Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
EDUCAÇÃO AMBIENTAL A Unidade Curricular Educação Ambiental objetiva fornecer os conhecimentos relacionados às técnicas e fundamentos da Educação Ambiental para que o profissional de Meio Ambiente possa atuar, nas organizações, como educador e agente potencializador de novas atitudes aplicadas ao ambiente de trabalho e à vida cotidiana. 2 SUMÁRIO EDUCAÇÃO AMBIENTAL ..................................................................................................... 1 Capítulo 1 ................................................................................................................................... 3 1. AÇÃO ANTRÓPICA ............................................................................................................. 3 Capítulo 2 ................................................................................................................................... 5 2. HISTÓRICO DOS PRINCIPAIS ACONTECIMENTOS MUNDIAIS ................................ 5 Capítulo 3 ................................................................................................................................... 9 3. EVOLUÇÃO DOS CONCEITOS .......................................................................................... 9 3.1. Meio Ambiente ........................................................................................................... 9 3.2. Visão sistêmica e rede de interações ........................................................................ 10 3.3. Desenvolvimento sustentável ........................................................................................ 12 Capítulo 4 ................................................................................................................................. 14 4. EDUCAÇÃO AMBIENTAL ............................................................................................... 14 Capítulo 5 ................................................................................................................................. 18 5. POLÍTICA NACIONAL DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL ................................................ 18 5.1. Objetivos da Política Nacional de Educação Ambiental ............................................... 18 5.2. Princípios da Política Nacional de Educação Ambiental .............................................. 19 5.3. Educação Ambiental Formal e Não Formal .................................................................. 19 Capítulo 6 ................................................................................................................................. 21 6. ESTRATÉGIAS DE ATUAÇÃO NA EDUCAÇÃO AMBIENTAL .................................. 21 6.1. Educação Ambiental no Licenciamento Ambiental ..................................................... 22 6.2 Educação Ambiental na Comunidade............................................................................. 24 6.3 Educação Ambiental na Escola ...................................................................................... 25 6.4 Ações Governamentais ................................................................................................... 26 6.5 Ferramentas para a Educação Ambiental ....................................................................... 30 REFERÊNCIAS ....................................................................................................................... 33 BRASIL. Lei Federal nº. 6.938 de 31 de agosto de 1981. Dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras providências. .............................................................................. Erro! Indicador não definido. 3 Capítulo 1 1. AÇÃO ANTRÓPICA O homem, desde o início da sua existência, relaciona-se com o ambiente ao seu redor, utilizando-se dos recursos naturais para a sua sobrevivência. Sobretudo com a descoberta do fogo, o indivíduo começou a desenvolver um comportamento diferenciado com o seu habitat ao descobrir que, através da queima da madeira, era possível preparar alimentos e se proteger do frio. Nas civilizações antigas, já havia um início de preocupação com a degradação ambiental. Alguns pensadores, como Platão no ano 111 a. C., já denunciava a ocorrência de desmatamentos e erosões de solo nas colinas da Ática, na Grécia, ocasionados pelo excesso de pastoreio de ovelhas e pelo corte da madeira (Darby 1956). Importante ressaltar que o crescimento demográfico, que na idade média alcançou o ápice no século XIII, trouxe consequências dramáticas para as áreas verdes, acarretando no escasseamento e aumento de preço da madeira. Para conter esse desmatamento, na época, algumas medidas foram adotadas, como a proibição de serrarias hidráulicas na França e a criação de florestas dominiais que se tornaram protegidas. Nesta época, a degradação não apresentava grande impacto à natureza e, provavelmente, não se configurava como um problema ambiental, nos termos como entendemos hoje. Em suma, o comportamento predatório do homem não é uma coisa recente, o que é novo são a proporção e extensão dos mecanismos de depredação, que vai desde o surgimento das lavouras de monocultura até as armas nucleares (VIOLA, 1987). O êxodo rural contribuiu para a concentração de pessoas num denominado espaço físico, onde as atividades administrativas, comerciais e econômicas estavam reunidas. A busca do indivíduo por ocupar essas cidades centrais trouxe a urbanização, criando, então, os grandes centros urbanos. E a urbanização é, sem dúvida, a intervenção humana que mais prejudica o meio natural onde o homem está inserido, causando maior impacto ao meio ambiente, devido ao elevado número de habitantes, ocupação de espaços antes compostos de áreas verdes, lançamentos de efluentes nos rios, grande produção de resíduos sólidos e geração de poluição das indústrias. Todo esse processo de alteração do meio ambiente trouxe uma nova realidade para o planeta, a de que o meio de vida atual altera o meio onde o homem habita. Paralelamente a crescente concentração de pessoas nos meios urbanos, ávidos por melhores oportunidades que garantam a sua sobrevivência, acontece a Revolução Industrial, onde a produção de bens de consumo deixou de ser realizada de forma manufaturada para dar espaço à máquina, que substitui em boa parte a mão de obra humana e intensifica a produção de materiais. Esse fato, consequentemente, intensificou ainda mais a exploração do meio ambiente, através da extração de recursos naturais necessários para a produção em massa, e também a introdução de maquinários nos meios de produção, o que resultou num aumento da poluição atmosférica no ambiente urbano. 4 De acordo com Hogan (1992), com a revolução industrial ocorrida nesta época, surgiram inúmeras cidades e a maioria delas sem nenhum planejamento, o que culminou em diversos problemas ambientais presentes até os dias atuais como: ▪ Poluição atmosférica provocada por indústrias; ▪ Ocupação urbana desordenada em áreas irregulares, margens de rios e encostas, acarretando danos sociais, econômicos, ecológicos, além de humanos; ▪ Assoreamento de rios e lagoas; ▪ Erosão do solo e desertificação; ▪ Uso indiscriminado de recursos naturais como a água e energia elétrica; ▪ Geração de lixo urbano; ▪ Poluição dos mananciais subterrâneos e superficiais, do ar e do solo; ▪ Uso de agrotóxicos na agricultura; ▪ Promoção de desigualdades sociais com disseminação de violência, guerras e criminalidade. A demanda por mão de obra cresceu devido à necessidade de atender a essa produção em grande escala, o que contribuiu para favorecer melhores condições de vida para a sociedade. O aumento do poder aquisitivo da população e a vida no meio urbano começaram a propiciar demandas por aquisição de bens e consumo, fomentando, assim, um ciclo vicioso onde maisse consome e mais se produz. Esse ciclo econômico- produtivo intensificou ainda mais a degradação ambiental na busca por matérias primas. Através da consolidação industrial, foi adotado um novo padrão de vida-consumo que acarretou na aquisição, por parte da população, de hábitos que contribuem para a degradação ambiental e que, também, alteram a relação homem-natureza. É necessário reverter essa lógica, com o intuito de fomentar junto à sociedade a problemática ambiental de forma a promover a adoção de novas posturas que priorizem a relação de respeito e cuidado com o meio ambiente. É importante a promoção de processos participativos e sustentáveis, em que cada indivíduo se torne corresponsável pela sua sobrevivência no planeta, cada um participando e respeitando o ciclo de cada ser existente no planeta. As técnicas adquiridas pelo homem devem servir para proteger o planeta, cuidar dos resíduos gerados, para se proteger de alguma transformação natural, e não para destruir a vida. 5 Capítulo 2 2. HISTÓRICO DOS PRINCIPAIS ACONTECIMENTOS MUNDIAIS A partir do final do século XIX, paralelamente ao desenvolvimento social e econômico e aos seus consequentes impactos ambientais, ocorreu uma série de acontecimentos internacionais que contribuíram para a discussão em torno das questões ambientais, propiciando a criação de leis e instrumentos de proteção ambiental, além de uma nova percepção sobre a relação do ser humano com a natureza. De forma objetiva, segue uma relação dos principais acontecimentos mundiais a partir do século XIX: 1852: Neste ano, ocorreu um dos maiores acidentes ambientais da história, onde aproximadamente 4000 pessoas morreram em Londres. O incidente foi denominado de “The Great Smog”, ou seja, a grande Poluição. 