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Direito
empresarial
Direito
empresarial
Marcia Carla Pereira Ribeiro
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Fundação Biblioteca Nacional
ISBN 978-85-387-2867-2
9 7 8 8 5 3 8 7 2 8 6 7 2
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Marcia Carla Pereira Ribeiro
Direito Empresarial
IESDE Brasil S.A.
Curitiba
2012
Edição revisada
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© 2008 – IESDE Brasil S.A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por 
escrito dos autores e do detentor dos direitos autorais.
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ 
__________________________________________________________________________________
R367d
 
Ribeiro, Marcia Carla Pereira, 1964-
 Direito empresarial / Marcia Carla Pereira Ribeiro. ed. rev. - Curitiba, PR : IESDE 
Brasil, 2012. 
 150p. : 24 cm.
 
 Inclui bibliografia
 ISBN 978-85-387-2867-2
 
 1. Direito empresarial - Brasil. 2. Direito comercial. I. Título. 
12-4802. 
 CDU: 347.7(81)
09.07.12 23.07.12 037216 
__________________________________________________________________________________
Capa: IESDE Brasil S.A.
Imagem da capa: Shutterstock
IESDE Brasil S.A.
Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 
Batel – Curitiba – PR 
0800 708 88 88 – www.iesde.com.br
Todos os direitos reservados.
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Marcia Carla Pereira Ribeiro
Doutora em Direito das Relações Sociais pela 
Universidade Federal do Paraná (UFPR). Diretora 
do Programa de Mestrado e Doutorado da Pon-
tifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). 
Professora de Direito Comercial da UFPR. Profes-
sora titular de Direito Societário da PUCPR. Pro-
curadora do Estado do Paraná.
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o O Direito Empresarial no contexto da gestão 1111 | Apresentação
11 | O agente econômico empresa
16 | Empresa e sociedade
21 | Estabelecimento: noção e transferência
A empresa como entidade 
econômica e sua decodificação jurídica 
33
33 | Apresentação
33 | Empresa individual
34 | Teoria geral das sociedades
38 | Sociedades não personificadas
40 | Sociedades personificadas
Principais instrumentos de 
captação de recursos no Brasil 
67
67 | Apresentação
67 | Sociedades limitadas: intermediação financeira, aumento de capital e 
outras operações internas
68 | Sociedades anônimas abertas: aumento de capital e 
emissão de valores mobiliários
79 | Governança corporativa e captação de recursos
85 | Sócios estratégicos
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Prática do ato empresarial, 
insolvência e reorganização societária 
97
97 | Apresentação
98 | Características dos atos empresariais
100 | Insolvência do empresário
103 | Recuperação judicial do empresário
106 | Recuperação extrajudicial
107 | Recuperação do pequeno empresário
108 | Outras formas de acordo
108 | Falência do empresário: principais consequências
111 | Mecanismos de reorganização empresarial
Direito Econômico 
123
123 | Apresentação
123 | Sistema de mercado e interferência do Estado
126 | O modelo da Constituição da República do Brasil
131 | Empresas estatais
132 | Defesa da concorrência
135 | Defesa do consumidor
Referências 
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Introdução
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O Estado brasileiro adota o sistema de produção 
capitalista, e a regra em nosso ordenamento jurídi-
co é que as atividades de produção e circulação de 
serviços e bens devam ser prioritariamente exerci-
das pelos particulares. Nesse sistema, é inevitável a 
constatação da importância do exercício da ativida-
de econômica pela empresa em nosso país.
Os textos propostos apresentam noções do direito 
aplicável diretamente à atividade empresarial, num 
enfoque prático e de gestão, que possa auxiliar o 
operador do direito e o empresário na compreen-
são do econômico sob o enfoque jurídico. A prio-
ridade atribuída ao agente privado para a prática 
econômica, associada à intervenção do Estado, 
especialmente pela disciplina jurídica que incide 
sobre o econômico, diante da estreita ligação entre 
Direito e Economia, não permite que um ramo do 
conhecimento desconheça o outro.
No que se refere ao agente econômico, para o Di-
reito, ou se apresentará na condição de pessoa 
física – empresário individual, sujeitando-se a um 
tratamento jurídico peculiar –, ou como pessoa ju-
rídica. Toda atividade empresarial considerada re-
gular deve se submeter aos modelos fixados em lei. 
Assim, somente se admite no Brasil a constituição 
de um dos modelos de sociedade previstos na le-
gislação, a partir de um rol taxativo.
Para aquele que atua ou pretende atuar na ativida-
de econômica, é importante conhecer as formas de 
organização disponibilizadas pelo Direito. Se não 
optar pelo exercício individual, existem os diversos 
tipos societários à sua disposição. Há diferenças 
entre os modelos, inclusive quanto à limitação da 
responsabilidade dos sócios, devendo recair a esco-
lha sobre aquele que melhor possa servir à ativida-
de pretendida. O Direito, porém, ocupa-se também 
das atividades empresariais exercidas de fato, sem 
o competente registro. As chamadas sociedades de 
fato ou irregulares são reconhecidas pelo Direito, e se 
submetem a um tratamento específico.
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Introdução
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Além da disciplina da forma de organização do 
agente empresário, há outras interfaces entre 
Direito e Economia.
O Estado, em estreito cumprimento aos manda-
mentos constitucionais, deve intervir no mercado, 
seja para sua regulação, seja por meio do exercício 
direto de atividade econômica, neste último caso 
quando cumpridos certos requisitos impostos pela 
lei. A intervenção, em um sistema capitalista tal 
como o brasileiro, de forma alguma o desnatura, 
antes o fortifica, pelo reconhecimento do mercado 
da necessidade dos ajustamentos aos ditames cons-
titucionais, tal qual a livre concorrência e a defesa 
do consumidor que, em última análise, trabalham 
para a manutenção do sistema.
Sendo amplo o tema, e podendo ser tratado de di-
versas maneiras, optou-se, nos textos que seguem, 
pela análise teórica aliada à prática, valendo-se 
inclusive de exemplos para melhor compreensão. 
Sabe-se, no entanto, e desde já se adverte, que são 
apresentadas apenas linhas introdutórias que não 
pretendem ser exaustivas.
O primeiro tema, “O Direito Empresarial no con-
texto da gestão”, introduz conceitos como em-
presário, empresa, capital social, sócio e estabele-
cimento comercial que, à primeira vista, parecem 
claros aos não juristas, mas que são terminologias 
importantíssimas no estudo do Direito, e que não 
se confundem.
A exposição que segue, “A empresa como entidade 
econômica e sua decodificação jurídica: as firmas 
individuais e as sociedades empresariais”, traça 
breves linhas sobre os tipos societários em espécie, 
englobando as conhecidas sociedades limitadas e 
sociedades anônimas, que serão objeto de estudo 
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também no terceiro capítulo,sobre os “Principais 
instrumentos de captação de recursos no Brasil”. 
Nele, estudam-se os instrumentos voltados à cap-
tação de recursos em uma sociedade. Entre eles, 
destaca-se a adoção de práticas de boa governan-
ça, pautadas na transparência do negócio e que, 
evidentemente, podem contribuir para aumentar 
os investimentos em determinada atividade.
O quarto tema é intitulado “Prática do ato empresa-
rial, insolvência e reorganização societária”, e trata 
do empresário em dificuldade ou em crise econômi-
co-financeira, destacando-se na legislação pátria as 
formas de tratamento, em especial a adoção como 
princípio norteador da recuperação de empresas e 
da falência a preservação da atividade empresarial, 
sempre que possível.
Por fim, na quinta e derradeira exposição é objeto 
de estudo a configuração constitucional da ativida-
de econômica no Brasil. Para tanto, analisa-se a evo-
lução do dito Estado Liberal para o Estado Social, 
na busca da neutralização dos efeitos negativos da 
concepção de total liberdade do mercado. Mostra- 
-se necessária a intervenção estatal no domínio 
econômico, observando-se que a regulação deverá 
vir no sentido de conter abusos e a concorrência 
desleal. Também aparece na exposição a introdu-
ção a conceitos básicos de Direito do Consumidor, 
pelo fato de ser ele objeto de especial atenção do 
constituinte.
Com tais considerações, pretende-se criar um pa-
norama geral da estabilização normativa do Direito 
Empresarial no Brasil.
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O Direito Empresarial 
no contexto da gestão
Apresentação
Este capítulo apresenta uma primeira abordagem sobre conceitos rela-
cionados ao exercício da atividade empresarial. Analisa a noção de empresa, 
da forma como é assimilada pela lei brasileira, assim como apresenta os seus 
agentes – empresário individual e sociedade –, temas que serão retomados 
na aula seguinte de forma mais específica. Perpassa por conceitos como de 
capital social e de sócio, e finaliza com a análise do conjunto dos bens orga-
nizados pelo empresário – o estabelecimento empresarial –, que atualmente 
recebe uma disciplina específica quanto à sua negociabilidade e que pode 
em muito colaborar para otimização da utilização dos meios de produção.
O gestor de empresas, ao tomar conhecimento dos institutos jurídicos 
aplicáveis à atividade empresarial e a suas formas de organização, poderá 
deles fazer uso, na hipótese de sua atividade exigir dele que tome uma deci-
são estratégica quanto, por exemplo, à busca de novos sócios para empresa, 
ou até mesmo pela venda de parte da organização.
