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- MODIFICAÇÕES DO ORGANISMO MATERNO As alterações fisiológicas observadas na gestação são decorrentes, principalmente, de fatores hormonais e mecânicos, e os ajustes verificados no organismo da mulher devem ser considerados normais durante o estado gravídico, embora possam determinar pequenos sintomas que afetam a saúde da paciente. Modificações sistêmicas: → Postura e deambulação: ➢ Verifica-se alteração postural antes mesmo da expansão de volume do útero ➢ Quando a matriz evadida da pelve apoia-se à parede abdominal, e as mamas, dilatadas e engrandecidas, pesam no tórax, o centro de gravidade desvia-se para frente, e todo o corpo, em compensação, projeta-se para trás (a atitude adotada é a de quem carrega objeto pesado com as duas mãos, à frente do abdome) ➢ É mais nítido quando a gestante está de pé, pois, para manter o equilíbrio, empina o ventre, provocando a lordose da coluna lombar ➢ Grupamentos musculares que não costumam ter função nítida ou constante passam a atuar, estirando-se e contraindo-se, e sua fadiga responde pelas dores cervicais e lombares, uma queixa comum ➢ As articulações apresentam maior mobilidade durante a gestação, notadamente as sacroilíacas e a sínfise pubiana. Atribui-se à relaxina, secretada pela placenta, a frouxidão dos ligamentos, especialmente da sínfise pubiana (pode alargar ± 4 mm nas primíparas e 4,5 mm nas multíparas) → Metabolismo: ➢ Metabolismo glicídico: ▪ Como há o feto, consumidor de glicose, a mãe vê-se submetida à permanente demanda de glicose. Diante de período prolongado de jejum, o feto continua a extrair glicose e aminoácidos da gestante, em taxas idênticas às observadas nos períodos de alimentação (parasitismo verdadeiro); ▪ A fim de prover suprimento ininterrupto de glicose e de aminoácidos para o feto, a gestante faz ajustes importantes: não consome mais indiscriminadamente a glicose e, à medida que a gravidez se desenvolve, seu uso periférico diminui, graças aos hormônios contrainsulares pela placenta ➢ A glicose é transferida rapidamente ao feto por difusão facilitada, embora seja pequeno o gradiente de concentração ➢ O consumo contínuo de glicose pelo feto e seu rápido transporte pela placenta influenciam profundamente o metabolismo dos carboidratos na gestante. ➢ Durante a gravidez registra-se aumento na resistência à insulina ao final do 2º trimestre, podendo chegar a aproximadamente 80% no termo ▪ Níveis elevados de hormônio lactogênio placentário humano (hPL), hormônio do crescimento placentário humano (hPGH) e adipocinas (leptina, adiponectina, TNF-α, IL-6) estão implicados no processo. Os níveis de hPL elevam-se rapidamente no 1º e no 2º trimestre e alcançam o seu máximo nas últimas 4 semanas da gravidez. O efeito diabetogênico do hPL resulta na mobilização de lipídios na forma de ácidos graxos livres (esses AGL servem como fonte de energia, poupando glicose e aminoácidos, que estarão disponíveis para o feto). ▪ No 3o trimestre, após a administração de glicose, observa-se hiperinsulinismo pós-prandial, em função dos fatores contrainsulares. ▪ O efeito inibitório da insulina na lipólise é significativamente reduzido durante o 3o trimestre quando comparado ao de outras fases do ciclo gestatório. ➢ Metabolismo lipídico: ➢ Quantitativamente, glicose e aminoácidos são os nutrientes mais abundantes que atravessam a placenta, e a dependência do feto a essas substâncias é bem conhecida. Todavia, a placenta é praticamente impermeável aos lipídios, exceto aos AGL e aos corpos cetônicos ➢ Duas alterações consistentes no metabolismo materno durante a gestação são o acúmulo de lipídios nos tecidos da gestante e a hiperlipidemia gestacional. ➢ Metabolismo do tecido adiposo materno: ▪ O aumento do peso materno durante a gestação corresponde ao crescimento da unidade fetoplacentária e ao acúmulo dos seus próprios tecidos, especialmente o relacionado com a elevação de lipídios nos depósitos de gordura. Esse fenômeno, ocorre durante os primeiros 2/3 da gestação e é o principal responsável pelo acréscimo de peso materno, excluindo o do feto, e parece estar diretamente relacionado com a hiperfagia ▪ Esse aumento nos depósitos de gordura maternos é decorrente da lipogênese aumentada; elevação na síntese de ácidos graxos e glicerol, indicando que a formação dos triglicerídios está exaltada. ▪ A tendência de acumular gordura cessa durante o último trimestre da gravidez, quando o metabolismo lipídico transmuda-se para estado catabólico, em virtude de diversas alterações coincidentes que ocorrem no tecido adiposo, como: • O aumento desacelerado da atividade lipogênica • A atividade lipolítica torna-se exaltada talvez comandada pelo hPL por sua ação similar à do hormônio do crescimento ▪ O aumento da atividade lipolítica do tecido adiposo eleva a liberação de AGL e de glicerol na circulação materna, a transferência placentária desses dois produtos lipolíticos é baixa, e o fígado materno é o principal receptor ▪ Após serem convertidos no fígado em suas respectivas formas ativas, AGL em acil-CoA e glicerol em glicerol-3-fosfato, eles podem ser usados para a esterificação, na síntese dos triglicerídios, para a produção de corpos cetônicos, por meio do AGL, ou para a formação de glicose no que concerne ao glicerol. ▪ Ao fim da gestação, a transferência aumentada de AGL e de glicerol ao fígado em decorrência da lipólise nos tecidos adiposos justifica a exaltada esterificação e a subsequente liberação hepática na forma de triglicerídios da lipoproteína de muito baixa densidade (VLDL). ▪ A síntese de corpos cetônicos torna-se altamente incrementada durante o final da gestação sob condições de jejum, e o uso desses produtos pelos tecidos maternos reduz o consumo de glicose, que fica disponível de ser transferida para o feto. ▪ Ao fim da gravidez, a gliconeogênese a partir do glicerol está aumentada, poupando aquela proveniente dos aminoácidos que são transportados para o feto. Conclui-se que o feto se beneficia dos produtos finais do metabolismo decorrente da atividade lipolítica do tecido adiposo materno ▪ Os corpos cetônicos cruzam livremente a placenta e podem ser usados como combustível fetal ou mesmo como substratos para a síntese de lipídios no cérebro ▪ Finalmente, a atividade lipolítica intensa do tecido adiposo durante o final da gestação também favorece os tecidos maternos, pois nesse estágio o uso periférico de glicose é bastante diminuído pela resistência à insulina, e os produtos lipolíticos podem ser empregados como combustíveis alternativos, poupando a glicose. ➢ Hiperlipidemia materna: ▪ Durante a gravidez há aumento constante nos triglicerídios plasmáticos e pequeno acréscimo no colesterol ▪ Essa hiperlipidemia corresponde ao enriquecimento proporcional de triglicerídios nas frações lipoproteicas, mesmo naquelas que os transportam em baixas concentrações, tais como a lipoproteína de baixa densidade (LDL) e a lipoproteína de alta densidade (HDL). O maior acúmulo absoluto nos triglicerídios no plasma corresponde ao VLDL. • Essas lipoproteínas atuam no fígado, e os triglicerídios que elas carregam são derivados do AGL e do glicerol, que também são sintetizados no próprio órgão ou o alcançam pela circulação, na qual são