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Objetivos 1) Descrever as modificações gravídicas locais (vagina, útero, ovários e mama) e nos sistemas específicos (sistema cardiocirculatório, sistema endócrino, pele e anexos, sistema esquelético, digestório, respiratório, urinário, SNC e sentidos), agrupando-as por trimestre. 2) Identificar as modificações psicológicas maternas durante o período gestacional. 3) Descrever a avaliação do ganho de peso gestacional (materno). 4) Identificar as diretrizes e os objetivos gerais da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher (PAISM). 5) Caracterizar o Planejamento Familiar, identificando o tipo de assistência e as atividades oferecidas nesse programa. 1. Modificações gravídicas locais e específicas. Referência: Zugaib – Obstetrícia Adaptações do organismo materno à gravidez O organismo feminino sofre mudanças anatômicas e funcionais durante a gravidez, adaptando-se para a presença do feto em desenvolvimento. Essas alterações se dão nas esferas molecular, bioquímica, hormonal, celular e tecidual dos mais variados órgãos e sistemas. Por esse motivo, o conhecimento das alterações fisiológicas do organismo materno é de importância fundamental para a boa prática obstétrica, de modo que seja possível reconhecer os desvios da normalidade. Já no início da gestação, a presença de células trofoblásticas no ambiente intrauterino altera a homeostase local e em seguida. por meio da produção celular de hormônios e outras substâncias, o funcionamento de quase todos os sistemas maternos se adapta à nova condição. A placenta é um órgão que aumenta de forma progressiva sua capacidade de produção, em termos de quantidade e variedade dessas substâncias. A função da placenta é especialmente endócrina, produzindo moléculas muito similares, se não idênticas, aos hormônios gerados por todas as glândulas do organismo. A produção de estrógenos e de progestógenos em altos níveis leva, respectivamente, a fenômenos angiogênicos e vasodilatadores. Além do componente endócrino, a placenta também atua na resposta vascular, por meio da elaboração de maior quantidade de prostaciclina, comparativamente à produção de tromboxano, de renina, de angiotensina e de hormônios adrenais que agem na quantidade e na composição dos derivados do sangue e na reatividade vascular. Consequentemente. é possível observar alterações essenciais para a adaptação do organismo materno à gravidez, em especial relacionadas aos sistemas circulatório (hematológico e cardiovascular) e endócrino (abrangendo também o metabolismo). As manifestações dessas adaptações em outros órgãos e sistemas são consideradas modificações do organismo materno à gestação e podem ser classificadas como locais (presentes nos órgãos genitais e/ ou sexuais) ou gerais (que surgem nos sistemas digestório, urinário, respiratório, nervoso, esquelético e em pele e anexos). Modificações locais ÚTERO As modificações uterinas são as mais pronunciadas, já que é durante a gravidez que o útero exerce plenamente sua capacidade funcional e anatômica: participar da formação do concepto e do mecanismo de parto. Assim, com o aumento progressivo da capacidade volumétrica e o incremento considerável da vascularização, o útero retém o feto durante todo o seu crescimento e desenvolvimento, para finalmente servir de força motora para sua expulsão durante o trabalho de parto. Para que todas essas funções sejam atingidas conforme as expectativas, torna-se necessário que o útero sofra importantes adaptações. Modificações gravídicas Assim como ocorre com outros órgãos genitais, a coloração uterina passa a ser violácea, por causa do aumento da vascularização e da vasodilatação venosa. A retenção hídrica do espaço extravascular, por sua vez, toma a consistência do útero amolecida, em especial na região de implantação ovular, onde as influências mecânicas e humorais são mais diretas e, portanto, mais intensas. A consistência uterina se modifica na vigência de contração uterina ou aumento do tônus muscular, o que pode ser notado pela palpação abdominal a partir da segunda metade da gravidez. As alterações de volume e peso são marcantes, visto que fora do período gestacional o útero normal é um órgão compacto, que pesa aproximadamente 60 a 70 g, com capacidade interna de até́ 10 mL e dimensões aproximadas de 7 cm de comprimento, 4 a 5 cm de largura e 2 a 3 cm de espessura (1 a 2 cm entre a cavidade e a serosa) e, no termo da gestação, apresenta-se como um órgão com peso de 700 a 1.200 g, capacidade total de 5 L (até 20 L em determinadas situações) e dimensões de comprimento, largura e espessura de aproximadamente 30, 24 e 22 cm, respectivamente. Embora retorne a posição, forma e consistência pré-gestacionais após o puerpério, com redução significativa de suas dimensões, o útero mantém tamanho pouco maior progressivamente a cada gestação. O útero origina-se da fusão dos ductos de Müller e divide-se em porções e camadas. Em relação às camadas uterinas, observam-se: • Uma mais externa, o peritônio visceral, que recobre o corpo uterino em quase toda sua extensão. • Uma mais interna, o endométrio, que sofre reação decidual para se adaptar à presença da placenta e do concepto. • Uma intermediária e mais espessa, o miométrio, que é a camada em que ocorre um maior número de modificações para que haja aumento da capacidade e do volume uterinos. O endométrio se modifica com alterações celulares em toda sua extensão, formando a decídua basal, onde se implanta o embrião; decídua parietal, presente na porção da cavidade uterina em que não houve implantação; decídua reflexa, que envolve o concepto e se funde à parietal com 16 semanas de gestação, momento a partir do qual o feto ocupa toda a cavidade uterina. As dimensões, a forma e a posição do útero alteram-se ao longo da gravidez de forma sincrônica e progressiva. Assim, nota-se que até 12 semanas o útero é um órgão intrapélvico, com forma assimétrica decorrente da implantação localizada do embrião (sinal de Piscacek). A partir disso e até 20 semanas de gestação, assume a forma esférica e deixa de se localizar exclusivamente na região pélvica para se tornar um órgão abdominal. É nesse momento que o peso uterino e o amolecimento dos tecidos adjacentes levam-no a ocupar os fórnices laterais da vagina (sinal de Noble-Budin). Com o contínuo crescimento uterino, a anteversoflexão reduz-se, aliviando os sintomas de polaciúria, o que se acompanha de dextrorrotação do útero, fenômeno no qual o útero se desvia para a direita e gira, levando a borda esquerda para a região anterior e a direita para a posterior. Justifica- se a dextrorrotação uterina pela presença do colo sigmoide à esquerda, o que pode levar à estase urinária por compressão do ureter ipsilateral e prolongamento da histerotomia para a esquerda nas cesáreas. No início da segunda metade da gestação, por conta da hipertrofia das fibras musculares uterinas, pode haver comprometimento vascular com isquemia relativa. Assim, o útero sofre fenômeno de conversão, ou seja, de mudança de forma para melhor suprimento sanguíneo local, com alongamento dessas fibras. A forma esférica do útero se transforma em cilíndrica, por conta do crescimento do concepto, com incorporação do istmo à cavidade uterina. Novo momento de isquemia relativa ocorre próximo ao parto, quando as fibras musculares atingem sua capacidade máxima de distensão. Miométrio O miométrio é composto por fibras musculares, colágeno e matriz extracelular. As fibras colágenas correspondem a 40 a 50% dessa composição. As alterações de sua fração solúvel e da matriz extracelular causam afastamento das fibras musculares que, simultaneamente à retenção hídrica da embebição gravídica sistêmica, justificam as modificações de sua consistência.As fibras musculares do miométrio uterino se modificam substancialmente na gravidez, caracterizando-se três tipos de alterações: hiperplasia, hipertrofia e alongamento. A hiperplasia ocorre com menor frequência, sendo restrita às primeiras semanas de gestação. A hipertrofia é uma modificação mais intensa, aumentando em dez vezes o diâmetro da fibra muscular, que passa de 50 a 500 micras. O alongamento ocorre na segunda metade da gravidez e se relaciona ao estiramento da cavidade uterina pela presença do concepto. A disposição das fibras musculares do miométrio se dá de forma a convergir dois sistemas de fibras, que se originam de forma circular em torno das tubas uterinas e se encontram na região mediana. Esses sistemas envolvem todo o útero e se cruzam para formar, entre as fibras de um lado e de outro, ângulos mais agudos (quanto mais superiores) ou mais obtusos (quanto mais próximos da cérvix). Essa disposição pode ser explicada pela origem embrionária do útero proveniente da fusão de dois ductos (de Müller), cujo início ocorre na porção mais inferior, o que posteriormente dará origem ao colo uterino. Além disso, a ontogênese do útero também justifica a presença do marca-passo das contrações uterinas próximo a um dos óstios tubários do órgão, assim como a direção do tríplice gradiente descendente. O arranjo muscular apresenta outras peculiaridades quando observado ao corte transversal. Em sua distribuição, as fibras musculares partem de determinado local na espessura do órgão e se dirigem para o interior, próximo à cavidade uterina, apresentando diferentes comprimentos. Esse complexo arranjo das fibras musculares (de fora para dentro e de cima para baixo) permite que o útero se distenda e cresça em todas as suas dimensões, como uma espiral estirada. Da mesma forma, após o parto essa distribuição permite a involução uterina, funcionando como ligaduras mecânicas da intensa vascularização