O agente econômico empresa
Noção de empresa
O Código Civil (CC) de 2002 adota o critério do Código Italiano, embasado 
na teoria da empresa. O conceito encontrado na lei é o de empresário, nos 
termos do artigo 966: “considera-se empresário quem exerce profissional-
mente atividade econômica e organizada voltada para a produção ou circu-
lação de bens ou de serviços”. Desse conceito, por via transversa, chega-se ao 
entendimento do conceito de empresa (BERTOLDI; RIBEIRO, 2006, p. 50).
A teoria da empresa funda-se na figura do empresário, agente da organi-
zação e sujeito de direito em cuja esfera jurídica recairá a sujeição às normas 
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O Direito Empresarial no contexto da gestão
disciplinadoras da atividade econômica. É indispensável, para a configuração 
da noção de empresário, que haja exercício de atividade profissional, excluin-
do-se aquela meramente casual e não contínua e, ainda, que tal atividade seja 
econômica e organizada, nos termos do citado artigo 966. Em seu parágrafo 
único, o dispositivo legal exclui expressamente do conceito de empresário 
aqueles que exerçam “profissão intelectual, de natureza científica, literária 
ou artística, ainda com o concurso de auxiliares ou colaboradores, salvo se o 
exercício da profissão constituir elemento de empresa”. Com isso, pretende- 
-se manter a pessoalidade na prestação de serviços pelos profissionais liberais, 
sendo certo que caso sua atividade intelectual integre uma organização maior, 
estar-se-á diante de uma verdadeira atividade empresarial.
Pela sistemática do código, a atividade intelectual não configura ativida-
de empresarial e, por consequência, os agentes econômicos não serão juri-
dicamente considerados empresários, o que os afasta da sujeição ao regis-
tro empresarial (perante as juntas) assim como às normas de recuperação e 
falência das empresas, exclusivamente voltados ao empresário.
Sociedades empresárias e não empresárias
À luz do Código Civil, não mais existe a divisão entre sociedades civis e 
comerciais, e sim entre sociedade empresárias e não empresárias, estas cha-
madas de sociedades simples. Serão sempre empresárias, independente de 
seu objeto, as sociedades anônimas e aquelas que exerçam atividade pró-
pria de empresário. Por outro lado, aquelas que se encaixam na exceção do 
parágrafo único do artigo 966 serão sociedades simples, assim como o em-
presário rural (por opção, art. 982 do CC), as cooperativas e as sociedades 
reguladas por lei especial.
Empresário regular
O empresário individual torna-se regular pela matrícula no Registro Pú-
blico de Empresas Mercantis, e a sociedade empresária a partir do momento 
em que seu ato constitutivo é devidamente averbado no órgão de registro 
competente (CC, art. 985). Embora a lei indique a obrigatoriedade do registro 
(art. 967), não há como negar a existência de empresários e sociedades irre-
gulares, cujos atos serão considerados válidos, embora não se submetam ao 
regime de comunhão. Portanto, a responsabilidade dos sócios será ilimitada 
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O Direito Empresarial no contexto da gestão
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e subsidiária ao patrimônio social. A doutrina diferencia sociedades de fato, 
que sequer possuem ato constitutivo escrito, de sociedade regular, cujo ato 
constitutivo ainda não foi levado a registro, embora tal divisão não implique 
diferenciação de tratamento.
Capacidade empresarial
A capacidade para ser empresário é regulada pelo artigo 972, que dispõe 
o exercício da atividade de empresário àqueles que estiverem em pleno 
gozo de sua capacidade civil e que não forem legalmente impedidos. Sabe- 
-se que a capacidade para todos os atos da vida civil, independente de repre-
sentação ou assistência, é adquirida aos 18 (dezoito) anos completos ou pela 
emancipação, entre 16 (dezesseis) e 18 (dezoito) anos. Cessada a incapacida-
de, absoluta ou relativa, a pessoa estará apta, em princípio, a exercer ativida-
de própria de empresário, salvo hipótese de incapacidade superveniente (e 
o competente processo de interdição).
Para que o capaz possa exercer a atividade empresarial, é preciso obser-
var ainda a inexistência de impedimentos para o exercício de tal atividade. 
Tais impedimentos dizem respeito à natureza da atividade exercida pelo im-
pedido (como funcionários públicos, magistrados, governadores de estado, 
entre outros) ou por condenação criminal (por exemplo, o impedimento de-
corrente de crime falimentar, previsto no art. 181, I, da Lei 11.101/2005). Há 
ainda impedimento para determinadas atividades empresariais, como para 
o médico titular uma farmácia. Ainda que o agente se enquadre na catego-
ria de um impedido de atuar empresarialmente, pela dicção do artigo 973 
do CC, embora legalmente impedido de exercer atividade empresarial, se o 
fizer, responderá pelas obrigações contraídas. Concluir de forma contrária 
seria beneficiar aquele que, embora impedido, atuou empresarialmente e 
em detrimento do terceiro de boa-fé que com ele contratou.
Empresário menor
O embate sobre acontinuidade do exercício de atividade empresarial 
pelo menor, cuja possibilidade de ser sócio era negada pelo Código Comer-
cial (CCom) de 1850, é hoje analisado à ótica do princípio da preservação da 
empresa, admitindo-se legalmente que o menor e o superveniente incapaz 
deem continuidade à atividade empresarial. Nesse sentido, dispõe o artigo 
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O Direito Empresarial no contexto da gestão
974 que “poderá o incapaz, por meio de representante ou devidamente as-
sistido, continuar a empresa antes exercida por ele enquanto capaz, por seus 
pais ou pelo autor da herança”.
Existem algumas condições, no entanto. É necessária a obtenção de prévia 
autorização judicial “após exame das circunstâncias e dos riscos da empresa, 
bem como da conveniência em continuá-la” (art. 974, §1.º). A preocupação 
com a possibilidade de exercício da empresa por um menor ou incapaz está 
ligada ao próprio risco inerente à atividade. Assim, a lei restringe a respon-
sabilização do patrimônio do incapaz, determinando não ficarem sujeitos ao 
resultado da empresa os bens de sua titularidade, possuídos ao tempo da 
sucessão ou da interdição (art. 974, §2.º). A atividade será exercida pelo re-
presentante ou assistente do incapaz ou, caso este não queira ou não possa 
exercer a atividade empresarial, deverá indicar um gerente a ser aprovado 
pelo juiz (art. 975).
Empresa exercida por cônjuges
O CC prevê expressamente a possibilidade de existência de sociedades 
entre cônjuges e destes com terceiros, porém a proíbe quando o regime de 
bens entre eles for o da comunhão universal ou o da separação obrigatória. 
Sob a égide da legislação anterior, que era silente com respeito à possibili-
dade, entendia-se que na falta de vedação expressa a sua constituição era 
plenamente possível. A controvérsia foi definitivamente encerrada com a 
promulgação do Estatuto da Mulher Casada (Lei 4.121/62) que instituiu o 
patrimônio separado da mulher e do marido, possibilitando que ambos con-
tratassem em sociedade.
O grande problema trazido pela nova legislação civil foi a incompatibili-
dade entre o artigo 977, que veda a contratação nos termos acima, e o artigo 
2.031 das disposições finais e transitórias, que estabelecia prazo para adap-
tação das sociedades ao novo regime.
Segundo a lição de Rubens Requião (2003a, p. 473-474), a mulher casada 
adquire meação de seus bens, distinta da de seu marido, mesmo quando 
casada no regime da comunhão universal, razão pela qual pode legitima-
mente com ele associar-se. Segundo o comercialista, após uma longa elabo-
ração jurisprudencial e legislativa, com a afirmação da emancipação jurídica, 
patrimonial e profissional da mulher casada, o novo CC em seu citado dispo-
sitivo efetuou um “giro de cento e oitenta graus”, anulando tal elaboração, ao 
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O Direito Empresarial no contexto da gestão
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condicionar a sociedade entre cônjuges à adoção de determinado regime de 
bens no casamento.
Tendo-se em vista a numerosa existência de sociedades entre cônjuges 
casados com o regime de comunhão universal de bens, assim como o prin-
cípio da preservação da empresa e ainda, para alguns, a configuração do ato 
jurídico perfeito, tem-se esboçado na doutrina o entendimento quanto à ina-
plicabilidade da restrição condicionada ao regime patrimonial de casamento 
para as sociedades constituídas anteriormente à edição do atual CC. Nesse 
sentido é o entendimento de Rubens Requião (2003a, p. 474), para quem 
[...] seria absurdo que tais sociedades [refere-se às sociedades entre cônjuges casados em 
comunhão universal ou separação obrigatória de bens] entrassem em dissolução após 
a vigência do novo Código Civil, pelos motivos indicados, e, em especial, pela tendência 
moderna de preservação da empresa.
Já existe manifestação do Departamento Nacional de Registro do Comér-
cio acatando a existência e a regularidade das sociedades entre cônjuges 
constituídas anteriormente à vigência do novo CC, assegurando-lhes a con-
dição de reconhecida regularidade, independentemente do regime patri-
monial de casamento. Do parecer jurídico emitido por aquele departamento 
sob número 125/03 (2007), observa-se que o fundamento para a decisão foi 
o da existência de ato jurídico perfeito.
