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Mariita Bertassoni da Silva ORGANIZADORA 2 CONSUl TORIA EM PSICOLOGIA ESCOLAR/EDUCACIONAL:-REFlEXOES SOBRE A TEORIA, A PRÁTICA PROFISSIONAL E O ESTÁGIO SUPERVISIONADO Mariita Bertassoni da SilvaConsultoria em Psicologia Escolar/ Educacional Claves Antonio de Amissis Amorim Eliana Santos Fernanda Rafaela Cabral Bonato lima Lopes Soares de Meireles Siqueira Maria das Graças Fernandes de Souza Maria de Lourdes Bairão Sanchez Mari Angela Calderari Oliveira Patrícia Dietrich Schner Solange Muglia Wechsler Susana de Jesus Fadel Tatiana de Souza Centurion Vera Regina Miranda A Consultaria em Psicologia Escolar/Educacional é uma mo- dalidade de prestação de serviço do psicólogo escolar/educacional, que tem por finalidade auxiliar na irnplernentação de propostas que favore- çam o processo ensino-aprendizagem. Wechsler ' em um dos primeiros trabalhos sistematizados so- bre a Consultoria Escolar/Educacional no Brasil, lista suas principais características: a) é um tipo de ajuda para a resolução de problemas atuais; b) ocorre entre um profissional (especialista - consultor) que oferece ajuda, e outro (agente educativo - consultado), que pede ajuda para o bem-estar de uma terceira pessoa (clien- te) sobre a qual tem responsabilidade; c) é uma relação voluntária, sendo solicitada espontaneamente pela instituição interessada no serviço; d) é uma relação de cooperação entre o consultor e o con- sultado; . e) o consultado se beneficia desse relacionamento, tornando- se mais habilitado para lidar com questões semelhantes no futuro. Pode-se ampliar esse rol de características considerando-se também que: PRINCíPIOS TEÓRICOS E TÉCNICOS E CONTRIBUiÇÕES DE PRÁTICAS SISTEMATIZADAS COLABORADORES: Curitiba Juruá Editora 2009 WECHSLER, S. M. Consultoria escolar: características básicas. Brasiliu: Instituto de Psi- cologia da Universidade de Brasília, 1989. p. OI. 32 Mariita Bertassoni da Silva f) o consultor possui vínculo empregatício apenas eventual com a instituição solicitante, normalmente pelo prazo em que dura a sua intervenção; g) seu grau de autonomia é significativo, pois não possui su- bordinação à instituição contratante" Como é uma atividade específica do psicólogo da área esco- lar/educacional, a Consultoria exige do consultor o mesmo preparo teó- rico~técn~co que o psicólogo que atua como parte integrante da equipe técnica ft~a de uma instituição educativa ou escolar. Seu foco é o pro- cesso ensino-aprendizagem, seu objeto de estudo são as atividades edu- cativas e sua clientela é a instituição como um todo, personificada pelos agentes educativos, direta ou indiretamente envolvidos na construção do conhecimento formal. Sua intervenção tem como paradigma a saúde, interrneando ações preventivas, remediativas e de acornpanhamento '. A ?ase de seu trabalho apoia-se no contrato, na avaliação diagnóstica e na intervenção propriamente dita, que também deve ser avaliada, acompa- nhada e rcformulada, se necessário. Pressupõe ainda um posiciona- mcnto crítico e contextualizado do profissional, favorecendo a escuta psicológica e sedimcntando o compromisso social. Esse tipo de modalidade vem se fortalecendo nas últimas dé- cadas, seguindo a tendência globalizada da terceirização de serviços observada mundialmente, viabilizando financeiramente a contratação de serviços para as escolas". Esse fortalecimento pode também ser explicado pelo viés do desenvolvimento histórico da especialidade no país, já que a categoria ~1ão.co.n~uisto:l, ~m seus p~'im?rdios, colocação legalizada do cargo nas ll1stItm.çoes públicas, restringindo o campo de atuação às instituições educativas de caráter privado/particular. Devido a essas limitações de mercado, também o contingente de especialistas em Psicologia Esco- lar/Educacio~1al p~n:naneceu limitado, criando-se um círculo vicioso que acabou por interferir na adesão à especialidade, mesmo para aqueles que apresentavam interesse nessa área de atuação. BONATO, F. R. C.; SILVA, M. B. Consultoria em psicologia educacional: um vínculo cmprcgnticio diferenciado ao psicólogo escolar. Contato, a. 27, n. 137, maio/jun. 2006. p. 21. GOMES, V. L. ela S. A formação do psicólogo escolar e os impasscs cntre a teoria e a práti- ca. 111.