Prévia do material em texto
gente criando o futuro DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS Bruno Fonseca da Silva Camila Bolfarini Bento Ana Lucia Guimarães Natália de Souza Pelinson Valdir Lamim-Guedes Junior BRUNO FONSECA DA SILVA, CAMILA BOLFARINI BENTO, ANA LUCIA GUIMARÃES, NATÁLIA DE SOUZA PELINSON E VALDIR LAMIM-GUEDES JUNIOR AUTORIA DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS © Ser Educacional 2022 Rua Treze de Maio, nº 254, Santo Amaro Recife-PE – CEP 50100-160 *Todos os gráficos, tabelas e esquemas são creditados à autoria, salvo quando indicada a referência. Informamos que é de inteira responsabilidade da autoria a emissão de conceitos. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem autorização. A violação dos direitos autorais é crime estabelecido pela Lei n.º 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal. Imagens de ícones/capa: © Shutterstock Presidente do Conselho de Administração Diretor-presidente Diretoria Executiva de Ensino Diretoria Executiva de Serviços Corporativos Diretoria de Ensino a Distância Autoria Projeto Gráfico e Capa Janguiê Diniz Jânyo Diniz Adriano Azevedo Joaldo Diniz Enzo Moreira Bruno Fonseca da Silva Camila Bolfarini Bento Ana Lucia Guimarães Natália de Souza Pelinson Valdir Lamim-Guedes Junior DP Content DADOS DO FORNECEDOR Análise de Qualidade, Edição de Texto, Design Instrucional, Edição de Arte, Diagramação, Design Gráfico e Revisão. SILVA, Bruno Fonseca da. / BENTO, Camila Bolfarini. / GUIMARÃES, Ana Lucia. / PELINSON, Natália de Souza. / JUNIOR, Valdir Lamim-Guedes. Desenvolvimento Sustentável e Direitos Individuais. ISBN: Boxes ASSISTA Indicação de filmes, vídeos ou similares que trazem informações comple- mentares ou aprofundadas sobre o conteúdo estudado. CITANDO Dados essenciais e pertinentes sobre a vida de uma determinada pessoa relevante para o estudo do conteúdo abordado. CONTEXTUALIZANDO Dados que retratam onde e quando aconteceu determinado fato; demonstra-se a situação histórica do assunto. CURIOSIDADE Informação que revela algo desconhecido e interessante sobre o assunto tratado. DICA Um detalhe específico da informação, um breve conselho, um alerta, uma informação privilegiada sobre o conteúdo trabalhado. EXEMPLIFICANDO Informação que retrata de forma objetiva determinado assunto. EXPLICANDO Explicação, elucidação sobre uma palavra ou expressão específica da área de conhecimento trabalhada. Unidade 1 Introdução .............................................................................................................................. 15 Os problemas ambientais da atualidade ..................................................................... 17 A interdisciplinaridade nas questões ambientais ...................................................... 20 Um convite para repensar o amanhã ........................................................................... 22 Conceitos e definições ........................................................................................................ 23 Histórico dos debates a respeito de ética e responsabilidade social no Brasil e no mundo ................................................................................................................................ 33 Movimentos mundiais ......................................................................................................... 35 Marcos históricos da educação ambiental no Brasil ................................................... 39 Base conceitual da educação ambiental ........................................................................ 42 A política nacional brasileira para a educação ambiental ...................................... 45 Educação ambiental formal ........................................................................................... 46 Educação ambiental não formal ................................................................................... 53 Conceitos e objetivos da educação ambiental .............................................................. 54 Referências bibliográficas ................................................................................................. 58 Unidade 2 Responsabilidade socioambiental ................................................................................... 66 O nascimento do mundo globalizado e a questão socioambiental ......................... 67 A responsabilidade socioambiental como compromisso da modernidade .......... 69 A responsabilidade socioambiental governamental, cidadã e empresarial ......... 70 Sumário Sumário Aspectos legais .................................................................................................................... 73 Leis socioambientais brasileiras .................................................................................. 74 A responsabilidade socioambiental além das exigências legais .......................... 75 Desenvolvimento sustentável ............................................................................................ 77 Ações globais rumo ao desenvolvimento sustentável .............................................. 79 As três dimensões da sustentabilidade ....................................................................... 83 Debates mundiais ................................................................................................................. 84 Agenda 21 ......................................................................................................................... 85 Agenda 2030 ..................................................................................................................... 86 Contexto atual ....................................................................................................................... 88 Ecoeficiência .................................................................................................................... 89 Os 7 R’s da sustentabilidade .......................................................................................... 90 Responsabilidade socioambiental como estratégia de gestão .................................. 90 Paradigma econômico, social e ambiental ................................................................. 92 Empresa sustentável ....................................................................................................... 93 Modelos de gestão ambiental ....................................................................................... 95 Indicadores, certificações, tecnologias e instrumentos de gestão ........................... 96 Fontes de orientação estratégica ................................................................................. 97 A Norma ISO 26000 .......................................................................................................... 98 Indicadores e índices de sustentabilidade ............................................................... 102 Tecnologias resultantes da gestão ambiental .......................................................... 104 Marketing ambiental ......................................................................................................... 105 Tendências mundiais sobre o perfil do consumidor ................................................ 106 Iniciativas de marketing ambiental ............................................................................ 107 Sumário Cooperação, articulações intersetoriais e promoção do desenvolvimento ............... 108 O sistema cooperativista e a responsabilidade socioambiental ........................... 109 Promoção do desenvolvimento: o papel da educação ambiental ........................ 112 Referências bibliográficas ............................................................................................... 118 Unidade 3 A Ética nas Relações Humanas .......................................................................................126 Raízes históricas da população brasileira ................................................................ 126 Diversidade Cultural, Étnica, Religiosa e de Gênero ............................................... 128 Ética e Cidadania na Sociedade Tecnológica .............................................................. 136 A Intolerância, o Racismo e a Xenofobia ...................................................................... 139 O Ensino da Ética nas Instituições .................................................................................. 143 Educação das Relações Étnico-Raciais ........................................................................ 145 Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana ......................................... 147 Referências bibliográficas ............................................................................................... 149 Unidade 4 Direitos humanos................................................................................................................ 152 Raízes históricas da população brasileira ................................................................ 152 Conceituação e princípios dos direitos humanos .................................................... 154 Universalismo e multiculturalismo ............................................................................. 156 Ação comunitária e participação democrática ....................................................... 157 Ética, direitos humanos e violência ............................................................................ 160 Sumário Cenário atual e tendências da ética e da cidadania ............................................... 161 Ética e política ........................................................................................................ 163 Ética na saúde ........................................................................................................ 164 Ética nas redes sociais ..................................................................................................... 164 Educação, ética e cidadania hoje ................................................................................... 167 Fundamentação e inversão ideológica dos direitos humanos .............................. 171 Direito internacional dos direitos humanos e seus sistemas de proteção global e regional .......................................................................................................................... 171 Referências bibliográficas ............................................................................................... 173 Dedico este livro a todos que buscam compreender e se preocupam com as causas ambientais – e principalmente aos cientistas da sociedade civil, que defendem e procuram solucionar problemas sobre a temática. O professor Bruno Fonseca da Silva é graduado em Geografia (Licenciatura) e Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente pela Universidade Federal de Pernambuco, atuando desde 2013 em estudos relacionados às ciências am- bientais. Suas pesquisas concentram- se no monitoramento ambiental, por meio da análise de elementos químicos, radioisótopos e compostos orgânicos para avaliação da qualidade do ar – utili- zando organismos vivos (líquens) – e do solo. Tem publicações, participações em eventos científicos e ministração de cur- sos e palestras. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/3215963517080495 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 9 O autor Dedico este trabalho aos meus professores, por todos que acrescentaram conhecimento teórico e prático desde a minha formação de base até a pós- graduação. Agradeço por serem profissionais tão dedicados nessa árdua e nobre tarefa de formar pessoas intelectual e socialmente. A professora Camila Bolfarini Bento é Doutora e Mestre em Biotecnologia e Monitoramento Ambiental pela Univer- sidade Federal de São Carlos (2020), li- cenciada em Biologia (2020) e Bacharel em Engenharia Agronômica pela Uni- versidade Estadual Paulista (2012). Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/3230386423166043 A autora DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 10 Olá, meu nome é Ana Lucia. Sou Dou- tora em Ciências Humanas e possuo mais de vinte anos de atuação como professora na Educação Superior. Além disso, tenho doze anos de militância como dirigente sindical da causa dos professores, o que me agrega conhe- cimentos e experiências para locali- zar-me como autora nesta disciplina. Portanto, atuar e defender a causa da educação, laica, democrática e de qua- lidade é mais que um princípio em mi- nha formação e trajetória profissional, é um compromisso de ofício. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/5544834203408615 A autora DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 11 Dedico este material à Wangari Maathai (1940–2011), uma ativista ambiental e política do Quênia, que estudou biologia nos Estados Unidos e voltou ao seu país para seguir uma carreira pautada nas questões socioambientais. Em 2004, Maathai recebeu o Prêmio Nobel da Paz pela luta por direitos das mulheres e do meio ambiente. A professora Natália de Souza Pelin- son é Mestra (2013) e Doutora (2018) em Ciências pela Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Pau- lo (EESC-USP). Formada (2010) em En- genharia Ambiental pela Universidade Federal de Viçosa - Minas Gerais (UFV), tem experiência com educação ambien- tal em projetos de extensão universitá- ria e saneamento rural. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/7546156506679687 A autora DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 12 O professor Valdir Lamim-Guedes é doutor em Educação pela Universidade de São Paulo (USP, 2019), mestre em Eco- logia de Biomas Tropicais pela Universi- dade Federal de Ouro Preto (UFOP, 2011) e graduado em Ciências Biológicas pela também Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP, 2008). É especialista em Eduação Ambiental (EESC-USP, 2015), De- sign Instrucional para EaD (UNIFEI, 2014) e Jornalismo Científico (UNICAMP, 2015). Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/3473994189361010 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 13 O autor 1 UNIDADE Introdução Atualmente, a humanidade apresenta forte preocupação com as questões ambientais. No sentido restrito, utilizamos o termo “ambien- te” para nos referirmos aos aspectos da natureza, como a água, as plantas, os “animais”; mas conside- ramos a “sociedade” como algo à parte, como se não houvesse um elo entre ambos. Qual motivo, porém, para inserimos aspas nos respectivos termos? Porque somos educados, ou doutrinados, a restringi-los em seus sig- nificados. Quando abordamos a palavra “animais”, em certo ponto, infe- riorizamos as demais espécies por sermos seres pensantes – mas, nisso, fracassamos. Nós nos consideramos inteligentes; porém, não sabemos respeitar o meio em que vivemos. Somos definidos como sociais; todavia, negligenciamos o respeito à opinião, a escolha, ao status social do outro. Nessa direção, chegamos ao limite: da abundância de recursos naturais, mas também do preconceito, iniciando uma corrida contra o tempo para equilibrar a balança, e alcançarmos a harmonia. Podemos afirmar que a humanidade formou subgrupos. Diferentemen- te de outras espécies, na nossa, um subgrupo procura sobressair-se ao outro, fazendo com que se estruture uma pirâmide social (Figura 1), o que, em determinados momentos, acarreta discriminação. No entanto, por qual motivo falamos de ser humano e sociedade, se a temática é ambiente? Essa pergunta poderá ser respondida com outra: afinal, somos também ambiente? Se a resposta for positiva, o que nos levaria a pensar que questões sociais não são dis- cutidas na temática ambiental? O primeiro exer- cício necessário é a reflexão de que não existe diferença entre sociedade e ambiente: ser hu- mano e o seu meioconstituem algo mútuo e unitário. A compreensão é aparentemente simples, mas torna-se complexa ao tentarmos colocá-la em prática. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 15 Classe A Renda mensal acima R$ 14.695 3,6% das famílias 37,4% da renda nacional 26,5% da renda nacional 22,6% da renda nacional 13,6% da renda nacional 15% das famílias 27,9% das famílias 53,5% das famílias Renda mensal R$ 4.720 a R$ 14.695 Renda mensal R$ 1.957 A R$ 4.720 Renda mensal até R$ 1.957 Classe B Classe C Classe D/E Figura 1. Modelo de pirâmide social brasileira, classificada pela renda. Fonte: IBGE (2015) apud Mussi, 2017, p. 20. Uma reflexão importante é sobre o que nos leva atualmente a abordar esse discurso socioambiental com afinco. Talvez seja a busca pela sensi- bilização social, não se restringindo à conscientização. Sensibilizar a po- pulação às questões socioambientais procura estimular seu engajamento e trabalho efetivo, com a finalidade de um ambiente de melhor convívio. Deve-se, por sinal, compreender que a palavra trabalho não está restri- ta às relações de emprego, mas a toda e qualquer atividade socioambien- tal realizada. Para melhor compreensão, pode-se afirmar que a produção do conhecimento e o desligamento histórico entre sociedade e ambiente são formas de trabalho. Dessa forma, o trabalho é o produto dos fenôme- nos e da relação entre sociedade e natureza, que procura atingir alguma meta ou objetivo. Essa finalidade é denominada teleologia. CONTEXTUALIZANDO A concepção de trabalho foi estudada pelo cientista Sergio Lessa para elaboração da sua tese de doutorado, que resultou no livro Mundo dos homens: trabalho e ser social. O enredo da obra baseia-se na concepção de trabalho como processo de complexidade do ser social e no trabalho abstrato (força produtiva). A abordagem da obra é de cunho filosófico e sociológico, e convida-nos a conhecer e ampliar a visão sobre o tema (LESSA, 2012). Nesse enredo filosófico, podemos pensar na relação de trabalho que temos com o nosso meio e em ambas as questões, físicas e sociais que o envolvem. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 16 Compreender esse relacionamento socioambiental exige conhecimento de di- versas áreas – humanidades, sociais aplicadas, exatas e saúde. Cada qual traz uma forma de construção de conhecimento – nem sempre convergente –, e essa contradição, ou contraposição de ideias tem a capacidade de formar no- vos conhecimentos. É o que se denomina dialética. Esse debate de ideias é importante para a formação de conhecimento, pois o ambiente se constitui na interdisciplinaridade. Dessa maneira, a implementa- ção do método cartesiano como forma de compreender melhor os fenômenos que nos rodeiam acarretou alguns problemas: com o formato de fragmentação do conhecimento, precisamos, agora, unir as diversas ciências, algo de suma importância para compreendermos o ambientalismo. CITANDO Leandro Konder tratou da dialética em sua obra O que é a dialética, publi- cada pela primeira vez em 1981. O livro, que faz uma abordagem estrutural histórica, filosófica e sociológica sobre o tema, traz a seguinte definição de dialética pelo autor: “O modo de pensarmos as contradições da rea- lidade, o modo de compreendermos a realidade como essencialmente contraditória e em permanente transformação” (KONDER, 2008, p. 8). Os problemas ambientais da atualidade A crescente demanda por uma soberania econômica dos países implica sé- rios problemas ambientais. Para movimentar a “máquina” financeira e se tor- narem concorrentes, as grandes empresas buscaram o lucro e se ausentaram das questões do ser humano e seu meio. É complexo afirmar que os governos são responsáveis pelo desenvolvimento regional, pois, durante o processo his- tórico, em especial após a Segunda Guerra Mundial, as grandes corporações, as multinacionais, iniciaram uma espécie de regência econômica global. Em geral, torna-se perceptível a necessidade das indústrias e do setor de serviços para a manutenção de empregos, geração de rendas e afins. Uma indústria multinacional, ao se instalar, por exemplo, em determinada cidade, ocasiona o surgimento de outras pequenas empresas que lhe darão su- porte produtivo (peças, tecidos ou qualquer tipo de matéria-prima). Também ocorrerá a ampliação do comércio e outros meios de serviços, devido à chegada DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 17 de novos moradores ou visitantes, ampliando a abertura de hotéis, restauran- tes, entre outros. Além disso, os gestores regionais procuram melhorar os ser- viços básicos, principalmente aqueles relacionados ao transporte, o que facilita a locomoção. Isso demonstra a formação de uma cadeia que, com o passar dos anos, gera maior engajamento. Aparentemente, todo esse processo parece positivo; contudo, há, também, um lado obscuro. A falta de preocupação com o meio físico ocasionou a devasta- ção de florestas, ameaçando a sobrevivência de espécies. Essa remoção de co- bertura vegetal também ocasionou a degradação dos solos, bem essencial à ma- nutenção da vida, assim como dos recursos hídricos, que foram poluídos – em ambos os casos, com consequências consideradas irreversíveis. A exploração de bens minerais tornou-se altamente crescente, mas a manutenção dos recursos não pôde acompanhar a demanda. Além disso, o fenômeno da urbanização ocasionou aumento demasiado na geração de resíduos sólidos e efluentes, bem como a constante emissão de parti- culados atmosféricos (orgânicos e inorgânicos), por meio dos gases emitidos por indústrias, transportes e pela realização de queimadas (Figura 2). Figura 2. Ilustração dos problemas ambientais da atualidade. Fonte: SOUZA, 2014. AR TERRA FOGO ÁGUA DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 18 Não somente as questões relacionadas ao meio físico, porém, registraram impactos. A necessidade de mão de obra acarretou a busca por pessoas de outras regiões que aceitassem empregos exploratórios, sujeitando-se a uma elevada carga de trabalho e a baixos salários. Os resultados desse processo fo- ram xenofobia e inferiorização do trabalho feminino, e o preconceito contra raça e gênero tornou-se crescente. O status social e profissional paira sobre o ambiente, dando margem à inferiorização. Mesmo assim, os subgrupos, co- mentados anteriormente, foram incorporados socialmente e ganharam força, mas sabemos que esses problemas ainda se encontram presentes, embora as legislações e os movimentos para mudanças se encontrem ativos e tenham obtido resultados positivos. Todavia, muito ainda precisa ser feito. CURIOSIDADE A história de Marie Curie é inspiradora. Nascida em 1867, na Polônia, desafiou todos os preconceitos existentes quanto à inferiorização social da mulher. Realizou um trabalho crucial sobre a radioatividade, sendo a primeira mulher, e a única pessoa no mundo, a ganhar o Prêmio Nobel duas vezes em categorias científicas distintas, química e física. Lutou contra toda forma de discriminação e preconceito, e seu legado científico é reconhecido e aplicado até os dias atuais, principalmente nas áreas de física, química e na medicina. É importante perceber que as atividades relacionadas à economia estarão sempre interligadas aos problemas socioambientais. A empregabilidade e a ne- cessidade de circulação financeira elevam as relações no interior da sociedade e o meio físico. A educação é uma ferramenta “libertadora” para a erradicação dos pro- blemas apresentados; entretanto, as falhas nesse processo são enormes. O esquecimento de que educar é a principal ferramenta para a formação de ci- dadãos é uma das principais delas. A realização de mudanças deve ser iniciada a qualquer momento, por mais simples que seja a atitude; porém, a educação será crucial e terá impactos na construção de um novo futuro. As questões relatadas implicam sérias consequências para um bom desen- volvimentosocioambiental. A saúde humana é a principal impactada e motivo de estudos em diversos países. Um dos temas trabalhados em países desen- volvidos é a influência das questões socioambientais na população, pois é per- DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 19 ceptível o crescimento do número de mortes por câncer devido à poluição, da procura por psicólogos e psiquiatras devido a problemas de relacionamento etc. – e isso influencia a qualidade de vida e bem-estar do ser humano. As me- lhorias surgirão primeiramente da sensibilização, e posteriormente no traba- lho para modificação – formas de ação denominadas práxis. DICA A práxis é o processo da junção entre teoria e prática. A explanação des- se conceito foi realizada no trabalho realizado por Pereira e colaboradores (2016), chamado: “O conceito de práxis e a formação docente como ciên- cia da educação”. Mesmo com uma abordagem mais voltada à pedagogia, os autores procuram apresentar os princípios fundamentais do conceito. A interdisciplinaridade nas questões ambientais Os meios de comunicação facilitaram nossa percepção sobre o sistema cau- sa-efeito dos problemas ambientais. Todavia, é importante relembrá-los para fixá-los em nosso cotidiano. Podemos classificá-los em: 1. Discriminação por questões de classe, gênero, raça e etnia; 2. Exploração irregular de recursos naturais; 3. Abuso de autoritarismo por status social, empregatício ou acadêmico; 4. Despejo de rejeitos em locais e formas indevidas; 5. Desmatamento e caça predatória; 6. Exploração de mão de obra; 7. Emissão constantes de poluentes atmosféricos; 8. Ausência de aprendizado sobre deveres sociais éticos. As causas dessas questões acarretam uma conjuntura de reuniões, debates e movimentos sociais, para o despertar da sensibilização. A academia, como principal membro estrutural de discussão dos problemas socioambientais, tem o compromisso de trabalhar esses temas e propor soluções. Entretanto, uma única ciência não é capaz de ter a totalidade de conhecimentos necessários para essa finalidade. Um sociólogo, por exemplo, não tem competência, em sua formação, para implementar tecnologias industriais de recuperação de áreas degradadas – mas tem o conhecimento necessário para compreender as causas humanas que le- DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 20 varam à degradação do local. Um administrador não tem, em seu perfil profis- sional, qualificação para análises químicas de despejo de efluentes em rios – mas pode trabalhar em conjunto com um especialista na área ambiental para propor uma gestão sustentável de resíduos. Esses exemplos demonstram a importân- cia do trabalho conjunto das diferentes áreas. No decorrer do processo de construção do conhecimento, podemos subdivi- dir esse trabalho conjunto em três aspectos: 1. Multidisciplinar: cada área contribui com seu conhecimento, sem modifi- cações; há uma espécie de ponto de vista; 2. Interdisciplinar: as áreas do conhecimento adentram-se umas nas outras e formam uma interligação de conhecimentos; 3. Transdisciplinar: não existem áreas de conhecimento. Tudo é contínuo, sem ocasionar espécie alguma de divisão ou interrupção. Este último aspecto é considerado, por diversos cientistas, uma utopia, de- vido à complexidade de um único ser lidar com todo tipo de área existente. No caráter multidisciplinar, a falta da construção de novos pensamentos não apresentará eficácia quando em comparação com a interdisciplinaridade. Já a interdisciplinaridade recebe contribuições em diferentes áreas, e ocorre um engajamento, com a construção de novas formas de pensamentos aplicadas em diferentes contextos. Nesse caminho, o discurso socioambiental apresenta sua formação. Atualmente, praticamente todos os cursos de formação profissional e tecno- lógica (técnico, graduação ou pós-graduação) trazem alguma disciplina, ou as- suntos dentro de sua ementa, que abordam a temática ambiental. Nesse sentido, os projetos ambientalistas, por abarcarem diferentes áreas do conhecimento, demonstram robustez de elaboração e execução, uma vez que sua construção exige diferentes pontos de vistas, que são interligados e contextualizados. No Brasil, os cursos de pós-graduações stricto sensu (mestrado e doutorado) inseridos na área de ciências ambientais da CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) apresentam a interdisciplinaridade de áreas como obrigatoriedade no processo de construção de suas dissertações e teses. Caso o trabalho não tenha esse escopo, poderá ser penalizado com reprovação. As DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 21 questões sociais, inclusive, devem ser contempladas na problemática da pesqui- sa, pois, em sua maioria, os programas têm o objetivo de formar recursos huma- nos capazes de compreender e solucionar problemas relacionados ao ambiente. Um convite para repensar o amanhã Nossas formas de agir, sejam elas positivas ou negativas, implicarão no futuro. Como forma de refletir sobre a exposição anteriormente realizada, percebe-se que o ambiental é algo mais abrangente do que os elementos físicos. Compreender a natureza e suas interligações é um processo comple- xo; contudo, em um primeiro momento, talvez seja primordial respeitarmos os elementos que nos rodeiam. Somos todos os dias convidados a refazer um novo amanhã, e repensá-lo significa transformar nossas atitudes e pro- por ações de melhoria. Procuremos deixar o pensamento focado no dinheiro, as atitudes de so- berba, a ganância para passarmos a conviver em harmonia. A teoria ética que aprendemos no período escolar é sempre necessária de ser colocada em prática, sensibilizando-nos com o meio em que estamos e que vivencia- mos. Diferentemente das demais espécies, somos seres pensantes – e, ao realizarmos escolhas e ponderarmos nossas atitudes, conhecemos as con- sequências das nossas ações. Portanto, ao prejudicarmos o meio em que vi- vemos, temos conhecimento dos impactos que causaremos a nós mesmos. As gerações futuras agradecerão as transformações positivas que nos propusermos fazer hoje, e deverão dar continuidade a elas, pois este é um trabalho constante, ininterrupto e inacabável: a manutenção do nosso meio é fundamental para melhorar exponencialmente a qualidade de vida e, con- sequentemente, nossa felicidade. Numa sociedade harmonizada, todos têm bons lucros em ambos os aspectos, financeiro e moral – pois pas- samos a refletir sobre o coletivo, e não somente sobre as questões individuais. Procuremos, por- tanto, sempre fazer esse exercício de pensar no próximo, sobre as coisas que nos rodeiam e so- bre o amanhã. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 22 Conceitos e definições Antes de iniciarmos este tópico, é importante pensarmos que o conhecimento é construtivo. A academia exige constantes reflexões sobre suas teorias, pois é dela a responsabilidade de formar novos conhecimentos. Como acadêmicos, de- vemos lembrar que o conhecimento deve ser por nós construído, e não simples- mente recebido e reproduzido. Algumas pessoas se perguntam por qual motivo existe a necessidade de constantes e diferentes formas de leituras – livros, notas, artigos, comunicações curtas –, e essas questões dúbias são erradicadas quando entendemos o verdadeiro sentido de sermos acadêmicos. Neste tópico, serão tratados alguns conceitos e definições utilizados frequen- temente na temática socioambiental. Todavia, é importante lembrar que eles são passíveis de mudanças, uma vez que a academia é dinâmica e se encontra em constantes transformações. As práxis implementadas são responsáveis pelo sur- gimento de novas formas de visão, já que a prática é crucial na efetivação do pen- samento teórico. Socioambiental/ambiental Como abordado, compreende-se como socioambientais (ou ambientais) as relações existenciais entre sociedade e natureza. É algo inseparável, que tem como produto o trabalho.Não há, nessa relação, superioridade ou inferioridade entre as partes, mas um equilíbrio. Torna-se importante a fixação dessa “balança equilibrada”, pois duran- te séculos existiu uma discussão acerca de uma superioridade entre as partes: ora, a sociedade é responsável pela regência do seu meio; ora, a gerência ocorre no sentido inverso. Essa discussão de questões de meio físico e social foi funda- mental para o surgimento de determinadas ciências, como a Geografia. A ideia de que o meio físico era superior ao homem fez com que surgisse o conceito de espaço vital, de que o homem necessitava explorar os recursos para que ocorresse um equilíbrio. Essa forma de pen- samento, denominada determinista, foi elaborada por Friedrich Ratzel e largamente incorporada nas ideolo- gias de Hitler para o nazismo, sendo esse um dos pri- meiros relatos escritos sobre a implementação das questões sociais sobre o ambiente. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 23 Meio ambiente Termo usualmente empregado nos estudos voltados às ciências ambientais. Entretanto, há cientistas que iniciaram uma espécie de desuso, pois, ao inserirmos a palavra “meio”, estaríamos abordando a metade de algo, e, devido à interligação existente, não se deve realizar essa inferência. Por muitos anos, as questões ambientais foram abordadas nos seus aspectos físicos. Contudo, o papel social tem apresentado uma inserção gradativa e abran- gente na discussão. Por termos sido acostumados (ou até mesmo doutrinados) a dividirmos o conhecimento para melhor compreensão, esse termo pode ser usualmente empregado para o estudo das questões físicas ambientais. Áreas degradadas Umas das maiores problemáticas ambientais existentes atualmente é a degradação ambiental. O termo é em- pregado principalmente para estudos de solos e ecossistemas. As atividades humanas, principal- mente de industrialização, agricultura, pecuária, e mineração, destacam-se no desmatamento e improdutividade do solo, por meio do lançamento de rejei- tos, como elementos químicos tóxicos. Ao dizermos que uma área é degrada- da, ocorre uma referência àquelas que se encontram altamente poluídas e reque- rem regeneração, a partir de tecnologias sustentáveis para melhoramento de so- los, afluentes e reflorestamento. No meio acadêmico, pesquisas voltadas à recuperação dessas áreas são cons- tantes. O avanço nas ciências dos materiais possibilitou a aplicação de nanopartí- culas, hidrogéis e estruturas poliméricas que auxiliam, com sucesso, a recupera- ção de solos e rios. Atualmente, empresas propõem o financiamento de pesquisas ou compra de patentes para solucionar tais problemas, o que implica na inserção de uma série de profissionais, como engenheiros, físicos, químicos, administradores, biólogos e afins. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 24 Desertificação A desertificação adentra os temas globais em discussão na Organizações das Nações Unidas (ONU). A utilização de recursos naturais de forma inapropriada, somada às mudanças climáticas e aspectos físicos naturais, ocasiona uma degra- dação de tal forma que torna impossível a regeneração dos locais explorados, fa- zendo surgir áreas áridas e semiáridas. Esse debate foi iniciado devido a problemas existentes no continente africano, alvo de grandes preocupações. Por envolver aspectos de auxílio financeiro, países como os Estados Unidos entraram na “corrida”, com o intuito de adquirir lucros, contestando a existência de áreas em processo de desertificação em seu terri- tório. No entanto, atualmente existe um mapeamento e acompanhamento dos países com tendências ao processo de desertificação, que podem ser encontrados nas Américas, África e Europa. No Brasil, as áreas susceptíveis à desertificação são encontradas na Região Nordeste. Um dos núcleos de estudos é o município de Cabrobó, Pernambuco, que se encontra em processo avançado (Figura 3). A utilização das técnicas de agri- cultura por inundação, associada à topografia do terreno e alta evapotranspiração devido às condições climáticas, ocasionou a formação de extensas camadas de sais no solo, tornando-o improdutivo e causando abandono das áreas. As pesqui- sas estão concentradas nos aspectos de impactos socioambientais, bem como na tentativa de mitigar o problema. Figura 3. Solo salinizado no município de Cabrobó, Pernambuco, um dos núcleos de desertificação brasileiro. Fonte: MAIA, 2015. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 25 As problemáticas não se restringem aos aspectos físicos, pois os fatores sociais são duramente afetados. Ao tornar o solo improdutivo, ocorre um im- pacto direto na produção de alimentos, bem como o abandono dos locais pelos moradores. Nesse processo, há uma queda na arrecadação econômica. Sendo a região responsável por produzir alimentos para outros municípios, estados e afins, o processo ocasionará desabastecimento e prejudicará milhares de famí- lias. Fatores como esses ressaltam a preocupação das entidades governamen- tais sobre o tema. Efluentes Umas das temáticas mais trabalhadas pelas empresas no setor ambiental são os efluentes. A água é um bem precioso, utilizado corriqueiramente em nossas atividades do cotidiano. O processo de “chegada, recebimento” da água é denominado afluente; e a “saída”, denominada efluente. Devido à mistura com outros compostos, orgânicos e inorgânicos, como gorduras, pesticidas, metais e afins, os efluentes tornaram-se uma temática de grande discussão, pois o destino, em sua maioria, são os rios. Ao serem lança- dos em aquíferos, um dos principais problemas é a carga microbiana existente no material, que ocasiona sequestro de oxigênio e impede o desenvolvimento e manutenção da vida aquática. Os metais são outro exemplo de grandes preocupações, devido à capaci- dade de se acumular nos organismos. Os acúmulos podem acontecer em seres humanos, por meio da ingestão, acarretando sérios problemas de saúde. ASSISTA A série Aruanas, produzida pela Rede Globo, demonstra com cla- reza os problemas causados pelo não tratamento de efluentes. O enredo concentra-se nos impactos socioambientais causados pela mineração na região amazônica. O despejo irregular dos efluentes, com altas concentrações de metais como chumbo e mercúrio, ocasiona problemas de saúde nos moradores da região devido à ingestão por meio do consumo de peixes. Em algumas cenas, é demonstrada a morte gradativa dessas pessoas. Atualmente, há empreendimentos com estações de tratamento e moni- toramento constante, por meio de análises químicas que atendem às legisla- ções ambientais. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 26 Pesquisas nessa temática registram grandes avanços, principalmente pela aplicação de carvões ativados como adsorventes. Outros buscam a utilização de organismos vivos, como plantas aquáticas, para realização de tratamentos. O propósito, porém, vai além do tratamento, e busca a reutili- zação para fins de serviços gerais ou alguma etapa de processo produtivo. No Brasil, a importância do tema reflete-se na construção de linhas de pes- quisas em cursos de mestrado e doutorado, que se propõem a estudar o problema e buscar soluções. Bioenergia As preocupações do petróleo e carvão mineral como bens finitos acarreta- ram mudanças energéticas globais. A busca por fontes alternativas de energia tornou-se crescente, a fim de evitar um colapso energético futuro. Não somente a falta, mas também a intenção dos países em melhorar suas condições ambientais proporcionaram o avanço de pesquisas e implementa- ção de fontes limpas e renováveis. A bioenergia é compreendida como aquela que acarreta menores níveis de impactos ambientais, composta por fontes sustentáveis. Matérias-primas como biomassa, sol, vento, são consideradas formas de energia limpa (Figura 4). Solar Geotérmica Biomassa Mini-hídricas Eólica Ondas Figura 4. Principais fontes deenergia limpa. Fonte: CreaJR-PR, 2010. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 27 É de suma importância saber que qualquer forma de energia trará algum nível de impacto: o que se diferencia é o grau implicado. Petróleo e carvão mineral, além de considerados bens finitos, emitem par- ticulados e compostos orgânicos quando em combustão, como os hidrocar- bonetos polissacarídeos aromáticos, altamente prejudiciais à saúde. Estudos apontam positividade em sua substituição por outras fontes, mais sustentáveis, com tendência mundialmente crescente; porém, são necessárias uma constante atenção e acompanhamento. A utilização de biomassa pode ocasionar uma competição entre produção de energia e alimentos. Entre as matérias-primas utilizadas, os óleos derivados da soja e do milho são os principais, mas são eles também fontes nutricionais importantes. Pesquisas que procuram avaliar os impactos ambientais da energia solar e eólica apontaram dois sérios problemas: elevação da morte de animais, princi- palmente de aves, e erosão. A devastação de áreas para implementação desses modais energéticos também é outra problemática. Compreender tais problemas é importante para entendermos que, mesmo em se tratando de uma energia sustentável, há alguma forma de impacto. Economia verde Devido às preocupações com as questões ambientais, as empresas iniciaram um processo de mudança e implementaram tecnologias em seu processo de trabalho para proporcionar menos impactos ao ambiente. Seu propósito sustenta-se em menores emissões de poluentes, bem como na criação de produtos biodegradáveis. Esse novo formato produtivo é deno- minado de economia verde e tem demonstrado adesão crescente por parte de empreendimentos do setor público e privado. Essa adesão não se encontra restrita à diminuição de impactos ambientais, mas também abrange mais lucra- tividade, com diminuição de custos. Essa nova visão econômica encontra-se presente em grandes de- bates e participa da agenda da ONU. Os empreendimentos estão gradativamente reestruturando suas linhas produti- vas e investindo em tecnologias sustentáveis. Já os setores públicos têm uma tendência em incentivar essa transição, principalmente para atingir as metas propostas em acordos DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 28 de cooperação sobre diminuições da poluição ambiental. São mudanças que de- vem atingir de forma positiva a sociedade, possibilitando e garantindo seu bem -estar, sem ocorrência de danos. Padrões de consumo Vivemos numa sociedade em que somos “forçados” ao constante consumo, e essa atividade é de suma importância para manutenção econômica. Por quais- quer produtos utilizados necessitar, em seu processo, de alguma matéria-prima originada do ambiente, preocupações ambientalistas foram iniciadas. O consumismo demasiado poderá ocasionar, em breve, a escassez de recur- sos naturais. Daí, o debate visando à mudança. Ao se mencionar sobre padrões de consumo, estamos nos referindo à forma como a sociedade adquire e descar- ta seus bens – roupas, eletrodomésticos, calçados e afins. O desafio atual encontra-se na sensibilização social para o consumo cons- ciente, uma atividade de alto grau de dificuldade. Em um meio em que se apren- deu que o comprar pode ser uma ferramenta de felicidade, ocasionar uma mu- dança nessa forma de pensar é complexo. Contudo, não ocorre a existência de uma alternativa sem ser por meio de mu- dança de atitudes – e a realidade atual é a falta de recursos naturais no futuro, já que a demanda é superior se comparada à oferta. Como consequência, poderá ocorrer uma queda no bem-estar da população, assim como a falta de atendi- mento para questões básicas e essenciais de manutenção diária. Mudanças climáticas Para compreensão desse tema, uma primeira definição precisa ser es- clarecida, que é a diferença entre clima e tempo. O tempo é algo mutável – um dia poderá ser de sol, e o outro é de chuva. Já o clima é uma observação das modificações do tempo numa faixa mí- nima de 30 anos. Quando falamos de mudanças climáticas, a referência é uma grande mo- dificação no clima em escala regional ou global. Essa mudança pode apresentar sérios riscos à qualidade de vida da população. Áreas de climas frios, por exem- plo, podem apresentar constante aquecimento. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 29 As constantes emissões de poluentes são as principais causadoras da proble- mática, uma vez que podem provocar reações com o ozônio atmosférico e oca- sionar aumento na destruição de filtragem dos raios ultravioletas. Esse processo é denominado aquecimento global. Ocorrem grandes discussões na comunidade acadêmica sobre essa temáti- ca. Alguns estudiosos afirmam que a Terra se encontra em um processo de aque- cimento natural, com tendências futuras de ocorrer um resfriamento, já que, no contexto histórico de formação do planeta, existem evidências de processos de glaciação e deglaciação. Entretanto, a maior quantidade de pesquisas aponta que os impactos ocasio- nados ao ambiente, principalmente pela emissão de gases tóxicos no ar, são os principais responsáveis por esse processo atualmente. Desenvolvimento sustentável Entende-se por desenvolvimento sustentável o emprego de tecnologias que ocasionem menores níveis de agressão ao ambiente, como a diminuição da emissão de poluentes na atmosfera. A terminologia tecnologias limpas tam- bém é usualmente empregada nessa temática. A substituição dos combustíveis fósseis (petróleo) por energia de biomassa é considerada uma forma de desenvolvimento sustentável. As inovações tecnoló- gicas sustentáveis também devem ter um custo acessível, para beneficiar todas as classes sociais. A questão social também se encontra inclusa no discurso des- sa temática, devido à necessidade de melhorar a qualidade de vida da popula- ção, em uma tentativa de diminuir as desigualdades. Os limites de recursos naturais devem ser respeitados, e são necessários altos investimentos em pesquisas que busquem fontes alternativas em substi- tuição parcial, ou total. Atividades que contribuam para a extinção de espécies devem ser imediatamente interrompidas e reelaboradas, por poderem provocar um desequilíbrio no sistema ecológico. Essas novas visões e perspectivas estão sendo gradativamente postas em práticas, principalmente por países europeus; entretanto, muito ainda precisa ser realizado. Preservação e conservação Esses termos, diferentemente do pensamento comum, têm significados to- talmente opostos. A preservação é designada para áreas com proteção total, em que não pode ocorrer nenhuma forma de intervenção humana. Quando se DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 30 trata de conservação, poderá ocorrer a exploração de forma racional, não fo- mentando indícios de qualquer tipo de impacto ao ambiente. O Brasil conta com legislações que garantem e delimitam áreas preservadas e conservadas, tendo como punição de descumprimento multas e/ou prisões. O desrespeito a essas áreas, porém, é uma problemática existente e difícil de ser erradicada. As fraudes sobre as legislações ambientais, o descompromisso de empreendimentos, tentativas de subornos e trabalho exploratório e ilegal, são situações encontradas na exploração de bens naturais: em muitos casos, as áreas protegidas têm riquezas minerais, como ouro, ferro, grafeno, estanho e afins, cobiçadas por grandes empresas devido às diversas aplicações. Uma face esquecida é a riqueza da biodiversidade na fauna e flora existente nessas áreas, em alguns casos, pouco conhecidas e estudadas. Pesquisas constantes em áreas protegidas demonstram a descoberta de novas espécies, bem como melhor compreensão das dinâmicas ecológicas. Os estudos de base (aqueles que dão margem a outras pesquisas) apontam que há muito que ser descoberto. São fatores como esses que demonstram a importân- cia de proteção dasrespectivas áreas, especialmente em um contexto em que, em muitos casos, ocorre negligência para atender anseios econômicos. Ecologia, ecossistemas e biomas A procura pela compreensão dos aspectos de interrelação dos seres vivos com seu ambiente é denominado ecologia. Entre seus campos de pesquisa, busca-se o entendimento dos padrões e diversidades de espécies, modificações fisiológicas ou genéticas, ciclos biogeoquímicos e afins. São assuntos de extrema complexidade que envolvem, em determinados casos, anos de pesquisas para obtenção de resultados. O bioma é compreendido pela delimitação de uma região com característi- cas (climáticas, fisiológicas, geomorfológicas, entre outros aspectos) bem defini- das. No território brasileiro há seis biomas: Mata Atlântica, Amazônia, Cerrado, Caatinga, Pantanal e Pampa. Denomina-se ecossistema a interação dos fatores bióticos e abióticos, e se propõe estudar suas respectivas influências. Esse é um conceito bastante utilizado e estudado pelos ecologistas. Contudo, os setores de tecnologia da informa- ção também têm-se apropriado dessa terminologia. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 31 Recentemente, o termo ecossistemas de inovação tem ganhado espaço nos debates. Seu objetivo é uma parceria sólida entre entidades governamentais, empresas e instituições universitárias, visando à construção e implementação de parques tecnológicos. Os temas que têm foco são aqueles voltados ao campo das engenharias, informática e outros que envolvem a tecnologia da informação. Equidade social A busca por uma sociedade mais justa é uma das lutas ambientais atuais. A questão de justiça não deve se restringir aos aspectos do ser humano em sua relação com o meio físico, mas abranger também a relação entre seres sociais. O termo igualdade adentra este século para realizar reparos, consertar e evitar erros relacionados à justiça social. Contudo, outro termo tem tido sua apli- cação ampliada: a equidade. Diferentemente da igualdade, que busca realizar uma avaliação, julgamento e afins e é aplicada igualitariamente a todos, a equidade busca estudar o caso, ocasionando uma restruturação de regra, mas sem perda alguma da ética e da justiça (Figura 5). Figura 5. Exemplificação da diferença entre igualdade e equidade social. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 24/08/2020. Igualdade Equidade Segurança alimentar Esse tema pode ser definido como a capacidade de produção e distribuição de alimentos seguros para toda a população. As políticas voltadas a mecanis- DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 32 mos produtivos e disponibilidade de alimentos, a serem elaboradas pelas enti- dades governamentais, é denominada soberania alimentar. A temática da segurança alimentar envolve diversos temas: todos aqueles voltados à disponibilidade de terra, água e fertilizantes. O contexto também está relacionado à aquisição de alimentos saudáveis para a população. Temáticas como obesidade e doenças causadas pelo consumo alimentício inadequado também são relacionadas à segurança alimentar. Resíduos sólidos Esse tema é definido como qualquer tipo de material ou bem adquirido e descar- tado pela sociedade. Em sua maioria, os materiais podem ser reciclados e/ou reu- tilizados. Contudo, o descarte inadequado apresenta um dos principais problemas ambientais atuais. No Brasil, em 2010, instituiu a Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei n° 12.305/10): o Ministério do Meio Ambiente (2010) aborda políticas de gestão, res- ponsabilidade sobre o ciclo de vida, viabilização de coleta seletiva e sistema de infor- mações sobre o gerenciamento de resíduos. Contudo, falhas envolvendo aspectos financeiros inviabilizam um trabalho efeti- vo, especialmente as diversas falhas no gerenciamento de resíduos. Nossas atitudes como cidadãos são importantes pois a separação dos resíduos ainda é algo pouco executado na sociedade. Racismo estrutural Vivemos em uma sociedade diversificada. Contudo, as políticas étnicas e de res- peito ao próximo, em alguns casos, não são implementadas. No histórico de desenvolvimento humano, a ascensão de um determi- nado grupo social e inferiorização de outro é algo ainda encontrado neste século. Essa trajetória histórica, que põe em prática uma cultura que atinge diferentes grupos sociais de forma negativa, sem respeito à ética civil, é denominada racismo estrutural. Histórico dos debates a respeito de ética e responsabilidade social no Brasil e no mundo Os debates sociais sobre as responsabilidades e valores éticos ocorrem todos os dias. As mesas redondas e eventos científicos são constantes no mundo inteiro, DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 33 sendo eles responsáveis por traçar e fomentar a compreensão do hoje e promo- ver ações que terão efeitos significativos em curto ou longo prazo. Os meios aca- dêmicos e as universidades são os principais polos desses debates, destacando-se as Ciências Humanas, embora não sejam exclusivas nessas mesas. Uma visão de aspecto mundial O debate sobre a reponsabilidade social tem seu principal início marcado pela Revolução Industrial no século XVIII. A situação precária de trabalho, em maioria exploratórios, fez diversos teóricos debaterem a problemática. Entre as teorias realizadas, uma se encontra em debate até os dias atuais: Karl Marx elabora as primeiras formulações sobre o capitalismo. A corrente de pensa- mento de Marx era uma dura crítica à exploração exacerbada da classe operária, e, em contrapartida, aos lucros e à concentração de renda que estavam nas mãos dos grandes donos de empreendimentos. Além disso, as teorias de Marx também contemplavam questões ambientais devido aos altos níveis de poluição que se alastravam pela Europa. As problemáticas relacionadas ao trabalho exploratório fizeram a classe operá- ria procurar lutar por alguma forma de garantia de direitos. Esse fator estava atre- lado, também, à constante modernização fabril, que diminuiu a dependência de mão de obra e fez com que antigos artesões se tornassem desempregados. Essas perspectivas levaram os operários a lutar e a construir os sindicatos, reconhecidos pelo parlamento inglês após várias lutas, que também resultaram no surgimento de movimentos grevistas. Outro ponto está atrelado ao engajamento dos setores públicos nas temáticas ambientais. A preocupação com a saúde, o bem-estar e a qualidade de vida social foi peça-chave para o surgimento de encontros que buscassem propor soluções de mitigação. Reuniões que anteriormente eram realizadas para atender às preo- cupações com as perspectivas econômicas passaram a ser substituídas pelas pau- tas ambientalistas. O movimento hippie, ocorrido nos anos 1960, também faz parte de uma im- portante conjuntura dos debates sociais. Iniciado com a luta contra o uso de armas nucleares, incorporou temáticas importantes em seu discurso, como o respeito à natureza, homossexualidade, pre- conceito racial e consumo consciente, dando margem a ou- tros debates pouco comentados naquele período. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 34 O Brasil no caminho da responsabilidade social Após o período da Ditadura Militar e constituição do Brasil como democra- cia, novos debates surgiram. A elaboração da Constituição garantiu as legisla- ções trabalhistas anteriormente reduzidas durante a ditadura. A liberdade de expressão e de imprensa é devolvida, ampliando a ascensão sobre os proble- mas sociais, principalmente relacionados à pobreza, existentes devido à liber- dade dos pesquisadores das ciências humanas definirem seus estudos sem a ocorrência de algum tipo de retaliação. A reforma agrária é outro importante marco, que possibilitou a distribui- ção e posse de terras para os pequenos agricultores. Diferentemente do que se imagina, esse grupo de trabalhadores são os principais responsáveis pelo abastecimento alimentício nacional. As grandeslavouras, as agroindústrias, têm foco na manutenção do mercado internacional, uma vez que o Brasil é um dos principais centros do agronegócio mundial. Movimentos mundiais A Segunda Guerra Mundial teve fim no ano de 1945 e deixou conse- quências graves para humanidade. O mundo precisava reestruturar-se fi- sicamente e economicamente. Além da morte de milhares de pessoas, outro grande grupo ficou sem acesso a alimentos e suprimentos de neces- sidades básicas. Fatores como esses impulsionaram o problema da fome existente em diversos países do mun- do, mesmo anteriormente à guerra, e fizeram com que surgisse uma visão agrí- cola denominada Revolução Verde. Entre os períodos de 1960 e 1970, países como Estados Unidos e México procuraram implementar tecnologias que ace- lerassem a produção agrícola. Por outro lado, a utilização desenfreada de pesticidas trouxe problemas ambientais. O uso de produtos químicos como fertilizantes era algo corriquei- DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 35 ro. Todavia, estudos de monitoramento do meio físico e saúde humana, bem como avaliações de riscos, não eram realizados com frequência, e não existiam protocolos seguros de utilização e afins. Estudos que fossem contra e apre- sentassem divergências de pensamentos eram duramente criticados: um deles realizado por Rachel Carson em 1962, denominado Primavera silenciosa. A obra, que buscava explicar os impactos da utilização inadequada de pes- ticidas no desenvolvimento vegetal, biodiversidade de espécies e saúde hu- mana, foi considerada livro célebre pelo movimento ambientalista moderno. Mesmo sendo duramente criticado na época, ele demonstrou com clareza os impactos desse modelo de produção e foi crucial para o processo de mudança, que, obviamente, não foi rápido. Atualmente, o avanço científico possibilita o desenvolvimento de novas perspectivas e tecnologias no campo agrícola, com níveis mais baixos de impactos ambientais. Conferência de Estocolmo O fim da Segunda Guerra também ocasionou outras preocupações am- bientais. O relatório produzido pelo Clube de Roma em 1972 apontou um problema de crescimento rápido da po- pulação e que os recursos naturais não conseguiriam suprir as necessidades. Naquele mesmo ano, a ONU de- cidiu realizar a primeira reunião com chefes de Estado que procurassem tratar dos problemas ambientais, de- nominada Conferência Mundial do Homem e do Meio Ambiente, popu- larmente conhecida como Conferência de Estocolmo (Figura 6). Problemas como catástrofes naturais, mudanças climáticas, possível es- cassez de recursos naturais e modificações econômicas e sociais foram de- batidas no encontro, que resultou na Declaração das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente, também denominada Declaração de Estocolmo, que pro- movia ações ambientais. A importância dessa reunião é pautada por ser a Figura 6. Notícia de jornal brasileiro sobre a Conferência de Estocolmo. Fonte: FEITOSA, 2018. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 36 primeira vez que as entidades governamentais se preocuparam, oficialmente, com os aspectos ambientais. A criação do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) As mudanças globais do clima despertaram grande interesse das institui- ções governamentais e seus respectivos gestores, o que culminou na criação do IPCC – Intergovernmental Panel on Climate Change, em 1988. A intenção do Painel é voltada à junção e difusão de dados relacionados a mudanças climáticas, com a proposta de conhecimento sobre seus aspectos fundamentais, formas de solução e efeitos na sociedade (pessoas e questões econômicas). Protocolo de Quioto Os relatórios de IPCC foram fundamentais para, em 1997, ser construído o Protocolo de Quioto. A entrada em vigor do Protocolo, porém, foi realizada apenas no ano de 2005. Sua finalidade tem um significado importante para a manutenção da vida no planeta, pois o intuito foi o estabelecimento do controle na emissão de ga- ses do efeito estufa (GEE) pelas atividades industriais na atmosfera. Os países assinaram um compromisso para diminuição das emissões de CO2, e o protocolo também deu margem para o surgimento do termo créditos de carbono, em que uma tonelada de dióxido de carbono geraria um crédito em forma de certificado. Essas certificações poderiam ser negociadas no mer- cado internacional. Eco 92 e Rio + 20 A Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente, popularmente conhecida como Eco 92, foi uma das principais reuniões mundiais a tratar dos temas ambientais, com um significativo envolvimento de diversos países (176) de todo o planeta. Realizada no Rio de Janeiro, em 1992, a conferência procurava de- finir um plano de ação para o desenvolvimento sustentável, e tor- nou-se o início da ascensão global das discussões sobre os problemas ambientais, tendo como foco a busca por alternativas de solução (Figura 7). Assim como o relatório do IPCC, a Eco 92 foi fundamental para ela- boração do Protocolo de Quioto. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 37 Figura 7. Registro do encerramento da Eco 92. Fonte: ROZARIO, 1992. Figura 8. Os 17 Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável na Agenda 2030. Fonte: ONU Brasil, 2015. A Rio+20, por sua vez, foi realizada 20 anos depois e teve por objetivo a rea- firmação dos compromissos adotados na Eco 92. A conferência também teve como foco a observação e discussão de problemas ainda existentes e buscou formas de soluções futuras. Um grande diferencial do encontro foi a intensifi- cação dos debates voltados à implementação da economia verde. Cúpula das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável Esse importante evento ocorreu na cidade de Nova York, Estados Unidos, com o objetivo de direcionar o planejamento para o de- senvolvimento sustentável até o ano de 2030. Foram traçados 17 objetivos, denominados ODS (Objetivos para o Desenvolvi- mento Sustentável), como demonstra a Figura 8. No encontro, também foram discutidas as ações propostas durante a Rio +20. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 38 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 39 Marcos históricos da educação ambiental no Brasil O primeiro registro da institucionalização da educação ambiental no Bra- sil ocorreu em 1973, com a criação da Secretaria Especial do Meio Ambiente (SEMA). A SEMA pode ser considerada o início do processo de conscientização da sociedade brasileira sobre a necessidade de preservação do meio ambiente para a manutenção e melhoria da qualidade de vida. Com a instituição da Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA) pela Lei Fe- deral n. 6.938/81, foram explicitados conceitos relacionados à conscientização ambiental e à promoção da educação ambiental em diferentes níveis de ensino e setores da sociedade (art. 2°, caput, X). Assim, podemos considerar que a PNMA foi o primeiro marco da educação ambiental formal no País. Art 2º - A Política Nacional do Meio Ambiente tem por objetivo a preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental pro- pícia à vida, visando assegurar, no País, condições ao desenvolvi- mento sócio-econômico, aos interesses da segurança nacional e à proteção da dignidade da vida humana, atendidos os seguintes princípios: [...] X - educação ambiental a todos os níveis de ensino, inclusive a edu- cação da comunidade, objetivando capacitá-la para participação ativa na defesa do meio ambiente (BRASIL, 1981, n.p.). A Constituição do Brasil de 1988 reforça a consolidação da EA no País ao defi- nir, no artigo 225, o direito de todos ao acesso de um ambiente ecologicamente equilibrado e, em seu inciso VI, a necessidade de promoção da EA, ao menos no contexto educacional ou formal: Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equi- librado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o deverde defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. § 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público: [...] VI - promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente (BRASIL, 1988, n.p.). DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 40 Note que temos em nossa Constituição Federal, portanto, explicitamente a definição de que a promoção da educação ambiental deve ser responsa- bilidade do poder público. Porém, vale observar que a obrigatoriedade do Estado em estabelecer as bases da EA no contexto formal não dispensa a participação social no processo de conservação e proteção ambiental. A Conferência, Earth Summit, ou Eco-92, possibilitou a adoção do Trata- do de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global. Já a Agenda 21 reforça a perspectiva de atribuição de poder aos grupos comunitários e, com o apoio do Ministério da Educação na Rio-92, foi produzida a Carta Brasileira para Educação Ambiental, que, entre outras coisas, reconhece ser a educação ambiental um dos instrumentos para via- bilizar a sustentabilidade como estratégia de sobrevivência do planeta e da manutenção da vida humana. Infelizmente, a Carta já admitia a existência da lentidão de produção de conhecimentos e a falta de comprometimento dos gestores públicos em relação à fiscalização da legislação de um modelo educacional que não resolve as reais necessidades do País. DICA A Agenda 21, definida pela ONU na Eco-92, reafirma, dentre outros princípios básicos, a reorientação da educação a um desenvolvi- mento ambientalmente sustentável e o aprofundamento da cons- cientização pública. Em consonância com esta, em 2015 criou-se a Agenda 2030, um plano de reafirmação das metas estabelecidas em 1992 que também dá continuidade aos esforços das agora 192 nações que fazem parte do tratado. Posteriormente, a Lei n. 9.795/1999 instituiu a Política Nacional de Educação Ambiental no País. Em uma análise inicial, podemos perceber que a PNEA é resul- tado de inúmeras ideias debatidas em diversos eventos nacionais e internacionais acerca das questões ambientais. Em especial, pode ser percebida em seu texto a adoção de conceitos apresentados pela Carta de Belgrado. Assim, a determinação da responsabilidade do poder público se dá de forma concorrente (nas esferas de poder federal, estadual e municipal), também com o intuito de incentivar a ampla participação das organizações não governamentais (ONGs) e de toda a sociedade na elaboração e execução de programas de educação ambiental. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 41 Criação da Secretaria Especial do Meio Ambiente (SEMA) 1973 1988 Artigo 225 (Constituição): direito a um ambiente ecologicamente equilibrado 1992Earth Summit (Eco 92) 1999Instituição da Política Nacionalda Educação Ambiental (PNEA) 2004Criação do Programa Nacional de Educa-ção Ambiental (PRONEA) 2010Lei federal de educaçãoambiental não formal Figura 9. Linha do tempo simplificada dos principais eventos relacionados à EA no contexto brasileiro. Ressalta-se que, na prática, não há uma ocorrência que seja mais importante, sendo todas as ações e todos os proje- tos necessários para que seja possível atingir os objetivos coletivos com o desenvolvimento da consciência ambiental a partir da criticidade dos cidadãos. No próximo tópico, analisare- mos alguns dos principais conceitos da edu- cação ambiental. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 42 Base conceitual da educação ambiental Primeiramente, para definir as bases conceituais da educação ambiental, é necessário ressaltar que ao longo do aprimoramento dessa ferramenta perce- beu-se que o público a ser considerado, na realidade, é toda a sociedade. Assim, enfatizamos que a EA é considerada formal quando aplicada em qualquer nível da educação formal (estudantes, professores e funcionários de escolas, universi- dades e institutos). Adicionalmente, a educação não formal engloba campanhas, projetos e outras atividades práticas que envolvem diferentes grupos populacio- nais (trabalhadores, gestores públicos e agricultores, por exemplo). Assim, a PNEA definiu a educação ambiental e destacou a importância do de- senvolvimento de práticas educativas voltadas à sensibilização e à organização da coletividade sobre questões ambientais. No art. 1º da PNEA, a definição de educação ambiental é apresentada: Art 1º. Entendem-se por educação ambiental os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, es- sencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade (BRASIL, 1999, n.p.). No art. 2º, a PNEA complementa que a educação ambiental é “um componen- te essencial e permanente da educação nacional, devendo estar presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em caráter formal e não-formal” (BRASIL, 1999, n.p.). Por fim, a PNEA define como princípios básicos da EA: Art. 4º São princípios básicos da educação ambiental: I - o enfoque humanista, holístico, democrático e participativo; II - a concepção do meio ambiente em sua totalidade, considerando a interdependência entre o meio natural, o sócio-econômico e o cul- tural, sob o enfoque da sustentabilidade; III - o pluralismo de idéias e concepções pedagógicas, na perspectiva da inter, multi e transdisciplinaridade; IV - a vinculação entre a ética, a educação, o trabalho e as práticas sociais; V - a garantia de continuidade e permanência do processo educativo; Fonte: EPA, 2018, n.p. QUADRO 1. PRINCIPAIS DIFERENÇAS DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL VERSUS INFORMAÇÃO AMBIENTAL Educação ambiental • Aumenta a consciência pública e o conhecimento das questões ambientais; • Auxilia no desenvolvimento do pensamento; • Aumenta as habilidades de resolução de problemas e tomada de decisão; • Não defende um único ponto de vista, fomenta a análise crítica. Informação ambiental • Disponibiliza fatos e opiniões sobre problemas ambientais; • Não se preocupa com o ensino do pensamento crítico e emancipatório; • Não gera diretamente ferramentas para resolução de problemas; • Pode apresentar apenas um ponto de vista sobre a questão ambiental de interesse. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 43 VI - a permanente avaliação crítica do processo educativo; VII - a abordagem articulada das questões ambientais locais, regio- nais, nacionais e globais; VIII - o reconhecimento e o respeito à pluralidade e à diversidade individual e cultural (BRASIL, 1999, n.p.). Assim, a Lei n. 9.795/1999 instituiu a Política Nacional de Educação Ambiental (PNEA), apresentando conceitos e definições. Desta forma, podemos sintetizar que o público-alvo da EA são tanto os integrantes da educação formal quanto os da não formal. Ressalta-se que os objetivos de ensino em ambientes formais são construir conhecimento científico e desenvolver a relação dos alunos com a natureza por meio de pedagogias de aprendizagem ativa, como trabalho de campo e experiências ao ar livre (PARRA et al., 2020). Assim, mais do que se informar sobre processos que envolvem nossa vida so- cioeconômica, é necessário priorizar o desenvolvimento da EA como ferramenta de participação social e crítica. No Quadro 1, há uma síntese das principais dife- renças entre educação ambiental e informação ambiental. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 44 Observe que a informação ambiental deve possuir qualidade e não ser ten- denciosa em sua transmissão; mas é a EA que define como essencial o aumento da consciência pública ambiental a partir de ensinamentos contínuos de pensa- mento crítico, reforçando as habilidades individuais e a análise de fatos utilizan- do o raciocíniológico. Outra distinção que cabe em uma breve análise é acerca da educação de for- ma mais ampla e sua comparação com a EA. É consenso que a educação, além de instruir, já traz em si o conceito de propiciar o desenvolvimento da capacidade crítica e o senso de responsabilidade. Paulo Freire, em sua obra Pedagogia do Opri- mido, enfatiza que a educação é um processo complexo de conscientização cole- tiva. Hoje, compreendemos que a educação ambiental faz parte desse processo. De fato, podemos considerar que ambientalismo não é uma opção, mas uma responsabilidade e um aspecto fundamental para a construção de uma socie- dade coesa e que respeita as leis de proteção do ambiente que ocupa (SAYLAN; BLUMSTEIN, 2011). Isso se refere às responsabilidades de proteção ambiental, mas também em compreender minimamente como os ciclos ocorrem: na ex- tração de recursos naturais, na geração de resíduos, na produção agrária e/ou industrial, entre outros. Tendo em vista o desenvolvimento necessário para sociedades mais susten- táveis, os cidadãos precisam ser apoiados e ensinados a superar quaisquer la- cunas ou desafios importantes para integrar esta sociedade sustentável (PARRA et al., 2020). Assim, a educação ambiental se concentra na promoção do conhe- cimento ambiental e no aprimoramento de atitudes e valores ecologicamente corretos, bem como na conquista da cidadania e das habilidades cognitivas de alto nível necessárias para promover um estilo de vida ecologicamente correto. A educação para a cidadania ambiental deve auxiliar os alunos a compreenderem a complexidade dos sistemas socioecológicos e a identificar as causas estruturais da degradação ambiental. Com isso em mente, a educação para a cidadania ambiental amplia a perspectiva do aspecto local para o global e enfatiza as interrelações e inter- dependências. Além disso, a aprendizagem da sustentabilidade é um conceito multinível que ocorre tanto no nível individual quanto no nível DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 45 dos agregados sociais, grupos, organizações e a sociedade como um todo (PARRA et al., 2020). O conhecimento de como mudar democraticamente uma sociedade e os efeitos da justiça social dessas mudanças local e globalmente não foram, pelo menos no início, suficientemente enfatizados na educação para a sustentabili- dade, posto que suas raízes estão na educação ambiental e possuem foco mais estreito na proteção ambiental e conservação de recursos (PARRA et al., 2020). DICA Você sabe o que significa uma educação ambiental crítica? Para compreen- der melhor o processo emancipatório da educação sobre o qual a EA vem sendo discutida e desenvolvida, sugerimos a leitura dos seguintes textos: “Educação ambiental crítica: nomes e endereçamentos da educação”, es- crito por Isabel Cristina de Moura Carvalho, e “Educação ambiental crítica”, estruturado por Mauro Guimarães. A política nacional brasileira para a educação ambiental O termo educação ambiental (EA) é muito utilizado, apesar de muitas pessoas não saberem sua definição. Assim, algumas distorções podem ocorrer, e a prá- tica da EA pode ser prejudicada. Nesse sentido, Silva Junior et al. (2018, n. p.) destacam que a democratização e a divulgação das formas que temos para inte- ragir com o meio ambiente de maneira responsável ainda é muito frágil, em uma sociedade que não exerce, no cotidiano, hábitos que favorecem o fortalecimento da temática em questão. Dessa forma, começamos esse tópico destacando que uma maior preocupa- ção com o meio ambiente é necessária, bem como o reconhecimento do papel crucial da educação para melhorar a relação do ser humano com o meio. Para isso, é preciso que haja em todas as bases da sociedade ferramentas para traçar diretrizes para o surgimento de mais iniciativas de conscientização ambiental. A escola é um espaço em que os estudantes podem se tornar pessoas mais atentas quanto à importância da conservação e restauração do meio ambiente, fomentando a proteção também da biodiversidade, de um modo geral (SILVA JUNIOR et al., 2018). A educação é um processo contínuo, de elevada relevância e, por isso, se fa- DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 46 zem necessários planejamentos complexos para que possamos obter resultados satisfatórios, colaboran- do para as reflexões de ensino e aprendizagem que ultrapassem as salas de aula. Cada vez mais, precisamos de nos formar como cidadãos, críticos e responsáveis pela preservação dos recursos naturais. A educação ambiental não deve ser entendida como um tipo especial de educação, mas como uma série de etapas contínuas ao longo processo de aprendizagem, em que coexiste a filosofia da contribuição participativa em que todos (família, escola e comunidade) devem estar envolvidos (SILVA JUNIOR et al., 2018). Por esse motivo, a Política Nacional de Educação Ambiental (PNEA) brasileira visou traçar diretrizes não apenas para a EA formal, que ocorre nas escolas, mas também para a EA não formal, englobando a diversidade de atores sociais e a importância de todos construirmos coletivamente uma preocupação que paute as ações e decisões regionais e nacionais. Educação ambiental formal Uma questão importante dentro do sistema educacional superior é propiciar a especialização na área de formação e também em áreas científicas semelhantes ou relacionadas. A relevância se dá, justamente, pelas conexões interdisciplinares e pela transferência teórico-conceitual decorrente de novos resultados científicos. Nesse contexto, é importante que cada país explicite em sua política de educação ambiental a importância de toda a sociedade para a conservação ambiental e os possíveis papéis das mais diversas áreas de formação técnica nessa conservação. Assim, os atores socioeducativos envolvidos nas atividades de EA devem assu- mir as ações em termos de aumento do conhecimento científico, e também possi- bilitar a existência e qualidade de vida das próximas gerações. Desse modo, ao nível da consciência humana, é visível um peso científico-axiológico, segundo o qual são estabelecidas conexões entre diferentes níveis de realidade (COSTEL, 2015). Para tanto, Costel (2015, n. p.) explicita que para se tornar pragmático um sistema social deve ser construído, antes de mais nada, sobre a educação es- pontânea. Em segundo lugar, acreditamos que uma perspectiva de política social DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 47 efetiva envolve uma abordagem específica sobre a educação ambiental. Portanto, as correspondências sociais e meto- dológicas transpõem em plano operacional às finalidades inscritas na diligência educacional. Nas últimas duas décadas, no entanto, inúmeras pessoas ao redor do mundo se preocuparam (e continuam se preocupando) com as ques- tões interligadas de meio ambiente e desenvolvimento ambientalmente susten- tável. Desta forma, temos nos tornado cada vez mais conscientes da necessida- de de mudanças nas escolhas de hábitos e nos padrões nacionais e globais de desenvolvimento, consumo e comércio. Portanto, poderíamos considerar um erro pensar que apenas a educação ambiental nas escolas seria suficiente para a transição para a sustentabilidade, a menos que grandes reformas educacionais pudessem ser implementadas e que projetos em consonância com outros setores da sociedade fossem executados. Nesse momento, destacamos que a educação ambiental está prevista na Constituição Federal, em seu artigo 225º (Inciso VI), que estabelece que é dever do Estado e de todos de “promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino, e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente” (BRASIL, 1988). A Política Nacional de Educação Ambiental, instituída pela Lei n. 9.795, em seu artigo 3º, determina que, como parte de um processo educativo mais amplo, todos têm direito à educação ambiental, incumbindo: I - Ao Poder Público, nostermos dos arts. 205 e 225 da Constitui- ção Federal, definir políticas públicas que incorporem a dimensão ambiental, promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e o engajamento da sociedade na conservação, recupera- ção e melhoria do meio ambiente; II - Às instituições educativas, promover a educação ambiental de maneira integrada aos progra- mas educacionais que desenvolvem; III - Aos órgãos integrantes do Sistema Nacional de Meio Ambiente - Sisnama, promover ações de educação ambiental integradas aos programas de conservação, recuperação e melhoria do meio ambiente; IV - Aos meios de co- municação de massa, colaborar de maneira ativa e permanente na disseminação de informações e práticas educativas sobre meio am- biente e incorporar a dimensão ambiental em sua programação; V DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 48 - Às empresas, entidades de classe, instituições públicas e privadas, promover programas destinados à capacitação dos trabalhadores, visando à melhoria e ao controle efetivo