1890: Nesta década nos EUA, no fim do séc. XIX e início do séc. XX havia a manifestação de duas linhas de pensamento com relação à questão ambiental: a conservacionista e a preservacionista. O pensamento preservacionista era principalmente voltado para a necessidade de proteção da natureza contra os avanços do progresso e da degradação, por meio da criação de áreas protegidas, como a criação de parques nacionais. Já o grupo denominado como conservacionista tinha o pensamento voltado para a preocupação de haver um manejo criterioso dos recursos naturais em proveito da sociedade como um todo. 1923: Foi realizado o 1º Congresso Internacional para a Proteção da Natureza na cidade de Paris que, segundo relato de Geraldo Eulálio do Nascimento e Silva, revelou- se como um marco de implementação de uma legislação de cunho ambientalista (1995 apud TEIXEIRA, 2006). 1930: Alberto de Seixas Martins Torres (1865 – 1917), filho do Senador da República Martins Torres, formou-se em Direito e foi um pensador e ativista durante sua trajetória. Alberto demonstrou, em suas obras, a preocupação com as condições sanitárias daquela época, e, na oportunidade, realizou correlações dessas condições com o meio ambiente. Após sua morte e com o intuito de manter o seu legado, alguns de seus seguidores fundaram, em 1932, na cidade do Rio de Janeiro, a Sociedade de Amigos de Alberto Torres, que pregava o uso racional dos recursos naturais. 1934: Foi realizada em 08 de abril deste referido ano “A Primeira Conferência Brasileira de Proteção à Natureza”, na cidade do Rio de Janeiro, onde houve uma reflexão sobre a questão da mobilização em favor de ações mais enérgicas que garantissem a preservação das florestas e também pela busca do apoio do Estado pela causa. Esta conferência foi organizada pela Sociedade dos Amigos das Árvores. 1939: Hoehne, pesquisador e estudioso de plantas, juntamente com o Instituto de botânica em São Paulo, organizou a Sociedade de Amigos da Flora Brasílica que, através de estudos, pesquisa e debates, representava um grupo que promovia o acesso a assuntos inerentes à preservação ambiental. 6 1946: A Liga Suíça Para a Proteção da Natureza realizou, na Basiléia, a 1ª Conferência Internacional para a Proteção da Natureza. 1947: A Liga Suíça Para a Proteção da Natureza realizou, em Brunnen, a 2ª Conferência Internacional para a Proteção da Natureza. 1948: A União Internacional para a Proteção da Natureza foi fundada em 1948 na realização de um congresso organizado pela UNESCO, com o propósito de utilizar a ciência em favor da garantia dos recursos naturais existentes. 1962: foi publicado, pela bióloga Rachel Carson, o livro Primavera Silenciosa, detalhando os efeitos adversos da contaminação ambiental, particularmente os decorrentes da má utilização dos pesticidas e inseticidas químicos sintéticos. Na ocasião, a obra gerou muita indignação, aumentando a consciência pública quanto aos impactos das atividades humanas sobre o meio ambiente. 1964: no Brasil, a ditadura militar influenciou na atuação governamental, resultando em uma atuação estatal voltada para a preservação do chamado ambientalismo geográfico, ou seja, relacionado à criação de áreas naturais protegidas (DRUMMOND, 1997). 1968: Foi realizada, pela UNESCO, em Paris, a Conferência Intergovernamental de Especialistas sobre estudos científicos para o uso racional e conservação dos recursos da biosfera. Este evento possuía um perfil voltado para a realização de pesquisas cientificas. Também nesse ano, foi elaborado o Clube de Roma, que era constituído por cientistas, políticos e industriais. Esta instituição abria uma possibilidade para a discussão e reflexão sobre o crescimento econômico associado à exploração dos recursos naturais. 1972: Foi realizada a 1ª Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano da ONU, que reuniu 113 países em Estocolmo. Nessa conferência, reconheceu-se a intrínseca relação existente entre o meio ambiente e o desenvolvimento, no sentido de que as preocupações ambientais não deveriam constituir uma barreira ao desenvolvimento. A participação do Brasil ficou marcada na Conferência de Estocolmo no momento em que os representantes dos países mais industrializados chegaram à conclusão de que deveria haver critérios no processo de industrialização a fim de evitar a intensa degradação ambiental no mundo. Em oposição a isto, os representantes brasileiros acusaram os países desenvolvidos de desejarem limitar o desenvolvimento dos países pobres, e ainda afirmaram que "a poluição era bem-vinda ao Brasil!" e que os países que estivessem preocupados com degradação ambiental transferissem suas indústrias para o Brasil, pois o país precisava de empregos e desenvolvimento. 1985: Foi realizada a Convenção de Viena para proteção da Camada de Ozônio, com o objetivo de discutir os mecanismos necessários para proteger a saúde dos seres humanos e o seu habitat contra os efeitos resultantes das danificações causadas na camada de ozônio. Foi estabelecido o Protocolo de Montreal, de abrangência internacional, lançado em 1987, o qual estabelece diretrizes para controlar as emissões de substâncias que destroem a camada de ozônio, tais como aquelas que contêm CFC- Cloro Flúor Carbono nas suas composições. Diversos países se comprometeram com o que foi estabelecido neste Protocolo, inclusive o Brasil. 1987: Após 10 anos da realização da Conferência de Estocolmo, foi constituída uma comissão representativa com o objetivo de promover encontros no mundo com foco na discussão sobre as questões ambientais, a fim de condensar um produto com o 7 resultado formal destas discussões. E em 1987, foi constituído um documento intitulado de Relatório Brundtland. 1992: A conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, conhecida como ECO-92, realizada no Rio de Janeiro, foi um grande evento internacional que reuniu representantes de todo o mundo. Na oportunidade, foram discutidos vários projetos sobre o meio ambiente e educação ambiental. Nessa conferência, foram promovidasalgumas ações como as relacionadas a seguir: Agenda 21: Documento elaborado com 40 capítulos e com mais de 600 páginas; assinado por 179 países, possui foco no planejamento e na qualidade do crescimento dos países. As suas ações são pensadas globalmente, mas adaptadas às necessidades nacionais e locais. Os governos, nas estâncias estaduais e municipais, programaram a sua Agenda 21 no sentindo de estimular o desenvolvimento sustentável local através de práticas sustentáveis. Convenção das Mudanças Climáticas: Nesse encontro, foi entendida a necessidade de realizar estudos específicos sobre os efeitos dos gases lançados na atmosfera, e se propôs um acordo entre os países para que fossem divulgadas tecnologias mais limpas nos processos de produção e redução voluntária na emissão de gases poluentes. Convenção da Biodiversidade: A convenção garantia a soberania dos estados na exploração dos seus recursos biológicos e estabelecia a necessidade de incentivo financeiro para que os estados detentores da biodiversidade tenham como cuidar de sua conservação. Com a adesão de 182 países, a Convenção sobre Diversidade Biológica se tornou uma das maiores conquistas da Rio-92, pois estes países se comprometeram em seguir as diretrizes necessárias para a proteção da biodiversidade, com o desenvolvimento de estratégias nacionais. Fórum Global Internacional de Organizações Não Governamentais e Movimentos Sociais: Evento paralelo aconteceu no Rio de Janeiro, paralelamente à realização da Rio 92, e atraiu ambientalistas, ONG’s e diferentes movimentos sociais que tinham como proposta a formulação de um projeto alternativo que viesse a contribuir com a temática ambiental e fosse desenvolvido pela sociedade civil. Vários documentos foram produzidos nesse fórum, mas é preciso destacar o “Tratado de Educação Ambiental para as sociedades sustentáveis e Responsabilidade Global”, elaborado e aprovado neste encontro, e que se tornou referência para a Educação Ambiental. 1997: Neste ano, foi realizada, no Rio de Janeiro, a Rio+5, que teve como objetivo elaborar uma avaliação dos cinco anos da Agenda 21 para identificar os principais entraves existentes para a sua implementação, almejando a elaboração de um plano de ação para o futuro. 1997: O Protocolo de Kyoto é um documento internacional, onde os países industrializados se comprometeram a reduzir suas emissões de gases poluentes, de forma a propulsar um modelo de desenvolvimento através de tecnologias mais limpas. Na época da sua concepção, foi determinada uma meta de redução de 7% na taxa de emissão de carbono até 2012, tomando como referencia o ano de 1997. 2000: Através de uma década de diálogo em torno de objetivos comuns e valores compartilhados, foi elaborada a Carta da Terra. Este projeto foi iniciado como uma iniciativa das Nações Unidas, mas que acabou sendo desenvolvido e finalizado como uma iniciativa global da sociedade civil. A Comissão da Carta da Terra, uma entidade internacional independente, concluiu e divulgou o documento como a carta dos povos. “A Carta da Terra” consiste numa declaração com princípios éticos, filosóficos e humanitários que buscam envolver a sociedade nessa perspectiva de construir uma 8 sociedade mais justa, sustentável e igualitária. É uma visão esperançosa sobre a renovação dos laços do ser humano com a sua moradia, a “Terra”, e para com o seu semelhante, visando ao equilíbrio econômico, social e harmônico no mundo. 2002: Em Johanesburgo, na África do Sul, foi realizado o Encontro da Terra, também denominado de RIO+10, com a finalidade de avaliar as decisões da conferência ECO- 92, concluindo-se que o avanço obtido desde a ECO-92 não foi significativo na última década em relação às ações de proteção ambiental acordadas na conferência anterior. 