Autorização para venda de bens imóveis
Com relação à necessidade de outorga uxória para alienação dos imó-
veis que integrem o patrimônio do casal (no qual um ou ambos os cônjuges 
sejam empresários individuais) ou para gravá-los com ônus reais, o CC, atento 
ao princípio da autonomia dos bens utilizados na empresa, determina que o 
empresário casado prescinde de tal autorização (art. 978), desde que o bem 
seja utilizado no exercício da empresa. Há uma dificuldade de ordem prática 
em se identificar quando determinado bem é utilizado para a empresa ou se 
integra o acervo do casal, o que pode conduzir a discussões processuais, já 
que a empresa individual não ostenta personalidade jurídica.
Feitas essas considerações iniciais, é necessário frisar que a atividade 
empresa pode ser exercida tanto por uma pessoa física – o empresário indivi-
dual – quanto por uma sociedade, que se denomina sociedade empresária. 
O reconhecimento da personalidade jurídica implica separação patrimonial 
entre a sociedade e os seus sócios, a assunção de capacidade para ser 
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O Direito Empresarial no contexto da gestão
sujeito de direito pela sociedade, adquirir direitos e contrair obrigações e, 
geralmente, na limitação de responsabilidade dos sócios, embora o grau 
dela varie conforme a espécie adotada. Essa limitação de responsabilidade é 
um atrativo para a atividade econômica e para o investimento.
No entanto, nem todas as modalidades societárias têm reconhecida a 
possibilidade de personificação. A sociedade em conta de participação e a 
sociedade em comum não têm personalidade jurídica, por expressa previsão 
legal. Já as demais espécies societárias, se devidamente constituídas e seus 
atos constitutivos arquivados, serão consideradas pessoas jurídicas.
Empresa e sociedade
Fixado de forma geral o conceito de empresa no tópico anterior, estrita-
mente ligado ao exercício de atividade empresária definida no artigo 966 do 
CC, convém passar os olhos pelas noções de empresa, sociedade e estabele-
cimento, as quais não se confundem. Interessa nesse momento a análise das 
sociedades empresárias, ou seja, das sociedades que se dedicam à atividade 
econômica organizada para produção ou circulação de bens e serviços.
Conforme análise de Fábio Ulhoa Coelho (2007, p. 3), atividades de pe-
queno porte podem ser exploradas por uma pessoa natural, sem maiores 
dificuldades. No entanto, à medida que se avolumam, a complexidade da 
atividade, que passa a exigir maiores investimentos, conduz a um processo 
de aglutinação de esforços de diversos agentes, que se unem comumente 
sob a forma de sociedade.
Noção de sociedade e exercício 
da atividade empresarial
O CC define sociedade, no artigo 981, como o contrato celebrado entre 
pessoas1 que se obrigam a contribuir, com bens ou serviços, para o exercício 
da atividade econômica, e a partilhar os resultados entre si. Alfredo de Assis 
Gonçalves Neto (2004) destaca que o negócio jurídico sociedade é pauta-
do pela possibilidade de criação de um novo sujeito de direito, ou seja, um 
ente com patrimônio e vontade próprios, distinto daqueles que a consti-
tuem. Ainda, há uma finalidade econômica em tal constituição, excluindo de 
sua abrangência aquelas pessoas jurídicas que não têm escopo econômico, 
1 A palavra pessoas não por 
acaso está grafada no plural, 
já que no direito brasileiro 
não existe possibilidade de 
constituição de uma socieda-
de unipessoal.
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O Direito Empresarial no contexto da gestão
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como as fundações, as associações e as pessoas políticas. Conclui afirmando 
que a sociedade é um ente distinto da figura dos sócios que o constituem, 
e chancelado pelo ordenamento para “facilitar a prática de atos ou negócios 
jurídicos voltados à realização de certos fins econômicos por elas pretendi-
dos” (GONÇALVES NETO, 2004, p. 7-9).
Todas as sociedades iniciam-se pela aproximação de duas ou mais pesso-
as, os sócios, que, por meio dessa associação pretendem obter um proveito 
comum; ao se falar em sociedades, esse proveito aparece na forma do lucro. É 
essa a lição esboçada por Fran Martins (2007b, p. 169), ao afirmar que “denomi-
na-se sociedade empresária a organização proveniente de acordo de duas ou 
mais pessoas, que pactuam a reunião de capitais e trabalho para fim lucrativo”. 
Por outro lado, toda sociedade precisa de um capital para poder exercer seu 
objeto, sua atividade, sendo que a aproximação societária também permite a 
conjugação de capitais.
Não há dúvida de que, além do propósito de promover a junção de ca-
pital e de esforços, muito comumente se opta pela organização societária 
devido ao desejo de se submeter às normas que lhe são peculiares, espe-
cialmente a possibilidade de, em alguns modelos societários, operar-se com 
limitação de responsabilidade dos sócios. Ainda, a escolha pela constituição 
de uma sociedade, na análise de Fábio Ulhoa Coelho (2007, p. 5), implica em 
importante diferenciação no regime de gestão do negócio, que acaba por 
ser mais complexo do que aquela forma encontrada em outras modalidades 
de investimento comum, já que nesse caso os agentes preservam autono-
mia administrativa. Feita a opção pela sociedade, deve-se avaliar qual o tipo 
societário, sendo possível apenas a adoção daqueles previstos em lei, e que 
este seja o mais adequado ao empreendimento.
Existem sociedades empresárias e sociedades não empresárias, conforme 
já mencionado no tópico anterior. À luz do artigo 967 do CC, pode-se dizer 
que serão empresárias aquelas sociedades que exercerem atividade própria 
de empresário sujeito a registro, ou seja, aquelas que exercerem empresa. É 
empresária porque a própria sociedade é identificada como agente econô-
mico organizador da empresa (COELHO, 2007, p. 5).
Tomando-se como exemplo uma indústria de automóveis, pode-se dizer que 
o empresário será a sociedade que tem por objeto social a fabricação de automó-
veis, e a empresa a atividade desenvolvida por esse empresário, que é justamente 
a atividade de montagem de automóveis (BERTOLDI; RIBEIRO, 2006, p. 50).
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O Direito Empresarial no contexto da gestão
Sociedades não empresárias, por sua vez, também chamadas de socie-
dades simples, são aquelas que se encaixam na exceção do parágrafo único 
do artigo 966. Além dessas exceções, serão simples também as sociedades 
cooperativas, as que exerçam atividade própria de empresário rural e a so-
ciedade de advogados, por previsão em legislação especial.
As sociedades não empresárias poderão adotar um modelo societá-
rio previsto em lei, com exceção da sociedade anônima, porque esta será 
sempre, independentemente do objeto, empresária. O CC de 2002 criou uma 
modalidade de sociedade a qual se denominou sociedade simples, que não 
se confunde com aquela sociedade simples como sinônimo de sociedade 
não empresária. As regras dessa sociedade simples como espécie societária 
são aplicadas subsidiariamente às demais organizações societárias, exceto 
quando se faça menção no contrato social à escolha pela aplicação subsidiá-
ria da Lei das Sociedades Anônimas.
Deve-se observar, portanto, que nem todas as sociedades exercem em-
presa, e que nem toda empresa é exercida apenas por sociedade. Nesse sen-
tido, “enquanto a sociedade é o sujeito de direito, a empresa é o objeto de 
direito, ou seja, ao contrário da sociedade, não tem personalidade jurídica, 
não é pessoa jurídica” (BERTOLDI; RIBEIRO, 2006, p. 51). Assim, existem socie-
dades não empresárias e empresários individuais, que não se constituem em 
sociedade para exercer sua atividade.
Feitas essas observações, seria incorreto chamar uma sociedade em-
presária de empresa, porque esta é unicamente a atividade à qual aquela 
se dedica, ou mesmo denominar os sócios de tal sociedade de empresários, 
porque essa denominação é exclusiva daqueles que exercem atividade em-
presarial de forma individual (empresários individuais).
Ainda em relação ao conceito de empresa, convém fazer referência à lição 
de Rubens Requião, que conceitua empresa do ponto de vista econômico, 
como organização dos fatores de produção voltada à obtenção de resultado 
econômico, e jurídico, assentado no conceito anterior. Conforme já ressaltado 
no começo da presente exposição, “a disciplina jurídica de empresa é a discipli-
na da atividade do empresário, e a tutela jurídica da empresa é a tutela jurídica 
dessa atividade” (REQUIÃO, 2003a, p. 51), de forma que empresa, na acepção 
jurídica, é justamente a atividade exercida pelo empresário, seja este individual 
ou uma sociedade.
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Sócios e empresários
As sociedades são formadas por sócios, denominados acionistas em uma 
sociedade anônima. Com a aquisição de cotas ou ações, inicia-se a relação ju-
rídica entre o sócio e a sociedade. Os sócios são proprietários de uma fração 
ideal do capital social, com a qual contribuem para sua formação; não são 
proprietários do patrimônio da sociedade, tampouco são proprietários da 
própria sociedade.
Túlio Ascarelli desenvolveu, no Brasil, a teoria de estado de sócio. Para essa 
teoria, o sócio é um sujeito de direito que tem uma relação especial frente ao 
ordenamento jurídico. Ao se tornar sócio, o indivíduo passaria a portar uma 
condição especial, que lhe garante direitos e lhe impõe obrigações: direitos 
patrimoniais como o recebimento de dividendos, direitos pessoais como o 
direito de deliberar (direito a voto), e obrigações como o dever de cumprir a 
subscrição, efetuando a integralização do capital social, ou mesmo o dever 
de sempre votar em benefício da sociedade.