- GUZZO, R. S. L. (Org.). Psicologia escolar: LDB c Educação hoje. São Paulo: Alínea, 2002. p. 54. SILVA, M. B.; GALAFASSI, M. F.; GUERRA, 1.; WOLF, M. Consultaria em psicologia educacional: a experiência da ASSED/PUCPR. 111.' Anais do I Encontro Sul-Brasileiro de Psicologia, Curitiba, 2000. p. O I. Consultaria em psicologia escolar/educacional 33 Assim, é lógico pensar que a Consultoria é ainda uma alterna- tiva válida para o desempenho da especialidade, pois, ao libertar-se do vínculo emprcgatício tradicional, supera o impeditivo legal e amplia os horizontes para a prática psicológica e, consequcntemente, para o aumento do contingente de especialistas. É importante frisar que o consultor em psicologia esco- lar/educacional é, em primeira instância, um profissional de psicologia, cspecializado na área da psicologia escolar/educacional, ou seja: é um psicólogo escolar/educacional, cuja formação inelui conhecimentos teóricos, técnicos e éticos específicos da área educacional. E, nessa área, muito se tcm produzido desde o surgimento da especialidade: vários modelos e paradigmas foram experimentados e superados. As discussões realizadas em congressos, encontros, semi- nários e outros eventos científicos ao redor do foco, do objeto, da clien- tela, das funções, limites e definição do papel desse especialista, reali- zadas principalmente a partir da década de 80, por profissionais do gabarito de Maria Helena Souza Patto - em suas obras Psicologia e IdeologiaS e O Fracasso Escolar6 - de Sérgio Leite", Raquel Guzzo'', Geraldina P. Witter", Maria Regina Maluflo e ainda de Maria Helena Novaes I I, dentre outros (apenas para citar alguns dos grandes nomes da Psicologia Escolar no Brasil), culminaram na criação da ABRAPEE - Associação Brasileira de Psicologia Escolar/Educacional -, em 1992. Essa entidade tem contribuído de forma efetiva como fórum de discussões e consenso para as várias questões que permeiam a prática do psicólogo escolar, embora pouco se tenha sistematizado especifi- camente sobre a Consultoria em Psicologia Escolar/Educacional. ]fI PATTO, M. H. S. Psicologia e ideologia. São Paulo: Quciroz, 1984. PATTO, M. H. S. A produção do fracasso escolar. São Paulo: Queiroz, 1990. LEITE, S. A. da S. °psicólogo na Educação. Revista Insight, n. 4, fcv. 1991. GUZZO, R. S. L. Novo paradigma para a formação c atuação do psicólogo escolar no cenário educacional brasileiro. 117: GUZZO, R. S. L. (Org.). Psicologia escolar: LDB c Educação hoje. São Paulo: Alínea, 2002. WITTER, G. P. Psicólogo escolar no ensino superior c a Lei de Diretrizes e Bases. 111: GUZZO, R. S. L. (Org.). Psicologia escolar: LDB c Educação hoje. São Paulo: Alínea, 2002. MALUF, M. R. Formação c atuação do psicólogo na Educação: dinâmica ele transformação. CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. Psicólogo brasileiro: práticas emergentes e ele- safios para a formação. São Paulo: Casa elo Psicólogo, 1994. NOV AES, M. H. Distúrbios psicossoeiais elo escolar. CONCEIÇÃO, J. A. (Coord.), Saúde escolar. A criança, a vida c a escola. São Paulo: Sarvicr, 1994. 11 34 Mariila Berlassoni da Silva Podem-se levantar algumas hipóteses para esse fato. Alguns autores defendem a ideia de que o trabalho do psicólogo esco- lar/educacional só será bem desenvolvido com a fixação do profissional como parte integrante do corpo técnico da instituição, já que o seu tra- balho depende de condições que só se realizam a médio ou longo prazo. Outra hipótese é que a identidade recérn-reformulada do espe- cialista da área, a partir das discussões da década de 80, ainda é bastante recente, considerando-se o tempo histórico, carecendo de sedimentação na modalidade como técnico fixo, antes de lançar-se como consultor. Essas hipóteses requerem averiguação e aprofundamento no âmbito da pesquisa científica a ser realizadapela categoria proxima- mente, porém ainda não contamos com esses dados. Independentemente do real motivo, o que se constata é uma carência