2012: Foi realizado, em Junho de 2012, na cidade do Rio de Janeiro, a RIO+20 - Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável. O documento final da Rio+20 está disponível para leitura na Biblioteca Digital, na versão em Espanhol, pois não houve tradução para o Português. Leia e tire as suas conclusões sobre os avanços alcançados nessa conferência! 9 Capítulo 3 3. EVOLUÇÃO DOS CONCEITOS 3.1. Meio Ambiente A inserção do conceito de desenvolvimento sustentável, a partir do final da década de 80, fez com que a palavra meio ambiente passasse a ser muito utilizada. Como referência, cita-se a definição de meio ambiente apresentada pela Política Nacional de Meio Ambiente - PNMA (Brasil, 1981) no seu artigo 3º: “Conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as formas”. A definição apresentada pela PNMA limita-se aos aspectos químicos, físicos e biológicos necessários para a manutenção da vida. No entanto, conceitos recentes sobre meio ambiente inserem a vertente social indicando que este é resultado da interação entre aspectos naturais, econômicos e sociais, conforme pode ser verificado: [...] a noção de meio ambiente não recobre somente a natureza, ainda menos a fauna e a flora sozinhas. Este termo designa as relações de interdependência que existem entre o homem, as sociedades e os componentes físicos, químicos, bióticos do meio integrando também seus aspectos econômicos, sociais e culturais (VEYRET, 2001 apud MENDONÇA, 2004, p. 187). A compreensão do que seja meio ambiente avançou para um entendimento holístico que vai além de elementos vivos, mas também compreende o suporte físico e todas as relações resultantes da vida, tais como as relações sociais, econômicas, institucionais, culturais, políticas, etc. Muitas dessas relações podem ser compreendidas como relações sociais, ou seja, resultantes das relações humanas (política, cultura, religião...). No entanto, a relação econômica, pela sua particularidade e expressão nos processos de desenvolvimento da humanidade, é considerada independente das relações sociais. Os aspectos naturais ou ligados à natureza são denominados ecológicos e se relacionam com a microbiologia, com os vegetais, solos, ambientes aquáticos, animais, terra bioprodutiva, ar etc. Dessa forma, o termo meio ambiente compreende a interação de três aspectos básicos: ecológico, econômico e social (CARMO, 2008). Essa afirmativa está ilustrada na Figura abaixo. 10 Figura 1: Interação dos aspectos que compõem o Meio Ambiente Figura elaborada por Arilma Tavares. Se o Meio Ambiente envolve os aspectos Econômicos e Sociais, por que então utilizar os termos Econômico-ambiental e Socioambiental? Observa-se que, apesar do significado da palavra meio ambiente ser cada vez mais compreendido dentro de uma visão sistêmica, o seu uso ainda é muito associado apenas ao aspecto ecológico. 3.2. Visão sistêmica e rede de interações Como a questão ambiental é complexa e trata de temáticas transversais, os estudos realizados sobre o ambiente têm cada vez mais adotado o pensamento sistêmico que vai além do pensamento objetivo e da lógica mecanicista para uma compreensão holística e ampliada do objeto de análise (CARMO, 2008). Como pesquisador pioneiro do pensamento sistêmico, Ludwig Von Bertalanffy criou, na década de 40, a Teoria Geral dos Sistemas. Tal teoria compreende os organismos vivos como integrantes de sistemas abertos porque precisam se alimentar de um contínuo fluxo de matéria e energia extraído do ambiente exterior e, portanto, não podem ser descritos pela termodinâmica clássica1, já que a entropia em sistemas abertos pode decrescer por eles possuírem uma autorregulação . Para Bertalanffy, a sua teoria era importante por unificar várias disciplinas científicas que se tornaram isoladas e fragmentadas, pois os sistemas vivos (base da sua teoria) abarcam uma faixa ampla de fenômenos, envolvendo organismos individuais e suas partes, sistemas sociais eecossistemas (CAPRA, 2006 apud CARMO, 2008). Foi através dos fundamentos deixados por Bertalanffy que o químico e físico Ilya Prigogine, pesquisador russo, desenvolveu, no início da década de 60, uma nova termodinâmica não linear para descrever o fenômeno da auto-organização em sistemas abertos afastados do equilíbrio, criando, assim, a teoria das estruturas dissipativas, que mostra que em sistemas abertos a dissipação, torna-se uma espécie de ordem e que, mesmo afastados do equilíbrio, podem evoluir, experimentando novas instabilidades e se transformando em estruturas de complexidade crescente (CAPRA, 2006 apud CARMO, 2008). 1 A termodinâmica clássica apresenta a lei da dissipação de energia (2ª Lei) que determina que qualquer sistema físico “fechado” ou isolado se encaminhará espontaneamente em direção a uma desordem sempre crescente, sendo a entropia uma medida da desordem (CAPRA, 2006, p. 53-54). 11 Posteriormente, evoluindo da teoria geral dos sistemas e passando pela teoria das estruturas dissipativas, foi que o neurocientista chileno Humberto Maturana, no final da década de 60, concluiu que “o padrão de rede, no qual a função de cada componente é ajudar a produzir e a transformar outros componentes enquanto mantém a circularidade global da rede, é a organização [básica] da vida”. Na década de 70, juntamente com Francisco Varela, Maturana criou o termo Autopoiese2 para apresentar a sua teoria da autocriação dos sistemas vivos, que para eles podem ser os organismos, os ecossistemas e as sociedades (CAPRA, 2006, p. 88 apud CARMO, 2008). Posteriormente, Newman (1999) afirmou que a cidade deve ser compreendida como um sistema alimentado pelos recursos naturais necessários para a manutenção da dinâmica urbana e que, como resultado, há a produção de resíduos e de condições de vida. Sendo assim, para o autor, a cidade é um ecossistema que envolve interações, física, biológica e humana, através de um metabolismo estendido, ou seja, que contempla os aspectos sociais. A afirmativa de Newman certamente está apoiada no pensamento sistêmico e nas teorias anteriormente descritas (CARMO, 2008). Observa-se que o desenvolvimento da ciência está sendo pautado em uma visão ampla das infinitas interações que nos cercam, envolvendo os elementos que compõem o meio ambiente, e entre eles, os seres humanos. Com esse pensamento sistêmico é que o profissional de meio ambiente deve atuar, percebendo além do que parece ser, e investigando as causas e as consequências de cada aspecto ambiental. Esse profissional deve compreender o meio ambiente como um espaço de produção e consumo que possui como finalidade propiciar a qualidade de vida em todas as suas dimensões a partir de uma visão sistêmica. Para ilustrar o pensamento sistêmico aplicado ao profissional de meio ambiente em sua vivencia profissional, pode-se perceber, na Figura abaixo, que para atuar na gestão dos resíduos sólidos, por exemplo, é necessário observar outros aspectos que estão relacionados, ou seja, a rede de interações. 2 Auto significa “si mesmo” e poiese de origem grega significa “criação”, “construção”, logo autopoiese significa “autocriação” (CAPRA, 2006, p. 88). 12 Figura 02: A rede de interações na gestão dos resíduos sólidos Fonte: Elaborado por Arilma Tavares. Através do pensamento sistêmico, utilizando o mapa de rede de interações, é possível esquematizar de forma objetiva os diversos aspectos relacionados a uma situação que esteja sendo estudada, contribuindo, assim, para a compreensão do todo. O pensamento sistêmico é fundamental para a o profissional de meio ambiente, pois tem sua aplicação no uso de ferramentas como Análise do Ciclo de Vida (ACV), Produção mais Limpa (P+L), Diagnóstico Ambiental, Investigação de contaminação, dentre outros. 3.3. Desenvolvimento sustentável A partir da revolução industrial, o crescimento das nações esteve fortemente associado ao setor produtivo e, portanto, à produção a “todo vapor”. Essa fase do desenvolvimento econômico da humanidade não considerou as suas possíveis consequências negativas, especialmente aquelas relacionadas aos aspectos ecológicos e sociais. Desastres ambientais, como o ocorrido no Japão3, impulsionaram as discussões sobre a necessidade de proteção ao meio ambiente, que ainda era compreendido apenas pelo seu aspecto ecológico. Muitos eventos internacionais foram realizados desde então com o objetivo de mobilizar as nações para a garantia da proteção ambiental. Entre esses eventos destaca-se, em 1987, a reunião da Comissão Mundial da ONU sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (UNCED), que apresentou um documento chamado de “Our Common Future”, mais conhecido como Relatório de Brundtland, que definiu o termo desenvolvimento sustentável como sendo “aquele que satisfaz as necessidades do presente sem comprometer a capacidade das futuras gerações satisfazerem as suas próprias necessidades”. Apesar do alerta mundial que o termo desenvolvimento sustentável provocou, observa- se que para alguns autores esse termo é vago e, portanto, incapaz de gerar mudanças positivas e necessárias na sociedade: No atual momento histórico em que a crise ambiental põe em destaque contradições da produção social do espaço, em que o ideário de desenvolvimento é predominante, o conceito de desenvolvimento sustentável parece jogar uma cortina de fumaça sobre estas contradições, pois não propõe alterações nos modos de produzir e de pensar do modelo dominante (RODRIGUES, 1998, p. 57). O desenvolvimento sustentável adota uma concepção que generaliza os fatos, omitindo o contexto histórico e criando um homem abstrato, desprovido de identidades sociais, econômicas e culturais (LAYRARGUES, 1997 apud STEINBERGER, 2001, p. 20). O uso do termo desenvolvimento sustentável muitas vezes está restrito a um conjunto de intenções, que, na