local. Vascularização e inervação O útero é o órgão em que ocorre o fenômeno de hipervascularização mais intenso. O fluxo sanguíneo local, que fora do período gestacional é de 50 mL/min, chega a valores entre 500 e 700 mL/min. A perfusão uterina é extremamente abundante, com surgimento de novos vasos e aumento da capacidade dos já existentes. As principais artérias que participam do suprimento sanguíneo do útero são as uterinas (ramos das artérias ilíacas internas) e as ovarianas (ramos diretos da aorta, responsáveis por até um terço da perfusão do órgão). No início da gravidez, o útero recebe 3 a 6% do débito cardíaco; chegando, no termo, a cerca de 12%. Na região ístmica, os ramos das artérias uterinas distribuem-se transversalmente ao útero e paralelamente às fibras musculares locais. Por esse motivo, a histerotomia segmentar transversa é preferencialmente utilizada, com o intuito de reduzir as perdas sanguíneas e, com lesão de menor nº de fibras musculares, proporcionar melhor cicatrização. As drenagens venosa e linfática também apresentam maior fluxo, grande número de anastomoses e o diâmetro das veias é capaz de equivaler ao de um dedo. O aumento do calibre e da capacidade de distensão das veias se deve à redução da quantidade de elastina e da concentração de terminações nervosas adrenérgicas em suas paredes. O local de inserção placentária modifica a drenagem venosa: se a placenta estiver inserida no corpo ou segmento uterinos, seu retorno venoso será realizado em maior parte pela veia uterina ipsilateral, enquanto as placentas fúndicas serão drenadas pelas veias ovarianas. A transferência de oxigênio e nutrientes da gestante para o produto conceptual ocorre entre dois compartimentos vasculares diferentes, mas interligados, que sofrem influências diversas, mas têm relação entre si: o compartimento uteroplacentário e o fetoplacentário. A elevação dos níveis séricos de estrógeno e de progesterona ao longo da gravidez aumenta o fluxo sanguíneo do compartimento uteroplacentário por meio da vasodilatação. O compartimento fetoplacentário, por sua vez, contribui para esse mesmo mecanismo por meio das ondas de invasão trofoblástica, que aumentam o número de vasos fetoplacentários e destroem a camada média das arteríolas espiraladas, transformando-as em uteroplacentárias. Observam-se, dessa forma, o aumento do fluxo e a redução da resistência das artérias uterinas, o que pode ser verificado na Dopplervelocimetria desses vasos. Diversos estudos demonstraram o efeito de outras substâncias sobre o leito vascular uteroplacentário. É interessante notar que a refratariedade vascular sistêmica às catecolaminas (adrenalina, noradrenalina e isoxsuprina) não se observa nos vasos uteroplacentários, mais sensíveis à infusão dessas drogas. O oposto ocorre em relação à angiotensina, uma vez que os vasos uterinos mostram-se mais refratários que os vasos sistêmicos à ação dessa substância na gravidez. Determinados eventos, como a presença de contração uterina ou o aumento do tônus miometrial, reduzem a perfusão placentária, o que pode provocar a diminuição do aporte de oxigênio para o com- partimento fetoplacentário em situações críticas. A inervação uterina se dá pelo sistema nervoso autônomo, por meio de fibras aferentes (sensitivas) e eferentes (motoras ou secretoras, simpáticas e parassimpáticas). As fibras nervosas aferentes e as sinapses eferentes se reúnem em plexos ou gânglios. O mais importante desses gânglios, pela quantidade de fibras e localização, é o plexo de Frankenhauser, também denominado plexo uterovaginal, situado posteriormente aos ligamentos uterossacros. O plexo de Frankenhauser é responsável pela atividade contrátil involuntária das musculaturas uterina, tubária e vaginal. Outras condensações de fibras nervosas de valor essencial são os plexos hipogástrico e pélvico e os nervos pré-sacro e pélvico. Além da inervação simpática e parassimpática, observa-se determinado automatismo uterino pelas inúmeras experiências de denervação local e pelas observações da manutenção e há até melhora do padrão das contrações uterinas em pacientes submetidas à anestesia raquidiana. Istmo e segmento inferior O istmo é a região que, na mulher não grávida, corresponde à porção inferior ao corpo uterino e superior à cérvix. Caracteriza-se por endométrio menos espesso e limita-se superiormente pelo orifício interno do istmo (orifício interno anatômico) e inferiormente pelo orifício externo do istmo, que coincide com o orifício interno do colo uterino. A alteração da consistência do istmo, com consequente edema e amolecimento do local, coincide com o alongamento da região e, ao toque vaginal combinado, é possível notar aumento da anteversoflexão uterina (sinal de Hegar), responsável pela polaciúria comum no início da gestação. Durante a gravidez, o istmo, posteriormente transformado em segmento inferior, sofre as mesmas modificações de hipertrofia, hiperplasia e alongamento das fibras musculares, aumento do tecido conjuntivo e hipervascularização, o que impossibilita diferenciá-lo macroscopicamente do corpo uterino ao fim da gestação. O istmo se alonga entre 8 e 12 semanas de gestação, para posteriormente incorporar-se ao corpo uterino com até 16 semanas, por meio de dilatação do orifício interno anatômico. É nessa ocasião que essa porção uterina passa a ser denominada segmento inferior. Com a incororação do istmo ao corpo uterino, encontra- se dificuldade para definir seu limite superior. Classicamente, esse limite é denominado anel de Bandl, mas parâmetros escolhidos como marcadores de sua localização, como a veia circular e o início da regiãode descolamento do peritônio visceral, falharam em determiná-la. A incorporação do segmento inferior à cavidade uterina contribui para alteração da forma do útero de esférica para cilíndrica, marcando o momento de finalização do crescimento e desenvolvimento do órgão para dar lugar à distensão e ao aumento de sua capacidade interna. A importância do segmento inferior reside no fato de ser o local da maioria das histerotomias realizadas em cesáreas transversas e, principalmente, por abrigar a apresentação fetal. Colo uterino O colo uterino é a porção inferior do útero, composto por dois tipos de epitélios e de estrutura formada por tecido conjuntivo denso, com elementos musculares e conjuntivos. Caracteriza-se por estrutura cilíndrica, cujo interior é ocupado pelo canal cervical com seus respectivos orifcios interno (ou obstétrico) e externo, o qual pode ser visualizado ao exame especular de rotina. A endocérvix é formada por epitélio cilíndrico glandular que recobre o canal cervical, enquanto a ectocérvix se constitui de epitélio pavimentoso estratificado não queratinizado, localizado na porção vaginal do colo. Durante a gravidez, os epitélios do colo uterino ficam espessados, passando de 1 a 3 mm para de 3 a 6 mm de espessura. O arcabouço estrutural da cérvix, por sua vez, é composto por fibras musculares em muito menor proporção do que se encontra no miométrio. Em contrapartida, possui grande quantidade de fibras colágenas e elásticas. Essa estrutura densa é responsável pela contenção e pela manutenção do feto e das membranas ovulares no interior da cavidade uterina, além de anômala quando existe incompetência cervical. Na gestação normal, ocorrem modificações no colo uterino secundárias às alterações hormonais e vasculares, embora menos pronunciadas que as alterações uterinas. A presença de ectopia do epitélio endocervical e sua exposição ao conteúdo vaginal mais ácido provocam metaplasia escamosa do epitélio cilíndrico. É ocorrência comum em situações em que há elevados níveis de progesterona circulante. A eversão da mucosa da endocérvix é mais frequente em primíparas, enquanto a exposição do epitélio colunar, por causa da dilatação residual do canal cervical, reserva-se como causa comum de metaplasia escamosa em multíparas. O aumento da vascularização modifica a coloração habitualmente rósea do colo uterino para violácea. Ocorre reação decidual em células estromais que, em conjunto com o edema local, confere ao colo uterino consistência amolecida. É a partir de 16 semanas de gestação que o amolecimento do colo uterino modifica sua consistência, passando de uma consistência semelhante à da cartilagem nasal para uma consistência similar à do lábio (regra de Goodell). A hipertrofia glandular da endocérvix desencadeia maior produção de muco, espesso e viscoso, denominado rolha de Schröeder. Sua cristalização não costuma ocorrer na grávida, apresentando aspecto amorfo à microscopia por causa dos altos níveis de progesterona. No entanto, pode eventualmente se cristalizar na presença de líquido amniótico. O muco cervical da gestante é rico em imunoglobulinas e citocinas, funcionando mecânica e imunologicamente como proteção contra a ascensão de microrganismos. Sua eliminação acontece na presença de dilatação de qualquer ordem (prematura ou oportuna, por contrações ou regridem mais frequentemente, sobretudo no pós-parto. O aumento da vascularização pode ser visualizado à colposcopia e, por isso, cuidados na interpretação do exame colposcópico devem ser tomados para evitar conclusões errôneas e resultados falso-positivos. Ao fim da gravidez e durante o parto, a cérvix passa por processo de colagenólise e desestruturação do tecido conjuntivo, que sustenta o arcabouço do colo uterino, na intenção de prepará-lo para esvaecimento e dilatação. Uma série de substâncias participam desse processo, como prostaglandinas, ácido hialurônico, enzimas proteolíticas (colagenases e elastases), mediadores inflamatórios e água. Esses elementos, produzidos por fibroblastos presentes no estroma cervical, promovem