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Dimensão investigativa concepções e criticas (1)

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MORAES, Carlos Antonio de Souza. O Serviço Social brasileiro na entrada do século 
XXI: Formação, trabalho, pesquisa, dimensão investigativa e a particularidade da saúde. 
2016. 318f. Tese (Doutorado em Serviço Social) - Pontifícia Universidade Católica de 
São Paulo, São Paulo, 2016, p. 104 - 114. 
 
2.2 Dimensão Investigativa: Concepções e Críticas 
 
Refletir a respeito da dimensão investigativa na formação profissional do 
assistente social no século XXI supõe analisar as determinações gerais da sociedade 
capitalista e, ao mesmo tempo, sinalizar que, se a compreendemos e a defendemos na 
lógica do Projeto profissional atual
1
, torna-se necessário criar reflexões que contribuam 
para que os profissionais compromissados com seus valores ético-políticos possam 
qualificar a dimensão interventiva. 
Assim, discutir a dimensão investigativa em estreita articulação com a dimensão 
interventiva, a partir de fundamentação teórica, ética, política e capacidade de análise, 
supõe caminhar na construção de um movimento de superação da histórica submissão 
embutida no perfil e postura do assistente social e abrir possibilidades de (re) construção 
de seu protagonismo profissional que, como já citado, só se edifica a partir da 
fecundação da capacidade crítica dos assistentes sociais. 
Uma primeira aproximação aos significados do termo dimensão investigativa 
pode indicar, no campo das aparências, que ele expressa uma unidade extensa, 
composta por diversos vetores que se relacionam em processos 
investigativos/indagativos. 
Compreende-se, assim, que a dimensão investigativa, em sua amplitude, é 
formada por dois elementos centrais e que devem obrigatoriamente compor o trabalho 
do assistente social: 1. Postura/atitude investigativa; e 2. Ação investigativa. Ambos 
embasados nas dimensões teórico-metodológica e ético-política profissional atual. 
1. A postura/atitude investigativa é construída no contato direto com a 
realidade social/meio externo, que vai exigir análise de conjuntura, calcada em 
conhecimentos relativos à sociedade brasileira em tempos de mundialização do 
 
1
 A dimensão investigativa existe desde as protoformas do Serviço Social, ligada à compreensão e análise 
da realidade social “[...] sendo determinada pela sua natureza interventiva e pela sua inserção histórica na 
divisão sociotécnica do trabalho” (BOURGUIGNON, 2007, p. 16). 
capital e de “reconfiguração” de Estados Nacionais, na tentativa do 
desenvolvimento econômico e de elevação dos indicadores sociais. 
Além disso, traz a necessidade de o assistente social analisar as manifestações da 
“questão social” no cenário nacional, suas formas de enfrentamento por meio de 
políticas sociais públicas e privadas e as particularidades em seu local de trabalho. Para 
tanto, ela também se expressa na relação com os usuários, empregadores e demais 
profissionais, a fim de decodificar a realidade e romper a aparência dos fenômenos, que 
se manifestam de forma caótica, desconectados e que exigem respostas imediatas. 
A postura/atitude investigativa, portanto, pode ser caracterizada pela observação 
constante da realidade e atenção aos detalhes que a compõe, a curiosidade no trato dos 
fenômenos, a indagação e desconfiança articuladas ao respeito e não invasão à 
privacidade dos sujeitos. Isso supõe um profissional que se atualize, participe de 
eventos acadêmicos e coletivos que dizem respeito ao Serviço Social e sua área de 
atuação, acompanhe a produção de conhecimentos na área em que trabalha, relacione 
criticamente esses conhecimentos teóricos à legislação, normas, cultura e dinâmica 
institucional. Supõe um profissional que busque constantemente a segurança de seus 
valores ético-políticos e que compreenda o valor e a função social de seus 
posicionamentos nos espaços públicos da sociedade. 