prática, não se concretiza pela necessidade de romper 3 Contaminação da baia de Minamata por mercúrio oriundo de atividade industrial. Casos de doenças registrados a partir de 1956, mas foi confirmado o nexo-causal apenas em 1968 (DIAS, 2004). http://www.infohab.org.br/BuscaAutorInterno.aspx?Nome=Fernanda%20sánchez&URL_LATTES=NADA 13 paradigmas e interesses políticos e capitalistas enraizados em nações que não pretendem pôr em risco o seu atual padrão de desenvolvimento (CARMO, 2008). Desenvolvimento sustentável deve ser baseado em um processo dinâmico e permanente, ou seja, o desenvolvimento sustentável não será atingido, ele será sempre renovado, em uma busca que levará sempre a novos padrões de produção e consumo, tornando, portanto, a relação entre os seres humanos e a natureza cada vez mais harmoniosa (CARMO, 2008). Nessa busca pela sustentabilidade, os padrões de produção e consumo devem ser considerados como importantes fatores que se relacionam diretamente: a) quando o consumo aumenta o setor produtivo, mobiliza a sua capacidade interna para produzir mais e b) quando a produção aumenta a indústria, para escoar a suas mercadorias, desperta “necessidades” nos consumidores para que esses consumam cada vez mais. É nessa relação que se dá o consumo dos recursos naturais e energéticos, assim como a geração e emissão de resíduos no ambiente. Dessa forma, tanto a produção (setor produtivo) como o consumo (cidadão) é responsável pela redução dos impactos associados aos ciclos de vida dos produtos diariamente consumidos em todo o mundo. Portanto, é necessária uma gestão pública capaz de operacionalizar uma política que alinhe a teoria com a prática. Para contribuir com essa reflexão, pode-se citar Rees e Wackernagel (1996, p. 223) quando afirmam que “a dramática mudança necessária na relação material e espacial do homem com o resto da natureza é a chave para a sustentabilidade”. A afirmativa anterior ressalta a importância de mudanças na relação do homem com a natureza para a viabilizaçãoda sustentabilidade. No entanto, esse processo não será possível antes que o ser humano transforme, especialmente, o seu próprio padrão de relacionamento, aprendendo a pensar coletivamente para construir uma nova forma de desenvolvimento, ou seja, “uma nova globalização”, como dizia o professor Milton Santos4. 4 Milton Santos foi um geógrafo brasileiro, baiano, reconhecido internacionalmente por ter contribuído para a renovação da geografia no Brasil nos anos 70. Um dos seus livros mais conhecidos é “Por uma outra globalização - do pensamento único à consciência universal. São Paulo: Editora Record, 2000”. http://pt.wikipedia.org/wiki/Ge%C3%B3grafo http://pt.wikipedia.org/wiki/Brasil 14 Capítulo 4 4. EDUCAÇÃO AMBIENTAL Segue um breve resgate histórico dos principais acontecimentos que contribuíram para a criação da Educação Ambiental como um instrumento para a obtenção de uma sociedade sustentável: 1889: O botânico e sociólogo escocês Patrick Geddes é considerado, por alguns estudiosos, o fundador da Educação Ambiental, e essa associação se deve ao fato dele ter sido um dos primeiros estudiosos a pensar na necessidade de educar o indivíduo para o meio ambiente. Com a sua experiência de educador e urbanista, considerou a interação entre a educação, urbanização e degradação ambiental, ressaltando que um cidadão deve apreender com o meio onde habita para obter a compreensão e o aprendizado de como o espaço urbano pode oferecer possibilidades para a adoção de atitudes criativas para se estudar o ambiente que o envolve. A partir dessa interação, outros pensadores começaram a elucubrar sobre como considerar a educação como um instrumento na preservação ambiental. 1971: Cria-se, formalmente, a primeira definição do que é a Educação Ambiental através da International Union for the Conservation of Nature (SATO, 2004), que enfatizou os aspectos ecológicos da conservação. Basicamente, a educação ambiental ainda estava relacionada à conservação da biodiversidade e dos sistemas de vida, sendo perceptível a noção de que esse conceito não levava em questão a preservação ambiental e dos seus sistemas de vida e não fazia correlação com a ação antrópica. 1972: Foi realizada em Estocolmo, na Suécia, a 1ª Conferência Mundial de Meio Ambiente Humano, que resgatou o conceito de educação ambiental da International Union for the Conservation of Nature e o ampliou considerando a necessidade de educar o cidadão para a solução dos problemas ambientais. Surgindo desse evento o seguinte conceito de EA: A Educação Ambiental é um processo de reconhecimento de valores e clarificação de conceitos, objetivando o desenvolvimento das habilidades e modificando as atitudes em relação ao meio, para entender e apreciar as inter-relações entre os seres humanos, suas culturas e seus meios biofísicos. A Educação Ambiental também está relacionada com a prática das tomadas de decisões e a ética que conduzem à melhoria da qualidade de vida. 1975: Ocorreu o I Seminário Internacional de Educação Ambiental, em Belgrado, Iugoslávia, promovido pela Unesco. Neste encontro, foi criado o Programa Internacional de Educação Ambiental – PIEA e foi elaborada a Carta de Belgrado, que representou um dos mais importantes documentos sobre a questão ambiental da época. Esta carta é finalizada com uma proposta de programa mundial de EA, onde um dos principais pontos seria conscientizar os cidadãos de todo mundo sobre o problema ambiental e promover atitudes para a preservação do meio ambiente. Com base nestas premissas, foi necessário levantar o conhecimento em torno da Educação Ambiental, bem como o nível de acessibilidade à informação e quanto dessa informação vinha sendo apreendida pela população. 15 1976: Aconteceu o II Seminário Internacional de Educação Ambiental, que não foi muito divulgado na concepção da Educação Ambiental, o “Taller Subregional de Educación Ambiental para Educación Secundaria”, realizado em Chosica, no Peru. Segundo Loureiro (2006), esse evento apresentou uma das mais complexas abordagens em Educação Ambiental, evidenciando a necessidade de associação entre o social e o natural, e da EA ser participativa, permanente, interdisciplinar, construída a partir da realidade cotidiana, com implicações sobre o formato curricular no ensino formal. 1977: Foi realizada a Conferência Intergovernamental sobre Educação Ambiental em Tbilisi, na Geórgia, organizada pela UNESCO. A “Conferência de Tbilisi”, como ficou conhecida mundialmente, contribuiu para definir a natureza da EA, definindo seus objetivos, características, recomendações e estratégias. Também foi orientado que a EA deveria considerar os elementos que constituem a questão ambiental, ou seja, aspectos políticos, sociais, econômicos, científicos, tecnológicos, éticos, culturais e ecológicos. Conceito de EA elaborado nesta conferência: “Formar uma população mundial consciente e preocupada com o ambiente e com os problemas que lhe dizem respeito, uma população que tenha conhecimentos, as competências, o estado de espírito, as motivações e o sentido de participação e engajamento que lhe permitam trabalhar individualmente para resolver problemas atuais e impedir que se repitam” (UNESCO, 1971). Abaixo, cita-se os principais princípios de EA, definidos nessa Conferência: • Dinâmico integrativo: é um processo permanente no qual os indivíduos e a comunidade tomam consciência do seu meio ambiente e adquirem o conhecimento, os valores, as habilidades, as experiências e a determinação que os tornam aptos a agir, individual e coletivamente, e resolver os problemas ambientais. • Transformador: possibilita a aquisição de conhecimentos e habilidades capazes de induzir mudanças de atitudes. Objetiva a construção de uma nova visão das relações do ser humano com o seu meio e a adoção de novas posturas individuais e coletivas em relação ao meio ambiente. A consolidação de novos valores, conhecimentos, competências, habilidades e atitudes refletirão na implantação de uma nova ordem ambientalmente sustentável. • Participativo: atua na sensibilização e na conscientização do cidadão, estimulando-o a participar dos processos coletivos. • Abrangente: extrapola as atividades internas da escola tradicional, deve ser oferecida continuamente em todas as fases do ensino formal, envolvendo a família e toda a coletividade. A eficácia virá na medida em que sua abrangência atingir a totalidade dos grupos sociais. • Globalizador: considera o ambiente em seus múltiplos aspectos: natural, tecnológico, social, econômico, político, histórico, cultural, moral, ético e estético. Deve atuar com visão ampla de alcance local, regional e global. 