Os sócios são essenciais para o reconhecimento da existência de uma 
sociedade e, no caso brasileiro, sempre plurais, uma vez que, conforme já 
afirmado anteriormente, não se admite a existência de sociedade contratual 
unipessoal, salvo quando em caráter transitório, até a reposição do número 
mínimo de dois, pelo prazo de 180 dias.
Além do empresário individual, também se equipara a empresário o sócio 
administrador de determinada sociedade.
Capital social
O valor trazido pelos sócios para permitir o desenvolvimento inicial da 
atividade empresária é chamado de capital social, embora o termo possa ter 
outros significados. A respeito, diga-se que capital social também indica o 
porte do empreendimento. Vale dizer, gera uma presunção quanto ao porte 
do empreendimento por estar relacionado ao montante necessário para a 
instalação e o início das atividades empresariais. Por consequência, em tese, 
sociedades com capital social maior seriam sociedades de maior porte. Não 
há no direito brasileiro indicação de um mínimo de capital social para a cons-
tituição de uma sociedade.
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O Direito Empresarial no contexto da gestão
O capital social é intangível, não podendo ser partilhado entre os sócios 
durante a vida da sociedade, já que é o que representa a última garantia dos 
credores, uma espécie de reserva patrimonial da empresa que será recom-
posta contabilmente, a cada balanço.
Com a subscrição, os sócios se comprometem, no contrato social ou no 
boletim de subscrição para a sociedade anônima,a efetuar a integralização 
do capital social nos prazos estabelecidos, o que pode se dar em dinheiro ou 
em bens. Somente a sociedade de modalidade simples admite sócio que não 
participe da formação do capital social, o sócio de indústria ou de trabalho.
Outra característica que se deve reconhecer ao capital social é a da reali-
dade. Significa garantir-se a correta e justa avaliação dos bens transferidos à 
sociedade a título de realização das cotas sociais, assim como um constante 
entrosamento entre o capital real e o contratual. Os bens devem ser recebi-
dos pelos seus reais valores, ou seja, o capital constante do contrato deve 
corresponder ao efetivo aporte patrimonial levado a efeito pelos sócios. Na 
sociedade anônima há normas específicas para avaliação do capital social e, 
quanto à sociedade limitada, o CC estabelece a responsabilidade dos sócios 
pela estimativa atribuída aos bens quando de sua transferência para fins de 
integralização do capital social.
Nome empresarial
A sociedade ou o empresário individual são designados por um nome 
empresarial, pelo qual se faz a identificação das empresas no país, sendo ne-
cessário para o exercício da atividade econômica e obrigatoriamente indica-
do em seu contrato social ou estatuto.
O nome empresarial poderá ser da modalidade firma (assinatura do co-
merciante singular, não se permitindo um “nome fantasia”), firma social 
(nome comercial) e denominação, obrigatória para as sociedades anônimas, 
não sendo obrigatório, nessa última modalidade, que figure nome de sócio.
As normas para composição do nome empresarial são definidas pela lei 
que determina as modalidades societárias que devem optar por firma, as que 
devem optar por denominação, e a possibilidade de escolha para outras. Iden-
tificando-se o nome empresarial, é possível reconhecer a modalidade societá-
ria a que ele corresponde.
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21
Estabelecimento: noção e transferência
Estabelecimento
Elemento importantíssimo para o exercício de empresa é o fundo de comér-
cio ou estabelecimento comercial, definido por Rubens Requião (2003a, p. 270) 
como “instrumento da atividade do empresário. Com ele o empresário comer-
cial aparelha-se para exercer sua atividade. Forma o fundo de comércio a base 
física da empresa, constituindo um instrumento da atividade empresarial”.
O estabelecimento é o conjunto de bens organizados pelo empresário 
para o exercício da atividade econômica. Os bens que compõem o esta-
belecimento também integram o patrimônio da empresa, e poderão ser 
objeto de trespasse, que significa a cessão ou transmissão daquela univer-
salidade de bens materiais e imateriais (propriedade industrial) a outrem. A 
venda deste transfere a sua titularidade: quem adquire o estabelecimento 
poderá dar continuidade ao exercício da atividade empresária a partir da 
utilização dos bens organizados pelo empresário, antigo proprietário dos 
bens. O CC disciplina o estabelecimento, a possibilidade de sua transfe-
rência e as consequências daí decorrentes a partir do artigo 1.142. Dá-se 
destaque para o artigo 1.146, que determina ao adquirente do estabeleci-
mento a assunção das obrigações contabilizadas do alienante.
Transferência do estabelecimento, 
da sociedade e da empresa
Idevan Rauen Lopes (In: RIBEIRO; GONÇALVES, 2006) apresenta distinções 
entre trespasse do estabelecimento, alienação da sociedade empresária e alie-
nação da empresa, entendida como atividade. Nesse último caso, tem-se a 
possibilidade de ser transferida a atividade desempenhada pelo agente eco-
nômico, por exemplo, pelo usufruto da empresa.
A alienação da sociedade, por sua vez, tem outro significado. Pode o sócio, 
diante de seu desinteresse em prosseguir no vínculo societário, alienar a par-
ticipação que detém na sociedade, na forma da transferência de suas ações 
ou cotas. Os condicionamentos à aceitação da transferência da participação 
acionária deverão ser avaliados na disciplina das diversas modalidades so-
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cietárias. Como regra, na sociedade anônima, a transmissibilidade das ações 
será facilitada. Na sociedade limitada será necessário observar o disposto no 
artigo 1.057 do CC que prevê, no caso de omissão do contrato social, a ine-
xistência de oposição superior a um quarto do capital social.
Essencialidade e características
Não pode o empresário ou a sociedade, por mais singela que seja a ativi-
dade, exercê-la sem um pequeno estabelecimento empresarial, seja ele ma-
terial, como balcões de demonstração de mercadorias, ou imaterial, como o 
know-how a ser empregado na produção de um determinado produto ou na 
prestação de um serviço. Esse complexo de bens, voltados para o desenvol-
vimento da atividade social, é chamado de estabelecimento empresarial.
O estabelecimento é formado por bens corpóreos (materiais) e/ou incor-
póreos (imateriais) que o empresário deve reunir para poder desenvolver sua 
atividade empresarial. Esses bens corpóreos ou incorpóreos não perdem sua 
individualidade singular, embora unidos formem um novo bem. Mantém- 
-se a categoria jurídica própria de cada um deles, mas o fundo de comércio 
é classificado como bem móvel, não consumível e não fungível (REQUIÃO, 
2003a, p. 270). Resumindo as lições de Rubens Requião (2003a, p. 272), há de 
se ter em conta que “o fundo de comércio assim formado se apresenta como 
um bem imaterial, pois os elementos materiais que o compõem têm sua con-
ceituação própria, não perdendo suas características singulares quando in-
corporado ao estabelecimento comercial”. Na visão do comercialista, o fundo 
de comércio forma um patrimônio comercial, bem incorpóreo que pode ser 
cedido ou vendido.
A conceituação legal do estabelecimento empresarial é novidade do CC 
de 2002, cujo artigo 1.142 tem a seguinte redação: “considera-se estabeleci-
mento todo o complexo de bens organizado, para exercício da atividade da 
empresa, por empresário, ou por sociedade empresária”. O código, além de 
estabelecer o conceito, também traz regras para a sua cessão.
Em linhas gerais, a cessão do estabelecimento poderá ocorrer por meio da 
sua alienação ou de seu arrendamento.
Pautando-se em Francesco Galgano (2001, p. 45), é possível dizer que, 
para que haja cessão do estabelecimento, é necessária a transferência dos 
bens mínimos, indispensáveis ao desenvolvimento das atividades da em-
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presa. Nesse sentido, é possível que do negócio jurídico de compra e venda 
sejam excluídos alguns ou vários bens pertencentes ao estabelecimento, 
“desde que essa exclusão não inviabilize a existência do estabelecimento 
empresarial como tal” (BERTOLDI; RIBEIRO, 2006, p. 103).
Também se admite que o empresário ou a sociedade possuam mais de 
um estabelecimento empresarial, pois poderão ter um estabelecimento 
principal (matriz) e outros secundários (filiais, agências ou sucursais), poden-
do haver a cessão de apenas um ou alguns desses estabelecimentos empre-
sariais de forma independente.
A cessão do estabelecimento empresarial não equivale à transferência da 
sociedade, ou seja, não conduz necessariamente à transferência das cotas ou 
das ações da sociedade, da pessoa jurídica.
Não se transfere nem mesmo a direção da pessoa jurídica que vendeu 
o estabelecimento e que continua a existir.2 O que se transfere são os bens 
que compõem o estabelecimento empresarial, ou seja, o estabelecimento 
empresarial passa a ser de outro titular, devendo este se inscrever como em-
presário ou constituir uma sociedade. A operação de alienação chama-se 
trespasse e só tem efeitos perante terceiros quando averbado no Registro 
Público de Empresase publicado na Imprensa Oficial (CC, art. 1.144). A publi-
cação revela-se importante para dar conhecimento ao público da realização 
daquele negócio, permitindo que terceiros se oponham ao negócio, se for o 
caso, evitando-se a transferência fraudulenta de patrimônio (CARVALHOSA, 
2003, p. 639).
