decisões como sendo o próprio Estado. Assim, este representante 
(monarca, presidente, primeiro ministro, etc.) revestido de poder pode intervir na população por 
interesse próprio ou de um grupo privilegiado; também, por imperícia, pode intervir 
demasiadamente na vida privada do indivíduo cerceando-lhe a liberdade, oprimindo, permitindo 
conflitos demasiados, o crescimento da desigualdade e a perda da dignidade humana. 
Este trabalho tem como fito identificar até que ponto a intervenção do Estado é de fato benéfica, e 
até mesmo vantajosa em relação à vida humana em seu estado natural; visando apresentar diversos 
pontos de vista adotados no mundo e ao longo da história sempre trançando um paralelo com a 
conjuntura brasileira. Assim, podendo ser útil para reflexão das políticas adotadas no Brasil até 
hoje e que sirva como um dos balizadores para problemas sociais atuais e projetos normativos que 
tramitam para o futuro. 
Objetivando a fundamentação da pesquisa, serão apresentados conceitos sobre, o período pré-
social, gênese evolução da historia da sociedade, bem como o ponto de vista dos principais, 
filósofos, sociólogos e juristas sobre o tema. Também, serão expostas as diversas culturas mundiais 
e aplicações das respectivas intervenções estatais, como também dados estatísticos sobre os 
resultados de tais políticas. 
O trabalho está ordenado em sete capítulos. O Capítulo 2 conceitua o Estado de Direito pela ótica de 
pensadores renomados no tema, contextualiza e posiciona historicamente o assunto a ser abordado. 
No terceiro capítulo, discorre-se acerca do período de estado natural da humanidade, o surgimento 
do reconhecimento dos direitos naturais (jus-naturalismo), surgimento e definição do Contrato 
Social e o primeiro contraponto do trabalho: Estado Social ou estado natural. O Capítulo 4 explana 
sobre os limites estatais na intervenção social, apresentando os dois extremos: Estado 
Intervencionista e Estado Mínimo, e a indispensabilidade de intervenção. No Capítulo 5, serão 
apresentados os princípios da autonomia da vontade individual, apresentando exemplos reais. O 
sexto capítulo apresenta os resultados obtidos com o presente trabalho. Por fim, as conclusões serão 
apresentadas no Capítulo 7. 
2 O Estado de Direito: Contextualização e Conceitos 
Este capítulo aduzirá historicamente o surgimento e evolução do Estado e seus conceitos sob a 
perspectiva dos principais referenciais advindos de filósofos, políticos, e escritores contemporâneos 
ao surgimento do conceito em comento. Outrossim, suas principais características, progresso do 
estado primitivo e exposição das etapas relevantes no lapso temporal do momentoprimário ao 
vigente. 
2.1 Surgimento do Estado 
Anteriormente às famílias monogâmicas e à propriedade privada, a sociedade era composta por 
grupos matriarcais onde a paternidade era ignorada em face a impossibilidade de averiguação 
desta, promovendo a mãe à posição de autoridade suprema da família primitiva. A hierarquização 
destes grupos familiares era realizada pelos anciãos por intermédio dos conselhos tribais; a 
harmonização social era alicerçada em práticas religiosas, tendo relações sociais unicamente 
pessoais. 
Findando-se o nomadismo e iniciando as práticas da agropecuária, surge-se a necessidade das 
propriedades privadas que desperta o interesse de garantias sucessórias, nascendo, portanto, as 
famílias patriarcais com vínculo monogâmico (por parte da mulher), podendo, todavia, garantir a 
hereditariedade dos bens privados. 
Constatou-se que, a certeza da paternidade com o fito de acautelar a transmissão hereditária da 
propriedade privada não era o necessário para garantia da segurança dos bens. Portanto, 
objetivando o resguardo das posses, criou-se uma estrutura política rudimentar capaz de assegurar 
os direitos, ora ameaçados por ladrões ora por invasores; também foi possibilitado a criação de 
cooperativas para trabalhos conjuntos onde toda a sociedade ou grande parte dela se beneficiava, 
como pontes, barragens, estradas, canais, etc. 
Após essa união social institucionalizada, e liderada dentro de uma estrutura política, pode-se, 
todavia, identificar a gênese do Estado. Estes tinham como principal características o poder 
absoluto teocrático, constituído no monarca que era considerado divindade. O próximo relato 
histórico do Estado foi verificado na Grécia com as chamadas polis(comunidades organizadas) 
formadas pelos politikos (cidadãos); cabendo mencionar dentre elas, as cidades-estados, Atenas, 
Esparta e Corinto. 
2.2 Evolução Histórica 
Ante a apresentação anterior do surgimento do estado em sua forma primitiva ainda no período da 
idade antiga, este tópico narrará o Estado Contemporâneo que é o enfoque do trabalho, entretanto, 
não omitindo que, do Estado Antigo ao Estado Moderno houveram etapas evolutivas. 
A primeira definição do Estado Moderno pode ser encontrada na obra de Nicolau Maquiavel, O 
Príncipe, onde ele defende, em dissonância com o pensamento medieval de sua época, a existência 
de um estado secular forte o bastante para fazer frente ao poder do papado. 
Segundo June Müller (1997), o pensamento medieval preponderava a concepção dualista cristã 
composta pela Cidade dos Homens (autoridade política) e a Cidade de Deus (autoridade divina), 
sendo esta soberana sobre aquela, pelo fato da total submissão do ser social aos designíos divino, 
demonstrada pelos objetivos de construir o reino de Deus na terra, conduzir à salvação por 
intermédio do castigo e remédio à natureza decaída humana, obedecer ao governo terreno até o 
limite do governo divino, por meio das ideias de justiça. 
Em contraponto, os pensamentos de Maquiavel que de fato solidificou a definição de Estado 
Moderno, aludidos por Müller, elencavam como características: 
• O cristianismo em decadência: início do conflito entre poderes divino (igreja) e temporal 
(Estado); 
• ascensão do capitalismo; 
• fortalecimento da monarquia e centralização das forças políticas, como exército, e cortes 
de justiça; e 
• Estado absoluto, onde o proletariado e fortemente dominado pela burguesia, garantindo 
somente aos aristocratas privilégios e direitos. 
• Em síntese, a principal característica do Estado Moderno é a soberania, ou seja, ideia em 
que o soberano (governante) era legítimo para impor suas decisões arbitrárias perante 
seus súditos (governados) residentes em seu território de domínio (território estatal). Para 
tal, segundo Araújo (2006), alguns meios para controlar a política foram desenvolvidos, 
quais sejam: 
• território definido: foram estabelecidas fronteiras geográficas definindo os limites 
territoriais de cada governo; 
• idioma comum: um mesmo idioma era falado em cada território nacional valorizando a 
cultura e costumes, outrossim, a possibilidade de transmissão das ordens dos monarcas; 
• centralização da justiça: aplicação de uma legislação una para todo o Estado; e 
• poder militar: para garantir as decisões do governo soberano foi necessária a criação de 
um exército permanente controlado pelo rei. 
 
2.2.1 O Estado Sob a Perspectiva Karl Marx 
Na visão de Marx (2007), o Estado não era uma imposição divina nem tampouco fruto de um 
contrato social, e sim, um meio de garantir a dominação de uma classe social sobre a outra, ou seja, 
a minoria burguesa que detinha a maioria das propriedades privadas carecia se salvaguardar. 
As principais ferramentas empregadas na dominação entre classes eram o aparato de ordem 
(jurídica) e da força pública (policial e militar). Assim, o liberalismo define o Estado como 
garantidor do direito de propriedade privada e, reduz a cidadania aos direitos dos proprietários 
privados (CHAUI, 2000). 
2.2.2 O Estado Sob a Perspectiva de Max Weber 
Weber (1982) defendia a concepção de Estado como sendo uma entidade que possui o monopólio 
do uso legítimo da força coercitiva sobre seus governados. Destarte, um lado atuava ponderando 
direitos e consequentemente especializava os poderes Legislativo, Judiciário, sendo aquele – o 
Legislativo – o mais importante por representar o povo, objetivando assegurar a segurança de cada 
indivíduo e por conseguinte a ordem política, em outra ponta, é adepto da intervenção estatal em 
diversos âmbitos como: saúde, cultura, economia, para tal dispõe-se de força militar permanente. 
2.2.3 O Leviatã de Thomas Hobbes 
Para Hobbes (1979), o Estado deveria ser uma instituição que precipuamente regulasse as relações 
entre os indivíduos pelo fato de o homem em seu estado natural na busca incessante de provimento 
de seus desejos de forma egoísta, violenta e vil, movido unicamente por suas paixões. 
Em sua obra Leviatã, Hobbes separa a humanidade em dois grupos: o estado natural e o político 
social. No estado natural o homem é completamente livre, dotado de toda sorte de direitos e 
nenhum dever, sendo um estado – considerado pelo filósofo – sórdido, pobre, solitário, tosco e 
curto (HOBBES, 1979). Entretanto, no estado político social haveria um governo que imporia suas 
ordens a fim de construir uma coletividade harmônica dotada não só de direitos (restringidos), 
como também deveres. 
O homem, por natureza, é egoísta, pois quer fazer apenas o que é do seu interesse, sem levar em 
consideração os anseios dos outros. Devido a isso, quando há choques de interesses entre esses 
indivíduos, surgem os conflitos interpessoais, já que “os dois desejam a mesma coisa, ao mesmo 
tempo, que é impossível ela ser gozada por ambos, eles se tornam inimigos”. (HOBBES, 1979, p.74). 