liberados pela lipólise do tecido adiposo, que está muito aumentada no final da gestação. ▪ A produção acentuada dos triglicerídios VLDL e sua remoção diminuída da circulação em decorrência da menor atividade da lipoproteína lipase (LPL) no tecido adiposo são os principais responsáveis pelo aumento dos triglicerídios VLDL durante a gestação. A abundância de triglicerídios VLDL no plasma materno, entre outros fatores, contribui para o acúmulo de triglicerídios nas outras lipoproteínas • Um desses fatores é o aumento da atividade da proteína de transferência do éster de colesterol (CETP), que catalisa a transferência de triglicerídios do VLDL para as lipoproteínas pobresnesses lipídios, LDL e HDL, enquanto a de éster de colesterol ocorre no sentido contrário. Outro fator contribuinte para o mesmo efeito é a diminuição da atividade da lipase hepática (HL) que controla a conversão do HDL ao fim da gestação. ➢ Benefícios da hipertrigliceridemia materna para o feto *Os triglicerídios não cruzam a barreira placentária* ▪ Sob condições de jejum, o fígado materno mostra aumento da atividade da LPL, tornando-se um órgão receptor de triglicerídios circulantes, usados como substrato para a síntese de corpos cetônicos, e esses compostos rapidamente difundem-se pela placenta e são usados pelo feto ▪ A atividade da lipase na placenta torna disponíveis para o feto os ácidos graxos essenciais provenientes dos triglicerídios maternos. A lipase da placenta hidrolisa os triglicerídios maternos, e os AGL liberados podem alcançar o feto para serem reconvertidos em triglicerídios ▪ A indução da LPL nas mamas por volta do parto dirige triglicerídios circulantes para essa glândula, visando à produção de leite. Por esse mecanismo, ácidos graxos essenciais da dieta materna que circulam na forma de triglicerídios podem se tornar disponíveis para o lactente. ➢ Ácidos graxos essenciais ▪ Os ácidos graxos essenciais (AGE) referem-se a lipídios que não podem ser sintetizados pelo organismo e devem provir da alimentação: ácido linolênico (ômega-3) e ácido linoleico (ômega-6); ▪ As duas famílias de ácidos graxos essenciais – ômega-3 e ômega-6 – são requeridas para funções fisiológicas, incluindo transporte de oxigênio, armazenamento de energia, atuação na membrana celular e regulação da inflamação e da proliferação celular ▪ Na gravidez, os AGE são necessários para o desenvolvimento da unidade fetoplacentária no início da gestação, e o ácido docosaexanoico (DHA) (ômega-3 derivado de peixe marinho) é vital para a homeostase materna, assim como o desenvolvimento do cérebro e da retina fetal durante todo o 3º trimestre ▪ Os AGE são benéficos para a mãe, prevenindo doenças cardiovasculares, câncer de colo e doenças imunológicas, e são indispensáveis para o desenvolvimento cerebral e visual do concepto. ▪ Os ácidos ômega-3 e ômega-6 são precursores dos ácidos graxos poli-insaturados de cadeia longa (AGPICL): ácido araquidônico, da série ômega-6; ácido eicosapentanoico (EPA) e ácido docosaexanoico (DHA), da série ômega-3. ▪ O feto não é capaz de sintetizar os AGPICL por meio dos seus precursores ômega-3 e ômega- 6, sendo suas necessidades supridas pela placenta e pelas reservas tissulares da mãe, principalmente do tecido adiposo. ▪ As principais fontes de ômega-3 são peixes gordurosos de água fria (salmão, atum), truta, sardinha, ostra, mariscos, óleos de linhaça e de canola, nozes e rúcula. ➢ Metabolismo proteico: ➢ A concentração da maioria dos aminoácidos está reduzida na gravidez ➢ As proteínas totais, embora aumentem em valores absolutos pela hemodiluição plasmática, têm concentração diminuída. As de albumina sofrem redução nítida, enquanto é menor a queda das gamaglobulinas e se registra ascensão dos teores de alfa- e betaglobulinas e de fibrinogênio. ➢ Metabolismo hidroeletrolítico: ➢ Uma das alterações sistêmicas mais notáveis observadas na gravidez é a retenção de líquido intra e extracelular, especialmente responsável pelo aumento do volume plasmático. Essa alteração hidreletrolítica é decisiva para que ocorram outras modificações importantes, como o aumento do débito cardíaco e o do fluxo plasmático renal. ▪ Nos exames hematológicos na gravidez é possível observar a consequência direta do acúmulo do volume plasmático. O acréscimo do volume plasmático é maior na gravidez gemelar e menor naquela complicada pelo crescimento intrauterino restrito (CIR) e pela pré- eclâmpsia ➢ O provável mecanismo para essa adaptação é a retenção de sódio, determinada principalmente pela maior secreção de aldosterona pela suprarrenal, a despeito do efeito natriurético da progesterona. Para se conservar o sódio, quando a taxa de filtração glomerular aumenta em torno de 50%, durante a gravidez ativa-se o mecanismo compensatório representado pelo sistema renina-angiotensina ▪ A renina é elaborada pelo aparelho justaglomerular renal e age estimulando a secreção de aldosterona pelo córtex suprarrenal, via angiotensina. A aldosterona é responsável pelo aumento da reabsorção tubular de sódio, preservando a homeoestase materna. Essa situação hormonal pode ser chamada de hiperaldosteronismo secundário da gravidez. ➢ Na verdade, a concentração plasmática de sódio encontra-se ligeiramente diminuída na gestação, assim como a osmolaridade total. A gestante parece aceitar esse nível de osmolaridade, sem elevar a diurese. ➢ Por outro lado, o limiar de sede na gravidez está alterado de tal maneira que a gestante sente vontade de ingerir líquido com nível mais baixo de osmolaridade do que a não gestante ➢ Do mesmo modo, há redução acentuada da pressão oncótica (pressão coloidosmótica), determinada principalmente pela queda de cerca de 20% na concentração de albumina plasmática. Assim, a diminuição da pressão oncótica do plasma é responsável pelo aumento da taxa de filtração glomerular renal (TFG) observada na gravidez, além de contribuir para o desenvolvimento do edema periférico, trivial até mesmo na gravidez normal. ➢ Em resumo, os fatores responsáveis pela retenção de líquido estão descritos a seguir: ▪ Retenção de sódio ▪ Novo nível de osmolaridade ▪ Diminuição do limiar da sede ▪ Redução da pressão oncótica. ▪ As consequências da retenção de líquido são: ▪ Redução na concentração de hemoglobina ▪ Redução do hematócrito ▪ Diminuição da concentração de albumina ▪ Aumento do débito cardíaco ▪ Elevação do fluxo plasmático renal ▪ Edema periférico ➢ Metabolismo do Cálcio: ➢ O nível de cálcio no soro é rigorosamente regulado e mantido nos limites normais pelo hormônio da paratireoide ou paratormônio (PTH) e pela vitamina D ▪ O precursor da vitamina D na pele é o 7-deidrocolesterol, que, sob a ação dos raios ultravioleta solares, transforma-se no colecalciferol (pré-vitamina D3), também encontrado em alimentos e suplementos. O colecalciferol sofre duas hidroxilações no organismo: uma 25-hidroxilação no fígado (calcidiol) e outra 1-hidroxilação no rim (calcitriol ou 1-25-di- hidroxicolecalciferol), constituindo a vitamina D3 ativada, responsável por suas ações biológicas. A vitamina D2 é o ergocalciferol sintetizado no laboratório. ▪ Estimulado pela hipocalcemia e inibido pela hipercalcemia, o PTH influencia o metabolismo do cálcio diretamente pela reabsorção óssea e pela formação