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Iana Barbosa Martins 1 FISIOPATOLOGIA – CARDIO – MED 31 FISIOPATOLOGIA DA HIPERTENSÃO Iana Barbosa Martins – MED 31 GERAL Doença Vascular Hipertensiva Características • Hipertensão arterial (HA) é condição clínica multifatorial caracterizada por elevação sustentada dos níveis pressóricos ≥ 140 e/ou 90 mmHg. Frequentemente se associa a distúrbios metabólicos, alterações funcionais e/ou estruturais de órgãos-alvo, sendo agravada pela presença de outros fatores de risco (FR), como dislipidemia, obesidade abdominal, intolerância à glicose e diabetes melito (DM). • Mantém associação independente com eventos como morte súbita, acidente vascular encefálico (AVE), infarto agudo do miocárdio (IAM), insuficiência cardíaca (IC), doença arterial periférica (DAP) e doença renal crônica (DRC), fatal e não fatal. • Histologicamente, a hipertensão está associada com o espessamento das paredes arteriais, causado pelos depósitos hialinos e, em muitos casos, pela proliferação de células musculares lisas e a reduplicação de membranas basais. • PA é uma variável distribuída continuamente (como estatura e peso) e os efeitos prejudiciais da PA elevada aumentam à medida que a pressão se eleva. • A pressão arterial sofre variações circadianas: durante a madrugada, por exemplo, as cifras são mais baixas. • Exercícios físicos, estresse e frio elevam a pressão arterial. • Influência da idade: é mais baixa em crianças e, em situações normais, sobe gradualmente com o passar dos anos. • As pressões arteriais sistêmicas e local nos tecidos precisam ser mantidas dentro de uma faixa estreita. • Hipotensão resulta em perfusão inadequada dos órgãos e pode levar à disfunção ou à morte tecidual. • Hipertensão pode causar danos aos órgãos-alvo, um dos maiores fatores de risco para arteriosclerose. • Se mantém assintomática até a fase tardia. Mesmo pressões acentuadamente elevadas podem ficar clinicamente silenciosas por anos. • Respostas diferentes em diferentes pessoas; em algumas, os valores sobem mais do que em outras frente a um estímulo qualquer - hipertensão lábil; aqueles que o apresentam têm maior risco de desenvolver HA crônica e persistente. • Hipertensão continuada exige a participação do rim, que normalmente responde à hipertensão eliminando sal e água. • Na hipertensão estabelecida, o aumento do volume sanguíneo e o aumento da resistência periférica contribuem para o aumento da pressão arterial. • Sem tratamento aproximadamente 50% dos hipertensos morrem de doença cardíaca isquêmica (DCI) ou de insuficiência cardíaca congestiva. 1/3 morre de AVC. • Tratamento com fármacos que reduzem a PA diminui muito a incidência de óbitos por todas as complicações relacionadas com a hipertensão. • Hipertensão mais grave é quando a diastólica está mais alta. Riscos • Não há um limiar rígido definido de PA que indique pacientes com risco de doenças cardiovasculares. • Risco: PAD sustentada acima de 89 e PAS sustentada acima de 139 estão associadas ao risco de arteriosclerose. • Limites de risco mais baixos são aplicados quando há outros fatores de risco como DM. • 5% tem hipertensão secundária: resultante de doença renal ou suprarrenal adjacente (aldosteronismo primário, síndrome de Cushing ou feocromocitoma), estenose da artéria renal. • 90 a 95% da hipertensão é idiopática – hipertensão essencial. Causas • As vias moleculares que regulam a PA são bem compreendidas, mas as causas da hipertensão na maioria dos indivíduos ainda são desconhecidas, sendo a hipertensão uma doença multifatorial resultante do acúmulo de efeitos de vários polimorfismos genéticos e interação de fatores ambientais. • Prevalência e vulnerabilidade da HAS aumentam com a idade e são maiores entre os afro-americanos. Sintomas • É uma doença caracterizada por ser assintomática, de modo que o indivíduo pode não saber ser portador da doença. Porém, sintomas como dor de cabeça, falta de ar, enjôos, visão