de referências que norteiem o início da prática da consultoria escolar/educacional em publicações bibliográficas tradicionais. Encon- tram-se, no entanto, artigos em periódicos idôneos que podem auxiliar no estabelecimento de um estado da arte mais consentâneo com a ne- cessidade sentida pelos especialistas iniciantes. Porém, não existe ainda a sistematização específica de escritos sobre essa modalidade de trabalho. ..; :! Dessa forma, a prática da consultoria traz um desafio teórico- técnico importante. Além de estudar a desbravadora sistematização sobre as características da Consultoria Escolar, feita por Wechsler, em 1989, o futuro consultor escolar/educacional pode, por analogia, e desde que realizando a adequação de objetivos, utilizar-se de obras da área da Psicologia Organizacional, como, por exemplo, o trabalho de Blockl2, intitulado Consultoria: o desafio da liberdade, ou o de Weinberg13, denominado Consultoria: o segredo do sucesso. A respeito dessa utili- zação, é importante que o profissional saiba diferenciar a especificidade da demanda, respondendo adequadamente à solicitação conforme argu- mentam Moreira, Periotto, Sccco e Silval4. Também as obras da área da psicologia institucional, como os escritos de Bleger15 e Severo!", são um 13 14 BLOCK, P. Consulturia: o desafio da liberdade, São Paulo: Makron Books, 1991. WEINBERG, G. Consultoria: o segredo do sucesso. São Paulo: MeGraw Hill, 1990. MOREIRA, c.. PERIOTTO, .I.; SECCO, M. de A.; SILVA, M. B. Atendimento à instituição de ensino: eonsultoria educacional ou organizacional? Contato, Conselho Regional de Psi- cologia do Paraná, Curitiba, a. 25, n. 135, jan.zfcv. 2006. p. 10. BLEGER, J. Psico-higiene e psicologia inslitucional. Porto Alegre: Artes Médicas, 1984. SEVERO, M. C. Estratégias em psicologia institucional. São Paulo: Loyola, 1993. 15 1(, . -_..._-------------------- Consultaria em psicologia escolarleducacional 35 excelente apoio para a elaboração de procedimentos válidos de inter- vencão e acompanhamento. Vale aqui ressaltar que o conhecimento apr;fundado da área da psicologia e?l.lcaci?naJ/esc~lar ~ condição pré- via c antecede a toda a articulação teonco-tecnica acima indicada. Ainda, é importante esclarecer que o investimento na maior qualificação de consultores não implica a diminuição dos esforços da categoria em instituir o lugar do psicólogo escolar/educacional como membro integrante da equipe técnica das instituições educativas públi- cas. Antes disso, trata-se de somar oportunidades e ampliar o campo de atuação a este especialista. Considerando-se as premissas acima clarificadas, passamos agora a compartilhar a experiência por nós vivenciada como docente e supervisora, especialista em Psicologia Escolar, na implantação e de- senvolvimento da modalidade da Consultoria Escolar/Educacional co- mo estágio curricular em psicologia educacional, em um curso de Psi- cologia de uma conceituada instituição particular de ensino superior. o CONTEXTO Na universidade em questão, os estágios curriculares profis- sionalizantes são realizados nos últimos períodos (9° e 10°) da gradua- ção em Psicologia, dando sequência aos estágios básicos, que se iniciam a partir do segundo período do Curso. Eles acontecem em vários cam- pos, em instituições da região metropolitana, e partem do levantamento preliminar das necessidades do local. Cada local concedente recebe um trio de estagiários. As atividades desenvolvidas, em sua maioria são realizadas pelo trio, em equipe, ou subdivididas conforme a demanda e necessidade técnica, ficando então sua condução sob a responsabilidade de cada estagiário individualmente. Essas atividades são supervisiona- das semanalmente. O estágio tem duração de um ano letivo. Após esse período, realiza-se uma avaliação para sua possível continuidade e se estabelece novo contrato de trabalho. Todos os estágios curriculares profissionali- zantes são coordenados pelo núcleo de prática em Psicologia, órgão pertencente ao Curso de Psicologia, sendo o primeiro também respon- sável pela oferta de serviços psicológicos de diferentes áreas à comuni- dade em geral. 