de vitamina D3. ➢ Na gravidez, uma grande quantidade de cálcio (e de fósforo) é transferida contra o gradiente de concentração da mãe para o feto (transporte ativo), com acúmulo de 25 a 30 g de cálcio no termo. Para tanto, a absorção de cálcio no intestino dobra na gravidez, consequência também do nível duplamente elevado de vitamina D3 de origem placentária e materna renal ➢ O nível de PTH no soro diminui na gestação, o que é compensado pelo acréscimo do peptídio relacionado com o PTH (PTHrP) de origem fetal e placentária. O PTHrP elevado na gravidez, produzido pela paratireoide fetal e pela placenta, contribui para o aumento da vitamina D3, o decréscimo da concentração de PTH e a regulação do transporte transplacentário da mãe para o feto. ➢ O transporte de cálcio pelo trofoblasto também depende do aumento da concentração da proteína de ligação ao cálcio, que atinge máxima concentração no 3º trimestre, quando é marcante o crescimento fetal. ▪ A calcitonina é um hormônio peptídico de 32 aminoácidos elaborado pelas células parafoliculares da tireoide. A calcitonina age como antagonista fisiológico de PTH, impedindo que o cálcio eleve-se acima dos níveis normais ➢ Durante a lactação, a perda diária de cálcio pelo leite é de 220 a 340 mg. Os níveis de PTHrP de origem mamária estão significativamenteelevados na lactante e são responsáveis pela desmineralização do seu esqueleto, por estímulo à reabsorção tubular renal de cálcio e por supressão do PTH → Sistema cardiovascular ➢ As principais alterações hemodinâmicas registradas na gravidez incluem o aumento do débito cardíaco e do volume sanguíneo (por causa, principalmente, do volume plasmático), e a redução da resistência vascular periférica e da pressão sanguínea ➢ Essas alterações já aparentes no início da gravidez alcançam o seu máximo no 3º trimestre (28 a 32 semanas) e permanecem relativamente constantes até o parto. Elas contribuem para o ótimo crescimento e desenvolvimento do feto e protegem a mãe das perdas fisiológicas de sangue no parto. ➢ O início da gravidez é caracterizado por vasodilatação periférica, provavelmente consequência do aumento de óxido nítrico (fator vasoativo, relaxante, elaborado pelo endotélio vascular) ➢ O acréscimo significativo da frequência cardíaca pode ser observado na gestação de 5 semanas, e isso contribui para a elevação do débito cardíaco (débito cardíaco = volume sistólico × frequência cardíaca). Todavia, a elevação do volume sistólico é observada apenas várias semanas depois, possivelmente pela expansão do volume plasmático. ▪ A elevação progressiva na frequência cardíaca materna prossegue até 28 a 32 semanas, com um acréscimo de 10 a 15 bpm (10 a 20%), se comparado ao ritmo existente fora da gravidez ▪ Graças à expansão do volume plasmático, o débito cardíaco, que em média era de 5L/min fora gravidez, eleva-se para aproximadamente 7L/min em torno de 28 a 32 semanas da gestação (acréscimo de 40 a 50%), estabilizando-se até o parto ➢ A partir de 20 semanas de gestação, o útero gravídico impede o retorno venoso ao coração, quando a gestante assume a posição supina pela compressão da veia cava inferior. Consequentemente, muitas mulheres sofrem a chamada síndrome de hipotensão supina, chegando a apresentar, por vezes, perda da consciência ▪ Ao se adotar o decúbito lateral esquerdo, o débito cardíaco é restaurado quase automaticamente. ➢ A despeito do aumento acentuado do volume sanguíneo e do débito cardíaco, há redução da pressão arterial em virtude do decréscimo da resistência vascular periférica. A pressão arterial sistólica e a diastólica estão diminuídas de 5 a 10 mmHg no 2º trimestre, atingindo valores médios de 105/60 mmHg. No 3º trimestre, a pressão eleva-se e normaliza-se no termo ➢ A pressão venosa nos membros inferiores aumenta cerca de três vezes, em virtude da compressão que o útero determina nas veias pélvicas, em particular na posição de pé, parada, quando há maior aprisionamento de sangue nas pernas e nas coxas. Há, na gravidez, tendência à hipotensão, lipotimia ortostática, edema dos membros inferiores, varicosidades e hemorroidas. ➢ Alterações hemodinâmicas também ocorrem durante o parto, quando cada contração uterina leva à autotransfusão de 300 a 500 mℓ de sangue de volta para o sistema circulatório. O débito cardíaco aumenta cerca de 35% durante as contrações e 10% nos intervalos. No período expulsivo, por ocasião dos puxos, o débito cardíaco aumenta ainda mais, cerca de 50%. A resposta simpática à dor e à ansiedade durante o parto causa maior elevação na frequência cardíaca e na pressão arterial. ➢ No pós-parto imediato, o útero contrai-se firmemente, e mais uma vez há autotransfusão sanguínea (aproximadamente 300 mℓ), que aumenta o débito cardíaco em 60 a 80%. De fato, a partir de 6 a 8 semanas de pós-parto o débito cardíaco reassume seus valores não gravídicos. ➢ Constituem as alterações cardiovasculares mais relevantes: ▪ Aumento da frequência cardíaca (10 a 20%) ▪ Aumento do volume sistólico (10%) ▪ Aumento do débito cardíaco (40 a 50%) ▪ Diminuição da pressão arterial média (10%) ▪ Diminuição da resistência vascular periférica (35%) → Sistema sanguíneo ➢ A marcante alteração no volume plasmático observada na gravidez normal causa diluição da maioria dos fatores circulantes, principalmente a das hemácias. ➢ Embora esteja elevada na gravidez, a produção de hemácias é ofuscada pela elevação de 40% do volume plasmático. Assim, os índices hematológicos que dependem do volume plasmático tendem a decrescer: contagem de hemácias, hematócrito, concentração de hemoglobina. ➢ A concentração de hemoglobina reduz de 13 g/dℓ (valor médio não gravídico), para 11 g/dℓ no 1o trimestre e 10,5 g/dℓ, no 2o/3o trimestre da gravidez. É a clássica anemia fisiológica da gravidez, confundida frequentemente com a anemia ferropriva. ➢ A gravidez impõe solicitações acentuadas no sistema hematológico materno, tendo o ferro expressão maior na síntese da hemoglobina. Assim, na gravidez, deve-se contabilizar a quantidade de ferro que o feto a termo necessita (na ordem de 300 mg) mais o indispensável para o acréscimo da eritropoese materna e a prevenção da anemia consequente às perdas hemorrágicas do parto. ➢ Durante a gravidez, as necessidades de ácido fólico estão aumentadas de 50 para 400 mg por dia. Pesquisas comprovam que a suplementação de ácido fólico (0,4 mg/dia) 1 mês antes da gravidez e no 1o trimestre reduz expressivamente os defeitos do tubo neural (DTN) e outras malformações. A suplementação universal de ácido fólico também é proposta para prevenir a anemia megaloblástica. ➢ Ao contrário das hemácias, os leucócitos têm a sua concentração ampliada na gestação, podendo alcançar, no termo, até 20 mil/mm3. A concentração de plaquetas exibe, por outro lado, pequeno decréscimo, registra-se trombocitopenia gestacional, no 3o trimestre, com níveis de 80 a 150 mil/mm3. ➢ Também ocorrem alterações importantes na coagulação sanguínea durante a gravidez e elas são caracterizadas por estado de hipercoagulabilidade. Ocorre aumento significante de diversos fatores de coagulação, notadamente do fibrinogênio e redução da atividade fibrinolítica. Essas modificações são responsáveis pela hemostasia fisiológica ao tempo da separação da