No pensamento de Hobbes, o soberano – estado – é quem garantiria a harmonia, paz e segurança 
outrora garantida de forma precária sob a autoridade de um senhor feudal. Em troca, era alienada 
ao soberano todas as liberdades individuais, sendo, então, o Estado, o senhor absoluto na vida dos 
seres humanos. Assim, Hobbes, cognomina o Estado como Leviatã, fazendo uma alusão a um 
monstro citado no livro de Jó no antigo testamento, que diz: 
Ninguém é bastante ousado para provocá-lo; O seu coração é firme como uma pedra; Não há nada 
igual a ele na terra, pois foi feito para não ter medo de nada; Ele olha com desprezo tudo o que é 
alto; é rei sobre todos os animais orgulhosos. (Jó in Bíblia, 1997). 
A despeito de essa descrição bíblica aludir uma besta assustadora, esse mesmo animal segundo 
Martins e Aranha, é o que defende os peixes menores (mais fracos) de serem devorados pelos peixes 
maiores (mais fortes). Outra analogia que cabe relevância é de que o Leviatã seria "um gigante cuja 
carne é a mesma de todos os que a ele delegaram o cuidado de os defender" (ARANHA e MARTINS, 
2003), representando claramente a visão de Hobbes. 
IlustraçãoI: O Leviatã – Fonte: (MARQUE e SERRÃO, 2012) 
Na Ilustração I, pode-se observar um ser enorme, com o corpo composto por vários indivíduos, à 
sua destra uma espada imponente em sua mão esquerda um cajado, velando sem pestanejar sobre 
seu território de domínio, aludindo respectivamente, a soberania, a formação pela colet ividade, a 
onipotência e poder protetivo e coercitivo constante pelo seu exército. 
2.4.4 O estado Sob a Perspectiva de John Locke 
Locke fazia críticas às ideias de Thomas Hobbes, em que este acreditava no direito divino dos reis. 
Para Locke, entretanto, a soberania se encontrava na população, não no Estado, e mesmo sendo 
soberano, deveria respeitar as leis naturais advindas dos seres humanos. 
John Locke também foi um dos defensores entre Estado e igreja, e apoiava a liberdade religiosa, em 
consequência teve suas ideias massivamente desaprovadas pela Igreja Católica. 
Não obstante a concepção da separação entre Estado e igreja, Locke, também afirmou que o poder 
estatal deveria ser dividido em três, sendo poderes: Legislativo, Executivo e Judiciário, sendo 
aquele mais importante que os outros dois por representar a vontade do povo. A despeito de 
preconizar a igualdade entre os homens, ele também era a favor da escravidão, não por segregação 
racial, mas com um pensamento objetivo: homens capturados em guerras podem ser mortos, 
contudo, concedendo-lhes a possibilidade de viver, a liberdade deveria ser convertida em 
escravidão. 
2.4.5 Liberalismo 
O Pensamento liberal teve origem no decorrer do século XVII, contido em escritos filosóficos do 
inglês John Locke (SOUSA, 2002), que agregado a outros pensamentos correlatos contemporâneos 
e posteriores concebeu-se o sistema sócio-político-econômico Liberal ou, como é mais difundido, 
Liberalismo, e objetivava melhorar a qualidade de vida das pessoas findando as guerras religiosas. 
O Liberalismo é um sistema alicerçado na liberdade do indivíduo – como elemento do Estado – nos 
mais diversos aspectos, como: político, intelectual, econômico, religioso, cultural e social. Neste 
corrente de pensamento, em suma, o indivíduo deve possuir liberdade de escolha sem a 
interferência do governo ou a mínima possível. 
Pode-se elencar como principais princípios do Liberalismo os seguintes: 
• mínima participação do estado na vida dos indivíduos, sobretudo nos aspectos 
econômicos; 
• direito e proteção da propriedade privada; 
• igualdade entre os homens perante as leis (Estado de Direito); e 
• liberdade econômica. 
2.5 Estado Contemporâneo 
No decorrer dos anos, foi-se percebendo uma série de problemas sociais decorrentes das políticas 
liberais, ou pelo menos da má aplicação delas. Com a mínima interferência estatal as desigualdades 
se elevaram exponencialmente, gerando exploração de trabalho do mais forte sobre o mais fraco 
economicamente, redundando em muita pobreza e acesso desigual aos recursos existentes. 
Portanto, os Estados europeus, na década de setenta, com mais intensidade, começaram a aplicar os 
conceitos do que viria a ser o Estado de bem-estar social (do inglês: Welfare State) como alternativa 
ao modelo liberal que apresentava drástico declínio. No Estado de bem-estar, o Soberano troca o 
papel de mínima intervenção na vida dos indivíduos para atuar efetivamente no provimento dos 
serviços de saúde, educação, habitação, seguridade social, renda e controle social para erradicação 
entre as classes. 
Todavia, o modelo do bem-estar também veio a declinar na década de oitenta, com a eleição da 
Primeira Ministra inglesa Margareth Thatcher; ela, percebendo que o estado não era capaz de 
sustentar toda essa política, opta por sintetizar o estado, mantendo apenas uma estrutura mínima e 
privatizando empresas que não estivessem diretamente ligadas com a atividade governamental. 
Essa corrente inglesa espalhou por todo o mundo, inclusive o Brasil, como privatizações das 
empresas estatais no governo Fernando Henrique Cardoso, década de noventa. 
O Brasil, na verdade, nunca pode ser considerado um Estado de Bem-estar como os europeus, já 
que não foi capaz de implementar tais políticas nem tampouco reduzindo a desigualdade social e 
promovendo o bem-estar por intermédio de serviços de educação, saúde, segurança, etc., de 
qualidade. Em outra ponta, o país, nos dias de hoje, possui uma forte intervenção jurídica como 
tentativa de compensar, de forma não preventiva, os conflitos sociais. 
3 Do Pacto Social 
O Contratualismo, como também é conhecido o Contrato Social, passou a ser difundido entre os 
séculos XVI e XVIII pelos filósofos Thomas Hobbes (1651), John Locke (1689), Jean-Jacques 
Rousseau (1762); que obviamente não foram os únicos, entretanto a História ocidental os 
evidenciam como os principais (RIBEIRO, 1999). 
Como será exposto em pormenores neste capítulo, o Contrato Social, é uma convenção que os 
indivíduos efetuam enquanto estão em seu estado natural (estado de natureza, isolados), a fim de 
que obtenha vantagens e garantias, para isso, passam a viver em sociedade, abdicando de sua total 
liberdade para a sujeição a um soberano (Estado) controlador e garantidor do bem-estar social. 
3.1 O Homem Natural 
O homem em seu estado natural fora explanado por duas principais correntes, uma preconizada por 
Hobbes e a outra por Rousseau. 
Hobbes acreditava que o - homem como ser humano - era um ser egoísta e vivia em busca da 
satisfação dos seus desejos, não importando que para tanto fosse necessário anular a pretensão de 
outrem, e, por conseguinte todos viviam em guerra contra todos, dando origem ao conhecido 
bordão, “o homem é o lobo do homem”. Assim, a vida não havia garantias, as posses não eram 
legitimadas, prevalecendo tão somente a lei do mais forte; e este conquistaria e conservaria todos os 
objetos de seus anseios e que sua potencia não o limitasse. 
Rousseau, em consonância com Hobbes, também acreditava que o indivíduo em seu estado natural 
tinha liberdade para satisfazer seus instintos, objetivando a satisfação de suas vontades. Contudo, a 
harmonia entre os dois pensadores se encerra nos meios e consequências para realização de seus 
desejos humanos. Para Rousseau, no estado de natureza, os indivíduos viviam isolados em florestas, 
retirando para sobrevivência tão somente o que a natureza lhe provia, desconhecendo lutas. Ao 
aludindo o pensamento de Rousseau, SAHD (2005, p.101) aduz: “O homem realmente livre faz tudo 
que lhe agrada e convém, basta apenas deter os meios e adquirir força suficiente para realizar os 
seus desejos.” Contemplavam a felicidade original, descrita por ele como o “bom selvagem 
inocente”, que se encerra quando alguém cerca um terreno determinando sua propriedade privada, 
e estabelecendo o que é “meu” e o que é “seu”, originando o estado de sociedade. Estão , sob a ótica 
de Rousseau, inaugura-se o estado de natureza hobbesiano, da guerra de todos contra todos 
(CHAUÍ, 2000). 
3.2 Jus-Naturalismo 
Também conhecido como Direito Natural, o Jusnaturalismo contempla os direitos do homem que 
lhes são inerentes desde o seu nascimento, portanto, presentes também, em seu estado natural. Tal 
direito é abstraído, posicionando-se acima dos direitos convencionados socialmente ou de pretensas 
normas positivadas que venham a existir; não se sujeitando ao tempo, pois é eterno, às autoridades 
estatais por ser universal, nem tampouco à cultura, região ou posição geográfica, porque é imutável 
(NADER, 2009). Além destes, o importante jurista africano naturalizado chileno - Eduardo N. 