16 • Permanente: tem um caráter permanente, pois a evolução do senso crítico e a compreensão da complexidade dos aspectos que envolvem as questões ambientais se dão de um modo crescente e contínuo, não se justificando sua interrupção. Despertada a consciência, se ganha um aliado para a melhoria das condições de vida do planeta. • Contextualizador: atua diretamente na realidade de cada comunidade, sem perder de vista a sua dimensão planetária (baseado no documento Educação Ambiental da Coordenação Ambiental do Ministério da Educação e Cultura, citado por Czapski, 1998): Além dessas sete características da educação Ambiental definidas pela Conferência de Tbilisi, existe uma oitava, incorporada entre as características que a educação ambiental formal deve ter no Brasil: • Transversal: propõe-se que as questões ambientais não sejam tratadas como uma disciplina específica, mas sim que permeie os conteúdos, objetivos e orientações didáticas em todas as disciplinas. A educação ambiental é um dos temas transversais dos Parâmetros Curriculares Nacionais do Ministério da Educação e Cultura. Na Conferência de Tbilisi também foram apresentadosos objetivos da EA: • Considerar: o ambiente em sua totalidade, ou seja, em seus aspectos naturais e artificiais, tecnológicos e sociais (econômico, político, técnico, histórico, cultural e estético); • Construir-se: num processo contínuo e permanente, iniciando na educação infantil e continuando através de todas as fases do ensino formal e não formal; • Empregar: o enfoque interdisciplinar, aproveitando o conteúdo específico de cada disciplina, para que se adquira uma perspectiva global e equilibrada; • Examinar: as principais questões ambientais em escala pessoal, local, regional, nacional e internacional, de modo que os educandos tomem conhecimento das condições ambientais de outras regiões geográficas; • Concentrar-se: nas situações ambientais atuais e futuras, tendo em conta também a perspectiva histórica; • Insistir: no valor e na necessidade de cooperação local, nacional e internacional, para prevenir e resolver os problemas ambientais; • Considerar: de maneira clara, os aspectos ambientais nos planos de desenvolvimento e crescimento; • Fazer: com que os alunos participem na organização de suas experiências de aprendizagem, proporcionando-lhes oportunidade de tomar decisões e de acatar suas consequências; • Estabelecer: uma relação para os alunos de todas as idades, entre a sensibilização pelo ambiente, a aquisição de conhecimentos, a capacidade de resolver problemas e o esclarecimento dos valores, insistindo, especialmente, em sensibilizar os mais jovens sobre os problemas ambientais existentes em sua própria comunidade; • Contribuir: para que os alunos descubram os efeitos e as causas reais dos problemas ambientais; • Salientar: a complexidade dos problemas ambientais e, consequentemente, a necessidade de desenvolver o sentido crítico e as aptidões necessárias para resolvê-los; 17 • Utilizar: diferentes ambientes educativos e uma ampla gama de métodos para comunicar e adquirir conhecimentos sobre o meio ambiente, privilegiando as atividades práticas e as experiências pessoais (Czapski, 1998). Retomando o processo histórico da Educação Ambiental, verifica-se que, no Brasil, a discussão sobre a qualidade do meio ambiente teve início a partir de 1981, com a Lei Federal nº 6.938, que instituiu a Política Nacional do Meio Ambiente, seguida pela Constituição Federal de 1987, que assegura um ambiente saudável para todos, e o Tratado de Educação Ambiental, da Rio-92. Mas foi na Lei Federal nº. 9.795/99 (Política Nacional de Educação Ambiental – PNEA) que ficou declarada a implementação da Educação Ambiental em todos os níveis e idades (SATO, 2004). • 1981: Após quinze anos da realização da Conferência de Tbilisi, é divulgado o primeiro documento oficial brasileiro sobre a Educação Ambiental - Projeto de Informações sobre Educação Ambiental. • 1988: A Constituição Federal define que a Educação Ambiental deve ser ofertada em todos os níveis. • 1992: É realizada a Eco-92, que, na verdade, deu ênfase à necessidade da educação ambienta porque, a partir deste evento, houve um aumento significativo na criação de organizações não governamentais interessadas em questões ambientais. Também foi incrementado ao ato de ensinar a Educação Ambiental um viés político, propiciando uma discussão mais dialogada em todas as suas aplicabilidades. 18 Capítulo 5 5. POLÍTICA NACIONAL DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL A Educação Ambiental torna-se cada vez mais frequente em todos os âmbitos formais e informais da sociedade e carece de subsídios legais para amparar toda a prática do seu ensino. Nesse contexto, é sancionada, em 27 de abril de 1999, a Lei federal Nº 9.795, que institui a “Política Nacional de Educação Ambiental”. Essa é a mais atual e a mais importante lei para a educação ambiental, que contém os princípios relativos à Educação Ambiental que deverão ser seguidos em todo o país. Essa lei foi regulamentada em 25 de junho de 2002, através do Decreto Nº 4.281, onde em seu artigo1º lê-se: Entende-se por Educação Ambiental os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem comum do povo, essencial à sadia qualidade e sua sustentabilidade” (BRASIL 1999). A lei estabelece que todos têm direito à educação ambiental como um “componente essencial e permanente da educação nacional, devendo estar presente em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em caráter formal e não formal. 5.1. Objetivos da Política Nacional de Educação Ambiental Os objetivos fundamentais da Política Nacional de Educação Ambiental estão elencados no art. 5º da Lei nº. 9.975/1999, que propõe uma compreensão integrada do conceito de meio ambiente e das suas múltiplas interfaces. Os objetivos são imprescindíveis para a compreensão do conceito, do propósito e da aplicabilidade da Educação Ambiental. Art. 5o São objetivos fundamentais da educação ambiental: I - o desenvolvimento de uma compreensão integrada do meio ambiente em suas múltiplas e complexas relações, envolvendo aspectos ecológicos, psicológicos, legais, políticos, sociais, econômicos, científicos, culturais e éticos; II - a garantia de democratização das informações ambientais; III - o estímulo e o fortalecimento de uma consciência crítica sobre a problemática ambiental e social; IV - o incentivo à participação individual e coletiva, permanente e responsável, na preservação do equilíbrio do meio ambiente, entendendo-se a defesa da qualidade ambiental como um valor inseparável do exercício da cidadania; V - o estímulo à cooperação entre as diversas regiões do País, em níveis micro e macrorregionais, com vistas à construção de uma sociedade ambientalmente equilibrada, fundada nos princípios da liberdade, igualdade, solidariedade, democracia, justiça social, responsabilidade e sustentabilidade; VI - o fomento e o fortalecimento da integração com a ciência e a tecnologia; 19 VII - o fortalecimento da cidadania, autodeterminação dos povos e solidariedade como fundamentos para o futuro da humanidade. 5.2. Princípios da Política Nacional de Educação Ambiental A Lei 9795/99 da Política Nacional de Educação Ambiental, em sua parte introdutória, dispõe sobre os seus princípios, sendo primordial a análise destes para a compreensão dos aspectos jurídicos, éticos e sociais desta lei. Art. 4o São princípios básicos da educação ambiental: I - o enfoque humanista, holístico, democrático e participativo; II - a concepção do meio ambiente em sua totalidade, considerando a interdependência entre o meio natural, o socioeconômico e o cultural, sob o enfoque da sustentabilidade; III - o pluralismo de ideias e concepções pedagógicas, na perspectiva da inter, multi e transdisciplinaridade; IV - a vinculação entre a ética, a educação, o trabalho e as práticas sociais; V - a garantia de continuidade e permanência do processo educativo; VI - a permanente avaliação crítica do processo educativo; VII - a abordagem articulada das questões ambientais locais, regionais, nacionais e globais; VIII - o reconhecimento e o respeito à pluralidade e à diversidade individual e cultural. 5.3. Educação Ambiental Formal e Não Formal A Educação, segundo o dicionário Aurélio on line, pode ser entendida como uma “Ação de desenvolver as faculdades psíquicas, intelectuais e morais: a educação da juventude; Conhecimento e prática dos hábitos sociais”. Educação, antes de ser um procedimento formal de escolarização, é um processo livre, em tese, de relação entre pessoas e grupos, que busca maneiras para reproduzir e/ou recriar aquilo que é comum, seja como trabalho ou estilo de vida, a uma sociedade,grupo ou classe social (Loureiro et al, 2005: 12). Dessa forma, estabelecendo uma relação do conceito de educação com foco na problemática ambiental, entende-se que a Educação Ambiental visa à formação do indivíduo para que este se torne uma parte integrante do meio ambiente e que seja capaz de transformar a realidade onde está inserido, aprendendo a se relacionar com os demais seres vivos de forma harmoniosa com objetivo de preservar o seu habitat. Como diz Loureiro, “procuro estabelecer um contraponto às formas de entendimento da educação ambiental como um conjunto homogêneo e distinto da educação. Parto do princípio que educação ambiental é uma perspectiva que se inscreve e se dinamiza na própria educação, formada nas relações estabelecidas entre as múltiplas tendências pedagógicas e do ambientalismo” (LOUREIRO, 2004). A Política Nacional de Educação Ambiental descreve bem as modalidades da Educação Ambiental, como citado abaixo: Art. 2º da Política Nacional de Educação Ambiental 20 A educação ambiental é um componente essencial e permanente da educação nacional, devendo estar presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em caráter formal e não formal. Ela pode acontecer de duas formas: através da educação formal, nos ambientes e formas de ensino, e também através da informalidade, ou seja, em todos os lugares possíveis onde haja uma concentração de pessoas e também em atividades cotidianas dos indivíduos. Educação Formal: Art.9º - Entende-se por educação ambiental na educação escolar, aquela desenvolvida no âmbito dos currículos das instituições de ensino públicas e privada, englobando: I - educação básica: a) educação infantil; b) ensino fundamental; c) ensino médio; II - educação superior; III - educação especial; IV - educação profissional; V - educação de jovens e adultos. Entende-se que a educação ambiental formal é aquela que é desenvolvida na educação escolar no âmbito dos currículos das instituições de ensino públicas e privadas, sendo aplicada como uma prática educativa integrada, contínua e permanente em todos os níveis e modalidades do ensino formal, envolvendo estudantes, professores, profissionais que atuam na escola durante o ano letivo e também em atividades paralelas que ocorram no estabelecimento e em cursos específicos de educação ambiental. Educação Informal: Art. 13 - Entende-se por educação ambiental não formal as ações e práticas educativas voltadas à sensibilização da coletividade sobre as questões ambientais e à sua organização e participação na defesa da qualidade do meio ambiente. A educação ambiental informal deve estar inserida em todos os segmentos da sociedade como associações, jovens, trabalhadores, donas de casa, moradores, etc. Deve chegar até a população, onde ela se organiza nas comunidades, nas associações, nas igrejas, nas residências. Existe também o desenvolvimento da Educação Ambiental em cursos específicos elaborados por empresas que envolvem comunidade, trabalhadores e demais pessoas da sociedade civil que, por interesse, tenham anseio de aprender mais sobre a temática. A extensão ambiental procura levar conhecimentos e experiências acumuladas nos organismos de pesquisa, de controle e de promoção ambiental para os diversos setores econômicos e sociais, como forma de disseminar metodologias e técnicas ambientalmente limpas e socialmente justas (adaptado de ribeiro, 1998). 