placenta no secundamento (quase imediatamente, há depósito de fibrina na ferida placentária, consumindo 5 a 10% de todo o fibrinogênio circulante). ➢ Essa hipercoagulabilidade fisiológica da gravidez, em contrapartida, é responsável pelo risco aumentado de trombose que a grávida apresenta. ➢ As principais alterações hematológicas ocorridas na gestação são listadas a seguir: ▪ Diminuição: do número de hemácias, da concentração de hemoglobina e de hematócrito ▪ Aumento: de leucócitos e da concentração de fibrinogênio. → Sistema urinário ➢ Mudanças anatômicas: ▪ Os rins deslocam-se para cima pelo aumento do volume uterino e aumentam em tamanho cerca de 1 cm em virtude do acréscimo do volume vascular renal e do espaço intersticial ▪ Há a dilatação da porção superior do trato urinário que ocorre a partir de 7 semanas e pode persistir até 6 semanas do pós-parto. Considera-se que essa hidronefrose fisiológica resulte tanto de fatores hormonais quanto mecânicos. • O útero comprime os ureteres, enquanto a progesterona inibe a musculatura lisa ureteral, determinando ureteroectasia. A dilatação ureteral é mais pronunciada à direita em virtude da dextrorrotação uterina, estando o ureter esquerdo relativamente protegido pela sigmoide ▪ A dilatação do sistema urinário superior pode aumentar a estase urinária, predispondo a gestante a infecções urinárias, pielonefrite. ▪ No sistema urinário inferior, a bexiga é deslocada anteriormente, com expansão lateral, além disso, os níveis circulantes elevados de estrogênios determinam hiperemia e congestão da mucosa uretral e vesical. Também há redução da resposta contrátil do colo vesical a estímulos alfa-adrenérgicos e diminuição do suporte pélvico da parede vaginal anterior e da uretra, alterações que podem contribuir para a incidência elevada de incontinência urinária na gravidez ➢ Modificações fisiológicas: ▪ Com o aumento do débito cardíaco e a diminuição da resistência vascular sistêmica observados na gestação,há concomitante aumento do fluxo plasmático renal e da TFG (taxa de filtração glomerular) ▪ A elevação da TFG resulta em diminuição da creatinina plasmática, isso causa repercussões importantes, uma vez que a excreção renal de determinados medicamentos pode estar alterada e os valores de creatinina no soro indicativos de insuficiência renal podem ser mais baixos ▪ A concentração de ácido úrico decai no 1º trimestre da gravidez, devido à ação uricosúrica dos estrogênios e do aumento da TFG; eleva-se depois, a partir do 3º trimestre ▪ A hipercalciúria também é comum na gravidez pelo aumento da absorção do cálcio intestinal. Todavia, a taxa de formação de cálculos renais permanece inalterada, à medida que fatores inibidores na sua produção, como citrato, magnésio e glicoproteínas, também estão aumentados. ▪ A glicosúria é fisiológica na gravidez e se deve ao aumento da TFG que excede o limite da reabsorção tubular da glicose. Desse modo, não é indicativa de diabetes na gestação, assim como não serve para o seu rastreamento. Igualmente, a proteinúria (microalbuminúria) é fisiológica na gravidez; ▪ A despeito do enorme trabalho urinário na gravidez, o volume urinário não está maior. Até 80% da urina filtrada é absorvida nos túbulos proximais. A frequência urinária decorre da compressão do útero gravídico na bexiga. ▪ Por fim, entram em jogo os mecanismos compensatórios (sistema renina-angiotensina) responsáveis pela retenção de sódio observada na gravidez. → Sistema respiratório: ➢ A expansão do volume sanguíneo e a vasodilatação da gravidez resultam em hiperemia e edema da mucosa do sistema respiratório superior. Essas alterações predispõem a gestante a congestão nasal, epistaxe e até mesmo alterações da voz ➢ Alterações marcantes na caixa torácica e no diafragma: ▪ Com o relaxamento dos ligamentos das costelas, o ângulo subcostal aumenta de 68 para 103° ▪ Os diâmetros anteroposterior e transverso do tórax aumentam 2 cm cada um, resultando na expansão da circunferência torácica de 5 a 7 cm ▪ Embora o diafragma eleve-se aproximadamente 4 cm pelo aumento do útero gravídico, sua função não se mostra comprometida; na verdade, sua excursão está incrementada de 1 a 2 cm. A complacência da parede torácica, todavia, diminui com o evoluir da gestação, aumentando o trabalho da respiração. ➢ Já no 1o trimestre da gestação o volume-minuto, produto do volume-corrente pela frequência respiratória, aumenta 30 a 40%, refletindo a elevação do volume-corrente, pois a frequência respiratória não se altera. A expansão da caixa torácica e o aumento do estímulo respiratório criam o volume-corrente elevado; ➢ A progesterona parece desempenhar papel fundamental no estímulo do centro respiratório no sistema nervoso central. ➢ Pela elevação da cúpula do diafragma estão diminuídos o volume de reserva expiratório e o volume residual em cerca de 20%, o que se reflete na capacidade residual funcional, também reduzida ➢ A hiperventilação da gravidez facilita as trocas gasosas nos pulmões ▪ Tanto o PO2 no ar alveolar quanto no sangue arterial elevam-se ▪ O consumo de oxigênio aumenta de 15 a 20% para fazer frente à massa materno-fetal adicional e ao trabalho cardiorrespiratório da gestação ▪ Há diminuição do PCO2, que é compensada pelo aumento da excreção urinária de bicarbonato, cuja concentração diminui no plasma; por isso, o pH arterial não sofre alteração significativa, caracterizando a alcalose respiratória compensada ➢ Cerca de 60 a 70% das gestantes livres de doença respiratória experimentam dispneia (não é provável qualquer papel determinante do útero aumentado de tamanho) ▪ A dispneia parece decorrer da percepção da paciente à hiperventilação da gravidez. ▪ Em decorrência do aumento do consumo de oxigênio materno e da diminuição da capacidade residual funcional, gestantes com asma, pneumonia ou outras doenças respiratórias estão mais suscetíveis à descompensação rápida. ➢ A resolução das alterações respiratórias induzidas pela gravidez começa 24 a 48 h após o parto e se completa com 7 semanas do puerpério. ➢ Portanto, as principais modificações respiratórias são: ▪ Frequência respiratória sem alteração ▪ Volume-corrente e volume-minuto aumentados cerca de 30 a 40% ▪ Capacidade residual funcional diminuída em 20% ▪ Hiperventilação fisiológica ▪ Dispneia (em 60 a 70% das gestantes) → Sistema digestório ➢ No 1º trimestre é frequente a ocorrência de náuseas e vômitos (50 a 90%), levando, em geral, à anorexia, embora uma quantidade equivalente de mulheres relate melhora no apetite e uma parcela considerável admita desejos por certos alimentos ➢ A base fisiológica das náuseas, que tendem a ocorrer pela manhã, é desconhecida, embora possa estar relacionada com níveis crescentes de gonadotrofina coriônica humana (hCG) e de estrogênios. ➢ As gengivas estão comumente edemaciadas, hiperêmicas, e sangram com facilidade ➢ Não se identificou, contudo, tendência para o aparecimento de cáries dentárias na gestação, nem que a hiperêmese gravídica e o vômito matinal, e consequente queda no pH bucal, aumentariam o risco de cáries. ➢ Durante os dois primeiros trimestres há redução na secreção gástrica de ácidos, explicando a incidência reduzida de úlcera péptica e a remissão das preexistentes. ➢ O sistema gastrintestinal