36 Mariita Bertassoni da Silva A equipe de professores que supervisiona a área da Psicologia Escolar/Educacional comunga da posição de que as propostas de inter- venção do psicólogo no âmbito educativo devem ser questionadoras da realidade social, abrangentes com a cliente Ia, buscando fortalecer o âmbito preventivo com base na saúde mental de todos os componentes que integram a prática educativa. A DEMANDA No período correspondente aos anos de 1992 e 1994, o núcleo de prática em Psicologia recebeu inúmeras solicitações de instituições educacionais para a realização de atividades específicas e de duração variada, como palestras sobre orientação sexual, drogas, disciplina, cursos sobre desenvolvimento infantil, trabalho com professores e outros. Porém, devido à metodologia adotada, a saber, vinculação dos trios de estagiários com uma única instituicão durante todo o ano letivo não foi possível atender a todas elas. ' , Devido à demanda continuada e frequente, a equipe técnica do Núcleo considerou oportuno introduzir a modalidade da Consultoria Escolar como uma das áreas de estágio curricular, respondendo a dois objetivos: 1. ampliar o campo de oferta de estágio; e lI. atender à necessidade da comunidade educacional externa. A partir de 1995, foi então ofertada a Consultoria Esco- lar/Educacional como estágio curricular, entendendo-se Consultoria como proposta de serviço especializado em Psicologia Esco- lar/Educacional, de duração variada, com vistas a auxiliar no diagnósti- co e implementação de ações interventivas que favoreçam o processo ensino-aprendizagem e o funcionamento da instituição educativa como um todo. A IMPLANTAÇÃO Para a implantação do serviço, houve uma fase inicial de revi- são da literatura básica da psicologia escolar/educacional, complemen- tação de conceitos e conhecimentos já adquiridos durante a formação e estudos em obras com dados específicos de Consultoria. Consultaria em psicologia escolar/educacional 37 Paralelamente foi elaborado projeto de pesquisa para a verifi- cação cientificamente embasada das atividades que eram, de fato, de- mandadas pelas instituições solicitantes. Optou-se por realizar uma pes- quisa de campo, considerando-se uma amostra aleatória, constituída de 10% de instituições de ensino regular, incluindo educação infantil, ensi- no fundamental e ensino médio da grande Curitiba. Os instrumentos utilizados foram o questionário semiaberto e a entrevista com os res- ponsáveis das instituições pesquisadas. Com base nos resultados obtidos '1' d rd d B di 17 'e na ana ise e contcu o, apresenta a por ar 111 ,constrUlram-se cate- gorias a partir das quais levantou-se o rol de necessidades, descrito a seguir: a) informação e orientação vocacional, por meio de pales- tras, testes, esclarecimentos e debates sobre a escolha pro- fissional; b) psicodiagnóstico em grupolindividual para crianças com problemas de aprendizagem, conduta ou desenvolvimento; c) verificação grupal de prontidão para a alfabetização; d) identificação de possíveis problemas que interferem no an- damento da dinâmica educativa, envolvendo alunos, pro- fessores, coordenação pedagógica e direção (comunicação institucional); e) palestras com pais, envolvendo temas como adolescência, sexualidade, doenças sexualmente transmissíveis, drogas, violência e outros; f) palestras com professores sobre motivação, hábitos de es- tudo, desenvolvimento infantil e adolescente, disciplina, interação professor-aluno, treinamento de habilidades de comunicação e outros; g) programas de motivação e estimulação; h) programas de hábitos de estudo; i) programas ele atividades expressivas, jogos direcionados e desenvolvimento da psicomotricidade; 11 BAROIN, L. Análise de Conteúdo. Lisboa, Portugal: Edições70, 1970. 