Defende-se que a postura/atitude investigativa é fundamental em um cotidiano 
que se apresenta de forma fragmentada, contraditória e liquidificada. Necessária, porque 
esse mesmo cotidiano é capaz de oferecer informações de como ultrapassá-lo. Ou seja, 
o real se compõe e manifesta-se entre aparência e essência. Para captar a aparência, o 
bom senso, a intuição e o entendimento são elementos fundamentais. Já a essência 
supõe os fundamentos dessa realidade, a estrutura que a compõe e suas determinações, 
que precisam ser desveladas à luz de uma teoria crítica e que compreenda e analise sua 
dialética em sua “representação caótica” (KOSIK, 1976; MARX, 1983; CHAVES, 
2014). 
Para Lefebvre (1991), o cotidiano pode ser pensado como “um campo e uma 
renovação simultânea, uma etapa e um trampolim, um momento composto de 
momentos [...] interação dialética da qual seria impossível não partir para realizar o 
possível” (p. 20). “Em sua trivialidade, o cotidiano se compõe de repetições: gestos no 
trabalho e fora do trabalho, movimentos mecânicos [...], horas, dias, semanas, meses, 
anos; repetições lineares e repetições cíclicas etc.”. (p. 24). “Ele se apresenta como o 
lugar do nascimento das contradições [...], o lugar das lutas entre sexos, gerações, 
grupos, ideologias” (p. 43). 
Nesse contexto, o cotidiano apresenta um dilema: trabalha-se para fortificar as 
instituições e ideologias, compreendendo-as como irredutíveis e consolidando o 
cotidiano em que essas estruturas se estabelecem ou mobiliza-se suas análises e ações a 
serviço de suas causas, dedicando-se a “mudar a vida”. A segunda opção tende a 
demonstrar os conflitos entre o racional e o irracional na nossa sociedade e na nossa 
época. “A análise crítica visa virar pelo avesso esse mundo em que os determinismos e 
opressões passam por racionais” (LEFEBVRE, 1991, p. 30). 
A postura/atitude investigativa se refere a uma primeira tentativa de 
aproximação crítica para construção dessa análise, por meio da inquietação com o caos 
da realidade, com suas manifestações, informações e dados. Supõe estar disposto a 
apreender e compreender o inesperado, aquilo que extrapola suas referências e o leva a 
ir além do absolutamente visível. Supõe a compreensão de sua aparência e a tentativa de 
ultrapassá-la, garantindo o compromisso com os usuários, com a qualidade dos serviços 
prestados à população, na perspectiva da construção do projeto ético e político 
profissional. 
Sabe-se, no entanto, que o cotidiano é marcado pela busca de soluções 
imediatas, em função das exigências postas para a própria sobrevivência. E essas 
soluções, em princípio, referem-se a: um atendimento médico; uma cesta básica; 
realização de um exame; acesso a um medicamento ou a um benefício; uma casa para 
morar; uma creche para deixar os filhos enquanto trabalha ou procura emprego; a 
retirada da rua, local em que se vive e não é adequado para se viver; uma passagem de 
volta para cidade de origem; uma instituição para abrigar um idoso em situação de 
abandono e/ou violência, dentre outros (JUNCÁ, 2012). 
A miséria, a fome, a violência, a falta de atendimento em serviços de saúde, 
muitas vezes exigem respostas imediatas, que garantam o acesso ao direito e promovam 
a sobrevivência digna dos sujeitos. Sem dúvidas, os assistentes sociais são pressionados 
por essa realidade, que pede socorro, desafiando-os em respostas urgentes. O problema 
é a imersão nesse imediato, a ponto de limitar as ações nas consequências, entendendo 
essa realidade como irredutível, distanciando-se de seus determinantes e restringindo o 
trânsito na aparência dos fenômenos (JUNCÁ, 2012). 