permanece atônico durante toda a gestação ▪ Os fatores determinantes são hormonais, os mesmos que relaxam a musculatura de artérias, veias e ureteres ▪ Uma consequência imediata é a alta incidência de pirose, combinação do relaxamento do esfíncter gastresofágico ao aumento de pressão intra-abdominal, esta última condicionada pelo útero gravídico. ▪ A atonia do cólon explica a grande frequência da constipação intestinal. ▪ A vesícula fica hipotônica, distendida, com bile viscosa e com grande tendência de formar cálculo. → Sistema endócrino ➢ Tireóide: ▪ O volume da tireoide materna chega a aumentar 30% no 3º trimestre, em decorrência da hiperplasia e da maior vascularidade. Não se trata de bócio, pois esse aumento é fisiológico. ▪ Os níveis da tireoxina total (T4T) aumentam 1,5 vez até 16 semanas da gravidez, momento em que se estabilizam devido à elevação da globulina de ligação da tireoxina (TBG) estimulada pelos estrogênios, com 99,7% do T4 ligados à TBG. ▪ A tireotrofina (TSH) apresenta níveis diminuídos nas primeiras 12 semanas da gravidez em virtude da menor estimulação dos receptores de TSH causada pela substancial quantidade de gonadotrofina coriônica humana (hCG) • Após o 1º trimestre, os níveis de TSH retornam aos seus valores basais. ▪ O hCG elevado no 1º trimestre tem ação tireotrófica e estimula a produção materna da tireoxina livre (T4 L) que, por sua vez, inibe a secreção do TSH. • No 2º trimestre, e em especial no 3º, os níveis de T4 L são significativamente mais baixos • O aumento da TBG concorre também para a diminuição dos hormônios tireoidianos livres (T4,T3) ▪ A última série de eventos desenrola-se no metabolismo periférico dos hormônios da tireoide e é mais proeminente na segunda metade da gestação. Existem três enzimas deiodinases nos tecidos, nomeadas como tipo I, II e III. As enzimas tipo I não se modificam significativamente. As tipo II, expressas na placenta, convertem T4 em tri-iodotironina (T3). As últimas (tipo III), também abundantes na placenta, catalisam T4 em T3 reversa (T3r). ➢ Função da tireóide e do feto: ▪ Importante para o desenvolvimento normal do cérebro fetal, o T4 L materno é transferido para o concepto durante toda a gravidez. Ele é especialmente relevante antes que a tireoide fetal comece a concentrar iodo e sintetizar o hormônio da tireoide, o que ocorre aproximadamente com 12 semanas de gravidez. → Pele e fâneros ➢ Cerca de 50% das gestantes exibem estrias no abdome no decurso do último trimestre, por vezes encontradas também nos seios (estrias gravídicas). Inicialmente vermelhas, mais tarde tornam-se brancasou nacaradas, persistindo indelevelmente ➢ Há aumento na pigmentação da linha alva do abdome inferior (linea nigra), da vulva, das aréolas mamárias e da face (cloasma) ➢ É comum o aparecimento de telangiectasias (vasos dilatados), relacionadas com os altos níveis estrogênicos ➢ É provável que o hormônio melanotrófico da hipófise atue também sobre os melanoblastos epidérmicos, acentuando a pigmentação, e o sistema nervoso autônomo influencie a formação do pigmento nas gestantes ➢ A hipertricose é um fenômeno fisiológico durante a gravidez (pelos na face e em outras regiões, crescimento mais acentuado dos cabelos), com unhas muito quebradiças e surgimento de eritema palmar e hipertrofia das glândulas sudoríparas e sebáceas. → Orgãos genitais ➢ Vulva e vagina: ▪ Sob a influência dos estrogênios, o epitélio vaginal espessa-se durante a gravidez e há aumento da sua descamação, o que resulta maior secreção vaginal (de pH mais ácido do que o comum na mulher não gestante, para proteger contra a infecção ascendente). ▪ A vagina também aumenta a sua vascularização com a gravidez. ▪ A vulva e a vagina tumefazem-se, experimentam amolecimento e têm sua coloração alterada. • A vulva pigmenta-se e a região limítrofe com a extremidade inferior da vagina perde seu característico tom róseo, tornando-se vermelho-vinhosa, com ninfas e grandes lábios entreabertos (sinal de Jacquemier) ➢ Útero: ▪ Há imediato amolecimento da região correspondente ao local da implantação, progredindo por todo o órgão e pelas outras estruturas pélvicas • A diminuição da consistência é subordinada à embebição gravídica e à redução do tônus, precocemente notadas especialmente no istmo, determinando o sinal de Hegar ▪ Simultaneamente, o órgão aumenta, inicialmente de modo desigual, sendo mais acentuada a expansão na zona de implantação, o que lhe impõe forma assimétrica (sinal de Piskacek). A matriz de piriforme passa a globosa, e o toque dos fundos de saco laterais revela essa morfologia (sinal de Nobile-Budin), enquanto o pulso da artéria uterina pode ser percebido. ▪ De volume crescente, o corpo do útero mantém a configuração esférica até o 4º a 5º mês, quando o alongamento predomina sobre os diâmetros transversos, conferindo à víscera forma cilíndrica ▪ A expansão do istmo, levando à incorporação de sua cavidade à do corpo, acentua, nos últimos meses, a cilindrificação da matriz ▪ Nos primeiros 2 meses, o útero é um órgão exclusivamente pélvico; com 12 semanas torna- se perceptível ao palpar abdominal, o que depende do panículo adiposo e da musculatura da parede. O crescimento subsequente pode ser acompanhado, mês a mês, delimitando-se o fundo e medindo-se a altura em relação à sínfise púbica. ▪ O útero sofre aumento dramático no seu peso (de 4 a 70 g na não gestante, para 1.100 a 1.200 g na gestante a termo) e no seu volume (de 10 mℓ para 5 ℓ) durante a gravidez. ▪ O número de células miometriais aumenta no início da gestação (hiperplasia) e, depois, permanece estável. O crescimento miometrial resulta primariamente do aumento no tamanho da célula (hipertrofia) que ocorre sob a influência dos hormônios esteroides, principalmente os estrogênios ▪ Ainda na segunda metade da gestação, a distensão que a matriz sofre pelo aumento do seu conteúdo determina afinamento gradual da parede uterina, especialmente no istmo, que não sofre hipertrofia, constituindo o segmento inferior do útero. ▪ O aumento do tamanho do útero é acompanhado por elevação de 10 vezes no fluxo sanguíneo • Além disso, há redistribuição do fluxo sanguíneo dentro do útero, antes igualmente repartido para o miométrio e o endométrio, e com 80 a 90% dirigidos para a placenta durante a gravidez. Esse aumento marcante do fluxo uteroplacentário é consequência da diminuição da resistência vascular placentária, ou seja, da remodelação das artérias espiraladas pelo trofoblasto extraviloso. ▪ No início da gestação avigora-se a anteversoflexão, o que motiva polaciúria, elemento semiótico no diagnóstico da gravidez. O crescimento subsequente ameniza e depois elimina a pressão sobre a bexiga, substituída pelo apoio do órgão, engrandecido e pesado, sobre a parede abdominal. • Em 80% dos casos a matriz está desviada para o lado direito e torcida no mesmo sentido (dextrodesvio e dextrorrotação). ▪ A espessura do miométrio, de 7 a 12 mm antes da gravidez, alcança 25 mm nos primeiros meses e assim se mantém até o 4º a 5º mês. A subsecutiva ampliação da cavidade uterina dá-se por crescimento de todo o órgão e afinamento do miométrio ▪ São fenômenos também comuns a essa época: • Estabilização do peso • Início do afinamento da parede • Cilindrificação. ➢ Miométrio ▪ Durante a gravidez, o aumento da massa do miométrio decorre de: • Hipertrofia dos elementos musculares, com aumento de volume dos preexistentes. É a hipertrofia menos nítida na cérvice • Hiperplasia dos elementos musculares, com aumento quantitativo de miócitos • Aumento do tecido conjuntivo, das células, das fibras e dos líquidos intersticiais (embebição gravídica). É também muito maior a vascularização. ▪ A gravidez não modifica sua estrutura, pelo grande desenvolvimento do órgão e apesar da hipertrofia das fibras musculares, elas desenrolam-se parcialmente, fenômeno que se acentua no istmo, quando da formação e expansão do segmento inferior. ▪ Atualmente, de acordo com essa concepção clássica do miométrio, acredita-se que ele seja constituído basicamente por três camadas musculares: uma fina, interna, de fibras musculares circulares; outra, igualmente delgada, externa, de fibras musculares predominantemente longitudinais; e uma central, a mais grossa, de fibras que se entrelaçam ▪ Os níveis elevados de estrogênio estimulam a hipertrofia e a hiperplasia das células miometriais, aumentando o peso do útero de 50 a 60 g, antes da gravidez, para 1.000 g no termo. No início da gravidez, o crescimento do útero é independente do feto. À medida que a gravidez progride, as divisões das células miometriais tornam-se menos expressivas e a musculatura cresce por estiramento determinado pelo conteúdo uterino, o que aumenta em 15 vezes o comprimento das fibras musculares. ▪ Simultaneamente, as junções comunicantes se desenvolvem, elas possibilitam que as alterações de potencial da membrana espalhem-se rapidamente de uma célula a outra, facilitando a despolarização e, subsequentemente, a contração miometrial. • Inicialmente, as contrações são indolores, e as mais generalizadas são denominadas de Braxton-Hicks; posteriormente, a atividade do marca-passo localizado ao fundo uterino promove as contrações coordenadas com dominância fúndica. ▪ O segmento inferior, local da incisão na maioria das operações cesarianas, é fino e contém menos músculos e vasos sanguíneos. ▪ Imediatamente após o descolamento da placenta da parede uterina, as fibras entrelaçadas do miométrio contraem-se, isso oclui os vasos sanguíneos que suprem a placenta, e reduz o sangramento ➢ Colo ▪ Sob a influência dos estrogênios e da progesterona, o colo torna-se amolecido durante a gravidez ▪ O estrogênio estimula o crescimento do epitélio colunar (ou glandular) do canal cervical, torna-se visível na ectocérvice e é denominado ectrópio ou eversão. Esse epitélio mais frágil está sujeito a sangramento. ▪ Em função dessa maior vascularização, o colo fica azulado durante a gravidez. As prostaglandinas induzem a remodelação do colágeno cervical, particularmente ao fim da gestação, enquanto a colagenase produzida pelos leucócitos também contribui para o amolecimento do colo. ▪ O amolecimento, notado ao exame da genitália interna, é precoce e constitui sinal de probabilidade no diagnóstico da gravidez. ▪ Modifica-se a posição do colo. Na decorrência do crescimento do corpo, a cérvice eleva-se e orienta-se na vagina, situando-se posteriormente em direção ao côncavo sacro. É de difícil acesso, tanto ao toque como ao exameespecular. Quando a insinuação da cabeça ocorre, no final da gravidez, o colo desce e centraliza-se no eixo vaginal. ▪ Ao termo, o orifício externo torna-se permeável ao dedo ou apenas à polpa digital até na nulípara; na multípara, e, sobretudo, quando há antecedentes de lacerações cervicais, é, desde cedo, franqueável por um ou dois dedos; no pré-parto dilata-se mais o orifício externo, que costuma, na multípara, mostrar-se entreaberto. ▪ O canal cervical é obliterado por secreção mucosa espessada, chamada tampão mucoso. A eliminação desse tampão, nas proximidades do parto, à medida que o colo se encurta, constitui importante sinal clínico. ▪ O encurtamento do colo também é prenúncio do parto, acentuando-se até o completo apagamento, mas se trata de um fenômeno observado apenas em primíparas • O apagamento do colo é consequência da remodelação cervical, com quebra e rearranjo do colágeno pelas metaloproteinases da matriz, reação inflamatória mediada por citocinas e prostaglandinas, mas também da ação exercida pelas contrações de Braxton-Hicks do final da gravidez e dos ligamentos redondos, que empurram a apresentação para o canal do parto (insinuação), exercendo pressão mecânica na cérvice. • Esse apagamento ocorre somente em primíparas porque os ligamentos uterossacros que fixam o útero à pelve estão firmes e tensos na primeira gravidez MÉTODOS DIAGNÓSTICOS DA GRAVIDEZ Diagnóstico clínico → Sinais presuntivos: ➢ 4 semanas ▪ Amenorreia: é o sinal mais precoce ➢ 5 semanas ▪ Náuseas: Durante o primeiro trimestre da gestação, mais de 50% das mulheres sofrem de náuseas, geralmente matutinas, tendo como consequência imediata vômitos e anorexia ▪ Congestão mamária: Com 5 semanas, as pacientes relatam que as mamas estão congestas e doloridas. Na 8ª semana, a aréola primária torna-se mais pigmentada e surgem os tubérculos de Montgomery; em torno de 16 semanas, é produzida secreção amarela (colostro), e pode ser obtida por expressão mamária correta. Além disso, o aumento da circulação venosa é comum – rede de Haller. Em torno da 20ª semana, surge a aréola secundária, que aumenta a pigmentação em volta do mamilo ➢ 6 semanas ▪ Polaciúria: No segundo e no terceiro mês de gestação, o útero, com maior volume e em anteflexão acentuada, comprime a bexiga, levando à micção frequente, com emissão de quantidade reduzida de urina. No segundo trimestre, tal sintomatologia cessa, retornando nas duas últimas semanas, ao insinuar a apresentação fetal → Sinais de probabilidade: ➢ 6 semanas ▪ Amenorreia: Após 10 a 14 dias de atraso menstrual, considera-se provável sinal de amenorreia, o que nem sempre indica gravidez, pois esse sintoma também ocorre em diversas circunstâncias fisiológicas e patológicas. O aleitamento e a menopausa determinam amenorreia; contudo, muitas mulheres concebem durante o aleitamento ao se intercalar o ciclo ovulatório ▪ Aumento do volume uterino: Fora da gestação, o órgão é intrapélvico, localizado abaixo do estreito superior; na gravidez, expande-se; com 6 semanas, apresenta volume de tangerina; com 10 semanas, de uma laranja; e com 12 semanas, o tamanho da cabeça fetal a termo, sendo palpável logo acima da sínfise púbica ➢ 8 semanas ▪ Alteração da consistência uterina: O útero vazio é firme; na gravidez, com 8 semanas, adquire consistência cística, elástico-pastosa, principalmente no istmo (sinal de Hegar) ▪ Alteração do formato uterino: Inicialmente, o útero cresce de modo assimétrico, desenvolvendo-se mais acentuadamente na zona de implantação. A sensação tátil é de abaulamento e amolecimento no local, sendo possível notar, eventualmente, sulco separando as duas regiões (sinal de Piskacek); a partir de 8 semanas, quando a matriz de piriforme assume o formato globoso, o dedo que examina encontra-os ocupados pelo corpo uterino (sinal de Nobile-Budin). Há percepção dos batimentos do pulso vaginal nos fundos de saco (sinal de Osiander) devido à hipertrofia do sistema vascular. ➢ 16 semanas ▪ Aumento de volume abdominal: o útero torna-se palpável com 