38 Mariita Bertassoni da Silva j) trabalhos envolvendo funcionários e a estrutura da insti- tuição. A partir desses resultados e das modalidades já ofertadas no núcleo de prática psicológica (para evitar duplicação da oferta de servi- ço), optou-se por manter a oferta das seguintes modalidades de atuação na Consultoria: Palestras sobre temas variados, voltadas para pais, professores e alunos. + Programas de socialização; + Programas de estimulação e motivação; + Programas de hábitos de estudo; + Programas de psicomotricidade; + Atividades com intervenção grupal; + Prontidão para a alfabetização; + Informação profissional; + Diagnóstico institucional. A DIVULGAÇÃO Uma vez delimitados os aspectos conceituais e os tipos de in- tervenção possíveis, partiu-se para a etapa de divulgação do serviço. Fôlderes explicativos sobre o funcionamento da Consultoria foram cria- dos e enviados com o logotipo do escritório, via mala-direta, às escolas particulares e públicas, dos diversos níveis de ensino. Juntamente com esse material, encaminhou-se uma carta da direção do Núcleo de Prática em Psicologia, comunicando sobre a criação do serviço e da disponibi- lidade de visita dos estagiários para complementação de informações. Simultaneamente, foram veiculadas matérias sobre o serviço em jornais de circulação na capital e interior do Estado e realizada en- trevista sobre o tema em programa de rádio. O retorno da divulgação foi bastante significativo e os estagiá- rios fizeram diversas visitas explicativas. Consultoria em psicologia escolar/educacional 39 A EFETIV AÇÃO A partir da divulgação, diversas instituições inscreveram-se para receber atendimento da Consultoria. Desde então, muitos alunos de psicologia vêm experimentando o desenvolvimento dessa modalidade de trabalho psicológico. Os procedimentos adotados para a efetivação das intervenções obedecem aos seguintes passos: + contato inicial com o consultado para a investigação da demanda, levantamento de expectativas e possibilidades reais da efetivação do trabalho; • observação (participante e não participante) em várias ati- vidades; aplicação de questionários, realização de entre- vistas; pesquisa documental, entre outras; + organização das informações e levantamento de hipóteses, envolvendo questões como: a) quais os elementos a serem envolvidos no projeto?; b) que métodos usar?; c) que dados deverão ser coletados?; d) quanto tempo deverá ser disponibilizado para a realiza- ção efetiva do trabalho? e) quais as prioridades?; + elaboração de projeto amplo, contendo a conclusão diagnóstica inicial, a ser apresentada ao consultado; + discussão e aprovação (ou não) do projeto apresentado; + caso o projeto amplo seja aprovado, elaboração do plane- jamento específico e pormenorizado da intervenção pro- posta; + aplicação da intervenção; + avaliação dos resultados; + devolutiva com sugestões de continuidade ao consultado; + acompanhamento periódico das ações propostas, até o des- ligamento final. 40 Mariita Bertassoni da Silva Para a realização desses procedimentos, é necessário o preparo dos estagiários, o que implica a aquisição de habilidades para o estabe- lecimento de vínculo c realização do enquadre, já nos primeiros conta- tos com o consultado. Uma das técnicas que tem se revelado muito efi- caz para esse preparo inicial é o role-playing, simulando a primeira visita de levantamento da demanda. Após a dramatização, segue-se discussão das percepções de desempenho na situação, em que os esta- giários se dão conta de suas potencialidades e limitações, possibilitando o preenchimento de lacunas que poderiam prejudicar a performance na situação real. Outras habilidades são desenvolvidas nessa prática, a partir de ações como estabelecer contrato e negociar valores e forma de paga- mento; elaborar projeto amplo, fornecendo ao consultado dados sufi- cientes para esclarecer a proposta, porém, sem expor procedimentos que possam ser utilizados de forma inadequada por pessoas não preparadas para tal; elaborar e encaminhar material de divulgação eticamente cir- cunstanciado, por meio de diversos veículos de comunicação; organizar cadastro dos clientes, mantendo-os atualizados; realizar pesquisa bi- bliográfica e em bases de dados de informações virtuais idôneas, com o intuito de manter atualizadas as informações sobre formas de interven- ção nos mais diversos tipos de práticas educativas; elaborar relatórios de atividades, dentre outras. Em 2006, foi