sobre o ambiente de tra- balho, bem como sobre as repercussões do processo produtivo no meio ambiente; VI - À sociedade como um todo, manter atenção permanente à formação de valores, atitudes e habilidades que pro- piciem a atuação individual e coletiva voltada para a prevenção, a identificação e a solução de problemas ambientais (BRASIL, 1999). Assim, percebemos que a EA é uma questão que precisa ser incentivada e fo- mentada simultaneamente pelo Estado e por muitos outros setores da sociedade. Em seu artigo 4º (Inciso VII), a PNEA valoriza a abordagem articulada das ques- tões ambientais locais, regionais e nacionais. Enquanto isso, em seu artigo 8º (In- cisos IV e V) há um evidente incentivo à busca de alternativas curriculares e meto- dológicas na capacitação da área ambiental e as iniciativas e experiências locais e regionais, incluindo a produção de material educativo com o contexto social em questão (BRASIL, 1999). Em seu artigo 9º, a PNEA também define que se entende por educação am- biental, na educação escolar, aquela que é desenvolvida no âmbito dos currícu- los das instituições de ensino públicas e privadas, englobando (BRASIL, 1999): I. Educação básica: a. Educação infantil; b. Ensino fundamental; c. Ensino médio. II. Educação superior; III. Educação especial; IV. Educação profissional; V. Educação de jovens e adultos. Vale destacar que devido ao próprio dinamismo da sociedade, o despertar para a questão ambiental no processo educativo deve começar desde a infância (SOUZA et al., 2018). Ainda que a EA seja prevista em toda a idade escolar e a PNEA tenha sido instituída em 1999, atualmente, os educadores ainda encontram dificuldades e desafios para implementar a educa- ção ambiental no cotidiano escolar. Por isso, mantém-se a discus- DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 49 são sobre a maneira que a temática ambiental vem sendo trabalhada pelos professores que a desen- volvem nas escolas. Quando pensamos na educação ambiental, de- vemos inserir atividades práticas em todos os níveis da educação formal e informal, de modo que trabalhemos as aplicações de EA diariamente. Isso é uma proposição fun- damental, pois colabora para que haja envolvimento dos edu- candos em questões sobre as problemáticas do meio ambiente, e propicia um sentimento importante de pertencimento e transformação, em que cada um tem responsabilidades e pode colaborar para a construção de um mundo melhor. De maneira geral, a escola pode ser um dos locais mais propícios para a rea- lização de iniciativas de educação ambiental, por propiciar a inovação de costu- mes que não se limitam apenas aos conceitos ambientais, podendo ainda englo- bar questões culturais e sociais. Acredita-se que, assim, poderíamos alcançar um resultado mais efetivo e promissor diante das situações vivenciadas no contexto socioambiental, e que englobam o descarte do lixo de forma incorreta, os impac- tos ambientais e biodiversidade e, também, o tipo de interação ecológica que há nas relações humanas com a natureza. No artigo 10º da PNEA, se especifica que a educação ambiental deve ser de- senvolvida como uma prática educativa integrada, contínua e permanente, em todos os níveis e modalidades do ensino formal: § 1º A educação ambiental não deve ser implantada como disciplina específica no currículo de ensino; § 2º Nos cursos de pós-graduação, extensão e nas áreas voltadas ao aspecto metodológico da educa- ção ambiental, quando se fizer necessário, é facultada a criação de disciplina específica; § 3º Nos cursos de formação e especialização técnico-profissional, em todos os níveis, deve ser incorporado con- teúdo que trate da ética ambiental das atividades profissionais a serem desenvolvidas (BRASIL, 1999). Nesse sentido, sabendo que a educação ambiental é um processo permanen- te e contínuo, não deveríamos limitá-la ao espaço escolar, pois é importante tê-la como hábito no ensino do educando (SOUZA et al., 2018). Assim, podemos en- tender que a EA formal continuará a ser aprimorada com a incorporação de no- DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 50 vos significados sociais e científicos em relação ao meio ambiente e às dinâ- micas que possuímos com o local que ocupamos. Justamente devido a esse dinamismo da sociedade, a questão ambiental no processo educativo de- veria começar na infância, corroboran- do para a formação de gerações mais conscientes e preocupadas com pau- tas ambientais, tais como a proteção da biodiversidade e o enfrentamento das mudanças climáticas. Ficou especificado que a dimensão ambiental precisa constar nos currí- culos de formação de professores, em todos os níveis e em todas as disciplinas. Além disso, “os professores em atividade devem receber formação complementar em suas áreas de atuação, com o propósito de atender adequadamente ao cum- primento dos princípios e objetivos da Política Nacional de Educação Ambiental” (BRASIL, 1999). Souza et al. (2018, n. p.) destacam a dúvida de como a EA está sendo conduzida no ensino da educação ambiental no cotidiano da sala de aula. A abrangência das atividades dos docentes engloba a participação e gestão dos sistemas de ensino. Dessa forma, os professores podem incluir escolhas metodológicas distintas, vi- sando fomentar pontos de análise e valorização da consciência da diversidade, respeitando as diferenças ecológicas, étnico-raciais, de classes sociais, de necessi- dades especiais e de gênero. As diretrizes de ensino de EA são muito diversificadas e podem servir como ferramenta, aproximando conceitos complexos das comunidades de atuação. Em seu trabalho de análise, Silva e Almeida (2018, n. p.) notaram que os principais desafios das ações práticas de EA nas escolas estão vinculados a ques- tões de: espaço da escola, número de estudan- tes e de professores com disposição para passar por processos de formação continuada na área em DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 51 questão, participação e dedicação da direção da escola, melhor participação do governo estadual, dentre muitos outros problemas. Com isso, algumas barreiras poderiam surgir, limitando as práticas de EA e tornando as atividades pontuais. Em contextos em que a prática de EA ainda não ocorre de forma contínua, uma alternativa é proceder visitas em centros especializados que possam instruir edu- candos e educadores e mostrar um caminho a ser percorrido. Nesse contexto, há no Brasil um tipo especial de centro de educação ambiental, relacionado com as fazendas e florestas. A Escola da Floresta é um exemplo desses centros. Nela, há variedade de possibilidades a serem explorados por pessoas de todas as idades. A Figura 2 mostra a realização de uma trilha dos sentidos com crianças de uma escola em visita. Note que atividades como essa podem ser adaptadas à realidade de muitasescolas brasileiras. Figura 10. Realização da trilha de sentidos, para aumentar a percepção do ambiente em que ocupamos e a busca pela recone- xão com a natureza. Fonte: Escola da Floresta. Acesso em: 17/05/2021. Uma das maiores dificuldades para que o currículo escolar possa abranger a EA de forma habitual e com a profundidade de discussão que se desejaria, pode ser uma consequência do modelo adotado pelo nosso sistema escolar. As atuais preocupações da educação se concentram em notas, desempenho, competição, esforço individual, sucesso pessoal e padrões hierárquicos de relacionamentos pessoais. O ensino de EA deve ser pensado de forma coletiva, emancipatória, críti- ca e transversal a muitas diferentes áreas de aprendizagem. Apesar de tais observações fazerem parte de muitas realidades, Souza et al. (2018, n. p.) afirmam que, nos últimos anos, foi possível observar uma expansão da educação ambiental no ensino formal das escolas brasileiras. Em contraste a DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 52 essas pontuações, Silva e Almeida (2018, n. p.) destacam que, de modo geral, pro- fessores de todas as modalidades de ensino, na maioria das vezes, não possuem orientação e nem material para esse trabalho de construção da EA. Mesmo que essa temática tenha se tornado uma realidade no ensino formal em muitas localidades do Brasil, sabe-se das dificuldades e desafios que a educa- ção ambiental ainda tem que enfrentar no cotidiano escolar e na heterogeneidade de oportunidade entre nossas cidades. Silva e Almeida (2018, n. p.) destacam que a temática ambiental dificilmente está presente nos cursos de formação dos pro- fessores, uma vez que os cursos de formação continuada, geralmente, são desti- nados aos professores de ensino fundamental e médio, bem como os materiais produzidos e disponibilizados. No âmbito da aplicação da EA nas escolas, a Lei de Diretrizes e Bases da Educa- ção Nacional (LDB), sancionada em 1997, já delineava a educação ambiental como tema transversal. Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) de Biologia, por exemplo, explicitam que a EA precisa de ser trabalhada de forma interdisciplinar e em consonância com o contexto social e econômico. Para que sejam realizados trabalhos de qualidade em EA, se faz necessário um comprometimento dos sistemas governamentais e das políticas públicas di- recionadas à temática ambiental, proporcionando aos professores uma formação adequada para o desenvolvimento de projetos, com a qualificação para o trabalho em consonância à PNEA. Contudo, em alguns casos, tal política não está presente e, muitas vezes, cabe ao professor buscar uma formação continuada, de maneira independente, dispondo de seus próprios recursos (SILVA; ALMEIDA, 2018). De forma complementar, analisou-se que rodas de educação, escuta e nar- rativas ficcionais são destacadas como traços e atividades fundamentais para os processos de formação de professores que estão se tornando educadores am- bientais (GALIAZZI et al., 2018). Galiazzi et al. (2018, n. p.) explicam que os professores de uma comunidade de aprendizagem organizada em rodas de educação e comprometidos com os prin- cípios do diálogo, da escuta, do compartilhamento de saberes e ações podem se tornar educadores am- bientais experientes em processos educativos em que as relações de saber são processos horizontais e contínuos. Como educadores e professores ambien- DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 53 tais, eles podem ensinar o valor de ouvir e aceitar diferentes pontos de vista. Sendo assim, diante das adversidades e situações locais enfrentadas, as práti- cas pedagógicas cotidianas como a aplicação de projetos de educação ambiental, envolvendo as escolas, os educandos, suas famílias e entorno, poderão figurar como local de reflexão. Essa reflexão pode ser mais efetiva se focada na cons- trução coletiva de alternativas e, diante das necessidades observadas em cada realidade, propiciar que intervenções socioambientais possam ser propostas. A construção fora dos ambientes escolares, por sua vez, se refere à educação am- biental não formal, que estudaremos no próximo tópico. Um exemplo muito comum de prática de educação ambiental no Brasil são as hortas escolares. Devemos valorizar tais ações e observar que os ensinos vão além das práticas de EA formal. Em muitos contextos, a horta da escola possi- bilita uma interação da comunidade do entorno, fomentando a coletividade das ações realizadas. Educação ambiental não formal Silva Junior et al. (2018, n. p.) definem que a educação ambiental é um cam- po de conhecimento que se encontra em construção e gera desenvolvimentos à medida que tenhamos a prática cotidiana dos envolvidos nesse processo. O engajamento público significativo e a responsabilidade exigem um entendimen- to comum do que esperar e demandar das partes envolvidas nos projetos de educação ambiental. A Conferência de Tbilisi (1977), dentre seus princípios básicos, já considerava que a educação ambiental deve ser um processo contínuo e permanente, come- çando pelo pré-escolar e continuando ao longo de todas as fases do ensino for- mal e não-formal, com aplicação interdisciplinar, de modo que se adquira uma perspectiva global e equilibrada. Curiosamente, as perspectivas dos praticantes e dos participantes sobre os resultados da educação ambiental são pouco estudadas, particularmente por- que uma compreensão das aspirações dos participantes para a educação am- biental é complexa, apesar de essencial, para garantir que ela atenda às suas necessidades e que eles continuem se engajando. É particularmente importante compreender os benefícios que os participantes de projetos não formais de edu- DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 54 cação ambiental podem obter com a participação nos projetos (WEST, 2015). No contexto da educação ambiental não formal, há linhas de ações destina- das ao planejamento, gestão, monitoramento e avaliação de programas e políticas ambientais nas três esferas de governo, em sintonia com os setores sociais. Esse sistema fortalece o diálogo da escola com a comunidade e movimentos sociais (BADR et al., 2017). A PNEA, em seu artigo 13º, definiu a educação ambiental não formal como sendo as ações e práticas educativas voltadas à sensibilização da coletividade sobre as questões ambientais e à sua organização e participação na defesa da qualidade do meio ambiente. Nesse sentido, o Poder Público, em níveis federal, estadual e municipal, incentivará: I - A difusão, por intermédio dos meios de comunicação de massa, em espa- ços nobres, de programas e campanhas educativas, e de informações acerca de temas relacionados ao meio ambiente; II - A ampla participação da escola, da universidade e de organizações não-governamentais na formulação e execução de programas e atividades vinculadas à educação ambiental não-formal; III - A participação de empresas públicas e privadas no desenvolvimento de programas de educação ambiental em parceria com a escola, a universidade e as organiza- ções não-governamentais; IV - A sensibilização da sociedade para a importância das unidades de conservação; V - A sensibilização ambiental das populações tra- dicionais ligadas às unidades de conservação; VI - A sensibilização ambiental dos agricultores; VII - O ecoturismo (BRASIL, 1999). Este aspecto não formal da EA é de extrema relevância para que os dife- rentes atores da sociedade possam construir inúmeras práticas colaborativas em formato de projetos e programas, aprimorando as abordagens pautadas em políticas públicas, mas também com parcerias com setores não-governamentais, como empresas e ONGS. Conceitos e objetivos da educação ambiental A educação ambiental é um campo multidisciplinar que integra diversos ra- mos de estudo, como química, física, ciências humanas, ciências médicas, ciências biológicas, agricultura,saúde pública e engenharia sanitária. Dessa maneira, a EA coloca em pauta a importância da proteção e conservação do meio ambiente. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 55 O fato de a sociedade ter falhado em aceitar sua responsabilidade socioam- biental resultou no ato de nos colocarmos no centro de nossas relações, afas- tando-nos do meio natural do qual fazemos parte e acreditando que devemos dominar nosso ambiente. Infelizmente, a situação em que nos encontramos atualmente, pautada pelo conceito de que o ser humano pode controlar o meio ambiente sem respeitar ciclos naturais, está na raiz de grande parte do que é ensinado nas escolas. A criação de educandos ambientalmente conscientes em uma sociedade que não reconhece a gravidade dos problemas ambientais que enfrenta provavel- mente não terá muito impacto sobre esses problemas (SAYLAN; BLUMSTEIN, 2011). Isso porque existe uma desconexão fundamental entre o que aprende- mos na escola e como nos comportamos em nosso meio social, pelo menos no que diz respeito à educação ambiental. Embora essas variações possuam difícil medição, essa desconexão é facilmente percebida e precisa ser encarada como uma necessidade a ser superada. Fazer isso exige resiliência, criatividade, sensi- bilidade e esforço de todas as classes sociais e econômicas. Não é errado pensarmos a EA como uma adjetivação da educação, uma vez que tornar esta última apta à educação ambiental é uma necessidade de nosso presente, e isso se justifica devido ao fato de a EA enfatizar aspectos da educa- ção que muitas vezes foram e são marginalizados, mal interpretados e podem causar uma diversidade de impactos em muitas esferas da sociedade. Os componentes principais da educação ambiental são: I) conscientização e sensibilidade em relação aos desafios ambientais; II) compreensão das dinâ- micas relacionadas ao meio ambiente; III) atitudes de preocupação e motivação para melhorar ou manter a qualidade ambiental; IV) habilidades para identificar e ajudar a resolver problemas; V) participação em atividades para resoluções coletivas. Nesse contexto, a Resolução n. 422/2010 estabeleceu “dire- trizes para conteúdos e procedimentos em ações, projetos, campanhas e programas de informação, comunicação e educação ambiental no âmbi- to da educação formal e não-formal, realizadas por instituições públicas, privadas e da socieda- de civil” (CONAMA, 2012, p. 1088). DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 56 CURIOSIDADE A educação para a cidadania ambiental é definida como o tipo de educação que cultiva aptidões, valores, atitudes e competências necessárias que um cidadão deve possuir para ser capaz de agir e participar da sociedade como agente de mudança em escala local, nacional e global (HADJICHAMBIS; REIS, 2020). Essa abordagem é importante para capacitar os cidadãos a praticarem seus direitos e deveres ambientais, bem como para identificar as causas estruturais subjacentes aos problemas ambientais, levando em consideração a justiça inter e intrageracional (ENEC, 2018a). Um dos objetivos da EA é que a sociedade compreenda a relação de inter- dependência entre os ecossistemas naturais e as interações sociais humanas. Assim, podemos adquirir conhecimento à medida que desenvolvemos compe- tências para conservar e preservar o meio ambiente. Diante disso, torna-se im- prescindível que os atuais padrões de conduta individual sejam alterados e mo- dificados para outros mais coletivos e ambientalmente adequados. Dessa forma, é possível destacar que são objetivos específicos da educação ambiental: • Conhecimento acerca das diferentes questões ambientais: compreen- der a multiplicidade de interações ambientais e sociais entre os elementos que compõem tais sistemas; • Desenvolvimento da conscientização ambiental: prover ferramentas para que os grupos sociais compreendam diferentes problemas, sensibilizando -os para que atuem na resolução dessas questões; • Ampliação das habilidades socioambientais: desenvolver valores sociais para que haja fortalecimento da motivação relacionada à conservação do meio ambiente, bem como à recuperação de áreas já afetadas por impactos negativos devido a atividades antrópicas; • Desenvolvimento de competências: incentivar habilidades específicas que possibilitem a operacionalização dos conhecimentos e das atitudes coletivas desenvolvidas, tornando-as ações ambientais concretas; • Participação social: proporcionar oportunidades e o ensejo de que todo cida- dão participe de atividades e projetos na solução de questões am- bientais de variada complexidade e em diferentes contextos. Ressalta-se que o desenvolvimento da consciência am- biental passa obrigatoriamente pela análise crítica do meio que ocupamos, das ações que praticamos, das responsabili- DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 57 dades que temos e quais ações podemos empregar para que tenhamos participação (prática). A par- ticipação social é, portanto, uma peça-chave para não apenas atuarmos de forma corretiva (em relação aos problemas já existentes) como também para agirmos de forma preventiva, protegendo os diferentes sistemas ambientais e prevenindo que novos problemas se tornem inevitáveis e/ou irreversíveis. Assim, observe que a EA se relaciona ao contínuo processo educativo formal e não formal, de forma a adquirir conhecimentos teóricos e práticos sobre o ambiente e em consonância com a adaptação do comportamento social frente às mudanças ambientais observadas. Metodologicamente, é fundamental que a análise das interrelações sociais e ambientais seja bem embasada para que toda a sociedade se torne apta a com- preender os problemas ambientais e as potenciais soluções a serem implemen- tadas. De certa forma, tanto no campo de atuação formal quanto no não formal, a sociedade precisa ser participativa, a fim de que a integração seja voltada à solidariedade com as futuras gerações, como previsto na Constituição Brasileira em seu artigo 225. Referências bibliográficas ARUANAS (seriado). Direção de Estela Renner. Rio de Janeiro: Globoplay, 2019. (40 min.), son., color. BRASIL. Lei n. 12.305/10, de 2 de agosto de 2010. Diário Oficial da União, Bra- sília, DF, Poder Legislativo, 03 ago. 2010. Disponível em: <http://www.planalto. gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12305.htm>. Acesso em: 24 jul. 2020. CREAJR-PR [Programa]. Brasil e as energias renováveis. [s.l.], 30 ago. 2010. Disponível em: <https://creajrpr.wordpress.com/2010/08/30/brasil-e-as-ener- gias-renovaveis/>. Acesso em: 23 jul. 2020. FEITOSA, E. 1972: o Brasil na Conferência de Estocolmo. 1 imagem. Eco Kids, Eco Teens, Ministério Público do Estado da Bahia, 12 mar. 2018. Publicado por Karina Cherubini. Disponível em: <http://www.ecokidsecoteens.mpba.mp.br/ 1972-o-brasil-na-conferencia-de-estocolmo/>. Acesso em: 23 jul. 2020. GOMES, M. C.O. A poluição ambiental e sua agressividade. Jornal Cruzeiro do Sul, 24 set. 2014. 1 fotografia. Disponível em: <https://www2.jornalcruzeiro.com. br/materia/571762/a-poluicao-ambiental-e-sua-agressividade>. Acesso em: 22 jul. 2020. IBGE. A pirâmide econômica brasileira (2015) de acordo com os dados da Pes- quisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) do IBGE versus as declarações do Imposto de Renda. 2016. 1 gráfico. In: MUSSI, L. O paradigma da inclusão social na indústria cosmética brasileira: pesquisa, desenvolvimento e va- lor agregado para as camadas sociais menos favorecidas. 2016. 41f. Traba- lho de Conclusão de Curso (Especialização) — Faculdade de Gestão da Inovação Tecnológica, Universidade Federal de São Carlos, Sorocaba, 2016. KONDER, L. O que é dialética. São Paulo: Brasiliense, 2008. LESSA, S. Mundo dos homens: trabalho e ser social. São Paulo: Instituto Lukács, 2012. LEITE, M.; ALVES, E. (Colab.). Há 25 anos, Eco-92 tentava convencer o mundo a se salvar. PROCLIMA, São Paulo, jun. 2017. 1 fotografia. Disponívelem: <https:// cetesb.sp.gov.br/proclima/2017/06/02/ha-25-anos-eco-92-tentava-convencer -o-mundo-a-se-salvar/>. Acesso em 23 jul. 2020 ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS [ONU Brasil]. Transformando nosso mundo: a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável. Tradução Centro de Informação das Nações Unidas para o Brasil (UNIC Rio) Rio de Janeiro: ONU, DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 58 2015. Disponível em: <https://nacoesunidas.org/pos2015/agenda2030/>. Aces- so em: 25 jul. 2020. MAIA, F. Fenômeno de salinização. [2015]. 1 fotografia. In: SILVA, V. PINEIRO, A.; BERNSTEIN, A. Cabrobó (PE) rumo à desertificação. Educação Pública, 10 nov. 2015. 1 fotografia. Disponível em: <http://educacaopublica.cecierj.edu.br/arti- gos/15/22/cabrob-pe-rumo-desertificacao>. Acesso em: 23 jul. 2020. PEREIRA, D. A.; ROCHA, S. F. M.; CHAVES, P. M. O conceito de práxis e a formação docente como ciência da educação. Revista de Ciências Humanas, Rio Grande do Sul. v. 17, n. 29, p. 31-46, 2016. POTT, C. M.; ESTRELA, C. C. Histórico ambiental: desastres ambientais e o des- pertar de um novo pensamento. Estudos Avançados, São Paulo. v. 31, n. 89, p. 271-283, 2017. “ENTRE RIOS” - a urbanização de São Paulo. Postado por Editora Contexto. (25min. 10s.). son. color. port. Disponível em: <https://www.youtube.com/wat- ch?v=Fwh-cZfWNIc>. Acesso em: 21 abr. 2021. AGENDA 2030. Conheça a Agenda 2030 - Conheça o plano de ação global para mudar o mundo até 2030. 2017. Disponível em: <http://www.agenda2030.org. br/sobre/>. Acesso em: 20 abr. 2021. BECK, A. [s.l.], [s.d.]. Facebook: tirasarmandinho. Disponível em: < https://bit. ly/3dU1dWM>. Acesso em: 21 abr. 2021a. BECK, A. [s.l.], [s.d.]. Facebook: tirasarmandinho. Disponível em: <https://bit.ly/ 3dTSa8c>. Acesso em: 21 abr. 2021b. BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF: Presidência da República, 1988. Disponível em: <http://www. planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 20 abr. 2021. BRASIL. Decreto n. 73.030, de 30 de outubro de 1973. Diário Oficial da União, Brasília, DF, Poder Executivo, 30 out. 1973. Disponível em: <https://www2.camara. leg.br/legin/fed/decret/1970-1979/decreto-73030-30-outubro-1973-421650-pu- blicacaooriginal-1-pe.html>. Acesso em: 21 abr. 2021. BRASIL. Lei n. 6.938/81, de 31 de agosto de 1981. Diário Oficial da União, Bra- sília, DF, 31 ago. 1981. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/ l6938.htm>. Acesso em: 20 abr. 2021. BRASIL. Lei n. 9.795, de 27 de abril de 1999. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 27 abr. 1999. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9795. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 59 htm>. Acesso em: 20 abr. 2021. CARTER, R. L.; SIMMONS, B. The History and philosophy of environmental education. In: BODZIN, A. M.; KLEIN, B. S.; WEAVER, S. (eds.). The inclusion of environmental education in science teacher education. Dordrecht: Springer, 2010. CARVALHO, I. C. M. Educação ambiental crítica: nomes e endereçamentos da edu- cação. In: LAYRARGUES, P. P. (Coord.). Identidades da educação ambiental brasi- leira. Brasília: Ministério do Meio Ambiente, Diretoria de Educação Ambiental, 2004. CONAMA - Conselho Nacional do Meio Ambiente (Brasil). Resoluções do Cona- ma: resoluções vigentes publicadas entre setembro de 1984 e janeiro de 2012. Brasília: MMA, 2012. CUNNINGHAM, W. P.; CUNNINGHAM, M. A. Environmental science - principles of inquiry & applications. 9. ed. Nova York: McGraw-Hill Education, 2020. HADJICHAMBIS, A. C.; REIS, P. Chapter 1 - Introduction to the conceptualisation of environmental citizenship for twenty-first-century education. In: HADJICHAMBIS, A. C. et al. Conceptualizing environmental citizenship for 21st century edu- cation. Basingstoke: Springer Nature, 2020. v. 4. ENEC - European Network for Environmental Citizenship. [s.l.], 2018a. Defining “education for environmental citizenship”. Disponível em: <http://enec-cost.eu/ our-approach/education-for-environmental-citizenship/>. Acesso em: 21 abr. 2021. ENEC - European Network for Environmental Citizenship. [s.l.], 2018b. Defining environmental citizenship. Disponível em: <http://enec-cost.eu/our-approach/ enec-environmental-citizenship/>. Acesso em: 21 abr. 2021. EPA - United States Environmental Protection Agency. What is Environmental Education? [s.l.], 2018. Disponível em: <https://www.epa.gov/education/what- -environmental-education>. Acesso em: 20 abr. 2021. FERNANDES, S. Se quiser mudar o mundo: um guia político para quem se im- porta. São Paulo: Editora Planeta, 2020. GUIMARÃES, M. Educação ambiental crítica. In: LAYRARGUES, P. P. (Coord.). Iden- tidades da educação ambiental brasileira. Brasília: Ministério do Meio Am- biente, Diretoria de Educação Ambiental, 2004. KUMAR DE, A.; KUMAR DE, A. Environmental Education. Nova Delhi: New Age International Publishers, 2004. IPCC - THE CORE WRITING TEAM; PACHAURI, R. K.; MEYER, L. Climate change 2014 - synthesis report. Geneva: World Meteorological Organization (WMO), In- DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 60 tergovernmental Panel on Climate Change, 2015. LAYRARGUES, P. P. (coord.) Identidades da educação ambiental brasilei- ra. Diretoria de educação ambiental. Brasília: Ministério do Meio Ambiente, 2004. LINO, J. S.; AQUINO, A. R. A study of contaminated land in São Paulo city, Bra- zil and mainly adopted remediation process face deficient database. Inter- national Journal of Environmental Pollution and Remediation (IJEPR), [s.l.], v. 7, 2019. MCCLELLAND, D. C. Testing for competence rather than for “Intelligence”. Amer- ican Psychologist, [s.l.], v. 28, n. 1, 1973. MICHELSEN, G.; FISCHER, D. Sustainability and education. In: HAUFF, M. V.; KUHNKE, C. (eds.) Sustainable development policy: a european perspective. Londres: Routledge, 2017. MORE, C. Understanding the industrial revolution. Londres/Nova York: Rout- ledge, 2002. OTTO, S.; PENSINI, P. Nature-based environmental education of children: envi- ronmental knowledge and connectedness to nature, together, are related to eco- logical behaviour. Global Environmental Change, [s.l.], v. 47, 2017. PACHAURI, S. Environmental education. Nova Deli: [s.n.], 2012. PANAGOPOULOS, T.; DUQUE, J. A. G.; DAN, M. B. Urban planning with respect to environmental quality and human well-being. Environmental Pollution, [s.l.], v. 208, 2016. PARRA, G. et al. Chapter 10 - Education for environmental citizenship and educa- tion for sustainability. In: HADJICHAMBIS, A. C. et al. Conceptualizing environ- mental citizenship for 21st century education. Basingstoke: Springer Nature, 2020. v. 4. ROSA, A. H.; FRACETO, L. F.; MOSCHINI-CARLOS, V. (org.) Meio ambiente e sus- tentabilidade. Porto Alegre: Bookman, 2012. SAYLAN, C.; BLUMSTEIN, D. T. The failure of environmental education. Berkeley/Los Angeles/Londres: University of California Press, 2011. SILVA, A. M.; SCHULZ, H. E.; CAMARGO, P. B. Erosão e hidrossedimentologia em bacias hidrográficas. 2. ed. São Carlos: Rima, 2007. UNESCO-UNEP. HUGHES-EVANS, D. (ed.) Appendix 1 - Connect: UNESCO-UNEP environmental education newsletter. Londres: Pergamon, 1977. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 61 A ONU tem um plano: os objetivos globais. Postado por ONU Brasil. (03 min. 00 s.). son. color. port. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=ZSrhXP- 4-aec>. Acesso em: 17 maio 2021. BADR, E. et al. Educação ambiental: conceitos, histórico, concepções e comentá- rios à Lei da Política Nacional de Educação Ambiental (Lei n. 9.795/99). 2017. n. p. Dissertação (Mestrado) - UEA - Universidade do Estado do Amazonas, Manaus, 2017. BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Bra- sília, DF: Senado Federal - Centro Gráfico, 1988. BRASIL. Lei n. 10.257, de 10 de julho de 2001. Diário Oficial da União, Brasília, DF, Poder Executivo, 11 jul. 2001.Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ leis/leis_2001/l10257.htm>. Acesso em: 17 maio 2021. BRASIL. Lei n. 9.795, de 27 de abril de 1999. Diário Oficial da União, Brasília, DF, Poder Executivo, 28 abr. 1999. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ leis/l9795.htm>. Acesso em: 17 maio 2021. BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Agenda 21 brasileira. [s. l.], [s. d.]. Dispo- nível em: <https://antigo.mma.gov.br/responsabilidade-socioambiental/agenda-21/ agenda-21-brasileira.html>. Acesso em: 17 maio 2021. BUZZO, B. ODS da ONU: 17 objetivos de desenvolvimento sustentável. eCycle, [s. l.], [s. d.]. Disponível em: <https://www.ecycle.com.br/6149-ods.html>. Acesso em: 17 maio 2021. CARTA DA TERRA. Carta da Terra: a carta propriamente dita. [s. l.], 2000. Disponí- vel em: <http://www.cartadaterrabrasil.com.br/prt/Principios_Carta_da_Terra.pdf>. Acesso em: 17 maio 2021. COSTEL, E. M. Didactic options for the environmental education. Procedia - Social and Behavioral Sciences, [s. l.], v. 180, [s. n.], p. 1380-1385, 2015. Disponível em: <https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S1877042815016274?via%- 3Dihub>. Acesso em: 17 maio 2021. DISCURSO de Severn Suzuki (legendado). Postado por ONU Brasil. (10 min. 02 s.). son. color. leg. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=k8onZK3U- 0VM>. Acesso em: 17 maio 2021. ESCOLA DA FLORESTA. Trilha dos sentidos. [s. l.], [s. d.]. Disponível em: <http://www.es- coladafloresta.com.br/portfolio-items/trilha-dos-sentidos/>. Acesso em: 17 maio 2021. ESCOLA DIGITAL. Oito jeitos de mudar o mundo. [s. l.], [s. d.]. Disponível em: <https://escoladigital.org.br/odas/oito-jeitos-de-mudar-o-mundo-48805>. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 62 Acesso em: 17 maio 2021. FREIRE, P. Política e educação: ensaios. 5. ed. São Paulo: Cortez, 2001. v. 23. Dispo- nível em: <https://www.icmbio.gov.br/educacaoambiental/images/stories/bibliote- ca/paulo_freire/paulo-freire-politica-e-educacao.pdf>. Acesso em: 17 maio 2021. GALIAZZI, M. C. et al. Narratives of learning communities in environmental educa- tion. Environmental Education Research, [s. l.], v. 24, [s. n.], p. 1–13, 2018. Disponí- vel em: <https://www.tandfonline.com/doi/abs/10.1080/13504622.2018.1545152?- journalCode=ceer20>. Acesso em: 17 maio 2021. MILHORANCE, F. O que foi a Rio 92. O Globo, Rio de Janeiro, 01 jun. 2012. Disponível em: <https://oglobo.globo.com/economia/rio20/o-que-foi-rio-92-4981033>. Acesso em: 17 maio 2021. MOVIMENTO NACIONAL ODS SANTA CATARINA. Linha do tempo Agenda 2030. [s. l.], [s. d.]. Disponível em: <https://sc.movimentoods.org.br/wp-content/ uploads/2019/10/timeline_Agenda2030.png>. Acesso em: 17 maio 2021. NIKOLOPOULOU, A.; ABRAHAM, T.; MIRBAGHERI, F. (Orgs.). Education for sustain- able development: challenges, strategies, and practices in a globalizing world. 1. ed. [s. l.]: SAGE, 2010. PLATAFORMA AGENDA 2030. A integração dos ODS. [s. l.], [s. d.]. Disponível em: <http://www.agenda2030.org.br/os_ods/>. Acesso em: 17 maio 2021. RODDICK, J. El Nino, El Viejo and the global reshaping of Latin America: surviving the UNCED coups. Third World Quarterly, [s. l.], v. 20, n. 4, p. 771–800, 1999. Di- sponível em: <https://www.tandfonline.com/doi/abs/10.1080/01436599913550>. Acesso em: 17 maio 2021. SÃO PAULO (Estado). Secretaria do Meio Ambiente. Coordenadoria de Educação Ambiental. Roteiro para elaboração de projetos de educação ambiental. São Paulo: SMA/CEA, 2013. 42 p. Disponível em: <http://arquivos.ambiente.sp.gov.br/ cea/2014/01/roteiro-proj-ea.pdf>. Acesso em: 17 maio 2021. SCOULLOS, M. J. Education for sustainable development: the concept and its con- nection to tolerance and democracy. In: NIKOLOPOULOU, A.; ABRAHAM, T.; MIRBA- GHERI, F. (Orgs.). Education for sustainable development: challenges, strategies, and practices in a globalizing world. 1. ed. [s. l.]: SAGE, 2010. SEVERN Cullis Suzuki na Cúpula da Terra - Rio 92. Postado por ONU Brasil. (06 min. 41 s.). son. color. leg. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=IMa- QCEAr6Hk>. Acesso em: 17 maio 2021. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 63 SILVA, J. F.; ALMEIDA, A. O. Educação ambiental em ideias e práticas docentes. In: ATENA EDITORA (Org.). Políticas públicas na educação brasileira: educação am- biental. 1. ed. Ponta Grossa: Atena Editora, 2018. v. 2. Disponível em: <https://www. atenaeditora.com.br/wp-content/uploads/2018/03/E-book-PP-Educa%C3%A7%- C3%A3o-Ambiental.pdf>. Acesso em: 17 maio 2021. SILVA JUNIOR, O. R. et al. Aprendendo educação ambiental: a escola como uma ferramenta de mudança social. In: ATENA EDITORA (Org.). Políticas públicas na educação brasileira: educação ambiental. 1. ed. Ponta Grossa: Atena Editora, 2018. v. 2. Disponível em: <https://www.atenaeditora.com.br/wp-content/upload- s/2018/03/E-book-PP-Educa%C3%A7%C3%A3o-Ambiental.pdf>. Acesso em: 17 maio 2021. SOUZA, A. S. F. et al. Reflexões sobre as práticas pedagógicas de educação am- biental no espaço escolar. In: ATENA EDITORA (Org.). Políticas públicas na educa- ção brasileira: educação ambiental. 1. ed. Ponta Grossa: Atena Editora, 2018. v. 2. Disponível em: <https://www.atenaeditora.com.br/wp-content/uploads/2018/03/E- -book-PP-Educa%C3%A7%C3%A3o-Ambiental.pdf>. Acesso em: 17 maio 2021. SPANGENBERG, J. H.; PFAHL, S.; DELLER, K. Towards indicators for institutional sus- tainability: lessons from an analysis of Agenda 21. Ecological Indicators, [s. l.], v. 2. n. 1-2, p. 61-77, 2002. Disponível em: <https://www.sciencedirect.com/science/ article/abs/pii/S1470160X0200050X?via%3Dihub>. Acesso em: 17 maio 2021. UN - UNITED NATIONS. Agenda 21. In: United Nations Conference on Environment and Development, 1., 1992, Rio de Janeiro. Anais... Rio de Janeiro: UN, 1992. 351 p. Disponível em: <https://sustainabledevelopment.un.org/content/documents/ Agenda21.pdf>. Acesso em: 17 maio 2021. UN - UNITED NATIONS. From the MDGs to sustainable development for all: lessons from 15 years of practice. 1. ed. Nova York: United Nations Development Programme, 2016. UN - UNITED NATIONS. Resolutions adopted on the reports of the second com- mittee during general assembly: thirty eighth session. [s. l.], 1983. Disponível em: <https://undocs.org/en/A/RES/38/161>. Acesso em: 17 maio 2021. WEST, S. E. Understanding participant and practitioner outcomes of environmental education. Environmental Education Research, [s. l.], v. 21, n. 1, p. 45–60, 2015. Disponível em: <https://www.tandfonline.com/doi/abs/10.1080/13504622.2013.87 9695>. Acesso em: 17 maio 2021. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 64 2 UNIDADE Responsabilidade socioambiental Nos últimos séculos, o ser humano passou a interferir cada vez mais nos processos naturais. Ao longo do século XX, inúmeros avanços tecnológicos e crescimento econômico foram obtidos. Com o aprimoramento tecnológico e inúmeras descobertas em todas as áreas do conhecimento, passamos a con- trolar os elementos da natureza e a aumentar sua capacidade de produção. Muitos desses avanços visaram à produção e o consumo sem avaliar questões de risco ambiental e social. O crescimento populacional no pós-guerra (com consequente aumento pela demanda por combustíveis fósseis, alimentos e tecnologia) resultou em um fluxo enérgico desequilibrado ecossistemicamente. Há muitos anos esta- mos sendo alertados sobre a insustentabilidade dos hábitos de consumo re- sultantes da economia capitalista. Atualmente, as sociedades tornaram-se cada vez mais complexas e conec- tadas. Desenvolveu-se o modo globalizado de vida, sendo que padrões de consumo adotados em escala mundial resultam em perdas progressivas de características geográficas, regionais e culturais, bem como na contaminação ambiental, que resulta em perda de diversidade de fauna e flora. Nesse mesmo contexto, surge o termo responsabilidade socioambien- tal. Segundo o Ministério do Meio Ambiente (2020),a responsabilidade so- cioambiental está ligada a ações que respeitam o meio ambiente e políticas que tenham entre seus principais objetivos a sustentabilidade. Responsabi- lidade socioambiental também pode ser compreendida como um conjunto de práticas exercidas por cidadãos, governos e empresas públicas e privadas que têm por objetivo providenciarem a inclusão social (responsabilidade social) e o cuidado com o meio ambiente (res- ponsabilidade ambiental). Se de um lado temos observado diversas atividades que causam degradação socioambiental e colocam em risco a qualidade de vida e a sobrevivência das futuras gerações, do outro há diversas organizações se mobilizando para nos conscientizar da necessidade de mudança para que o plane- ta Terra e a humanidade possam coexistir (Figura 1). DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 66 Figura 1. Mobilização popular enfatizando a necessidade de mudança para um perfil responsável socioambientalmen- te. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 30/09/2020. O nascimento do mundo globalizado e a questão socioambiental Nos últimos 250 anos, os impactos causados pelas diversas mudanças de- correntes do desenvolvimento industrial ainda não estão totalmente dese- nhados e são debatidos por diversas organizações e meios de comunicação. Nos dias de hoje, podemos dizer que a máxima do desenvolvimento industrial é a globalização. Para chegarmos ao mundo como conhecemos hoje, o mundo globalizado, alguns momentos históricos foram cruciais. A Revolução Industrial intensi- ficou o uso e a pressão sobre os recursos naturais renováveis e não reno- váveis para atender à intensificação da produção industrial em escala. Com a maior demanda por trabalhadores nas indústrias e em busca de “uma vida melhor” – aos moldes capitalistas –, muitas pessoas saíram do campo para morar nas cidades, processo que culminou na urbanização. A revolução verde levou ao campo das tecnologias nunca vistas, permitindo incrementos anuais na produtividade de vegetais e carnes, comercializados para atender a demanda interna e externa das redes de mercado global. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 67 EXPLICANDO Recursos naturais renováveis são aqueles que possuem maior capaci- dade de manutenção e não se esgotam facilmente, são exemplos: água, solo, matéria orgânica e vento. Os recursos naturais não renováveis são aqueles que se esgotam quando usados sem práticas sustentáveis e seu tempo de reposição não é comparado à cronologia de vida humana, são exemplos: petróleo, carvão mineral, gás natural, xisto betuminoso e ener- gia nuclear. Com exceção à energia nuclear, todos os exemplos citados são de origem fóssil. Estas transformações foram e são acompanhadas pelos impactos negativos ao meio ambiente e à perda de características sociais: há aumento das áreas desmatadas, da poluição atmosférica, do solo e hídrica, perda de biodiversida- de, os produtos consumidos não são corretamente descartados, há aumento da desigualdade social, entre outros (Figura 2). Figura 2. Poluição ambiental resultante da produção industrial. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 30/09/2020. Nos dias de hoje, uma vez que é indiscutível que diversas fronteiras ecoló- gicas mundiais foram ultrapassadas, o mundo globalizado vem exigindo conti- nuamente modelos de produção de bens e serviços obtidos por meio de tecno- logias que repensem questões de competitividade e que considerem formas de mitigação do impacto social e ambiental. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 68 A importância da avaliação dos danos que a produção e os processos têm sobre o ambiente e a sociedade toma forma neste contexto. Além da avaliação, ações de gestão que contribuam para o desenvolvimento ambiental e para o despertar da responsabilidade socioambiental devem ser propostas por gover- nos, empresas e cidadãos. A responsabilidade socioambiental como compromisso da modernidade Assistimos em noticiários, nas redes sociais e vivemos diretamente as ques- tões ambientais. Comumente, ouvimos falar sobre responsabilidade socioam- biental. Isso vem acontecendo porque o mundo moderno se deu conta de que os impactos dos nossos hábitos de produção e consumo não estão alinhados com o poder de resiliência do planeta, uma vez que seus recursos são limitados. Por esse motivo, instituições públicas e privadas, organizações governa- mentais e não governamentais têm se dedicado cada vez mais a programas de implementação de práticas socioambientais e de conscientização da popu- lação. A ideia consiste em identificar, eliminar ou, ao menos, reduzir o impacto negativo que uma determinada atividade possa causar. EXEMPLIFICANDO Diversas organizações governamentais e não governamentais se dedicam à causa socioambiental. Veja alguns exemplos a seguir: • Plano nacional de juventude e meio ambiente (PNJMA); • Agenda ambiental na administração pública; • Instituto de pesquisas socioambientais (IPESA); • Instituto socioambiental (ISA); • Fundo casa socioambiental; • Verdejar socioambiental; • Instituto Ethos. Uma vez que elas já existem e não se mostraram totalmente efetivas, as práticas de responsabilidade socioambiental vão além de Leis. Atualmente, os programas devem fomentar e inserir a responsabilidade socioambiental como um compromisso diário a ser adotado pela sociedade, de forma a garantir a existência de um mundo melhor para as futuras gerações. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 69 Lembrando que se trata de uma vertente global, diversas ações podem ser adotadas a fim de inserir as práticas de responsabilidade socioam- biental no dia a dia pessoal e profissional. Hoje, a sociedade sabe identifi- car cidadãos, instituições, organizações e empresas que investem em po- líticas e na cultura organizacional sustentável, posicionando-se de forma ética e responsável. A responsabilidade socioambiental governamental, cidadã e empresarial Todos são responsáveis pela elaboração, difusão e aplicação das práticas de responsabilidade socioambiental; entre seus agentes, estão os governos, as cidades e as empresas. O governo atua na pauta socioambiental, formulando leis e ações de cons- cientização que atingem a sociedade civil e empresarial. Para que os cidadãos se tornem cientes, possam exigir e exercer a responsabilidade socioambiental, o governo deve encontrar meios para que as políticas públicas estejam próxi- mas dos cidadãos, divulgando-as nos meios de comunicação e redes sociais, adequando currículos escolares e financiando instituições de pesquisa. Além disso, a gestão socioambiental deve ouvir os cidadãos por meio de seus repre- sentantes municipais e estaduais, bem como a iniciativa privada e as organiza- ções não governamentais. No Brasil, o Ministério do Meio Ambiente (MMA) e suas esferas são responsáveis pelo desenvolvimento de políticas públicas que tenham como objetivo promover a produção e o consumo sustentáveis. Além disso, também é responsabilidade do governo promover o crescimento do País adotando práticas de desenvolvimento sustentável, ou seja, grandes obras de interesse social devem fazer uso de práticas sustentáveis e serem baseadas em estudos de impacto ambiental. As cidades e seus cidadãos têm o compromisso de exercer as práticas de responsabilidade socioambiental. Para isso, como mostra o Quadro 1, existem diversas ações que podem ser adotadas no nosso dia a dia. De- vemos exigir dos governantes, políticas que fomentem tal temática e dar preferência ao consumo de produtos e serviços de empresas atuantes na causa socioambiental. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 70 Quando nos colocamos como agentes ativos das práticas de responsabili- dade socioambiental, estamos indiretamente praticando assistencialismo, in- clusão social, inclusão digital e educação ambiental! Envolver-se nessas ações nos torna cidadãos participativos e responsáveis, além disso,as questões socioambientais vêm se tornando cada vez mais importantes e moldando-se como um dever de todos. Prática Exemplo Faça escolhas conscientes Comprando de empresas que apoiam a causa sus-tentável. Estimule o uso do transporte alternativo Indo de bicicleta, metrô, carona, ônibus ou cami-nhando. Avalie a necessidade de consumir Atualizando os aparelhos eletrônicos, em vez de trocá-los. Busque a origem dos produtos Informando-se sobre práticas ilegais como trabalho infantil. Pratique a coleta seletiva Separando embalagens plásticas do lixo orgânico. Participe de atividades recreativas Organizando festas folclóricas e tradicionais. Conheça os produtos da sua região Comprando diretamente do agricultor indo ao co-mércio local. Converse sobre meio ambiente Falando com vizinhos sobre as opções sustentáveis existentes na cidade. Evite fontes não renováveis Consumindo etanol e produtos biodegradáveis. QUADRO 1. PRÁTICAS DE RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL QUE PODEM SER ADOTADAS NAS CIDADES Os cidadãos exercem a responsabilidade socioambiental individual. Ela consiste em atitudes individuais reiteradas para uma maior preservação do ambiente a nossa volta. Devemos pensar que ela deve ser praticada individual- mente, mas por todos nós, resultando em uma ação coletiva e de grande poder ambiental. São exemplos de responsabilidade socioambiental individual: • Evitar usar sacolas e embalagens plásticas; • Não desperdiçar alimentos; • Separar e reciclar o lixo; • Armazenar e destinar corretamente o óleo de cozinha; DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 71 • Economizar água e energia elétrica, usando de forma racional; • Adquirir eletrodomésticos com baixo consumo de energia. As empresas que aderem à responsabilidade socioambiental buscam co- nhecer as características regionais, ouvir seus colaboradores e possuem pro- cessos e/ou serviços ambientalmente corretos. Elas reconhecem a sua respon- sabilidade socioambiental e assumem voluntariamente compromissos que vão para além dos requisitos reguladores convencionais, aos quais estão necessa- riamente vinculadas. Procuram elevar o grau de exigência das normas relacio- nadas com a proteção ambiental, com o desenvolvimento social e com o res- peito aos direitos fundamentais, adotando uma cultura organizacional aberta em que interesses de todas as esferas se conciliam em direção a uma aborda- gem global da qualidade de vida e do desenvolvimento sustentável. Como podemos observar na Figura 3, adotando as práticas de responsabili- dade socioambiental e estratégias de marketing, além dos benefícios sociais e ao meio ambiente, as empresas também melhoram sua imagem corporativa e aumentam seus lucros. Ocorre ainda a valorização da marca, maior fidelização dos clientes, redução dos custos, aprimoramento da comunicação externa e o melhor desempenho dos empregados. Figura 3. Ao adotar as práticas de responsabilidade socioambiental há geração de lucro. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 30/09/2020. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 72 Empresas podem adotar práticas de responsabilidade socioambiental por meio da adoção de programas e projetos de inclusão social ou digital, de direi- tos das mulheres e inserção no mercado do trabalho de maneira igualitária, por programas de alfabetização, reciclagem, reflorestamento e recuperação de áreas degradadas e destinação e/ou liberação correta de resíduos industriais (efluentes ou gasosos). Aspectos legais No que diz respeito às leis de responsabilidade socioambiental, pode- se dizer que o Brasil possui uma das legislações mais complexas e avan- çadas do mundo. O cumprimento das leis socioambientais nacionais é, em sua grande parte, de aspecto jurídico, mas também podem ser aplicáveis às pessoas físicas. A Constituição Federal de 1988 prevê que toda pessoa, física ou jurídica, que apresentar conduta ou atividade que cause dano ao meio ambiente estará passível de sanções penais administrativas, que serão aplicadas independente- mente da obrigatoriedade de recuperar o dano causado. O poluidor é a pessoa jurídica ou física responsável, direta ou indiretamente, pelo dano causado. O sujeito se responsabilizará pelo dano ambiental real e potencial, que será es- tipulado por entidades da área. Uma vez que o meio ambiente é um direito da atualidade e das gerações futuras, os prejuízos e dimensões do dano são de interesse mundial, o que torna a ação jurídica de extrema relevância. Contudo, há grande dificuldade na comprovação da escala do dano causado, devido à complexidade de mensuração, assim, a responsabilidade deverá ser objetiva. O Estado, uma vez que é o responsável pela saúde pública, também pode ser responsabilizado pelo dano causado ao meio ambiente quando há omis- são de sua responsabilidade legal. A Constituição Federal, alicerçada nos valores da solidariedade, dignidade humana e justiça social, instituiu o “estado social”, que deve orientar as rela- ções sociais e econômicas. Para que cidadãos, governos e empresas exerçam práticas de responsabilidade socioambiental, devemos ter em mente que, an- tes de qualquer coisa, há necessidade da regulação das políticas e dos direitos sociais, entre eles, educação, saúde, habitação e assistência social. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 73 Uma vez que há uma forte tendência de mudança com relação à adoção de uma postura ambientalmente correta, a responsabilidade socioambiental as- sociada às penalidades legais e exercida pelas leis, normas e infrações devem ser conhecidas e praticadas pela sociedade civil, governos e empresas. Nas empresas, há a responsabilidade socioambiental empresarial, que tem natureza de responsabilidade jurídica caracterizada como encargos sociais que, quando não cumpridos, resultam em multas e/ou penalidades. Os encargos so- ciais têm origem na Consolidação das Leis de Trabalho (CLT). Eles são os custos pagos pelo empregador sobre a folha de pagamento de salário dos colaboradores. Leis socioambientais brasileiras O Quadro 2 lista algumas das leis ambientais mais importantes no País. Existem também as leis estudais e municipais, bem como os órgãos que se certificam de que elas estão sendo cumpridas, como o Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA) e o Ministério do Meio Ambiente (MMA). Lei Definição Lei 6.766/1979 Dispõe sobre o parcelamento do solo urbano e dá outras providências. Lei 6.938/1981 Dispõe sobre a política nacional do meio ambiente, seus fins e mecanis-mos de formulação e aplicação, e dá outras providências. Lei 7.347/1985 Disciplina a ação civil pública de responsabilidade por danos causados ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico e dá outras providências. Lei 9.433/1997 Estabelece os instrumentos para a gestão dos recursos hídricos de domí-nio federal. Lei 9.605/1998 Dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente e dá outras providências. Lei 9.985/2000 Regulamenta o art. 225, § 1o, incisos I, II, III e VII da Constituição Federal, institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza e dá outras providências. Lei nº 11284/2006 Dispõe sobre a gestão de florestas públicas para a produção sustentável; institui, na estrutura do Ministério do Meio Ambiente, o Serviço Florestal Brasileiro. Lei 11.445/2007 Estabelece as diretrizes nacionais para o saneamento básico. QUADRO 2. EXEMPLOS DE LEIS AMBIENTAIS BRASILEIRAS DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 74 Lei 12.305/2010 Institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos; altera a Lei n° 9.605, de 12 de fevereiro de 1998, e dá outras providências. Lei 12.651/2012 Estabelece normas gerais sobre a proteção da vegetação, áreas de preservação permanente e as áreas de reserva legal; a exploração flor- estal, o suprimento de matéria-prima florestal, ocontrole da origem dos produtos florestais e o controle e prevenção dos incêndios florestais, e prevê instrumentos econômicos e financeiros para o alcance de seus ob- jetivos. também conhecido como código florestal. Fonte: BRASIL. Acesso em: 01/10/2020. A Lei 5.452 é uma das principais leis sociais brasileiras; ela rege os direitos dos trabalhadores. Nela, são discutidas questões sobre registro em carteira de trabalho e rescisão contratual, vale-transporte, descanso semanal remunera- do, pagamento de salário, férias, fundo de garantia do tempo de serviço (FGTS), décimo terceiro salário, hora extra, adicional noturno, aviso prévio, licença ma- ternidade e paternidade. A responsabilidade social empresarial aborda questões que vão além das regulamentadas por lei. Ela trabalha a igualdade de oportunidades. Deve considerar os critérios de promoção dos funcionários, igualdade de gênero e pessoas com deficiência, acidentes de trabalho, capacitação continuada para o aprimoramento do nível do conhecimento do colaborador, além da relação ética entre os colaboradores. A responsabilidade socioambiental além das exigências legais Quando uma empresa ou organização segue leis de cunho socioambiental ou normas determinadas por lei, ela está exercendo seu papel como pessoa jurídi- ca, ou seja, a empresa está somente seguindo os aspectos jurídicos inerentes ao seu setor. Ser uma empresa social e ambientalmente responsável vai além das obrigações legais e econômicas: significa que ela se posiciona e atua no combate aos problemas, buscando o desenvolvimento socioambiental sustentável. A série ISO (International Organization for Standardization – organização in- ternacional para padronização) estabelece sistemas de gestão na cultura orga- nizacional de empresas. As séries ISO são compostas por normas que vão além das exigências legais e algumas podem se tornar tão importantes que passam a ser exigidas em lei. As normas ISO no Brasil são controladas pela ABNT NBR (Associação Brasileira de Normas Técnicas). DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 75 A série ISO 14001 possui normas de gestão ambiental que permitem que a empresa pratique ideias de mitigação dos possíveis danos ambientais decor- rentes de sua atividade, objetivando tornar-se sustentável no curto e no longo prazo. A norma estabelece algumas práticas: • Implementação de um sistema de gestão ambiental; • Rotulagem ambiental; • Análise de desempenho ambiental; • Análise de ciclo de vida; • Integração de aspectos ambientais no projeto e desenvolvimento de produtos; • Comunicação ambiental; • Mitigação das mudanças climáticas. A adoção das normas também pode trazer benefícios, como: • Redução de custos devido ao uso de matéria-prima, água e energia de forma consciente; • Captação de novos clientes, devido à inserção no mercado ambiental; • Melhoria dos processos inter e intra setoriais, bem como, da cultura orga- nizacional; • Menor risco de falência; • Abertura a patrocínios e boa visão internacional; • Possível diversificação setorial; • Adesão de novos grupos de clientes; • Maior qualidade e controle dos produtos, serviços e processos. A série ISO 9000 fornece meios para implementação e monitoramento con- tínuo de técnicas para otimização de processos pela implementação de um sistema de gestão da qualidade. As normas que compõem a série ISO 9000 estão sempre sendo atualizadas e são conhecidas e desejadas por empresas do mundo todo. Aderir às normas ISO 9000 traz uma série de benefícios: • Aumento da produtividade; • Redução de custos; • Produtos e serviços de maior qualidade; • Credibilidade e reconhecimento interno e externo; • Visão mais ampla do fluxo de trabalho; • Segurança nos procedimentos internos; • Colaboradores engajados e integrados. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 76 A série ISO 45001 implementa um sistema de gestão de saúde e segurança ocupacional com foco na melhoria do desempenho das empresas em termos de saúde e segurança do trabalho. Segundo a própria norma, uma organização é responsável pela saúde e segurança ocupacional dos trabalhadores e outros que podem ser afetados por suas atividades. Esta responsabilidade inclui pro- mover e proteger sua saúde física e mental. Podem ser citadas como benefícios da implementação da norma ISO 45001 em uma empresa: • Gerenciamento de risco e acidentes de trabalho; • Redução de afastamentos por acidente de trabalho; • Maior qualidade de vida e melhor relacionamento empregador x empregado; • Redução dos prejuízos financeiros devido a processos trabalhistas. A ISO 50001 tem objetivo de melhorar a eficiência enérgica das empresas. Im- plementando um sistema de gestão de energética, a empresa tem como benefícios: • Uso de tecnologias modernas e eficientes; • Redução dos custos com energia; • Redução da emissão de gases de efeito estufa e das mudanças climáticas. A adoção das normas ISO atesta a responsabilidade no desenvolvimento das atividades de uma empresa. Para sua obtenção e manutenção, são realiza- das auditorias periódicas por uma empresa certificadora, que deve ser creden- ciada e reconhecida por órgãos nacionais e internacionais. Organizações que aderem às normas ISO possuem sistema de manejo integrado e se colocam no mercado como responsáveis socioambientalmente. Desenvolvimento sustentável O crescimento econômico no século XX se desenvolveu nos moldes capita- listas, passando a depender do consumo cada vez maior de energia e recursos naturais (recursos renováveis e não renováveis). Atrelado a isto, da década de 1950 em diante, a preocupação com uma eminente explosão demográfica glo- bal resultante do crescimento dos países pobres causou um interesse global pelos temas populacionais. Iniciaram-se diversos movimentos para controlar a fecundidade dos países pobres. Na Conferência Mundial de População, realizada pela ONU em Bucareste, 1974, de um lado, os países desenvolvidos DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 77 articulavam que, para reduzir a pobreza, deveriam haver programas de estí- mulo à redução do crescimento da população por meio de redução da taxa de natalidade, do outro, os países pobres e em desenvolvimento defendiam que políticas de desenvolvimento eram necessárias. Após longos períodos de debates, constatou-se que os moldes de desen- volvimento até então adotados poderiam ser insustentáveis, e novos meios de produção e consumo deveriam ser adotados uma vez que a disponibilidade dos recursos era finita. De acordo com o Ministério do Meio Ambiente, a produção sustentável baseia-se na incorporação, ao longo do ciclo de vida de bens e serviços, de medidas que minimizem os custos ambientais e sociais resultantes da ação hu- mana. Sobre consumo sustentável, entende-se como o uso de bens e serviços suficientes para atender às necessidades básicas, proporcionando melhor qua- lidade de vida, enquanto reduz o uso de recursos naturais e materiais tóxicos, a geração de resíduos e a emissão de poluentes. De acordo com o Relatório de Brundtland, os principais objetivos das políti- cas de desenvolvimento sustentável seriam os seguintes: • Retomar o crescimento; • Alterar a qualidade do desenvolvimento; • Atender às necessidades essenciais do emprego, educação, alimentação, saúde, energia, água e saneamento; • Manter um nível populacional sustentável; • Conservar e melhorar, por meio da tecnologia, as bases dos recursos; • Incluir o meio ambiente e a economia nas decisões que afetem a sociedade. Para atingir tais objetivos de produção e consumo, a modificação das or- ganizações deveria ser contínua, contar com o apoio da ciência e manter-se dinamicamente equilibrada. Práticas produtivas exploratórias, predatórias e que visassem o lucro deveriam dar espaço para relações sociais justas e para bem-estar dos seres vivos. Em um primeiro momento, a busca pelo desenvolvimento sustentáveldas nações parece limitar seu potencial de desenvolvimento. Na realidade, deve-se entender o desenvolvimento sustentável como um conjunto de práticas que não limite o desenvolvimento econômico, mas que considere que os recursos naturais são finitos e devem ser usados sob um viés conservacionista. Assim, DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 78 se estabelece um paradigma que consiste em diminuir o consu- mo e a exploração dos recursos renováveis e não renováveis pe- los países desenvolvidos, garantindo que países industrializados – em desenvolvimento – possam se modernizar, proporcionando qualidade de vida às suas populações em sinergia com o meio ambiente. Muito se discute sobre desenvolvimento sustentável; às vezes, há consen- so entre as atitudes a serem adotadas, às vezes, não há. De fato, diversas ações foram tomadas e cada vez fica mais evidente que ainda há muito a ser feito. ASSISTA A Organização das Nações Unidas vem se posicionando como uma grande difusora das ideias de desenvolvimen- to sustentável no mundo todo. Assista ao vídeo da Cúpula das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentá- vel, realizada em 2015. Ações globais rumo ao desenvolvimento sustentável Chegamos a um ponto em que assuntos relacionados aos impactos da ação humana, bem como sobre a necessidade das práticas de responsabilidade so- cial são vistos diariamente nos meios de comunicação. Cada dia mais é exigido que a sociedade adote uma postura de mudança diante de seus meios de pro- dução e de suas opções de consumo. As consequências do desenvolvimento em condições de insustentabilidade fizeram com que diversos cientistas discutissem a transgressão das fronteiras planetárias. As fronteiras planetárias se referem ao poder de fornecimento de recursos e da resiliência do planeta diante dos hábitos e moldes de produção e consumo. O conceito pode ajudar a sociedade civil e o poder público na defini- ção de modelos de produção seguros para a humanidade e a vida na Terra. As nove fronteiras planetárias, segundo Martine e Alves, são: [...] mudanças climáticas; mudança na integridade da biosfe- ra (perda de biodiversidade e extinção de espécies); depleção da camada de ozônio estratosférico; acidificação dos oceanos; fluxos biogeoquímicos (ciclos de fósforo e nitrogênio); mudan- ça no uso da terra; uso global de água doce; concentração de DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 79 aerossóis atmosféricos; e introdução de poluentes orgânicos, materiais radioativos, nanomateriais e microplásticos. Das nove, quatro já foram ultrapassadas: mudanças climáticas, perda da integridade da biosfera, mudança no uso da terra e fluxos bio- geoquímicos (MARTINE; ALVES, 2015, p. 445). Sobre o aquecimento global e mudanças climáticas, devemos conside- rar duas situações. A primeira trata do efeito estufa natural, que consiste na absorção, pelos gases do efeito estufa, dos raios infravermelhos emitidos pela superfície terrestre. Este processo permite que a superfície terrestre se man- tenha em temperaturas ideais para os seres vivos. A segunda situação aborda o efeito estufa antrópico, no qual o aumento da concentração atmosférica dos gases do efeito estufa, causados pelo uso excessivo de recursos não renová- veis – como os combustíveis fósseis –, resulta no aumento da temperatura da superfície terrestre, chamado de aquecimento global (Figura 4). Sol CO 2 CO 2 CH 4 CH 4 N 2O N 2 O Efe ito es tuf a n atu ral Atividades humanas aumentam os gases de efeito estufa Figura 4. À esquerda, efeito estufa natural e, à direita, efeito estufa causado pela atividade humana que resulta em aumento da concentração dos gases do efeito estufa na atmosfera, entre eles o dióxido de carbono (CO2), metano (CH4) e o óxido nitroso (N2O). Fonte: Adobe Stock. Acesso em: 30/09/2020. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 80 A sociedade vem discutindo ativamente as consequências do segundo caso, bem como as formas de mitigar as emissões reduzindo a velocidade das mu- danças climáticas causadas pelo aquecimento global. Os cientistas relatam que, caso nenhuma ação seja tomada, eventos ex- tremos podem começar a acontecer, como: aumento da temperatura dos oceanos, ondas de calor, alteração dos regimes pluviométricos, desertifica- ção, derretimento das calotas polares, redução da diversidade de fauna e flora, entre outros. O termo “pegada de carbono” refere-se ao consumo individual diante das práticas de responsabilidade ambiental, ou seja, o quanto os hábitos de uma pessoa podem impactar o desenvolvimento sustentável do planeta. A pegada de carbono pode ser calculada, tornando-se um índice, geralmente, expresso em emissão de dióxido de carbono – um dos principais gases do efeito estufa causado pelo homem – que quantifica o efeito da utilização dos recursos sobre a bioesfera. Estes dados individuais podem ser extrapolados para medir os efeitos da atividade humana, servindo como base para elaboração de políticas públicas e desenvolvimento de novos produtos. CURIOSIDADE Você pode calcular a sua pegada de carbono pessoal ou simplesmente sa- ber mais sobre a pegada de carbono na sua região. Fornecendo informa- ções sobre sua dieta, seus hábitos de transporte e consumo de energia, uma calculadora especializada fará os cálculos e você poderá comparar sua pegada com a de pessoas de outros países. Sem dúvida, não podemos conceber um mundo sem uso de fontes energéticas. Porém, existem diversas alternativas sendo disponibilizadas e aprimoradas pela ciência. Diante desse contexto, abordamos a ideia de energia limpa. Ela vem de fontes de energia renováveis (Figura 5), e quando optamos por utilizá-las, estamos reduzindo a emissão de gases do efeito estufa para a atmos- fera. São exemplos de energia limpa aquelas pro- venientes de fontes solares, eólicas, geotérmicas, hidráulicas e maremotrizes. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 81 Energia poluente/fontes não renováveis Energia limpa/fontes renováveis Figura 5. Energia derivada de recursos não renováveis e a energia limpa proveniente de fonte de energia renováveis. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 01/10/2020. Empresas que reduzem as emissões de gases do efeito estufa em seus pro- cessos produtivos podem comercializar créditos de carbono. Esse mercado internacional cresce anualmente. Os créditos baseiam-se na quantidade de gás não emitido para a atmosfera, sendo que cada crédito se refere a uma tonelada de dióxido de carbono equivalente (t CO2e). Não somente o dióxido de carbono é contabilizado, outros gases causadores do aquecimento global também, mas seus valores são calculados considerando sua equivalência em moléculas de dióxido de carbono. Os consumidores estão se tornando cada vez mais exigentes e cons- cientes em relação à produção e à origem dos alimentos. Nesse sentido, a agricultura intensiva vem avançando lentamente na busca de tecnologias e processos que minimizem problemas de poluição e degradação dos recursos naturais e que ofereçam produtos seguros ao consumidor final. Podemos ci- tar o zoneamento econômico-ecológico, a agricultura de precisão, a fixação biológica de nitrogênio, as práticas de controle da erosão do solo, os sistemas de plantio direto e o manejo integrado de pragas. Além disso, a produção orgânica será decisiva como a agricultura do futuro, assim como os sistemas agroflorestais, a agricultura sintrópica e o consumo local. Cada vez mais, os consumidores buscam opções de produtos originários do modelo orgânico de produção. Tais sistemas resultam em sustentabilidade no curto e no longo prazo, uma vez que são baseados em práticas de responsabilidade socioam- bientais com abordagens integradas. Os processos produtivos nesses siste- mas são baseados nos mecanismos e processos naturais que eliminam o uso dos agrotóxicos e fertilizantes sintéticos. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVELE DIREITOS INDIVIDUAIS 82 As três dimensões da sustentabilidade A responsabilidade socioambiental é alcançada por meio da adoção de práticas de desenvolvimento sustentável por empresas, por políticas governa- mentais e pela atuação do cidadão. Ela se concretiza sob o emprego das três dimensões da sustentabilidade, como mostrado na Figura 6. A esfera social, sob uma perspectiva sustentável de produção e consumo, deve considerar a qualidade de vida dos seres humanos tendo em vista a di- versidade cultural, étnica, religiosa e de gênero, bem como questões regionais da comunidade. Do ponto de vista econômico, deve-se considerar o papel da sociedade na rentabilidade e a viabilidade empresarial por meio de ações ganha-ganha, de forma que haja retorno, na forma de lucro, ao investimento realizado pelo ca- pital privado e qualidade de vida aos colaboradores. Social SUSTENTABILIDADE Ambiental Econômica Figura 6. Tripé da sustentabilidade. Fonte: BERLATO; MERINO; FIGUEIREDO, 2018. (Adaptado). Na esfera ambiental da sustentabilidade, os processos de produção e consumo deverão considerar a adoção de práticas ambientalmente corretas. Termos como ecoeficiência, pegada de carbono, energia limpa e sete R’s pro- porcionarão uma cultura organizacional ambiental nas empresas, residências e espaços públicos, uma vez que conduzem ao desenvolvimento do perfil de responsabilidade socioambiental. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 83 Debates mundiais Em 1972, a ONU convoca a Conferência das Nações Unidas para o Meio Am- biente, em Estocolmo, e a pauta ambiental começa a ser debatida oficialmente, resultando no Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente. Após al- guns anos depois da Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente de 1983, nasce um grande marco da pauta ambiental elaborado pela Comissão de Brundtland, o relatório nomeado como Nosso futuro comum. Após a Conferência, diversos outros eventos discutiram os ideais e os meios de conduzir o desenvolvimento mundial para os moldes do desenvolvimento sustentável. Em 1988, uma união entre a ONU Meio Ambiente e a Organiza- ção Meteorológica Mundial (OMM) resultou na criação do Painel Intergover- namental para as Mudanças Climáticas (IPCC), sendo que os resultados de pesquisas sobre mudanças climáticas realizadas no mundo todo são reunidas e relatórios e planos de ação são publicados periodicamente. A famosa Cúpula da Terra, realizada no Rio de Janeiro em 1992, foi um marco de sua década, pois discutiu a importância de se agregar os componentes sociais, econômi- cos e ambientais nas buscas pelo desenvolvimento sustentável e finalizou a Agenda 21. O Protocolo de Kyoto, de 1997, estabeleceu metas obrigatórias de redução das emissões de gases de efeito estufa nos 37 países signatários. Em 2000, a Cúpula do Milênio das Nações Unidas definiu oito objetivos con- cretos e mensuráveis, que foram acompanhados em escala nacional, regional e global. Os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM) foram resultado de uma série de cúpulas multilaterais realizadas na década de 90 sobre as condi- ções do desenvolvimento humano. A formulação dos ODM contou com especialistas renomados de diversas áreas que estiveram focados na redução da pobreza extrema observada, principal- mente, nos países pobres e em desenvolvimento. Todos os países signatários da época aderiram ao acor- do, comprometendo-se em inserir em suas políticas, ações para alcançar os objetivos. Os oito objetivos do milênio foram definidos conforme o Quadro 3. Eles deveriam ser atingidos até 2015, quando seriam então discutidos novamente. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 84 Objetivos Descrição Objetivo 1 Erradicar a pobreza extrema e a fome Objetivo 2 Alcançar o ensino primário universal Objetivo 3 Promover a igualdade de gênero e empoderar as mulheres Objetivo 4 Reduzir a mortalidade infantil Objetivo 5 Melhorar a saúde materna Objetivo 6 Combater HIV, malária e outras doenças Objetivo 7 Garantir a sustentabilidade ambiental Objetivo 8 Desenvolver parcerias globais para o desenvolvimento QUADRO 3. OITO OBJETIVOS DEFINIDOS NA CÚPULA DO MILÊNIO DAS NAÇÕES UNIDAS Fonte: ROMA, 2019. Em 2002, a Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável, realiza- da na África do Sul, discutiu os compromissos e metas da Agenda 21 e analisou suas conquistas, para então conceber uma Agenda 21 reformulada, com ações concretas e tangíveis em relação àquelas estabelecidas em 1992. Em 2015, foi definida uma nova agenda, a Agenda 2030. Ela foi desenvolvida em um trabalho conjunto entre governos, entidades e sociedade civil. Entre outros, foram definidos os 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS’s), que tiveram como base os ODM’s. Os ODS’s são o que se tem de mais atual com relação às metas em direção a um mundo mais sustentável. Agenda 21 A Cúpula da Terra, também conhecida como Eco-92 ou Rio 92, realizou-se no Rio de Janeiro, em 1992, e finalizou a Agenda 21. Nela, determinou-se a DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 85 relevância dos países em parceria com empresas, organizações governamen- tais e não governamentais em se comprometerem com estudos para avaliar e combater os problemas socioambientais. Desde a sua finalização, a Agenda 21 foi aprimorada e adaptada a condições mais palpáveis para os níveis de desen- volvimento de cada País. É importante lembrar que cada País desenvolveu sua Agenda 21, inclusive o Brasil. Ela discutiu assuntos de extrema relevância socioambiental, como: comba- te à pobreza, mudança nos padrões de consumo, cooperação internacional, proteção e promoção da saúde humana, proteção da atmosfera e de ecossiste- mas, proteção da biodiversidade, proteção da infância, desenvolvimento rural, Dia da Mulher, fortalecimento das populações indígenas, dos trabalhadores, dos agricultores, do comércio e da indústria etc. CONTEXTUALIZANDO A Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvol- vimento (CNUMAD) finalizou a Agenda 21, um documento dividido em 40 capítulos que aborda os meios para que seja adotado em escala planetá- ria um padrão de desenvolvimento sustentável. No total, 192 países acor- daram e assinaram a Agenda 21. A partir da Agenda 21, pôde-se refletir sobre a ação humana segundo os moldes industriais e capitalistas. De forma sinérgica, buscou-se (e busca-se até os dias atuais) promover a qualidade de vida e não apenas o crescimento indi- vidual estimulado pela produção e consumo injustificado. Agenda 2030 Em 2015, durante uma Assembleia Geral da ONU que ocorreu nos Estados Unidos, elaborou-se um plano guia para a ação da comunidade internacional, que elencava os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e 169 metas para erradicar a pobreza e promover vida digna a todos, considerando os parâmetros sustentáveis de uso dos recursos naturais. O documento Transformando o mundo: a Agenda 2030 para o desenvolvimen- to sustentável, que deve ser cumprido até 2030, traz um plano de ação para as pessoas, o planeta e a prosperidade. Os 17 ODS’s são: DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 86 Objetivos Descrição Objetivo 1 Acabar com a pobreza em todas as suas formas, em todos os lugares. Objetivo 2 Acabar com a fome, alcançar a segurança alimentar e melhoria da nutrição e promover a agricultura sustentável. Objetivo 3 Assegurar uma vida saudável e promover o bem-estar para todos, em todas as idades. Objetivo 4 Assegurar a educação inclusiva e equitativa e de qualidade, e promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todos. Objetivo 5 Alcançar a igualdade de gênero e empoderar todas as mulheres e meninas. Objetivo 6 Assegurar a disponibilidade e gestão sustentável da água e saneamento para todos. Objetivo 7 Assegurar o acesso confiável, sustentável, moderno e a preço acessível à energia para todos. Objetivo 8 Promover o crescimento econômico sustentado,inclusivo e sustentável, emprego pleno e produtivo e trabalho decente para todos. Objetivo 9 Construir infraestruturas resilientes, promover a industrialização inclusiva e sustentável e fomentar a inovação. Objetivo 10 Reduzir a desigualdade dentro dos países e entre eles. Objetivo 11 Tornar as cidades e os assentamentos humanos inclusivos, seguros, resilientes e sustentáveis. Objetivo 12 Assegurar padrões de produção e de consumo sustentáveis. Objetivo 13 Tomar medidas urgentes para combater a mudança do clima e seus impactos. Objetivo 14 Conservação e uso sustentável dos oceanos, dos mares e dos recursos marin-hos para o desenvolvimento sustentável. Objetivo 15 Proteger, recuperar e promover o uso sustentável dos ecossistemas terrestres, gerir de forma sustentável as florestas, combater a desertificação, deter e reverter a degradação da terra e deter a perda de biodiversidade. Objetivo 16 Promover sociedades pacíficas e inclusivas para o desenvolvimento sustentável, proporcionar o acesso à justiça para todos e construir instituições eficazes, responsáveis e inclusivas em todos os níveis. Objetivo 17 Fortalecer os meios de implementação e revitalizar a parceria global para o desenvolvimento sustentável. QUADRO 4. OBJETIVOS DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL Os objetivos e metas definidos na reunião devem ser inseridos na realidade de cada País signatário, considerando suas prioridades internas, mas voltando- se para um desenvolvimento global. Eles são integrados e indivisíveis, e mes- clam, de forma equilibrada, as três dimensões do desenvolvimento sustentá- vel: a econômica, a social e a ambiental. Fonte: Plataforma Agenda 2030. (Adaptado). Acesso em: 01/10/2020. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 87 Contexto atual Atualmente, a população brasilei- ra é de, aproximadamente, 212 mi- lhões de pessoas distribuídas ao lon- go das 27 unidades federativas que compõem nosso País. Um dos princi- pais indicadores que revela a riqueza de um País é o seu Produto Interno Bruto (PIB), que calcula o valor de toda a riqueza produzida por um País considerando o desempenho dos três setores que compõem a economia. Em 2019, o PIB do Brasil foi de R$ 7,3 trilhões e a ordem de participação dos setores neste resultado foi: ser- viços, indústria e agropecuária (IBGE, 2020). Com este resultado, o País ficou entre as dez maiores economias do mundo (FUNAG, 2020). Em contraponto, é o segundo País em área florestal no mundo com, aproxi- madamente, 12% do território coberto por florestas. Apesar de usarmos mais fontes de energia não renováveis do que renováveis (56,5%), usamos mais fon- tes renováveis do que o resto do mundo. Além disso, há riqueza de fauna e flora, biomas diversificados e uma imensa diversidade étnico-cultural. Uma vez que possui relevância econômica e ambiental e que há contínuo fortalecimento de um perfil mundial voltado à questão da responsabilidade socioambiental, o País posiciona-se em um contexto estratégico, no sentido de que as organizações brasileiras podem se destacar mundialmente de maneira positiva na geração de ambientes sustentáveis de produção e consumo. Nesse sentido, há destaque para organizações alicerçadas em atitudes con- cretas, que adotam não somente ideologias, mas que praticam rotineiramente as pautas mais atuais do desenvolvimento sustentável, como ecoeficiência e os 7’Rs. Para isso, elas aprimoram-se e se reposicionam, utilizando a tecnologia, a diversidade e os recursos sociais e ambientais do nosso País, garantindo credi- bilidade nacional e internacional. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 88 Ecoeficiência O termo ecoeficiência refere-se ao uso consciente dos recursos naturais nos processos produtivos e de consumo, de forma que não deixe de atender às neces- sidades das pessoas. Produtos ecoeficientes devem focar no uso consciente de matéria-prima renovável em processos produtivos que minimizem a geração de resíduos, além disso, devem apresentar elevada produtividade sem deixar de lado a qualidade. Basicamente, significa produzir mais com menos. O conceito envolve a sociedade como um todo, uma vez que o governo deve incentivar esse tipo de produção (fomentando pesquisas, subsidiando e divulgan- do) e as empresas devem adaptar seus processos e procedimentos operacionais. Um sistema pode ser chamado de ecoeficiente se conseguir produzir de acor- do com oito elementos fundamentais: • Minimizando o uso de materiais dos bens e serviços; • Minimizando o uso de energia na produção de bens e serviços; • Minimizando a dispersão de tóxicos; • Fomentando a reciclabilidade dos materiais; • Maximizando a utilização sustentável de recursos renováveis; • Estendendo a durabilidade dos produtos; • Promovendo a educação dos consumidores para um uso mais racional dos recursos naturais e energéticos. Algumas perguntas podem ser feitas pelos consumidores para analisar a ecoe- ficiência do produto: • Ele minimiza o uso de fontes energéticas e maximiza a uti- lização sustentável de recursos renováveis? • Ele utiliza em sua composição materiais tóxicos? • Ele descarta materiais tóxicos em seu processo produtivo? • Os materiais utilizados são recicláveis ou biodegra- dáveis? • O produto promove seu uso racional? • A marca adota a ideia de desenvolvimento sus- tentável? DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 89 Os 7 R’s da sustentabilidade Os 7 R’s são um conjunto de práticas de educação ambiental para garantir a mudança de hábitos em prol do desenvolvimento sustentável. A questão cen- tral é a de repensar costumes e hábitos, reduzindo o consumo e o desperdício. Os 7 R’s são verbos que nos passam a sensação de ação. Observe a Figura 7. Repensar RecusarReutilizar ReduzirReciclar Reparar Reintegrar Figura 7. Os sete R’s. Repense seus hábitos, consuma o que é realmente necessário. Recuse pro- dutos e serviços de origem insustentável, conheça a origem da matéria-prima. Reduza o lixo gerado e, assim, o gasto energético no processo. Repare seus produtos quebrados em vez de comprar novos. Reintegre, por exemplo, com- postando o lixo orgânico. Recicle o lixo, separe-o e leve para reciclagem. Se não pode reciclar, reutilize, dando funções novas e sustentáveis aos produtos. O foco está em pensar que não existe jogar fora! Responsabilidade socioambiental como estratégia de gestão No mundo globalizado, as empresas têm se mostrado responsáveis pelo direcio- namento da economia dos países ou de conjuntos de países. Entretanto, por muitos anos, o setor empresarial viveu uma realidade própria, em geral, desvinculada das DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 90 questões sociais e ecológicas. Os modelos de produção não estavam em sintonia com as necessidades sociais e ambientais. No passado, uma das maiores dificuldades para que as empresas adotassem a gestão ambiental se baseava em uma ideia distorcida de que o investimento em meio ambiente não atraía lucros, fazendo com que os custos fossem repassados aos consumidores, resultando no aumento dos preços (COMINI et al., 2013). Em um contexto de intensas discussões sobre moral, ética e justiça, diversos paradig- mas vêm sendo quebrados. Se a situação vem mudando, os resultados positivos podem ser entendidos, em grande parte, como consequência da intensa atuação das políticas sociais e ambientais formuladas a partir de dados científicos e apoiadas pela população. A aderência aos pressupostos das ações de responsabilidade socioambiental tam- bém resulta da percepção de que, ao investir no compromisso voluntário de um futu- ro sustentável, está-se agindo coerentemente com o mercado que migra em direção ao desenvolvimento sustentável e ao contínuo aumento de sua rentabilidade. Atualmente, sabe-se que as empresas que adotam práticas de responsabilidade socioambiental possuem benefícios como: redução dos custos, valorização da marca, transparência nas atividades,mais fidelização de clientes, melhor comunicação exter- na, melhor desempenho dos processos e dos empregados. A responsabilidade socioambiental empresarial se refere às ferramentas de ges- tão que analisam o cumprimento dos temas e que conduzem a empresa ao desenvolvi- mento sustentável. Empresas comprometidas com essa questão atendem a itens como: • Transformação em desempenho positivo das leis, regulamentos e normas de adesão voluntária às quais está sujeita; • Conhecimento e promoção voluntária e proativa de ações de desenvolvimento sustentável regional, nacional e internacional; • Possíveis danos ao meio ambiente e os impactos sociais causados por seus pro- dutos, processos e instalações são previamente identificados; • Conhecimento antecipado de treinamentos e planos de evacuação em casos de emergência ambiental; • Conhecimento dos métodos de resposta em casos de prevenção ou mitigação dos impactos adversos; • Ciência, por parte da população local, do segmento da empresa e dos impactos, positivos e negativos, decorrentes da sua atuação na região; • Acessibilidade aos produtos e instalações. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 91 Paradigma econômico, social e ambiental As instituições públicas zelam pelo que é de interesse coletivo da popula- ção por meio de normas, valores e regras. As instituições particulares pos- suem caráter privado uma vez que guardam os interesses individuais. Apesar das distinções entre instituições públicas e privadas, o meio am- biente, pelo fornecimento de recursos, e a sociedade, por meio da sua força de trabalho, além de estarem intimamente relacionados e possuírem caráter pú- blico, são as bases para a existência empresarial. Assim, pode-se dizer que as empresas se colocam como instituições públicas com função social, pois lidam subjetiva e materialmente com a sociedade e com o meio ambiente, que são de extrema importância para a humanidade e pauta internacional. Consequentemente, espera-se que as empresas possuam uma postura compromissada, que deve se espelhar nas questões econômicas, sociais e ambientais. Desse modo, devem exercer suas atividades com base nas três dimensões da sustentabilidade para que trabalhem em equilíbrio com as questões econômicas, sociais e ambientais. Por muitos anos, na economia capitalista, a obtenção de lucro se mostrou um dos principais meios para se estimar o sucesso empresarial. Decorre disso o fato de que, muitas vezes, as empresas se esquecem da ética e agem a partir de atos oportunistas. Os países se diferem quanto às leis sociais e ambientais que possuem, geralmente, refletindo seu grau de desenvolvimento. Um país em desenvolvimento pode se tornar menos atrativo para a permanência de empre- sas devido às leis sociais, fiscais ou ambientais que venham a promulgar. Diver- sas vezes é possível constatar que agir de acordo com o que as leis preconizam pode não ser suficiente para atender às expectativas da sociedade em relação às empresas. As relações entre países e instituições públicas e privadas devem ser fortalecidas para garantir a transparência das atividades empresariais. Diversas são as partes interessadas (stakeholders) que afetam e são afe- tadas, influenciam e são influenciadas pelas empresas e que, muitas vezes, possuem interesses conflitantes entre si e em relação à empresa (Diagrama 1). É importante entender que buscar o melhor para si não resulta em atingir o melhor para todos, então, as partes interessadas devem atuar de modo que se equilibrem, considerando os três pilares da sustentabilidade. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 92 DIAGRAMA 1. PARTES INTERESSADAS (STAKEHOLDERS) QUE AFETAM O DESEMPENHO DE UMA EMPRESA Fonte: BARBIERI; CAJAZEIRA, 2016, p. 22. (Adaptado). Atualmente, sabe-se a importância do desenvolvimento sustentável para garantir melhor qualidade de vida para a população e um futuro sustentável para as gerações seguintes. A atuação empresarial, nesse contexto, deve agir ativamente e em articulação com projetos que evitem a crise social e ética de paradigmas econômicos, sociais e ambientais. Empresa sustentável Segundo Carroll (1979), a responsabilidade social das empresas compreen- de as expectativas econômicas, legais, éticas e discricionárias que a sociedade tem em relação às organizações em um determinado período. Uma empresa responsável socioambientalmente deve ter como objetivo o desenvolvimento sustentável e, por meio dele, exercer, em suas relações internas e externas, o cumprimento das questões legais e o posicionamento ético de modo integra- do, considerando todas as expectativas das partes interessadas. Empresa Grupos políticos Grupos ativistas Consumidores Sindicatos Proprietários EmpregadosAssociações comerciais Concorrentes Fornecedores Governo Grupos de defesa dos consumidores Comunidade financeira DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 93 Sempre haverá dificuldades para implantar as práticas de responsabilidade socioambiental, já que envolvem uma diversidade de questões que se tradu- zem em direitos, obrigações e expectativas de diferentes públicos, internos e externos à empresa (BARBIERI; CAJAZEIRA, 2016). Todavia, no Brasil, a Constituição Federal definiu que as empresas devem observar os seguintes princípios: • Soberania nacional; • Propriedade privada; • Função social da propriedade; • Livre concorrência; • Defesa do consumidor; • Defesa do meio ambiente; • Redução das desigualdades regionais e sociais; • Busca do pleno emprego; • Tratamento favorecido para empresas de pequeno porte que tenham sua sede e administração no País. Desse modo, a Constituição Federal brasileira traz à tona a ideia de desen- volvimento sustentável, colocando-o como uma das razões para a limitação da atuação de uma empresa quando ameaça o uso racional dos recursos. Empresas sustentáveis não esperam que leis ambientais sejam elabora- das pelos países, e sim pensam globalmente e agem localmente, adotando as três dimensões da sustentabilidade em suas atividades (Diagrama 2). Es- sas três dimensões abrangem a sustentabilidade econômica, social e am- biental, mas também abarca questões de: • Sustentabilidade espacial: referente a uma configuração rural-urbana equilibrada, que avalia soluções para os assenta- mentos humanos; • Sustentabilidade cultural: referente ao respeito pela plu- ralidade apropriada à cultura local; • Sustentabilidade política: ressalta a necessidade de processos democráticos consolidados; • Sustentabilidade institucional: relacionada à atividade pública e às suas relações com outras instâncias da sociedade. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 94 DIAGRAMA 2. TRIPÉ DA SUSTENTABILIDADE SOCIAL AMBIENTAL ECONÔMICA SUSTENTABILIDADE Fonte: BERLATO; MERINO; FIGUEIREDO, 2018, p. 4. (Adaptado). Modelos de gestão ambiental O triple bottom line (resultado triplo) é um modelo de gestão empresarial criado a partir das dimensões da sustentabilidade, e possui como pressuposto básico que a responsabilidade social das empresas deve contribuir para a su- peração das crises socioambientais. Esse modelo propõe uma abordagem em que todas as formas de capital se- jam favorecidas ao longo do tempo por meio de uma gestão econômica, social e ambiental responsável. No modelo tradicional, as empresas obtêm aumento de valor de mercado com geração de lucro líquido e consequente aumento da riqueza dos acionistas. Na esfe- ra econômica do tripé da sustentabilidade, as empresas também obtêm desempe- nho financeiro positivo, mas consideram os custos sociais e ambientais envolvidos em seus processos. Na esfera social, o capital social que estão construindo deve ser considerado e seu conhecimento vislumbrado como fator de competitividade. Na esfera ambiental, o diferencial desse modelo está na obtenção de lucro líquido am- biental por meio da adoção do conceito de capital naturalbaseado no modo como a empresa lida com a manutenção dos recursos naturais e os serviços ambientais. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 95 L U C R O P E S S O A S P L A N E T A Responsabilidade socioambiental empresarial Sustentabilidade empresarial Figura 1. O modelo 3 Ps. Fonte: BARBIERI; CAJAZEIRA, 2016, p. 61. (Adaptado). Indicadores, certificações, tecnologias e instrumentos de gestão A sobrevivência e o sucesso de uma organização estão diretamente rela- cionados à sua capacidade de atender às necessidades e expectativas dos pro- prietários, dos clientes e da sociedade. De acordo com a ABNT (2012), uma vez que as decisões e atividades têm impac- to ambiental, ações entre organizações públicas ou privadas e o meio ambiente devem atuar no sentido de reduzi-los, sendo conveniente que a organização adote uma abordagem integrada que considere as implicações econômicas, sociais, na saúde e no meio ambiente de suas decisões e atividades, direta e indiretamente. A partir do modelo triple bottom line, desenvolveram-se os 3 Ps – profit, peo- ple e planet (lucro, pessoas e planeta), cuja aplicação está restrita às empresas, à medida que se associa a dimensão econômica ao lucro, conforme ilustra a Figura 1 (BARBIERI; CAJAZEIRA, 2016). DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 96 Muito se tem trabalhado ao longo das últimas décadas para garantir que as práticas de responsabilidade socioambiental sejam exercidas pelas empresas e para que estejam alinhadas ao conceito de desenvolvimento sustentável. As práticas de responsabilidade socioambiental reestruturam a cultura or- ganizacional das empresas, influenciando as diversas instâncias da gestão em- presarial, tais como: a gestão financeira, o marketing, a produção, a gestão de pessoas, a logística e o desenvolvimento de produtos. Desse modo, é importante entender melhor os indicadores, certificações, tecnologias e instrumentos de gestão que podem ser adotados pelas empresas em busca de um desempenho ambiental eficiente. Fontes de orientação estratégica O ciclo PDCA (plan, do, check, act, ou seja, planejar, fazer, verificar e agir) busca a melhoria contínua dos processos das organizações (Diagrama 3). Questões sobre como adotar novos ou como fazer a melhoria de processos já existentes buscando um melhor desempenho socioambiental podem ser resolvidas a partir dessa técnica. DIAGRAMA 3. CICLO PDCA Fonte: PATEL; DESHPANDE, 2017, p. 197. (Adaptado). O que precisa ser feito. O que funciona. Corrigir problemas e melhorar a performance. O que é ne- cessário. Agir Verificar Planejar Fazer DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 97 Esse ciclo garante dois tipos de ações corretivas: • Ação corretiva temporária: busca a resolução do problema já instaurado; • Ação corretiva permanente: consiste na investigação e eliminação das causas e, portanto, visa a sustentabilidade do processo. A ideia do ciclo PDCA é realizar o planejamento, estabelecendo claramente os objetivos e as metas para que as ações sejam programadas com embasamento. Além disso, descreve os processos que envolvem o problema para entendê-lo e para identi- ficar as áreas para melhorias. Para isso, a utilização de fluxogramas e mapas dos pro- cessos é importante. Muitas ferramentas estão disponíveis para coletar e interpretar dados, como histogramas, gráficos de execução, de dispersão e de controle. Compreendido o cenário atual, deve-se implementar o programa estabelecido, promovendo a organização e o treinamento de funcionários e/ou parceiros. As solu- ções decididas devem ser implementadas individualmente. É importante que os res- ponsáveis se certifiquem de que todas as etapas foram totalmente compreendidas. A fase de verificação é caracterizada por uma aprendizagem significativa. Há a oportunidade de desenvolver planos atualizados, elevando o processo a novos patamares, em vez de simplesmente consertar o que deu errado na fase anterior. Se os resultados forem negativos, o trabalho de melhoria deve recomeçar na fase de planejamento, pois, caso contrário, as soluções testadas passam para a fase de ação. A verificação deve ser feita continuamente pelo monitoramento e elabora- ção de relatórios que evidenciem com clareza os resultados alcançados. A atuação deve promover a melhoria contínua. Uma vez que o ciclo atingiu essa etapa, as soluções são preparadas para implementação final e, possivelmen- te, para adoção por outros setores da organização. Nessa etapa, deve-se adotar normas e certificações para reconhecimento nacional e internacional das melho- rias realizadas, e, para manter a melhoria, é preciso repetir o ciclo continuamente. A Norma ISO 26000 A obtenção de certificados pelo atendimento de padrões técnicos sobre produ- tos, processos produtivos, métodos e ensaios é um grande diferencial para as em- presas. Em alguns casos, a norma que fornece o certificado é tão importante que se torna uma lei. Criada em 1947 e mais conhecida por sua sigla ISO, a principal organização de normalização é a International Organization for Standardization. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 98 O objetivo da ISO é desenvolver padrões e atividades para facilitar as trocas de bens e serviços no mercado internacional e promover a cooperação entre os paí- ses nas esferas científicas, tecnológicas e produtivas (BARBIERI; CAJAZEIRA, 2016). As normas de gestão da ISO se aplicam a qualquer organização, pois não são normas de conteúdo, mas de procedimentos que podem se adequar ao segmen- to da empresa que a adota. Todas elas adotam o ciclo PDCA para melhoria con- tínua dos processos. A certificação requer auditorias periódicas de avaliação. A ISO possui normas adotadas mundialmente, entre as mais importantes es- tão as séries ISO 9000, de gestão da qualidade, e a ISO 14000, sobre sistemas de gestão ambiental. A norma ISO 26000 foi desenvolvida para organizações que querem adotar um sistema de gestão focado em responsabilidade social e desenvolvimento sustentável. Por fazer uso de termos como “pode” ou “convém que” em seu tex- to, pode-se dizer que é uma norma-guia não certificável que busca, por meio de suas diretrizes, mais fazer indicações e recomendações do que exigir ou tornar algo obrigatório. A norma ISO 26000 aborda sete temas centrais voltados para a responsabili- dade social das organizações: • Governança organizacional; • Direitos humanos; • Práticas de trabalho; • Meio ambiente; • Práticas leais de operação; • Questões relativas aos consumidores; • Envolvimento e desenvolvimento da comunidade. Essa norma elenca princípios específicos associados ao meio ambiente, que discutem quatro questões centrais definidas por uma descrição de expectativas relacionadas ao desenvolvimento sustentável, sendo eles: • Princípio da responsabilidade ambiental: além de cumprir leis vigentes, con- vém que a organização assuma a responsabilidade pelos impactos ambientais causa- dos por suas atividades ao meio ambiente em geral; convém que não deixe de atuar em busca de desempenho positivo, mas que, para isso, reconheça seus limites ecológicos; • Princípio da precaução: onde houver ameaças de danos graves ou irrever- síveis ao meio ambiente ou à saúde humana, convém que não se utilize da falta DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 99 de certeza científica para postergar o uso de medidas eficazes que impeçam a degradação ambiental ou danos à saúde humana em função dos custos. Con- vém que a organização considere os custos e benefícios de longo prazo e não somente os custos de curto prazo de uma medida; • Gestão de risco ambiental: convém que programas sejam utilizados pelas organizações a partir de uma perspectiva baseada em riscos e na sustentabili- dade, para avaliar, evitar, reduzir e mitigar riscos e impactos ambientais de suas atividades. Convém que sejam elaboradas e aplicadas atividades de conscien- tização,além de procedimentos de resposta a emergências, bem como meios de divulgar informações sobre incidentes ambientais e para reduzir e mitigar impactos ambientais na saúde e na segurança, causados por acidentes; • Poluidor pagador: de acordo com a extensão do impacto ambiental na socie- dade, convém que a organização arque com os custos da poluição causada por suas atividades e providencie as ações corretivas, totalmente ou à medida que a poluição se adeque aos níveis permitidos. O custo da poluição e a quantificação dos benefícios econômicos e ambientais da prevenção devem ser internalizados pelas organizações. Desse modo, as empresas devem considerar o emprego da gestão ambiental seguindo abordagens estratégicas, como: ciclo de vida de produtos, avaliação de im- pacto ambiental, produção mais limpa e ecoeficiência, abordagem por sistemas de produto-serviço, uso de tecnologias e práticas ambientalmente saudáveis, práticas de compras sustentáveis (priorizar produtos ou serviços com impactos minimizados e fazer uso de sistemas de rotulagem confiáveis) e aprendizagem e conscientização. O Quadro 2 destaca as principais questões abordadas pela ISO 26000. Questão Descrição Prevenção da poluição Convém identificar e reduzir emissões atmosféricas. Convém identificar e reduzir descargas na água. Convém fazer a gestão de resíduos. Convém reduzir o uso e fazer descarte correto de produtos químicos tóxicos e perigosos. Convém identificar e reduzir poluições sonora, odorífera, visual, luminosa, de vibração, de emissões eletromagnéticas, radioativa, agentes infecciosos, emissões sem um ponto de partida definido e perigos biológicos. QUADRO 2. QUESTÕES CENTRAIS SOBRE O MEIO AMBIENTE ABORDADAS PELA NORMA ISO 26000 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 100 Uso sustentável de recursos Convém promover a eficiência energética. Convém promover a conservação, uso e acesso à água. Convém promover a eficiência no uso de materiais. Convém promover a minimização da exigência de recursos por parte de um produto. Mitigação e adaptação às mudanças climáticas Convém medir, registrar e relatar suas emissões significativas de GEE*. Convém implementar medidas otimizadas para reduzir e minimizar as emis- sões diretas e indiretas de GEE progressivamente. Convém analisar a quantidade e o tipo de combustíveis usados dentro da or- ganização e implementar programas para melhorar a eficiência e a eficácia. Convém evitar ou reduzir emissões de GEE provenientes do manejo do solo. Convém praticar, sempre que possível, a economia de energia. Convém considerar se tornar “neutra em carbono”, implementando medidas para compensar emissões de GEE. Convém considerar projeções futuras para o clima global e local. Convém identificar oportunidades para evitar ou minimizar os danos associa- dos às mudanças climáticas. Convém implementar medidas para responder a impactos existentes ou previstos. Proteção do meio ambi- ente e da bio- diversidade e restauração de habitats naturais Convém valorizar e proteger a biodiversidade. Convém valorizar, proteger e restaurar os serviços de ecossistemas. Convém promover o uso sustentável do solo e dos recursos naturais. Convém estimular um desenvolvimento urbano e rural ambientalmente favorável. *GEE: gases do efeito estufa. Se a organização elaborou e mantém um sistema de gestão ambiental seguindo os requisitos da norma ISO 14001, deve haver grandes chances dos princípios da norma ISO 26000 terem sido atendidos, principalmente o princípio da gestão do ris- co ambiental. A série ISO 14001 possui normas de gestão ambiental que permitem que a empresa pratique ideias de mitigação dos possíveis danos ambientais decor- rentes de sua atividade, objetivando se tornar sustentável no curto e no longo prazo. A norma ISO 14001 estabelece práticas de responsabilidade ambiental, como: • Implementação de um sistema de gestão ambiental; • Rotulagem ambiental; • Análise de desempenho ambiental; • Análise de ciclo de vida; DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 101 • Integração de aspectos ambientais no projeto e desenvolvimento de produtos; • Comunicação ambiental; • Mitigação das mudanças climáticas. Indicadores e índices de sustentabilidade Os indicadores e índices podem ser usados para avaliar o desempenho em relação aos objetivos do desenvolvimento sustentável e compará-lo entre cida- des, países, blocos econômicos e organizações públicas e privadas; estimam se as instituições estão crescendo econômica e ambientalmente de acordo com o objetivo proposto. Os indicadores são compostos por parâmetros ou valores, analisados em grupos ou isoladamente a partir de estratégias de gestão definidas antecipada- mente. A partir dos indicadores são avaliadas as condições do sistema de gestão e se a estratégia adotada previamente está gerando resultados. Desse modo, são importantes por informarem às partes interessadas sobre o desempenho positivo ou negativo em uma determinada questão. Nesse sentido, indicadores que avaliam os resultados das ações de respon- sabilidade socioambiental empresarial capturam e antecipam tendências para informar os tomadores de decisão, assim como orientam o desenvolvimento e o monitoramento de políticas e estratégias. Os indicadores do desenvolvimento sustentável (indicadores de sustentabilidade) informam se o desempenho da empresa está ocorrendo em harmonia com o meio ambiente e têm papel impor- tante no monitoramento, na avaliação e na efetivação do desenvolvimento sus- tentável. Os indicadores de sustentabilidade analisam se o impacto ambiental gerado por uma empresa permite que o planeta seja resiliente. Os indicadores ambientais devem ser: • Comparáveis: devem permitir comparações e mostrar as mudanças ocorridas; • Equilibrados: devem distinguir o mau e o bom desempenho; • Contínuos: devem ser formulados a partir de critérios similares e conside- rar períodos comparáveis; • Temporais: devem ser revistos regularmente para permitir o uso de medidas atualizadas; • Claros: devem ser de fácil compreensão. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 102 Os indicadores de desenvolvimento sustentável do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) são exemplos importantes para mostrar o grau de desenvolvimento sustentável no Brasil. O IBGE analisa indicadores de sustentabi- lidade considerando as três dimensões da sustentabilidade, dos quais destacam-se: • Concentrações de poluentes no ar e em áreas urbanas; • Queimadas e incêndios florestais; • População residente em áreas costeiras; • Acesso a tratamento de esgoto; • Espécies extintas ou em risco; • Crescimento populacional; • Mortalidade infantil; • Consumo de energia per capita. DICA No Brasil, a construção de indicadores de desenvolvimento sustentável se integra ao conjunto de esforços para concretização das ideias e princípios formulados na Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, de 1992. É importante conhecer as diversas informações sobre como estamos trabalhando rumo ao desenvolvimento sustentável. O documento é interativo e de acesso gratuito. Para a formulação de indicadores de desenvolvimento sustentável empresarial, pode-se citar os Indicadores Ethos para Negócios Sustentáveis e Responsáveis, criados pelo Instituto Ethos. A ferramenta elabora indicadores a partir de um ques- tionário e tem como foco avaliar o grau de incorporação da sustentabilidade e da res- ponsabilidade social aos negócios, auxiliando na definição de estratégias, políticas e processos. Trata-se de uma ferramenta gratuita de aprendizagem, avaliação e monito- ramento das ações de responsabilidade socioambiental, estruturada em temas e sub- temas com um questionário agrupado em dimensões baseadas na norma ISO 26000. Os indicadores são diferentes dos índices. Os índices são feitos da junção de um conjunto de indicadores e são instrumentos de tomada de decisãoe previsão, pois permitem conhecer o endividamento e os riscos associados para os investimento e funcionam como um retrato das condições da empresa, refletindo sua saúde econômica, social e ambiental. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 103 Como exemplo, pode-se citar o Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE B3), que é uma ferramenta de análise comparativa do desempenho das ações de sustentabilidade das empresas constantes nas listas da B3 (Brasil Bolsa Balcão) sob o aspecto da sustentabilidade corporativa, baseada em eficiência econômica, equi- líbrio ambiental, justiça social e governança corporativa. O ISE B3 está fundamenta- do na eficiência econômica e na equidade ambiental, além de possuir transparên- cia em seus processos, uma vez que também possui fundamentos na governança coorporativa e na promoção da justiça social. Atualmente, o ISE B3 se caracteriza como um norteador para os fundos de investimento e valoriza as empresas de ca- pital aberto ao lidar com uma questão tão demandada pela sociedade atual. DICA Entenda o que é, conheça sua missão, fundamentos, objetivos estratégicos e a versão atual do Questionário ISE B3. Muitas empresas prestadoras de serviços estratégicos fazem a análise dos índices de sustentabilidade por meio de softwares de gestão de indicadores ambientais, por plataformas de análise de vulnerabilidade e licenciamento am- biental, auxiliando na adoção de programas e selos ambientais. Infelizmente, na maioria das vezes, tais serviços estão disponíveis somente para empresas de grande porte devido ao seu alto custo. Tecnologias resultantes da gestão ambiental A adoção de práticas de responsabilidade socioambiental nas estratégias de gestão empresarial tem permitido, se não exigido, o desenvolvimento de tecnologias inovadoras, tanto na produção de bens quanto na prevenção de impactos negativos ao meio ambiente. Tais tecnologias estão disponíveis em diversos segmentos empresariais e, em geral, são resultado de demandas dos clientes. Pode-se afirmar que, na atualidade, para ser considerado um bom processo ou produto não basta ser eficiente industrialmente, também há a ne- cessidade de ser eficiente ambientalmente. Algumas tecnologias com melhor desempenho ambiental já devem estar pre- sentes no seu dia a dia. O Quadro 3 destaca alguns exemplos. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 104 Processo/Produto Vantagem Desvantagem Linha branca de eletrodomésticos Menor consumo de energia. Geração de lixo resultante da troca de eletrodomésticos. Lâmpadas de LED Menor consumo de energia; Maior durabilidade; Menos descarte de lixo. Custo mais elevado. Carros elétricos Dispensa o uso de combustível fóssil. Custo elevado; Dificuldade de ganhar o mercado. Tintas Redução da toxicidade devido à remoção de metais pesados na composição. Menor durabilidade. Drones na agricultura Redução do uso de defensivos agrícolas; Redução do custo de produção a longo prazo. Custo inicial elevado; Necessidade de treinamento; Dificuldade para chegar ao pequeno produtor. Embalagens de fécula de mandioca Reduz o uso de plástico; Biodegradável. Custo elevado; Menor durabilidade. Painéis solares Menor consumo de energia; Redução dos valores das contas de energia. Custo inicial elevado; São necessários técnicos para instalação. QUADRO 3. EXEMPLOS DE NOVAS TECNOLOGIAS ADOTADAS EM PRODUTOS E PROCESSOS Tecnologias industriais que resultam na redução do consumo de água ou da queima de biomassa, que reduzam a geração de resíduos ou que aumentem a eficiência dos processos de tratamento de efluentes, bem como que resultam em produtos com menor utilização de elementos tóxicos ou de fon- tes não renováveis têm sido foco dos setores de pesquisa e desenvolvimento de empresas e de instituições de pesquisa, pois trazem benefícios econômicos e ambientais. Marketing ambiental O marketing ambiental ou marketing verde é uma estratégia adotada para promover a divulgação e aumentar as vendas de produtos e serviços que tenham bases ambientalmente corretas. Por meio dele é possível vincular uma marca, produto ou serviço a uma imagem ecologicamente correta. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 105 Os produtos e serviços passíveis do marketing ambiental devem ser resultado de um impacto ambiental mínimo, tanto ao se considerar os elementos que com- põem o produto quanto os que estão relacionados ao seu processo produtivo. Diante da crescente demanda por práticas de sustentabilidade, o marketing ambiental pode trazer às empresas vantagens competitivas, o recrutamento de novos clientes e a garantia de sua sobrevivência no mercado. Existem quatro pilares elaborados para que as empresas possam aplicar o marketing ambiental em seus produtos ou serviços de modo sustentável: • Ser ecologicamente correto; • Ser economicamente viável; • Ser socialmente justo; • Ser culturalmente aceito. Tendências mundiais sobre o perfil do consumidor Na maioria dos países, a preocupação com o meio ambiente cresceu. Ques- tões sobre o uso de fontes de energia renováveis, sobre o desmatamento, as mudanças climáticas e a poluição atmosférica são apontadas como os maiores problemas ambientais da atualidade. Os consumidores, de modo geral, consideram importante comprar produtos e serviços de empresas que respeitam o meio ambiente, mas quando são questiona- das sobre o que é importante para decidir consumir de uma empresa, preocupações básicas relacionadas a custo-benefício são listadas antes de questões sobre respon- sabilidade socioambiental e produtos ambientalmente corretos. Preço bom, quali- dade, confiabilidade e atendimento ao cliente estão entre os atributos empresariais mais importantes entre os consumidores. Essas respostas indicam que, de acordo com o posicionamento dos clientes, as empresas não devem sacrificar os fundamen- tos da marca para as questões ambientais, entretanto, devem manter um equilíbrio entre os atributos desejados e o compromisso com o desenvolvimento sustentável. Em geral, consumidores estão dispostos a comprar mais produtos ambien- talmente corretos e a pagar até 10% a mais para produtos ecológicos, mas mui- tos relatam problemas que prejudicam a compra, como a rotulagem confusa ou não confiável, preço muito discrepante em comparação aos produtos não verdes, falta de disponibilidade e pouca variedade. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 106 Os consumidores de produtos ambientalmente corretos procuram produ- tos que usem menos embalagens plásticas, e sim biodegradáveis ou recicláveis; além disso, apoiam-se nas informações presentes nas embalagens e em certifi- cações para decidir sobre qual produto comprar. Iniciativas de marketing ambiental É necessário que as empresas realizem a divulgação de ações de marketing ambiental aos seus clientes somente depois de realmente adotarem uma pos- tura ambientalmente correta em sua cultura organizacional, por meio de ações de responsabilidade socioambiental. Para fazer propagandas sobre essa postura ambientalmente correta, as pe- quenas e grandes empresas podem: • Adotar os 3 Rs da sustentabilidade: reduzir, reutilizar e reciclar; • Incorporar os 4 Ss: aceitação social, satisfação do consumidor, segurança e sustentabilidade; • Usar selos verdes (certificação ambiental) para legitimar o posicionamen- to da empresa; • Participar de programas de promoção dos três pilares da sustentabilidade; • Escolher fornecedores e parceiros ecologicamente corretos. Empresas conhecidas no mundo todo têm adotado iniciativas ambientais e divulgado suas ações em todos os meios de comunicação disponíveis, sendo exemplos de destaque: • Microsoft: já foi eleita a empresa mais sustentável do mundo. Desenvolveu, por exemplo, um sistema de inteligência artificial para combater o aquecimento global; • Coca-cola: em 2012, mudou a cor das latas e rótulos para conscientizar a sociedadesobre a necessidade proteção dos ursos polares, um dos personagens símbolos da marca; • Nike: criou o Making App para inspirar designers de moda a trabalhar com materiais ecológicos a par- tir de seus produtos; • Toyota: desenvolveu o Prius, o primeiro veí- culo híbrido do mundo. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 107 Cooperação, articulações intersetoriais e promoção do desenvolvimento A criação de grupos de trabalho pode auxiliar na construção de uma importante ferramenta de coorde- nação e efetivação das práticas de responsabilidade socioambiental, ao possibilitarem a construção compar- tilhada de projetos de cooperação, articulação e promoção do desen- volvimento sustentável, que dão di- reção comum e estratégica às ques- tões econômicas, sociais e ambientais. Tais ferramentas são os meios para superar as hierarquias institucionais e as relações de poder entre setores, políticas e segmentos sociais. Dentro dos pressupostos do desenvolvimento sustentável de propor, esti- mular, promover e monitorar as ações de responsabilidade socioambiental e a minimização dos impactos negativos sociais e ambientais, a adoção destas ferramentas acabará por: • Estimular discussões sobre responsabilidade socioambiental nas organi- zações e divulgar legislações e normas; • Potencializar o resultado de ações de capacitação; • Construir e organizar conhecimento e objetivos de aprendizagem; • Propiciar o uso racional de matéria-prima, equipamento, força de traba- lho, imóveis, infraestrutura e contratos; • Aperfeiçoar o uso de recursos orçamentários; • Aumentar as colaborações entre as instituições de ensino e pesquisa e as organizações públicas e privadas; • Realizar o intercâmbio de experiências entre os signatários. A construção de espaços para comunicação e troca de experiências permite o estabelecimento de conceitos, objetivos e direções comuns, propiciando con- dições para o planejamento participativo de ações que exijam contribuições de diferentes setores. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 108 Apesar de ser uma importante estratégia na busca pelo desenvolvimento sus- tentável, o diálogo intersetorial não é simples. Ao praticá-lo será preciso lidar com diferentes pontos de vista e culturas organizacionais para a tomada de decisão e para encontrar a solução de problemas. O trabalho cooperado e intersetorial é um instrumento relevante para a opera- cionalização do conceito e de ações de responsabilidade socioambiental, com base nos pressupostos teóricos e metodológicos da promoção da sustentabilidade. Atualmente, a promoção da cooperação e da articulação intersetorial pode ser considerada componente central das políticas de responsabilidade socioam- biental. Elas objetivam a mudança de postura e a quebra de paradigmas, repre- sentando uma nova forma de gerenciamento que transcende a fragmentação das políticas públicas e promove a gestão participativa. O sistema cooperativista e a responsabilidade socioambiental Podemos estabelecer algumas conexões entre a gestão das cooperativas e as ações de responsabilidade socioambiental, seguindo o conceito dos três pi- lares da sustentabilidade. O (I) contexto econômico permite a dinamização da economia em micro e macroescala, seja por meio da interação com o mercado, ou pela política equitativa distribuição de renda baseada na produção do coope- rado. O (II) contexto social das cooperativas propicia a distribuição regional da renda em termos equitativos, levando em consideração a geração de emprego e desenvolvimento de pequenas localidades, o que permite a distribuição do capital financeiro regionalmente e homogeneamente. O (III) contexto ambiental fundamenta-se na ideia de que as bases cooperativistas estruturam-se consi- derando o estabelecimento de relações de equilíbrio com o meio ambiente. O conceito de unidade e trabalho em equipe das cooperativas permeiam as ideias de parceria, cooperação e colaboração de trabalho. O cooperativismo está apoiado em cinco valores, sendo eles: equidade, so- lidariedade, justiça social, liberdade e democracia (CHAVES et al., 2009). Ao preo- cupar-se com o bem-estar social, o cooperativismo contempla ações de gestão voltadas para a responsabilidade socioambiental. Nesse sentido, responsabilida- de socioambiental e cooperativismo alinham-se, pois ambos são formados por indivíduos que além de trabalharem seguindo as mesmas pautas econômicas, DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 109 sociais e ambientais, atuam em prol de uma sociedade mais justa hoje e no futuro. A atuação responsável socioambientalmente nas comunidades não é algo novo para as cooperativas, na realidade, elas foram criadas com o objetivo de resolver reclamações e problemas comuns de um grupo de pessoas. Assim, sempre estive- ram fundamentadas na comunidade que as criou. Pode-se dizer que a responsabi- lidade socioambiental compõe a essência do cooperativismo. Analisando os princípios cooperativistas, ficam claras as relações entre coo- perativismo e responsabilidade socioambiental: • Adesão livre: as cooperativas são organizações voluntárias, abertas a todas as pessoas aptas a utilizar os seus serviços e assumir as responsabilidades como cooperadas, sem discrimi- nações sociais, raciais, políticas, religiosas ou de gênero; • Gestão democrática livre: as cooperativas são organizações democráticas, controladas por seus cooperados, que partici- pam ativamente na formulação das suas políticas e nas toma- das de decisões; • Distribuição dos lucros: os cooperados contribuem equita- tivamente e controlam democraticamente o capital de suas cooperativas; • Autonomia e independência: as cooperativas são organizações autônomas, de ajuda mútua, controladas pelos cooperados; • Promoção da educação, formação dos membros e aprimora- mento social: as cooperativas promovem a educação e a for- mação de seus cooperados, dos representantes eleitos, dos gerentes e de seus funcionários, de forma que estes possam contribuir eficazmente para o desenvolvimento da cooperativa; • Promoção do capital social: as cooperativas trabalham para o desenvolvimento sustentado das suas comunidades, através de políticas aprovadas pelos cooperados; • Cooperação entre as cooperativas: para as cooperativas pres- tarem melhores serviços a seus cooperados e agregarem força ao movimento cooperativo, devem trabalhar em conjunto com as estruturas locais, regionais, nacionais e internacionais (OCE- PAR, 2016 apud OLIVEIRA, 2017, p. 83). DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 110 A cultura organizacional que adota os sete princípios cooperativistas está fo- cada no capital social, se diferindo, assim, da cultura organizacional empresa- rial tradicional, que é fundamentada na geração de capital financeiro (Quadro 1). Cooperativa Empresa tradicional É uma sociedade de pessoas. É uma sociedade de capital. Tem como objetivo a prestação de serviços aos associados. O objetivo principal é o lucro financeiro. Número ilimitado de associados. Número limitado de acionistas. Controle democrático onde um homem faz um voto. Cada ação possibilita um voto. Assembleia baseada no número de associados. Assembleia baseada no capital financeiro. Não é permitida a transferência das quotas. Transferências das ações a terceiros. Operações do associado com a cooperativa. Dividendo proporcional ao valor das ações. QUADRO 1. COMPARATIVO ENTRE COOPERATIVA E EMPRESA VOLTADA PARA GERAÇÃO DE CAPITAL FINANCEIRO Fonte: GIESE; BÜTTENBENDER, 2015, p. 10. O cooperativismo é gerido pela vontade coletiva e concretizado após a conivência de todos os sócios coo- perados. Ainda assim, as cooperati- vas necessitam de uma gestão flexí- vel para que possam se adaptar às tendências e exigências do mercado globalizado, sem deixar de conservar seus valores e princípios como orga- nização social. Os cooperados possuemrespon- sabilidades perante a sociedade, a comunidade e, principalmente, os pró- prios cooperados. Quando adequadamente implementada, a cooperativa pode melhorar a imagem da organização e consolidar uma identidade organi- zacional positiva economicamente, socialmente e ambientalmente. Existem diversas organizações cooperativistas que exercem práticas de res- ponsabilidade socioambiental. Vamos conhecer alguns exemplos no Quadro 2. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 111 Copacol Cooperativa fundada em 1963, no Paraná, fornece assistência técnica e implementos agrícolas aos seus associados, comercializa aves e produtos agrícolas nos mercados nacional e internacional, fabrica rações e desenvolve pesquisas econômicas. Como exemplo de ação de responsabilidade socioambiental, desenvolveu diversos programas, entre eles estão os programas Volta às Aulas e Programa de Profissionalização do Produtor Rural, destinados a aumentar a autoestima dos funcionários, associados e pessoas da comunidade que não puderam concluir o Ensino Fundamental. Foi a primeira empresa do setor agroindustrial do País a aderir aos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM). Cooperlínea Cooperativa fundada em 2003, em São Paulo, tem como objetivo a reciclagem, a separação, a destinação correta e a venda dos resíduos orgânicos e inorgânicos. Além disso, presta serviços, ministra palestras de conscientização e educação ambiental, de normatização e de cooperativismo ambiental. Conquistou, em 2004, a Certificação de Responsabilidade Social ISO 14001. Caisp Cooperativa fundada em 2003, em São Paulo, tem como objetivo a produção de hortaliças, legumes, cogumelos e frutas convencionais, orgânicas e hidropônicas de maneira consciente. Os produtos orgânicos são livres de agrotóxicos, assim, busca-se um equilíbrio entre o ser humano e a natureza. A linha orgânica possui certificação e selo da ECOCERT. QUADRO 2. EXEMPLOS DE ORGANIZAÇÕES COOPERATIVISTAS DICA Acesse os sites oficiais das cooperativas COPACOL, COPERCICLA e CAISP para saber um pouco mais sobre suas histórias e trajetórias. Promoção do desenvolvimento: o papel da educação ambiental A educação ambiental está presente na Constituição Federal, em seu artigo 225, inciso VI, que estabelece que promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente é dever do Estado e de todos. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 112 Sobre educação ambiental entendem-se os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sus- tentabilidade (BRASIL, 2018, p. 43). Tal conceito nos faz refletir sobre o fato de que a educação ambiental não exclui o desenvolvimento, mas o reali- za levando em consideração a capaci- dade de resiliência do planeta. Podemos inferir que a educação ambiental abarca o direito jurídico, pois é instrumento de efetivação do direito e da necessidade dos seres hu- manos ao desenvolvimento ambiental equilibrado, condição indispensável à dignidade de vida das gerações viven- tes e das futuras. Somente por inter- médio da educação, a humanidade será capaz de compreender a relevân- cia das questões ambientais e sua in- ter-relação com o meio ambiente. As discussões sobre educação ambiental remetem a um antigo e amplo histórico nacional e internacional. Durante a Rio-92, um evento realizado no Rio de Janeiro que foi marco das discussões sobre meio ambiente, foi elaborado o Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global. Nele, foram estabelecidos princípios, diretrizes e planos de ação fundamentais para a promoção da educação para as so- ciedades sustentáveis. Eles enfatizaram a importância do pensamento e das atitudes críticas, coletivas e solidárias, da interdisciplinaridade, da multipli- cidade e da valorização da diversidade. No Quadro 5, vamos conhecer os dezesseis princípios da educação para sociedades sustentáveis e responsabilidade global. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 113 A partir daí, diversos programas foram emoldurados na busca do desenvol- vimento de uma sociedade que compreenda a importância do meio ambiente. Não obstante, quando se trata dos meios para a implementação da educação ambiental, é possível identificar uma grande diversidade de concepções. Dezesseis princípios da educação para sociedades sustentáveis e responsabilidade global 1. A educação é um direito de todos; 2. A educação ambiental deve ter como base o pensamento crítico e inovador, promovendo a transformação e a construção da sociedade; 3. A educação ambiental tem o propósito de formar cidadãos com consciência local e planetária, que respeitem a autodeterminação dos povos e a soberania das nações; 4. A educação ambiental não é neutra, e sim ideológica, constituindo-se como ato político; 5. A educação ambiental deve envolver uma perspectiva holística, com enfoque interdisciplinar na relação entre ser humano, natureza e universo; 6. A educação ambiental deve estimular a solidariedade, a igualdade e o respeito aos direitos humanos; 7. A educação ambiental deve tratar as questões globais críticas, suas causas e inter-relações em uma perspectiva sistêmica, em seu contexto social e histórico; 8. A educação ambiental deve facilitar a cooperação mútua e equitativa nos processos de decisão, em todos os níveis e etapas; 9. A educação ambiental deve recuperar, reconhecer, respeitar, refletir e utilizar a história indígena e culturas locais, assim como promover a diversidade cultural, linguística e ecológica; 10. A educação ambiental deve estimular e potencializar o poder das diversas populações, promovendo oportunidades para as mudanças democráticas de base, que estimulem os setores populares da sociedade. Isto implica que as comunidades devem retomar a condução de seus próprios destinos; 11. A educação ambiental valoriza as diferentes formas de conhecimento; 12. A educação ambiental deve ser planejada para capacitar as pessoas para trabalharem conflitos de forma justa e humana; 13. A educação ambiental deve promover a cooperação e o diálogo entre indivíduos e instituições, visando criar novos modos de vida que atendam às necessidades básicas de todos; 14. A educação ambiental requer a democratização dos meios de comunicação em massa, que devem se comprometer com o interesse de toda a sociedade; 15. A educação ambiental deve integrar conhecimentos, aptidões, valores, atitudes e ações; 16. A educação ambiental deve contribuir para o desenvolvimento de uma consciência ética sobre todas as formas de vida, com as quais compartilhamos este planeta, respeitando seus ciclos vitais e impondo limites à exploração das demais formas de vida pelos humanos. QUADRO 5. PRINCÍPIOS DA EDUCAÇÃO PARA SOCIEDADES SUSTENTÁVEIS E RESPONSABILIDADE GLOBAL Fonte: BRASIL, [s.d.]c. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 114 Existem diversas correntes sobre a concepção de meio ambiente que se encaixam em diferentes perspectivas teóricas. Porém, é importante que, ape- sar das diferenças, se mantenha o foco na problemática do assunto e na busca por soluções condizentes com a realidade e a aplicabilidade dos grupos sociais. Existem quinze correntes de educação ambiental divididas em dois grupos, que apresentam uma pluralidade de proposições inerentes a cada contexto (Qua- dro 6). Todas possuem em comum a preocupação com o meio ambiente e o reco- nhecimento da importância da educação para promover o equilibro ambiental. n° Grupo Corrente Enfoque 1 Tradicional Naturalista Centrada nas relações com a natureza. Objetiva a reconstrução da ligação entre os seres humanos e a natureza. Conservacionista Aeducação deve estabelecer sua função social, gerando consciência ambiental. Resolutiva Usa a crise ambiental como razão para a busca de informação social. Sistêmica Desenvolver uma abordagem sistêmica para a compreensão das realidades ambientais. Científica Associar o desenvolvimento de conhecimentos e habilidades à solução dos problemas ambientais. Humanista Considera as conexões entre natureza, sociedade e processos históricos. Moral/ética Enfatiza o desenvolvimento ambiental a partir do cognitivo, afetivo e moral. 2 Recente Holística Cunho analítico e racional das realidades e dos problemas ambientais atuais. Biorregionalista Aderem à concepção de “pensar global e agir local” da Agenda 21. Práxica Aprender para a ação e pela ação. Crítica social Analisa as dinâmicas sociais de base observadas nas problemáticas ambientais. Feminista Reestabelecimento de relações harmônicas com a natureza no que tange às práticas de dominação masculina. Etnográfica Prática de educação ambiental de acordo com a realidade cultural de cada grupo. Ecoeducação O meio ambiente é entendido como uma esfera de interação essencial para uma educação. Sustentabilidade Transformar os modelos de produção e consumo da sociedade em prol das gerações presentes e futuras. QUADRO 6. CORRENTES DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL Fonte: SAUVÉ, 2005. (Adaptado). DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 115 Todas as correntes citadas possuem em comum a preocupação com o meio ambiente e o reconhecimento da importância da educação para promover o equilibro ambiental. Independentemente da corrente, a educação ambiental deve promover um ambiente de transformação individual e coletiva das atua- ções humanas que causam a crise socioambiental. O objetivo é que, por meio da educação ambiental, entenda-se que o am- biente pode ser utilizado para benefício econômico e social da humanidade, desde que ela seja capaz de usufruir dos recursos naturais sem causar impac- tos negativos significantes (ALENCASTRO; SOUZA-LIMA, 2015). Até aqui a educação ambiental foi abordada como meio de promover o de- senvolvimento a partir de um viés ambiental. Discutimos seus conceitos, sua importância e suas diversas correntes. Agora, vamos conhecer um pouco so- bre as políticas, os programas, as ações e os projetos governamentais que es- tão em vigor no Brasil e são voltados para essa pauta. No Brasil, existe a Política Nacional de Educação Ambiental (PNEA) que é coordenada por um órgão gestor que atua em articulação com o Ministério da Educação e o Ministério do Meio Ambiente. O PNEA subsidia e qualifica ações capazes de promover a educação ambiental em todos os níveis e modalidades de ensino, seja em caráter formal ou não formal. A partir das políticas do PNEA, foi lançado o Programa Nacional de Educação Ambiental (ProNEA), em 2003. O ProNEA apresenta diretrizes, princípios, visão, missão, objetivos, público e linhas de ação que orientam a educação ambiental no Brasil, assegurando, de forma integrada e articulada, o estímulo aos processos de mobilização, for- mação, participação e controle social das políticas públicas ambientais. Como podemos observar, o ProNEA atua em articulação intersetorial com as demais políticas fede- rais, estaduais e municipais, incluindo IBAMA, SISNA- MA, PNUMA etc. A missão do ProNEA é: promover educação que contribua para um projeto de sociedade que integre os saberes nas dimensões ambiental, ética, cultural, espiritual, social, política e econômica, impulsionando a dignidade, o cuidado, o bem viver e a valoração de toda forma de vida no planeta (BRASIL, 2018, p. 26). DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 116 Assim, o ProNEA tem como eixo orientador a perspectiva da sustenta- bilidade com base no Tratado de Educação Ambiental para So- ciedades Sustentáveis e Responsabilidade Global e define como diretrizes do programa: • Transversalidade, transdisciplinaridade e complexidade; • Descentralização e articulação espacial e institucional, com base na perspectiva territorial; • Sustentabilidade socioambiental; • Democracia, mobilização e participação social; • Aperfeiçoamento e Fortalecimento dos Sistemas de Educação (formal, não formal e informal), Meio Ambiente e outros que te- nham interface com a educação ambiental; • Planejamento e atuação integrada entre os diversos atores no território (BRASIL, 2018, p. 23). A partir do ProNEA o governo vem desenvolvendo diversas linhas de ações estratégicas, como as observadas no Quadro 7. Educomunicação Proporcionar meios interativos e democráticos para que a sociedade possa produzir conteúdos e disseminar conhecimentos por meio da comunicação ambiental voltada para a sustentabilidade. Coleciona É o fichário da educação ambiental. Fornece informações, textos, experiências e ações na área de educação ambiental. Circuito Tela Verde Reúne vídeos com conteúdo socioambiental para serem exibidos em todo território nacional e em algumas localidades fora do País. Projeto Salas Verdes Promove o incentivo à implantação de espaços socioambientais para atuarem como potenciais centros de informação e formação ambiental. Plataforma Educares É uma ferramenta digital que tem o objetivo de divulgar ações que ajudem a enfrentar os desafios da implantação da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS). Concurso de Redação da Copa Verde É uma iniciativa que busca levar o futebol até as regiões pouco ex- ploradas pelas grandes competições, aliando aos eventos o conceito de sustentabilidade. Fonte: BRASIL, [s.d.]b. (Adaptado). QUADRO 7. LINHAS DE AÇÕES ESTRATÉGICAS EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL DO PRONEA DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 117 Referências bibliográficas BERLATO, L. F.; MERINO, G. S. A. D.; FIGUEIREDO, L. F. G. A contribuição da gestão de design para a sustentabilidade empresarial. 2018. Disponível em: <http://www.proceedings.blucher.com.br/article-details/28111>. Acesso em: 02 out. 2020. BRASIL. Leis ordinárias. Disponível em: <http://www4.planalto.gov.br/legisla- cao/>. Acesso em: 02 out. 2020. BRUNDTLAND, G. H. Nosso futuro comum. Comissão mundial sobre meio am- biente e desenvolvimento. 2. ed. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1991. COMINI, G. et al. Melhores práticas de sustentabilidade socioambiental no planejamento estratégico das organizações: uma análise de apoio à decisão multicritério com expert choice. Simpósio de Excelência em Gestão e Tec- nologia, 2013. Disponível em: <https://www.aedb.br/seget/arquivos/arti- gos13/45318530.pdf>. Acesso em: 02 out. 2020. Comissão das Comunidades Europeias. Livro verde: promover um quadro eu- ropeu para a responsabilidade social das empresas. Comissão das comunida- des europeias: Bruxelas, 2001. EPE - Empresa de Pesquisa Energética. Matriz energética e elétrica. Dispo- nível em: <https://www.epe.gov.br/pt/abcdenergia/matriz-energetica-e-eletri- ca>. Acesso em: 02 out. 2020. FAO - Food and Agriculture Organization of United Nations. Global forest re- sources assessment 2020 – key findings. Roma, 2020. Disponível em: <https:// doi.org/10.4060/ca8753en>. Acesso em: 02 out. 2020. FAOSTAT - Food and Agriculture Organization of United Nations. Select indi- cators. Disponível em: <http://www.fao.org/faostat/en/#country/21>. Acesso em: 02 out. 2020. FUNAG - Fundação de Apoio à Pesquisa Agrícola. Maiores economias do mun- do. Disponível em: <http://www.funag.gov.br/ipri/images/analise-pesquisa/ta- belas/top15pib.pdf>. Acesso em: 02 out. 2020. IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Produto Interno Bruto. Disponível em: <https://www.ibge.gov.br/explica/pib.php>. Acesso em: 02 out. 2020. ISO - International Organization for Standardization. ISO 14001 e ISSO 9001. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 118 Disponível em: <https://certificacaoiso.com.br>. Acesso em: 02 out. 2020. KITAMURA, P. C. Agricultura sustentável no Brasil: avanços e perspectivas. Ciên- cia eAmbiente, Santa Maria, n. 27, p. 7-27, 2003. Disponível em: <https://www. alice.cnptia.embrapa.br/alice/handle/doc/15041>. Acesso em: 02 out. 2020. MARTINE, G.; ALVES, J. E. D. Economia, sociedade e meio ambiente no século 21: Tripé ou trilema da sustentabilidade? Revista Brasileira de Estudos de Po- pulação, v. 32, n. 3, p. 433–459, 2015. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/ S0102-3098201500000027>. Acesso em: 02 out. 2020. MMA - Ministério do Meio Ambiente. Agenda 21 global. Disponível em: <ht- tps://www.mma.gov.br/responsabilidade-socioambiental/agenda-21/agenda- 21-global.html>. Acesso em: 02 out. 2020. MMA - Ministério do Meio Ambiente. Responsabilidade socioambiental. Disponível em: <https://www.mma.gov.br/responsabilidade-socioambiental. html>. Acesso em: 02 out. 2020. O QUE é desenvolvimento sustentável? Postado por ONU Brasil. (2min. 07s.). son. color. leg. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=Bue5c2kp- gPo>. Acesso em: 02 out. 2020. ONU BRASIL - Organização das Nações Unidas. 17 objetivos para transformar o mundo. Disponível em: <https://brasil.un.org/pt-br/sdgs>. Acesso em: 02 out. 2020. PLATAFORMA AGENDA 2030. GT Agenda 2030: objetivos do desenvolvimen- to sustentável. Disponível em: <https://gtagenda2030.org.br/ods/>. Acesso em: 02 out. 2020. ROMA, J. C. Os objetivos de desenvolvimento do milênio e sua transição para os objetivos de desenvolvimento sustentável. Ciência e Cultura, 2019. Dispo- nível em: <http://dx.doi.org/10.21800/2317-66602019000100011>. Acesso em: 02 out. 2020. SOS MATA ATLÂNTICA. Calcule sua emissão de CO2. Disponível em: <https:// www.sosma.org.br/calcule-sua-emissao-de-co2/>. Acesso em: 02 out. 2020. ABNT – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICA. NBR ISSO 26000: Dire- trizes de responsabilidade social. Rio de Janeiro: ABNT, 2012. APPIO, E. Controle judicial das políticas públicas no Brasil. Curitiba: Juruá, 2005. BARBIERI, J. C.; CAJAZEIRA, E. R. Responsabilidade social empresarial e empre- sa sustentável: da teoria à prática. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2016. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 119 BERLATO, L. F.; MERINO, G. S. A. D.; FIGUEIREDO, L. F. G. A contribuição da ges- tão de design para a sustentabilidade empresarial. In: Colóquio Internacional de Design, 2017. Anais... São Paulo: Blucher Design Proceedings, 2018. p. 1-15. Disponível em: <http://pdf.blucher.com.br.s3-sa-east-1.amazonaws.com/desig- nproceedings/cid2017/01.pdf>. Acesso em: 30 set. 2020. BRASIL. Decreto n. 7.037, de 21 de dezembro de 2009. Diário Oficial da União, Bra- sília, DF, Poder Executivo, 22 dez. 2009. Disponível em: <http://www.planalto.gov. br/ccivil_03/_ato2007-2010/2009/decreto/d7037.htm>. Acesso em: 01 out. 2020. BRASIL. Decreto n. 7.177, de 12 de maio de 2010. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 13 mai. 2010. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007- 2010/2010/decreto/d7177.htm>. Acesso em: 01 out. 2020. BRASIL. Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos. Princípios orientado- res sobre empresas e direitos humanos. Brasília, 26 abr. 2018. Disponível em: <https:// www.gov.br/mdh/pt-br/navegue-por-temas/empresas-e- direito-humanos/principios- orientadores-sobre-empresas-e-direitos- humanos>. Acesso em: 03 out. 2020. BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Plano de Ação para Produção e Con- sumo Sustentáveis – PPCS. Disponível em: <https://www.mma.gov.br/ responsabilidade-socioambiental/producao-e-consumo-sustentavel/plano-na- cional.html>. Acesso em: 30 set. 2020. CARROLL, A. B. A three-dimensional conceptual model of corporate performance. Aca- demy of Management Review, v. 4, n. 4, p. 497-505, 1979. Disponível em: <https://www. jstor.org/stable/257850?seq=1#metadata_info_tab_contents>. Acesso em: 30 set. 2020. COMINI, G. et al. Melhores práticas de sustentabilidade socioambiental no pla- nejamento estratégico das organizações: uma análise de apoio à decisão mul- ticritério com expert choice. In: SEGET – Simpósio de Excelência em Gestão e Tecnologia, 10., 2013. Anais... Rio de Janeiro: AEDB, 2013. Disponível em: <https:// www.aedb.br/seget/arquivos/artigos13/45318530.pdf>. Acesso em: 30 set. 2020. IBGE – INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Indicadores de desenvolvimento sustentável. Coordenação de Recursos Naturais e Estu- dos Ambientais [e] Coordenação de Geografia. Rio de Janeiro, 2015. Disponível em: <https://www.ibge.gov.br/geociencias/informacoes-ambientais/estudos- ambientais/15838-indicadores-de-desenvolvimento-sustentavel.html?=&t= o- que-e>. Acesso em: 01 out. 2020. INMETRO – INSTITUTO NACIONAL DE METROLOGIA, QUALIDADE E TECNOLOGIA. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 120 Compreendendo a responsabilidade social ISO 26000 e ABNT NBR 16001. Brasília, DF. Disponível em: <http://www.inmetro.gov.br/qualidade/responsabilidade_social/ cartilha_compreendendo_a_responsabilidade_social.pdf>. Acesso em: 30 set. 2020. INSTITUTO ETHOS. Indicadores Ethos para Negócios Sustentáveis e Responsáveis. São Paulo, 2013. Disponível em: <https://www3.ethos.org.br/wp- content/uploads/2013/08/Indicadores-Ethos-20131.pdf>. Acesso em: 01 out. 2020. ISEB3. O que é o ISE B3. Disponível em <http://iseb3.com.br/o-que-e-o-ise>. Acesso em: 01 out. 2020. OIT – ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO. Convenções ratificadas pelo Brasil. Disponível em: <http://www.ilo.org/brasilia/convencoes/lang--pt/in- dex.htm>. Acesso em: 01 out. 2020. PATEL, P. M.; DESHPANDE, V. A. Application of Plan-Do-Check-Act Cycle for Quality and Productivity Improvement – A Review. IJRASET, v. 5, n. 1, p. 197-201, jan. 2017. Disponível em: <https://www.researchgate.net/publication/318743952_Applica- tion_Of_Plan-Do-Check-Act_Cycle_For_Quality_And_Productivity_Improvement -A_Review>. Acesso em: 01 out. 2020. RANCKIG THE BRANDS. Green Brands, Global Insights 2011. Disponível em: <ht- tps://www.rankingthebrands.com/PDF/The%202011%20Image%20Power%20 Green%20Brands.pdf>. Acesso em: 30 set. 2020. ABGI CONSULTORIA. Green bonds: o que são os títulos verdes e como utilizá-los para alavancar a inovação. São Paulo, 2020. Disponível em: <https://brasil.abgi- group.com/wp-content/uploads/2020/09/ABGI-Ebook-Green-bonds-master.pdf>. Acesso em: 30 out. 2020. ALENCASTRO, M. S. C.; SOUZA-LIMA, J. E. Educação ambiental: breves considerações epistemológicas. Revista Meio Ambiente e Sustentabilidade, Curitiba, v. 8, n. 4, 2015. Disponível em: <https://www.uninter.com/revistameioambiente/index.php/ meioAmbiente/article/view/421>. Acesso em: 30 out. 2020. APAE BRASIL. Quem Somos. Brasília, DF, [s.d.]. Disponível em: <http://www.apae- brasil.org.br/pagina/a-apae>. Acesso em: 30 out. 2020. BRASIL. Ministério do Meio Ambiente – MMA. Conceitos de educação am- biental. Brasília, [s.d.]a. Disponível em: <https://www.mma.gov.br/educacao -ambiental/pol%C3%ADtica-nacional-de-educa%C3%A7%C3%A3o-ambiental/ conceito.html>. Acesso em: 30 out. 2020. BRASIL. Ministério do Meio Ambiente – MMA; Ministério da Educação – MEC. Educação DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 121 ambiental por um Brasil sustentável: ProNEA, marcos legais e normativos. Brasília: MMA, 2018. Disponível em: <https://www.mma.gov.br/publicacoes/educacao-ambien- tal/category/98-pronea.html?download=1094:programa-nacional-de-educa%C3%A7%- C3%A3o-ambiental-4%C2%AA-edi%C3%A7%C3%A3o>. Acesso em: 30 out. 2020. BRASIL. Ministério do Meio Ambiente – MMA. Programas, projetos e ações. Bra- sília, [s.d]b. Disponível em: <https://www.mma.gov.br/educacao-ambiental/pro- gramas-projetos-e-a%C3%A7%C3%B5es.html>. Acesso em: 30 out. 2020. BRASIL. Ministério do Meio Ambiente – MMA. Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global. Brasília, [s.d]c. Dis- ponível em: <https://www.mma.gov.br/informma/item/8068-tratado-de-educa%- C3%A7%C3%A3o-ambiental-para-sociedades-sustent%C3%A1veis-e-responsabi- lidade-global.html>. Acesso em 30 out. 2020. CAISP. A cooperativa.Ibiúna, [s.d.]. Disponível em: <http://caisp.com.br/a-coopera- tiva/>. Acesso em: 30 out. 2020. CHAVES, C. J. A.; VIEIRA, F. G. D; BERNARDO-ROCHA, E. E. R. Possibilidades e limites das ações de responsabilidade social em organizações cooperativas. In: Encontro da ANPAD, 33., São Paulo. Anais… São Paulo: ANPAD, 2009. COOPERLÍNIA AMBIENTAL DO BRASIL. Serviços oferecidos pela Cooperlínia Am- biental do Brasil. Paulínea, 2017. Disponível em: <https://cooperlinia.coop.br/servi- cos/>. Acesso em: 30 out. 2020. COPACOL. A Copacol. Cafelândia, PR, 2020. Disponível em: <https://www.copacol. com.br/copacol>. Acesso em: 30 out. 2020. CUSTÓDIO, A. V.; SILVA, C. R. C. A intersetorialidade nas políticas sociais públicas. In: Seminário Nacional Demandas Sociais e Políticas Públicas na Sociedade, 11.; Mos- tra de Trabalhos Científicos, 1., Santa Cruz. Anais… Santa Cruz: UNISC, 2015. Dis- ponível em: <https://online.unisc.br/acadnet/anais/index.php/snpp/article/viewFi- le/14264/%202708>. Acesso em: 30 out. 2020. FUNDAÇÃO SOS PRO-MATA ATLÂNTICA. História da SOS Mata Atlântica. São Pau- lo, 2020. Disponível em: <https://www.sosma.org.br/sobre/historia/>. Acesso em: 30 out. 2020. GIESE, E.; BÜTTENBENDER, P. L. Gestão da sustentabilidade ambiental no coope- rativismo: o caso da Cooperativa Mista São Luiz Ltda. – Coopermil. Ijuí, 2015. Disponí- vel em: <http://bibliodigital.unijui.edu.br:8080/xmlui/handle/123456789/2904>. Acesso em: 30 out. 2020. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 122 IMAFLORA. Nossas raízes. Piracicaba, [s.d.]. Disponível em: <https://www.imaflora. org/quem-somos/sobre-nos>. Acesso em: 30 out. 2020. ISO – International Organization for Standardization. ISO/DIS 14030-2: Environmen- tal performance evaluation — Green debt instruments — Part 2: Process for green loans. Londres: ISSO, 2018. JACOBI, P. Meio ambiente e redes sociais: dimensões intersetoriais e complexidade na articulação de práticas coletivas. Revista de Administração Pública, São Paulo, v. 34, n. 6, p. 131-158, 2000. Disponível em: <http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index. php/rap/article/view/6353>. Acesso em: 30 out. 2020. JUNQUEIRA, L. A. P.; INOJOSA, R. M.; KOMATSU, S. Descentralização e intersetoria- lidade na gestão pública municipal no Brasil: a experiência de Fortaleza. Concurso de ensayos del CLAD “el tránsito de la cultura burocrática al modelo de la gerencia pública: perspectivas, possibilidades y limitaciones”, 11., Caracas, 1997. Anais… Ca- racas: CLAD, 1997. Disponível em: <http://150.162.8.240/PNAP_2013_2/Modulo_4/ Organizacao_processos_tomada_decisao/material_didatico/textos/Descentrali- za%C3%A7%C3%A3o%20e%20intersetorialidade%20na%20gest%C3%A3o%20p%- C3%BAblica%20municipal.pdf>. Acesso em: 30 out. 2020. LAFFITE, L. T. G. et al. (orgs.). A intersetorialidade nas políticas para a primei- ra infância. Fortaleza: Rede Nacional Primeira Infância, 2015. Disponível em: <http://primeirainfancia.org.br/wp-content/uploads/2015/07/GUIA-INTERSETO- RIAL.pdf>. Acesso em: 30 out. 2020. NASCIMENTO, E. C. S. A utilização da abordagem intersetorial na elaboração de políticas sociais. 2016. 45f. TCC (Graduação em Gestão Pública para o Desen- volvimento Econômico e Social) – Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2016. Disponí- vel em: <https://pantheon.ufrj.br/bitstream/11422/5410/1/ECSNascimento.pdf>. Acesso em: 30 out. 2020. NISHIGAWA, K. S.; GIMENES, F. M. P.; GIMENES, R. M. T. A inserção da responsabi- lidade social no sistema cooperativista: o caso da cooperativa agrícola consolata. Informe Gepec, Toledo, v. 12, n. 2, 2007. Disponível em: <http://e-revista.unioes- te.br/index.php/gepec/article/view/1298>. Acesso em: 30 out. 2020. NÓBREGA, L. M. O. et al. Sistema único de saúde: a intersetorialidade como ins- trumento utilizado para garantir a resolutividade das ações de saúde. Temas em Saúde, João Pessoa, v. 20, n. 4, p. 771-788, 2018. Disponível em: <http://te- DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 123 masemsaude.com/wp-content/uploads/2018/10/fip201849.pdf>. Acesso em: 30 out. 2020. OLIVEIRA, E. D. Cooperativismo e responsabilidade social como estratégia de crescimento local. Ivaiporã, 2017. Disponível em: <https://sistemas.uft.edu. br/periodicos/index.php/producaoacademica/article/view/3558/11449>. Acesso em: 30 out. 2020. PITTON, S. E. Prejuízos ambientais do consumo sob a perspectiva geográfica. In: ORTIGOZA, S. A. G.; CORTEZ, S. T. C. (orgs.). Da produção ao consumo: impactos socioambientais no espaço urbano. São Paulo: Cultura Acadêmica, 2009, p. 91-110. PSA – Projeto Saúde e Alegria. Quem somos. Santarém, PA. Disponível em: <ht- tps://saudeealegria.org.br/quem-somos/>. Acesso em: 30 out. 2020. RAJ Sisodia | Capitalismo Consciente. Postado por A Serviço da Administração. (4min. 46s.). son. color. leg. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?- v=LZp1AhHHmjA>. Acesso em: 30 out. 2020. SAUVÉ, L. Uma cartografia das correntes de educação ambiental. In: SATO, M.; CARVALHO, I. (orgs.). Educação Ambiental: pesquisa e desafios. Porto Alegre: Artmed, 2005, p. 17-44. SILVA, K. L. et al. Intersetorialidade, determinantes socioambientais e promoção da saúde. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 19, n. 11, p. 4361-4370, nov. 2014. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.1590/1413-812320141911.10042014>. Acesso em: 30 out. 2020. SOS Pantanal. Um pouco de quem somos. Campo Grande, [s.d.]. Disponível em: <https://www.sospantanal.org.br/>. Acesso em: 30 out. 2020. TAVARES, M. F. L. et al. Articulação intersetorial na gestão para a promoção da saúde. In: OLIVEIRA, R. G. de.; GRABOIS, V.; MENDES JÚNIOR, W. V. (orgs.). Qualificação de gestores do SUS. Rio de Janeiro: EAD/Ensp, 2009, p. 363-378. Disponível em: <ht- tps://biblioteca.univap.br/dados/00002d/00002dfd.pdf>. Acesso em: 30 out. 2020. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 124 3 UNIDADE A Ética nas Relações Humanas Iniciamos mais uma etapa para juntos pensar a questão ética nas relações humanas. Em nosso debate e apendizado teremos muitos temas para abordar, como: diversidade cultural, étnica e religiosa e de gênero; bem como debater as questões éticas e as relações com os princípios de cidadania na sociedade tecnológica; distinguir e conhecer questões vinculadas ao debate sobre intole- rância, racismo e xenofobia; como também demostrar a importância do ensi- no da ética nas instituições. Falamos tanto em considerar o bem comum, em construir uma cidadania de liberdade e respeito ao outro e, agora, chegamos ao momento de saber se estamos entendendo sobre como estão e como de- vemos considerar as relações humanas do ponto de vista moral. Será que ser de uma religião ou cultura diferente nos faz tratar nossos vizinhos, parentes e amigos de forma hostil ou segregadora? Vamos estudar e conhecer mais estas realidades, como também entender nossa origem, nossas raízes históricas, e apostar no conceito de ética que nos trouxe até aqui. Agora vamos entender as raízes de nosso povo! Raízes históricas da população brasileira Somos miscigenados! E esse fato ocorreu em razão da mistura de diversos grupos humanos que aconteceu no país antes e, principalmente depois da co- lonização. São inúmeras as raças que favoreceram a formação do povo brasi- leiro. Segundo Freitas (2021), os principais grupos foram os povos indígenas, africanos, imigrantes europeus e asiáticos. • Povos indígenas: antes do descobrimento do Brasil, o território já era ha- bitado por povos nativos, nesse caso, os índios. Existem diversos grupos indí- genas no país, entre os principais estão: Karajá, Bororo, Kaigang e Yanomani. No passado, a população desses índios era de quase 2 milhões de pessoas. • Povos africanos: grupo humano que sofreu uma migração involuntária, pois foram capturados e trazidos para o Brasil, especialmente entre os séculos XVI e XIX. Nesse período, desembarcaramno Brasil milhões de negros africa- nos, que vieram para o trabalho escravo. Os escravos trabalharam especial- mente no cultivo da cana-de-açúcar e do café. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 126 • Imigrantes europeus e asiáticos: os primeiros europeus a chegarem ao Brasil foram os portugueses. Mais tarde, por volta do século XIX, o governo bra- sileiro promoveu a entrada de muitos imigrantes europeus e também asiáticos. Na primeira metade do século XX, pelo menos quatro milhões de imigrantes desembarcaram no Brasil. Dentre os principais grupos humanos europeus, destacam-se: portugueses, espanhóis, italianos e alemães. Em relação aos po- vos asiáticos, podemos destacar japoneses, sírios e libaneses. Figura 1. Miscigenação no Brasil. Fotos: Jen Theodore / Tatiana Zanon / Kindred Hues / Unsplash Darcy Ribeiro (1995), em seus estudos sobre uma visão etnográfica da so- ciedade brasileira em épocas remotas se destacou ao escrever sobre a socie- dade brasileira, ressaltando as influências que recebemos das matrizes pelas quais o Brasil é formado e sobre os estragos causados pelos europeus, como a peste, a disputa por território e a escravização dos índios. Dessa forma, o referido autor afirma que nesse momento surgia uma nova etnia, segundo ele, “era o brasileiro que surgia cons- truído com os tijolos dessas matrizes à medida que elas iam sen- do desfeitas.” (RIBEIRO, 1995, p. 30). CONTEXTUALIZANDO ‘Dia do Índio’: estudo revela 305 etnias e 274 línguas entre povos indígenas do Brasil, acesse. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 127 ASSISTA Assista ao vídeo sobre miscigenação no Brasil O Brasil, por ser um país onde a miscigenação é aflorada, carrega consigo benefícios e malefícios. O benefício da miscigenação ocorrida no Brasil se deve a diversidade de raças, culturas e etnias, que resultou numa grande riqueza cultural distribuída de forma diversa pelas regiões do país. Por esse motivo, encontramos inúmeras manifestações culturais, costumes, pratos típicos, en- tre outros aspectos, no entanto, o tipo de colonização e a forma como se deu a miscigenação também traz o peso da herança cultural muito rica, mas muito marcada por uma série de situações que ainda prevalecem na população racis- mo, xenofobia e preconceito l (ARAÚJO E SOUZA, 2013). DICA Leia mais sobre o racismo no Brasil. Acesse o QR Code. Diversidade Cultural, Étnica, Religiosa e de Gênero Nada mais oportuno do que entender cultura e diversidade cultural após termos debatido muito as demandas do conceito de ética. Assim, vamos iniciar tecendo a definição de cultura. Lembrando logo de início que cada um tem a sua e a vida segue rica e bem fecunda porque somos diferentes, mas podemos comunicar nossas diferenças e construir novas possibilidades de viver. Geertz (1989) ao abordar os estudos sobre cultura refere que a atividade do antropólogo é interpretar, cada cultura pode ser entendida como um texto. Cada texto é uma interpretação. Para ele, a cultura constitui-se como formas de ações significativas, simbólicas. A cultura parece estar oculta na mente dos homens e se expressa em suas ações. Ele afirma que é possível enxergar a cul- tura de um povo porque ela está expressa em suas relações sociais. O autor mostra que a cultura se revela a partir de uma descrição densa, pois DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 128 Figura 2. Cultura como teia de significados. Fonte: Pixabay. É importante o destaque trazido pelo antropólogo sobre a cultura ser com- preendida pela teia de significados, isso porque se as relações se traçam com interligações de valores e símbolos e tradições, tudo o que dá sentido dinâmico à cultura vemos com olhos de necessidade de compreensão do que vem a ser a diversidade cultural. O autor mostra que o ponto de vista do nativo é sempre uma construção cultural que se dá após a pesquisa. Cada cultura define o que é “ser humano”. O antropólogo só tem acesso a isso a partir desses símbolos. Para Geertz (1989), as situações universais são sempre descritas de forma singular, seu enfoque privilegia as situações particulares. Dessa forma, a cultura é única para cada grupo e singular em cada indivíduo. No mundo existem milhares de trações culturais, símbolos, pensamentos, mani- festações e identidades culturais, tal diversidade enriquece nosso mundo social. Para Cuche (2012), o conceito de identidade ganha destaque com o nasci- mento do multiculturalismo, o qual nos mostra a face de que os imigrantes e as diversas minorias buscam o direito da diferença, o direito de ter uma identi- dade própria digna de respeito. Por outro lado, os grupos maioritários colocam em debate tal pretensão, temendo, entre a expansão de múltiplas identidades que competiriam para enfraquecer e fragmentar a identidade nacional, a pró- pria sustentação do Estado. são as ações produzidas, percebidas e interpretadas que a definem. Geertz (1989) está, então, atrás da teia de significados de cada sociedade. Ele não de- fende a ideia de ter que “se tornar um nativo” para conhecer a fundo uma cul- tura, mas sim estar familiarizado com o grupo que se pretende compreender. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 129 EXPLICANDO Cultura: conjunto de pensamentos, sentimentos, atitudes, trações, símbolos, hábitos e valores que pertencem a um grupo. Dão sentido a sua identidade cultural, sua marca como grupo. Diversidade Cultural: é o reconhecimento de diferentes culturas para diferentes grupos sociais. Figura 3. Diversidade Cultural. Fonte: Pixabay. Para Bergamaschi (2008), a diversidade cultural e a presença de inúmeros povos indígenas com suas tradições e línguas marcam nossa diversidade étnica e cultural. Alves e Barros (2009) definem que a diversidade cultural está relacionada aos as- pectos distintivos de uma cultura para outra, uma riqueza dada pela capacidade dos humanos de criar e transformar o legado que receberam. As identidades culturais aparecem a partir das manifestações culturais. O debate sobre a questão da diversidade cultural, que abre para todo um feixe de outros debates importantíssimos, nos faz pensar que com a educação podemos formar indivíduos que entendam que ser diferente é poder trazer algo novo na troca cultural. A fundamentação do respeito da ética está no bojo dessa compreensão. Em meio aos pensamentos sobre a diversidade, podemos pensar também a di- versidade étnica, religiosa e de gênero. Quanto a diversidade étnica, temos muito a comemorar desde que superamos a explicação da existência de diferentes culturas pelo conceito de raça, para o con- ceito de etnia. Uma vez que se concluiu que falar em raça é apontar diferenças pura- mente biológicas, físicas, sem considerar as questões de fundo cultural para a com- preensão dos diferentes povos. Com o conceito de etnia, vemos um alargar dessa possibilidade de entendimento do outro. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 130 Gomes (2004) mostra que o uso de etnia se ampliou para referências a povos diferentes como judeus, índios, negros, entre outros, enfatizando seus processos históricos e culturais. No Brasil, o termo relações étnico-raciais é muito utilizado para debater as ques- tões de relações raciais e étnicas, que estão muito além da cor da pele e das origens culturais. Há um misto desses olhares na alocação e interpretação dos lugares sociais que os indivíduos ocupam na sociedade. Portanto, falar de raça ou de etnia em nossa cultura vai trazer um apanhado de significações de quem fala, como fala e por que fala, o chamado “lugar de fala”. É também com estas construções que nascem concei- tos e alocações culturais denominadas de racismo, preconceito e discriminação. Estes podem ser de raça ou etnia, mas tendem a ser explicados pela questão racial. Enquanto o preconceito é definido como uma percepção sobre as coisas, muitas vezes herdada por conta da socializaçãorecebida, a discriminação é a própria práti- ca do preconceito. Assim, o racismo trata-se de uma construção ideológica de que existem raças diferentes e que estão submetidas a uma hierarquia de classificação como inferiores e superiores. Nesse caso, essa teoria sempre acaba por delegar aos negros os mais baixos graus de status social na sociedade. O racismo é uma teoria perversa, que separa e agride os indivíduos que pertencem ao grupo discriminado. Figura 4. Racismo e preconceito. Fonte: Wikicommons A diversidade étnico-racial deve ser pensada por toda a comunidade escolar, pe- los gestores educacionais que são importantes na formação dos indivíduos. Compreender que negros e brancos têm sua importância e valor cultural é co- laborar para o entendimento da diversidade cultural e étnica. É importante saber que a cultura afro-brasileira compõe nossa trajetória de formação de nação. Não DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 131 DICA Para saber mais leia o texto Diversidade étnico-racial, inclusão e equidade na educação brasileira: desafios, políticas e práticas no link, acessando o QR Code. DICA L E I 7 . 7 1 6 / 1 9 8 9 ( L E I O R D I N Á R I A ) 0 5 / 0 1 / 1 9 8 9 . é possível falar de diversidade étnica sem considerar que o Brasil, após a abolição, atravessou grandes lutas pelo reconhecimento desta cultura que inclui as lutas so- ciais, a miscigenação, a discriminação, o sincretismo. Vemos no Brasil, de forma muito clara, a existência de um preconceito racial con- tra negros e mulatos. A igualdade de oportunidades é divulgada e tolerada. Temos lei contra o Racismo. Entretanto, ainda assim as ligações íntimas com pessoas de cor não são vistas com bons olhos. Os mulatos passam por menor discriminação que os negros, mas também são discriminados e sofrem preconceito. Constantemente presenciamos discussões que envolvem o preconceito racial e a discriminação étnica dos indiví- duos, com falas como: “você é negro”, “você é indígena”, “por isso não conseguiram obter êxito em nada…”. Por aí vai. A discriminação e o preconceito ocorrem também em relação as questões re- ligiosas, normalmente há uma perseguição e preconceito com as reli- giões de matrizes africanas. Incrível que normalmente entendemos que a religião deve trazer coisas boas aos indivíduos, pois nelas os mesmos depositam sua fé espiritual e dedicam-se professando. No entanto, por ignorância, ou mes- mo maldade, muitos indivíduos constroem guer- ras, matam e perseguem religiões diferentes das suas. O etnocentrismo predomina nesses casos e faz com que a religião de uma pessoa seja considera- da a melhor ou a que tem mais pureza, etc. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 132 CONTEXTUALIZANDO Para saber mais leia a reportagem Diversidade Religiosa no link, acessando pelo QR Code. A superação deste fenômeno de pejoração negativa das diferentes religiões só acontece quando os indivíduos estão disponíveis para conhecer a diversidade reli- giosa. Conhecer é importante para melhor conviver. Isto não significa converter-se. Quando estudamos um pouco, vemos que o catolicismo tradicional também teve influência africana no culto de santos de origem africana como: São Benedito, Santo Elesbão, Santa Efigênia e Santo Antônio de Noto (Santo Antônio do Categeró ou Santo Antônio Etíope); no culto de santos também há aqueles que podem ser associados aos orixás africanos como São Cosme e Damião. O próprio São Jorge (Ogum no Rio de Janeiro), Santa Bárbara (Iansã), além daqueles oriundos da criação de santos populares como a Escrava Anastácia. É comum ver que igrejas pentecostais do Brasil, que são contra as religiões de origem africana, na realidade têm várias influências destas, como se nota em práti- cas como o batismo do Espírito Santo e crenças como a de incorporação de entida- Figura 5. Diversidade religiosa. Fonte: Rogério Chimello. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 133 des espirituais (vistas como maléficas). O Catolicismo nega a existência de orixás e guias, já as igrejas pentecostais os denominam como demônios. A ideia de sincretismo religioso, a transculturação das religiões, como ocorre na umbanda, por exemplo, tem origem nos fatores histórico-culturais da história do Brasil. Por isso, é preciso compreender que a diversidade religiosa existe e precisa ser respeitada. No cenário relativo a compreensão das relações de gênero e sua diversidade também não encontramos eco no respeito. Pois na atualidade vemos que a concei- tuação que acrescenta nessa polêmica é a de que orientação sexual e identidade de gênero são diferentes e precisam ser compreendidas. EXPLICANDO Orientação Sexual refere-se à atração sexual e à afetividade que um indivíduo sente por outro. Diversidade de gênero refere-se ao gênero com o qual o indivíduo se identifica que pode ter, ou não, relação com seu sexo biológico. Orientações Sexuais Definições Heterossexual Indivíduo que sente atração pelo sexo oposto. Homossexual Indivíduo que sente atração pelo mesmo sexo. Bissexual Indivíduo que sente atração pelos dois sexos. Assexual Indivíduo que não sente desejo sexual. Pansexual Indivíduo que aprecia todos os gêneros sexuais. TABELA 1. SOBRE ORIENTAÇÃO SEXUAL. Fonte: Criação da autora de acordo com https://bit.ly/2SR1o9m. Gonçalves (1999) fala, em seus estudos, a respeito de como a sociedade Paresí, do grupo indígena denominado Aruak, localizado no Estado de Mato Grosso, cons- trói simbólica e culturalmente o dimorfismo sexual tendo como foco de análise sua mitologia e seu complexo ritual. Ele demonstra como a categoria diferença é algo construído, tal qual nos indica a ideia de gênero sobre os indivíduos na vida social. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 134 Em outros termos, analisa-se a diferença e a construção de gênero como fenômeno englobado por um pensamento geral sobre o que significa a diferença no mundo. Assim, segundo o autor, a diferença de gênero informa ao mesmo tempo que produz e é produzida por esta ideia da diferença que não é universal e sim construí- da culturalmente. Dessa forma, são as posições culturais construídas por homens e mulheres, a partir do olhar que eles têm do compromisso com suas escolhas pau- tadas na orientação sexual e na diversidade de gênero, que dão sentido às suas histórias e lugares nessa discussão. É importante entender como os indivíduos tem se referenciado, a partir desse olhar. Diversidade de Gênero Definições Cisgênero Indivíduo que se identifica com seu sexo biológico. Masculino é homem. Feminino é mulher. Transgênero Indivíduo tem uma identidade diferente do seu sexo biológico. Transexuais - um homem que se enxerga como mulher ou uma mulher que se enxerga como homem. Transgênero - deve assumir definitivamente o corpo com o qual se identifica e, em muitos casos, pode desejar atravessar procedimentos de redesignação sexual ou terapias hormonais. Não Binário Indivíduo que oscila entre masculino e feminino. Por exem- plo, uma mulher que se identifica com o gênero masculino, mas não realiza procedimentos de readequação física (ape- nas assume um comportamento condizente com seu gênero). TABELA 2. SOBRE DIVERSIDADE DE GÊNERO. Fonte: Criação da autora de acordo com https://bit.ly/2SR1o9m. Esses conhecimentos são importantes pois levam ao combate de práticas de preconceito e discriminação, fundamentados em ideologias homofóbicas e de vio- lências de gênero. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 135 DICA Para saber mais leia o texto Educação, relações de gênero e diversidade sexual no link e assista aos vídeos ifsctv | Diversidade de gêneros e Gênero e diversidade. Ética e Cidadania na Sociedade Tecnológica Iniciaremos agora toda uma reflexão e conceituação sobre a relação ética e a sociedade tecnológica que estamos vivendo. Morin (2000) nos apresenta às demandas da educação e da sociedade doconhecimento em tempos atuais, mostrando que esta impõe aos indivíduos uma escola que lhes faça sentido, que lhes seja capaz de resgatar a formação do ser completo. Em sua visão, a escola de hoje deve oferecer aos indivíduos além do ensino básico com cálculos, língua escrita e falada, precisa trazer tam- bém as interfaces com as ferramentas e inovações tecnológicas trazidas pela era da comunicação e informação. É importante marcar que o conhecimento e a informação estão no centro do mundo atual. O perfil de indivíduo que se exige, mediante estas deman- das, é de quem consegue ser flexível, polivalente, empreendedor e altamente adaptável. Alguém que é criativo, inovador e está sempre sendo desafiado por questões profissionais e pessoais. Um mundo em que se fala o tempo todo a respeito de busca de soluções viá- veis. Os próprios modelos educa- cionais voltam-se para esta pers- pectiva. Isto significa que o aluno a ser formado tem que ser prepa- rado para enfrentar este aparato de necessidades impostas pela sociedade do conhecimento e da informação. Figura 6: Sociedade do Conhecimento. Fonte: Freepik. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 136 Nesta sociedade digital, educar um indivíduo para desenvolver sua cidada- nia plena também envolve construir valores de respeito, responsabilidade e participação colaborativa com a comunidade. ASSISTA Para saber mais assista ao vídeo Educação na Sociedade do Conhecimento no link. Assistimos a uma era em que a tecnologia está no bojo de todas as coisas que realizamos no mundo social. Levy (1999) traz à cena os conceitos de cibercultura e ciberespaço para mostrar a amplitude de nossas trocas de conhecimento e aprendizagem na era digital. Nesse sentido, o autor ainda produz associado ao pensamento de Kerckhove (1995), o conceito de inteligência coletiva, constituindo-se em inteli- gências conectadas, isto é, o uso colaborativo das várias inteligências mediante processos de comunicação e tecnologias em rede. Este novo desenho peda- gógico de formação dos indivíduos propõe uma revisão da forma tradicional de ensinar e aprender, a construção de saberes e as trocas comunicacionais ganham uma dimensão mais personalizada. EXPLICANDO Cibercultura: cultura que emerge com o advento das trocas comunicacionais advindas do computador. Conhecimentos, valores, informações e saberes que se constroem a partir do mundo virtual. Ciberespaço é o virtual, as redes de conexão. O que precisamos entender é como funcionam, nesse caso, os princípios da ética e cidadania em um contexto de valorização da comunicação virtual. Com o exposto acima, focamos em mostrar que a ética passa a ser uma questão central no contexto das trocas e construções virtuais, tanto no âmbito da vida pública como na vida privada. Nesse sentido, ser ético é pensar no que fazemos, na medida de nossas DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 137 ações, considerando quem somos e com quem nos relacionamos. Além da ên- fase na reflexão sobre o outro e o planeta em que habitamos. Figura 7: Ética e Tecnologia. Fonte: Freepik. Para Dewey (1979) é a partir da reflexão que emerge a dúvida, a perplexidade, o ato de pensar. Ela também envolve o ato de pesquisar, para resolver a dúvida e esclarecer a tal perplexidade. Dessa forma, o autor nos aponta o caminho para nossas questões éticas contemporâneas. Além dele, também Castoriadis (1979) diz que a reflexão deve sinalizar o conhe- cimento para investigar, explicitar e questionar os conteúdos sociais e culturais. ASSISTA Para saber mais assista ao vídeo Renato Janine Ribeiro debate ética, política e os desafios da Educação no link. Olivé (2000), em seus estudos, colabora com nossa reflexão sobre deveres mo- rais do cientista e do tecnólogo em nossos tempos. Para ele, cientistas devem ter a consciência da responsabilidade e das consequências do trabalho que realizam. Esta responsabilidade inclui informar a sociedade com precisão sobre seus expe- rimentos e resultados. Também, os tecnólogos devem avaliar com cautela e serie- dade as tecnologias produzidas e suas amplitudes. Avaliar não só a eficiência, mas sobretudo, os impactos no meio social e natural. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 138 O autor ainda ressalta que os cidadãos, a grosso modo, também têm respon- sabilidade na avaliação das tecnologias e em sua aceitação e propagação. Assim, eles devem buscar informações adequadas sobre a natureza da ciência e da tecno- logia, que estão propagando bem como de seu uso e consequências. DICA Para saber mais leia a reportagem O dilema ético dos bebês geneticamente modificados no link e assista ao vídeo A Engenharia Genética mudará tudo para sempre. Com tantas discussões no terreno da ética, é preciso focar que ser cidadão é estar situado na ordem social de forma participativa, mas considerando que ape- sar da evolução tecnológica é preciso pontuar nossas ações locais e globais, pre- senciais e virtuais, de forma eticamente responsável. A Intolerância, o Racismo e a Xenofobia É muito comum, diante do que vimos até aqui, presenciarmos na sociedade globalizada e tecnológica, sentimentos de exclusão social, violência e intole- rância. No ano de 2001, realizou-se a Conferência Mundial contra o Racismo, Dis- criminação Racial, Xenofobia e Intolerância Conexa na cidade de Durban, África do Sul. Esta conferência foi um culminar das demandas mundiais para o en- frentamento de um cenário sociopolítico extremamente grave em nível mun- dial: o combate ao racismo e intolerância. Trata-se de compreender que indivíduos, povos e nações estavam cada vez mais praticando e incentivando realidades de exclusão e segregação social, que em muitos casos levam ao extermínio. Mesmo diante de outros instrumentos legais e históricos para esse fim, foi necessário organizar a Conferência de 2001. Listamos aqui alguns dos instrumentos que foram implementados sob a DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 139 égide das Nações Unidas com intuito de promover a igualdade e combater a into- lerância: • Implementação de um sistema de gestão ambiental; • Convenção para a Prevenção e Repressão do Crime de Genocídio (1948); • Pacto Internacional sobre os Direitos Civis e Políticos (1966); • Pacto Internacional sobre os Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (1966); • Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres (1979); • Convenção sobre os Direitos da Criança (1989). Apesar do aparato legal acima referido, os dados mundiais seguiram apontan- do que seres humanos ainda são vítimas de ideologias e tratamento racista e segre- gacionista, principalmente com o surgimento de novas tecnologias e o advento da globalização, que trouxeram próprios de seus campos. Por isso a urgência de novas medidas e esforços focados em nível nacional e internacional. Figura 8: Intolerância racial. Fonte: Nações Unidas. Para avançarmos, consideramos que é preciso definir o que vem a ser racismo, xenofobia e intolerância, objetos de nossa discussão. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 140 EXPLICANDO Racismo: significa preconceito e discriminação de indivíduos e grupos fundamentados em percepções sociais baseadas em diferenças biológicas entre os povos. Xenofobia: sentimento de desconfiança, antipatia, receio de pessoas que não são familiares ao meio de quem julga, ou ainda daqueles que não são do país de quem julga. Intolerância: capacidade mental de não desejar reconhecer e respeitar diferentes valores, sentimentos, opiniões de grupos e pessoas que não pertencem a quem avalia. Para seu melhor entendimento, vamos pensar a seguinte situação: em uma sala de aula de uma escola particular, com alunos brasileiros, encontramos um aluno muçulmano, que se veste tal qual sua cultura, um aluno com autismo e apenas duas crianças negras. Todos os dias as crian- çasnegras são isoladas das brancas, mas a convivência se dá de forma re- gular. Ao observar essa situação, uma professora de Sociologia começou a incentivar a integração desses alunos, crianças de 12 a 14 anos. Então, em conversa com uma do grupo de crianças brancas, a mesma falou que não gostaria de sentar com seus colegas negros para fazer trabalho de grupo porque seus pais disseram que os negros são menos competentes que os brancos. A professora teve que fazer toda uma explicação sobre a história dos negros no Brasil e as teorias racistas para seus alunos, pois estava diante de um caso de racismo. Mas não parou por aí, a professora ainda observou o tratamento de exclusão que aquela turma dava ao aluno muçulmano, não satisfeita com aquela situação, chamou um grupo de alunos que praticavam a segrega- ção do aluno muçulmano para uma conversa. Então, descobriu falas so- bre a ideia de que os estrangeiros que vem do oriente médio podem ser homens bombas e, ainda, que “vem tirar onda aqui no nosso País”, fala de uma criança durante a conversa com a professora. Nesse caso, a re- ferida professora estava diante de xenofobismo, intolerância. Assim, ela tratou de construir as suas próximas aulas baseadas em vídeos e textos que pudessem ensinar sobre a cultura oriental, a respeito de convivência e respeito. Finalmente, não precisamos dizer que o aluno autista era ali um in- visível, nenhum aluno preocupava-se com sua presença. Fato este que DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 141 levou a mesma professora a organizar atividades em que ele pudesse ser incluído nas relações sociais daqueles alunos. Além disso, a professora escreveu um projeto e propôs à Escola a realização de oficinas e reuniões que incluíssem as temáticas apresentadas, com os pais. Figura 9: Ética na Sala de Aula. Fonte: Pixabay. Fonte: https://bit.ly/2F9oyC4. Acesso em 01 de maio de 2019. Diante de tal conceituação, podemos avaliar o peso negativo destas atitudes e práticas em nossa sociedade. Daí a necessidade de sabermos que importantes deci- sões saíram da Conferência de Durban, que em linhas gerais foram: • Problemas enfrentados pelas vítimas de tais flagelos (com particular destaque para as mulheres, pessoas de origem africana e asiática, povos indígenas, migrantes, refugiados e minorias nacionais) e medidas específicas para aliviar o seu sofrimento; • Problema da discriminação múltipla; • Importância da educação e sensibilização pública no combate ao racismo; • Problemas particulares colocados pela globalização; • Aspectos positivos e negativos das novas tecnologias; • Importância da recolha de dados, da pesquisa e do desenvolvimento de indicadores no domínio da discriminação; • Previsão de medidas destinadas para garantir a igualdade nas áreas do emprego, da saúde e do ambiente; • Importância de garantir o acesso das vítimas às vias de recurso eficazes e de assegurar a sua reparação pelos danos sofridos; • Papel dos partidos políticos e da sociedade civil, nomeadamente ONG e juventude, na luta contra o racismo. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 142 Ainda temos muito a saber sobre os conceitos de racismo e xenofobia que são processados de forma estrutural, fundamentando guerras santas e étni- cas, como ocorre no Oriente Médio na atualidade. Tal situação de desumanida- de tem tirado a vida de muitas famílias, mulheres, homens, jovens e crianças. DICA Para saber mais leia o texto Combates à xenofobia, ao racismo e à intolerância e a reportagem A história por trás da foto do menino sírio que chocou o mundo no link. Santos (2016) ao descrever motivos pelos quais se pratica o xenofobismo, mostra que o migrante é visto como “de fora” em um território que é dominado por alguém que acredita “ser seu”, o que leva a imputar ao migrante a aceitação de suas práticas e sua submissão a seu modo de vida. Caso isso não venha a ocorrer, ou seja, quan- do o migrante se percebe e busca estabelecer-se como um ser de direitos, o qual estando presente naquela comunidade sente o desejo de participar das decisões da vida política, social etc., o dominante começa a se sentir incomodado e busca nas práticas racistas e xenofóbicas uma forma de coação e reação a esse migrante. Fanon (2008), sobre o entendimento do racismo, colabora com a ideia de que uma sociedade tende a ser racista como um todo, pois, em seu olhar, não existem “meios racismos”. Pode ter, também, uma parte da sociedade mais racista que a outra. De fato, ainda existem muitas pessoas que pensam que o migrante que chega em outra terra, isso vale para o Brasil também, consiste em uma ameaça para o trabalhador no mundo do trabalho local, o que pode reforçar a xenofobia reproduzida pela população. De qualquer forma, é preciso que através da educação e da formação de valores mo- rais e éticos, os indivíduos possam receber o antídoto para este mal do século XXI: a se- gregação de pessoas, que se redefine como uma realidade de afastamento, isolamento. O Ensino da Ética nas Instituições Para que alcancemos a proposta que abordamos acima, uma formação educacional em nível local e global, que alcance a tolerância das diferenças cul- DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 143 turais, das perspectivas de fluxo migratório, da liberdade de se exercer como ser humano portador de direitos em qualquer região do planeta, é importante consolidar matrizes curriculares que incluam conceitos e ensinamentos sobre ética, sobretudo, abordagens práticas de vida que possibilitem a reflexão com base na moral e na ética. Chauí (2004) destaca a importância de ensinar ética por conta da con- vivência em espaços grupais. Para Carvalho (1999), nas organizações en- sinar e aprender sobre ética fundamenta a regulação e garante qualidade nas relações humanas, servindo também como indicativo do desenvolvi- mento organizacional. Olhando mais de perto a inserção da ética nos currículos da educação su- perior, vemos que nos anos 70, no Brasil, ela passa a fazer parte do currículo de Administração e negócios, um momento em que se inicia uma ampla iniciativa social e educacional para discussão de responsabilidade social, trocas interna- cionais e desafios éticos regionais do ponto de vista de estratégias econômicas. DICA Para saber mais leia o texto Ética, Instituições e Desenvolvimento. Capra (2002) destaca que as instituições universitárias precisam reformular currículos que contemplem a formação ética pois, segundo ele, elas têm o pa- pel de formar os novos profissionais. Já Sequeiros (2000), prima pelo ensino da ética da solidariedade na educação como um todo, pois acredita que a criança desde cedo deve conhecer a consciência ética. No entanto, Vallaeys (2003) infe- re que os valores dominantes das universidades atuais são o individualismo, a posse, a competência e a dominação. A partir da década de 90 e a massificação da educação supe- rior, uma grande amplitude de oportunidades de Cur- sos e Disciplinas com ênfase mercadológica, muitas Instituições viram a possibilidade de agregar à sua missão, através da propaganda, os valores de for- mação ética e responsabilidade social, conforme nos mostra Calderon (2005). DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 144 Figura 10: Ética e Instituições. Fonte: Pixabay. Em uma sociedade capitalista selvagem, em que muitos comportamentos não prezam as relações éticas, é muito comum ouvirmos várias reclamações de falta de ética na política e na sociedade como um todo. Nesse caso, a inclusão da ética nos currículos, sobretudo universitários, torna-se uma urgência aca- dêmica, para que continue a se constituir como um elemento fundamental nas relações humanas. Cuvillier (1947) marcou os seguintes pontos a serem observados na forma- ção ética dos profissionais: a. Através da profissão o indivíduo se realiza plenamente, provando sua capacidade, habilidade, sabedoria,inteligência e formando sua personalidade para vencer obstáculos; b. O nível moral dos homens é elevado pelo seu exercício profissional; c. Na profissão os homens mostram sua utilidade à comunidade. ASSISTA Para saber mais assista ao vídeo Mario Sergio Cortella - Educação, Convivência e Ética no link. Educação das Relações Étnico-Raciais Você sabia que existe uma importante forma de tratar da questão racial nas escolas? Esse tipo de conteúdo relacionado a origem do Brasil e a relevância DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 145 que deve ser dada aos povos originários e introduzidos é trabalhado na educa- ção das relações étnico-raciais. Essa temática começou a ser introduzida, em âmbito legal, na Lei de Diretri- zes e bases da educação em 1961 - LDB/1961, onde já se verificava a coibição de tratamento diferencial na escola baseado na raça (NEGREIROS, 2017). Segundo Negreiros (2017), O processo de constituição da educação das relações étnico-ra- ciais como política pública é completamente paralelo à composição das políticas de promoção da igualdade racial, como observado no capítulo anterior. É possível afirmar que o ponto de afluência des- sa política é a aprovação da Lei 10.639/2003, ocorrida no mesmo período de diversas legislações que estabelecem e organizam as políticas de promoção da igualdade racial no Brasil. Contudo, no contexto das políticas educacionais, essas ações relativas à temáti- ca étnico-racial são recentes (NEGREIROS, 2017, p. 66). Foi só com a Constituição de 1988, a educação como política social universal, com o objetivo de formar os estudantes para a vida e para o mercado de trabalho. Nessa mesma constituição, dita cidadã, foram ratificados o princípio da igualdade, do padrão de qualidade e do respeito à diversidade (NEGREIROS, 2017). Com a atualização da Lei de Diretrizes e Bases da Educação - Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996, a educação é compreendida como um sistema que engloba: • Educação Infantil • Educação Básica • Educação de Jovens e Adultos • Educação Profissional • Educação Superior • Educação Especial. Nessa lei a educação é classificada como dever do Estado, com igualdade de acesso e condições de permanên- cia aos estudantes, essa condição está diretamen- te relacionada com o respeito à diversidade cul- tural, social e étnica. É importante que você saiba, caro(a) aluno(a) que, ainda segundo a LDB 9394/96, o currículo DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 146 escolar deve ter uma base comum que condiga com os valores culturais do País e o respeito às características regionais no currículo específico de cada região. Então se durante seus estudos na educação básica e no ensino médio você estudou sobre questões culturais, sociais e étnicas regio- nais e nacionais saiba que esse estudo é fundamental para que você tenha conhecimento sobre nosso país! Essa mesma lei indicava a necessidade do ensino da história do Brasil que inclua e contemple a participação de pessoas negras e indígenas em sua for- mação, o que é, de fato, extremamente relevante como um compromisso do Estado brasileiro para diminuir as desigualdades e a reparação histórica com índios e negros. (NEGREIROS, 2017) Assim a lei deixa claros quais são os objetivos que escolas e como se deve dar a formação de pessoas sobre a questão das relações étnico-raciais no país. Os objetivos são: • Possibilitar o reconhecimento de pessoas negras na cultura brasileira a partir de seu próprio ponto de vista; • Promover o conhecimento da população brasileira sobre a história do Bra- sil com a visão de mundo da população negra; • Formar os professores para ministrarem disciplinas que contemplem a perspectiva negra na história, cultura e sociabilidade do País assim como que saibam combater e discutir sobre o racismo e seus efeitos (dentro e fora do ambiente escolar); • Propiciar a reeducação para relações étnico-raciais plurais e diversas. (NE- GREIROS, 2017) É importante que você saiba que, independente de sua formação, você pre- cisa saber sobre a sua origem e a origem de seu povo e só por meio da educa- ção que é possível você respeitar a etnia do outro, conhecer o seu país e sua formação e entender de cultura, diversidade e da riqueza do seu país. Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana Entendemos a pouco sobre a LBD 9394/96 e a importância que deve ser dada a questão étnica e racial, mas essa lei ainda ficava subjetiva em algumas DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 147 questões, assim foi criada a Lei 10.639/2003 que veio especificar, detalhar e obrigar o ensino de História e Cultura-Brasileira e Africana na Educação Básica, alterando a LDB a fim de: • Promover um currículo escolar antirracista e valorativo da população negra; • Promover a inserção da história e cultura africana e afro-brasileira, porém sem estabelecer um limite temporal para a sua implementação, nem o mínimo dessa inserção no currículo. Essa lei acabou traçando um caminho de um maior entendimento em rela- ção a educação das relações étnico-raciais, primeiro por que contempla inte- gralmente a proposição expressa pelo MNU na Convenção do Negro na Consti- tuinte em 1986, que indicava: “É obrigatória a inclusão nos currículos escolares de 1º e 2º graus, do ensino de História da África e da História do Negro no Brasil.” (Convenção do Negro na Constituinte, 1986). Segundo porque estabele- ce que o ensino de história deva considerar as matrizes africanas, indígenas e europeias da formação do Brasil. Para Dias (2005) essa inclusão é muito pouco, “diante de toda a produção existente sobre a tensão no Brasil no que se refere à raça e, em especial, às con- dições da população negra, mas representa um avanço, se considerada a total omissão no projeto apresentado pelas entidades dos professores”. CONTEXTUALIZANDO Por meio dessa lei foram criados o Parecer CNE/CP 03/2004, de 10 de março de 2004 que trata das diretrizes curriculares para a Educação das Relações Étnico-Ra- ciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana e da Resolução n. 1, de 17 de junho de 2004 que, de fato, as institui e você pode acessar nesse link. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 148 Referências bibliográficas ALVES, Amanda Microni Macedo; BARROS, José Márcio Pinto de Moura. Identi- dade e diversidade Cultural: Paradoxos e articulações para uma Política pú- blica. In: REUNIÓN DE ANTROPOLOGIA DEL MERCOSUR, 8. [S.l.]. Anais, 2009. BERGAMASCHI, Maria Aparecida (org). Povos Indígenas & Educação. Porto Alegre: Mediação, 2008. ARAÚJO, Ana Flávia Rocha; SOUZA, Sabrina Rodrigues. Disponível em: https:// www.efdeportes.com/efd181/raizes-do-brasil-na-cor-da-pele.htm Acesso em 26 de janeiro de 2022. _________. Diretrizes curriculares nacionais para a educação das relações ét- nico raciais e para o ensino da História afro-brasileira e africana. Brasília/DF: SECAD/ME, 2004. CARVALHO, Maria do Carmo. Gestão de projetos sociais. São Paulo: AAPCS, 1999. CAPRA, F. As conexões ocultas: ciência para uma vida sustenSEQUEIROS, Lean- dro. Educar para a solidariedade: projeto didático para uma nova cultura de relações entre os povos. Porto Alegre: Artmed, 2000. CHAUÍ. Marilena. Ética e universidade. 2004. Universidade e sociedade. Sindi- cato nacional dos docentes das instituições de ensino superior. 8. ed. Brasília: Rumo, CD-ROOM: V. 1, edições 1 a 24, 2004. CUCHE, Denys. A noção de cultura nas ciências sociais. Bauru, Edusc, 2012 CUVILLIER. A. Manuel de Philosofhie. 9; Ed. Paris: Armand Colin, 1947. CASTORIADIS, Cornelius. Feito e a ser feito: as encruzilhadas do labirinto V. Tradução de Lílian do Valle. Rio de Janeiro : DPeA, 1999 DEWEY, John. Como pensamos: como se relaciona o pensamento reflexivo com o processo educativo: uma reexposição. 4. ed. Tradução e notas de Haydée Ca- margo Campos. São Paulo : Nacional, 1979. FANON, Frantz.Pele negra máscaras brancas. Salvador: Editora da UFBA. 2008. Tradução de Renato da Silveira e Prefácio de Lewis R. Gordon. FREITAS, Eduardo. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/brasil/ as-origens-povo-brasileiro.htm Acesso em 26 de janeiro de 2022. GEERTZ, Clifford. A Interpretação das Culturas. Ed. Guanabara Kogan S.A., 1989. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 149 GOMES, Nilma. Lino. Diversidade étnico-racial e a Educação brasileira. In: BARROS, José Márcio Pinto de Moura (org.). Diversidade Cultural: da proteção à promoção. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2008. Gonçalves, Marco Antônio. “ Produção e Significado da Diferença: Gênero, Dimorfismo Sexual e Sexualidade entre os Paresi”, RJ, 1999, no mímeo. LÉVY, Pierre. Cibercultura. Rio de Janeiro: Editora 34, 1999. MORIN, Edgar. Os Sete Saberes necessários à Educação do Futuro. São Pau- lo: Cortez, 2000. SANTOS, Boaventura de Souza. Para além do pensamento abissal: das linhas globais a uma ecologia de saberes. Revista Crítica de Ciências Sociais, Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, 78. Out. 2007: 3-46. Disponível em: < http://rccs.revues.org/753> Acesso em: 20 abr. 2019. SIEMENS, G. Connectivism: a learning theory for the digital age. Elearnspace, Dec.12, 2004. Disponível em: <http://goo.gl/DeQwRN>. Acesso em29 de abril de 2019. VALLAEYS. François. Orientaciones para la enseñanza de la etica, el capital social y el desarrollo en las universidades latinoamericanas. 2003. Pontifí- cia Universidade Católica Del Peru. Disponível em: Acesso em: 28.06.06. OLIVÉ, león. El Bien, El Mal y La Razón: Facetas de La Ciencia y de La Tecnolo- gia. México: Paidós, 2000. KERCKHOVE, Derrick. A pele da cultura: uma investigação sobre a nova reali- dade eletrônica, Lisboa, Relógio D’Água Editores, 1997. NEGREIROS, D.F. Educação das relações étnico-raciais (s)em perspectiva. In: Educação das relações étnico-raciais: avaliação da formação de docentes [online]. São Bernardo do Campo, SP: Editora UFABC, 2017, pp. 57-91. ISBN: 978- 85-68576-94-6. https://doi.org/10.7476/9788568576946.0003 Acesso em 26 de janeiro de 2022. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 150 4 UNIDADE Direitos humanos Nesta última Unidade de Ensino de nossa disciplina, aprenderemos sobre Direitos Humanos, tais como o direito à vida, educação, trabalho, liberdade de opinião, princípios e relações com ações comunitárias de participação de- mocrática; refletir questões e situações ligadas à ética, direitos humanos e violência; como também identificar o cenário atual e as tendências da ética e cidadania. Veremos ainda a responsabilidade de governos de garantirem esses direitos. Entenderemos que só é possível participar das decisões políticas de um país a partir do exercício da cidadania plena, ancorada na ética, se temos condições democráticas para esta participação. Enfim, faremos uma reflexão sobre ausência de direitos e perpetuação da violência para entendermos o que está acontecendo hoje com as práticas de ética e cidadania. Você também está curioso para debater estes temas? Vamos lá! Afirmação histórica dos direitos humanos Como se originou os direitos humanos? Podemos dizer que foi a partir das duas revoluções, a americana e a francesa. A revolução americana ou Declara- ção dos Direitos dos Cidadãos dos Estados Unidos que assegurava alguns direi- tos aos nascidos naquele país como o direito à vida, à liberdade, à igualdade e à propriedade. Esses direitos estabelecidos asseguravam a população que o governo não poderia atacá-los sem base jurídica, ou seja, sem o devido processo e julga- mento dentro dos parâmetros da lei. Em 1789, estourou a Revolução Francesa que foi redigida a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, baseada em ideais iluministas e no tripé: igualdade, liberdade e fraternidade. Essa declaração tinha por objetivo assegurar que “nenhum homem deveria ter mais poder ou direitos que outro – o que representava o ideal republicano e democrata, que à época ameaçava o Antigo Regime, no qual apenas uma pessoa concentrava poderes, o rei”. Mas foi em 1948 que foi publicada a carta oficial dos direitos humanos, a famosa Declaração Universal dos Direitos Humanos, a qual asseguraria para a humanidade, os seus direitos básicos. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 152 Mas, afinal o que são os seus direitos, quanto humano? São uma série de direitos básicos assegurados a todo e qualquer ser huma- no sem distinção de classe social, raça, nacionalidade, religião, cultura, profis- são, gênero, orientação sexual ou qualquer outra variante possível que possa diferenciar os seres humanos. Segundo Porfírio, (2022), é importante que você, como pessoa com direitos e deveres, saiba: • Os Direitos Humanos não são uma invenção, e sim o reconhecimento de que, apesar de todas as diferenças, existem aspectos básicos da vida humana que devem ser respeitados e garantidos. CONTEXTUALIZANDO Declaração Universal dos Direitos Humanos foi criada após 3 anos da criação da Organização das Nações Unidas (ONU), que iniciou suas atividades em fevereiro de 1945. Os países foram adotando os ideais dessa declaração em suas constituições. No Brasil não foi diferente já que a Constituição Federal de 1988, está totalmente alinhada com a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Quer saber mais sobre a constituição brasileira de 1988? acesseo link através do QR Code. Figura 1: Dia Internacional dos Direitos Humanos. Fonte: a autora. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 153 • A Declaração Universal dos Direitos Humanos foi redigida a fim de resguar- dar os direitos já existentes desde que houve qualquer indício de racionalidade nos seres humanos. Assim sendo, ela não criou ou inventou direitos em seus artigos, mas se limitou a escrever oficialmente aquilo que, de algum modo, já existia anteriormente à sua redação. • A liberdade e da igualdade deve estender-se a todos os seres humanos. • todas as pessoas podem requerer para si os direitos apresentados no do- cumento. Nenhuma discriminação, de qualquer origem, pode ser feita. • ninguém pode ser mantido em regimes de escravidão ou servidão nem pode ser submetido à tortura, à crueldade ou a qualquer tipo de tratamento degradante. DICA Quer saber todos os detalhes os direitos estabelecidos na Declaração, acesse o link através do QR Code. Conceituação e princípios dos direitos humanos O conhecimento dos Direitos Humanos acende uma chama de luta social, coletiva e ao mesmo tempo individual. É importante destacar que os direi- tos humanos envolvem a proteção de nossa cidadania em nível mundial. Por isso não podemos colaborar para que discriminações, intolerância e opressão aconteçam com qualquer indivíduo. Mas o que são direito humanos? Inicialmente convém destacar que são a base de uma relação respeitosa entre iguais e diferentes no mundo social. Nossa Constituição de 1988, por exemplo, a De- claração Universal de Direitos Humanos de 1948, definida e divulgada pela ONU – Organização das Nações Unidas, já preconizava no art. 1º que: “[...] todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direi- tos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em es- pírito de fraternidade”. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 154 EXPLICANDO Direitos humanos: são aqueles constituídos pelos direitos naturais, garantidos a todos os cidadãos e que devem ser estendidos a todos os indivíduos, sem distinção de gênero, classe social, posição política, etnia, religião ou nacionalidade. Segundo Franzoi (2003), é no contexto pós Segunda Guerra Mundial (1939- 1945) que houve a publicação em 10 de dezembro de 1948, da Declaração Universal dos Direitos Humanos pela ONU (Organização das Nações Unidas). O autor remonta que tal documento se fez necessário para que pudéssemos lembrar e combater, exterminartodo e qualquer ato de atrocidade, violência, semelhantes aos que aconteceram durante o conflito. Esse documento é o re- sultado das lutas por direitos historicamente constituídos e traz a perspectiva de igualdade e liberdade entre homens e mulheres. Mas é preciso compreender o significado desses direitos, no senti- do de valorizar sua existência e aplicabilidade. Nesse sentido, para Piovesan (2005) a efetivação dos Direitos Humanos refere-se a uma aspiração e necessi- dade universal de reconhecermos a nós mesmos como seres humanos, únicos, que não são julgados pelas suas diferenças para acessar espaços e culturas. Tal movimento dá respeito a valorização da dignidade da pessoa humana. DICA Texto: Ética e Direitos Humanos De uma maneira geral devemos destacar que os três princípios fundamentais dos Direitos Humanos são: • Inviolabilidade da pessoa: não sacrificar um indivíduo com o motivo de que será para o benefício de outro. • Autonomia da pessoa: assegura a liberdade de ação para qualquer indivíduo desde que este não prejudique outros. • Dignidade da pessoa: os indivíduos devem ser julgados e tratados conforme seus atos, unicamente. Depreende-se que os Direitos Humanos são os direitos e liberdades de todos os seres humanos. Ressaltamos algumas características desses direitos, sendo: DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 155 • Universalidade: todo e qualquer ser humano é sujeito ativo esses direitos, in- dependente de credo, raça, sexo, cor, nacionalidade, convicções; • Inviolabilidade: esses direitos não podem ser descumpridos por nenhuma pessoa ou autoridade; • Indisponibilidade: esses direitos não podem ser renunciados. Não cabe ao par- ticular dispor dos direitos conforme a própria vontade, devem ser sempre seguidos; • Imprescribilidade: eles não sofrem alterações com o decurso do tempo, pois têm caráter eterno; • Complementaridade: os direitos humanos devem ser interpretados em con- junto, não havendo hierarquia entre eles. DICA Vídeo: Direitos Humanos - Teoria Geral: Conceito e Premissas Filosóficas. Texto: Declaração Universal dos Direitos Humanos. Universalismo e multiculturalismo Um importante destaque que quero fazer aqui é que os Direitos Humanos se estendem a toda a humanidade, ou seja, é universal e abarca todas as cultu- ras, portanto multicultural. Por esse motivo estão detalhadas na declaração os seguintes artigos: • Artigo 7º — a lei deve ser igual para todos, deve proteger a todos, e o docu- mento da declaração também vale para todos, não importando as diferenças. • Artigo 8º — toda pessoa pode recorrer ao sistema de justiça contra as violações da lei que as atingirem. • Artigo 9º — proíbe as prisões, detenções ou exílios arbitrários, ou seja, que não foram resultados de um processo legal que comprove o ato como de- terminação de uma sentença judicial ou de algum tipo de medida judicial válida. • Artigo 10º — todo mundo tem direito a um julgamento of icial, DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 156 público, imparcial e justo. Portanto, eles não servem para proteger ou beneficiar alguém e condenar outros, mas têm aplicação geral. Então, frases repetidas pelo senso comum, como “Direitos Humanos servem para proteger bandidos”, não estão corretas, visto que os Direitos Humanos são uma proteção a todos os humanos. Ação comunitária e participação democrática O ser humano imagina-se incluído em dois grupos societais: um deles mos- tra-se como alguém que sente a necessidade de ser conduzido, aceita e espera confortavelmente aquilo que o Estado oferece como políticas públicas, ou de- cisões políticas, sociais e econômicas. O outro grupo busca constantemente a chama acesa do questionamento, da participação, da vontade de transformar e de estar construindo as decisões acima referidas. Dessa forma, consideramos significativo destacar o conceito de comunida- de para pensarmos seu papel no âmbito democrático. EXPLICANDO Comunidade: sociologicamente é um grupo de indivíduos que além de possuírem a residência em comum do ponto de vista geográfico, compartilham cultura e tomam parte de uma história compartilhada, têm objetivos e metas comuns, partem das demandas comuns. Figura 2: comunidade. Fonte: Freepik Paul (1987) aponta que uma comunidade, para alcançar um excelente grau de participação, em um projeto comunitário, por exemplo, deve se voltar aos seguintes objetivos: DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 157 • Empoderamento – alto nível de consciência coletiva e de força política. O autor mostra que precisa de uma forte iniciativa com ações e organização que possam influenciar processos de mudanças. • Capacity building - compartilhamento de tarefas relacionadas à adminis- tração do projeto de transformação. Também diz respeito a monitoramento e construção da sustentação do projeto. • Eficácia: quando o projeto caminha junto com as demandas da comunida- de. Corresponde e atende essas demandas. • Eficiência: a procura de consenso com interação e cooperação para avan- ços e não atrasos. Cumprindo metas e prazos. Intensa participação comunitária. • Compartilhamento de custos: compartilhamento de gastos do projeto a ser desenvolvido, com a finalidade de baratear o projeto. Quando falamos em ”democracia participativa”, estamos lidando com a si- tuação de uma participação popular na tomada de decisões, sobretudo, políti- cas. Esse conceito evoca a ideia de uma proporcionar a oportunidade de par- ticipação às pessoas, criando canais de debate que incentivem o pensar sobre questões políticas, diretamente ligadas ao exercício de sua cidadania. Uma proposta de entendimento e clareza sobre a ideia de ação da comuni- dade em uma perspectiva democrática volta-se para a situação do conceito de gestão democrática presente nas escolas. Nascimento (2012) afirma que o trabalho em equipe voltado à qualidade de ensino é a grande base para uma gestão democrática e participativa nas esco- las. Paro (2002) considera fundamental que a gestão escolar tenha a consciên- cia de que precisa estar sujeita a mecanismos de controle e fiscalização pela própria comunidade na qual se insere. Fortalecendo estas ideias, Gadotti (1995) nos lembra que descentralização e autonomia devem andar lado a lado. A luta pela conquista da autonomia na Escola é reflexo da luta na própria sociedade. Assim, tal qual apresentamos aqui, é necessário que o entendimento da condução democrática esteja presente, favorecendo o estado de participação da comunidade. Na escola, bem como no Estado, uma gestão participativa e democrática deve envolver: participação propriamente dita, descentralização e transparência. Sobre o cenário desta concepção se realizar na escola, Freire (1995) mostra que a participação política das classes populares deve ocorrer DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 158 através de seus representantes, seja na tomada de decisões, seja na defini- ção de um projeto de ação. É notável que tanto na escola quanto na sociedade é são necessá- rios canais democráticos que possibi- litem a participação dos indivíduos no processo de tomada de decisões. Para que a participação da comunidade aconteça de forma efetiva, é preciso também que a mesma conheça que canais existem para sua atuação. Observando a imagem abaixo, vemos estas formas de participar: Figura 3: democrática. Fonte: a autora. Conselhos Municipais Formulam, acompanham e avaliam as políticas. Neles, qualquer cidadão pode participar, apresentar projetos e dar sua opinião. Audiências Públicas São obrigatórias para a discussão da lei de Diretrizes Orçamen- tárias (LDO) e também podem ser requisitadas para o debate de problemas que afetem a cidade. Ouvidoria Pública Municipal Atende reclamações de problemas relacionados à prefeitura. Ação Popular Permite que o cidadão proponha uma ação contra ato que lese o patrimônio. Iniciativa Popular Com o aval de5% dos eleitores do município, qualquer cida-dão pode apresentar um projeto de lei na Câmara Municipal. Representações Ao Ministério Público, possibilita a abertura de procedimen- tos de investigação de supostos atos irregulares praticados contra o interesse público. Caso seja ao Tribunal de Contas, o cidadão pode denunciar irregularidades ou ilegalidades na administração pública. Fonte: a autora. Dessa forma, vemos que cada grupo representado nos diálogos recebe a oportunidade de apresentar suas ideias e prováveis soluções para os entraves. Isso supera, com certeza, o fato de ter uma visão unilateral em que somente uma classe, ou grupo, toma decisões e avaliam ações, pois todos os níveis en- volvidos podem contribuir para a melhoria da qualidade de vida no coletivo. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 159 Ética, direitos humanos e violência A temática dos direitos humanos apresenta relevância na constituição da lógi- ca jurídica do século XXI. Nesse sentido, mostra-se com traços do passado e uma perspectiva de futuro. Sobre os direitos humanos, vemos a necessidade de uma ampla análise histórico-filosófica, além de um grande conhecimento jurídico. A questão da violência está na ordem do dia. Como podemos nos posicionar do ponto de vista ético em relação as diferentes situações que saltam aos nossos olhos diariamente. Temos assistido muitas cenas de desrespeito aos direitos hu- manos. Muitas atitudes de violência e precarização da ordem social. Schilling (2007) destaca que a violência em nossa sociedade está presente des- de a fala das pessoas no dia a dia, até mesmo na mídia e nos discursos políticos. Para a autora existem diversos tipos de violência, desde a que acontece na família até a que configura a criminalidade. Violência física, psicológica, social e emocional. Nesse sentido, viver em um Estado Democrático de Direito como o nosso é experimentar práticas de respeito às diferenças e direitos humanos. Tudo isso é muito significativo e completo na letra fria do papel, pois na prática as- sistimos violência contra a mulher, violência contra o idoso, violência contra a orientação sexual, crimes de ódio, corrupção, violência policial, entre outras. EXPLICANDO Estado democrático de direito é aquele em que os governantes seguem o que está previsto nas leis, isto é, deve ser respeitado e cumprido o que é definido pela lei. Figura 4: Estado Democrático de Direito. Fonte: Freepik. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 160 Como entendemos a violência em relação aos Direitos Hu- manos? Vemos, por exemplo, que a educação é direito de to- dos e dever do Estado, tendo por princípios: a igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; a liberdade de aprender, de ensinar, pesquisar e ampliar o pensamento, a arte e o saber; o pluralismo de ideias e de vertentes pedagógicas; a coexistência de instituições públicas e privadas de ensino; a gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais; a valorização dos profissionais do ensino; a gestão democrática do ensino público e a garantia do padrão de qualidade. Nesse caso, infração ao respeito dos direitos humanos está diretamente vinculada à impunidade. No Brasil existe a emenda constitucional 45 de 2004, que federaliza crimes contra os Direitos Humanos. Assim, quando ocorre a vio- lação a um direito humano, esta é logo transferida para o sistema de justiça nacional. Mas o ideal seria criar políticas públicas que se voltassem ao combate direto à violência. Como o Estado apresenta dificuldades nesse projeto, assisti- mos, na maioria das vezes, os pobres sendo mais vitimados pela violência. Pois, no fundo, há uma inércia para estabelecer punições e, também, a conivência com ações de violência física e simbólica. No que tange ao campo da ética, vemos que ética e violência caminham para lados diferentes. Já que violência remete a tudo o que age usando a força para ir contra a nature- za de algum ser, esmagando-o, torturando-o, desorganizando-o. Nesse sentido, podemos afirmar que a sociedade aponta que uma atitude violenta em nada colabora para uma vida justa e solidária. Dessa forma, afirmamos que violência se opõe à ética porque não consi- dera o respeito e o compromisso de manter a integridade física e moral dos indivíduos. Cenário atual e tendências da ética e da cidadania A realidade social não está pré-concebida e os indivíduos podem atuar so- bre os processos coletivos. Assim, é possível que os homens criem e recriem novas propostas de convivência que esbarram em amplas discussões acerca dos conceitos de ética e cidadania. Sobretudo, as questões que envolvem os estudos de robótica, as investigações científicas sobre células tronco, a própria possibilidade de instituição do poder de certos grupos e pessoas poderem de- ter o porte de arma. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 161 ÉTICA CARÁTER MORAL Figura 5: Ética na atualidade. Fonte: a autora. Assim, para Singer (2002), uma pessoa vive dentro de uma esfera do ético quan- do se preocupa com a justificativa de sua ação, já que só o fato da pessoa querer justificar, podendo estar certa ou errada, demonstra que há uma pauta ética. Valls (2000) mostra que a moral está diretamente ligada às ações práticas dos seres humanos. Ele chama a atenção para o fenômeno da massificação e do autoritarismo dos meios de comunicação e das políticas. Pois, segundo ele, os homens mesmo cientes de seu papel fundamental como executores da moral, conseguem agir eticamente. Ele traz o questionamento de que até que ponto é possível o homem escolher entre o bem e o mal. Em tempos atuais, a educação ocupa um lugar importante para a forma- ção do cidadão participativo e solidário, consciente de seus deveres e direitos e, sem falar em propostas de educação com direitos humanos. Dessa forma, pode-se construir a base para uma amplitude maior do que vem a ser uma edu- cação democrática, apontando o caminho para a democracia como o regime da soberania popular, com pleno respeito aos direitos humanos. No que se refere ao mundo do trabalho, por exemplo, Solomon (2006) des- taca que o estudo da ética se faz primordial pelas infrações que aparecem em DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 162 jornais no mundo dos negócios. Tal proposta deveria ocorrer a partir da com- preensão profunda das experiências práticas. Bauman (2011) também colabora com as reflexões entre a “Era da Ética”, típica da modernidade, e a “Era da Moral”, peculiar da pós-modernidade. Ele apresenta a ideia de “ser-junto-com-o-outro”. A ética e a moral da pós-moder- nidade, para ele relacionam-se com a responsabilidade moral incondicional que cada pessoa pode desenvolver por meio de suas atitudes ao “estar junto com o outro” na vida pregressa. Segundo o autor, diferentes sujeitos devem ser capazes de decisões pró- prias sem serem coagidos por um sistema normativo. Eles constroem o senso de responsabilidade que os auxilia para lidar com situações que exigem con- senso, instituindo a questão ética. A moral, no olhar de Bauman (2011), consiste em categoria contingente e incontível. Para ele, a relação com o desconhecido traz a possibilidade de reco- nhecimento de uma humanidade. Vejamos algumas situações em que a ética e a cidadania aparecem e os sujeitos devem usar esse senso de racionalidade. Ética e política Um problema que tem incomodado muito a realidade social brasileira está relacionado com a questão da corrupção na política. Será que aqueles que são eleitos democraticamente, com o voto direto, com a perspectiva de represen- tar a vontade geral e que governam voltados para seus interesses pessoais, estão agindo de forma ética? Há uma falta de ética no exercício da política no meio social? Como fica a questão da cidadania relacionada a questão ética em tempos atuais? O analfabeto Político O pior analfabeto é o analfabeto político.Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas. O analfabeto... Bertolt Brecht Figura 6: O Analfabeto Político DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 163 Ética na saúde O comportamento ético em atividades de saúde deve considerar um enfo- que de responsabilidade social e também a expansão dos direitos da cidada- nia, pois sem cidadania não há saúde. A ética da responsabilidade e a bioética envolvem o cuidado do outro, por- tanto, compete ter consciência em desenvolver esta postura. Dessa forma, ve- mos que a ética deve reconhecer o valor de todos os seres vivos e encarar os humanos como um dos pontos que formam a base da vida. Clotet (2003) aponta que a bioética é uma ética aplicada que está preocupa- da com o uso adequado das novas tecnologias na área das ciências médicas e das soluções pertinentes aos dilemas morais que sejam apresentados. DICA Texto: princípios da bioética e o cuidado na enfermagem. Ética nas redes sociais As Redes Sociais também têm se mostrado como um importante canal de informação e trocas comunicacionais. Ao mesmo tempo em que informam, também desinformam. Relacionando com a questão ética, temos a grande dor de cabeça do momento, as chamadas Fake News. Estas provocam desequilí- brio, afetações emocionais e transtornos, principalmente naqueles que são os alvos dessas notícias falsas. As Fake News reforçam preconceitos, ódio contra indivíduos ou grupos sociais. Imaginem o impacto que a sociedade teve sobre a falsa notícia da existência de um “Kit Gay” imposto nas Escolas. Essa ideia par- tiu de um projeto verdadeiro que fazia parte de um dos programas do Governo Federal, mas foi manipulada e disseminada total- mente desvirtuada, com a perspectiva de dizer que haveria uma suposta ideologia de gênero e sexualidade firmada para as escolas. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 164 A questão ética aparece fortemente no fato de que antes de compartilhar essas no- tícias que causam impacto, bem como todas as outras que compartilhamos ou postamos, é sempre preciso checar a veraci- dade da informação. Schudson (2017) afirma que a notícia falsa pode interferir no cotidiano do cidadão e das redações jornalísticas. Segundo ele, no jornalismo, por exem- plo, é preciso ter responsabilidade com a questão da reprodução de notícias falsas, exageradas ou até mesmo corrompidas. Kunczik (2001) aplica o termo disfunção quando ocorre as notí- cias servirem de ameaça à estabilidade social. Pois, conforme Wolf (1987), a circulação de notícias falsas destrói a cidadania de forma severa. Ainda, em seu olhar, os meios de comunicação têm a função de trazer a possibilidade de alertar o cidadão e apresentar instrumentos para definição de ações diárias. Como detectar notícias falsas, segundo Kieky e Robertson (2017): • Considere a fonte – veja se tem credibilidade; • Considere o autor - faça uma breve pesquisa sobre ele; • Confirme a data; • Fontes de apoio - encontre bases de informações; as fontes que se rela- cionam ou tratam do assunto – é preciso identificá-las; • Considere todos os lados – ser contra uma ideologia não quer dizer que a notícia é falsa; • Verifique se é piada – há sites que fazem piadinhas com determinados temas; • Leia mais – é preciso ler sobre o assunto. Quando você pesquisa e lê mais sobre um assunto, percebe se a informação a ser compartilhada tem ou não veracidade. DICA Texto: o impacto das fake news e o fomento dos discursos de ódio na sociedade em rede: a contribuição da liberdade de expressão na consolidação democrática. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 165 Enfim, a discussão sobre ética e cidadania, levando em consideração o que es- tamos vivendo em uma sociedade que precisa da convivência harmônica, é preciso haver compatibilidade entre o ideal da sociedade almejada e o estilo de vida cons- truída, sem isso não é possível pensar em uma sociedade ética como realidade. Na atualidade, o sujeito que possui a cidadania é aquele detentor de direi- tos, mas também de deveres. Deve ter ciência de sua participação na socieda- de e que precisa contribuir coletivamente. A cidadania deve perpassar interes- se e participação, precisa haver interesse pelo bem comum. Uma outra perspectiva tem a ver com a sociedade de risco que estamos vi- vendo. Isto significa que pensando sobre o crescimento da civilização tecnológica, vemos um número muito grande de difusão e proliferação dos riscos. Riscos que afetam as sociedades em conjunto, revelando a crise da sociedade industrial. Para Giddens(1991), a sociedade moderna organiza-se levando em conta o distanciamento tempo-espaço, diferentemente das sociedades pré-modernas, nas quais as relações entre os indivíduos estavam construídas nas referências locais. Nesse caso, a explicação para situa- ções e fenômenos que ali se processavam, eram situadas na lógica do conhecimento e interação cotidianos que, por sua vez, promoviam a organização social com base nas redes de confiança, depositada nos laços de paren- tesco e alianças. Figura 7: Fake News. Fonte: Freepik. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 166 Caso qualquer coisa perturbasse o equilíbrio daquela ordem social, o grupo encontraria resolução para aquele problema, valorizando a confiança locali- zada. Já nas sociedades atuais, conforme deriva do pensamento de Giddens, estas constroem seu esquema de funcionamento e racionalização social funda- mentadas em uma relação de confiança dos indivíduos em sistemas abstratos, fichas simbólicas, que podem ser entendidos como o progresso do conheci- mento técnico e científico. Portanto, vivemos riscos de acreditar nos sistemas simbólicos, no virtual e, a partir destas crenças, também construímos nossas posições éticas e cidadãs. Educação, ética e cidadania hoje No texto de Immanuel Kant que segue, que foi retirado de um coletânea intitulada “Theoretical Philophy”, editado por David Walford e Ralf Merbote, temos algumas reflexões importantes sobre ensinar a pensar para a vida. O trecho apresentado aqui faz parte do “Anúncio do Programa do Semestre de Inverno de 1765-1766” e propõe uma reflexão que traz em si a própria valoriza- ção da educação para o bem coletivo. Ensinar a pensar Espera-se que o professor desenvolva no seu aluno, em pri- meiro lugar, o homem de entendimento, depois, o homem Figura 8: Sociedade e crenças nos sistemas simbólicos. Fonte: Freepik. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 167 de razão, e, f inalmente, o homem de instrução. Este pro- cedimento tem esta vantagem: mesmo que, como acontece habitualmente, o aluno nunca alcance a fase f inal, terá mes- mo assim beneficiado da sua aprendizagem. Terá adquirido experiência e ter-se-á tornado mais inteligente, se não para a escola, pelo menos para a vida. Se invertermos este método, o aluno imita uma espécie de razão, ainda antes de o seu entendimento se ter desenvol- vido. Terá uma ciência emprestada que usa não como algo que, por assim dizer, cresceu nele, mas como algo que lhe foi dependurado. A aptidão intelectual é tão infrutífera como sempre foi. Mas ao mesmo tempo foi corrompida num grau muitíssimo maior pela ilusão de sabedoria. É por esta razão que não é infrequente deparar-se-nos homens de instrução (estritamente falando, pessoas que têm estudos) que mostram pouco entendimento. É por esta razão, tam- bém, que as academias enviam para o mundo mais pessoas com as suas cabeças cheias de inanidades do que qualquer outra instituição pública. [...]Em suma, o entendimento não deve aprender pensa- mentos mas a pensar. Deve ser conduzido, se assim nós qui- sermos exprimir, mas não levado em ombros, de maneira a que no futuro seja capaz de caminhar por si, e semtropeçar. A natureza peculiar da própria f ilosofia exige um método de ensino assim. Mas visto que a f ilosofia é, estritamente falando, uma ocupação apenas para aqueles que já atingi- ram a maturidade, não é de espantar que se levantem dif i- culdades quando se tenta adaptá-la às capacidades menos exercitadas dos jovens. O jovem que completou a sua ins- trução escolar habituou-se a aprender. Agora pensa que vai aprender f ilosofia. Mas isso é impossível, pois agora deve aprender a f ilosofar. [...] Para que pudesse aprender f ilo- sofia teria de começar por já haver uma f ilosofia. Teria de ser possível apresentar um livro e dizer: «Veja-se, aqui há DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 168 sabedoria, aqui há conhecimento em que podemos confiar. Se aprenderem a entendê-lo e a compreendê-lo, se f izerem dele as vossas fundações e se construírem com base nele daqui para a frente, serão f ilósofos». Até me mostrarem tal livro de f ilosofia, um livro a que eu possa apelar, [...] permi- to-me fazer o seguinte comentário: estaríamos a trair a con- f iança que o público nos dispensa se, em vez de alargar a capacidade de entendimento dos jovens entregues ao nos- so cuidado e em vez de os educar de modo a que no futuro consigam adquirir uma perspectiva própria mais amadure- cida, se em vez disso os enganássemos com uma f ilosofia alegadamente já acabada e cogitada por outras pessoas em seu benefício. Tal pretensão criaria a ilusão de ciência. Essa ilusão só em certos lugares e entre certas pessoas é aceite como moeda legítima. Contudo, em todos os outros luga- res é rejeitada como moeda falsa. O método de instrução próprio da f ilosofia é zetético, como o disseram alguns f iló - sofos da antiguidade (de zhtein). Por outras palavras, o mé- todo da f ilosofia é o método da investigação. Só quando a razão já adquiriu mais prática, e apenas em algumas áreas, é que este método se torna dogmático, isto é, decisivo. Por exemplo, o autor sobre o qual baseamos a nossa instrução não deve ser considerado o paradigma do juízo. Ao invés, deve ser encarado como uma ocasião para cada um de nós formar um juízo sobre ele, e até mesmo, na verdade, con- tra ele. O que o aluno realmente procura é proficiência no método de ref letir e fazer inferências por si. E só essa profi- ciência lhe pode ser útil. Quanto ao conhecimento positivo que ele poderá talvez vir a adquirir ao mesmo tempo — isso terá de ser considerado uma consequência acidental. Para que a colheita de tal conhecimento seja abundante, basta que o aluno semeie em si as fecundas raízes deste método. Immanuel Kant Tradução de Desidério Murcho DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 169 Compreender a criação de novos desenhos de sujeito pensante e participa- tivo, em uma sociedade em que as tecnologias da informação e das comuni- cações são cada vez mais reais e oferecem um mapa cognitivo das relações e saberes sociais que indicam o progresso da humanidade, é fundamental para se estabelecer um diálogo entre indivíduo, cultura e educação. EXPLICANDO A Fraude – o caso Bahrings (com Ewan Mc Gregor) Contabilidade; Governança Corporativa; Ética e Responsabilidade Social; Evidenciação e Informação à Sociedade. Ameaça Virtual (Com Tim Robbins e Ryan Philiphe) Tecnologias da informação; Liderança; Clima organizacional; Ética; Responsabilidade social corporativa; Qualidade de vida no trabalho. Com o dinheiro dos outros (Com Danny de Vito e Gregory Peck) Inovação tecnológica; Ética e responsabilidade social; Governança cor- porativa; Liderança; Finanças; Globalização e internacionalização dos mercados; Clima organizacional. Erin Brockovich (Julia Roberts e Albert Finney) Ética e responsabilidade social corporativa; Gestão ambiental; Liderança; Negociação empresarial; Administração de conflitos; Trabalho em equipe. Minority Report: a nova lei (Com Tom Cruise) Tecnologias da informação; Tele trabalho; Ética; Invasão de privacidade; Responsabilidade social corporativa. O Náufrago (Com Tom Hanks e Helen Hunt) Qualidade de vida no trabalho; Clima organizacional; Planejamento de carreira; Recrutamento e seleção; Treinamento e desenvolvimento de pessoal; Planejamento corporativo. Nesta Unidade vimos que existem situações e questões na atualidade que precisam estar pautadas pelo olhar da ética e cidadania, afinal, ser cidadão é colaborar para a garantia de que o res- peito e a preservação das relações seja fundamental. Vimos ainda que tanto na política, quanto na saúde e nas trocas via redes sociais, é preciso ter compromisso com a moralidade das par- ticipações e atuações. Finalmente, des- tacamos o papel que a educação tem na formação de indivíduos pensantes e responsáveis por suas ações no seio da sociedade. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 170 Fundamentação e inversão ideológica dos direitos humanos Apesar de ter mais de 70 anos de existência e dos significativos avanços le- gais, culturais, ético e sociais para a humanidade, ainda existe no mundo várias ditaduras, governos autoritários e infrações a esses direitos. No Brasil, uma clara expressão de infração a essa declaração foi a Ditadu- ra Militar, ocorrida entre 1964 e 1985, quando, em seus anos mais pesados, centenas de pessoas foram presas arbitrariamente, exiladas, torturadas e até mortas por causas das suas orientações políticas ou pela afronta ao governo ditatorial (PORFÍRIO, 2022). Também esbarramos em alguns problemas em relação à garantia dos Direi- tos Humanos no mundo, como a longínqua guerra da Síria, a tomada do Afega- nistão pelo Talibã, governos ditatoriais como os existentes em países Africanos, Coreia do Norte, Venezuela e Rússia. Os indicadores das infrações a declaração são as altas taxas de homicídios, em especial de jovens, moradores de periferias e negros; o abuso policial e as execuções cometidas por policiais ou milícias; o falho sistema prisional, que se encontra em crise; as ameaças aos defensores dos Direitos Humanos; a miséria e a alta desigualdade social; a violência contra a mulher; e o trabalho em situa- ções análogas à escravidão. Estar atento os direitos previstos em nossa constituição e combater injus- tiças sociais devem ser as armas de nós, cidadãos do mundo contra esses des- mandos de políticos no mundo Direito internacional dos direitos humanos e seus sistemas de proteção global e regional Para terminar nossa conversa sobre direitos humanos, é importante que você saiba quais são os sistemas globais de proteção aos direitos humanos. Por serem estruturas internacionais, respeitadas, assinadas e ratificadas por pactos, tratados, convenções, declarações, comissões, estas contêm mecanis- mos apropriados de acompanhamento, fiscalização e cobrança de informações dos países signatários acerca das ações protetivas e afirmativas de tutela dos direitos humanos. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 171 A ONU, tem esse intuito de administrar a paz mundial e cobrar dos países o com- promisso com acordos que visem a prote- ção do homem, do meio ambiente, econo- mia e das futuras gerações. Segundo Freitas (2015), os mecanismos con- temporâneos de implementação dos Direitos Hu- manos pela ONU são vários e complexos, surgiram através da Carta de São Francisco, mas efetivamente se concretizaram a partir da Declaração Universal dos Direitos do Homem de 1948, são eles: • Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos: foi adotado pela As- sembleia Geral das Nações Unidas em 19 de dezembro de 1966, constituindo, assim, um pacto de amplitude mundial. Sua entrada em vigor ocorreu em 1976, quando se atingiu o número mínimo de adesões estipulado, 35 países. • Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais: foi pla- nejado com o objetivo de tornar juridicamente importantes os dispositivos da De- claração Universal dos Direitos Humanos, determinandoa responsabilização in- ternacional dos estados signatários por eventual violação dos direitos estipulados. • Sistemas Regionais: Sistema Europeu, o Sistema Interamericano, Sistema Africano; • O Tribunal Penal Internacional possui competência para julgar quatro tipos de crimes: crimes contra a humanidade, crimes de genocídio, crimes de guerra e crimes de agressão. Seu princípio principal funda-se na complementariedade e subsidiariedade, possuindo como característica o fato de ser permanente. Agora que você sabe sobre a importância da Declaração Universal dos Direi- tos Humanos e da existência de tratados e pactos globais para que eles sejam cumpridos, junte-se a inúmeras pessoas que cobram seus direitos civis, econô- micos, sociais e políticos e exija de seus governantes que eles sejam respeitados! DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 172 Referências bibliográficas BAUMAN, Zygmunt. A vida em fragmentos; sobre a ética pós-moderna. Tradu- ção de Alexandre Werneck. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2011. BRASIL. Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação. Resolução nº 1, de 30 de maio de 2012. Estabelece Diretrizes Nacionais para a Educação em Di- reitos Humanos. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_ content&view=article&id=17810&Itemid=866. Acesso em 26 de janeiro de 2022. CLOTET, Joaquim. Bioética: uma aproximação. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2003 Disponível em: https://www.portaleducacao.com.br - Acesso em: 10 abr. 2017. FARAH, Elias. Ética do Advogado: I e II Seminários de Ética Profissional da OAB/ SP. São Paulo: LTR, 2000. FRANZOI, J. G. A. Dos direitos humanos: breve abordagem sobre seu conceito, sua história, e sua proteção segundo a constituição brasileira de 1988 e a nível internacional. Revista Jurídica CESUMAR, Maringá, v. 3, n. 1, p. 373-390, 2003. FREITAS, Paulo. “O Sistema Global e os Sistemas Regionais de Proteção aos Di- reitos Humanos no Plano Internacional”. Jusbrasil. Disponível em: https://bit. ly/3L0zAtP . Acesso em 26 de janeiro de 2022. FREIRE, Paulo.A Educação na Cidade. 2ª ed. São Paulo: Cortez, 1995. p. 144. GADOTTI, M. A Autonomia como Estratégia da Qualidade de Ensino e a Nova Organização do Trabalho na Escola. Petrópolis: Vozes, 1995. GIDDENS, Anthony. As Conseqüências da Modernidade. São Paulo. Ed. Unesp, 1991. KIELY, Eugene e ROBERTSON, Lori. How To Spot Fake News. Factcheck.org, 18 nov. 2016. Disponível em: Acesso em: 09 jul. 2017 KUNCZIK, Michael. Conceitos de Jornalismo: norte e sul-Manual de Comuni- cação. Edusp, 2001 NASCIMENTO, Rosineia de Lima. Artigo: A Escola Participativa dentro de uma Gestão De- mocrática pela qualidade de ensino, 2012. PARO, Vitor Henrique. Administração Escolar: Introdução Crítica. São Paulo: Cortez, 2002. PAUL, S. Community Participation in Development Projects - The World Bank Experience. World Bank Discussion Paper, Washington, n. 6, 1987. PIOVESAN, F. Ações afirmativas na perspectiva dos Direitos Humanos. Ca- dernos de Pesquisa, São Paulo, v. 35, n. 124, p. 43-55, jan./abr. 2005. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 173 SCHILLING, Flávia. Indisciplina, violência e o desfio dos direitos humanos nas es- colas. In: MEC. Programa Ética e Cidadania. Brasília-DF: MEC, 2007. SINGER, P. Ética prática. Trad. Jefferson Luiz Camargo. São Paulo: Martins Fontes, 2002. SOLOMON, R. C. Ética e excelência: cooperação e integridade nos negócios. Trad. Maria Luiza X. de A. Borges. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2006. VALLS, A. L. M. O que é ética. 9. ed. São Paulo: Brasiliense, 2000. WOLF, Mauro; FIGUEIREDO, Maria Jorge Vilar de. Teorias da comunicação. Pre- sença, 1987. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS 174