12 semanas e nota-se o aumento do volume abdominal progressivo em torno de 16 semanas → Sinais de certeza: ➢ 14 semanas ▪ Sinal de Puzos: Trata-se do rechaço fetal intrauterino, que se obtém ao impulsionar o feto com os dedos dispostos no fundo de saco anterior. Dessa maneira, ocorre impressão de rechaço quando o concepto se afasta e quando ele retorna ➢ 18 semanas ▪ Percepção e palpação dos movimentos ativos do feto: ▪ Palpação dos segmentos fetais: pode-se palpar cabeça e membros ➢ 20 semanas ▪ Auscultação: Ausculta dos batimentos cardíacos fetais (BCF) Diagnóstico hormonal → Há basicamente três tipos de testes para a identificação de hCG: imunológico, radioimunológico (RIA) e enzima- imunoensaio (ELISA). → Testes imunológicos: O hCG é uma proteína e, como tal, induz à formação de anticorpos (antissoro) em outros animais. O antissoro é utilizado para identificar hormônios na urina a ser examinada, embora seja necessário tornar visível a reação; isso é possível, basicamente, com hemácias ou partículas de látex ➢ Prova de inibição da aglutinação do látex: Denominada teste de lâmina, é de leitura rápida, com duração de poucos minutos. Apresenta dois inconvenientes: a imagem do resultado pode ser discutível e a sensibilidade é menor (1.500 a 3.500 UI/ℓ) ➢ Prova de inibição da hemaglutinação: Chamada teste de tubo, oferece leituras em 2 h, raramente de interpretação duvidosa, e com mais sensibilidade (750 a 1.000 UI/ℓ). Recentemente, foi lançada uma variante, na qual o antissoro (e não as hemácias) tem o hCG ligado, o que inverte a imagem dos resultados. Denomina-se hemaglutinação passiva reversa, utiliza dois anticorpos monoclonais (camundongo) e oferece sensibilidade desde o nível de 75 UI/ℓ. ▪ Na prática, para que o exame seja realizado, aconselha-se que o atraso menstrual ultrapasse 10 a 14 dias. Assim, a prova de inibição da hemaglutinação oferece sensibilidade de 97 a 99% ▪ Medicamentos psicotrópicos, proteinúria e mulheres no climatério (reação cruzada com o LH, neste caso, em teor bem mais elevado) podem determinar resultados falso-positivos; ▪ Falso-negativos ocorrem em urinas de baixa densidade (grandes volumes), na primeira ou na segunda semana do atraso menstrual e, ocasionalmente, durante o segundo trimestre, quando é mais baixo o limite inferior dos níveis de hCG. → Testes radioimunológicos ➢ Consistem na dosagem de hCG por método radioimunológico (RIA), com base na competição do hormônio em questão com traçador adequado (o próprio hormônio marcado com radioiodo), conforme a quantidade fixa de antissoro ➢ A dificuldade nesse procedimento é a reação cruzada com LH hipofisário, que é corrigida ao se fazer a dosagem da subunidade beta do hCG, mais específica ➢ A dosagem de β-hCG tem sensibilidade de 5 mUI/mℓ. Os resultados são obtidos em aproximadamente 4 h, o que torna possível aos laboratórios especializados o fornecimento de duas séries por dia. → ELISA ➢ Apresenta a mesma base teórica do RIA; contudo, substitui o hormônio marcado com radioisótopo por enzima, capaz de atuar sobre um substrato incolor e originar produto colorido ➢ A intensidade da cor obtida é proporcional à quantidade de hormônio ➢ Sua principal vantagem é o maior tempo de vida útil, pois não contém radioisótopos (de atividade limitada) ➢ Para dosar o α-hCG, sua sensibilidade é de 25 mUI/mℓ. → Sangue vs urina ➢ Com a urina (teste de farmácia), espera-se diagnóstico positivo pelo menos 1 dia antes da amenorreia; com o sangue, pelo menos 7 ➢ A dosagem do hCG na urina é apenas qualitativa, por isso aconselha-se que o teste de farmácia seja realizado utilizando-se a primeira urina da manhã. Diagnóstico por ultrassom → Com 4 a 5 semanas, na parte superior do útero, começa a aparecer formação arredondada, anelar, de contornos nítidos, que corresponde à estrutura ovular, denominada, em ultrassonografia,saco gestacional (SG) → A partir de 5 semanas, é possível visualizar a vesícula vitelina (VV) e, com 6 semanas, o eco embrionário e a sua pulsação cardíaca (BCF) → Em torno de 10 a 12 semanas, nota-se espessamento no SG, que representa a placenta em desenvolvimento e seu local de implantação no útero. Com 12 semanas, a placenta pode ser facilmente identificada e apresenta estrutura definida com 16 semanas. ÊMESE GRAVÍDICA E HIPERÊMESE → A êmese gravídica, vômitos simples do início da gestação, e a hiperêmese gravídica, vômitos incoercíveis da gravidez, diferem apenas na intensidade e na repercussão clínica de seus efeitos → Náuseas e vômitos da gravidez são condições comuns que afetam 70 a 85% das grávidas. Em 60% dos casos, cessam ao fim do 1º trimestre; em 90% dos casos, com 20 semanas → Do ponto de vista epidemiológico, a hiperêmese gravídica é cada vez mais rara, e ocorre em 0,5 a 2% das gestações → Não há definição única para a hiperêmese gravídica, sendo a mais aceita aquela que considera a perda ponderal de, no mínimo, 5% do peso pré-gravídico; anormalidades como desidratação e desnutrição (cetonúria) costumam estar presentes. → A hiperêmese gravídica é a segunda causa mais frequente de internação hospitalar, após o parto pré-termo → Etiologia ➢ A etiologia ainda é imprecisa ➢ Especula-se como candidatos prováveis os hormônios placentários, gonadotrofina coriônica humana (hCG) e estrogênios, talvez inter-relacionados. Sabe-se, com certeza, que o pico dos sintomas de náuseas e vômitos da gravidez está associado ao da hCG ➢ hCG e estrogênios têm seus níveis elevados nas gestações gemelar e molar, reconhecidamente relacionadas com o exagero de náuseas e vômitos da gestação ➢ Entre os fatores de risco, podem ser citadas a história de hiperêmese gravídica em gestação anterior, a história familiar (mãe, irmã) e a gravidez de feto feminino → Quadro clínico ➢ O quadro clínico decorre, inicialmente, de perdas hidreletrolíticas; mais tarde, da desnutrição ➢ Nas pacientes negligenciadas, a deficiência de carboidratos acelera o metabolismo dos lipídios, resultando no aparecimento de corpos cetônicos na urina: quadro denominado cetonúria ➢ Quando a desnutrição está muito avançada, ocorre deficiência de tiamina (vitamina B1), que conduz ao quadro neurológico/psiquiátrico da síndrome de Wernicke-Korsakoff ➢ Separa-se a hiperêmese gravídica em duas formas: ▪ Formas médias: pacientes abandonadas na êmese simples, por 2 a 4 semanas, com perda ponderal discreta, de 5% do peso pré-gravídico; o pulso mantém-se abaixo de 100 bpm ▪ Formas graves: a perda ponderal é acentuada, 6 a 8%, e o pulso mostra-se rápido, acima de 100 bpm; cetonúria pontual → Repercussões na gravidez ➢ A encefalopatia de Wernicke, a síndrome de Mallory-Weiss, a ruptura do esôfago, o pneumomediastino e a necrose tubular aguda são importantes repercussões na gravidez ➢ Embora seja rara hoje em dia, a morte por hiperêmese gravídica tem sido associada à síndrome de Wernicke-Korsakoff ▪ A síndrome de Wernicke corresponde à instalação de sintomas agudos como ataxia (predominantemente da marcha), disfunção vestibular, confusão e uma variedade de anormalidades da motilidade ocular frequentemente bilaterais ▪ O quadro evolui para a condição crônica, chamada de síndrome de Korsakoff, caracterizada por perda da memória de fixação e desorientação temporoespacial, podendo ou não haver confabulações