“É impossível captar o cotidiano como tal, aceitando, „vivendo-o‟ passivamente, 
sem fazer um recuo. Distância crítica, contestação e comparação caminham lado a lado” 
(p. 34). É preciso superar a alienação que prende o “homem cotidiano em problemas 
minúsculos”, “que transforma a pobreza material em pobreza espiritual, a consciência 
criadora [...] numa consciência passiva e infeliz” (LEFEBVRE, 1991,p. 40). 
Distanciando-se dos caminhos da crítica, do querer saber para o querer fazer 
ético e político, o assistente social afasta-se de mediações necessárias ao trabalho 
profissional e constrói um trabalho repetitivo, imediato e com características humanas, 
geralmente associadas à presteza e disponibilidade, mas que se mantém estagnado e 
cristalizado no campo do aprendizado e das descobertas para ação transformadora, 
embora, muitas vezes, ela permaneça em discursos associadas a concepções de 
democracia, cidadania e emancipação (JUNCÁ, 2012). 
O mergulho no imediato nos limita à manutenção de seus laços, banalizando o 
olhar, as percepções, as experiências e as possibilidades de decifrar a rede de relações 
reais que compõe a realidade. “Estranhar o familiar” supõe a necessidade de ultrapassar 
análises genéricas e superficiais. 
Nesse caminho, os estudos antropológicos de Da Matta (1978) e Gilberto Velho 
(1978, p. 39, grifos do autor) afirmam: “O que sempre vemos e encontramos pode ser 
familiar, mas não é necessariamente conhecido, e o que não vemos e encontramos pode 
ser exótico, mas, até certo ponto, conhecido”. Velho (1978, p. 40, grifos do autor) ainda 
continua: 
Dispomos de um mapa que nos familiariza com os cenários e 
situações sociais de nosso cotidiano, dando nome, lugar e posição aos 
indivíduos. Isto, no entanto, não significa que conhecemos o ponto de 
vista e a visão de mundo dos diferentes atores em uma situação social, 
nem as regras que estão por detrás dessas interações [...]. Posso estar 
acostumado [...] com uma certa paisagem social, onde a disposição 
dos atores me é familiar, a hierarquia e a distribuição de poder 
permitem-me fixar, grosso modo, os indivíduos em categorias mais 
amplas. No entanto, isto não significa que eu compreenda a lógica de 
suas relações. O meu conhecimento pode estar seriamente 
comprometido pela rotina, hábitos, estereótipos. 
O convite é que se assuma o estranhamento constante do familiar e a 
familiarização do que é exótico em nosso cotidiano de trabalho. Embora familiaridade 
traduza um tipo de apreensão da realidade e possa contribuir para a construção de 
conhecimento científico, ela não é sinônimo desse conhecimento. Em Lefebvre (1991, 
p. 44), isso é identificado quando o autor aponta a necessidade de se “revelar a riqueza 
escondida sob a aparente pobreza do cotidiano, descobrir a profundeza sob a 
trivialidade, atingir o extraordinário do ordinário”. Aqui, de acordo com Moraes, Juncá 
e Santos (2010), encontra-se um desafio para os assistentes sociais. Desafio que nem 
sempre é assumido, em nome de uma suposta experiência acumulada durante os anos de 
trabalho. 
Esse estranhamento é fundamental para que o assistente social enfrente tal 
desafio na tentativa de conhecer, de forma mais aprofundada, a matéria-prima de seu 
trabalho e, enquanto sujeito de suas ações, esteja consciente do que elas podem 
provocar nos processos sociais e nas múltiplas expressões da “questão social”. 
Assim, constroem-se possibilidades de ultrapassar a passividade e subalternidade 
também presentes nos estudos de Gramsci (1977) e analisados por Simionatto (2011). 
Para o autor, sair da passividade, deixar de ser massa de manobra dos interesses das 
classes dominantes, para a ação consciente, significa também buscar uma nova 
articulação entre teoria e prática, combatendo concepções mecanicistas e particularistas 
que encobrem o ser social. 