Monreal (1967, apud NADER, 2009) – elenca mais amplamente características do Direito Natural, 
sejam elas: 
1) universalidade (comum a todos os povos); 
2) perpetuidade (válido para todas as épocas); 
3) imutabilidade (da mesma forma da natureza humana, o Direito Natural não se modifica); 
4) indispensabilidade (é um direito irrenunciável); 
5) indelebilidade (no sentido que não podem os direitos naturais ser esquecidos pelo coração e 
consciência dos homens); 
6) unidade (porqueé igual para todos os homens); 
7) necessidade (nenhuma sociedade pode viver sem o Direito Natural); e 
8) validez (seus princípios são válidos e podem ser impostos aos homens em qualquer situação em 
que se encontrem). 
Em suma, o Direito Natural é o direito que carrega as garantias da preservação e perpetuação da 
vida humana, podendo ser exemplificados nos direitos à vida, à liberdade e à propriedade. Assim 
sendo, a preocupação era que, se preservassem os direitos naturais do homem mesmo com advento 
da vida social, e que estes direitos venham ser alicerce para quaisquer outros que viessem a surgir. 
3.3 Contrato Social Compulsório 
Como já apresentado, o homem, em seu estado de natureza desfrutava da completude de sua 
liberdade, entretanto, não possuía segurança no que tange a garantia de sua própria existência, haja 
vista que a consequência da total liberdade era uma guerra de todos contra todos. Assim, os 
indivíduos decidiram associar-se, perdendo sua liberdade individual na íntegra e, em troca teriam 
segurança e garantia de vida, por conseguinte evoluírem intelectualmente. 
O homem, como ser humano, entrega sua liberdade a um terceiro a quem lhe outorga total poder (o 
Estado) sobre sua vida, e este, em contraprestação garante a sobrevivência de forma pacífica e 
saudável aos que são signatários desta convenção, chamada por Rousseau de Contrato Social. Este 
pacto, em sua gênese, demandou que houvesse adesão de todos os indivíduos que formariam o 
grupo social, não bastando a maioria, mas a unanimidade, concedendo ao Estado o título de 
Soberano. 
Estabelecido - por espontânea convencao - o Estado Social Soberano, todo homem que convive 
neste meio não possui mais o arbítrio de desistir do pacto firmado, nem tampouco, os que neste 
convívio nascessem teriam a opção por aderir ou não ao contrato social. O homem que desejasse 
sua liberdade plena (ou escravidão dos seus desejos) só a alcançaria se perdesse seu contato com a 
sociedade, voltando ao seu estado de natureza, isolado; pois, o Pacto é compulsório, uma vez 
estabelecido o Estado, não há possibilidade de não sujeitar-se a ele, pouco importando a opinião 
individual. Desta maneira, como para a gênese do Contrato necessita a adesão da totalidade dos 
indivíduos, a sua revogação também assim se faz. 
3.4. Contrato Social Vigente 
Nos dias atuais, o pacto social não tem como finalidade unicamente a criação da sociedade política, 
mas também de mantê-la com suas dinâmicas evoluções e, outrossim, atuar na correção de 
deficiências sociais. Contemporaneamente, o Contrato é formalizado por intermédio de 
uma Constituição, e esta pode ser considerada uma cartilha com os ditames dos direitos e deveres 
fundamentais de todos os indivíduos e limitações aos poderes do Estado, não permitindo que esse 
se desvie de sua real finalidade. 
Logicamente, é sabido que os modelos apresentados por Hobbes, Locke e Rousseau do Contrato 
Social são meramente utópicos, não tendo sido possível observá-los na realidade no decorrer da 
história, todavia, o Pacto na prática possui alguns desvios que podem ser chamados de corrupção. 
A essência da convenção social é a igualdade entre todos os pactuantes e estes submetidos 
unicamente ao poder do Estado, que nada mais é que a junção dos anseios de todos. Atualmente, 
exatamente na essência emerge a corrupção; a igualdade não pode ser encontrada com facilidade 
nos meios sociais presentes. Alguns conquistaram mais poder e passam a atuar coadjuvantes ou em, 
não raras situações, coagentes do Estado. Destarte, a essência da igualdade (pressuposto do pacto) é 
ferida, voltando - obviamente que de forma mais sutil - a prevalecer a vontade do mais forte; e 
agora a guerra de todos contra todos agora é institucionalizada. 
O processo que desencadeia essas distorções acontece com o poder de legislar, que deveria emanar 
do povo, porém, é advindo de pequenos grupos que legislam em causa própria, e quando o processo 
legislativo corresponde aos desejos de todos, por vezes não é aplicado como deveria, assim, 
beneficiando uns e prejudicando outros. O que se infere, é que o Estado acaba por interferir 
indevidamente na vida do cidadão, privando-lhe da sua liberdade superiormente a que ele se dispôs 
ao ser signatário do Pacto Social, e na maioria das vezes não ter ao menos a sua contrapartida. 
http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/112175738/constitui%C3%A7%C3%A3o-federal-constitui%C3%A7%C3%A3o-da-republica-federativa-do-brasil-1988
3.5 Contraponto Entre Estado Natural e o Contrato Social 
Indubitavelmente o objeto aqui a ser abordado é genuinamente ontológico, pois trata-se da 
perspectiva da natureza humana sob um aspecto comparativo entre o ser humano em seu estado 
natural e a sociedade formada por ele, ponderando se deveras foi facultativa a criação do estado 
social e se uma condição seria superior a outra. 
Segundo discorre a história, a natureza humana encontrava-se em estado primitivo, natural e 
posteriormente de maneira progressiva e facultativamente encontraria o estado social. Entretanto, 
neste estado natural em que se encontrava o homem, ele possuía completa liberdade, e era o único 
responsável por realizar seus desejos, todas as decisões acerca de sua vida eram tomadas por ele 
próprio, daí, surge o questionamento do motivo de trocar íntegra liberdade por uma servidão. A 
complexidade deste questionamento filosófico se elucida em dois pontos: sendo o primeiro, o fato 
de dois ou mais indivíduos com absoluta liberdade na realização de seus desejos em algum 
momento irão contrapor-se, gerando conflito, e, por conseguinte insegurança, colocando em risco 
até mesmo a continuidade da espécie; porém, o segundo motivo, seria para obtenção de vantagens, 
pois na vida em comunidade pode-se usufruir dos resultados da cooperação do trabalho, além de 
maior segurança - uma vez que na vida social o indivíduo não mais desfruta da liberdade plena, mas 
tem essa controlada pelo Soberano - e consequentemente garantias na perpetuação da espécie e 
transferência da propriedade por meio da hereditariedade. 
As informações aduzidas provam que a transição entre os estados natural e social sucederam em 
face da necessidade e não unicamente de forma facultativa. Pode ser observado que, na grande 
maioria das Constituições dos Estados Soberanos, o maior bem tutelado juntamente com a vida, é a 
liberdade, o que ratifica que a liberdade é superior à propriedade privada e outros bens que não a 
vida e a própria liberdade. Inegavelmente, foi necessária a instituição do estado social, todavia, o 
ônus advindo com este, foi abundante. 
Ao pactuarem todos os homens em cederam parte suas liberdades, entregando-as a um terceiro 
(estado) e fazendo este legítimo da vontade comum de todos, redundaria na frustração dos desejos 
individuais que não coincidissem com os da maioria. Nesta conjectura, haveriam indivíduos com 
níveis de satisfação de suas vontades bem diversos, gerando desigualdade, que desencadearia 
conflito, por consequência os percalços do Estado de Natureza. 
Outra pressuposição relevante é a possibilidade de um Estado corrupto, onde o interesse deste não 
corresponde nem mesmo aos da maioria e sim de uma minoria que detiver o poder. Situações como 
estas podem ser observadas em Estados governados por tiranos, opressores e injustos, instituindo 
uma escravidão aos seus governados, trazendo prejuízos maiores que os existentes no Estado de 
Natureza. 
4 Limites do Intervencionismo Estatal 
Com efeito, o corrente trabalho discorreu até este ponto sobre a intervenção do Estado na sociedade 
em seus diversos níveis e também a necessidade, benefícios e ônus desta interferência, todavia, 
neste capítulo, serão apresentadas as referidas questões, porém sob um prisma mais minucioso, 
aproximando-se ainda mais do objetivo central do trabalho. 
4.1 Estado Intervencionista 
Como já apresentado, o Estado nada mais é que a união dos interesses de todos os indivíduos 
outorgadas a ele que os representaria e os protegeria;de certo, os interesses individuais são 
divergentes, sendo o Estado - representante da vontade geral - legítimo para dirimir estes conflitos 
por intermédio da intervenção direta ou concedendo instrumentos para que os próprios cidadãos os 
façam da maneira que melhor os convierem, interferindo somente em situações extremas, ultima 
ratio. 
No Estado intervencionista sob a ótica do Direito, a política do Soberano é a de interferência 
máxima na regulamentação da vida social por intermédio sanções ao não cumprimento de seus 
ditames. O governo (Estado) adota posições radicais sob a égide de estar defendendo a precípua 
função da sociedade, que é a preservação da espécie por meio da cooperação e de uma vida pacífica, 
mas gera, em contrapartida mais insegurança, anomias, insatisfação e maiores possibilidades da 
promoção da injustiça. 
4.2 Estado Mínimo 
Pela ótica do Direito, o Estado minimalista se opõe radicalmente do intervencionista, enquanto 
este, como descrito anteriormente, interfere ao máximo nas relações sociais, aquele tem por 
objetivo a liberdade dos cidadãos, interferindo em questões que julgar de extrema relevância. 