Deve o alienante notificar os seus credores, caso os bens restantes não 
sejam suficientes para o pagamento de seus débitos, com vistas à obtenção 
de seu consentimento expresso ou tácito. Decorridos 30 (trinta) dias da no-
tificação, o consentimento será considerado tácito caso não haja nenhuma 
impugnação à alienação (CC, art. 1.145). O alienante poderá, ainda, pagar os 
seus credores a fim de que não seja preciso fazer a notificação destes.
Como a lei não delimita a forma como deve ser feita a notificação, en-
tende-se que poderá ser feita em jornal (edital) ou em notificação, extraju-
dicial ou judicial. Modesto Carvalhosa (2003, p. 642) possui entendimento 
diferente quanto à publicação de edital, pois argumenta, ao tratar do artigo 
1.145 do CC de 2002, que “este artigo não adota o regime de publicidade e 
de publicação como faz o Código Civil de 2002 para os artigos subsequentes. 
E retira esse requisito exatamente por se tratar de matéria de confidenciali-
2 Marlon Tomazette (2003, 
p. 14) entende que pode 
haver a transferência da dire-
ção da sociedade.
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O Direito Empresarial no contexto da gestão
dade entre o empresário devedor e seus credores”. Realmente, o artigo não 
fala em publicidade, mas em notificação, o que parece não impedir que seja 
feita por meio de publicação, à escolha do devedor.
A alienação do estabelecimento, sem reserva de bens suficientes à garan-
tia dos credores, é também hipótese autorizadora do pedido de falência do 
empresário, nos termos do artigo 90 da Lei 11.101/2005.
O CC de 2002 estabelece em seu artigo 1.146 que o adquirente res-
ponde pelos débitos anteriores à transferência, desde que regularmente 
contabilizados. O alienante, por sua vez, responde solidariamente por tais 
dívidas pelo prazo de 1 (um) ano a contar da publicação do contrato de 
alienação no caso de obrigações já vencidas, ou a contar do vencimento 
no caso das dívidas vincendas. Tendo em vista essa disposição legal, alerta 
Rubens Requião (2003) que, em que pese a ausência de prazo legal para a 
publicação do contrato, tal medida é de extremo interesse das partes, que 
somente se desobrigam a partir da publicidade em relação aos créditos 
vencidos.
Os créditos do alienante, por sua vez, deverão passar automaticamen-
te para o adquirente, quando da publicação no Diário Oficial do registro 
do contrato de cessão. Caso o devedor, de boa-fé, venha a quitar o seu 
débito, após a publicação do registro da transferência da cessão, junto 
ao alienante, caberá ao adquirente somente buscar a satisfação de seu 
crédito junto ao alienante.
Poderão, também, os créditos ou parte deles não ser transferidos junta-
mente com o estabelecimento empresarial, desde que esteja disciplinado 
em cláusula contratual expressa. Da mesma forma, o devedor não poderá ser 
acionado se fez o pagamento de boa-fé ao adquirente.
O adquirente poderá, por meio de sua própria pessoa jurídica, obser-
vando-se todas essas regras, desenvolver sua atividade econômica orga-
nizada, como uma empresa, por possuir os elementos necessários. A lei 
proíbe que o alienante do estabelecimento faça concorrência ao adqui-
rente, nos cinco anos subsequentes à transferência. No entanto, tal proi-
bição pode ser suplantada por expressa autorização contratual para tanto. 
Afirma Rubens Requião (2003a, p. 280) que se trata de regra “que visa ga-
rantir a efetividade da transferência do estabelecimento e a sua posse e 
propriedade, impedindo que o alienante venha a ofendê-la subtraindo-lhe 
a clientela, p. ex.”.
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O Direito Empresarial no contexto da gestão
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Infere-se, então, que a proibição deve cingir-se em relação tão somente à 
atividade transferida que era efetivamente exercida. Qualquer cláusula que 
vede a atividade econômica em geral, ou outras que não fazem parte do 
estabelecimento empresarial cedido, não terá validade e poderá ser consi-
derada inconstitucional, por contrariar o princípio da livre iniciativa, assim 
como se a proibição for por prazo indeterminado ou muito longo, como, por 
exemplo, dez anos.
Também é importante que a indicação geográfica seja prevista numa 
cláusula de não restabelecimento; porém, se não estiver contida, o intérpre-
te deverá utilizar o conceito de mercado relevante para possibilitar uma aná-
lise pautada no princípio da razoabilidade e da equidade.
Seguindo as recomendações acima, o empreendedor poderá colocar em 
prática o seu projeto de empresa, formar uma sociedade, obter personalida-
de jurídica e transferir para ela um estabelecimento empresarial que poderá 
até já se fazer acompanhar de uma clientela formada, o que contribuirá para 
a perspectiva de bons resultados para o projeto empresarial.
A aceitação do estabelecimento empresarial como uma universalidade, 
que adquire valor próprio em razão da organização atribuída pelo empresá-
rio, é o que certamente orientou a disciplina legal específica, hoje contem-
plada na legislação civil. Porém, as normas de responsabilização pelas dívidas 
que lá estão expressas incorrem em contradição com o sistema brasileiro, 
que atribui personalidade jurídica à sociedade, não ao estabelecimento. Vale 
dizer, quando um estabelecimento é transferido, nem por isso a obrigação 
deixou de ser do empresário (pessoa física ou jurídica) que a firmou. Logo, 
pelo sistema do código, ocorre uma cessão de débitos para a pessoa do ad-
quirente, por força de lei, o que pode trazer consigo uma desconfiança para 
o adquirente, com base na perspectiva de assunção de um passivo contraído 
por outro empresário.
Se a ideia é de estímulo ao exercício da atividade empresarial, e contan-
do-se com a agilização propiciada pela transferência de um estabelecimento 
empresarial em termos de tempo para fixação em dado mercado de uma or-
ganização já existente, se cotejada com uma organização totalmente nova, 
as normas do CC sobre trespasse representam um contrassenso.
O instituto de cessão de estabelecimento empresarial, em princípio, pode 
ser utilizado pelo empreendedor que tiver interesse de que o seu projeto 
atinja um amadurecimento mais rápido. Porém, no Brasil, ainda é um institu-
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O Direito Empresarial no contexto da gestão
to pouco empregado por desconhecimento do próprio mundo empresarial, 
mas que ao passar dos anos poderá ser mais utilizado devido à sua simplici-
dade, desde que a disciplina normativa não o inviabilize.
Observa-se que, no caso de aquisição de estabelecimento por empresá-
rio não constituído, este deverá organizar-se como empresário individual ou 
constituir pessoa jurídica para a utilização da organização de bens, a fim de 
atuar de forma regular frente ao Direito. A vantagem em optar pela transfe-
rência de um estabelecimento está, lembre-se mais uma vez, na possibilida-
de de acesso a meios de produção já selecionados e organizados a partir da 
anterior experiência de um empresário.
Ampliando seus conhecimentos
O empresário no novo Código Civil
(FARACO, 2004, p. 28-32)
O novo Código Civil considera empresário “quem exerce profissionalmente 
atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou 
serviços” (art. 966). Trata-se de conceito que reproduz aquele encontrado no 
artigo 2.082, do Código Civil Italiano.
A primeira (e talvez mais importante) constatação a ser feita da leitura do 
artigo 966 é que não há mais qualquer fundamento, no direito positivo, para 
se pretender separar o empresário civil do comercial.O Código trouxe um 
conceito geral e unitário, não apresentando qualquer outro dispositivo que 
permita afirmar uma intenção do legislador no sentido de separar o regime 
das atividades até então reputadas como civis das comerciais.
A caracterização do empresário depende, portanto, do exercício, com ca-
ráter de profissionalidade (p. ex., de forma habitual e constante), de uma ativi-
dade econômica (de qualquer espécie, exceto pelos casos que serão comen-
tados a seguir), voltada à produção ou circulação de bens e serviços. Central 
ao conceito também é a ideia de organização, ou seja, a atividade é exercida a 
partir de bens de produção organizados pelo empresário.
A finalidade lucrativa do exercício da atividade econômica pelo empresário 
não é expressamente mencionada no artigo 966. Todavia, a própria constru-
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ção do conceito de empresário no âmbito da teoria da empresa, assim como a 
sua função substitutiva em relação ao de comerciante, demonstram que, ine-
quivocamente, o significado jurídico do termo sempre foi utilizado em relação 
àquele agente econômico que, numa sociedade capitalista, busca lucros no 
exercício de sua atividade1. De qualquer forma, a afirmação é também confir-
mada pelo próprio artigo 981, ao integrar no conceito de contrato de socieda-
de a ideia de que as partes visam partilhar, entre si, os resultados decorrentes 
do exercício de uma atividade econômica.
A única passagem que afasta certa parcela do gênero atividade econômica 
do conceito de empresário é o parágrafo único, do próprio artigo 966, fazendo 
referência às profissões intelectuais. A distinção tem, em princípio, fundamen-
to, pois enquanto para a identificação do empresário é central a existência 
de uma organização de bens de produção, que viabilize o exercício de uma 
atividade econômica, no caso das profissões intelectuais o aspecto preponde-
rante é o próprio intelecto do indivíduo, não se pressupondo a existência de 
uma universalidade de bens organizada2.
Subjacente à ideia de empresa, enquanto atividade econômica, está a de 
que o exercício desta pressupõe a organização de uma série de bens pelo 
empresário. É exatamente a criatividade e habilidade deste na organização 
de tais fatores de produção que fará com o que o exercício da empresa tenha 
sucesso (p. ex., seja lucrativo).3 Já nas profissões intelectuais a reunião de bens 
de produção, em regra, assume um caráter secundário ou acidental. O resul-
tado destas atividades depende essencialmente da capacidade intelectual do 
respectivo profissional.
