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1199900471 . "" I 11111111" 1111111111111111111111111 Importância e Evolução Crítica do Mercado de Capitais no Brasil e a Situação dos Acionistas Minoritários Banca Examinadora: Prof. Orientador: Jacob Ancelevicz Prof.: José Evaristo dos Santos f<.' , Prof.: Milton H. Monte Carmello FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS ESCOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE EMPRESAS DE SÃO PAULO CLAUDIOMIR MARTIN BERTÉ Importância e Evolução Crítica do Mercado de Capitais no Brasil e a Situação dos Acionistas Minoritários Dissertação apresentada ao Curso de Pós-Graduação da FGV/EAESP - Área de Concentração: Administração Contábil e Financeira, como pré- requisito para obtenção do título de mestre em Administração. Orientador: Prof. Jacob Ancelevicz m m <, 1111111'11 WIIII1199900471 SÃO PAULO 1998 Fundaç<lo Getulio Vargs5 Esçola de Adminlstraç.ao G V de Empresas de SA,., Psulo BlhllofP.ea BERTE, Claudiomir Martin. Importância e Evolução Crítica do Mercado de Capitais no Brasil e a Situação dos acionistas Minoritários. São Paulo : EAESP/FGV, 1978, 142 p, (Dissertação de Mestrado apresentada ao Curso de Pós-Graduação da EAESPfFGV, Área de Concentração: Administração Contábil e Financeira). Resumo: Relaciona aspectos da economia de mercado e o mecanismo preço na alocação eficiente de recursos na economia, além dos conceitos de poupança e investimento. Destaca o papel do sistema financeiro e do mercado de capitais no desenvolvimento econômico. Traça a evolução crítica do mercado financeiro e de capitais no Brasil. Analisa a situação dos acionistas minoritários e as práticas abusivas por parte dos controladores. Discute uma maior democratização do poder nas sociedades anônimas através do aumento do número de ações com direito a voto nas empresas. Palavras-Chave: Acionistas Minoritários - Alocação de Recursos - Controladores Crescimento Econômico Democratização Desenvolvimento Desenvolvimento Econômico - Eficiência - Investimento - Mercado Mercado Financeiro - Mercado de Capitais - Poupança - Práticas Abusivas - Preço - Sistema Financeiro - Sociedades Anônimas. SUMÁRIO DOS CAPÍTULOS 1. INTRODUÇÃO 01 1.1. Definição do Problema 01 1.2. Objetivos do Estudo 03 1.3. Metodologia Utilizada 05 1.4. Estrutura do Trabalho 06 2. ECONOMIA DE MERCADO, POUPANÇA E INVESTIMENTO 08 2.1. Economia de Mercado 08 2.2. Preços e Mercados 10 2.3. Poupança e Investimento 13 2.3.1. Poupança 14 2.3.2. Investimento 17 3. SISTEMA FINANCEIRO, MERCADO DE CAPITAIS E DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO 3.3. Sistema Financeiro e Desenvolvimento Econômico 21 21 23 27 .' '1._'.i 3.1. Desenvolvimento Econômico 3.2. Função do Sistema Financeiro 3.4. Componentes do Sistema Financeiro 30 3.4.1. Instrumentos Financeiros 31 3.4.2. Instituições Financeiras 33 3.4.3. Mercado Financeiro 34 3.5. Mercado de Capitais 36 3.6. Mercado Acionário e Desenvolvimento Econômico 39 3.7. Ambiente para um Mercado Acionário Desenvolvido 43 4. EVOLUÇÃO DO MERCADO FINANCEIRO E ACIONÁRIO NO BRASIL 46 4.1. Os Primórdios do Mercado 46 4.2. As Reformas dos Anos 60 54 4.2.1. Lei do Mercado de Capitais 61 4.3. O Crescimento Econômico dos Anos 70 e o "Boom" da Bolsa 64 4.3.1. Lei das Sociedades por Ações e a Nova Lei do Mercado de Capitais 70 4.4. A Recessão dos Anos 80 72 4.5. O Plano Real e a Atualidade 84 4.6. Aspectos que Dificultaram o Desenvolvimento 96 5. ACIONISTA MINORITÁRIO 103 5.1. Definição e Importância dos Minoritários 103 5.2. Regulamentação do Mercado de Capitais e Proteção ao Acionista Minoritário 108 5.3. Práticas Abusivas Contra os Minoritários no Brasil 117 5.3.1. Casos de Abusos Contra os Minoritários 120 5.4. A Necessidade de Democratização do Poder nas Sociedades Anônimas 125 6. CONCLUSÃO 133 7. BIBLIOGRAFIA 136 1 -INTRODUÇÃO 1.1 - Definição do Problema Historicamente, o Brasil tem demonstrado problemas sociais crescentes. A piora na distribuição de renda juntamente com saúde e educação de baixa qualidade, além de injustiças sociais alarmantes, fazem do país um dos piores do mundo em desenvolvimento humano e condições sociais. Estes e outros problemas, até mesmo culturais, levam a uma democracia "mascarada" no país, pois o controle por parte de poderosos grupos torna-se fácil em um ambiente onde o povo, pela sua formação deficitária, não consegue ter uma visão holística e conhecimentos suficientes para uma participação efetiva nas decisões. Esta falta de democracia também faz parte do ambiente empresarial, onde pequenos grupos ou até mesmo pessoas conseguem o controle absoluto de empresas com uma pequena parcela do capital integralizado, em detrimento da participação efetiva de outros sócios. A participação deficiente da maioria dos sócios e até mesmo da sociedade e governo no controle, fiscalização e acompanhamento das operações da organização acabam facilitando as práticas de atos abusivos por parte dos controladores. Um dos grandes prejudicados nesta atmosfera é o mercado de capitais, na medida em que tais abusos influenciam negativamente nos resultados das empresas, aumentando os riscos do investimento em ações. Agregado a sensação de impunidade, isto gera desconfiança e afasta os potenciais interessados por estes ~, títulos, principalmente o grande público. bruser1729 Realce Outros fatores também corroboraram para a histórica pouca contribuição do mercado de capitais no desenvolvimento econômico e social brasileiro. A forte atuação do estado no financiamento privado até recentemente, tanto direta como indiretamente, além das freqüentes instabilidades econômicas, são vistos como responsáveis por grandes distorções em nossa economia, além de inibir o crescimento e importância do setor financeiro privado. Como resultado temos um mercado de capitais moderno em termos tecnológicos, mas ainda incipiente na capitalização das empresas se comparado com o tamanho da economia. A própria crise econômica e financeira atual é em parte decorrente da vulnerabilidade de nosso mercado de capitais, fortemente dependente de capital especulativo internacional. Por outro lado, a partir do início da década de 90, com a privatização de empresas estatais e, mais recentemente, com a estabilização da economia, criam- se as condições pelas quais o Estado reduz gradativamente sua participação na mobilização e alocação de recursos na economia brasileira. A nova configuração ambiental exige que o setor privado seja responsável por esta intermediação. Em uma economia moderna, o crescimento econômico depende de um setor financeiro eficiente, que estimule e reuna a poupança doméstica, atraia o capital estrangeiro de longo prazo e faça a alocação eficiente destes recursos no setor real da economia. Neste sentido, a modernização do mercado de capitais no Brasil torna-se imperativo, na medida que almejamos também uma modernidade econômica e social. Segundo Velloso, "O conceito de modernidade é uno: não existe modernidade econômica dissociada da modernidade sociaJ...qualquer discussão sobre o mercado de capitais deve levar em conta a necessidade de pensá-lo dentro 2 bruser1729 Nota bruser1729 Nota que está no começo. bruser1729 Realce de um conceito moderno. Com efeito modernizar o mercado de capitais implica modernizar sistematicamente o país, e vice-versa. Pode-se dizer com segurança que a implementação de um capitalismo popular no Brasil passa pela necessária preparação do mercado de capitais para esta nova realidade." Nota-se nos parágrafos acima, as palavras "crescimento econômico" e "desenvolvimento econômico". O que procuramos, neste trabalho, é o segundo conceito, já que podemos ter, como já tivemos na história do país, um alto crescimento econômico com desenvolvimento social negativo. É claro que o crescimento ajuda a suportar o desenvolvimento. Mas quando pensamos no bem- estar da maioria da população, que achamos dever estar acima de qualquer estudo científico, devemos também levar em consideração o desenvolvimento da sociedade como um todo. 1.2 - Objetivosdo Estudo A legislação que regula as Sociedades por Ações no Brasil permite a emissão de até 2/3 de ações sem direito a voto em uma companhia aberta. Como resultado, o controle gerencial de uma empresa pode ser excercido com apenas 1/6 do capital financeiro integralizado. Ao nosso ver, este consentimento facilita uma excessiva concentração de poder nas organizações, tendo como conseqüência uma participação pouca efetiva dos acionistas não controladores. A não participação acaba por reduzir a fiscalização das operações, oferecendo liberdade aos controladores e administradores para atuar de acordo com interesses pessoais, resultando nas várias formas de abusos contra os minoritários. I VELLOSO. João Paulo dos Reis (coordenador). O Real e o Futuro da Economia. Rio de Janeiro: José Olympio, 1995. 2 VELLOSO. João Paulo dos Reis (coordenador). O Real c o Futuro da Economia. Rio de Janeiro: José Olympio. 1995. 