retenção hídrica local, com afastamento e degradação das fibras de elastina e colágeno, além da desestabilização da matriz extracelular com aumento das glicosaminoglicanas – componentes glicídicos das proteoglicanas presentes na matriz extracelular. OVÁRIOS Os ovários têm importância crucial no início da gravidez, mais especificamente até a sétima semana. É nessa etapa que o corpo lúteo, que geralmente se mantém por 2 semanas após a ovulação ou durante a segunda metade do ciclo menstrual, transforma-se em corpo lúteo gravídico. Seu crescimento e manutenção são assegurados pelos altos níveis de hCG produzidos pelas células trofoblásticas. O principal papel do corpo lúteo gravídico é fornecer progesterona em níveis suficientes para a deci- duação do endométrio, com consequente nidação do blastocisto, até o momento em que o trofoblasto seja capaz de produzir progesterona de forma autônoma e em quantidades adequadas para a manutenção da gestação. O corpo lúteo gravídico começa a regredir no primeiro trimestre (por volta de 12 semanas), por conta da redução e da estabilização dos níveis circulantes de hCG. É possível encontrar reação decidual em focos espar- sos em ambos os ovários. A explicação para tal fenômeno se deve à presença de tecido endometrial levado por menstruação retrógrada ou pela presença de remanescentes embrionários. A ovulação, o recrutamento e a maturação folicular são processos que ficam estagnados durante toda a gravidez e só voltam a ocorrer meses após o parto, a depender do aleitamento materno. O aumento da vascularização local demonstra plexo vascular ovariano dilatado. A rede venosa local apresenta aumento tanto do número como do calibre desses vasos. TUBAS UTERINAS E LIGAMENTOS As tubas uterinas, que no início da gravidez são pratica- mente perpendiculares ao maior eixo uterino, estiram-se por conta do crescimento do útero e por ele são levadas a ocupar posição vertical, paralela ao corpo uterino. Ocorre, dessa forma, hipertrofia muscular discreta. A vascularização local é intensa, como nos ovários, alterando a cor das tubas, especialmente das fímbrias. A reação de deciduação irregular e descontínua é vista na camada interna, com perda do aparelho ciliar dessas células. No puerpério, as tubas uterinas apresentam hipotrofia semelhante à encontrada em mulheres após a menopausa, da mesma forma que todo o sistema genital feminino, por causa da diminuição dos níveis hormonais. Os ligamentos largos e redondos do útero se encontram hipertrofiados e congestos, assim como os paramétrios. Dependendo da localização placentária, os ligamentos redondos, assim como os anexos, podem se apresentar estirados na face oposta à da inserção da placenta (sinal de Palm). Nas inserções placentárias na face anterior do útero, os ligamentos redondos e os anexos estarão voltados para região posterior do órgão. De forma análoga, nas inserções posteriores, os ligamentos e anexos estarão voltados para diante do corpo uterino, podendo, eventualmente, ser palpados no termo em gestantes magras. VAGINA A hipervascularização local provoca hiperemia e edema da mucosa vaginal. Já no início da gestação, a coloração avermelhada se torna arroxeada pela retenção sanguínea nos vasos venosos (sinal de Kluge). O aumento do diâmetro das artérias vaginais permite sentir sua pulsação nos fórnices laterais (sinal de Osiander). Ocorre hipertrofia das células musculares, bem como do tecido conjuntivo, o que, em conjunto com o acúmulo hídrico,aumenta a espessura e elasticidade da mucosa vaginal. Essas alterações levam à redução da rugosidade mucosa e garantem a distensão necessária do órgão para formação do canal de parto em momento oportuno. Os elevados níveis de progesterona circulante promovem alterações celulares locais similares às do período se- cretor do ciclo menstrual, contudo, mais intensas e duradouras. Por esse motivo, o acúmulo de glicogênio e a maior descamação celular servem de substrato para proliferação de Lactobacillus acidophilus. O consumo do excesso de glicogênio por esses microrganismos gera maior produção de ácido láctico, com consequente diminuição do pH da vagina. O pH vaginal, que na gravidez encontra-se em torno de 3,5 a 6, tem papel protetor contra infecções bacterianas locais, mas pode predispor a infecções fúngicas. Os esfregaços vaginais apresentam células ovoides com núcleo vesicular, típicas da gestação, denominadas células naviculares. Essas células representam alterações da camada intermediária, que descama de forma abundante, simultaneamente às células superficiais. VULVA É comum que a pele da raiz das coxas e dos grandes lábios se apresente com manchas hipercrômicas. A coloração arroxeada decorrente da hipervascularização local é denominada sinal de Jacquemier- Chadwick. Em gestantes com predisposição, em particular em multíparas, é possível encontrar varizes vulvares, que por vezes podem dificultar a realização de episiotomia ou perineo- tomia. A retenção de líquidos no espaço extravascular causa edema do vestíbulo vaginal, que funciona como coxim protetor no momento do parto. MAMAS As modificações das glândulas mamárias são evidentes desde o início da gestação. A gestante se queixa com frequência de dor e hipersensibilidade mamária já no primeiro trimestre e costuma apresentar melhora com o decorrer da gravidez. A produção hormonal de estrógeno e de progesterona pela placenta e a produção de prolactina pela hipófise materna promovem o crescimento e o desenvolvimento mamário necessários para o processo de lactação no pós-parto. Com mecanismos de hiperplasia e diferenciação celular que essas moléculas modificarão por completo a mama, único órgão que não retorna às suas características pré-gravídicas depois de terminado o período puerperal. O aumento volumétrico das mamas é observado a partir da sexta semana de gravidez. O mamilo se torna mais pigmentado e sensível. A papila se apresenta mais saliente, pois há maior capacidade erétil. A hiperpigmentação areolar faz com que o mamilo tenha cor acastanhada, com surgimento de coloração externa aos limites originais da aréola mais clara que ela, contudo, mais escura que a pele das mamas. A esse contorno de limites imprecisos que circunda a aréola dá-se o nome de aréola secundária ou sinal de Hunter. Há hipertrofia das glândulas sebáceas do mamilo, que formam elevações visíveis, os tubérculos de Montgomery. A pele das mamas pode apresentar estrias secundárias aos elevados níveis de cortisol associados à distensão local. A hipervascularização do tecido glandular torna visível a rede venosa sob a pele, chamada de rede de Haller. A partir da segunda metade da gravidez, é possível visualizar a saída de colostro pelas papilas à expressão mamária. Parece não haver relação entre o volume pré-gravídico das mamas e sua capacidade de produção láctea. Na espécie humana, o desenvolvimento estrutural e funcional das mamas só ocorre por completo após a gestação e a lactação. Essa glândula tem papel fundamental na nutrição e na imunidade do recém-nascido, com plasticidade ao adaptar a quantidade e a qualidade da produção láctea ao número de neonatos e à necessidade de cada recém-nascido de acordo com a idade gestacional de nascimento. REFERÊNCIA: Obstetrícia Fundamental - Rezende Modificações sistêmicas • Postura e deambulação A postura da mulher grávida se desarranja, precedendo mesmo a expansão de volume do útero gestante. Quando, porém, a matriz, evadida da pelve, apoia- se à parede abdominal, e as mamas, dilatadas e engrandecidas, pesam no tórax, o centro de gravidade se desvia para diante. Todo o corpo se joga para trás, compensatoriamente. A atitude adotada então é, de modo involuntário, a de quem carrega objeto pesado mantendo-o, com as duas mãos, adiante do abdome. Estando a mulher gestante de pé é isso bem nítido, pois para manter o equilíbrio empina o ventre e surge a lordose da coluna lombar. Amplia-se a base do polígono de sustentação, os pés se afastam, as espáduas se projetam para trás. Grupamentos musculares que ordinariamente não têm função nítida ou constante passam a atuar, estirando-se e contraindo-se. Sua fadiga responde pelas dores cervicais e lombares, queixa comum. A grávida, ao andar, lembra., com seus passos oscilantes, mais curtos, a deambulação dos gansos - marcha anserina. A base de sustentação alargada e maiores os ângulos que formam os pés com a linha mediana, principalmente à direita, por conta do dextrodesvio uterino, conferem peculiaridades à sua movimentação. As articulações apresentam maior mobilidade durante a gestação, notadamente as sacroilíacas e a sínfise pubiana. Atribui-se à relaxina, secretada pela placenta, a frouxidão dos ligamentos, especialmente a sínfise pubiana, que pode alargar cerca de 4 mm nas primíparas e 4,5 mm nas multíparas. A principal resultante dessas modificações é o aumento da capacidade pélvica, favorecendo a disjunção sinfisária e os movimentos de nutação do sacro. Essa crescente mobilidade das articulações contribui para transformar a postura materna e a sua marcha, como já referidas. • Metabolismo As alterações no metabolismo materno são necessárias para suprir as exigências suscitadas pelo rápido crescimento e desenvolvimento do concepto durante a gravidez. Grandes modificações no metabolismo de energia e no acúmulo de gordura têm sido documentadas. Metabolismo glicídico. Na gravidez, as alterações do metabolismo glicídico são notáveis: 1. Outra estrutura foi ajuntada, o concepto, consumidor de glicose. Assim, a mãe vê-se submetida a permanente demanda de glicose. Diante de período prolongado de jejum, o feto continua a extrair glicose e aminoácidos da gestante, em taxas idênticas às existentes nos períodos de alimentação. Parasitismo verdadeiro. 