Nesse caminho, nota-se que a postura/atitude investigativa, pautada na análise 
do dia a dia, percorre cotidianamente o exame “do que”, “para que” e “como” se 
sabe/conhece, permitindo tecer indagações e reflexões. Enquanto trabalhadores 
assalariados, inscritos na divisão social e técnica do trabalho e dotados de estatuto 
intelectual, ela permite analisar os processos gerais de precarização do trabalho, 
condições e relações no cenário atual e as implicações para o contexto particular de 
trabalho do assistente social. 
Permite também fazer análise da política em que atua e como se concretiza na 
instituição de trabalho, por meio do orçamento para atendimento das demandas sociais 
dos usuários, dos discursos e práticas dos gestores e profissionais de modo geral, das 
posições que se confrontam, das relações de poder instituídas e em fase de se instituir, 
dos objetivos e prescrições institucionais e de suas vinculações ao Serviço Social, no 
sentido da imagem construída ou que desejam construir (gestores e demais 
profissionais) a respeito do Serviço Social naquela política de atuação, em confronto 
com a identidade que se deseja firmar naquele espaço de trabalho
2
. 
Além disso, a postura/atitude investigativa assegura uma análise do próprio 
Serviço Social na construção de seu trabalho profissional, avaliando os momentos de 
tentativa de avanços e conquistas de novos espaços, a criação de novas estratégias para 
aproximação crítica da realidade, as efetivas implicações da predominância feminina 
entre os assistentes sociais e em sua relação com os demais profissionais e gestão, além 
do momento estratégico para apresentação de propostas de trabalho com direcionamento 
para a defesa de direitos dos usuários. 
Dialeticamente, ela nos permite questionar: até que ponto o saber é superficial, 
generalista, rotulador? Foram construídos caminhos para apropriação intelectual da 
realidade que nos cerca? O que fundamenta a nossa escuta e nosso olhar? Quais as 
particularidades expressas em meu trabalho e como elas se movimentam no terreno da 
totalidade? Quem é a população usuária de nossos serviços? Como vive? Que 
experiências e representações têm construído? Quais as principais demandas que 
apresentam? Quais os principais determinantes dessas demandas na particularidade do 
território de atuação? Quais os desdobramentos dessas demandas no espaço 
institucional? Como a rede de serviços tem se organizado para atender às necessidades 
sociais dos sujeitos sociais? Como garantir o direito desses sujeitos e mobilizá-los para 
ação coletiva sem colocar em xeque nosso vínculo de trabalho? 
A rotina impregnada em políticas e instituições sociais não limita a um fazer 
repetitivo. O sujeito do trabalho profissional é aquele que, mesmo na condição de 
assalariado e tendo que responder requisições e interesses institucionais, vai além da 
competência permitida e se aproxima da competência crítica. Isso porque não se limita 
aos muros da empiria e nem adensa a tendência tecnicista, porque tem vontade ético-
política, compromisso com o saber-fazer e insistência pelo aprendizado constante, visto 
que, segundo Netto (2009, p. 695), “[...] nenhum (a) assistente social pode pretender 
 
2
 Os estudos de Ortiz (2010, p. 142) indicam que existem “[...] vários elementos que compõem a imagem 
socialmente existente do Serviço Social, como o perfil voluntarista; a subalternidade; a exigência de 
respostas imediatas e geralmente limitadas ao nível da aparência da situação demandada; o primado dos 
valores morais do agente profissional sobre sua „especialização‟ técnica e a consequente desqualificação 
da teoria; dentre outros, parecem conviver com outros traços que apontam para a construção de uma nova 
autoimagem profissional – aquela do profissional que defende a luta por direitos sociais e reconhece seu 
papel e limites na divisão social e técnica do trabalho, presente no projeto profissional hegemônico na 
atualidade. Há, em nosso entender, um progressivo distanciamento entre os elementos que, 
tradicionalmente, compõem a imagem da profissão e aqueles que hoje atravessam o projeto e o perfil 
profissional a ele subjacente, redundando em um processo de metamorfose da imagem da profissão”. 
qualquer nível de competência profissional prendendo-se exclusivamente aos aspectos 
imediatamente instrumentais e operativos da sua atividade”. 