efetivada pelos estagiários nova pesquisa sobre a demanda das instituições, com o objetivo de atualização da oferta das atividades da Consultoria, uma vez que algumas mudanças legais e metodológicas vêm sendo realizadas no âmbito da educação nacional e regional, tais como a ampliação de 08 para 09 anos no ensino funda- mental, a implantação do pós-médio e a maior oferta de educação para adultos, por meio do ElA, assim como a implantação gradativa de pro- cedimentos inclusivos em escolas de ensino regular, entre outros. A experiência com a Consultoria nesses 12 anos, desde sua implantação em 1995, como estágio curricular, tem sido bastante posi- tiva, sendo avaliada tanto pelos alunos como pelos professores como um campo riquíssimo de aprendizagens para o futuro profissional de psicologia. Muitas instituições da comunidade foram atendidas; várias produções acadêmicas foram elaboradas e veiculadas em eventos da área da Psicologia, na forma de pôsteres e comunicações orais, com Consultaria em psicologia escolar/educacional 41 temas diretamente relacionados à área da Consultoria, como por exem- plo: Assessoria Educacional", O incentivo à formação de equipes: uma ferramenta de intervenção para o consultor educacional!", Aluno problema ou aluno com problema? Trabalho com professo- res: o auxílio da Assessoria Educacional na modificação da visão do professor sobre o aluno", Consultoria Escolar/Educacional: proces- so, modalidades e a pesquisa como instrumento de trabalh02! e A difícil arte de ser consultor ". Também se produziram artigos científi- cos, alguns dos quais foram publicados em periódicos idôneos, contri- buindo com a ampliação da literatura na área. As atividades exigidas no cotidiano dessa modalidade de tra- balho colocam o estagiário diante de uma realidade que o leva a redi- mensionar todos os conhecimentos adquiridos até então, articulando-os de forma nova e criativa. Diferentes exigências ajudam-no no desen- volvimento de suas habilidades de percepção e análise de diferentes situações, aprimoram a objetividade, favorecem a comunicação e rela- ção interpessoal. Também colocam em destaque questões éticas e requerem o desenvolvimento do auto controle em frente das frustrações. Possibili- tam ainda o aperfeiçoamento no domínio do enquadre e das técnicas necessárias à efetivação da tarefa. Além disso, o contato com diferentes instituições (consultadas) favorece a conscientização da amplitude da variedade dos problemas enfrentados pela clientela da Consultoria, assim como reafirma a existência de demanda proveniente da comuni- dade, no que se refere a serviços ofertados pela Psicologia Esco- lar/Educacional. IK SCARPIM, Â.; PIMENTEL, G. M.; VENTURINI, I.; SILVA, M. B. Assessoria educacional. 111: XI Seminário de Psicologia Aplicada da PUCPR. Curitiba, novo 200 I. FERREIRA FILHO. S. A. M.; SILVA, M. B. O incentivo à formação de equipes: uma ferramenta de intervenção para o consultor educacional. Trabalho de conclusão dc curso de graduação em Psicologia. Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Curitiba, 2002. Não publicado. FERNANDES, A. R.; SILVA, M. B. Aluno-problema ou aluno com problema") Trabalho com professores: o auxílio da Assessoria Educacional na modificação da visão do professor sobre o aluno. 111: XIII Seminário de Psicologia Aplicada da PUCPR. Curitiba, novo 2003. BRANDT, S. H.; SILVA, M. B. Consultoria escolar/educacional: processo, modalidades c a pesquisa como instrumento de trabalho. Trabalho de conclusão de curso de graduação em Psicologia. PontifíciaUniversidade Católica do Paraná, Curitiba, 2003. Nào publicado. CA VINA, R.; SILVA, M. B. A difícil arte de ser consultor. Trabalho de conclusão de curso de graduação em Psicologia. Pontifícia Universidade Católica do Parauá, 2007. Não publicado. 19 20 21 ----------------------------------c-------- ..