No minimalismo, o Estado desloca parte de suas atividades ao cidadão preconizando a não 
intervenção em prol da liberdade e, por conseguinte bem estar de todos. Todavia, a concessão de 
completa liberdade e delegação de suas próprias funções resultaria em um retorno do homem ao 
seu estado natural, dissolvendo a sociedade. Deste modo, o Estado atua basicamente como um 
guardião, que vigia as relações sociais de perto sem interferência, atuando somente em casos 
extremos para manter a igualdade, liberdade e bem estar de todos. 
A não interferência no Estado Mínimo de Direito contempla as diversas áreas de atuação do próprio 
Direito, como: nos relacionamentos sociais de qualquer espécie, nos relacionamentos civis de 
origem contratual e obrigacional, que resulta em uma liberdade e responsabilidade econômica e 
principalmente no âmbito do Direito Penal. 
4.3 Indispensabilidade do Intervencionismo 
É indispensável que o Estado aja quando de seus ofícios precípuos, sob pena da dissolução do 
Estado Social e retorno ao estado natural do ser humano. Mesmo em um Estado radicalmente 
minimalista, a inexistência de intervenção é inaplicável. 
Os indivíduos componentes da sociedade com interesses diversos necessitam de um soberano que 
intervenha não permitindo que se transforme em conflitos, e uma vez que este já exista, aplique 
meios para pacificá-los. Deve haver também, interferências na área econômica, conduzindo a 
sociedade em uma direção que garanta maior condições de sobrevivência que teria cada indivíduo 
em direções antagônicas; um instrumento para alcançar isso seria a liberdade contratual desde que 
se aplique o princípio da função social. 
Como garantidor da paz, o Estado de Direito deve aplicar ainda que minimamente regras para 
erradicação de qualquer tipo de violência a outrem por intermédio de sanções que se adequarem à 
realidade e necessidade da cultura em questão e por outro lado respeitando a dignidade humana. 
4.5 Intervencionismo e Interesse Político 
O Estado é governado por alguém que represente o povo, seja por eleição direta, indireta ou 
monarquia, garantindo a este, soberano, todo o poder outorgado pelo povo para que ele seja a literal 
figura de toda a sociedade. Porém isto é apenas em um plano ideal, havendo na pratica distorções 
que variam de sociedade em sociedade. 
O Estado atua no meio social por intermédio de suas intervenções, e este, é uma pessoa legitimada 
para figura-lo (monarcas, presidentes, premières, etc.), assim sendo, o interesse do legitimado 
poder deveras se distanciar dos interesses dos cidadãos, atendendo interesse próprio ou de um 
grupo pequeno selecionado, que na visão do filósofo Aristóteles chama-se, Aristocracia. 
A possibilidade de intervenção de um governo em uma sociedade é diretamente proporcional às 
oportunidades de distorções entre o real ímpeto da sociedade e o desejo de um limitado grupo 
privilegiado. Portanto, com política de mínima intervenção, existe maior chance de êxito de bem 
estar, no sentido amplo, dos cidadãos, uma vez que terão seus anseios supridos e não o de apenas 
alguns. 
5 Princípios da autonomia da vontade individual 
Neste capítulo serão abordados princípios e importância da autonomia da vontade privada dentro 
do sistema social, que quase sempre se contrapões com os interesses do Estado; quais são as 
vantagens e desvantagens da prevalência da autonomia individual e em quais níveis ela é salutar. 
5.1 Relativização da Autonomia da Vontade 
É importante salientar que o Estado Social surgiu de uma necessidade de sobrevivência, 
perpetuação da espécie e bem estar coletivo, e que o Estado só é o que é porque é legítimo para 
intervir na sociedade com propósito de alcançar o objetivo para o qual foi criado; assim, não há 
possibilidade da incidência de um Estado em que exista somente a autonomia da vontade privada, 
logo, com efeito, essa é a definição de seu antagônico: estado natural. 
Em outra ponta, um Estado totalitário admite apenas os desígnios estatais, suprimindo 
completamente a liberdade individual, impondo paradigmas e ideologias do governo e/ou uma 
classe minoritária por meios de normas severas, como: 
• total censura dos meios de comunicação; 
• imposição de uma religião ou extinção dela; 
• Abolição da propriedade privada; 
• repreensão à ideologias diversas; 
• interferência na vida familiar; 
• controle total dos meios de provimento de saúde; 
• intervenção em todo e qualquer tipo de relação contratual civil; e 
• tutela dos Estado nas relações trabalhistas. 
O que resulta em uma coletividade socialmente doente, onde os princípios que deram ensejo ao 
surgimento da sociedade não mais existe, restando ao homem somente o ônus de ter outorgado 
poderes ao que detém a soberania. 
Portanto, deve haver uma procura pelo equilíbrio entre o interesse estatal e privado, relativizando a 
autonomia individual, que é benéfica, desde que limitada a não trazer prejuízos aos demais 
indivíduos. O papel do Estado é interferir nas relações individuais que afetem negativamente o 
outro, e evitar ao extremo em intervir na vida intima e privada de cada cidadão. 
5.3 Direito a própria Vida 
Ainda sob o gênero da relativização da vontade privada, não há nada mais digno que um indivíduo 
decida dignamente sobre sua vida, desde que não afete ninguém com essa decisão. O Estado 
Brasileiro de Direito intervém em significantes situações que dizem respeito à saúde do indivíduo 
sobrepondo à sua própria vontade sobre seu corpo e seu viver. 
Como exemplo, observa-se no Brasil, que um indivíduo não pode optar pelo desligamento dos 
aparelhos que mantém um ente querido vivo, mas que, entretanto, já possui diagnóstico de 
autoridade médica competente alegando não ser mais possível viver sem aparelhos, pois a doença é 
irreversível, nem tampouco o próprio paciente desenganado, a fim de abreviar seu sofrimento 
profundo e consentimento de familiares, pode optar pela morte (eutanásia), ficando esta decisão a 
cabo do Estado. 
Outro ponto, também no que tange a autonomia sobre a própria vida, está a decisão de o indivíduo 
receber sangue de outrem por intermédio de transfusão para sobrevivência. Na religião 
Testemunhas de Jeová, com representação significativa no Brasil - cerca de 742.725 seguidores 
(Watch Tower, 2012) - os fieis não podem receber sangue por transfusão nem por qualquer outro 
meio, pois estariam em desacordo com a fé. Entretanto, em uma situação em que a transfusão se faz 
imprescindível para a vida, o Estado obriga que a faça, sob a alegação de que os profissionais da 
saúde devem esgotar seus métodos e recursos - lícitos - para garantir a vida humana, resultando a 
recusa em sansão. 
Há diversas intervenções extremamente incisivas do Estado que minam a autonomia do individuo 
cerceando-lhe o poder de decisão, calcado muitas vezes em dogmas religiosos ou lentidãono 
acompanhamento das mudanças culturais ao longo dos anos. Como o crime de suicídio que já 
existiu, o crime de aborto, impedimento da escolha do melhor método para o tratamento da própria 
saúde, utilização de substancias entorpecentes, etc. Discorre-se acerca deste assunto adiante. 
5.3.1 Crime de Suicídio 
Este crime na verdade não é tipificado pela legislação penal brasileira vigente, entretanto, em 
legislação estrangeira de outros tempos este crime não só existiu como era punido horrivelmente. 
De acordo com Capez (2005, p. 85) a conhecida legislação inglesa, comom law previa penas quais 
sejam, confisco dos bens do suicida, privação de honrarias fúnebres, sepultamento em estrada 
pública, exposição do corpo traspassado por pau, logo é perceptível que além do cadáver seus 
familiares também eram apenados. Na Grécia o suicida deveria ter a mão direita cortada e 
enterrada a parte, não obstante a punição do Estado, acreditava-se que era pecado contra Deus, 
logo não eram celebradas missas para a alma. 
No Direito Canônico, que se sobrepunha o poder do monarca, equiparou-se o suicídio ao homicídio, 
havendo julgamento do cadáver que cominava na aplicação de penas como as de confisco de todos 
seus bens e bens da família. Em outras culturas, com um maior requinte de crueldade, o suicida era 
amarrado pelos pés e arrastado por cavalos pelas ruas com o rosto virado para o chão. (CAPEZ, 
2005) 
Atualmente, quem pratica o suicídio não mais é punido, sobretudo no Brasil, o que demonstra é que 
o estado consegue perceber que não há de intervir em uma decisão pessoal sobre a própria vida, e 
ainda mais, punir familiares, pois, o cadáver não mais tem consciência dos fatos. O importante 
demonstrado é que, a intervenção do Estado na vida intima é dinâmica quanto a tempo e espaço, o 
que é válido em uma cultura, em outra não é, o que tem eficácia em determinado período da 
história, em tempos contemporâneos pode não ter. É emitente que o Estado seja sensível para 
acompanhar a movimentação social no tempo e espaço a uma velocidade bem próxima da que ela se 
move. 
5.3.2 Direito ao Próprio Corpo 
A maioria dos Estados de Direito intervêm na forma em que o individuo usa seu próprio corpo. 
Como forte exemplo, observa-se a prática da prostituição, que em regra é proibida direta ou 
indiretamente no mundo. 
Não se deve ignorar o fato de que esta atividade é popularmente conhecida como a “profissão mais 
antiga do mundo”, e de fato é tão antiga que não se tem data precisa da origem, e está tão 
disseminada que não se tem informações do local em que houve sua gênese. 