2. A fim de prover suprimento ininterrupto de glicose e de aminoácidos para o concepto, a grávida faz ajustamentos importantes: não consome mais indiscriminadamente a glicose como antes, e, à medida que a prenhez cresce, diminui a sua utilização periférica, mercê da elaboração, pela placenta, de hormônios contrainsulares. A glicose é transferida rapidamente ao feto, por difusão facilitada, embora pequeno o gradiente de concentração (os níveis fetais de glicose são cerca de 20 mg/dl inferiores aos da mãe). O consumo contínuo de glicose pelo concepto e seu rápido transporte através da placenta influenciam profundamente o metabolismo dos carboidratos na grávida. Em todos os estádios da gestação, depois de uma noite de jejum, os níveis de glicemia são 15 a 20 mg/dl inferiores aos sinalados fora da prenhez. Nos últimos meses, a prenhez exibe aumento na resistência à insulina, cerca de 40-50% pelo final do 2º trimestre. Níveis elevados de lactogênio placentário humano (hPL), progesterona, estrogênios e cortisol estão todos implicados no processo. Os níveis de hPL acrescem rapidamente no 1º e no 2º trimestre e alcançam o seu máximo nas últimas 4 semanas da gravidez. O efeito diabetogênico do hPL resulta na mobilização de lipídios na forma de ácidos graxos livres. Esses ácidos graxos livres serviriam como fonte de energia, poupando glicose e aminoácidos, que estarão disponíveis para o feto. No 3º trimestre,após a administração de glicose, observa-se hiperinsulinismo pós-prandial, à conta dos fatores contrainsulares já aludidos. O hiperinsulinismo está ausente naquelas pacientes com limitada capacidade de elaborar o hormônio e que vão apresentar o diabete gestacional. O efeito inibitório da insulina na lipólise está significativamente reduzido durante o 3º trimestre quando comparado ao de outras fases do ciclo gestatório. Em resumo: a gravidez avançada está caracterizada por mudanças em seu metabolismo, no sentido de preservar glicose à custa da utilização dos lipídos. A liberação excessiva de ácidos graxos também contribui na redução da utilização da glicose materna. Metabolismo lipídico. Durante a gestação, a mãe tem de adaptar o seu metabolismo para fazer frente à contínua demanda fetal de nutrientes através da placenta para suprir o seu desenvolvimento. Quantitativamente, a glicose e os aminoácidos são os nutrientes mais abundantes que atravessam a placenta, e a dependência do feto a essas substâncias é bem conhecida. Todavia, a placenta é praticamente impermeável aos lipídios, exceto aos ácidos graxos livres (AGL) e aos corpos cetônicos. Não obstante, alterações marcantes no metabolismo lipídico materno durante a gestação têm importantes implicações no crescimento fetal. Duas alterações consistentes no metabolismo materno durante a gestação são o acúmulo de lipídios nos tecidos da grávida e a hiperlipidemia gestacional. Metabolismo do tecido adiposo materno. O aumento do peso materno durante a gestação corresponde ao crescimento da unidade fetoplacentária e ao acúmulo dos seus próprios tecidos, especialmente o relacionado à elevação de lipídios nos depósitos de gordura. Esse fenômeno, comum na gravidez humana e de outros animais, ocorre durante os primeiros 2/3 da gestação e é responsável pela maior parte do acréscimo de peso materno, excluindo o decorrente do concepto, e parece estar diretamente relacionado à hiperfagia, pois desaparece com a restrição alimentar. Esse aumento nos depósitos de gordura maternos é especialmente decorrente da lipogênese aumentada; ele corresponde à elevação na síntese de ácidos graxos e do glicerídio glicerol, indicando que a formação dos triglicerídios está exaltada. A tendência de acumular gordura cessa durante o último trimestre da prenhez, quando o metabolismo lipídico se transmuda para estado catabólico, em virtude de diversas alterações coincidentes que ocorrem no tecido adiposo: a. o aumento da atividade lipogênica diminui rapidamente; b. a atividade lipolítica torna- se exaltada talvez comandada pelo hPL mercê de sua ação similar à do hormônio do crescimento. O aumento da atividade lipolítica do tecido adiposo eleva a liberação de AGL e de glicerol na circulação materna, onde eles alcançam grandes concentrações no plasma. A transferência placentária desses dois produtos lipolíticos é baixa, e o fígado materno é o principal receptor. Como visto na Figura, após serem convertidos no fígado em suas respectivas formas ativas, AGLemacil-CoA e glicerol no glicerol-3-fosfato, eles podem ser utilizados para a esterificação, na síntese dos triglicerídios, produção de corpos cetônicos, através da utilização do AGL, ou a formação de glicose no que concerne ao glicerol. No final da gestação, a transferência aumentada de AGL e de glicerol ao fígado em decorrência da lipólise nos tecidos adiposos justifica a exaltada esterificação e a subsequente liberação hepática na forma de triglicerídios da lipoproteína de muito baixa densidade (VLDL). A síntese de corpos cetônicos torna-se altamente incrementada durante o final da gestação sob condições de jejum, e o uso desses produtos pelos tecidos maternos reduz o consumo de glicose, que assim fica disponível de ser transferida para o feto. No final da gravidez, a gliconeogênese a partir do glicerol está aumentada, poupando aquela proveniente dos aminoácidos, que são transportados para o feto. Podemos concluir que o feto se beneficia dos produtos finais do metabolismo decorrente da atividade lipolítica do tecido adiposo materno. Os corpos cetônicos cruzam livremente a placenta e podem ser utilizados como combustível fetal ou mesmo como substratos para a síntese de lipídios no cérebro. Finalmente, a atividade lipolítica intensa do tecido adiposo durante o final da gestação também favorece os tecidos maternos, pois nesse estágio a utilização periférica de glicose está bastante diminuída pela resistência à insulina, e os produtos lipolíticos – especialmente AGL e corpos cetônicos - podem ser utilizados como combustíveis alternativos, poupando a glicose. - Hiperlipidemia materna: Durante a gravidez normal há aumento constante nos triglicerídios plasmáticos e pequeno acréscimo no colesterol. Essa hiperlipidemia corresponde ao enriquecimento proporcional de triglicerídios nas frações lipoproteínas, mesmo naquelas que os transportam em baixas concentrações, tais como a lipoproteína de baixa densidade (LDL) e a lipoproteína de alta densidade (HDL). Mas o maior acúmulo absoluto nos triglicerídios no plasma corresponde ao VLDL. Essas lipoproteínas são utilizadas no fígado, e os triglicerídios que elas carregam são derivados do AGL e do glicerol, que também são sintetizados no próprio órgão ou o alcançam a partir da circulação, onde são liberados pela lipólise do tecido adiposo, que está muito aumentada no final da gestação, como já foi dito. A produção acentuada dos triglicerídios VLDL e sua remoção diminuída da circulação em decorrência da menor atividade da lipoproteína lipase (LPL) no tecido adiposo são os principais fatores responsáveis pelo aumento dos triglicerídios VLDL durante a gestação. A abundância de triglicerídios VLDL no plasma materno assim como de outros fatores sumarizados na figura abaixo, contribui para o acúmulo de triglicerídios nas outras lipoproteínas. Um desses fatores é o aumento da atividade da proteína de transferência do éster de colesterol (CETP), que catalisa a transferência de triglicerídios do VLDL para as lipoproteínas pobres nesses lipídios, LDL e HDL, enquanto a de éster de colesterol ocorre no sentido contrário. Outro fator contribuinte para o mesmo efeito é a diminuição da atividade da lipase hepática (HL) que também é vista no final da gravidez. A HL controla a conversão do HDL no final da gestação. - Benefícios da hipertrigliceridemia materna para o feto: Muito embora os triglicerídios não cruzem a barreira placentária, o feto se beneficia da hipertrigliceridemia materna: 1. Sob condições de jejum, o fígado materno mostra aumento da atividade da LPL, tornandose órgão receptor de triglicerídios circulantes que são usados como substrato para a síntese de corpos cetônicos e esses compostos rapidamente se difundem pela placenta e são utilizados pelo feto. 2. A presença da atividade da lipase na placenta torna ácidos graxos essenciais provenientes dos triglicerídios maternos disponíveis para o feto. A lipase da placenta hidrolisa os triglicerídios matemos, e os AGL liberados podem alcançar o feto para serem reconvertidos em triglicerídios. 