A postura/atitude investigativa não dependede recursos financeiros e materiais 
para sua realização (embora a falta ou precariedade desses recursos interfiram 
objetivamente em seu processo de construção, podendo fragilizá-la), mas depende de 
compromisso com o aprimoramento constante, de segurança dos princípios e valores 
éticos e políticos, de análise de realidade, de querer saber para a intervenção estratégica. 
Isso não supõe a “incorporação” de um “espírito” investigativo, porque a 
postura/atitude investigativa não se refere a algo sobrenatural e que contempla a 
sujeitos privilegiados por serem detentores de dons e capacidades específicas e/ou 
inerentes ao seu ser. 
Ao contrário, ela deve ser democrática, inerente ao trabalho de todo assistente 
social e, portanto, precisa ser ensinada na graduação em Serviço Social, a partir de 
problematizações da realidade social, por meio de participação em eventos científicos, 
debates de temas históricos e atuais, capazes de aguçar o olhar sensível, crítico, curioso 
e aberto a novas possibilidades, com clareza do “por que”, “para que” e “como” 
conhecer. Conhecimentos capazes de trazer significados para apropriação e não apenas 
para o entendimento, já que, segundo Maria Regina de Avila Moreira: “Conhecimento 
que não te traga algum significado, não é apropriado” (Depoimento, 2013). 
2. Quando a postura/atitude investigativa é encarada como indissociável do 
cotidiano de trabalho profissional e articulada às competências, atribuições do 
assistente social, que se concretizam por meio dos instrumentos de trabalho 
(entrevistas, visitas domiciliares, laudos, informações, pareceres, 
encaminhamentos), estratégias de ação, projetos de intervenção, sistematização e 
análise de dados, de depoimentos e experiências de trabalho (GUERRA, 2009), 
na tentativa de compreender os nexos que compõem essa realidade, caminha-se 
na construção da ação investigativa, que não se dissocia da dimensão 
interventiva. 
Assim, torna-se possível afirmar que a ação investigativa supõe imediatamente a 
postura/atitude investigativa, mas a postura/atitude investigativa não necessariamente 
gera uma ação investigativa no plano imediato, mas é fundamental para a construção 
das ações investigativas e intervenções profissionais. Porém, tanto a ação investigativa 
quanto a postura/atitude investigativa devem estar pautadas nas dimensões teórico-
metodológica e ético-política profissional do projeto do Serviço Social contemporâneo, 
e constituem o que se entende, neste estudo, por dimensão investigativa. 
Dessa forma, há o desafio de apreender e desvelar os limites e possibilidades 
presentes na dinâmica da vida cotidiana profissional (SUGHIRO, 1999). Para tanto, o 
hábito de anotações sistemáticas do cotidiano profissional pode se apresentar como base 
para a ação investigativa e capaz de gerar novas investigações, inclusive por meio de 
pesquisa em serviços (abordada na sessão 2.4.2). 
A sistematização dos dados
3
 não deve ser entendida como um fim em si mesmo 
ou apenas como um documento que comprove e resguarde o assistente social quanto às 
ações realizadas em sua instituição de trabalho. Ela reúne um conjunto de informações e 
dados primários que asseguram um conhecimento preliminar do cotidiano, por meio de 
análise no sentido e tentativa de desvendamento do caos expresso pela realidade, 
compreensão de sua complexidade, identificação dos fenômenos presentes naquele 
período histórico e que marcam as demandas apresentadas à instituição de trabalho do 
assistente social. Assim, descrição, associação e comparação desses elementos, entre si 
e com a dinâmica societária, possibilitarão uma maior racionalização e objetivação do 
trabalho profissional, por meio de avanços na produção de conhecimentos, mediante 
diagnóstico da realidade e, provavelmente, irão sugerir seu aprofundamento, através de 
pesquisas e estudos, que também exigirão maiores investimentos em reflexão teórica e 
ético-política. 