Se a atividade sempre existiu, nunca foi possível ou houve interesse em extingui-la, é praticada de 
maneira consensual (do contrário seria estupro), logo é imaturo por parte do governo interferir 
nessa relação. Em países como Portugal e Brasil, sendo tem a maioridade e sendo civilmente capaz, 
o individua pode realizar serviços sexuais em troca de favores, geralmente pecúnia, sem 
transgressão legal, a mesma regra se aplica ao cliente. Todavia, quem fomenta, emprega, agencia, 
ou de alguma forma obtém benefício com a prática da prostituição de outrem sofre sansão. 
É considerável que se releve os seguintes dispositivos do Código PenalBrasileiro (BRASIL, 1940) 
acerca do assunto: 
Art. 227 - Induzir alguém a satisfazer a lascívia de outrem: 
Pena - reclusão, de um a três anos. 
Favorecimento da prostituição ou outra forma de exploração 
Art. 228. Induzir ou atrair alguém à prostituição ou outra forma de exploração sexual, facilitá-la, 
impedir ou dificultar que alguém a abandone. 
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa. 
Casa de prostituição 
Art. 229. Manter, por conta própria ou de terceiro, estabelecimento em que ocorra exploração 
sexual, haja, ou não, intuito de lucro ou mediação direta do proprietário ou gerente. 
Pena - reclusão, de dois a cinco anos, e multa. 
Rufianismo 
Art. 230 - Tirar proveito da prostituição alheia, participando diretamente de seus lucros ou 
fazendo-se sustentar, no todo ou em parte, por quem a exerça: 
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. 
E em legislação Portuguesa: 
Artigo 170º 
Lenocínio 
1 - Quem, profissionalmente ou com intenção lucrativa, fomentar, favorecer ou facilitar o exercício 
por 
outra pessoa de prostituição ou a prática de actos sexuais de relevo é punido com pena de prisão de 
6 meses a 5 anos. 
Nestes dois países, como em muitos outros, descriminaliza-se a pratica da prostituição, porém veta 
agenciadores, proprietários de ambientes que lucram de alguma forma com esse tipo de trabalho. 
http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/1033702/c%C3%B3digo-penal-decreto-lei-2848-40
Fica evidente que essa intervenção desnecessária do Estado sobre a liberdade do indivíduo em cena, 
parece fomentar diversos outros problemas muito graves. A atividade sexual por dinheiro é notória, 
mas não legal, como consequência, pessoas são exploradas por agenciadores de má fé, e tem seus 
direitos trabalhistas ignorados, também abre margem para disseminação de doenças e maior 
suscetibilidade à violência. 
Se a atividade é reconhecida pelo Estado, tanto que a descriminalizou, então a forma de coibir estes 
males é regulamentando como qualquer outra profissão. Assim, as prostitutas teriam direitos e 
benefícios trabalhistas e previdenciários, as agencias não precisariam trabalhar na ilegalidade 
podendo e devendo ser fiscalizadas pelo Estado, e este arrecadaria com impostos. Com a legalidade 
da profissão os órgãos estatais poderiam monitorar a atividade mais de perto, investindo em 
informação e outros meios para o controle na transmissão de doenças sexualmente transmissíveis. 
Como exemplo, podem-se observar as reformas que a legislação holandesa e alemã passaram, 
legalizando e regulamentando a profissão de prostituta bem como dos prostíbulos e agenciadores 
(cafetões). Nos países baixos, o Ministro da Justiça divulgou a Reforma da Lei de Prostituição, 
regulamentando mas também fazendo restrições, como, a atividade e exposição só poderia 
acontecer em local fechado e agenciadores e proprietários das casas de prostituição deveriam ser 
regulamentado pelos municípios e ficando a cargo do próprio município se regulamentaria ou não 
em sua jurisdição; e o não cumprimento das regras pode redundar em severas punições. 
5.3.2.1 Crime de Aborto 
No Brasil, a lei somente exclui a antijuridicidade do aborto voluntário nas seguintes hipóteses: 
Art. 128 - Não se pune o aborto praticado por médico: 
Aborto necessário 
I - se não há outro meio de salvar a vida da gestante; 
Aborto no caso de gravidez resultante de estupro 
II - se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento da gestante ou, quando 
incapaz, de seu representante legal. (Código Penal. BRASIL, 1940) 
Com exceção das hipóteses elencadas, o Brasil intervém no direito de liberdade da mulher ao 
próprio corpo punindo severamente a interrupção voluntária da gestação, também o faz com quem 
executa o procedimento ou de alguma forma induz ou propicia o ato. 
A questão do aborto é, sem duvida alguma, balizada por princípios religiosos, sobretudo o 
cristianismo romano, além de outras ideologias defensoras da vida como direito universal. Contudo, 
o Estado como representante dos interesses da coletividade, deve ter ciência de que esta prática - 
como na prostituição - é massiva independente da ilegalidade e de princípios religiosos, tornando-
se dentre outros fatores um problema de saúde pública. 
No Brasil o Ministério da Saúde divulga os números dos abortos ilegais mencionados pela página 
eletrônica da Record Notícias (2009), aduz que 31% das gestações são interrompidas, chegando ao 
número estimado de 1,4 milhões de abortos realizados de forma precária; como consequência disso 
tudo esta prática clandestina já representa a quarta maior causa de morte no país, o que é muito 
grave. 
Esta interferência desnecessária na liberdade do corpo da mulher, além de resultar em graves 
problemas desaúde e muitas mortes também vitimiza pessoas com um histórico criminal. 
http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/1033702/c%C3%B3digo-penal-decreto-lei-2848-40
Não obstante todos os percalços já apresentados, o Estado ainda tem que lidar com outro revés que 
afeta até quem não tem nada a ver com isso, que são os cofres públicos. Somente no ano de 2008, 
218.940 gestantes foram internadas no Sistema Único de Saúde (SUS), dessas, 801 morreram em 
decorrência do aborto ilegal, gerando um custo enorme para a nação. 
O diagnóstico feito é que ao contrário do Estado intervir em um direito de liberdade de um 
indivíduo é mais saudável que se conceda esta liberdade porém a regulamente e informe. No 
cenário mundial, a intervenção do Estado na liberdade de decisão da continuação ou não de uma 
gestação está intimamente ligada ao nível de instrução da população e desenvolvimento da nação. 
Os países mais evoluídos, em regra, não intervêm diretamente na liberdade, apenas regulamentam, 
enquanto os países subdesenvolvidos com baixo nível de instrução preferem ignorar uma prática 
nada latente, não regulamentando, porém, sancionando criminalmente. Como pode ser observado 
na Ilustração II. 
Ilustração: II Mapa do aborto - Fonte: PLANETA sustentável (2014) 
Do ponto de vista religioso e filosófico, com efeito, não sofre alguma afronta ou desrespeito com a 
legalização do aborto. A legalização não significa que a mulher é obrigada ou mesmo induzida a 
realizar tal prática, e sim, simplesmente permitir, caso ela opte, por um procedimento seguro, legal 
e menos custoso às reservas estatais. 
5.4 Liberdade de União Civil 
A união civil existente desde a formação da sociedade é o alicerce da família monogâmica, trazendo 
a segurança na sucessão hereditária. Esta união adquiriu uma grande importância religiosa com o 
advento do casamento como um rito sagrado quase que unanime para todas as religiões. O padrão 
de casamento ocidental, salvo raras exceções, é a união de um homem e uma mulher de forma 
solene, com deveres e obrigações, dentre eles o de fidelidade e de perpetuidade. 
Por alguns séculos este padrão referido era uma imagem fiel da realidade social, todavia, com a 
metamorfose do coletivo, este paradigma não mais retratava a realidade. No Brasil, um país laico, 
porém de origem filosófica no cristianismo romano conservador, sofre com a morosidade da 
atualização de suas normatizações e a realidade vivida pelo coletivo. 
As modalidades de uniões civis reconhecidas no Brasil, são o casamento, a união estável e o 
concubinato, sendo apenas as duas primeiras reconhecidas pela - Constituição Brasileira em seu 
artigo 226 (1988) - como família e base da sociedade, recebendo proteção do Estado. 
Nas três possibilidades o Estado interfere, desconhecendo a união civil de pessoas do mesmo sexo, 
as relações homoafetivas, entretanto, já é uma realidade presente na maioria dos países. Em 2010, o 
censo realizado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) apresentou o número de 
60.002 pessoas que declararam ter cônjuge do mesmo sexo, entretanto, cabe ressaltar que o Brasil 
ainda discrimina intensamente homossexuais, e que esses números foram apenas dos que tiveram 
“coragem” de se declararem como. (VEJA, 2011) 
Sendo uma realidade explícita, questiona-se o porquê de o Estado agir de forma omissiva não 
reconhecendo a união entre pessoas do mesmo sexo. A corrente religiosa é absolutamente contra, 
mas o Estado deve se imparcial, até mesmo para respeitar o posicionamento de religiosos e não 
religiosos, já que a regulamentação não significa incentivo, fomento, ou ordem; muito pelo 
contrário, permite ao indivíduo a liberdade de escolha que melhor lhe convier. 