3. A indução da LPL nas mamas por volta do parto dirige triglicerídios circulantes para essa glândula visando a produção de leite. Por esse mecanismo, ácidos graxos essenciais da dieta materna que circulam na forma de triglicerídios podem se tornar disponíveis para o lactente. Ácidos graxos essenciais Os ácidos graxos essenciais referem-se a lipídios que não podem ser sintetizados pelo organismo e devem provir da alimentação. As duas famílias de ácidos graxos essenciais - ômega-3 e ômega-6 - são requeridas para funções fisiológicas, incluindo transporte de oxigênio, armazenamento de energia, papel na membrana celular e regulação da inflamação e da proliferação celular. Na gravidez, os ácidos graxos essenciais são necessários para o desenvolvimento da unidade fetoplacentária no inícioda gestação, e o ácido docosaexanoico (DHA), um tipo de ômega-3 derivado de peixe marinho, é vital para a homeostase materna, assim como o desenvolvimento do cérebro e da retina fetal durante todo o 3º trimestre. Constituem ácidos graxos essenciais (AGE), como já se referiu, aqueles não sintetizados pelo organismo, sendo incorporados pela alimentação: ácido linolênico (ômega-3) e ácido linoleico (ômega-6). Os AGE são benéficos para a mãe, prevenindo doenças cardiovasculares, câncer do colo e doenças imunológicas, assim como são indispensáveis para o desenvolvimento cerebral e visual do concepto. Os ácidos ômega-3 e ômega-6 são precursores dos ácidos graxos polinsaturados de cadeia longa (AGPICL): ácido araquidônico, da série ômega-6; ácido eicosapentanoico (BPA) e ácido docosaexanoico (DHA), da série ômega-3. O feto não tem capacidade de sintetizar os AGPICL através dos seus precursores ômega-3 e ômega-6, sendo suas necessidades supridas pela placenta e pelas reservas tissulares da mãe, principalmente do tecido adiposo. As principais fontes de ômega-3 são os peixes gordurosos de água fria (salmão, atum), truta, sardinha, ostra, mariscos, óleo de linhaça e de canola, nozes e rúcula. A dieta moderna proporciona 7 a 10 vezes mais ômega-6 do que ômega-3, quando o correto seria 5:1. Os ácidos graxos trans (AGT) são também prejudiciais para a saúde, pois inibem a formação dos AGPICL. Metabolismo proteico. Mal estudado, a concentração da maioria dos aminoácidos está reduzida na gravidez. As proteínas totais, conquanto aumentem em valores absolutos, pela hemodiluição plasmática têm suas concentrações diminuídas. As de albumina sofrem redução nítida, enquanto é menor a queda das gamaglobulinas. Os teores de alfa e de betaglobulinas e os de fibrinogênio, ao contrário, ascendem. Aspetos relacionados às necessidades calóricas, de vitaminas e de sais minerais, na gestação, assim como o aumento ponderal da grávida, por serem tópicos de grande importância na assistência pré-natal, lá serão analisados. Metabolismo hidroeletrolítico. Uma das alterações sistêmicas mais notáveis vistas na gravidez é a retenção de líquido (8-10 1), intra e extracelular, mas especialmente responsável pelo aumento do volume plasmático. Essa alteração hidroeletrolítica é decisiva para que ocorram outras modificações importantes, tais como o aumento do débito cardíaco e o do fluxo plasmático renal. Consequência direta do acúmulo do volume plasmático é na interpretação dos exames hematológicos na gravidez. O acréscimo do volume plasmático é maior na gravidez gemelar e menor naquela complicada pelo crescimento intrauterino restrito (CIR) e pela pré-eclampsia. O provável mecanismo para essa adaptação é a retenção de sódio, determinada principalmente pela maior secreção de aldosterona pela suprarrenal, a despeito do efeito natriurético da progesterona. Para conservar o sódio, quando a taxa de filtração glomerular aumenta em torno de 50% surge na gravidez mecanismo compensatório representado pelo sistema renina-angiotensina. A renina é elaborada pelo aparelho justaglomerular renal e age, em última análise, estimulando a secreção de aldosterona pelo córtice suprarrenal, via angiotensina. A aldosterona é responsável pelo aumento da reabsorção tubular de sódio, preservando a homeostase materna. Não seria desarrazoado denominar essa peculiar situação hormonal de "hiperaldosteronismo secundário da gravidez''. Aceitando -se que o ganho total de peso na prenhez seja em torno de 11 kg, dos quais 70% são de água, para manter a isotonicidade tornam-se necessários 25 g de sódio ou 60 g de cloreto de sódio. Concluindo, o sódio deverá ser conservado para prover quantidade adicional indispensável à expansão tecidual e dos compartimentos líquidos, durante a gestação. Na verdade, a concentração de sódio plasmática encontra-se ligeiramente diminuída na gestação, assim como a osmolaridade total. A grávida parece aceitar esse nível de osmolaridade, sem elevar a diurese. Por outro lado, o limiar de sede na gravidez está alterado de tal sorte que a grávida sente vontade de ingerir líquido com nível mais baixo de osmolaridade do que a não grávida. Do mesmo passo, há redução acentuada também da pressão oncótica (pressão coloidosmótica), determinada principalmente pela queda na concentração de albumina plasmática de cerca de 20% (níveis gravídicos: 2,8-3,7 g/dl). O significado dessa alteração é o de que a pressão oncótica é o fator mais relevante para o equilíbrio de Starling, vale dizer, o grau de passagem de líquido através dos capilares (inclusive dos capilares glomerulares). Assim, a diminuição da pressão oncótica do plasma é responsável pelo aumento da taxa de filtração glomerular renal (TFG) observada na gravidez, demais de contribuir para o desenvolvimento do edema periférico, trivial mesmo na prenhez normal. Em resumo, eis os fatores responsáveis pela retenção de líquido: • retenção de sódio; • novo nível de osmolaridade; • diminuição do limiar da sede; • redução da pressão oncótica; e as suas consequências: • redução na concentração de hemoglobina; • queda do hematócrito; • diminuição da concentração de albumina; • aumento do débito cardíaco; • elevação do fluxo plasmático renal; • edema periférico. Metabolismo do cálcio. O nível de cálcio no soro é rigorosamente regulado e mantido dentro de limites normais pelo hormônio da paratireoide ou paratormônio (PTH) e pela vitamina D. A vitamina D, na verdade a vitamina D3 [25(OH)D ou 25-hidroxicolecalciferol] pode ser sintetizada na pele a partir do deidrocolesterol, sob a influência da radiação ultravioleta solar; a vitamina D pode também ser adquirida através da alimentação via sistema gastrintestinal. A vitamina D3 é 25-hidroxilada no fígado e 1-hidroxilada no rim. A forma fisiologicamente ativa da vitamina D é a D2 [1,25(OH)p ou l alfa,25-di- hidroxicolecalciferol] que é responsável pelo aumento da absorção do cálcio no intestino e da reabsorção óssea. O PTH é estimulado pela hipocalcemia e inibido pela hipercalcemia. O PTH influencia o metabolismo do cálcio diretamente pela reabsorção óssea e pela formação da vitamina D2. Na gravidez. Grande quantidade de cálcio (e de fósforo) é transferida contra gradiente de concentração da mãe para o feto (transporte ativo), com acúmulo de 25-30 g de cálcio no termo. Para isso a absorção de cálcio no intestino dobra na gravidez, consequência também do nível duplamente elevado de vitamina D2 de origem placentária e materna renal. A vitamina D2 elevada abre os canais de cálcio voltagem-dependentes na membrana dos enterócitos e é assim responsável pela maior absorção do elemento. Na verdade, o nível de PTH no soro diminui na gestação o que é compensado pelo acréscimo do peptídio relacionado à paratireoide (PTHrP) de origem fetal e placentária. O PTHrP elevado na gravidez produzido pela paratireoide fetal e pela placenta contribui para o aumento da vitamina D 2, decréscimo da concentração de PTH e regulação do transporte transplacentário da mãe para o feto. O transporte de cálcio pelo trofoblasto também depende do aumento da concentração da proteína de ligação ao cálcio que atinge máxima concentração no 3º trimestre, quando é marcante o crescimento fetal. A calcitonina é um hormônio peptídico de 32 aminoácidos elaborado pelas células parafoliculares da tireoide. A calcitonina age como antagonista fisiológico de PTH impedindo que o cálcio se eleve acima dos níveis normais. Na lactação. Durante a lactação a perda diária de cálcio pelo leite é da ordem de 220-340 mg. Os níveis de PTHrP de origem mamária estão significativamente elevados na mulher lactante e são responsáveis pela desmineralização do seu esqueleto, por estímulo à reabsorção tubular renal de cálcio e por supressão do PTH. • Sistema cardiovascular O início da gravidez é caracterizadopor vasodilatação periférica, à conta, provavelmente, do aumento do óxido nítrico (NO), fator vasoativo, relaxante, elaborado pelo endotélio vascular. O acréscimo significativo da frequência cardíaca já pode ser visto na gestação de 5 semanas, e isso contribui para a elevação do débito cardíaco (débito cardíaco = volume sistólico X frequência cardíaca). Todavia, a elevação do volume sistólico só é observada várias semanas depois, possivelmente com a expansão do volume plasmático. A elevação progressiva na frequência cardíaca materna prossegue até o 3º trimestre, quando o acréscimo é de 10-15 batimentos por minuto (bpm), se comparado ao ritmo existente fora da gravidez. Há igualmente aumento progressivo no volume sistólico durante a primeira metade da gestação devido ao maior volume plasmático, como já se disse. Em consequência, o débito cardíaco, que em média era de 51/min antes da gravidez, cresce para aproximadamente 71/min em torno de 20 semanas; depois as alterações são menos dramáticas. Durante o 2º- 3º trimestres o útero grávido impede o retorno venoso do coração quando a grávida assume a posição supina. Muitas mulheres experimentam, em consequência, a chamada síndrome de hipotensão supina, às vezes exibindo até perda de consciência. Adotando o decúbito lateral esquerdo, o débito cardíaco é restaurado quase automaticamente. A despeito do aumento acentuado do volume plasmático e do débito cardíaco, grande parte das grávidas exibe redução na pressão arterial, em virtude do decréscimo da resistência vascular periférica. A diminuição da pressão diastólica é mais acentuada (10-15 mmHg) do que a da sistólica (5-10 mmHg), que alcançam os menores valores com 20 semanas de gestação. Assim, no início da prenhez, há aumento relativo da pressão de pulso. Mais tarde, todavia, a pressão diastólica se eleva significativamente e se equipara àquela encontrada fora da gravidez. A aferição precisa da pressão diastólica é fundamental para caracterizar o estado hipertensivo na gravidez, e a técnica correta é aquela que utiliza como ponto de referência o desaparecimento do som (5º som de Korotkoff). A pressão venosa, nos membros inferiores, aumenta cerca de 3 vezes em virtude da compressão que o útero determina na cava inferior