3 bruser1729 Realce Consequentemente, perdas financeiras em decorrência de aplicações em ações destas empresas acabam por gerar descrédito no mercado acionário, afastando os investidores e contribuindo para a pouca popularização deste tipo de investimento no Brasil. O próprio mercado financeiro, deste modo, acaba não contribuindo efetivamente para o desenvolvimento econômico e social brasileiro. O objetivo deste trabalho, primeiramente, é descrever e ressaltar a importância de uma eficiente intermediação financeira para o desenvolvimento econômico de um país, além de analisar a evolução do mercado financeiro e de capitais no Brasil, o que acaba explicando em grande parte as dificuldades e limitações atuais. Posteriormente, outra característica a ser discutida é o grau de democratização do poder nas sociedades anônimas brasileiras e a necessidade de uma maior participação dos acionistas minoritários nas decisões e controle das empresas, principalmente com o intuito de reduzir abusos de poder por parte de controladores. Com esta expectativa e com o propósito de modernizar o mercado de capitais brasileiro, discutiremos a necessidade de mudança na legislação das sociedades anônimas, no sentido de coibir a possibilidade de lançamento excessivo de ações sem direito a voto nas empresas abertas. A preocupação do estudo não é necessariamente em cima de uma solução imediata para os problemas brasileiros atuais. É, isto sim, baseado em um modelo \ .. genérico, que busca contribuir para complementar outras necessidades de evoluções e desenvolvimentos de nosso país a longo prazo. .... A democracia nas empresas, por exemplo, deve ser ancorada por uma evolução social em termos de conhecimento, educação e cultura de democracia, ainda muito precários em nossa sociedade. Já o desejo de uma participação efetiva da população no investimento em ações requer primeiramente uma melhora na 4 distribuição da renda, para que pelo menos estas pessoas tenham a possibilidade de poupar. Portanto, concomitantemente com o desenvolvimento do mercado de capitais, necessitamos desenvolver também aspectos humanos e sociais no Brasil. 1.3 - Metodologia Utilizada A metodologia usada foi do tipo dissertação de análise teórico-empírica, onde a partir da exposição do problema e sua contextualização, são discutidas propostas hipotéticas que possam alavancar o desenvolvimento e evolução do referido tema, sempre baseado no devido suporte em pesquisa bibliográfica, opiniões de especialistas e casos práticos. A bibliografia utilizada foi composta essencialmente de livros de história, economia, finanças, além de outros específicos da área de mercado de capitais, legislação do mercado acionário e proteção ao minoritário. Foram também pesquisados artigos de jornais e revistas e estudos específicos de profissionais da área. Tentou-se, apesar das limitações em termos de disponibilidade, discorrer sobre fatos reais que trouxessem maiores evidências empíricas ao assunto. Neste ponto, a exposição de casos práticos de abusos contra minoritários ficou limitada pelo aspecto não público deste tipo de informação. Em complemento foram considerados algumas práticas de outros países, principalmente o caso dos Estados Unidos, que possuem um mercado de capitais de eficiência considerável. 5 1.4 - Estrutura do Trabalho Para situarmos nosso estudo em um contexto mais amplo, discutiremos inicialmente, no segundo capítulo, aspectos da economia de mercado e sua função como eficiente alocadora de recursos para o bem estar social. O mecanismo do preço também é de fundamental importância neste processo de alocação eficiente e será rapidamente revisto. Já os conceitos de poupança e investimento requerem um estudo mais minucioso, pois são essenciais no processo de alocação eficiente de recursos e, consequentemente, para o crescimento e desenvolvimento econômico, finalizando o capítulo. No terceiro capítulo, destacaremos o papel do sistema financeiro e do mercado de capitais no desenvolvimento econômico. Iniciando com uma breve descrição de desenvolvimento econômico e suas metas econômicas, para posteriormente enfatizaremos a função do sistema financeiro e seus componentes, além de seu inter-relacionamento com o desenvolvimento econômico. O capítulo será finalizado com uma breve explanação conceitual do mercado de capitais e o papel do mercado acionário como elemento de sustentação no desenvolvimento econômico , além de alguns comentários a respeito de pré-condições para o funcionamento de um mercado de capitais eficiente. Para entendermos e situarmos melhor a atualidade do sistema financeiro e do mercado acionário brasileiro, traçaremos no capítulo quarto um exaustivo histórico e evolução crítica do desenvolvimento do mercado financeiro e de capitais no Brasil, as dificuldades encontradas e algumas perspectivas e expectativas. A contextualização do mercado financeiro e de capitais é processada paralelamente ao desenvolvimento econômico brasileiro, devido a alta interdependência entre ambos. 6 o capítulo é dividido em sub-períodos, por julgarmos mais inteligível a separação das diferentes fases de evolução. O primeiro período estuda os primórdios do mercado financeiro e de capitais no Brasil, iniciado formalmente no século XIX. O segundo trata das reformas fundamentais dos anos 60, quando a legislação sobre o mercado acionário teve grande impulso. O terceiro relaciona o "milagre" do crescimento brasileiro dos anos 70, que culminou com o "boom" da bolsa e a necessidade de mais reformas fundamentais da legislação. O quarto traz a recessão e a hiperinflação dos anos oitenta, juntamente com a volta da democracia e uma gama de problemas políticos e econômicos. No último período, busca-se analisar o Plano Real e a atualidade brasileira em termos econômicos, financeiros e até sociais, finalizando o capítulo com um estudo das principais dificuldades encontradas para o desenvolvimento do mercado financeiro e de capitais no Brasil. O capítulo quinto é reservado à análise dos acionistas minoritários e a necessidade da democratização do poder nas sociedades anônimas. É iniciado com a fundamentação da importância dos acionistas minoritários para o desenvolvimento do mercado acionário e a regulamentação de proteção destes no Brasil. Na seqüência, tentaremos ressaltar as práticas abusivas contra os não controladores no Brasil e suas conseqüências negativas para o mercado. Neste contexto, refletiremos sobre a relação 1/3 de ações com direito a voto e 2/3 de ações sem direito a voto, o que a nosso ver (e a princípio) causa concentração de poder e facilita os abusos e desmandos dos controladores nas sociedades anônimas, argumentando também da necessidade de democratização do poder nas sociedades anônimas e na própria sociedade brasileira. As principais conclusões do trabalho estão no sexto capítulo, com a bibliografia pesquisada a seguir. 7 2 - ECONOMIA DE MERCADO, POUPANÇA E INVESTIMENTO 2.1 - Economia de Mercado A função básica de uma economia é alocar recursos- matéria-prima, mão-de- obra, conhecimentos administrativos, equipamentos - com os objetivos de produzir e distribuir bens e serviços à sociedade de uma forma eficiente. A organização desta economia pode ser feita de diferentes formas. Duas? grandes correntes foram defendidas por ideologias antagônicas neste século, principalmente até a queda do comunismo na União Soviética e. países do leste europeu. O grande diferenciador destas teorias, em termos econômicos, está no grau de atuação do estado nas decisões de alocação dos recursos. Na primeira delas, chamadas de "economias centralmente planificadas", o estado é o responsável pelas decisões relativas ao tipo de produto e serviço a ser oferecido, suas quantidades, preço, distribuição, etc. Na segunda, as "economias capitalistas", as próprias forças do mercado atuam no sentido de estabelecer e satisfazer as necessidades da população nas questões acima. As economias centralmente planificadas, baseadas em grande parte nas idéias de igualdade vindas de Marx e seus seguidores, pregavam a centralização das decisões como forma de combater a injustiça gerada pela divisão de classes que a revolução industrial originou. Esta centralização das decisões econômicas (oi adotada após a primeira guerra mundial por diversos países, liderados pela União • ,," Soviética, que encontraram no estado autoritário o único meio para suportar tais valores na prática. As idéias de uma revolução liderada pelo proletariado, de Karl Marx, acabaram portanto não acontecendo, mas o princípio da centralização de decisões de suas teorias foi aplicado. Com a derrocada do comunismo no final da 8 década de 80 e a divulgação dos resultados econômicos e SOCIaISnegativos advindos do mesmo, o descrédito na eficiência do princípio da economia centralmente planificada como alocador de recursos econômicos foi inevitável. Deste modo acreditamos na supremacia da liberdade econômica e a crença de que as necessidades da população são melhor identificadas e atendidas pela grande capacidade sensitiva do mercado. A microeconomia aplicada geralmente tende a gerar uma macro estabilidade e eficiência econômica, principalmente através do mecanismo preço, como veremos a seguir. Porém, apesar de mais eficiente, a liberdade econômica generalizada está longe de ser totalmente perfeita. Na prática observa-se vários tipos de distorções e desajustes deste modelo, desde o poder excessivo de alguns grupos, que acabam monopolizando o mercado e eliminando a concorrência, até a imperfeição na distribuição de renda. Ao nosso ver, a radicalização na adoção de qualquer dos modelos é prejudicial. A total liberalização na atuação das forças de mercado pode levar a conseqüências desastrosas para a sociedade, assim como a excessiva centralização das decisões. Mas talvez tenhamos aprendido com os dois modelos em funcionamento neste século. "O laissez-faire está sepultado, como também o está o regime comunista ortodoxo. Se o primeiro gerou o mercantilismo, o segundo gestou o superestado burocrático. No entrechoque, os dois lados aprenderam. Na convivência, intercambiaram conhecimentos, surgindo daí indícios de uma democracia mais estável e menos viciada, capaz de se preservar e se perpetuar nos aspectos fundamentais: o econômico e o político ...nele, a intervenção do poder político sobre a economia é uma exceção e não uma regra ...com a evolução recente, 9 nasceu a doutrina do liberalismo ético, que coloca em primeiro plano, na escala de valores, a liberdade econômica e a liberdade política." o meio mais convincente, portanto, para buscarmos urna eficiente e digna vida para as pessoas é a adoção de urna economia de mercado acrescida de controles democráticos SOCIaiSe governamentais, com o objetivo de evitar concentrações excessivas de poder e outras distorções do sistema liberal. É justo observar que a intervenção somente deve ser exercida quando realmente justificável. Caso contrário, se distorções não existirem, deve-se dar liberdade de atuação às forças de mercado. 