Atualmente, a insistência do país em não reconhecer a união homoafetiva tem acarretado graves 
problemas no âmbito de sucessões, partilhas de bens, provimento de alimentos, além de problemas 
http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/112175738/constitui%C3%A7%C3%A3o-federal-constitui%C3%A7%C3%A3o-da-republica-federativa-do-brasil-1988
http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10645133/artigo-226-da-constitui%C3%A7%C3%A3o-federal-de-1988
em contratos civis onde há necessidade de comprovação de renda familiar, incentivos do governo 
para a família, contratos em que o cônjuge figura como dependente, dentre vários outros. E talvez o 
maior de todos os ônus, o fomento, ainda que indireto, da discriminação contra cidadãos como 
quaisquer outros perante o Estado. 
É irrefutável afirmar que o Brasil tem passado por grandes mudanças positivas neste sentido, tendo 
o reconhecimento da união estável entre pessoas do mesmo sexo pela suprema corte (STF), todavia 
não vinculantes às instancias inferiores, e ficando apenas na esfera jurisprudencial e não positivada. 
Existem também, projetos de criação de sumula vinculante e projeto de lei enviado para o 
Congresso Nacional para regulamentação. 
No mundo - como pode ser observado na Ilustração III - não é possível observar consonância no 
posicionamento das nações acerca da união de pessoas do mesmo sexo, verificando-se de um lado, o 
reconhecimento pleno e integral do casamento civil, na Espanha, Canadá, Bélgica, Holanda; e no 
outro extremo que prevê penas severas, como de prisão perpétua e pena de morte, a casais que 
manifestem expressões de homossexualismo, sobretudo relacionamentos homoafetivos. 
Ilustração III: Legalização da relação Homoafetiva no mundo - Fonte: WORLD (2011) 
5.5 Autonomia Familiar 
No âmago familiar é, certamente, o meio mais delicado e polemico da intervenção ou abstenção 
estatal. A família é um ambiente íntimo, privado; ambiente onde as relações, em regra, são 
informais e afetuosas; lugar onde decorre a transmissão de costumes hereditários e faz-se cumpri-
los. 
Os costumes e tradições familiares, não raras as vezes, vão de encontro com as ideologias estatais, e 
por vezes, até contra a própria legislação positivada. Então, verifica-se neste momento a fragilidade 
da questão. É cerceador de liberdade e prejudicial à saúde social que o Estado interfira dentro do 
âmbito familiar, aplicando direcionamentos ou incluindo e/ ou excluindo costumes e tradições, 
redundando na perda de identidade de um povo. 
Pela outra vertente da questão, dentro do ambiente familiar pode haver atos que firam a dignidade, 
saúde psíquica e integridade física de membros grupo parental. Assim sendo, é inevitável a 
interferência estatal para resgatar e proteger o objetivo de garantia da dignidade e integridade física 
e mental do ser humano, ainda que sob o involucro familiar. 
5.5.1 Autonomia na Educação Filosófica dos Filhos 
A maneira em que os pais educam os filhos são as mais diversas, obviamente por cada família 
possuir uma perspectiva singular sobre o tema e, por conseguinte, não havendo um referencial 
unanime sobre o modo educacional aplicado pelos genitores. 
Por se tratar de uma questão particular de cada família, o Estado, não deve intervir nesta relação 
entre pais e filhos, cabendo aos próprios definirem o que melhor lhe convirem. Entretanto, há 
criminosos, pessoas com patologias psíquicas, pessoas com atitudes cruéis, ou mesmo com credos 
macabros; em todos estes casos e muitos outros, os filhos são potenciais vitimas da violação dos 
direitos humanos. Neste momento, o Estado deve entrar como garantidor dos direitos mínimos à 
sobrevivência e a dignidade, mas não deve ir, além disso, apresentando metodologias educacionais, 
impondo ideologias ou induzindo ou privilegiando determinado credo. 
No Brasil, recentemente foi levantada uma polêmica, por intermédio do projeto de lei 7.672/ 2010 
acerca da proibição dos castigos físicos que foi aprovado, alterando dispositivos do Estatuto da 
Criança e do Adolescenteque se omitiam sobre o assunto. Deve-se ponderar uma palmada branda, 
com fim pedagógico, arraigado na cultura brasileira, como agressões físicas traumáticas. Embora, 
conclua-se que existam métodos mais eficazes de educação, é traumático para uma nação, adentrar 
no âmbitofamiliar e intervir subitamente em costumes hereditários aplicando-lhes pena ao não 
cumprimento. É razoável que esta intervenção seja feita de forma educativa, sugestiva, explicativa, e 
não diretamente pela tutela estatal de punição. 
5.5.2 Liberdade no Sistema de Educação Intelectual 
Sabe-se que existem diversos tipos de conhecimento, como, empírico, teológico, filosófico e 
científico, bem como diversas técnicas pedagógicas para transmissão deste conhecimento. Convive-
se com essa universalidade de conhecimentos, porém, para maioria das pessoas eles se colidem, 
sendo conexos a tradição e costumes pessoais ao tipo de conhecimento que cada indivíduo opta por 
deter e enxergar o mundo. O mesmo pode-se afirmar quanto às técnicas pedagógicas por estarem 
intimamente ligadas ao tipo de conhecimento a ser transmitido. 
No mundo, cada país determina a sua forma de intervir na educação intelectual dos indivíduos no 
que tange ao conteúdo e meio a ser transmitidos os conhecimentos, outorgando mais, ou menos 
autonomia familiar para realização desta tarefa. 
Nos Estados Unidos da América, o ensino é regular e compulsório até o período intermediário high 
school (equivalente ao ensino médio brasileiro), e possui três canais oficiais para realização, o 
ensino público oferecido pelo Estado segundo suas normas, o ensino privado, onde é outorgada a 
responsabilidade do ensino a uma entidade particular e aohomeschooling (ensino domiciliar); a 
este último, será concedido maior enfoque. 
O ensino domiciliar é o símbolo da liberdade de uma sociedade intelectual, onde cada indivíduo 
foca sua aprendizagem no que julgar verdadeiramente útil para sua vida e de acordo com seus 
costumes e princípios familiares. Suponha-se a hipotética situação, onde, uma família brasileira, de 
ascendência francesa, com muitos amigos na França, muita admiração pela cultura, e grandes 
oportunidades por lá. Esta família possui um filho que é compulsoriamente matriculado no ensino 
regular brasileiro, e que há ensino obrigatório da língua estrangeira somente nas opções: inglês ou 
espanhol. O filho e a própria família, não possuem interesse nenhum que estudante absorva a 
língua inglesa ou espanhola, mas sim no idioma francês. Mesmo com interesse diverso do estatal, 
este prevalecerá. 
O ensino domiciliar é uma importante alternativa para resolução do problema referido 
anteriormente, onde o Estado interfere minimamente, aumentando a liberdade dos indivíduos 
decidirem o que melhor em suas vidas. Este método, nos Estados Unidos, surgiu com a classe 
protestante branca que era contraria à teoria evolucionista de Charles Darwin, e defendiam a teoria 
criacionista bíblica. O Estado não abrindo mão do ensino cientifico nas escolas regulares, permitiu 
que as famílias educasse seus filhos em casa segundo o credo de cada um. Atualmente, o ensino 
domiciliar é legalizado e amplamente utilizado nos Estados Unidos, e não só por uma determinada 
classe, mas pelas mais diversas, bem como pelos vários motivos. 
Não é só nos Estados Unidos que o ensino domiciliar é legal, mas em diversos países desenvolvidos 
como, Nova Zelândia, Austrália, Portugal, Cingapura (NADAI, 2011), sendo este ultimo, liberal ao 
ponto de o ensino não ser obrigatório, porém, ao contrário do senso comum as estatísticas são 
positivas, com 98% de participação escolar e índice de alfabetização próximo dos 100%. 
(SELBREDE, 2008) 
No Brasil a interferência na educação é elevada, sendo o ensino compulsório e vedada a prática do 
ensino domiciliar. O ensino de ser provido por instituições privadas ou públicas regulamentadas 
pelo MEC (Ministério da Educação), que controla carga horária, assiduidade, grau de formação dos 
http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/1031134/estatuto-da-crian%C3%A7a-e-do-adolescente-lei-8069-90
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educadores, metodologias, conteúdo e práticas dentro dos estabelecimentos escolares. Não 
concordando os pais, com o programa de ensino das escolas, não há alternativas senão segui-lo, 
uma vez que a legislação brasileira tipifica no Código Penal (BRASIL, 1940) a abstenção da criança 
na escola, punindo severamente os pais. Pode-se observar a legislação vigente acerca do assunto a 
seguir: 
Art. 208. O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de: I - ensino 
fundamental, obrigatório e gratuito, assegurada, inclusive, sua oferta gratuita para todos os que a 
ele não tiveram acesso na idade própria (Código Penal. BRASIL, 1940) 
Art. 5º [...] § 3º Compete ao Poder Público recensear os educandos no ensino fundamental, fazer-
lhes a chamada e zelar, junto aos pais ou responsáveis, pela freqüência à escola (Constituição. 
BRASIL, 1988). 
Art. 55. Os pais ou responsável têm a obrigação de matricular seus filhos ou pupilos na rede regular 
de ensino. Lei 8.069/90 (Estatuto da Criança e do Adolescente) 
Art. 6º É dever dos pais ou responsáveis efetuar a matrícula dos menores, a partir do sete anos de 
idade, no ensino fundamental (Lei 9.394. BRASIL, 1996). 
Art. 246. Deixar, sem justa causa, de prover a instrução primária de filho em idade escolar. Pena - 
Detenção de 15 (quinze) dias a 01 mês, ou multa (Código Penal. BRASIL, 1940). 