Ao reunir, agrupar e analisar, com fundamentação teórico-crítica, os dados e 
informações assegurados no cotidiano profissional, o assistente social começa a 
construir artesanalmente as interconexões relativas ao tema estudado. Essa leitura, com 
base ético-política, torna-se fundamental e estratégica para a intervenção profissional, 
seja no sentido de problematizar as condições do trabalho profissional, seja para refletir 
a respeito da política em que atua, as demandas apresentadas pelo usuário à instituição e 
a construção de estratégias na tentativa de garantia de direitos dos usuários, tendo por 
norte valores vinculados à sociedade que se deseja. 
 
3
 “[...] a sistematização de dados (ou aspectos, traços, facetas) pertinentes a um fenômeno, grupo ou 
fenômenos ou processo (s) constitui um procedimento prévio e necessário à reflexão teórica. Vale dizer, 
os procedimentos sistematizadores, especialmente fundados na atividade analítica da intelecção 
configuram um passo preliminar e compulsório da elaboração teórica – sem, entretanto, confundir-se com 
ela” (NETTO, 1989, p. 141-142). 
De forma geral, a ação investigativa, resultado e geradora de sistematização e 
análise de realidade, é fundamental para o reforço e consistência da capacidade 
argumentativa do assistente social no diálogo com a chefia e demais profissionais. Mas 
a ação investigativa não pode se limitar à empiria e à tendência tecnicista a partir de um 
discurso que reproduz a realidade, os depoimentos dos usuários sem reflexão teórica e 
ético/política. Há necessidade de exercitar constantemente “o olhar rigoroso, crítico, 
atento”, buscando “o desvendamento crítico da realidade em análise” (MARTINELLI, 
2005, p. 10). 
A esse respeito, destaca Maria Regina de Avila Moreira (Presidente da ABEPSS, 
gestão 2012-2014): 
[...] o assistente social tem que sistematizar o seu cotidiano, tem que 
transformar estes elementos, estes dados riquíssimos que tem em seu 
cotidiano [...] para disputas que vai fazer com as chefias, com as 
gestões, para as divergências que vão ter [...] E isso tem que ser da 
nossa formação. (Depoimento, dez. 2013). 
A entrevistada ainda destacou a seguinte experiência de trabalho no Estado de 
São Paulo, na década de 1980: 
Desde a reunião com a chefia, que eu ia naquela semana e eu nunca 
ia dizer assim: ‘eu acho que’, mas eu ia dizendo: ‘olha, essa semana 
eu atendi tantos por cento de famílias...’ isso faz toda a diferença 
para sua intervenção cotidiana, para o mestrado que eu vou fazer, 
para a pesquisa que eu vou participar, como seu eu quiser fazer no 
meu trabalho uma pesquisa mais profunda também faz toda a 
diferença. E isso é possível de desenvolver no nosso trabalho 
(Depoimento, dez. 2013). 
Dessa forma, a ação investigativa, que não se dissocia da postura/atitude 
investigativa, por meio de visitas domiciliares, entrevistas, contatos com outros 
profissionais, com a rede de serviços, observação sensível da realidade e sistematização 
dessas informações, torna-se fundamental para articulação de enfrentamentos 
necessários e cabíveis às manifestações da “questão social”, particularizadas no espaço 
de atuação. 