2.2 - Preço e Mercados No modelo capitalista de economia, onde o mercado é quem determina quais produtos e serviços serão produzidos e em que quantidade, o preço atua corno um dos principais sinalizadores, garantindo a eficiente alocação dos recursos. Na medida em que a demanda por um produto ou serviço é maior que a oferta, seu preço tende a subir, gerando maior potencial de lucros para as empresas e estimulando assim sua produção. A maior produção leva a satisfação desta demanda específica, reequilibrando seu preço. O contrário também é verdadeiro, onde um excesso de oferta leva a um declínio de preço e, consequentemente, da margem de lucro das unidades produtivas, desestimulando seu fornecimento. O resultado é um equilíbrio natural, onde as necessidades dos consumidores tendem a ser eficientemente atendidas por este jogo de forças. , BARCELLOS. Sérgio. Apresentação. In: GRIMSTONE. Gcrry et aI. Prívanzação, Mercado de Capitais e Democracia: a recente experiência internacional. Rio de Janeiro: Correio da Serra. 1988. 10 o mercado, através do princípio do preço, também distribui renda e recursos financeiros. A renda é determinada basicamente pela contribuição de cada unidade econômica para a produção. Urna maior produtividade, inovação e sensibilidade às necessidades dos consumidores é recompensada com lucros mais elevados, maiores salários e outros beneficios econômicos. Já os recursos financeiros, são alocados de acordo com o potencial de retorno do investimento proposto. Este potencial de retorno é geralmente determinado pela taxa de contribuição do negócio à sociedade. De acordo com as definições e funções acima, podemos distinguir diferentes tipos de mercado. Rose' relaciona três tipos essenciais de mercado dentro do sistema econômico: mercado de fatores, mercado de produtos e mercado financeiro. No mercado de fatores, os consumidores vendem trabalho, habilidades administrativas e outros recursos para os produtores que oferecem o maior preço. O mercado de fatores, portanto, faz a alocação dos fatores da produção e distribui renda em forma de salários, aluguéis e outros meios para os donos dos recursos produtivos. O mercado de produtos é responsável pela alocação das mercadorias geradas pelos meios de produção. Assim, os consumidores usam a maior parte de sua renda concebida no mercado de fatores para comprar os produtos e serviços ofertados pelo mercado de produtos. Já o mercado financeiro canaliza a poupança da renda não consumida por unidades econômicas superavitárias, para unidades deficitárias que necessitam fundos adicionais. , ROSE. Pctcr S. Moncy and Capital Markets. Third Edition. Homewood, 1989. 11 Dentro dos três mercados citados acima, há diferentes unidades econômicas interagindo. Estas unidades são classificadas, segundo Kidwel-, em três grupos fundamentais: família, empresa e governo. A renda familiar geralmente provem de salários e é consumida em produtos e serviços duráveis e não duráveis, além do pagamento de empréstimos e aluguéis. As empresas vendem produtos e serviços com o objetivo de conseguir receita, tendo gastos com salários, compra de estoques e outros custos de produção, além de ocasionalmente investir em novos prédios e equipamentos. Já o governo obtém receita principalmente através de tributos, consumindo grande parte em forma de serviços públicos, como segurança, saúde, educação e outros. Cada unidade econômica trabalha dentro de um orçamento imposto pela receita do período. Para um período dado, qualquer das unidades está entre as três situações orçamentárias possíveis; orçamento balanceado, onde as receitas são igualadas as despesas, orçamento superavitário, onde as receitas excedem as despesas, ou orçamento deficitário, com as despesas ultrapassando as receitas. Estas situações orçamentárias nos levam a dois outros importantes conceitos para nosso estudo; poupança e investimento. Poupança e investimentoestão ligados ao incentivo e alocação de recursos financeiros gerados pelas situações de desequilibro orçamentário. 5 KIDWELL. David. PETERSON. Richard & BLACKWELL. David. Fmanclal Institutions, Markcts, and Mune)'. Fifth Edition, Dryden Press. 1993. 12 2.3 - Poupança e Investimento Poupança e investimento são essenciais em uma economia de mercado, na medida em que participam e influenciam decisivamente no crescimento e, mais abrangentemente, no desenvolvimento econômico. Cooper- corrobora com estas idéias, afirmando que poupar e investir são importantes por pelo menos duas perspectivas: crescimento e estabilidade econômica. Apesar de o crescimento econômico depender também de fatores como características sociais, políticas e culturais, assim como disponibilidade de recursos naturais e outros fatores econômicos, uma das principais influências é o investimento, que por outro lado é influenciado fortemente pela poupança. Além disto, poupar e investir são também importantes para a estabilidade econômica, pois se o volume desejado de poupança exceder o volume de investimentos, haverá insuficiente demanda para o total de produção de uma economia. Como resultado, a produção será reduzida, a renda e o emprego diminuirão e, consequentemente, a poupança declinará. Em contraste, se os investimentos desejados excederem a poupança desejada, haverá excesso de demanda por produtos e serviços, aumentando assim o preço dos mesmos. A estabilidade econômica portanto é resultante deste equilíbrio que a poupança e o investimento proporcionam. Os conceitos de poupança e investimento podem ser melhor entendidos na pequena estória do pescador solitário': "Este pescador naufragou seu barco e acabou sozinho em uma ilha. Sua alimentação dependia da pesca, que era constante e igual as suas necessidades. Ou seja, seu consumo diário de peixe era exatamente igual a quantidade pescada. Imaginou que poderia construir uma rede "COOPER. S. Kerry & FRASER. Donald R. The Financiai Marker Place. Sccond Edition. Addison-Wesley. 1986. 13 de pescar que o capacitasse aumentar a produção por hora trabalhada, reduzindo a carga de trabalho para manter o volume de produção necessária ao seu consumo. Porém, para que pudesse dedicar todo um dia de trabalho na confecção da rede, teria que reduzir seu consumo de peixe no dia anterior, de modo que parte da pesca pudesse ser consumida no dia seguinte, quando não haveria pescaria." O primeiro ato, ou seja, a abstenção do consumo para a construção da rede, constitui um ato de poupança. O segundo ato, a utilização dos recursos poupados para produção de um bem de capital, no caso a rede de pescar, é encarado pelos economistas como um ato de investimento. Os dois conceitos serão discorridos separadamente a seguir, juntamente com os principais aspectos influenciadores de ambos. 2.3.1 - Poupança Poupança em economia é a parcela de renda não consumida, uma abstenção do consumo da renda corrente ou parte dela. A razão desta poupança é a expectativa de que a renúncia do consumo presente reverta em uma capacidade de consumo futuro de valor superior. Trata-se portanto de uma alocação de consumo no tempo, uma a opção pelo consumo futuro em detrimento do consumo presente. Diversas razões podem influenciar nas decisões de poupar de cada unidade econômica, gerando também classificações variadas entre diferentes autores. Keynes- destaca que a taxa de poupança de uma sociedade depende 7 SANTOS, João R, R, dos, Mercado de Capitais no Brasil- A Evolução Recente, In: CASTRO, Hélio 0, P. de (coordenador), Introdução ao Mercado de Capitais. Rio de Janeiro: IBMEC, 1979, pg. 16. x Citado por OLIVEIRA, M. I.M.A. pg.25. 14 fundamentalmente do nível de renda da população, crescendo em termos absolutos e relativos na medida em que há maior poder de compra das pessoas. Já a hipótese do "ciclo de vida", de Modiglianiv, conclui que a taxa de poupança será afetada pela idade e pela taxa de crescimento da população, pois as pessoas acumulam poupança durante seus anos produtivos com o objetivo de sustentar seus padrões habituais de consumo durante os anos de velhice ou aposentadoria. Sendo assim, a taxa média de poupança tende a ser maior em sociedades em que o peso relativo da população em idade de trabalhar for maior. Outra hipótese é o da renda permanente, de Milton Friedman-, Ele defende que as unidades familiares tendem a consumir certa proporção de sua renda permanente ou daquela renda que esperam ganhar durante um futuro previsível, mantendo o nível de consumo com variações transitórias de renda. A taxa de poupança, neste caso é fixada com uma expectativa de longo prazo. Para Oliveira, a poupança é induzida fundamentalmente por três fatores": pela capacidade de poupar, pelo desejo de poupar e pelas oportunidades de poupar. A capacidade de poupar depende basicamente do nível de renda dos indivíduos, tendo maior potencial de poupança as pessoas de renda mais elevada. O desejo de poupar refere-se as motivações que levam ou não o indivíduo a adiar o consumo, como segurança e expectativa de melhoria dos padrões de vida, sendo dependentes de fatores variados como cultura, idade, situação familiar e outros. Já as oportunidades de poupar estão relacionadas às opções de aplicação financeira que o mercado oferece. Estas opções ou instrumentos, possibilitam ao poupador aplicar suas reservas na expectativa de reave-Ias futuramente com valor superior. "OLIVEIRA, Miguel Delrnat. Introdução ao Mercado de Ações. Rio de Janeiro: CNBV. 1984. pg. 21. 10 OLlVEIRA.M.D. I.M.A. pg.24. " Citado por OLIVEIRA. M. I.M.A. pg.25. 11 Citado por OLIVEIRA. M. I.M.A. pg.25. 11 Citado por OLIVEIRA, M. I.M.A. pg.26. 14 Citado por OLIVEIRA, M. I.M.A. pg.26. 