21 Capítulo 6 6. ESTRATÉGIAS DE ATUAÇÃO NA EDUCAÇÃO AMBIENTAL A Educação Ambiental vem se consolidando não apenas pelo crescimento do número de profissionais que atuam e estudam o tema, mas, principalmente, por ser um importante componente nas ações de diversos segmentos que tratam a questão ambiental. Ela é considerada como uma área transversal de conhecimento, e pode ser uma aliada em diversas linhas de atuação tais como educação, saúde, direito social, industrial, agropecuário, na implantação de novos empreendimentos ou em qualquer outra área onde haja ação humana. Concomitantemente, é notório o crescimento e abertura dos canais de comunicação para a Educação Ambiental, como a mídia impressa, audiovisual e virtual, que acabam por sensibilizar a população em geral para os problemas da degradação ambiental. Também é evidente o aumento dos espaços para discussão do tema, como encontros, fóruns, congressos, redes sociais, além da multiplicação de cursos e capacitações referentes à Educação Ambiental. A educação ambiental é um meio abrangente de promover a educação com o intuito de envolver todos os cidadãos através de um processo pedagógico participativo e permanente. Procura promover no educando uma consciência crítica sobre a problemática ambiental, entendendo como capacidade reflexiva a habilidade de captar as causas e os efeitos, bem como a evolução dos problemas ambientais. Por possuir caráter interdisciplinar, a Educação Ambiental deve perpassar todas as áreas do conhecimento. Também deve ser embasada na realidade, adotando uma abordagem que priorize os aspectos que compõem a sociedade, como socioculturais, políticos, históricos, éticos, ecológicos, econômicos, etc. Essas especialidades requerem a otimização de novos processos educativos que guiam os indivíduos por trajetórias que apontem a oportunidade de mudança e melhoria do ambiente global, local e da qualidade da experiência humana no planeta. As atividades de EA devem ser concebidas de forma a estimular a prática da interdisciplinaridade através de estratégias que tenham a finalidade de buscar soluções para os problemas ambientais da comunidade. Algumas atividades podem ser executadas em curto prazo, porém outras exigem maior elaboração e dedicação dos participantes. O ideal é que as atividades de Educação Ambiental não sejam desenvolvidas de maneira estanque e pontual, e sim embasadas em um programa de atuação ambiental em uma determinada área de abrangência. De forma geral, um programa de Educação Ambiental deve conter ações que proponham uma prática educativa que estimule a autonomia, a liberdade, a cidadania, a responsabilidade, bem como reflexões acerca dos problemas enfrentados na vida cotidiana. Um programa de educação ambiental deve considerar a proposição de ações que possibilitem a realização de uma sensibilização prévia e de um diagnóstico socioambiental do seu público-alvo e contexto ambiental. Estas atividades objetivam a 22 comunicação e apresentação do Programa de Educação Ambiental - PEA aos interessados e a realização de um levantamento das reais necessidades da população envolvida. A formação de agentes multiplicadores também se torna uma questão estratégica dentro de um PEA, visto que instrumentaliza os atores sociais para o entendimento das questões ambientais, e colabora na formação de atitudes de cooperação, capacitando- os para tomadas e decisão. Os Programas de Educação Ambiental podem e devem ser concebidos para variadas circunstâncias e para públicos distintos, como por exemplo: a) Colaboradores de empresas: A empresa desenvolve um PEA voltado para a sensibilização e capacitação de seus funcionários para fomentar uma mudança de cultura interna, favorecendo ações ambientais que venham a ser colocadas em prática. As ações, metas e indicadores do programa deverão estar diretamente ligados às metas ambientais da empresa, criando meios para que todos os colaboradores possam contribuir com os resultados. b) Profissionais da área de educação: Programas de Educação Ambiental voltados para profissionais de educação. Fazem parte de programas que visam à formação de multiplicadores. O educador apresenta potencial de comunicação e é formador de opinião, possibilitando atingir um público ainda em formação - as crianças e os adolescentes. c) Profissionais da área de saúde: Da mesma forma que os profissionais da área da educação,os profissionais de saúde apresentam potencial de comunicação e estão sempre em contato com a população por meio de atendimentos domiciliares ou nos postos de saúde. Em programas que apresentam estes profissionais como público-alvo, é importante que seja desenvolvida a formação de multiplicadores, pois a atuação como formadores de opinião ocorre a cada atendimento e o vínculo da temática ambiental está diretamente relacionado às questões de saúde. d) Comunidade em geral: O PEA desenvolvido para a sociedade civil, normalmente, é direcionado para o atendimento de comunidades. Para a realização de programas com público-alvo diversificado, o ideal é que tenham um conjunto variado de ações, contemplando atividades pulverizadas com curta carga horária e atividades com maior concentração de horas direcionadas a um público específico. A seguir, são elencadas três áreas de enfoque para o desenvolvimento da Educação Ambiental com os atores acima propostos: 6.1. Educação Ambiental no Licenciamento Ambiental O licenciamento ambiental é um instrumento da política nacional de meio ambiente de suma importância na gestão ambiental de empresas e empreendimentos: O licenciamento ambiental é o procedimento administrativo pelo qual a administração pública, por intermédio do órgão ambiental competente, analisa a proposta apresentada para o empreendimento e o legitima, considerando as disposições legais e 23 regulamentadores aplicáveis e sua interdependência com o meio ambiente, emitindo a respectiva licença (SOUZA, 2010). O licenciamento ambiental é baseado no estabelecimento de medidas de controle, preventiva e/ou mitigadoras a serem realizadas anteriormente, durante e após a conclusão da obra. Essas medidas são ações que recuperam ou atenuam as ações de degradação ambiental, econômicas e sociais provenientes da implantação e operação do empreendimento. Os critérios para a emissão da licença são determinados de acordo com diretrizes políticas, sociais e econômicas, buscando garantir padrões de desenvolvimento humano, social e de preservação ambiental. A educação ambiental no licenciamento atua, fundamentalmente, na sensibilização da população envolvida e na gestão dos conflitos ocasionados por um empreendimento, objetivando garantir: • A disseminação pública de informações inerentes ao empreendimento através de ações que informem a população sobre a instalação e operação do empreendimento. Essas ações devem envolver toda a comunidade do entorno, de forma que as etapas do empreendimento sejam transparentes e se envolvam no cotidiano das pessoas. • O diagnóstico dos aspectos socioeconômicos: Para elaboração de um programa de atuação de educação ambiental em uma determinada área circunscrita, é indispensável a construção de um diagnóstico que mapeie os aspectos socioeconômicos, culturais, históricos e ambientais locais. Este documento subsidiará a elaboração de atividades para as localidades, bem como evitará a sobreposição de ações. • A produção de conhecimentos que permitam o posicionamento responsável e qualificado dos agentes sociais envolvidos: O programa a ser implementado deve prever a capacitação de atores sociais nas temáticas a serem trabalhadas com o objetivo de que o cidadão se torne apto a participar do processo como sujeito crítico. A ampla mobilização e participação dos grupos afetados, em todas as etapas do licenciamento, deve assegurar que o indivíduo seja estimulado a participar e se envolver em todas as etapas da construção e operação do empreendimento, de forma que o cidadão se torne um elemento inserido no processo e não a parte deste. Com o envolvimento da população e o conhecimento de todas as etapas do licenciamento, os benefícios e os transtornos são administrados de forma mais harmoniosa perante a comunidade. Para construir um programa de educação ambiental para atender às condicionantes de licenciamento, é necessária a adoção de estratégias que estejam em consonância com as políticas públicas e com foco nas relações de poder entre os grupos sociais que se situam nos territórios definidos por processos produtivos licenciados. Essa situação carece de elaboração e execução de programas que suplantem a execução de ações pontuais, através do desenvolvimento de processos educativos que abranjam as questões relacionadas aos empreendimentos e à realidade de vida da população beneficiada, assim como a interação desses dois elementos e os resultados dessa interação, conforme evidencia Quintas (2009): 24 Quando pensamos em educação no processo de gestão ambiental, estamos desejando o controle social na elaboração e execução de políticas públicas, por meio da participação permanente dos cidadãos, principalmente de forma coletiva, na gestão do uso dos recursos ambientais e nas decisões que afetam à qualidade do meio ambiente (QUINTAS, 2002:9). Dentre os empreendimentos passíveis de licenciamento, podem-se citar as obras de saneamento que são de vital importância para o desenvolvimento social e sanitário de uma dada localidade, mas nem por isso se exime de interferir no cotidiano da população e da estrutura do local. O Governo Federal elaborou um programa (PEAMS, a ser apresentado no item 6.4 – Ações Governamentais) de mobilização social e educação ambiental a ser norteador no decorrer da implantação e/ou operação desses sistemas – nas fases de implantação e renovação de licenças de operação. 