O eventual concurso de auxiliares (imagine-se, por exemplo, os aprendi-
zes no ateliê de um escultor ou o assistente de pesquisa de um historiador) 
não descaracteriza esta circunstância, conforme expressa o próprio parágrafo 
único, do artigo 966. 
Também não afeta a distinção o fato de, eventualmente, o resultado da 
produção intelectual depender de um empresário para sua difusão. Um es-
critor pode precisar de um editor que o publique, assim como um cronista 
pode depender de uma empresa jornalística para alcançar seus leitores ou um 
cientista de uma revista especializada para levar o resultado de suas pesquisas 
aos seus pares. Nessas hipóteses é bastante clara a separação que há entre a 
atividade intelectual em si e a empresa de edição ou jornalística, voltada a 
transformar o resultado daquela numa mercadoria de consumo em massa.
1 Tullio Ascarelli, analisando 
o artigo 2.082, do Código 
Civil Italiano, destacava que 
a finalidade lucrativa seria 
inerente à noção de “profis-
sionalidade” (Corso di diritto 
commerciale – introduzione 
e teoria dell’impresa, 3 ed., 
Milano: Giuffrè, 1962. p. 189).
2 Universalidade esta que o 
Código, também em linha 
com o Código Civil Italiano, 
conceitua e disciplina em capí-
tulo próprio como “estabeleci-
mento”. Nos termos do artigo 
1.142, considera-se estabele-
cimento “todo o complexo de 
bens organizados, para exercí-
cio da empresa, por empresá-
rio, ou por sociedade empre-
sária”. É inegável a similitude 
deste artigo (e dos demais que 
integram o respectivo Título) 
com o artigo 2.555, do Código 
Civil Italiano (“L’azienda è il 
complesso dei beni organi-
zzati dall’imprenditore per 
l’esercizio dell’impresa”).
3 É vasta a doutrina econômi-
ca que procura identificar os 
fatores que fazem com que as 
empresas sejam organizadas 
de determinada forma, inte-
grando na mesma estrutura 
um número maior ou menor 
de bens e fatores de produ-
ção. Ronald H. Coase, em 
artigo paradigmático sobre 
o assunto, no qual procura 
entender porque existem di-
ferentes modos de organiza-
ção dos agentes econômicos 
no mercado, observou que 
transações são internalizadas 
e organizadas no âmbito de 
empresas quando essa forma 
de coordená-las envolve um 
custo menor do que o recur-
so às relações de mercado. 
Assim, se os custos de levar a 
cabo determinada transação 
no mercado forem muito 
altos, o empresário tenderá a 
integrá-la dentro de sua estru-
tura empresarial (“The nature 
of the firm”, Economica, n. 4, 
1937, 388 e ss.). Tais custos de 
transação estão relacionados 
não aos custos de produção 
em si, mas são decorrência 
dos problemas que emergem 
das dificuldades encontradas 
pelos agentes econômicos 
para coordenarem suas ações 
em um ambiente de informa-
ção assimétrica. Conforme 
sintetiza Douglass C. North: 
“costs of measuring the valua-
ble attributes of what is being 
exchanged” e “costs of protec-
ting rights and policing and 
enforcing agreements” (Insti-
tutions, institutional change 
and economic performance, 
Cambridge, Cambridge Uni-
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O Direito Empresarial no contexto da gestão
Situação diversa é verificada quando o exercício da profissão intelectual se 
integra no âmbito de uma empresa (i.e., é elemento de uma organização vol-
tada ao exercício de uma atividade econômica). É o que consta da parte final 
do parágrafo único, do artigo 966.
Trata-se, aqui, da hipótese de um advogado responsável pelo jurídico in-
terno de uma empresa ou de um ilustrador encarregado da concepção das 
embalagens de produtos na fábrica em que trabalha. Paralelamente, é pos-
sível que a própria essência da atividade empresarial possa estar relacionada 
a uma profissão intelectual, mas exercida no contexto de uma organização 
empresarial. É o caso dos hospitais, que envolvem uma significativa reunião 
de fatores de produção e colaboradores de diversas áreas.4
Ressalvadas as atividades econômicas excluídas do conceito do artigo 966, 
nos termos vistos acima, o Código estabelece apenas uma outra distinção, 
mas que já se insere no gênero “empresário”. As espécies aqui criadas pelo 
Código em nada tem a ver com aquelas a partir das quais se classificavam os 
empresários em comerciais ou civis.
Em vista da complexidade menor que reveste a organização de certas 
atividades empresariais, o artigo 970 estabeleceu que a lei deverá assegurar 
tratamento favorecido, diferenciado e simplificado ao empresário rural e ao 
pequeno empresário quanto à inscrição e aos efeitos daí decorrentes. A refe-
rência ao pequeno empresário, seja qual a natureza da atividade que exerce, 
demonstra claramente que esta distinção não tem nenhuma relação com a 
dicotomia civil/comercial.
Essa conclusão é reforçada pelo fato de o artigo 971 prever que o empresá-
rio rural pode, observadas as formalidades do artigo 968, inscrever-se peran-
te o Registro Público de Empresas Mercantis, caso em que ficará equiparado, 
para todos os efeitos, ao empresário sujeito a registro. Assim, aquele empre-
sário que historicamente exercia uma atividade reputada como civil, pode vir 
a ser equiparado aos demais empresários que antes eram tratados como da 
área comercial.
[...]
O Código Civil abandonou a terminologia “empresário comercial” e a delimi-tação das atividades típicas deste. Previu a especificidade do regime do pequeno 
empresário e do empresário rural, mas sem afastar a possibilidade de o regime 
geral do empresário sujeito a registro ser aplicável a estas duas espécies. 
versity Press, 1990, p. 27). Em 
outras palavras, a assimetria 
de informações entre agentes 
no mercado pode tornar cus-
tosa a avaliação do valor do 
objeto transacionado, assim 
como pode aumentar o risco 
de comportamentos opor-
tunistas, exigindo o desen-
volvimento de mecanismos 
para contê-los. O empresário 
é, portanto, a pessoa capaz 
de identificar o âmbito ótimo 
da organização voltada ao 
exercício de uma atividade 
econômica, optando por in-
ternalizar ou não certas etapas 
produtivas. O sucesso de uma 
empresa estará, em grande 
medida, associado à capacida-
de de o respectivo empresário 
perceber quando determi-
nada configuração de custos 
de transação exige formas de 
organização diversas das rela-
ções de mercado entre agen-
tes independentes.
4 Tratam-se, portanto, de si-
tuações onde o exercício da 
atividade intelectual assume 
uma forma dependente de 
uma estrutura empresarial. 
Neste ponto, é impossível 
fugir da análise casuística e 
tentar, a priori, estabelecer 
exaustivamente as situações 
em que ocorrerá, ou não, a 
descaracterização da hipó-
tese do parágrafo único e a 
aplicação do conceito cons-
tante do caput.
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O Direito Empresarial no contexto da gestão
29
Assim, embora tenha uma inequívoca inspiração no direito italiano, o 
Código vigente não é uma mera réplica deste e apresenta particularidades 
próprias. Guardada essa perspectiva, no tópico seguinte se pretende aprofun-
dar a análise do que constitui a especificidade de regime do pequeno empre-
sário e do empresário rural.
Atividades de aplicação
 Diante da situação abaixo relatada, pense e justifique qual seria a me-
lhor solução em termos de gestão, para o empresário.
1. Início das atividades empresariais, independentemente de formaliza-
ção.
2. Organização de uma sociedade dotada de personalidade jurídica.
3. Aquisição de um estabelecimento empresarial já consolidado.
Gabarito 
1. O aluno deve retirar do texto as informações sobre as vantagens da 
regularização na prática da atividade empresarial. Exemplo: “Embora a 
lei indique a obrigatoriedade do registro (art. 967), não há como negar 
a existência de empresários e sociedades irregulares, cujos atos serão 
considerados válidos, embora não se submetam ao regime de comu-
nhão e a responsabilidade dos sócios será ilimitada e subsidiária ao 
patrimônio social.”
2. O aluno deve retirar do texto os efeitos da adoção de modelo de or-
ganização personificado. Exemplo: “O reconhecimento da persona-
lidade jurídica implica a separação patrimonial entre a sociedade e 
os seus sócios, a assunção de capacidade para ser sujeito de direito 
pela sociedade, adquirir direitos e contrair obrigações e, geralmente, 
na limitação de responsabilidade dos sócios, embora o seu grau varie 
conforme a espécie adotada. Essa limitação de responsabilidade é um 
atrativo para a atividade econômica e investimento”.
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O Direito Empresarial no contexto da gestão
3. O aluno deve retirar do texto as vantagens da possibilidade de aquisi-
ção de um estabelecimento empresarial já organizado. Exemplo: “Ob-
serve-se que, no caso de aquisição de estabelecimento por empresário 
não constituído, este deverá organizar-se como empresário individual 
ou constituir pessoa jurídica para a utilização da organização de bens, 
a fim de atuar de forma regular frente ao Direito. A vantagem em optar 
pela transferência de um estabelecimento está, lembre-se mais uma 
vez, na possibilidade de acesso a meios de produção já selecionados e 
organizados a partir da anterior experiência de um empresário”.