Assim, e se necessário, será possível a construção de alianças com outros 
trabalhadores capazes de questionar sua condição no interior da instituição, bem como a 
condição dos usuários, com destaque para aquelas situações em que as instituições não 
sabem responder a suas demandas e apelam para o encaminhamento para a rede de 
serviços, sem nenhuma perspectiva de inclusão. Além disso, pode contribuir para a 
construção de diálogo e negociação para reorientação dos serviços e da rotina dos 
atendimentos, em busca da ampliação do acesso e da qualidade deles; a identificação e 
discussão a respeito de demandas implícitas, determinantes da elevação quantitativa dos 
atendimentos institucionais; a criação de projetos de intervenção e a avaliação constantedos serviços prestados à população; o estudo mais aprofundado desses fenômenos, a fim 
de compreender suas singularidades, o que os particularizam no espaço social de 
atuação e o que os determinam no terreno da totalidade. 
Dessa forma, se no eixo técnico-operativo a ação investigativa formata as 
possibilidades de intervenções qualificadas, estratégicas e ricas subjetivamente, no 
plano ético-político assume o questionamento do naturalizado socialmente e investe no 
caráter organizativo e político de resistência, que questiona as organizações do trabalho, 
com atenção a situações de conflito, buscando em um primeiro momento, em 
articulação com outros profissionais, a defesa da segurança, proteção, dignidade e 
satisfação no trabalho, bem como o atendimento das necessidades sociais dos 
segmentos subalternizados. Isso tudo a partir de um conhecimento qualificado, 
trabalhado e analisado a partir do debate teórico e metodológico do Serviço Social 
contemporâneo. 
Ao articular competência e atribuição profissional à dimensão investigativa, 
chega-se à compreensão e defesa de que realizar uma visita domiciliar, preencher um 
cadastro para tentativa de inclusão do usuário em determinado benefício social, realizar 
entrevistas, construir laudos e pareceres sobre a matéria do Serviço Social supõe 
postura/atitude e ação investigativa. Ou seja, essa associação supõe um trabalho sério, 
atento, que examina e tenta captar a realidade em suas diferentes expressões. Supõe uma 
postura que indaga, quer saber as causas dos fenômenos, não culpabiliza, não julga, mas 
investiga as diversas determinações daquela mesma situação, que não se ancora em 
valores religiosos, não se prende ao conhecimento produzido pelo senso comum, não 
moraliza e rompe uma relação pautada em preconceitos e discriminações. 
Essa associação contribui para a ultrapassagem de significados exclusivamente 
burocráticos do fazer profissional, garantindo ao trabalho profissional cotidiano o lugar 
da produção de conhecimentos, que transpõe a simples reprodução do já produzido e 
subsidia os profissionais na construção de respostas qualificadas às demandas e 
necessidades da prática, bem como no avanço da construção de estratégias pedagógicas 
que medeiam o senso comum e a produção de conhecimentos (SUGHIRO, 1999). 
Nesse sentido, e ao defender que postura/atitude investigativa + ação 
investigativa constituem a dimensão investigativa que deve ser indissociável da 
dimensão interventiva, caminha-se no enfrentamento da ameaça à dimensão intelectiva 
do trabalho profissional, na perspectiva do atual projeto ético e político profissional do 
Serviço Social, visto que esse rumo teórico-metodológico e ético-político exige a 
ultrapassagem do fazer pelo fazer, aprisionados em interesses e ações imediatas. Ao 
contrário, conforme Iamamoto (2004), a tentativa é de decifrar a gênese dos processos 
sociais, suas desigualdades que se manifestam na realidade de trabalho dos assistentes 
sociais e que exigem estratégias de ação qualificadas para enfrentá-las. 
É na tentativa de manter viva a dimensão intelectiva do trabalho profissional que 
será analisado, a seguir, qual o “lugar” que a dimensão investigativa tem assumido na 
formação profissional do assistente social no século XXI, apostando na competência 
teórica, técnica e ético-política do assistente social, capaz de capacitá-lo, a partir de 
dados empíricos e movimento rigoroso de criação intelectual, para construção de 
categorias analíticas práticas (SUGHIRO, 1999).

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