6.2 Educação Ambiental na Comunidade Mesmo com a atual divulgação dos problemas ambientais relacionados à ação antrópica em diversas mídias e da abertura de espaços para discussão sobre estas questões, a população ainda não relaciona suas ações locais com os danos ambientais. Na maioria dos casos, os moradores de uma localidade se constituem ao mesmo tempo como causadores e vítimas da degradação. Por outro lado, são esses indivíduos os que mais possuem capacidade para diagnosticar a situação em que estão inseridos e, por conviverem diariamente com os problemas, os maiores interessados em resolvê-los. Programas de Educação Ambiental desenvolvidos para a sociedade civil têm como público-alvo os moradores de regiões diretamente inseridas em áreas de atuação de empresas/indústrias, também conhecidas como áreas de influência direta do empreendimento. O público-alvo destes projetos são moradores locais, que sofrem, direta ou indiretamente, os impactos da instalação e/ou operação do empreendimento. A melhor estratégia para envolver a comunidade está no estabelecimento de canais de diálogo franco e de disposição para a participação em todas as etapas de um projeto. As intervenções organizadas e coletivas, com impactos sobre indivíduos, famílias, grupos sociais e instituições, apresentam destacado valor na sociedade moderna por ser um meio de planejar alternativas às necessidades locais. Quando se tratar de superar um determinado problema, a intervenção técnica correta depende da interpretação, sensibilização, mobilização, representação e conhecimento que se constroem no conjunto dos atores sociais envolvidos, ou seja, da apropriação social, cultural e educativa (NUNES, 1989). A elaboração de programas de Educação Ambiental voltados para a comunidade em geral deve ser baseada em algumas premissas, como por exemplo: ✓ Promover a sensibilização ambiental dos habitantes da região; ✓ Desenvolver ações formativas e informativas multiplicadoras e de caráter ambiental; ✓ Buscar a reformulação de valores e atitudes em relação ao seu ambiente; ✓ Dialogar com as comunidades sobre sua interação com o meio ambiente; 25 ✓ Favorecer a transformação da população para que esta se torne participante e comprometida com as gerações futuras. Em atendimento a estas premissas, é fundamental que cada programa desenvolvido seja customizado de acordo com as reais necessidades da comunidade onde se deseja atuar. A execução deetapas como as de Sensibilização e de Elaboração de Diagnóstico é requisito prévio para a execução de atividades de Educação Ambiental propriamente dita. É imprescindível que as ações de EA atendam as expectativas e os anseios da comunidade, com o objetivo de fortalecer o envolvimento da população e a participação da comunidade. 6.3 Educação Ambiental na Escola Na década de 90, durante a formulação da Lei de Diretrizes e Bases da educação, Lei Nº 9394 de dezembro de 1996, os princípios definidos na Constituição com relação à Educação Ambiental foram reafirmados, determinando que: A Educação Ambiental será considerada na concepção dos conteúdos curriculares de todos os níveis de ensino, sem constituir disciplina específica, implicando desenvolvimento de hábitos e atitudes sadias de conservação ambiental e respeito à natureza, a partir do cotidiano da vida, da escola e da sociedade. A partir deste momento, é imprescindível a adoção da temática ambiental em todas as estratificações de ensino como uma premissa para a composição dos currículos escolares, fazendo com que a Educação Ambiental seja perpassada por todo o cotidiano escolar. Em 1997, o Ministério da Educação - MEC publicou os novos Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN's - com a proposta de fornecer um “instrumento de apoio às discussões pedagógicas na escola, na elaboração de projetos educativos, no planejamento de aulas e na reflexão sobre a prática educativa e na análise do material didático”. Estes parâmetros apresentam os conteúdos e habilidades mínimos para cada disciplina durante cada período escolar. Além das disciplinas tradicionais, foram contemplados temas denominados "transversais", ou seja, que necessitam permear por todas as áreas do conhecimento, sendo eles: ética, saúde, meio ambiente, orientação sexual e pluralidade cultural. Conforme tratado no capítulo 5 deste livro, a lei 9.795/1999, que institui a Política Nacional de Educação Ambiental, aborda, em seu artigo segundo, que a Educação Ambiental deve estar presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo, sendo ele formal ou informal. A Educação Ambiental desenvolvida no âmbito escolar, denominada educação formal, deve ser colocada em prática através dos currículos das instituições de ensino públicas e privadas, fomentando uma prática educativa integrada, contínua e permanente em todos os níveis e modalidades da educação. Dessa forma, faz-se possível afirmar que a importância da Educação Ambiental se explicita formalmente na obrigatoriedade constitucional, em sua inclusão nos Parâmetros Curriculares Nacionais e na publicação 26 da Lei Federal que define a Política Nacional de Educação Ambiental. Estes são instrumentos legais e documentos governamentais que asseguram à temática um caráter transversal, indispensável e indissociável da política educacional brasileira – “mesmo que possamos considerar que a Educação Ambiental não esteja consolidada nacionalmente enquanto política pública”. (LOUREIRO, 2005, p. 1474). Um Programa de Educação Ambiental concebido para o universo escolar deve levar em consideração a realidade dos alunos e da comunidade escolar, composta pelo corpo funcional da escola, familiares dos alunos e comunidade do entorno da escola. É importante que a escola interaja com a localidade na qual está inserida e que seja acolhida pela sociedade. O PEA construído na instituição de ensino deve considerar a participação dos alunos e da comunidade escolar em todas as etapas do programa, desde o planejamento inicial até o encerramento das atividades. No início do programa, o planejamento participativo proporciona o atendimento das reais necessidades dos atores sociais envolvidos, considerando, dentre outros: • Conhecimento da localidade, bairro ou cidade; • Utilização das informações dos professores e funcionários que residem na área de entorno da escola; • Conhecimento dos bairros em torno da escola e os locais de moradia dos alunos; • Os problemas socioambientais existentes no entorno da escola e no município; • Os problemas ambientais urbanos, segundo a percepção dos moradores locais; • Registro das conversas informais com moradores e realização de entrevistas com os grupos organizados da cidade. A partir do conhecimento dos problemas locais e do interesse em criar soluções que façam a diferença na realidade local, torna-se possível desenvolver um programa com ações estruturadas e que, de fato, fomentem a melhoria na qualidade de vida da população envolvida. Ações de EA, desenvolvidas pela escola em parceria com a comunidade escolar, fortalecem a relação da mesma com a instituição, fazendo da escola mais que um estabelecimento de ensino, mas um local de referência a toda a comunidade. 