15 Neste caso, quanto mais desenvolvido o mercado financeiro, maior a taxa de poupança potencial. É possível que cada uma das teorias anteriores tenham algum aspecto influenciador na poupança de uma dada sociedade, assim como é possível implementar ações específicas que estimulem os indivíduos ao retardamento do consumo. Em países com hábito elevado de poupança, o próprio desejo de poupar da população estimula o mercado a desenvolver oportunidades de poupança, como diferentes opções de aplicação em termos de prazo, risco, volume, liquidez e rendimentos. Por outro lado, a própria oferta de novas opções acaba estimulando ainda mais o desejo de poupar, resultando em um processo de retroalimentação e desenvolvimento do mercado. Em outros países, principalmente os menos desenvolvidos, há razões que dificultam tanto o estímulo ao hábito de poupar, como também o surgimento de opções de investimentos pelo mercado. o hábito de consumir, gerando a baixa poupança nos países em desenvolvimento, é explicado por Duesemberry- pelo chamado efeito demonstração; "Seguramente, uma das razões mais fortes para que não se verifiquem hábitos de poupança nos países pobres é que nas comunidades menos desenvolvidas as pessoas tendem a copiar o padrão de consumo das mais desenvolvidas. É o chamado "efeito demonstração", um fenômeno criado pela era das comunicações. Por isso, nos países menos desenvolvidos, as aspirações de consumo das pessoas independem , de certa forma, da capacidade produtiva do país. Tal atitude faz com que mesmo as classes de renda mais elevada pouco I~ OLlVEIRA,M.D. I.I\1.A. pg.24. If, Citado por OLIVEIRA. M. I.I\1.A. pg.26. 16 contribuam para a poupança nacional. Nessas comunidades, a propensão ao consumo é mais elevada do que a normal." Outro importante fator que contribui para o reduzido índice de poupança nos países menos desenvolvidos é o baixo nível de renda da população em geral, na medida que as famílias necessitam uma parcela maior da renda para o consumo de bens essenciais, sobrando menos para a poupança. As comuns instabilidades políticas e econômicas nestes países também podem influenciar. A taxa de poupança, deste modo, é resultante de uma complexa composição de fatores, sendodifícil quantificar com exatidão o grau de influência de cada ação isoladamente. Acreditamos porém, que o mercado financeiro pode exercer uma importante função de estímulo à poupança, na medida em que oferece, ao poupador em potencial, uma maior gama de opções de aplicação, de acordo com as diferentes preferências e necessidades individuais. 2.3.2 - Investimento Não menos importante do que poupar, é o modo como esta poupança está sendo empregada, o que chamamos de investimento. Investimento refere-se a construção ou compra de ativos reais, quais sejam, prédios, equipamentos produtivos e outros, resultando em aumento do estoque de riqueza. Aqui podemos diferenciar o investimento individual do investimento social; quando um indivíduo compra um imóvel, ele está investindo em bens particulares. Há porém apenas e somente uma transferência de propriedade em termos sociais, 17 não caracterizando investimento para esta. O estoque de riqueza da sociedade não foi aumentado, logo não houve investimento social. "Sob a óptica do indivíduo, investir é empregar recursos, próprios ou de terceiros, com o objetivo de obter ganhos em um determinado período. No sentido macroeconômico, ou seja, sob o prisma da comunidade como um todo, investimento é toda aplicação de recursos próprios ou de terceiros (poupança de outros países) que contribua para a formação de capital novo, isto é, para aumentar o estoque de bens produtivos. Este estoque não incluí apenas capital físico, mas também humano ... Este é o sentido macroeconômico do investimento. Quando um país desvia recursos da produção ou compra de bens de consumo para a produção de bens de capital, ele está poupando e investindo. Está aumentando o estoque de capital; capital real e não financeiro, capital no sentido de instrumentos de produção, utilizados pelo homem, ou da própria qualificação do homem para produzir; capital no sentido de um bem, que não se destina ao consumo imediato, que não satisfaz diretamente necessidades humanas, mas que serve para produzir outros bens e serviços exigidos pela comunidade"." Estes investimentos macroeconômicos somados é que definem o crescimento econômico, ou a chamada expansão da capacidade de uma economia. Em economias capitalistas, premissa básica deste trabalho, onde tanto a poupança como o investimento dependem em grau considerável de iniciativas individuais, os empresários assumem posição importante nas decisões de investir. Neste sentido é importante a identificação dos principais fatores influenciadores destas decisões. "OLIVEIRA. M. I.M.A. pgs.21-23. 18 Segundo Fisher«, em suas decisões de investimento os empresários consideram três importantes questões; o seu capital próprio inicial disponível, as oportunidades particulares de investimento, além das facilidades em termos de mercado para emprestar e tomar recursos emprestados. Nesta visão, os países menos desenvolvidos possuem dificuldades em ter uma taxa de investimento satisfatória para suas necessidades de crescimento. O baixo número de empresários que possuem capital inicial próprio para iniciar um negócio é em parte resultado da injusta distribuição de renda na sociedade, onde poucos detém grande parcela do capital financeiro. Estes muitas vezes não possuem habilidade, conhecimento e motivação para investir. Outra dificuldade destas sociedades é a baixa possibilidade de associação com outros empresários, por vezes caracterizadas por questões culturais de poder e soberania. Já as oportunidades de investimento costumam apresentar grande potencial em economias em desenvolvimento, com uma variedade de alternativas a serem exploradas. Mas em sua dimensão individual, o empresário tende a considerar somente as alternativas que possuem afinidades pessoais em termos de conhecimento, experiência, recursos disponíveis, preferência, além de outras. As oportunidades limitadas de mercado em emprestar e tomar recursos emprestados pelo pouco acesso ao mercado de capitais impõem também limitações ao nível de investimento nos países menos desenvolvidos, na medida em que grandes projetos tornam-se inviáveis pela impossibilidade de seu financiamento. Na falta de fontes de financiamento, devemos considerar não somente volume, mas também as características de prazo e risco demandados pelo investimento. Projetos de longa maturação necessitam de prazos com a mesma IR Citados por OLIVEIRA. M. I.M.A. pgs.26. 19 característica para sua continuidade. O mesmo acontece com as características de risco e retorno. Por outro lado, a ineficiência alocativa do mercado financeiro disponibiliza recursos que nem sempre encontram aplicações mais produtivas. É nestas condições que o estímulo a uma maior eficiência da intermediação financeira de uma economia pode atuar positivamente no estímulo ao investimento, assim como na poupança, principalmente nos países menos desenvolvidos, impulsionando o desenvolvimento econômico. 20 3 - SISTEMA FINANCEIRO, MERCADO DE CAPITAIS E DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO 3.1 - Desenvolvimento Econômico Desenvolvimento econômico, em termos simplistas, é a busca da minimização dos problemas e da maximização dos benefícios recebidos pela população com o objetivo de melhorar as condições de vida das pessoas. "O desenvolvimento econômico é um fim e também um processo em que fatores de ordem cultural, social, econômica, institucional e política se inter-relacionam de um modo complexo."> É um tanto difícil a mensuração, na prática, do desenvolvimento econômico, pois é necessária a avaliação de vários fatores, muitas vezes subjetivos e intangíveis. A importância de cada fator também pode variar entre diferentes culturas. Porém, algumas variáveis são fundamentais para o bem estar de qualquer sociedade, as quais os economistas responsáveis procuram a melhor adequação. Em um esforço generalista, poderíamos relacionar 5 grandes metas econômicas que estariam ligadas ao desenvolvimento econômico»: a) Alto nível de emprego - O custo social de um desemprego estrutural é elevado para qualquer sociedade, principalmente nos países em desenvolvimento, que geralmente não possuem programas sociais de amparo ao desempregado. 19 ROSE. P.S. M.C.M. pg. 32. traduzido pelo autor da dissertação. lO IBM EC. Mercado De Capitais c Desenvolvimento Econômico. Rio de Janeiro: IBMEC. 1977, pg. 25. li WANNACOTT. Paul. Economia. São Paulo: McGraw-Hill do Brasil. 1982. pg.9 21 b) Estabilidade de preços - A inflação geralmente prejudica a classe assalariada, causando concentração de riqueza, além de induzir a uma especulação improdutiva, prejudicar a comparabilidade nos preços e desestabilizando a economia como um todo. c) Eficiência - A eficiência econômica faz com que a sociedade seja melhor atendida em suas necessidades, tanto a nível de produtos/serviços oferecidos, como também em termos de custo de produção e preço. A eficiência eleva também a competitividade externa, outro importante fator de desenvolvimento econômico. d) Distribuição eqüitativa de renda - É uma questão de justiça que as pessoas tenham um padrão de vida semelhante, ou pelo menos oportunidades iguais. Muitas economias, tanto as chamadas desenvolvidas como mais profundamente as subdesenvolvidas, possuem grandes desigualdades sociais, principalmente pela distribuição de renda acentuadamente desigual. Qualquer economia ou governo deveria ter como princípio fundamental a redução das desigualdades. e) Crescimento - O crescimento econômico com índice próximo ao crescimento populacional é condição quase que essencial para a manutenção do nível de renda da sociedade. O crescimento geralmente acaba tendo forte influência nas outras metas econômicas anteriores, principalmente relativo ao emprego. Para fins deste estudo, tratamos crescimento econômico de maneira especial, as vezes até usando-o como sinônimo de desenvolvimento, apesar de enfatizarmos que crescimento por si só não gera necessariamente desenvolvimento. Apesar disso,o crescimento econômico é condição quase que essencial para que haja desenvolvimento de um modo mais amplo, principalmente em economias 22 subdesenvolvidas, onde a renda per capita é baixa. Mello reforça este argumento, dizendo que "o desenvolvimento econômico pode ser visto e medido de várias. formas, mas parece haver um consenso quanto a sua característica principal: um crescimento na produção de bens e serviços da economia obrigatoriamente superior ao crescimento populacional.'