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A empresa como 
entidade econômica 
e sua decodificação jurídica
Apresentação
O presente capítulo trata das formas de organização da atividade empre-
sarial, percorrendo a análise jurídica dos empresários individuais e das so-
ciedades empresárias, personalizadas e não personalizadas. Será retomada 
a distinção entre atividade empresarial e não empresarial e a diferenciação 
entre o conceito de empresa, entendida como atividade, e de sociedade, que 
é quem pode exercê-la.
Algumas características são comuns a todas as sociedades, empresárias 
ou não, enquadrando-se na chamada teoria geral das sociedades. A exposi-
ção inicia-se por tratar do empresário individual para depois apresentar uma 
sucinta análise separada de cada espécie societária, sua natureza, regime de 
responsabilidade dos sócios, administração e regime jurídico aplicável.
Tendo em vista que grande parte da teoria geral, no sistema do Código 
Civil Brasileiro (CC), encontra-se na disciplina das sociedades simples espécie, 
inicia-se a apresentação dos tipos de sociedades personificadas por esta.
Empresa individual
Para o exercício da empresa tal como definida no artigo 966 do CC, 
não é necessária a constituição de pessoa jurídica, podendo a atividade 
ser exercida a título individual pelo empresário individual. A prática de-
monstra, como analisa Fábio Ulhoa Coelho (2005, p. 20), que atividades 
de grande envergadura são exercidas por sociedades empresárias, sendo 
que aos empresários individuais “sobram os negócios rudimentares e mar-
ginais, muitas vezes ambulantes”.
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A empresa como entidade econômica e sua decodificação jurídica
No entanto, mesmo assim a publicidade inerente aos agentes e atos 
empresariais é importante, razão pela qual a legislação civil exige que o 
empresário individual regular registre-se no Registro Público de Empresas 
Mercantis antes do início da sua atividade, em requerimento que contenha 
seus dados pessoais, a firma, o capital, objeto e sede da atividade a ser de-
senvolvida. Qualquer alteração na inscrição deverá ser igualmente averbada. 
A firma individual do empresário individual chama-se empresa individual ou 
simplesmente empresário (REQUIÃO, 2003a, p. 78).1
Fran Martins (2007a, p. 134) assevera que para a qualificação do empresá-
rio individual é necessário, além do exercício de empresa, a capacidade para 
tanto – já analisada anteriormente – e que, em linhas gerais, diz respeito à 
capacidade civil e à ausência de impedimentos para ser empresário regular.
Como o empresário individual não constitui pessoa jurídica, responde 
a pessoa física com seus bens pessoais pelas obrigações assumidas, sejam 
elas a título civil ou comercial. Citando decisão do Tribunal de Santa Catarina, 
Rubens Requião (2003a, p. 78) avalia que “a transformação de firma indivi-
dual em pessoa jurídica é uma ficção do direito tributário, somente para o 
efeito de imposto de renda”.
É possibilitado ao empresário individual instituir sucursal, filial ou agência 
(art. 969), devendo inscrevê-la na Junta Comercial da localidade onde se ins-
talar e averbar a constituição no registro da sede.
Assim, a prática individual da atividade empresarial não leva ao surgi-
mento de pessoa jurídica nem permite a limitação de responsabilidade pelas 
dívidas da empresa.
Teoria geral das sociedades
Entende-se por teoria geral das sociedades a análise das características que 
são comuns a todas as sociedades, sejam elas empresárias ou não. Todas as so-
ciedades iniciam-se pela aproximação de duas ou mais pessoas (seus sócios), 
que, por meio dessa associação, pretendem obter um proveitocomum. Ao se 
falar em sociedades, esse proveito aparece na forma do lucro. Na análise de 
Alfredo de Assis Gonçalves Neto (2004, p. 17),
[...] o que se contém de maior relevo na ideia de sociedade é, como dito anteriormente, a 
criação de uma entidade [...] esse ente tem por função facilitar a prática de atos ou negócios 
jurídicos voltados à realização de certos fins econômicos por elas pretendidos.
1 Na opinião do autor, o sócio 
de sociedade empresária não 
pode ser chamado de empre-
sário, posto que a atividade 
empresa, nesse caso, será exer-
cida pela sociedade e não por 
seus sócios.
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A empresa como entidade econômica e sua decodificação jurídica
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Toda sociedade precisa de um capital para poder exercer seu objeto, sua 
atividade, e a aproximação societária permite também a conjugação de ca-
pitais. Sem dúvida que, além do propósito de promover a junção de capital 
e de esforços, muito comumente se opta pela organização societária devido 
ao desejo de se submeter às normas que lhe são peculiares, especialmente 
a possibilidade de, em alguns modelos societários, operar-se com limitação 
de responsabilidade dos sócios.
A regra, no sistema jurídico brasileiro, conforme analisa Alfredo de Assis 
Gonçalves Neto (2004, p. 18-19), é a atribuição de personalidade jurídica às 
sociedades em geral, embora o próprio CC de 2002 excepcione tal regra ao 
determinar que as sociedades em comum e as em conta de participação 
serão não personificadas.
A sociedade adquire personalidade jurídica com o registro de seus atos 
constitutivos no Registro Civil de Pessoas Jurídicas ou na Junta Comercial, con-
forme se trate de sociedade não empresária ou empresária, respectivamente.
Da aquisição de personalidade jurídica decorrem consequências úteis para a 
atividade empresarial, destacando Rubens Requião (2003a, p. 382) a capacida-
de para ser sujeito capaz de direitos e obrigações, estabelecida no artigo 1.022 
do CC, a legitimidade contratual, a responsabilidade patrimonial e a legitimida-
de processual da pessoa jurídica; a separação patrimonial da sociedade e dos 
sócios que a constituem; possibilidade de modificação da estrutura da socieda-
de, como modificação do contrato inclusive para adotar outro tipo societário.
Sociedade empresária e não empresária
O CC disciplina a existência das sociedades a partir do artigo 981. No artigo 
982, define a circunstância em que uma sociedade pode ser considerada em-
presária e não empresária, ou simples: “Salvo as exceções expressas, considera-
-se empresária a sociedade que tem por objeto o exercício de atividade pró-
pria de empresário sujeito a registro (art. 967); e simples, as demais”.
O mesmo artigo consagra o caráter empresarial incondicional da socieda-
de anônima e o não empresarial das cooperativas (art. 967, parágrafo único).
Nos termos da lei, são empresárias as sociedades que têm por objeto o 
exercício de atividade própria de empresário sujeito a registro, e a sociedade 
anônima, independentemente de seu objeto. Por outro lado, as sociedades 
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A empresa como entidade econômica e sua decodificação jurídica
não empresárias (denominadas simples) são aquelas excetuadas pelo pará-
grafo único do artigo 966, o empresário rural (CC, art. 982, parágrafo único), 
as cooperativas e ainda as disciplinadas em legislação especial.
O CC pretendia extinguir a dicotomia anteriormente existente entre socie-
dade comercial e sociedade civil, visando abranger mais atividades. Por mera 
definição legislativa, no sistema anterior, certas atividades eram consideradas 
civis, como transporte, construção civil etc., independentemente de seu grau 
de organização e da perspectiva de lucratividade do empreendimento.
Conforme já afirmado, adotou-se com o CC de 2002 a teoria da empresa 
no Brasil, pela qual se busca oferecer um tratamento mais adequado ao direi-
to societário, passando inclusive a reger as sociedades ditas irregulares (so-
ciedade em comum). Para tanto, definiu-se sociedade empresária a partir da 
figura do empresário – sendo aquele sujeito a registro, atendidos os requisi-
tos do artigo 966 – não mais em razão da atividade exercida pela sociedade. 
Em outras palavras, houve adoção do critério material de distinção, dando- 
-se ênfase ao modo como a atividade é exercida. “A sociedade empresária 
é a pessoa jurídica que explora uma empresa”, afirma Fábio Ulhoa Coelho 
(2007, p. 5), sendo certo que empresa é a atividade empresarial descrita no 
artigo 966, e que os sócios de determinada sociedade empresária não terão 
a qualidade jurídica de empresários, uma vez que a atividade é exercida por 
pessoa (jurídica) diversa.
Entretanto, promoveram-se algumas exclusões à definição de empresá-
rio e, consequentemente, à noção de empresariedade: aqueles que execu-
tarem atividade artística, intelectual, científica etc., os que têm por objeto 
a atividade própria de empresário rural, os que adotarem forma de coope-
rativa, e demais exceções previstas em legislação especial – como é o caso 
da sociedade de advogados.
Se é certo que não mais existirá a qualificação jurídica de sociedades civis 
(construtoras, incorporadoras, prestadoras de serviço e outras), que hoje es-
tarão em sua maioria enquadradas na noção de empresariedade e conse-
quentemente organizadas de forma societária empresarial, o CC criou uma 
outra forma de dicotomia ao admitir que algumas atividades organizadas, 
econômicas e de produção ou circulação de serviços não serão consideradas 
empresariais, atribuindo um tratamento diferenciado para as atividades in-
telectuais e outras exceções previstas no ordenamento jurídico.
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Sociedade simples gênero e espécie
Convém neste ponto fazer um alerta terminológico acerca das sociedades 
simples. Conforme foi dito linhas acima, a sociedade simples é aquela socie-
dade não empresária, já que a atividade exercida encaixa-se na exceção do 
parágrafo único do artigo 966 do CC ou é assim determinada legalmente.