6.4 Ações Governamentais O governo federal realiza ações que possam disseminar e desenvolver a Educação Ambiental nas esferas federais, estaduais e municipais. As atividades desenvolvidas pelos diversos órgãos criados pelo governo são conectadas aos princípios do Ministério do Meio Ambiente. Sala verde O Projeto Sala Verde é coordenado pela Diretoria de Educação Ambiental do Ministério do Meio Ambiente e consiste no incentivo à implantação de Salas Verdes pelo país. O objetivo desse projeto é incrementar locais já existentes voltados para a educação ambiental nos municípios. Esses espaços podem ser em instituições, ONGs, escolas e podem pertencer ao município, estado, governo federal ou ao setor privado. Essencialmente, têm como objetivo disseminar informações ambientais nas suas localidades de atuação. O Projeto Sala Verde foi criado em 2000, devido à necessidade dos municípios em possuírem um Centro de Referência em Informações Ambientais que possibilitasse o 27 acesso a informações de cunho ambiental, acesso às publicações produzidas pelo MMA – Ministério do Meio Ambiente, a um ambiente propício à pesquisa e desenvolvimento de projetos ambientais. Assim, a Sala Verde pode ser concebida como um espaço para a promoção de vários ensejos da população, como pesquisas, estudos ambientais, culturais, sociais, informacionais e articuladoras. Propiciando um ambiente dinâmico, convidativo, onde os interessados possam a ela se dirigir para realizar leituras, conhecer, acessar e ver documentos inerentes à questão ambiental e participar de atividades educacionais. As Salas Verdes funcionam como um local que possibilita sinergias entre instituições, indivíduos, projetos, programas e ações locais, conectadas em processos estaduais, regionais, nacionais e internacionais. Entende-se que a Sala Verde se configura numa iniciativa que dispõe de quatro elementos fundamentais, conforme ilustrado no esquema a seguir: CIEA – Comissão Interinstitucional de Educação Ambiental A CIEA é um colegiado estadual que tem por missão fomentar diretrizes da Política e do Programa Estadual de Educação Ambiental nas esferas estaduais e municipais, do setor ambiental e educacional, do setor empresarial e dos trabalhadores no estado. A Comissão é composta por representantes de instituições governamentais e não governamentais de forma paritária, para que haja uma equivalência entre todos. Devendo atuar em consonância com a Política e o Programa Nacional de Educação Ambiental, com a finalidade de elaborar, de forma descentralizada, democrática e participativa, entre os órgãos suas responsabilidades, de forma a possibilitar a implementação de programas e projetos estaduais, com a captação de recursos e da participação na realização das ações de educação ambiental e nos seus resultados. Territórios de identidades Território é entendido como uma referência geográfica da existência humana no espaço social, sendo um espaço simbólico onde a população é responsável por construir a sua identidade, exprimir seus sentimentos de pertencimento com o local e criar o seu patrimônio cultural. Esta regionalizaçãodo espaço físico adensado, codificado com os costumes, valores e hábitos de seus moradores, poderá direcionar a elaboração de 28 políticas públicas democráticas, descentralizando as tomadas de decisões, consultando a sociedade civil e criando jurisdições que permeiem o poder municipal e o estadual. O conceito de territórios de identidade foi criado pelo geógrafo Milton Santos. Ele elaborou um conceito de território geográfico vivo e dinâmico, como um espaço ocupado e transformado, "indivisível dos seres humanos e de suas ações". A identidade cultural é entendida aqui como o conjunto de elementos que configuram a fisionomia de um determinado território, elementos esses que resultam do processo sócio-histórico de ocupação da região, das suas tecnologias produtivas, formas de sociabilidade, convívio e produção material e imaterial. Integram esse vasto mosaico da ação humana, nesses ambientes, os patrimônios histórico, artístico, cultural e ambiental. Tal identidade é entendida não como um conceito museológico, estático, mas como um vivo e regular processo de intercâmbio, de trocas e assimilações, resultando no sincretismo que carrega, de um lado para o outro, de uma região para outra, pessoas e signos que se aculturam, refazem e ressurgem ao lado de expressões tradicionais em seus novos espaços de inserção. (SANTOS, 2000) O programa Territórios de Identidade, inspirado no conceito acima citado, é o mais propício programa governamental apresentado nos últimos anos, pois incorpora princípios básicos que estimulam a democratização das políticas públicas, como a descentralização das decisões, a regionalização das ações e a corresponsabilidade na aplicação de recursos e na execução e avaliação de projetos. Esse programa também tem como característica o envolvimento da sociedade civil, através de ações que priorizam a participação popular e o controle social, como reuniões, seminários, consultas e editais públicos que propiciam uma nova rotina de participação da sociedade civil. Coletivos Educadores Os Coletivos Educadores são constituídos por instituições que atuam em processos formativos permanentes, participativos, continuados e voltados à universalidade e a pluralidade de habitantes de um determinado território. O Coletivo Educador é simultaneamente executor e avaliador do Programa Nacional de Educação Ambiental (ProNEA) e do Programa Nacional de Formação de Educadoras e Educadores Ambientais (ProFEA). A finalidade do um Coletivo Educador é estimular a consolidação de parceria institucional e de políticas públicas, com ênfase na reflexão crítica sobre a questão da problemática socioambiental, o aprofundamento conceitual e criar condições para o desenvolvimento continuado de ações e processos de formação em Educação Ambiental com a população do contexto, visando à sinergia dos processos de aprendizagem que contribuem para a construção de territórios sustentáveis. O Coletivo Educador é a união de pessoas ou grupos que oferecem apoio de suas instituições para a construção de um programa de atuação educacional em determinado território. Dessa forma, é perceptível seu potencial estratégico na implantação de políticas públicas (federais, estaduais, municipais). Como se apresenta como algo novo que está em processo de implementação, a existência de redes em Educação Ambiental (REBEA, REBECA, CEAs, entre outras) é imprescindível para contribuir para 29 a construção de políticas públicas e para a fomentação de ações inerentes à educação ambiental. SNUC A Lei 9885, que instituiu o SNUC (Sistema Nacional de Unidades de Conservação) em 2000, define como Unidade de Conservação “o espaço territorial e seus recursos ambientais, incluindo as águas jurisdicionais, com características naturais relevantes, legalmente instituído pelo Poder Público, com objetivos de conservação e limites definidos, sob regime especial de administração, ao qual se aplicam garantias adequadas de proteção”. As UCs são concebidas pelo poder público e podem se localizar em áreas públicas ou privadas. Podem pertencer ao governo federal, ao estado ou ao município e, de acordo com a possibilidade de ação antrópica em sua área, são divididas em dois grandes grupos: unidades de proteção integral e unidades de uso sustentável. Primeiramente, o objetivo básico é a preservação da natureza, sendo tolerado somente o uso indireto dos seus recursos naturais, com exceção dos casos previstos no Snuc. Nessas unidades de conservação, o propósito é otimizar a preservação do meio ambiente com o manejo sustentável de parte dos recursos naturais existentes. PEAMSS - PROGRAMA DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL E MOBILIZAÇÃO SOCIAL EM SANEAMENTO O PEAMSS apresenta premissas básicas para a promoção da educação ambiental e da mobilização social, com o intuito de apoiar os programas e as ações de saneamento ambiental conduzidos pelo Governo Federal, objetivando envolver, de maneira eficaz e participativa, as populações atendidas, conferindo maior probabilidade de consolidação e sustentabilidade dos investimentos e fomentação da saúde pública, da melhoria da qualidade de vida da população e da ampliação da cidadania. As políticas públicas voltadas para programas de saneamento ambiental são responsáveis pela implementação de ações que interferem e regulam diretamente a qualidade de vida das pessoas, através da educação ambiental que consiste em um dos instrumentos mais importantes para os programas e investimentos na área de saneamento. O engajamento e envolvimento de atores sociais, como grupos específicos de lideranças, agentes comunitários de saúde, educadores, gestores públicos e conselhos de representação da sociedade, entre outros, é um fator determinante para a obtenção de êxito nas ações de saneamento, pois estimula a consolidação e a consistência das ações inerentes a programas de investimentos em saneamento. Para tanto, a promoção de atividades, através da mobilização social e da educação que promovam a reflexão crítica e a construção de valores e práticas, com vistas às mudanças culturais e sociais são necessárias à constituição de sociedades sustentáveis. O que é previsto no âmbito da implantação da nova Lei de Saneamento, é imprescindível a elaboração, de forma participativa, do Programa de Educação Ambiental e Mobilização Social em Saneamento – PEAMSS para promover a adoção de 30 novos valores e o controle social na gestão da política de saneamento ambiental, conferindo sustentabilidade aos investimentos nessa área. Constituem-se como princípios básicos do PEAMSS: • Transversalidade e Intersetorialidade; • Transparência e diálogo; • Continuidade e Permanência; • Emancipação e Democracia; • Tolerância e Respeito. 6.5 Ferramentas para a Educação Ambiental Para conceber um programa de Educação Ambiental, é elementar a adoção de instrumentos que possibilitem a realização de ações que alcancem os objetivos delineados no programa. Dessa forma, foram selecionadas para este material algumas ferramentas que, comumente, são utilizadas em projetos de Educação Ambiental em todas as áreas de atuação. • Diagnóstico A elaboração de um diagnóstico social se faz necessária para conhecimento do perfil da população inserida no programa, bem como a localidade onde a mesma está inserida. Esse diagnóstico deve identificar e levantar os dados sobre renda, moradia, equipamentos de saúde, educação, comércio, cultura, lazer, associações comunitárias, ambientais e sociais. Com base nesses dados levantados, devem ser mensuradas ações educativas que deverão ser executadas junto à população beneficiada. O diagnóstico se constitui em um conjunto de atividades que tem como escopo caracterizar e organizar as informações a respeito dos aspectos socioambientais, projetos e ações socioambientais do município, para a confecção de um plano de trabalho voltado para a realidade local.
Compartilhar