> Acreditamos também que a democracia seja outra importante meta econômica a ser perseguida para uma economia desenvolvida. As forças de mercado atuam mais eficientemente se for lhes delegado liberdade em suas decisões individuais, além do controle que uma sociedade democrática pode exercer contra excessos de poder de minorias. A democracia também faz parte do direito da sociedade em expressar seus anseios, sendo tanto mais justas as decisões quanto maior o número de participantes. Ou, como expressa Ricupero=, colocar o "poder nas mãos de muitos, para que os poucos não consigam beneficios superiores" . Porém, a democracia não pode ser restrita unicamente a um sistema político democrático. A estrutura em si, somente, não garante que os conceitos democráticos sejam exercitados na prática. É necessário também que as pessoas que dela participam tenham condições educacionais e de conhecimento para participar efetivamente. 3.2 - Função do Sistema Financeiro A intermediação financeira de um determinado país é basicamente organizada e desempenhada pelo sistema financeiro, que é uma parte integral do sistema 22 MELLO. Pedro Carvalho de. In: CASTRO. Hélio o. P. de (coordenador). Introdução ao Mercado de Capitais. Rio de Janeiro : IBMEC, 1979. pg.25. " RICUPERO. Rubens. Opinião Econômica. Folha de São Paulo. São Paulo, 16 ago. 1997. pg.2-2. 23 econômico. Apesar do mercado acionário ser classificado, por alguns autores, como um simples canalizador de recursos, não intermediando o processo, consideramos a intermediação neste trabalho em seu sentido amplo, englobando todos os agentes que de alguma forma participam no elo de ligação entre poupadores e investidores. A nível macro, o propósito principal do sistema financeiro é transferir fundos das unidades superavitárias para as deficitárias de maneira eficiente, com o menor custo possível e com o mínimo de inconveniência, seja para investimentos ou para consumo. Mais especificamente, o sistema financeiro exerce uma fundamental tarefa de transformação financeira. Esta transformação pode ser enfocada sob quatro óticas diferentes=; transformação de ativos fixos em ativos líquidos ou disponíveis, transformação dos prazos das operações, transformação das magnitudes de capital e transformação de riscos. Os ativos fixos podem ser transformados em ativos líquidos em uma companhia, pela emissão de obrigações no mercado financeiro, na busca de recursos para aumentar seu capital de giro. Estas mesmas obrigações podem ser negociadas no mercado secundário, transformando-se em ativos de boa liquidez para seus proprietários. Os ativos fixos passam a ser representados por ativos de boa liquidez e o dinheiro é transferido para a empresa, aumentando seu capital de giro e o volume de suas transações. A tarefa de transformação dos prazos das operações se dá quando há conflito de interesse entre tomadores e ofertadores de recursos. O mercado secundário garante que os papéis emitidos a longo prazo ou sem prazo definido sejam negociados a qualquer momento pelo comprador original e a qualquer 24 futuro detentor desse título, sem risco de perda do principal e rendimentos até o momento da revenda. o intermediário financeir? também é capaz de transformar magnitudes de capital, captando recursos de milhares de pequenos investidores, consolidando e tomando possível o financiamento de grandes projetos de investimento. A caderneta de poupança pode ser relacionada como um grande exemplo de transformação de magnitudes de capital. Por fim, os mercados financeiros possuem também a tarefa de transformação de risco. Pela combinação de projetos e pela diversificação da carteira de ativos dos investidores, o mercado financeiro consegue reduzir o nível médio de risco a ser assumido pelos poupadores. A tarefa de transformação financeira possibilita a dinamização da intermediação dos recursos em uma economia, na medida em que os diferentes desejos de emprestadores e tomadores são adaptados as necessidades de cada uma das partes. A nível micro, porém, podemos destacar outras funções do sistema financeiro», como poupança, riqueza, liquidez, crédito, pagamentos, rISCO e política. A opções de investimentos em títulos, ações e outros instrumentos financeiros possibilitam lucratividade e pouco risco para a poupança. Esta é assim canalizada para o mercado financeiro, gerando investimentos para que mais produtos e serviços possam ser produzidos no futuro. .~, H OLIVEIRA, M. I.M.A. pg.34 25 ROSE, P.S. M.C.M .. 25 Para os que escolheram poupar, os instrumentos financeiros também são essenciais para preservar a riqueza ou o poder de compra destes fundos, na medida que rendem juros e correção monetária. o sistema financeiro também oferece Iiquidez. A compra de um instrumento de longo prazo pode ser facilmente convertido em dinheiro a qualquer tempo no mercado, com baixo risco de perda. o fornecimento de crédito para necessidades de investimentos ou simplesmente gastos correntes é outra função importante. Os indivíduos podem facilmente contratar empréstimos ou financiamentos no mercado para aquisições imediatas com o objetivo de pagamento futuro. O sistema também proporciona mecanismos para facilitar pagamentos nas compras de produtos e serviços. Cheques, cartões de crédito, cartões de débito e outros serviços, servem para tornar mais fácil a compra. Em termos de risco, o sistema financeiro oferece seguros contra a vida, saúde, casualidades, entre outros. Por outro lado, o mercado monetário e de capitais é também usado para a redução de fISCOS, através da diversificação de investimentos. Finalmente, o sistema financeiro é usado como um dos principais meios para o gerenciamento da política econômica governamental. Através principalmente da taxa de juros e do câmbio, o governo pode corrigir ou redirecionar aspectos indesejáveis da economia. Tanto as tarefas de transformação como as outras funções destacadas e desempenhadas pelo sistema financeiro exercem atividades importantes para a 26 economia e a sociedade, facilitando e agilizando a vida das pessoas, empresas e governo, impulsionando o desenvolvimento econômico. 3.3 - Sistema Financeiro e Desenvolvimento Econômico Os conceitos de poupança e investimento, como visto no capítulo anterior, são básicos para qualquer discussão sobre desenvolvimento econômico, pois os mesmos possibilitam o aumento real do capital produtivo de uma economia. Não menos importante é o Sistema financeiro, que age como um elemento de estímulo e sustentação neste processo, tanto em relação a poupança como ao investimento. Poupança e investimento geralmente são conduzidos por diferentes pessoas ou unidades econômicas. O simples ato de poupar de uma das partes não garante que estes fundos sejam aplicados no setor real da economia e adicionem valor a sociedade. O sistema financeiro pode trabalhar positivamente nos dois sentidos, estimulando a poupança e transferindo recursos poupados para investimentos. Neste sentido, um sistema financeiro eficiente pode contribuir para o crescimento e desenvolvimento econômico de três formas: -Estimulando o crescimento da taxa de poupança do país; -Aumentando a proporção da poupança dirigida para investimentos; e -Tomando mais eficiente a alocação deste recursos no setor real da economia. O sistema financeiro pode estimular a expansão do volume líquido da poupança privada voluntária do país oferecendo atraentes opções de prazo, 27 liquidez, risco e retornodesejados pelos detentores de renda, diminuindo assim a preferência pelo consumo imediato. Outro estímulo é através da liquidez proporcionado pelos papéis, fazendo com que os indivíduos não mais necessitem manter reserva pessoal de caixa. A reserva é aplicada no sistema financeiro e somente em caso de necessidade é resgatada, fazendo com que a poupança produtiva do sistema seja expandida. Além disso, à medida que o setor financeiro se desenvolve, é provável que o retorno real sobre a poupança também aumente, pois um sistema financeiro mais competitivo reduz as taxas de intermediação. Um maior retorno sobre a poupança também acaba induzindo a um menor consumo presente, aumentando assim a taxa de poupança. Um sistema financeiro eficiente pode também aumentar a poupança dirigida para investimentos. Se não forem suficientemente desenvolvidas, as instituições financeiras poderão falhar na captação do montante potencial de poupança, assim como desviar dos investimentos grande parte desta poupança. Em mercados financeiros subdesenvolvidos, as pessoas podem alocar parte de seus recursos para instrumentos passivos que não podem ser usados diretamente para investimentos físicos. Aplicações em ouro ou, como foi o caso brasileiro no passado, aplicações em moeda forte como o dólar, acabam não contribuindo para o crescimento econômico e geralmente acontecem por descrédito do mercado financeiro ou da própria economia.