5.6 Estado Laico: Liberdade Religiosa 
Durante um longo período da história o poder estatal se confundia com o poder da igreja, não 
havendo separação clara entre as duas entidades, sendo o Estado obrigado, por muitas vezes, acatar 
dogmas da igreja e o contrário também é verificável; pois, a igreja precisava do Estado para se 
manter e este utilizava a igreja como meio de manipular a sociedade. Subsequente a este período 
identifica-se o surgimento do estado laico, que é quando igreja e estado se separam. 
O estado laico não possui ligação com a igreja, mas isto também não significa que há liberdade de 
credo, pois, igreja e Estado podem ser completamente independentes, mas este ser confessional, 
decretando ou determinando ideologias religiosas à sociedade. Portanto, o Estado religiosamente 
imparcial é aquele que é laico e não-confessional ao mesmo tempo. 
A interferência no credo de uma nação é fortemente prejudicial à identidade cultural de um povo, 
redundando opressão, tortura psicológica e por vezes física. A interferência do Estado no credo de 
um povo é algo tão drástico é a justificativa para guerras civis; guerras constantes no oriente médio 
há séculos (sem previsão de fim); e quando um Estado soberano ou um grupo extremista intervém 
no credo do outro, ataques terroristas, como os observado em 11 de setembro de 2001 em Nova 
Iorque nos Estados Unidos. Este ataque teve a autoria atribuída ao grupo Al-Qaeda, que é um grupo 
fundamentalista islâmico que tem o fito de reduzir a influencia não-islâmica no mundo islâmico. 
Considerando os Estados Unidos a mais influente nação capitalista e não-islâmica, além de 
considerar que os imigrantes islâmicos são discriminados, o falecido líder da Al-Qaeda - Osama Bin 
Laden - tinha o país norte americano como o precípuo alvo desta guerra para imposição do 
islamismo. 
A Declaração Universal de Direitos Humanos adotada pelos 58 países membros das Nações Unidas, 
em dezembro de 1948, em Paris (França) preconizava a liberdade de religião e opinião em seu 
artigo 18: 
Todo o homem tem direito à liberdade de pensamento, consciência e religião; este direito inclui a 
liberdade de mudar de religião ou crença e a liberdade de manifestar essa religião ou crença, pelo 
ensino, pela prática, pelo culto e pela observância, isolada ou coletivamente, em público ou em 
particular (NAÇÕES UNIDAS, 1948). 
A Ilustração IV mostra a situação atual do mundo em relação à intervenção religiosa, dividida por 
países. 
Ilustração IV: Hostilidades Sociais Envolvendo Religião - Fonte: Pew...(2009) 
http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/1033702/c%C3%B3digo-penal-decreto-lei-2848-40
http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/1033702/c%C3%B3digo-penal-decreto-lei-2848-40
http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/112175738/constitui%C3%A7%C3%A3o-federal-constitui%C3%A7%C3%A3o-da-republica-federativa-do-brasil-1988http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/1031134/estatuto-da-crian%C3%A7a-e-do-adolescente-lei-8069-90
http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/1035083/lei-de-diretrizes-e-bases-lei-9394-96
http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/1033702/c%C3%B3digo-penal-decreto-lei-2848-40
http://pt.wikipedia.org/wiki/Liberdade_de_pensamento
http://pt.wikipedia.org/wiki/Consci%C3%AAncia
http://pt.wikipedia.org/wiki/Cren%C3%A7a
O Brasil em sua Constituição Federal (BRASIL, 1988) reitera o disposto no Tratado realizado pelas 
Nações Unidas, não só adotando o dispositivo como constitucional, como elencando outro rol com 
diversos dispositivos, quais sejam: 
Inciso VII do artigo 5º é assegurado, nos termos da lei, a prestação de assistência religiosa nas 
entidades civis e militares de internação coletiva. 
Inciso VII do artigo 5º estipula que ninguém será privado de direitos por motivo de crença 
religiosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal 
a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei. 
Artigo 19, I, veda aos Estados, Municípios, à União e ao Distrito Federal o estabelecimento de 
cultos religiosos ou igrejas, embaraçar-lhes o funcionamento ou manter com eles ou seus 
representantes relações de dependência ou aliança, ressalvada, na forma da lei, a colaboração de 
interesse público. 
Artigo 150, VI, b, veda à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios a instituição de 
impostos sobre templos de qualquer culto, salientando no parágrafo 4º do mesmo artigo que as 
vedações expressas no inciso VI, alíneas b e c, compreendem somente o patrimônio, a renda e os 
serviços, relacionados com as finalidades essenciais das entidades nelas mencionadas. 
Artigo 210 assevera que serão fixados conteúdos mínimos para o ensino fundamental, de maneira 
a assegurar a formação básica comum e respeito aos valores culturais e artísticos, nacionais e 
regionais, salientando no parágrafo 1º que o ensino religioso, de matéria facultativa, constituirá 
disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino fundamental. 
Artigo 213 dispõe que os recursos públicos serão destinados às escolas públicas, podendo ser 
dirigidos a escolas comunitárias, confessionais ou filantrópicas, definidas em lei, que comprovem 
finalidade não-lucrativa e apliquem seus excedentes financeiros em educação e assegurem a 
destinação de seu patrimônio a outra escola comunitária, filantrópica ou confessional, ou ao Poder 
Público, no caso de encerramento de suas atividades. Salientando ainda no parágrafo 1º que os 
recursos de que trata este artigo poderão ser destinados a bolsas de estudo para o ensino 
fundamental e médio, na forma da lei, para os que demonstrarem insuficiência de recursos, quando 
houver falta de vagas e cursos regulares da rede pública na localidade da residência do educando, 
ficando o Poder Público obrigado a investir prioritariamente na expansão de sua rede na localidade. 
Artigo 226, § 2º, assevera que o casamento religioso tem efeito civil, nos termos da lei. 
O estado brasileiro cumpre proficuamente o papel de não intervenção na crença do povo, 
respeitando todos os tipos de credo e práticas religiosas, desde que lícitas, e também a abstenção da 
crença ou prática. 
5.7 Liberdade no Uso de Entorpecentes 
O uso de entorpecentes é mais antigo que própria humanidade, a “hipótese do macaco bêbado” de 
40 milhões de anos atrás afirma que macacos adultos comiam frutas maduras que desenvolvidas 
em regiões húmidas fermentavam transformando o açúcar contido em álcool. 
(SUPERINTERESSANTE, 2006). Na China, 2.700 A. C, verifica-se a utilização da cannabis 
(maconha) como alucinógeno; em 1.000 A. C registros do uso do ópio no Egito; na Grécia, 500 A. C 
o vinho; em 1492, Cristóvão Colombo traz as primeiras sementes de cannabis para a América; 
Sigmund Freud, em 1885 utiliza extrato de coca em seus pacientes; na Primeira Guerra Mundial os 
soldados usavam cocaína medicinal no alívio da dor. Em suma, independente do mérito de ser 
prejudicial ou não, o uso de entorpecentes sempre esteve presente na história da humanidade. 
Na década de 70, o presidente norte americano Richard Nixon declarara guerra contra as drogas, 
criminalizando severamente o uso, produção, comercio, transporte, armazenagem, e outras 
condutas relacionadas. Na década de 80 o presidente, também norte americano, Ronald Reagan 
preconiza a política da “tolerância zero”, onde não seria admitida em hipóteses alguma a presença 
de drogas ilícitas no país. Estas atitudes influenciaram vários países na proibição do uso de drogas, 
inclusive o Brasil. É paradoxal a referida política norte americana, pois, a própria história mostra a 
presença das drogas em todos os estágios da humanidade. 
A chamada “guerra contra as drogas” se transformou em uma guerra real, porque o consumo nunca 
deixou de existir e a venda de forma ilegal em guetos e favelas fomentou a violência por meio da 
http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/112175738/constitui%C3%A7%C3%A3o-federal-constitui%C3%A7%C3%A3o-da-republica-federativa-do-brasil-1988
compra de armamentos com dinheiro arrecadado da venda rentável e indiscriminada das drogas. 
Não obstante os problemas com o aumento da violência urbana, muitas pessoas se tornaram 
dependentes química, física e psicologicamente destas substancias, caracterizando em um problema 
se saúde pública; que é agravado pelo fato de o estado ignorar os doentes e trata-los como 
criminosos. 
Ao contrário do senso comum, usuários de drogas nem sempre são criminosos, na verdade, a 
grande maioria não é. As drogas estão nas classes mais altas, nas universidades nos meios culturais, 
etc.; o estado ao não discernir isso, deixa sem tratamento dependentes doentes, ou os solta em 
centros de detenção junto a verdadeiros criminosos convertendo os ao crime. 
Alguns países no mundo começam a descriminalizar o uso de algumas drogas, como é o caso de 
Holanda, Suíça, Dinamarca e outros como Portugal liberaram o uso de todas as drogas. 
A Holanda resolveu encarar o problema das drogas não como uma guerra, como os Estados Unidos 
fizeram, mas sim como um meio de pacificar os conflitos com ela relacionados. O país resolveu 
descriminalizar o uso da maconha, permitindo a utilização apenas em locais credenciados, 
chamados coffeeshop; cada estabelecimento só pode ter em posse no máximo 500g e só pode ser 
vendido até 5g por pessoa por dia, sendo proibido fazer qualquer tipo de propaganda à maconha, 
perturbar a vizinhança, vender outro tipo de droga, vender para menores de 18 anos. Problemas 
causados a outrem que tenham nexo causal com o uso da droga são severamente punidos. O 
resultado desta política foi uma diminuição do consumo em relação a países onde há repressão, 
como Reino Unido e França. Também houve uma diminuição significativa da violência. 