e nas veias pélvicas, ocorrente, em particular, na posição de pé, parada, quando maior o aprisionamento de sangue nas pernas e nas coxas. Há, na gravidez, tendência a hipotensão, lipotimia ortostática, edema dos membros interiores, varicosidades e hemorroidas. Alterações dinâmicas também ocorrem durante o parto, quando cada contração uterina leva à autotransfusão de 300-500 ml de sangue de volta para o sistema circulatório. O débito cardíaco aumenta assim 34% durante as contrações e 12% no intervalo. A resposta simpática à dor e à ansiedade durante o parto causa maior elevação na frequência cardíaca e na pressão sanguínea. No pós-parto imediato o útero se contrai firmemente, e mais uma vez há autotransfusão sanguínea (aproximadamente 300 ml) aumentando o débito cardíaco em 60-80%, seguido pelo rápido declínio para valores encontrados antes do parto dentro de 1 hora. Por certo, a partir de 6-8 semanas de pósparto o débito cardíaco reassume seus valores não gravídicos. Constituem as alterações cardiovasculares mais relevantes: • aumento da frequência cardíaca (10 -20%); • aumento do volume sistólico (10%); • aumento do débito cardíaco (30-50%); • diminuição da pressão arterial média (10%); • diminuição da resistência periférica (35%). • Sistema sanguíneo A alteração marcante no volume plasmático observada na gravidez normal causa diluição da maioria dos fatores circulantes. De particular interesse é a hemodiluição das hemácias. Embora a produção de eritrócitos esteja majorada na gravidez, ela é ofuscada pela elevação do volume plasmático. Assim, os índices hematológicos que dependem do volume plasmático tendem a cair: contagem de hemácias, hematócrito, concentração de hemoglobina. A concentração de hemoglobina se reduz de 13,3 g/dl, valor médio não gravídico, para 11 g/dl, no termo da gravidez. Essa alteração ("anemia fisiológica da gravidez") é confundida frequentemente com o estado de anemia, mais comumente por deficiência de ferro. A mulher grávida requer maior quantidade de ferro alimentar para suprir as suas necessidades e as do concepto, e, na verdade, há aumento na absorção desse elemento no intestino. As alterações fisiológicas na composição sanguínea tornam difícil o reconhecimento de condições anômalas, exigindo, por vezes, extensa investigação laboratorial, v.g., a definição de anemia recomendada pelos CDC dos Estados Unidos é o de nível de hemoglobina e de hematócrito abaixo de, respectivamente, 11 g/dl e 33% no 1º trimestre, 10,5 g/dl e 32% no 2º trimestre e 1 1 g/dl e 33% no 3º trimestre da gestação. A quantidade total de ferro no organismo é determinada pela ingesta, perda e armazenamento. Existem aproximadamente 2,3 g de ferro total no organismo da mulher. A reserva adicional de ferro durante a gestação (cerca de 1 g) supre o aumento do número de hemácias, feto, placenta e a perda antecipada de sangue que acompanha o parto vaginal (300-500 ml). Quando há ferro adequado para suprir as necessidades, mais de 70% é classificado como ferro funcional, e o restante, como ferro de depósito. Do ferro funcional, acima de 80% é encontrado nas hemácias como hemoglobina, e o restante, na mioglobina e nas enzimas respiratórias. A gravidez impõe solicitações acentuadas no sistema hematológico materno, tendo o ferro expressão maior na síntese da hemoglobina. A quantidade desse elemento, de que o feto de termo necessita, é da ordem de 300 mg, mais o indispensável para o acréscimo da eritropoiese materna e a prevenção da anemia consequente às perdas hemorrágicas do pós-parto. Tendo-se ainda em conta as eliminações excretórias normais e a demanda placentária e fetal, calcula-se que as necessidades de ferro, durante toda a gravidez, sejam de 1 a 1,3 g. A despeito dessa adaptação, mulheres grávidas que não ingerem ferro suplementar têm redução desse elemento na medula, assim como do volume globular médio e da ferritina sérica. Por essa razão, é usual a utilização de hematínicos profiláticos no pré-natal, notadamente de ferro. Todavia, o ferro suplementar é responsável por efeitos adversos, desagradáveis, especialmente na gravidez: refluxo e constipação. O uso desse ferro suplementar na gestação é controverso. É nossa opinião que a suplementação de ferro deva ser buscada na dieta e apenas será medicamentosa quando a concentração de hemoglobina for inferior a 10 g/dl. Durante a gravidez as necessidades de ácido fólico aumentam de 50 µg para 400 µg/dia. A suplementação rotineira de ácido fólico também é proposta para prevenir a anemia macrocítica. A depuração renal de ácido fólico aumenta substancialmente na gravidez, e a concentração de folato no plasma cai, mas não na mesma extensão na hemácia. A suplementação universal de folato na gravidez em mulheres que se alimentam normalmente está indicada mas não por essa razão. Há evidências comprovadas de que a suplementação de ácido fólico (0,4 mg/dia) por 2 a 3 meses antes da gravidez e nas primeiras 12 semanas reduz a incidência de defeitos do tubo neural (DTN) no concepto. Ao contrário dos glóbulos vermelhos, os glóbulos brancos têm sua concentração majorada na gestação (valor médio de leucócitos no 3º trimestre: 9 mil/mm3) e especialmente no puerpério imediato (20 mil/mm3). Isso ocorre principalmente pelo aumento dos polimorfonucleares. A concentração de plaquetas exibe, por outro lado, pequeno decréscimo (75-320 mil/mm3). Fala-se em plaquetopenia gestacional no 3º trimestre com níveis de 80.000 - 150.000 mm3. Há igualmente alterações importantes na coagulação sanguínea durante a gravidez normal e nesse contexto caracterizadas por estado dehipercoagulabilidade. Há aumento significante de diversos fatores de coagulação, notadamente do fibrinogênio, e redução da atividade fibrinolítica do plasma. Essas modificações são responsáveis pelo aumento da velocidade de sedimentação e pela hemostasia fisiológica ao tempo da separação da placenta no secundamento. Na verdade, a contração miometrial é o principal mecanismo de defesa, comprimindo os vasos sanguíneos no leito placentário. Quase imediatamente há depósito de fibrina na ferida placentária, com gasto de 5-10% de todo o fibrinogênio circulante. A grande desvantagem desse mecanismo de ajuste fisiológico de hipercoagulabilidade que impede o sangramento patológico do pós-parto é o aumento do risco do tromboembolismo, principal causa de morte materna ou obstétrica direta no Reino Unido e nos Estados Unidos. A gravidez está associada a acréscimo de 20-200% nos níveis de fibrinogênio e de fatores II, VII, VIII, X e XII, enquanto a concentração dos fatores V e IX não se altera. Ao revés, o nível dos anticoagulantes endógenos se eleva discretamente [ativador do plasminogênio tipo-tecidual (tPA)], permanecem constantes [antitrombina (AT) ou proteína-C] ou significativamente decrescem (proteína S). Por outro lado, há aumento de cerca de 3 vezes nos níveis do inibidor do ativador do plasminogênio-1 (PAI-1). Assim, a resultante desses efeitos na coagulação na gravidez é promover a formação, extensão e estabilidade do coágulo. Concluindo, eis as principais alterações hematológicas ocorridas na gravidez: Diminuição: • no número de hemácias; • na concentração de hemoglobina; • no hematócrito; • na concentração de folato no plasma. Aumento: • no número de leucócitos; • na velocidade de sedimentação; • na concentração de fibrinogênio. • Sistema urinário Alterações anatômicas. A vasodilatação que ocorre na gravidez resulta do relaxamento da musculatura lisa e é universal. O sistema urinário não foge à regra, e cerca de 80% das mulheres grávidas têm dilatação significativa de ambos os ureteres e pelves renais, que se inicia precocemente (10 semanas), e por essa razão filiada à atonia decorrente de estímulos hormonais, provavelmente a progesterona. Mais tarde, tem também o fator mecânico, pois a dilatação é principalmente observada no lado direito, acima do estreito superior, o que ocorre por conta da dextrorrotação normal que apresenta o útero pejado. No 3º trimestre cerca de 97%das grávidas mostram alguma evidência de estase ou de hidronefrose. O fluxo de urina está retardado e é a maior causa da predisposição à infecção urinária ascendente que têm as grávidas. A dilatação das pelves/cálices renais e dos ureteres pode persistir por 8-12 semanas pós-parto. Fluxo plasmático renal. Uma consequência da vasodilatação é a redução da pressão arterial; outra, o aumento do fluxo sanguíneo. Inúmeros órgãos exibem aumento do fluxo sanguíneos, especialmente útero, mamas, pele e rins. Há acentuada elevação no fluxo plasmático renal (FPR) (60-70%), o que leva a marcado incremento na taxa de filtração glomerular. A filtração do plasma é de importância fundamental na manutenção do equilíbrio hídrico, excreção de produtos do catabolismo e regulação dos nutrientes essenciais. Taxa de filtração glomerular renal. A filtração glomerular eleva-se cedo, desde o 2º mês, cerca de 50%, permanecendo acrescida até o termo; com 20 semanas de pós-parto está normalizada. A elevação da taxa de filtração glomerular renal (TFG) é responsável pelo aumento da depuração de inúmeras substâncias sanguíneas. A depuração da creatinina, muito semelhante à filtração glomerular, por ser de fácil medida, é comumente utilizada para avaliar a função renal (valor não gravídico: 90-120 ml/min; na prenhez: 130-160 ml/min). Por outro lado, esse aumento na taxa de filtração glomerular determina que maior quantidade de substâncias se apresente aos túbulos renais. Assim: 1. As concentrações de ureia e de creatinina (valores não gravídicos, respectivamente, 15-40 mg/dl e 0,6- 1,2 mg/dl) estão diminuídas no plasma (ureia: 10-20 mg/dl; creatinina: 0,73, 0,58 e 0,53 mg/dl, respectivamente no 1º, 2º e 3º trimestres). 