> Finalmente, a poupança precisa ser alocada para investimentos, uma vez que os fundos necessários para diversos investimentos estão geralmente além da capacidade de qualquer investidor individual. Na medida em que consegue reunir 26 BEKAERT. Geert. GARCIA. Márcio & HARVEY. Campbell. P.M.C.C.E. 28 a poupança de várias unidades individuais, os intermediários financeiros possibilitam a realização de projetos de grande escala. Por outro lado, esta alocação de recursos precisa ser eficiente, para projetos de investimento ou empresas que agreguem maior valor à economia. O sistema financeiro, através dos mercados financeiros organizados e a livre atuação de suas forças, pode ser, e tem sido, um modo eficaz de proceder à canalização dos recursos para alternativas socialmente mais desejáveis de investimento, permitindo que haja maior eficiência quando da transformação desses fundos mobilizados em capital real. Isto geralmente ocorre de dois modos=: a)Por uma alocação mais eficiente de um dado total de riqueza, através de mudanças na sua composição e propriedade obtidas via intermediação entre os diversos possuidores de ativos, o que ocasiona um fortalecimento da produtividade do estoque existente de capitais; e b)Pelo incentivo a uma alocação mais eficiente de novos investimentos, de usos menos produtivos para usos mais produtivos, através da intermediação entre poupadores e investidores, ou seja, uma transferência de recursos para os setores produtivos onde existe grande capacidade empresarial. Basicamente, as decisões para uma alocação eficiente são resultantes da taxa de contribuição do negócio a economia. Projetos ou empresas com grande demanda de mercado possuem potencial de retomo maior, sendo preferidos pelos investidores. O mercado financeiro possui maiores condições de avaliar as alternativas mais rentáveis de investimento se comparado com investidores individuais, devido a operarem com grandes volumes de investimento e a necessidade de especialização e acompanhamento para administrá-los. 27 MELLO. P.c. In: CASTRO. H.O.P. I.M.C. pg.27. 29 Em resumo, o sistema financeiro essencialmente contribui para o desenvolvimento econômico incentivando a poupança e alocado eficientemente o montante poupado na economia. Com maior poupança haverá maior potencial de investimento, impulsionando o crescimento econômico. A alocação mais eficiente dos recursos também faz com que a economia satisfaça melhor as necessidades da população e seja mais justa na distribuição de renda e bem estar social. Torna-se fundamental deste modo a preocupação pela eficiência, credibilidade e aceitação do sistema financeiro pela sociedade, este como ferramenta propulsora do desenvolvimento econômico e social. 3.4 - Componentes do Sistema Financeiro A função de transferir recursos das unidades superavitárias para as deficitárias não era necessária no passado, pois geralmente acontecia diretamente entre as partes envolvidas. Porém esta conexão entre agentes tomadores e ofertadores de recursos no mercado tornou-se importante na medida em que a complexidade deste processo aumentou consideravelmente. Ao mesmo tempo em que os aspectos "reais" se tornaram mais complexos, os aspectos financeiros necessariamente tiveram uma evolução no mesmo sentido - o aspecto real de um empréstimo, por exemplo, é a postergação pelo emprestador da oportunidade de consumir no presente com a expectativa de consumir mais no futuro, já o aspecto "financeiro" do empréstimo envolve a criação do instrumento financeiro. Além desta maior complexidade, o número das unidades econômicas foram expandidas e a conexão direta entre os agentes tornou-se mais difícil, mais cara e até mesmo impossível de ser realizada sem a ajuda de instituições especializadas. ~ 2' CODIMEC. Balanço Social do Mercado de Capitais. 1988. pg. 10. 30 Com o crescimento do número e a complexidade destas instituições, houve a necessidade de regulamentação do mercado para seu melhor funcionamento. O desenvolvimento desta regulamentação se deu em etapas e lugares diversos, determinando o atual sistema financeiro mundial, onde encontramos grandes diferenças em termos de grau de atuação e complexidade dos mercados nos diferentes países. Apesar das diferenças entre países, o sistema financeiro possui basicamente três componentes>: Instrumentos financeiros, Instituições financeiras e Mercados financeiros. 3.4.1 - Instrumentos Financeiros Os instrumentos financeiros são as evidências documentadas dos direitos e obrigações, contendo as características do acordo entre as partes. São também conhecidos por ativos financeiros. Ativo financeiro é um documento legal reconhecido pelo mercado, que possibilita ao proprietário reclamar sua troca por um ativo real, ou como acontece na maioria dos casos, sua troca por outro ativo financeiro. Porém, estes direitos e deveres podem geralmente ser negociados antes de sua maturação, assegurando assim outra importante função do mercado financeiro que é a liquidez dos títulos. Apesar de existirem muitas variações em termos de instrumentos financeiros, os mesmos podem ser classificados em três categorias diferentes, segundo Rose"; dinheiro, títulos de dívida e patrimônio líquido. Dinheiro 29 ROSE, P.S. M.eM .. .111 COOPERo S. Kerry & FRASER. Donald R. The Financiai Market Place. Second Edition. Addison-Wesley, 1986. J1 ROSE. P.S. M.eM. 31 representa um ativo financeiro que é geralmente aceito na compra por produtos e serviços de uma determinada sociedade. Os títulos de dívida são instrumentos que não possuem nenhum tipo de direito de propriedade na companhia por parte de seu detentor e são fixos em termos de prazo e valor de resgate, possuindo prioridades de recebimento sobre os proprietários no caso de venda dos ativos por falência ou encerramento das atividades. Geralmente podem ser negociados a qualquer data no mercado secundário. Este tipo de financiamento é preferível à empresa dependendo de sua situação e características de investimentos. A construção de um edificio, por exemplo, com o objetivo de vender seus apartamentos após o término da obra seria aparentemente melhor financiado por títulos de dívida, na medida que a data de entrega do prédio e do retorno do investimento é definido. Já o patrimônio líquido, caracterizado principalmente por ações de empresas, representa ao detentor o direito de propriedade na organização emitente, proporcionalmente ao número total de títulos emitidos. As ações possuem direito sobre os lucros e eventual venda dos ativosda companhia, porém sem data especificada para reclamação do valor investido, a não ser através da venda à terceiros no mercado secundário. Além disto o titular do direito pode, dependendo de sua posição de poder e da característica do título, participar do controle administrativo da mesma. No caso, os equipamentos e toda a estrutura necessária a construtora do edifício seria melhor financiada por patrimônio líquido, já que serão recursos necessários "indefinitivamente" à empresa. Os dois exemplos são apenas generalizações, não sendo necessariamente recomendável em todas as ocasiões. 32 Podemos citar ainda um quarto tipo de ativo, que são as debêntures, mais caracterizadas por um título de dívida, porém, podendo o titular muitas vezes exercer o direito de conversão em ação na data de resgate. Outra possível classificação de instrumentos financeiros é a distinção entre ativos financeiros monetários e ativos financeiros não-monetários". Ativos financeiros monetários são o papel-moeda em poder do público, mais os depósitos à vista nos bancos comerciais. Ativos financeiros não-monetários são os demais títulos, como letras de câmbio, letras imobiliárias, depósitos de poupança, certificados de depósitos a prazo, entre outros. 3.4.2 - Instituições Financeiras Das instituições financeiras fazem parte os estabelecimentos que cnam e negociam os instrumentos financeiros, facilitando assim o fluxo de recursos entre os participantes. São caracterizadas pelo fato de instrumentos financeiros constituírem habitualmente a principal porção de seus ativos, além de suas atividades estarem concentradas e seus lucros derivados de operações com instrumentos financeiros. As instituições financeiras que operam no sistema financeiro, de acordo com a classificação anterior, podem também ser definidas em dois grupos: instituições bancárias ou monetárias e as instituições não- bancárias ou não-monetárias. As instituições monetárias são caracterizadas por sua capacidade de criação de moeda. A criação de moeda é feita pelo Banco Central, pelo simples ato de emitir papel-moeda e também pelos bancos comerciais, na medida em que recebem depósitos à vista. A criação de moeda pelos depósitos à vista acontece J2 OLIVEIRA, M. I.M.A. pg.30. 33 34 em decorrência destes mesmos depósitos serem emprestados a novos tomadores. Estes por sua vez, depositarão em outros bancos, repetindo o processo. Assim, pelo efeito chamado multiplicador, um depósito transforma-se em vários outros de menor porte, tornando os meios de pagamento várias vezes superior ao montante inicial, caracterizando o mecanismo da criação do papel escrituraI. As instituições financeiras não-monetárias não estão autorizadas a receber depósitos à vista, não possuindo portanto o poder de criar moeda. Estão aqui classificados os bancos de investimentos, bancos de desenvolvimento, companhias seguradoras, corretoras de valores, e outros. 3.4.3 - Mercado Financeiro o mercado financeiro representa o lugar ou mecanismos onde os instrumentos financeiros são negociados, determinando o volume de crédito disponível, fixando as taxas de juros e os preços dos títulos. Dentro do mercado financeiro, o fluxo de fundos pode ser dividido em segmentos distintos, dependendo das características e necessidades dos diferentes grupos. Medeiros= classifica o mercado financeiro em quatro submercados específicos, os quais utilizaremos como base para nosso estudo: Mercado de Crédito: Onde são efetuados os financiamentos a curto e médio prazo ao consumidor e empresas. No Brasil atuam neste mercado basicamente os bancos comerciais e as companhias financeiras. D WANNACOTT, Paul. Economia. São Paulo: McGraw-Hill do Brasil, 1982. pg.9 .1. RICUPERO. Rubens. Opinião Econômica. Folha de São Paulo, São Paulo. 16 ago. 1997. pg.2-2 . .15 MELLO. P.c. In: CASTRO, H.O.P. I.M.C. pg. 25. 