A Suíça adotou um sistema onde, os dependentes químicos, sobretudo de drogas injetáveis, 
pudessem utilizar as substancias de forma legal e segura, com acompanhamento médico e de 
assistente social; também há o fornecimento de seringas e agulhas descartáveis e ambiente 
higiênico, seguro e distantes dos traficantes de entorpecentes. Os resultados são estatísticos: queda 
de mais de 50% dos usuários de drogas injetáveis e portadores do vírus HIV em 10 anos; taxa de 
mortalidade por overdose caiu em mais de 50% na última década. 
A conclusão é que, países que optaram pela intervenção opressora no combate ao consumo de 
drogas não obtiveram diminuição nem no uso nem da violência em relação aos países que optaram 
pela não intervenção direta, mas instrução e regulamentação para o uso ponderado, também, houve 
diminuição no tráfico de drogas e nas doenças relacionadas ao consumo. 
6 Analise dos resultados 
Neste capítulo serão apresentados os pontos conclusivos deste trabalho, expondo os resultados, na 
prática da ponderação entre a intervenção e não intervenção do Estado na Sociedade. Também, o 
desfecho de onde a política minimalistafoi empregada, casos onde houve diminuição da 
criminalidade; a Holanda considerada um Estado liberal sob o prisma das políticas não 
intervencionista, tem se tornado em exemplo mundial de organização social. E por ultimo, as 
consequências de um Estado intervencionista no que concerne a anomia exemplificado no Brasil. 
6.1 Impactos da Política Minimalista 
Como apresentado em todo o texto, as políticas minimalistas são típicas dos países desenvolvidos, e 
de fato a liberdade do indivíduo traz bem estar social e desenvolvimento intelectual, por 
conseguinte, atenuam diversos problemas sociais, como problema de saúde pública, violência, 
carência ética, dentre outros. 
Em outra via, é unanimidade a necessidade de intervenção estatal, e esta deve estar alinhada à 
cultura de uma nação e à contemporaneidade em questão. Os meios de conquistar o nível ideal de 
intervenção é algo muito inerente a cada cultura, não existindo um padrão para atingi-los, restando 
somente o método da tentativa e do erro, como a Suíça vem fazendo ao longos dos anos em sua 
política de controle às drogas e atingindo resultados positivos. 
6.2 Diminuição da Criminalidade 
A diminuição da criminalidade em Estados de descriminalizam determinadas atitudes dos cidadãos 
inicialmente é obvia, pois, se um ato delituoso que todos cometem é descriminalizado não mais que 
se falar em crime. Ignorando o aparente óbvio, Estados menos intervencionistas, que concederam 
maior liberdade aos cidadãos, demonstraram queda significativa nos índices delituosos. 
Onde a droga foi descriminalizada, paradoxalmente pode observar queda nos índices de 
criminalidade, a exemplo de Portugal e Holanda, onde oito prisões foram fechadas por redução dos 
crimes com liberação das drogas (REMOR, 2011). 
Quando se prende alguém com posse de droga, há grande possibilidade de mandar para cadeia um 
cidadão que não tem antecedentes, todavia, no sistema carcerário em contato com delinquentes de 
verdade e possibilidade do individuo aprender, de fato, atividades delituosas é majorada. Além 
disso, um jovem que não é criminoso, ao ser condenado criminalmente pelo simples fato de 
consumir ou portar pequena quantidade de droga, lhe acarreta em um fichamento criminal 
(passagem pela polícia), dificultando-o ou mesmo impedindo de conseguir determinados empregos, 
resultando na facilitação da pratica criminal. 
Países que liberaram a atividade da prostituição também tiveram índices de criminalidade 
reduzidos, o Estado regulamenta a atividade proporcionando maior igualdade e, pode ficar mais 
próximo da prática por não se tratar mais de ato ilícito. 
6.3 Holanda: Referencial Social 
A nação neerlandesa tem sido afamada nos últimos anos como “o país liberal”, e isso se deve ao fato 
de ser um país minimalista, sendo um dos pioneiros no reconhecimento da instituição familiar 
homoafetiva, descriminalização do uso da maconha, legalização da eutanásia, descriminalização e 
regulamentação da prostituição bem como de seu agenciamento e dos locais da pratica. 
Com todas estas políticas, os Países Baixos tiveram uma forte diminuição no consumo da maconha 
e outras drogas além de outras práticas delituosas; como exemplo, 5% da população holandesa usa 
maconha, contra 10% dos norte americanos, onde o uso da maconha é crime. Segundo a ONU, a 
Holanda é um dos dez países mais seguros do mundo e, a criminalidade continua caindo, chegando 
ao ponto do sistema prisional holandês sobejar duas mil vagas; decidindo o governo alugar essas 
vagas aos detentos da Bélgica por um valor anual de 30 mil Euros. 
O cidadão holandês, no ano de 2010, foi reconhecido como o terceiro povo mais feliz. No relatório, a 
população holandesa demonstrou muita satisfação pessoal nos quesitos emprego, moradia, custo de 
vida e sistema de seguridade social, ressaltando que em pesquisa, as crianças neerlandesas 
frequentemente ficam no topo da lista entre os mais felizes (NOTÍCIAS da Holanda, 2010). O país 
conhecido como “liberal” é exemplo de qualidade de vida e satisfação de seu povo. 
6.4 A Anomia e o Estado Brasileiro 
A anomia pode ser definida como a falta de norma em um Estado ou, na existência o não 
cumprimento total ou parcial delas. Neste último significado pode ser encaixado o Brasil, nele, 
pode-se se identificar um sistema normativo extenso e prolixo, redundando em um sistema 
burocrata e relativamente intervencionista. 
No Brasil, o índice de descumprimento da norma jurídica de qualquer espécie é muito alto, e isso se 
dá devido a diversos fatores, como ineficácia do sistema punitivo, falta de investimento no 
desenvolvimento do cidadão, diferença social e descompasso entre cultura e norma. Enfocando-se 
neste último, é perceptível que o estado brasileiro intervém em excesso e em diversos fatores que 
não deveria. Em outros momentos é completamente omisso, ou não acompanha a evolução cultural 
de sua população. 
Um país com extensão continental e com população proporcional ao seu tamanho possui uma 
imensa diversidade cultural, sendo injusto aplicar as mesmas formas de intervenção da região 
sudeste no nordeste, por exemplo. O Brasil precisa de um ordenamento normativo mais enxuto e 
objetivo à sua população, não deixando defasar-se pelo lapso temporal, mas passando por 
frequentes atualizações. A exemplo dos países desenvolvidos, uma intervenção estritamente 
necessária torna as normas significativamente eficazes. 
Como prova da ineficácia da intervenção estatal no Brasil, os índices de homicídios, tráfico de 
drogas e armas, furtos e roubos, violência no trânsito, aumentam anualmente caracterizando-se em 
um estado de anomia. 
7 Conclusão 
O cenário mundial atual da intervenção estatal do governo na vida privada os cidadãos é o mais 
diverso, como se esperava de ser, pois, a pluralidade cultural é grande, e a soberania dos estados 
permite com que eles intervenham da maneira que intendem. A organização das Nações Unidas 
possui um tratado de direitos humanos onde neste, há sugestões às ações dos governos em relação à 
privação de liberdade dos cidadãos, políticas de eficazes na diminuição da criminalidade, 
preservação da dignidade humana e consequentemente promoção do bem estar e satisfação da 
sociedade. O grande problema, é que a aderência a este tratado é facultativa, optando muitas nações 
por não serem signatárias. Além disso, a intervenção das Nações Unidas na soberania de um Estado 
poderia ser mais problemática ainda. 
O Brasil apresentou ser um país com forte intervenção do Estado na vida privada dos indivíduos ao 
se comparar com os países desenvolvidos. Ao fim desta comparação criteriosa infere-se que é 
exatamente nestes limites entre a intervenção pública na vida particular inadequada à realidade, é 
que se verifica a ineficácia do estado brasileiro na diminuição do uso excessivo de drogas como 
problema de saúde pública tráfico de drogas e armas, violência no trânsito, homicídios, furtos e 
roubos, homofobia e exploração em algumas relações trabalhistas. 
Enquanto o Brasil, com uma política intervencionista, ainda sofre com o aumento da incidência dos 
problemas sociais acima citados, países onde houve descriminalização das drogas, constata-se 
menor consumo destas substancias, diminuição no índice de violência, diminuição no tráfico, 
diminuição dos problemas de saúde relacionados ao uso de drogas, redução do excesso prisional, 
além de maior arrecadação de impostos e geração de emprego. Também foi verificado que a prática 
da prostituição, que é muito antiga, é a ocupação de milhares de pessoas no mundo, e a proibição da 
atividade diretamente ou indiretamente resultam na indignidade de quem realiza a profissão, da 
desigualdade social por conceder a determinados executores de algumas atividades, direitos e 
garantias trabalhistas e à prostituição não. Nos Países Baixos onde a atividade da prostituição foi 
completamente descriminalizada e regulamentada, o Estado consegue estar mais presente, 
garantindo a segurança de profissionais e clientes, instruindo

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