2. A glicosuria é fisiológica na gravidez e se deve ao aumento da taxa de filtração glomerular de tal sorte a exceder o limite de reabsorção tubular, explicando o aumento dessa substância na urina. Dessa maneira, a glicosuria na gravidez não está relacionada a desordens no metabolismo dos carboidratos e não pode ser utilizada para o rastreamento do diabete na gravidez. 3. Igualmente é fisiológica a proteinúria total (particularmente a microalbuminúria) durante a gestação. Assim, o limite superior da excreção urinária de proteína se eleva para 300 mg/24horas. 4. A despeito do enorme aumento do trabalho renal imposto pela prenhez, o volume urinário diário não está acrescido. Até 80% de filtração é absorvida nos túbulos proximais. A frequência urinária decorre da compressão exercida pelo útero grávido na bexiga. A atonia vesical faz aumentar a capacidade do órgão. 5. Entram em jogo os mecanismos compensatórios (sistema renina-angiotensina) responsáveis pela retenção sódica, já sinalados. Eis em resumo as alterações renais: • aumento no fluxo plasmático renal (60-70%); • aumento na taxa de filtração glomerular renal (50%); • aumento na depuração de várias substâncias (creatinina); • diminuição da concentração plasmática de ureia e de creatinina; • glicosuria fisiológica. • Sistema respiratório A expansão do volume sanguíneo e a vasodilatação da gravidez resultam em hiperemia e edema da mucosa do sistema respiratório superior. Essas alterações predispõem a grávida a congestão nasal, epistaxe e mesmo alterações da voz. O uso prolongado de descongestionantes deve ser desencorajado para o edema nasal fisiológico, pois termina em rinite medicamentosa. Medicação não teratogênica está disponível para sintomas intoleráveis. Alterações marcantes na caixa torácica e no diafragma caracterizam a gravidez. Com o relaxamento dos ligamentos das costelas, o ângulo subcostal aumenta de 68 para 103°. Os diâmetros anteroposterior e transverso do tórax aumentam cada um 2 cm, resultando na expansão da circunferência torácica de 5 -7 cm. Embora o diafragma se eleve aproximadamente 4cm pelo aumento do útero grávido, sua função não é comprometida; na verdade sua excursão está incrementada de 1-2 cm. A complacência da parede torácica, todavia, diminui com o evolver da gestação aumentando o trabalho da respiração. Estudos radiológicos realizados no início da gravidez já atestam essas alterações anatômicas, muito antes que ocorra qualquer pressão mecânica do útero engrandecido. Já no 1º trimestre da gestação o volume-minuto, o produto do volume-corrente (tidal volume) pela frequência respiratória, aumenta 30-40% refletindo a elevação do volume-corrente, pois a frequência respiratória não se altera. A expansão da caixa torácica e o aumento do estímulo respiratório criam o volume-corrente elevado. A progesterona parece desempenhar papel fundamental no estímulo do centro respiratório no sistema nervoso central. Pela elevação da cúpula do diafragma estão diminuídos o volume de reserva expiratório e o volume residual, em cerca de 20%, o que se reflete na capacidade residual funcional, também reduzida em 20%. A hiperventilação da gravidez facilita as trocas gasosas nos pulmões. Tanto o p02 no ar alveolar como no sangue arterial se elevam. O consumo de oxigênio aumenta de 15-20% para fazer frente à massa materno-fetal adicional e ao trabalho cardiorrespiratório da gestação. A já referida hiperventilação da gravidez ocasiona alcalose respiratória compensada, com diminuição do pC02 a < 30 mmHg, conquanto haja modesto aumento no p02 (101- 104mmHg). A diminuição do pC02 é compensada pelo aumento da excreção urinária de bicarbonato, cujaconcentração diminui no plasma; por isso o pH arterial não sofre alteração significativa (pH = 7,4), caracterizando a alcalose respiratória compensada. Cerca de 60-70% das grávidas, sem doença respiratória, experimentam dispneia. Como os sintomas começam no 1º ou no 2º trimestre e se estabilizam no 3º, não é provável qualquer papel determinante do útero aumentado de tamanho. A dispneia parece decorrer da percepção da paciente à hiperventilação da gravidez. O exercício acarreta aumento compensatório na frequência respiratória, volume-corrente e consumo de oxigênio. Essa resposta adaptativa ao aumento do trabalho respiratório está amortecida na grávida em comparação a controles não grávidos. Por isso se recomenda reduzir a intensidade do exercício aeróbio na prenhez. Durante o parto, as contrações uterinas dolorosas estão acompanhadas por resposta similar, que pode ser atenuada pela administração de analgésicos. Em decorrência do aumento do consumo de oxigênio materno e da diminuição da capacidade residual funcional, grávidas com asma, pneumonia ou outras doenças respiratórias estão mais susceptíveis à descompensação rápida. A resolução das alterações respiratórias induzidas pela gravidez começa 24-48 horas após o parto e está completada com 7 semanas do puerpério. Súmula das principais modificações respiratórias: • A frequência respiratória não se altera. • O volume-corrente e o volume-minuto aumentam cerca de 30-40%. • A capacidade residual funcional diminui 20%. • Hiperventilação fisiológica. • Dispneia (em 60-70% das grávidas). • Sistema digestivo No 1º trimestre é frequente o aparecimento de náuseas e vômitos (50-90% das grávidas), levando, por via- de-regra, à anorexia, embora número equivalente de mulheres relate melhora no apetite e parcela considerável admita "desejos" por certos alimentos. A base fisiológica da náusea, habitualmente matinal, é desconhecida, conquanto possa estar relacionada a níveis crescentes de gonadotrofina coriônica humana (hCG) e de estrogênios. A gengivite, no ciclo gestatório, como fora dele, é consequente ao acúmulo da placa bacteriana na margem gengival, e se apresenta com eritema, sangramento e intumescimento da zona afetada, e extremo desconforto para a paciente. Quando essas alterações periodontais são muito intensas, podem deflagrar parto pré-termo. As gengivas estão comumente edemaciadas, hiperêmicas, e sangram com facilidade. Não se provou, contudo, tendência para o aparecimento de cáries dentárias na gestação e nem, tampouco, que a hiperêmese gravídica e o vômito matinal, provocando queda no pH bucal, aumentariam o risco de cáries. Durante os dois primeiros trimestres há redução na secreção gástrica de ácidos, explicando a incidência reduzida de úlcera péptica e a remissão das porventura preexistentes. O sistema gastrintestinal (esôfago, estômago, vesícula, intestino) está atônico durante toda a gestação. Os fatores determinantes são hormonais, os mesmos que relaxam a musculatura das artérias, veias e ureteres. Consequência imediata, a alta incidência de pirose, combinação do relaxamento do esfíncter gastroesofagiano ao aumento de pressão intra-abdominal, essa condicionada pela presença do útero grávido. A atonia do cólon explica a grande frequência da constipação. O fígado, sem dúvida, tem trabalho aumentado na gestação, embora a imensa maioria dos testes de função hepática esteja dentro do limite de normalidade. • Sistema endócrino Endocrinologia da gravidez. Dentro do útero grávido a unidade decíduo fetoplacentária produz quantidade extraordinária de hormônios esteroides, proteicos e neuropeptídios. Essas novas unidades em jogo conduzem ao fluxo unidirecional de nutrientes da mãe para o concepto, facultam ambiente favorável para o desenvolvimento in útero, crescimento celular e amadurecimento e sinalizam quando o produto está pronto para a vida extrauterina. Didaticamente, costuma- se dividir a endocrinologia da gravidez em duas fases: 1. Ovariana, corresponde às primeiras 8-9 semanas da prenhez, quando o corpo amarelo gravídico, estimulado pela gonadotrofina coriônica humana (hCG), é o principal responsável pela secreção esteróidea. 2. Placentária, a partir de 8-9 semanas, quando a placenta se incumbe da produção de esteroides, em quantidades crescentes. O ovário também elabora a relaxina, peptídio cuja principal função é, juntamente com a progesterona, inibir a contratilidade espontânea do útero, o que é útil para a manutenção inicial da gravidez. Secreção endócrina placentária. A placenta humana produz grande quantidade de esteroides - progesterona e estrogênio. O lugar da esteroidogênese é o sinciciotrofoblasto. Como a placenta tem capacidade muito limitada de sintetizar o colesterol de novo a partir de acetato, o lipídio há de ser suprido pelo fígado materno. A placenta humana também está desprovida de 17a-hidroxilase e assim não pode converter os esteroides C21 (pregnenolona e progesterona) nos produtos C19 (androgênios) que são precursores dos estrogênios. Dessa maneira, ao contrário das gônadas e das suprarrenais, a placenta é órgão incompleto no que diz respeito à elaboração dos esteroides. Para a formação dos estrogênios necessita, fundamentalmente, de precursores fetais; para a síntese de progesterona, de substâncias provenientes da mãe. É o conceito da unidade fetoplacentária, ou melhor, da unidade materno-fetoplacentária. Progesterona O colesterol -LDL materno é ligado a receptor específico no sinciciotrofoblasto, transportado por endocitose e hidrolisado em colesterol livre dentro dos lisossomos. No sinciciotrofoblasto o colesterol é então convertido em pregnenolona pela enzima mitocondrial 20,22 desmolase. A pregnenolona é a seguir transformada em progesterona pela enzima 3-(3-hidroxiesteroide-deidrogenase. A maioria dessa progesterona (90%) é secretada na circulação materna e o restante (10%), na circulação fetal. Embora a placenta comece a sintetizar progesterona muito no início da gestação, antes de 8-9 semanas, a progesterona