1(, MELLO. P.c. In: CASTRO. H.O.P. I.M.C. pg. 27. .17 ROSE, P.S. M.eM. pg.7 . .1' OLIVEIRA. M. I.M.A. pg.34 .1') MEDEIROS. Paulo de Tarso. O Que é o Mercado de Ações? Rio de Janeiro, Simposium Consultoria e Serviços Técnicos, 1987. Mercado de Capitais: Responsáveis pelos financiamentos a médio e a longo prazo deempresas, inclusive de prazo indeterminado, como é o caso das ações, além das construções habitacionais à pessoas físicas. As instituições financeiras não-monetárias são basicamente responsáveis por este mercado. Mercado Monetário: Onde são realizadas as operações de curto e curtíssimo prazo do Tesouro Nacional e bancos comerciais. Este mercado é responsável também por servir como um instrumento de política monetária, onde o Banco Central pode atuar sobre o nível de liquidez da economia. No caso de redução da liquidez, vendendo títulos públicos. No caso de aumento de liquidez no mercado, '" comprando-os. Mercado Cambial: Opera na conversão de moeda estrangeira pela nacional e vice-versa. Efetuada por instituições autorizadas, basicamente compra divisas de exportadores e vende a importadores. Para Rose=, a divisão mais importante dentro do mercado financeiro é a distinção entre mercado monetário e mercado de capitais. O mercado monetário é designado para financiamentos de curto prazo (período menor que um ano), onde indivíduos e instituições com excesso de fundos temporários encontram tomadores com necessidades temporárias de recursos. Uma das principais funções do mercado monetário é financiar capital de giro de empresas, além do governo e especuladores financeiros. Já o mercado de capitais opera a longo prazo, conforme conceituação de mercado de capitais anterior. Há porém outras classificações: a) Mercado financeiro para operações que envolvem títulos de renda fixa e mercado de capitais para operações que envolvem títulos de renda variável. .0 ROSE, P.S. M.c'M. 35 b) Mercado financeiro e mercado de capitais, sendo que o primeiro faria o papel de intermediador de recursos e o segundo atuaria como canalizador, sem a necessidade de intermediação. " Independentemente das classificações, cada segmento do mercado financeiro representa, de alguma maneira, um mercado distinto, com características específiclls. São, assim, isolados em certo grau pelas diversidades nas preferencias dos investidores, pelas diferentes regras e regulamentações e pelo próprio funcionamento e seus determinantes. Porém, quando juros, preço, liquidez ou qualquer variável sofrer alteração em um determinado segmento, outros segmentos do mercado financeiro são também afetados de alguma forma. Isto significa que apesar do sistema financeiro ser conjugado em vários mercados diferentes? há forças que trabalham para a interdependência entre eles. Pela classificação de Medeiros, o mercado de capitais, onde está inserido o mercado acionário, caracterizado aqui como operante a longo prazo, principalmente no financiamento das empresas, possui atenção especial neste estudo, em concordância com os objetivos iniciais do trabalho. 3.5 - Mercado de Capitais o mercado de capitais engloba operações de financiamento a longo prazo, utilizáveis para o financiamento de capital de giro e, principalmente, ativos imobilizados necessários ao surgimento e desenvolvimento das companhias, além de financiar investimentos governamentais e de pessoas físicas. Neste mercado, são utilizados basicamente 2 tipos de instrumentos financeiros, conforme classificação anterior: títulos de dívida e ativos de 36 patrimônio líquido. A partir disto, podemos também diferenciar dois mercados específicos dentro do mercado de capitais; mercado de renda fixa, que engloba os títulos de dívida, e o mercado acionário, onde as transações com ativos de patrimônio líquido são efetuados. Historicamente, as operações com títulos de dívida a longo prazo no Brasil ficaram quase que restringidas ao fornecimento por órgãos estatais e também a financiamentos internacionais. Por este motivo, o mercado de capitais é utilizado muitas vezes para representar unicamente as operações no mercado de ações. Dentrodo mercado de ações, que é objeto principal do estudo, há dois segmentos importantes e complementares; mercado primário e mercado secundário de ações. o mercado primário de ações trata do lançamento inicial de títulos no mercado, havendo a transferência direta de recursos dos investidores para as empresas. Sua principal função é levantar capital para suportar investimentos, tanto para novas empresas ou negócios, como para as já existentes. É no mercado primário, portanto, que a poupança transforma-se em investimento. A subscrição pode ser feita integralmente pelos atuais sócios, ou através de novos acionistas, o que caracteriza uma emissão pública. No mercado secundário, acontecem as transações de títulos entre investidores, não havendo portanto transferência direta de recursos para as empresas. Sob o ponto de vista econômico, não há aumento de recursos para financiar novos investimentos. Sua principal finalidade é propiciar liquidez aos investidores. Deve-se salientar que o funcionamento do mercado primário depende fundamentalmente do mercado secundário, pOIS os ativos dificilmente 37 encontrariam colocação em seus lançamentos primários se não contassem com a liquidez do mercado secundário posteriormente. Os investidores somente aplicam suas poupanças em ativos com possibilidade de venda futura. Nas emissões do mercado primário o lançamento público de ações é feito por instituições especializadas, geralmente sem a utilização dos serviços das Bolsas de Valores. Porém, segundo Medeiros", nada impede que a colocação das ações se dê em leilão, realizado em bolsa. Tal procedimento, entretanto, é pouco comum. Por outro lado, a maioria das transações realizadas no mercado secundário são efetivadas nas Bolsas de Valores, que desta maneira tornam-se instituições de grande importância como elemento meio na negociação. As Bolsas de Valores são associações civis sem fins lucrativos. Seu patrimônio é representado por títulos patrimoniais que pertencem às sociedades corretoras membros. Possuem autonomia financeira, patrimonial e administrativa, mas estão sujeitas à supervisão da Comissão de Valores Mobiliários e obedecem às diretrizes e políticas emanadas do Conselho Monetário Nacional. Os objetivos e atividades das Bolsas de Valores são": 1. Manter local adequado para o encontro de seus membros e para a realização, entre eles, de transações de compra e venda de títulos e valores mobiliários em mercado livre e aberto, organizado e fiscalizado pelos próprios membros e pelas autoridades monetárias; ., MEDEIROS. P.T. O.Q.M.A. pg.62. " MEDEIROS, P.T. O.Q.M.A. pg.62. "CASAGRANDE NETO, Humberto. Abertura de Capital de Empresas no Brasil: um enfoque prático. 2. ed., São Paulo: Atlas. 1989. pg. 21. 38 2. Criar e organizar os meIOS materiais, os recursos técnicos e as dependências administrativas adequadas à pronta, segura e eficiente realização e liquidação das operações efetuadas no recinto de negociação; 3. Organizar, administrar, controlar e aperfeiçoar o sistema e o mecanismo de registro e liquidação das operações realizadas; 4. Estabelecer sistema de negociação que propicie e assegure a continuidade das cotações e a plena liquidez ao mercado de títulos e valores mobiliários; 5. Fiscalizar o cumprimento, pelos seus membros e pelas sociedades emissoras de títulos e valores mobiliários, das disposições legais e regulamentares, estatutárias e regimentais, que disciplinam as operações em Bolsa, aplicando aos infratores as penalidades cabíveis; 6. Dar ampla e rápida divulgação à operações efetuadas em seu pregão; 7. Assegurar aos investidores completa garantia pelos títulos e valores negociados. O eficiente funcionamento das Bolsas de Valores tomam-se assim essenciais para o mercado secundário desempenhar suas funções de liquidez, esta fundamental para o próprio funcionamento do mercado acionário. 3.6 - Mercado Acionário e Desenvolvimento Econômico Dos diferentes segmentos do mercado financeiro vistos anteriormente, o mercado de ações é um dos principais sustentadores do desenvolvimento econômico, na medida que atua no financiamento de médio e longo prazo na 39 econorma, contribui para a repartição da propriedade e pode incentivar a democratização do poder nas empresas e na própria sociedade. Além das funções de desempenhadas pelo mercado financeiro já citadas anteriormente, como conversão de ativos fixos em ativos líquidos, transformação dos prazos das operações, transformação dos montantes de capital e transformação de riscos, os quais o mercado de ações possui importância fundamental, o mesmo é responsável ainda por outras funções não menos importantes. Além de agilizar o processo de transferência de recursos, facilitando as atividades de poupança e investimento através da criação de ativos padronizados, como a ação, acaba exigindo a divulgação de informações das empresas, aumentando a transparência do negócio e ocasionando um maior fluxo de informações a respeito da oferta e demanda de recursos. Isto acaba reduzindo o custo desta informação, dinamizando o mercado e tornando-o mais eficiente, aumentando consequentemente a eficiência do sistema econômico. o mercado de ações é importante até mesmo em aspectos relacionados a inovações e saltos tecnológicos. Segundo Sir John Hicks (Nobel de Economia)«, a revolução industrial teve de aguardar a revolução financeira, na medida que o surgimento dos mercados de capitais permitiram financiar projetos de longa maturação, sem prejuízo da liqüidez oferecida aos poupadores. "Apesar de a maioria das inovações que constituíram a revolução industrial estarem disponíveis muito antes de sua deflagração, somente após a consolidação do mercado de capitais sua difusão tornou-se possível." Outra função reconhecida do Mercado de Ações é sua tendência em democratizar o poder e o capital. A possibilidade de um grande número de ,. ROCCA, Carlos Antônio (coordenador). Mercado de Capitais e a retomada do crescimento econômico. São Paulo: FIPE, 1998. pg. 5. 