Manteve o legislador uma dicotomia já que, ao extinguir a separação 
entre sociedades comerciais e civis, acabou criando a separação entre socie-
dades empresárias e não empresárias, estas chamadas de simples. No entan-
to, conforme lição de Alfredo de Assis Gonçalves Neto (2004, p. 39), não seria 
correto afirmar que a mudança se deu unicamente na terminologia, já que 
se trata “de um novo sistema, embora, para fins didáticos de classificação, 
faça-se, em alguns momentos, uma equiparação entre sociedades civis e so-
ciedades simples e entre sociedades comerciais e empresárias”.
Há de se ter em mente que a sociedade simples da qual se trata neste 
momento é a sociedade simples-gênero, ou seja, aquela que figura entre as 
exceções à empresariedade ou que, por determinação legislativa, são consi-
deradas simples ou não empresárias.
De outro lado, o legislador também denominou uma nova espécie societária 
introduzida no Brasil pelo novo CC como sociedade simples, que, salvo pela pos-
sibilidade de haver sócio de trabalho, é uma espécie societária como as demais, 
com regras próprias. Assim, como se têm a limitada, a sociedade anônima, em 
comandita por ações, entre outras, tem-se a sociedade simples-espécie.
Acredita-se que a pretensão do legislador tenha sido a de garantir uma es-
pécie societária própria para as atividades que fossem excluídas da empresarie-
dade. Por exemplo, uma sociedade que exercesse atividade intelectual – por-
tanto considerada simples (gênero) – deveria adotar a modalidade sociedade 
simples, para, assim, atingir o objetivo da lei, qual seja, de resguardar a pessoali-
dade do exercício da profissão2. No entanto, a lei garante a possibilidade de queas sociedades simples gênero optem por um entre os tipos societários existentes, 
com exceção da sociedade anônima, que será sempre empresária.
Destarte, entre os artigos 997 e 1.038 está disciplinada a espécie so-
ciedade simples no CC. É importante observar que as normas previstas para 
a simples-espécie têm aplicação subsidiária às demais sociedades, inclusive 
à limitada, quando não faz opção, no contrato social, pela aplicação supleti-
va das normas da sociedade anônima.
2 Importante a observação 
de que a sociedade simples 
espécie ainda que tenha sido 
criada para atender exceções à 
empresariedade, entre outros 
motivos, para resguardar a 
pessoalidade do exercício da 
profissão, por determinação 
legal, é personificada. Isto é, 
aqui não houve proteção da 
pessoalidade, pelo contrário.
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A empresa como entidade econômica e sua decodificação jurídica
Em resumo, pode-se dizer que a sociedade simples-gênero é a não em-
presária, e que a sociedade simples-espécie é um tipo societário introduzido 
pelo novo CC, que é personificada, mas sem limitação de responsabilidade 
dos sócios, que tem normas próprias de funcionamento e outras que servem 
da teoria geral para os demais tipos societários, conforme se verá no estudo 
pormenorizado a seguir.
No entanto, há de se fazer menção à crítica esboçada por Alfredo de Assis 
Gonçalves Neto (2004, p. 109) ao critério de exclusão adotado pela legislação 
civil, entre sociedades empresárias e não empresárias. Isso porque o autor 
tomou a sociedade simples como “sociedade-modelo, a sociedade-base ou 
sociedade-tronco, da qual saem todas as outras com as ramificações que as 
particularizam”. Para ele, o problema reside no fato de que a sociedade sim-
ples, além de modelo básico, é também espécie própria, não havendo na dis-
ciplina do código explicação para a distinção entre a sociedade empresária e 
a simples, a não ser pelo modo de exercício da atividade.
A questão, para o autor, passa a ser complexa porque, com a admissão 
da aplicação do regime das sociedades simples, não empresárias, às socie-
dades empresárias, ter-se-ia de admitir que àquelas é também aplicável o 
regime de Direito de Empresa, ou seja, regime das sociedades empresárias 
(GONÇALVES NETO, 2004, p. 109). E, de fato, na ausência de disposições na 
regulação das sociedades simples, utiliza-se o regramento das sociedades 
empresárias, como no exemplo citado por Alfredo de Assis Gonçalves Neto 
(2004, p. 109) em relação às operações de transformação, concentração e 
desconcentração (arts. 1.097, 1.113 e §§), à liquidação (art. 1.102 e §§) e às 
disposições sobre autorização para operar no Brasil (art. 1.123 e §§). As vicis-
situdes de tal espécie societária serão tratadas posteriormente.
Feitas as anotações gerais, passa-se à analise das sociedades não personi-
ficadas e, após, das sociedades personificadas em espécie, nelas incluídas as 
sociedades simples-espécie.
Sociedades não personificadas
São sociedades não personificadas, de acordo com o Subtítulo I, do Título 
II do Livro de Direito de Empresa do CC, a sociedade em comum e a sociedade 
em conta de participação.
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Sociedade em comum
São sociedades não personificadas, independentes de registro, regendo- 
-se pelo disposto nos artigos 986 a 990 do CC e subsidiariamente pelas regras 
da sociedade simples. Correspondem às sociedades irregulares ou de fato, ou 
seja, aquelas cujo contrato social ainda não se encontra devidamente regis-
trado na Junta Comercial. Parte da doutrina diferencia as sociedades irregu-
lares, aquelas que têm contrato ou estatuto social, embora não averbado, e 
as sociedades de fato, que sequer foram organizadas a partir de um ato cons-
titutivo (contrato social ou estatuto). No entanto, da leitura do código depre-
ende-se que não há tal distinção do ponto de vista legal, de forma que ambas 
ficam sujeitas ao regime ali disposto em relação à sociedade em comum.
Segundo Fábio Ulhoa Coelho (2005, p. 125), há de se ter em mente que 
sociedade em comum não é uma nova espécie societária, senão a denomi-
nação daquelas atividades exercidas de forma irregular, já que o registro é 
obrigatório antes do início das atividades, segundo dispõe o artigo 967.
Os sócios apenas podem comprovar a existência da sociedade, entre si ou 
perante terceiros, de forma escrita, enquanto a terceiros admite-se qualquer 
tipo de prova (art. 987).
Não possuem patrimônio autônomo, mas sim um patrimônio especial, de 
titularidade dos sócios condominialmente. Ao sócio que responde pela so-
ciedade não cabe o benefício de ordem, conforme artigo 990 do CC, e todos 
os demais respondem solidária e ilimitadamente pelas dívidas sociais, sendo 
ineficaz qualquer cláusula contratual que diferentemente disponha.
Sociedade em conta de participação
Essa sociedade não precisa estar registrada em cartório para ter validade 
frente a terceiros, mas o registro não é vedado aos sócios; no entanto, o regis-
tro civil não acarretará a constituição de uma pessoa jurídica. É uma sociedade 
interna, formada por dois tipos de sócios, o ostensivo e o participante, apenas 
atuando perante terceiros no exercício da atividade econômica, o primeiro.
Não possui personalidade jurídica autônoma e distinta da dos sócios; logo, 
o patrimônio permanece em comum entre os sócios durante a existência da 
sociedade. Quem se vincula perante terceiros não é a sociedade, pelo fato 
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A empresa como entidade econômica e sua decodificação jurídica
de ser desprovida de personalidade jurídica e inclusive de nome empresa-
rial, mas o sócio ostensivo. Segundo Fábio Ulhoa Coelho (2005, p. 150), essa 
sociedade possui características excepcionalmente próprias, destacando-se, 
além do fato de ser despersonalizada, o seu caráter de sociedade secreta.
Atuando em nome próprio, o sócio ostensivo responde pessoalmente 
pelas obrigações contraídas. Os sócios participantes, por sua vez, respon-
dem perante o ostensivo na forma por eles pactuada. Não há qualquer rela-
ção jurídica entre os devedores do sócio ostensivo e os sócios participantes, 
não podendo um demandar em face do outro.
A falência do ostensivo implica na dissolução da sociedade, mas essa 
regra não se aplica ao sócio participante. Para a inclusão de novo sócio, o 
ostensivo deve ter o consentimento dos demais sócios.
Não há limitações quanto à escolha do objeto social, desde que lícito e 
celebrado por pessoas capazes, em conformidade com a lei.
Tributariamente, em relação ao imposto de renda, recomenda-se ao sócio 
ostensivo que mantenha a contabilidade de seus negócios separada da con-
tabilidade da sociedade, individualizando os negócios.
Para parte da doutrina, não se trata de uma sociedade propriamente dita, 
mas sim de um contrato de associação ou de agregação por cota social, um 
contrato de participação.3 No tocante à sua dissolução, não sendo ela um sujei-
to de direito, basta que o sócio ostensivo preste contas aos demais sócios.
Sociedades personificadas
As modalidades societárias que podem ser escolhidas pelos agentes eco-
nômicos são previstas no CC, a partir do artigo 997. As diversas estruturas so-
cietárias têm características próprias especialmente quanto à sua estrutura 
administrativa e à limitação de responsabilidade dos sócios. São sociedades 
personificadas: sociedades simples, em comandita simples e por ações, em 
nome coletivo, além da sociedade limitada e da sociedade anônima, que 
também estão à disposição dos empresários e serão analisadas no tópico 
seguinte.
Primeiramente serão apresentadas as características da sociedade simples 
e o tratamento dado a essa espécie societária pelo CC de 2002. Nas palavras

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