------- 42 Mariita Bertassoni da Silva Alguns dos cx-alunos que desenvolveram trabalhos na Con- sultaria como estágio curricular, continuam a exercer essa modalidade como prática profissional. É possível quc num futuro próximo haja mudanças nesse cená- rio, por conta do sancionamento da Lei 15.075, datada de 05.05.2006, que prevê a existência obrigatória de uma equipe técnica abrangendo o pedagogo, o assistente social e o psicólogo nas escolas públicas em âmbito estadual. É provável que esse fato provoque a reformulação do perfil do consultor. Porém, sabe-se também que a implantação de uma lei no Brasil é um processo demorado, não dispensando por um determinado período (às vezes bastante longo) as soluções criativas para o benefício comum. Referências BARDIN, L. Análise de Conteúdo. Lisboa, Portugal: Edições 70, 1970. BLEGER, J. Psico-higiene e psicologia institucional. Porto Alegre: Artes Médicas, 1984. BLOCK, P. Consultoria: o desafio da liberdade. São Paulo: Makron Books, 1991. BONATO, F. R. c., SILVA, M. B. Consultoria em psicologia educacional: um vínculo ernpregatício diferenciado ao psicólogo escolar. Contato, ano 27, n. 137, maio/jun. 2006. BRANDT, S. H.; SILVA, M. B. Consultoria escolar/educacional: processo, modalidades e a pesquisa como instrumento de trabalho. Trabalho de conclu- são de curso de graduação em Psicologia. Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Curitiba, 2003. Não publicado. CA VINA, R.; SILVA, M. B. A difícil arte de ser consultor. Trabalho de conclusão de curso de graduação em Psicologia. Pontifícia Universidade Cató- lica do Paraná, 2007. Não publicado. FERNANDES, A. R.; SILVA, M. B. Aluno-problema ou aluno com problema? Trabalho com professores: o auxílio da Assessoria Educacional na modificação da visão do professor sobre o aluno. 1n: XIII Seminário de Psicologia Apli- cada da PUCPR. Curitiba, novo 2003. FERREIRA FILHO, S. A. M.; SILVA, M. B. O incentivo à formação de equipes: uma ferramenta de intervenção para o consultor educacional. Traba- lho de conclusão de curso de graduação em Psicologia. Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Curitiba, 2002. Não publicado. GOMES, V. L. da S. A. formação do psicólogo escolar e os impasses entre a teoria e a prática. 111: GUZZO, R. S. L. (Org.). Psicologia escolar: LDB e Educação hoje. São Paulo: Alínea, 2002. -------_ ..._--------- Consultoria em psicologia escolar/educacional 43 GUZZO, R.S.L. Novo paradigma para a formação e atuação do psicólogo es- colar no cenário educacional brasileiro. 1n: GUZZO, R. S. L. (Org.). Psicolo- gia cscolaL LDB e Educação hoje. São Paulo: Alínea, 2002. LEITE, S. A. da S. O psicólogo na Educação. Revista lnsight, n. 4, fev. 1991. MALUF, M. R. Formação e atuação do psicólogo na Educação: dinâmica de transformação. CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. Psicólogo brasi- leiro: práticas emergentes e desafios para a formação. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1994. MOREIRA, c., PERIOTTO, J.; SECCO, M. de A.; SILVA, M. B. Atendi- mento à instituição de ensino: consultoria educacional ou organizacional? Contato, Conselho Regional de Psicologia do Paraná, Curitiba, a. 25, edição n. 135, jan./fev. 2006. NOVAES, M. H. Distúrbios psicossociais do escolar. 1n: CONCEIÇÃO, J. A. (Coord.). Saúde escolar. A criança, a vida e a escola. São Paulo: Sarvier, 1994. PATTO, M. H. S. Psicologia e ideologia. São Paulo: Queiroz, 1984. ______ . A produção do fracasso escolar. São Paulo: Queiroz, 1990. SCARPIM, À.; PJMENTEL, G. M.; VENTURINI, 1.; SILVA, M. B. Assesso- ria educacional. 111: Xl Seminário de Psicologia Aplicada da PUCPR. Curitiba, novo 2001. SEVERO, M. C. Estratégias em psicologia institucional. São Paulo: Loyola, 1993. SILVA, M. B.; GALAFASSI, M. F.; GUERRA, 1.; WOLF, M. Consultoria em psicologia educacional: a experiência da ASSED/PUCPR. 1n: Anais do I En- contro Sul-Brasileiro de Psicologia, Curitiba, 2000, WECHSLER, S. M. Consultoria escolar: características básicas. Brasília: Instituto de Psicologia da Universidade de Brasília, 1989. (mimeo) WEINBERG, G. Consultoria: o segredo do sucesso. São Paulo: McGraw Hill, 1990. WITTER, G. P. Psicólogo escolar no ensino superior e a Lei de Diretrizes e Bases.1n: GUZZO, R. S. L. (Org.). Psicologia escolar: LDB e Educação hoje. São Paulo: Alínea, 2002.
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