'j IBMEC. Mercado De Capitais e Desenvolvimento Econômico. Rio de Janeiro: IBMEC. 1977, pg. 25. 'ó MELLO, r.c. I.M.C. pgs. 31·32. 40 pessoas comprar ações de urna companhia e, consequentemente, participar corno proprietário da mesma, permite urna maior pulverização da riqueza e do controle, distribuindo renda e diluindo o poder na empresa e na própria sociedade. Mello relaciona algumas razões que confirmam a tendência do mercado acionário em democratizar o capital e o poder, além de outros aspectos de suporte ao desenvolvimento econômico-: a) A capitalização das empresas VIa mercado acionário induz a uma participação ativa do poupador nos riscos e nos resultados da atividade produtiva, ao invés de somente receber juros corno nos empréstimos; b) A existência de ações permite que o valor do patrimônio das empresas seja representado e repartido por várias parcelas, possibilitando a participação ativa de um grande número de pessoas na propriedade e urna maior flexibilidade de transmissão dos direitos. c) A pulverização da propriedade acionária pode conduzir diretamente (através de investidores individuais) ou indiretamente (através de investidores institucionais) a uma maior participação social nos lucros gerados pelo desenvolvimento advindos do crescimento das empresas; d) A distribuição da propriedade de ações de uma empresa constitui um instrumento flexível capaz de aproximar mais facilmente o fator trabalho do fator capital, seja diretamente (empregados acionistas das empresas) ou indiretamente (através de fundos de pensão); "7 ROCCA, Carlos Antônio (coordenador). Mercado de Capitais e a retomada do crescimento econômico. São Paulo: FIPE, 1998. pg.5. "" ROCCA, C.A. M.C. pg. 6. "9 MELLO, P.c. I.M.C. pgs.33-35. 4\ e) A transferência da propriedade e mesmo a programação da distribuição de riqueza do país através de impostos sobre o capital, podem ser facilitadas pela existência de ações, principalmente por permitirem queestas transferências não interfiram na administração e eficiência das empresas. Isto vale também no caso de morte ou aposentadoria de seus proprietários. Estes objetivos ficam mais difíceis de serem alcançados quanto maior for a concentração da propriedade de ações. f) A abertura do capital das empresas e a transformação de unidades familiares em empresas com parcelas de capital em poder do público, em situações em que a forma jurídica constitui um empecilho a maximização dos lucros e outros objetivos de eficiência, pode ser agilizada com o mercado de ações. Não somente pela pressão do público em atingir objetivos de eficiência através de uma administração mais profissional, mas também mais sujeitas à divulgação pública de suas atividades. g) Maior abertura social através da desvinculação da figura do empresário da do capitalista. Também, os projetos de grande viabilidade econômica e financeira, introdutores de novas tecnologias tanto no tocante ao produto final quanto no que diz respeito ao processo de produção, podem ser levados adiante por meio do levantamento de recursos no mercado acionário. Esta oferta de capital de risco incentiva o aproveitamento e concretização de novas idéias pelos elementos empreendedores da sociedade. h) O mercado de ações pode ser um instrumento, dentro do quadro da política governamental, que concorre para o encaminhamento da solução de diversos problemas econômicos, mesmo quando estes interessam mais vivamente à sociedade corno um todo do que ao mercado propriamente 42 dito. O mercado acionário, ao atuar como um instrumento de capitalização da empresa privada nacional, pode enrijecer -sua estrutura de capital, capacitando-a a enfrentar mais facilmente os embates ocasionados por uma reversão conjuntural no mercado de produtos e/ou na oferta de crédito, servindo pois como instrumento auxiliar de grande valia no combate anti-inflacionário a médio e longo prazos. i) No tocante a convivência entre formas de captação forçada de recursos (e sua aplicação) e formas voluntárias, devemos ter em mente que, com a agilidade do mercado acionário no aporte de recursos para as empresas do setor privado, evita-se a expansão, de forma exagerada, de linhas oficiais de crédito subsidiado, que, se de um lado podem constituir um elemento positivo como acelerador do processo de desenvolvimento, de outro podem resultar também em um maior grau de imperfeição no mercado. Como veremos no capítulo quinto, além dos aspectos sociais positivos já destacados resultantes de uma atuação ~j~çiente do mercado acionário, uma maior democracia nas empresas pode também estimular uma melhoria do nível de qualidade gerencial das mesmas. 3.7 - Ambiente para um Mercado Acionário Desenvolvido Se por um lado a importância de um mercado de ações desenvolvido é crucial para o bem estar das pessoas, por outro, nem sempre é fácil a estruturação, ou até mesmo adaptação, de um modelo que contribua de maneira eficaz para a economia e o desenvolvimento de uma sociedade. "As ineficiências e limitações de um mercado de capitais provém, fundamentalmente, da natureza distorcida da \( estrutura social e econômica do país em questão, e constituem um problema 43 generalizado no mundo atual. Apenas quando esses desequilíbrios e desigualdades são atacados de um modo efetivo e coerente, aproximando mais os custos privados e sociais, começaríamos a ter alguma confiança no sentido de que a existência de um mercado de capitais trará uma contribuição positiva e eficiente ao desenvolvimento do país em questão."> Para que o mercado de ações desempenhe eficientemente suas funções, devem ser cumpridas certas precondições, tanto na órbita político-institucional quanto na econômica. Na órbita política-institucional, é necessária uma organização institucional dotada de instrumentos legais adequados para o funcionamento apropriado do mercado de ações. Além disso, esse mercado geralmente necessita graus razoáveis de estabilidade e de política que forneçam condições para a existência de um regime de propriedade privada. Como é um mercado extremamente sensível à confiança do público quanto ao seu correto e fidedigno funcionamento, requer um quadro de boa conduta legal, ética e comercial da parte de suas instituições e agentes, além de uma oferta ampla, precisa e atualizada de informações. Por fim é necessário uma política governamental explícita, com firmeza de convicções e estabilidade. 51 Na órbita econômica, deve haver um certo grau de monetização para permitir um volume grande e relativamente constante de poupança financeira. Um conjunto diversificado e especializado de instituições bancárias e outros intermediários financeiros também se torna indispensável para que haja complementação das atividades específicas do mercado de ações. Do lado da demanda é preciso uma presença significativa de indivíduos e instituições no mercado, para os quais seja vantajoso aplicar suas poupanças em ativos não- físicos a preços variados. Do lado da oferta, é necessário a disponibilidade de um ;0 IBMEC. M.C.D.E. pg.87. ;1 MELLO. P.c. I.M.C. pgs. 3 I ·32. 44 volume relativamente grande de títulos e obrigações, tanto em estoque disponível, quanto na emissão regular de novas ações e títulos. Finalmente, é imprescindível a existência de um grande número de compradores e vendedores que estejam dispostos a transacionar periodicamente, mantendo a vitalidade e velocidade na negociação de ações e outros ativos financeiros. Os países em desenvolvimento, como o Brasil, caracterizam-se por uma escassez relativa de capital e pela geração de um pequeno volume de poupança, além de sua alocação geralmente ineficiente. A expansão do mercado acionário pode ser um dos mecanismos para superar tais barreiras. Particularmente no Brasil, temos um mercado acionário emergente, com grande potencial de crescimento. Nossa legislação evoluiu nos últimos anos, mas, em nossa opinião, necessitamos ainda adaptações que melhor satisfaçam as peculiaridades de nossa cultura. É neste sentido que discutiremos a evolução do mercado financeiro e de ações no Brasil, situando a atualidade no contexto histórico para posteriormente refletirmos sobre a necessidade de adaptações que contribuam efetivamente para o desenvolvimento de nossa economia e sociedade. 45 4 - EVOLUÇÃO DO MERCADO FINANCEIRO E ACIONÁRIO NO BRASIL 4.1 - Os Primórdios do Mercado A estrutura atual do sistema financeiro é recente no Brasil. Ate o início do século XIX, não existiam instituições financeiras organizadas, mas apenas indivíduos exercendo as funções de banqueiros ou corretores. No início do século XIX, o primeiro fato relevante relacionado ao mercado de capitais acontecia. "Em 10 de outubro de 1808, D. João VI constituía o Banco do Brasil, e oferecia à subscrição da colônia o capital deste, no valor total de 1.200 contos de réis. A emissão foi considerada um fracasso, pois apenas 100 contos de réis foram integralizados. A integralização do restante custou enorme esforço, como o oferecimento, inclusive, de títulos nobiliárquicos aos maiores subscritores. "52 Este foi o primeiro lançamento de ações à oferta pública que se tem notícias no Brasil, sendo o primeiro banco a operar oficialmente no país e podendo também ser considerada como a primeira instituição financeira oficial. O Banco do Brasil foi criado com objetivo de realizar e facilitar a circulação dos fundos considerados necessários ao atendimento das despesas do Estado. A emissão das ações em si foi considerada um fracasso. Já o banco, após ser "quebrado" pela Família Real e fechado posteriormente em 1929, foi restabelecido por Viscondes de Mauá em 1951 e incorporado novamente ao estado em 1953. Desde então, nunca perdeu sua posição de liderança, apesar dos escândalos financeiros sofridos. 52 CASAGRANDE NETO, H. A.C.E.B. 46 Criado com o objetivo de "gerar fundos para manter a corte no Brasil, o banco logo passou a emitir mais do que arrecadava.
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