produzida pelo corpo amarelo gravídico é indispensável para o êxito da implantação e da placentação e assim da manutenção da gravidez. Após essa época é a progesterona placentária suficiente para manter a gravidez, mesmo na ausência do ovário (transferência luteoplacentária). É a progesterona produzida pelo trofoblasto fundamental para a quiescência do miométrio, ao reduzir o número de junções comunicantes, existentes entre as células miometriais, indispensáveis para o sincronismo da contratilidade uterina, assim como para inibir a síntese de prostaglandinas. A produção de progesterona aumenta progressivamente com o evolver da gravidez, alcançado o seu máximo (300 mg/dia) poucas semanas antes do parto. Estrogênios A produção de estrogênios aumenta dramaticamente durante a gravidez (1.000 vezes), alcançando níveis de 80 mg/dia próximo ao termo. A maior quantidade de estrogênio produzida pela placenta é de estriol, esteroide fraco encontrado na mulher não grávida como metabolito hepático do estradiol. Como a placenta não possui a enzima 17alfa-hidroxilase, não pode sintetizar os esteroides C19 a partir dos precursores C21, pregnenolona e progesterona. Por isso a zona fetal da suprarrenal do concepto, a partir do colesterol-LDL, sintetiza a pregnenolona e por fim o esteroide C19 sulfato de deidroepiandrosterona (DHEAS) pela ação da enzima 17a-hidroxilase. O DHEAS uma vez na placenta sofre a ação da sulfatase transformando-se em androstenodiona e a seguir em estrona, após a ação da enzima aromatase. O DHEAS é secretado em grande quantidade pela suprarrenal fetal e convertido em sulfato de l6 alfa hidroxideidroepiandrosterona (16a- OHDHEAS) no fígado do concepto. Esses esteroides, DHEAS e 16a-OHDHEAS, são convertidos na placenta nos estrogênios, respectivamente, 17-alfa-estradiol (E) e estriol(E3), também sob a ação da aromatase. Perto do termo, metade do E2 é derivado do DHEAS de origem suprarrenal fetal e metade do DHEAS materno. Por outro lado,90% do E3 na placenta se origina do 16a-OHDHEAS fetal e apenas 10% de outras fontes. Como os estrogênios, particularmente o estriol, se originam, fundamentalmente de precursor do concepto, esse hormônio foi usado no passado como teste de bem-estar fetal. Os estrogênios da gravidez determinam a proliferação do sistema ductal mamário e em conjunto com a progesterona promovem o desenvolvimento do tecido glandular. Após o parto a subitânea cessação do estímulo estrogênio-progesterona possibilita o estabelecimento da lactação. O estrogênio parece também promover o crescimento uterino e o aumento do fluxo sanguíneo uteroplacentário. Hormônios polipeptídicos Gonadotrofina coriônica humana A gonadotrofina coriônica humana (hCG) é uma glicoproteína produzida pela placenta e formada por duas subunidades, α e β ligadas por forças iônicas e hidrofóbicas. A subunidade a é idêntica às subunidades a dos hormônios glicoproteicos hipofisários: hormônio luteinizante (LH), hormônio folículo-estimulante (FSH) e hormônio tireoide-estimulante (TSH). As subunidades β dos hormônios glicoproteicos são únicas e conferem a eles as suas propriedades biológicas. Além do hCG-intacto, a placenta elabora também o hCG-α-livre e o hCG-β-livre. Os níveis de hCG-β-livre no soro são muito baixos ou indetectáveis durante a gravidez. A curva do hCG-α-livre é similar à do lactogênio placentário humano (hPL), mas a sua concentração é muito menor (10% ou menos) do que a do hCG-intacto. Os níveis circulantes do hCG aumentam rapidamente 4 semanas após a implantação, dobram seus valores após 2-3 dias, atingem um pico entre 8 e 12 semanas e, depois da queda, se nivelam até o termo. A função primária do hCG, biologicamente similar ao LH, é suportar o corpo lúteo no início da gravidez. O hCG também é provavelmente responsável pela produção de testosterona no testículo fetal, assim como estimula a zona fetal da córtice suprarrenal. Lactogênio placentário humano O lactogênio placentário humano (hPL), também denominado somatomamotrofina coriônica humana (hCS), é um polipeptídio, membro da família gênica do hormônio do crescimento/prolactina, com 96% de homologia com o hormônio de crescimento humano (hCG) e 67% com a prolactina (PRL). A despeito de sua homologia ao GH e à PRL, o hPL tem atividade lactogênica e no crescimento muito reduzida, e na espécie humana parece se constituir em redundância evolucionária do GH e da PRL. O hPL é produzido pelo sinciciotrofoblasto e pode ser detectado no plasma materno com 3 semanas de gestação, crescendo sua concentração até o termo, quando atinge níveis de 10-16 µg/ml. É o maior produto secretado pela placenta, atingindo a produção de 1 g/dia no termo. O hPL pode modular o metabolismo materno e o fetal ao agir no fígado de ambos os organismos, assim como em outros tecidos. O hPL funciona como antagonista da insulina, induzindo resistência periférica a esse hormônio, e do mesmo passo aumenta a lipólise e a proteólise da mãe, promovendo fonte adicional de glicose e de aminoácidos para serem transportados para o feto. Hormônio do crescimento placentário humano e fator de crescimento insulina-like 1 Durante o 1º trimestre da gravidez o hormônio do crescimento humano (hGH) hipofisário é secretado de forma pulsátil. O hormônio do crescimento (GH) placentário humano começa a crescer depois que o hipofisário decresce; o GH placentário humano, ao revés do hipofisário, é secretado de forma constante. Parece que o GH placentário humano tem como função estimular a produção de fator de crescimento insulina-like 1 (IGF-1), que, por sua vez, suprime o hGH hipofisário na 2ª metade da gravidez. O IGF-1 tem importante papel modulador no crescimento fetal. A placenta sintetiza os IGF-1 e -2; o IGF-1 está localizado principalmente no sinciciotrofoblasto. Os IGF aumentam o transporte de aminoácidos e de glicose e por isso desempenham papel relevante no crescimento fetal. Relaxina A relaxina é hormônio peptídio que pertence à família da insulina. É produzida pelo corpo lúteo, placenta, decídua. Durante a gravidez toda a relaxina circulante na mãe parece ser originada do corpo lúteo. Entre as atividades biológicas da relaxina destacam-se: remodelação do colágeno e amolecimento da cérvice materna e do sistema reprodutivo inferior, inibição da contratilidade uterina. Todavia, a relaxina circulante não demonstra ser necessária para a manutenção da gravidez ou do parto normal. Hormônios neuropeptídicos A placenta humana produz diversos neuropeptídios similares àqueles elaborados pelo hipotálamo. Por analogia com o sistema hipotálamo-hipofisário sugere -se que a célula citotrofoblástica corresponda ao local da síntese dos neuropeptídios, enquanto o sinciciotrofoblasto elabore o hormônio proteico. Hormônio liberador da gonadotrofina Secretado pelo citotrofoblasto, estimula o sincício a produzir hCG e esteroides que por sua vez inibem a sua produção por feedback negativo. Hormônio liberador da corticotrofina O hormônio liberador da corticotrofina (CRH), um neurormônio hipotalâmico que modula a função hipofisária e suprarrenal (eixo hipotálamo-hipófise-suprarrenal), é produzido pela placenta. O CRH pode ser detectado no plasma materno com 20 semanas da gestação, os seus níveis aumentam nas fases finais da prenhez, com acréscimo rápido nas semanas que precedem o parto. É também relatado que os níveis de CRH crescem precocemente na gravidez complicada pelo parto pré-termo. Todos esses dados sugerem que o CRH placentário possa estar envolvido no determinismo do parto e que o "relógio placentário" controla a duração da gravidez humana. Ativina e inibina A ativina e a inibina são membros da superfamília de glicoproteínas do fator de crescimento transformador- β (TGF-β). A placenta sintetiza tanto a inibina como a ativina. O citotrofoblasto sintetiza a subunidade alfa, enquanto o sinciciotrofoblasto elabora a subunidade βB. A subunidade βA é sintetizada tanto pelo cito- como pelo sinciciotrofoblasto. A ativina circula no sangue materno ligada à proteína folistatina. A ativina no sangue materno aumenta a sua concentração significativamente após 20 semanas, mas a grande elevação ocorre antes do início do parto, de termo ou de pré-termo. Seu papel no início da parturição humana por estimulação da produção de prostaglandinas pelas membranas fetais é aventado. A inibina e a ativina também exercem funções parácrinas na placenta. Enquanto a inibina susta a estimulação do GnRH no sinciciotrofoblasto para a produção de hCG, a ativina potencializa a secreção de hCG GnRH- estimulada. A ativina parece aumentar a liberação de hCG e de progesterona, enquanto a inibina exerce efeito contrário sobre esses hormônios. Esses eventos regulatórios parecem ser paralelos àqueles da hipófise, onde a ativina promove a liberação do FSH, enquanto a inibina apresenta efeito contrário. Tireoide As alterações fisiológicas da gravidez determinam aumento de 40-100% na produção dos hormônios tireoidianos para atender as necessidades maternas e fetais. Anatomicamente, a tireoide sofre moderado aumento de volume de 10-20% causado por hiperplasia e maior vascularidade. Não há bócio, pois esse aumento é fisiológico. Iniciando no 1º trimestre e mercê da ação dos estrogênios, a principal proteína carreadora – a globulina de ligação da tireoxina (TBG), aumenta, alcança seu máximo com 20 semanas e depois se estabiliza com valores o dobro do basal por toda a gravidez. A tireoxina-total (T4 total) cresce acentuadamente entre 6 e 9 semanas e se estabiliza com 18 semanas. Os níveis de T 4 livre no plasma crescem ligeiramente coincidindo com o pico do hCG e depois retornam ao normal. O hCG, através da sua subunidade
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