associadas ▪ A síndrome negligenciada evolui com sequelas, por vezes, irreversíveis ▪ O tratamento imediato com tiamina na síndrome de Wernicke é eficaz em dias a poucas semanas ▪ A morbidade psicossocial associada à hiperêmese gravídica pode resultar em indicação para a interrupção da gravidez ▪ Em relação ao feto, tem-se observado menor incidência de abortamento e risco aumentado de recém-nascido pequeno para a idade gestacional (PIG) ➢ No entanto, a paciente deve ser informada de que a ocorrência de náuseas e vômitos da gravidez, e mesmo da hiperêmese gravídica, na maioria das vezes, evolui com bom prognóstico materno e fetal ➢ Hipertireoidismo gestacional transitório ▪ Muitas mulheres com hiperêmese gravídica apresentam níveis elevados de T4 L no soro e baixos de TSH ▪ As anormalidades na função da tireoide resultam do estímulo do receptor TSH pelos altos níveis de hCG ▪ Esse hipertireoidismo fisiológico, conhecido como hipertireoidismo gestacional transitório, também pode estar associado à gravidez gemelar ou molar ▪ Mulheres com hipertireoidismo gestacional transitório são raramente sintomáticas e o tratamento com tioamida não se revelou benéfico ▪ Normalizam-se os níveis elevados de T4L em paralelo com a queda do hCG após o 1o trimestre. Por isso não são recomendados testes rotineiros de função tireóidea em pacientes com hiperêmese gravídica → Diagnóstico ➢ Em casos de hiperêmese gravídica, podem ser requisitados exames laboratoriais para avaliar a gravidade da doença e estabelecer o diagnóstico diferencial ➢ Anormalidades laboratoriais na hiperêmese gravídica incluem: ▪ Aumento das enzimas hepáticas (< 300 UI/l) ▪ Bilirrubina sérica (< 4 mg/dℓ) e ▪ Amilase e lipase séricas (aumento de até 5 vezes o limite normal) ➢ O exame de urina pode revelar aumento da densidade e cetonúria → Tratamento ➢ O uso de suplemento multivitamínico no início da gravidez pode reduzir a intensidade de náuseas e vômitos, e simples mudanças alimentares podem resolver casos leves. ➢ O uso do gengibre, em doses de até 250 mg 4 vezes/dia, tem sido efetivo para reduzir a frequência dos vômitos (Federação Brasileira das Sociedades de Ginecologia e Obstetrícia [FEBRASGO], 2013). ➢ Na hiperêmese gravídica é mandatória a hospitalização. A paciente deve ser pesada e o quadro clínico é muito importante para avaliar a gravidade do caso; os exames laboratoriais, em geral, não são obrigatórios. A alimentação oral é suspensa. ➢ O antiemético de eleição é a ondansetrona, na dose de 4 mg por via intravenosa (IV) de 12/12 h (recentemente liberado para uso na gravidez). ▪ Mas o tratamento com a ondansetrona para as náuseas e vômitos da gravidez deve ser reservado para as mulheres cujos sintomas não foram adequadamente resolvidos com outros métodos ➢ A administração de corticoide na hiperêmese gravídica deve ser cautelosa, respeitando-se o 1º trimestre da gravidez ▪ O esquema usual é a metilprednisolona, na dose de 16 mg por via oral ou intravenosa de 8/8 h, por 3 dias. Para aquelas que respondem ao tratamento, a dose deve ser reduzida, progressivamente, no prazo de 2 semanas ➢ É razoável tentar inicialmente a alimentação enteral ➢ A hidratação intravenosa é indicada para pacientes que não toleram a alimentação oral ou com sinais clínicos de desidratação. A hidratação intravenosa é feita com solução fisiológica ou lactato de Ringer, com aporte de glicose e de vitaminas, especialmente tiamina (vitamina B1) (100 mg de tiamina/litro de solução) ➢ Atualmente, o abortamento terapêutico tem indicação excepcional, apenas nos casos não responsivos ao tratamento clínico adequado, e para salvar a vida da paciente PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DA GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA E SEUS RISCOS → Dentre os problemas de saúde na adolescência, a gravidez sobressai em quase todos os países e em especial, nos países em desenvolvimento → Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a gestação nesta faixa etária é uma condição que eleva a prevalência de complicações maternas, fetais e neonatais, além de agravar problemas socioeconômicos existentes. Como em outras condições de saúde, o prognóstico da gravidez na adolescência depende da interação de fatores biológicos, sociais, psicológicos, culturais e econômicos → A taxa de gestação na adolescência no Brasil é alta para a América Latina, com 400 mil casos/ano → Quanto à faixa etária, dados do Ministério da Saúde revelam que em 2014 nasceram 28.244 filhos de meninas entre10 e 14 anos e 534.364 crianças de mães com idades entre 15 e 19 anos → Em 2015, 18% dos brasileiros nascidos vivos eram filhos de mães adolescentes → Quanto à distribuição demográfica, a região com maior número de mães adolescentes é a região Nordeste, concentrando 180 mil nascidos ou 32% do total. Segue-se a região Sudeste, com 179,2 mil (32%), a região Norte com 81,4 mil (14%), a região Sul (62.475 – 11%) e a Centro Oeste (43.342 – 8%) → Diversos fatores concorrem para a gestação na adolescência. No entanto, a desinformação sobre sexualidade, sobre direitos sexuais e reprodutivos é o principal motivo. Questões emocionais, psicossociais e contextuais também contribuem, inclusive para a falta de acesso à proteção social e ao sistema de saúde, incluindo o uso inadequado de contraceptivos → A falta de um projeto de vida e expectativas de futuro, educação, pobreza, famílias disfuncionais e vulneráveis, abuso de álcool e outras drogas, além de situações de abandono, abuso/violência e a falta de proteção efetiva às crianças e aos adolescentes, também fazem parte desse quadro → Em relação à fatores de reincidência, estão: ➢ Adoção do RN pelos avós ou familiares, como substitutos da maternagem do RN e retirando esse direito dessas adolescentes ➢ Ou ainda o RN é deixado em abrigo para adoção ➢ Muitas vezes, a gravidez é desejada pela jovem como uma resposta ao meio que a circunda ou como forma de exercer a sexualidade, de ser incluída e aceita socialmente. Ou por gerar benefícios financeiros futuros para a família → As complicações e gravidade da gestação correlacionam-se à idade da adolescente (maiores riscos para meninas com menos de 16 anos, especialmente menores de 14 anos, ou com menos de dois anos da menarca/primeira menstruação), paridade, início e aderência ao pré-natal, ganho de peso e aspectos nutricionais → Pesquisas sobre mudanças na vida social revelam que as gestantes adolescentes indicam a interrupção dos estudos como a mais frequente e preocupante. O abandono escolar compromete não apenas a continuidade da educação formal, como resulta em menor qualificação e obstáculo nos seus projetos de vida ➢ A porcentagem de adolescentes que não frequenta mais a escola após ter engravidado é de 68,3%, elevando-se para 85,7% no terceiro trimestre de gravidez ➢ Nas camadas sociais média e alta, a ocorrência de gestação na jovem tende a não prejudicar tanto o percurso de escolarização e profissionalização. Por outro lado, em classe social baixa, a adolescente tem maior dificuldade em continuar e finalizar os estudos, encontrando mais obstáculos na sua profissionalização, até porque, na maioria das vezes, não pode contar com o apoio familiar e social
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