turva que pode estar acompanhada de zumbidos, debilidade, sangramento pelo nariz, palpitações e até desmaios, podem ser verificáveis. Consequências • Pode causar aterosclerose, hipertrofia cardíaca, insuficiência cardíaca (cardiopatia hipertensiva), Iana Barbosa Martins 2 FISIOPATOLOGIA – CARDIO – MED 31 demência vascular, dissecção da aorta e insuficiência renal. • Hipertensão maligna: aproximadamente 5% tem uma PA com elevação rápida que se não tratada leva a óbito em 1 ou 2 anos. Caracterizada por hipertensão grave (Sistólica acima de 20 e diastólica acima de 120), insuficiência renal, hemorragias e exsudatos na retina com ou sem papiledema. Pode se desenvolver em pessoas normotensas. Mais frequente superposta a uma hipertensão benigna preexistente. CLASSIFICAÇÃO A hipertensão arterial pode ser classificada segundo: suas causas; aspectos hemodinâmicos; características clínicas e prognósticas. Mascarada, sistólica e isolada. Hipertensão secundária: quando a HA é causada por doenças conhecidas (p. ex., afecções endócrinas ou renais). Hipertensão primária ou essencial: cerca de 90% dos casos, porém, não existe uma causa evidente, caracterizando-a. Em termos hemodinâmicos HA é subdividida em: • HA causada por aumento da resistência vascular periférica: quando o tônus vascular está aumentado, o que se reflete em pressão diastólica acima do normal; • HA provocada por aumento do volume circulante. Aumento de volemia provoca aumento do débito cardíaco e, em consequência, da pressão sistólica, enquanto a pressão diastólica (resistência periférica) permanece inicialmente normal. Indivíduos com hipertensão lábil podem apresentar esse quadro, o que sugere que, pelo menos em alguns casos, a hipertensão essencial se inicia com débito cardíaco aumentado. Com o tempo, o débito cardíaco normaliza-se, enquanto a resistência periférica aumenta é mantida pelo aumento da resistência periférica); • HA resultante da perda de elasticidade dos vasos Que ocorre em indivíduos idosos com aterosclerose da aorta. Em condições normais, o volume sanguíneo ejetado a cada sístole causa dilatação da aorta, que assim "amortece" o efeito de ganho em volume; quando é mais rígida, a parede da aorta não consegue "absorver" o ganho em volume e a pressão sistólica sobe. Evolução ou prognóstico HA pode ser benigna ou maligna ou acelerada. • HA benigna, que corresponde à grande maioria dos casos, as cifras tensionais não são muito elevadas (a diastólica mantém-se abaixo de 1 10 mmHg), as complicações graves só ocorrem tardiamente e os pacientes evoluem por vários anos ou décadas (média de 20 anos). Na maioria dos casos, os pacientes são assintomáticos ou apresentam manifestações inespecíficas, como cefaleia, tontura e cansaço. • HA maligna é grave, pois as cifras tensionais são muito altas (a diastólica em geral ultrapassa 120 mmHg) e as complicações são comuns. Os pacientes comumente apresentam cefaleia (geralmente occipital), distúrbios da visão, alterações ao exame do fundo de olho (exsudatos, hemorragias e papiledema), insuficiência renal, falência cardíaca e encefalopatia hipertensiva. A HA maligna não é uma doença em si e, na maioria das vezes, representa o agravamento de uma HA crônica (essencial ou secundária) preexistente. Se não for tratada, apenas 25% dos pacientes sobrevivem mais de 1 ano. Em 75% dos casos, existe elevação dos níveis de renina e de angiotensinas I e II. FATORES DE RISCO Hipertensão essencial ou idiopática Hipertensão essencial surge, em geral, entre 35 e 45 anos de idade; é mais comum em mulheres do que em homens, porém a taxa de mortalidade é 1,5 a 2,0 vezes maior no gênero masculino. Existe consenso entre os estudiosos de que a hipertensão essencial resulta da interação de fatores genéticos com componentes ambientais. Fatores genéticos. • A suscetibilidade genética para HA é heterogênea e complexa. • Em gêmeos univitelinos,os níveis pressóricos são muito semelhantes. • Quando os pais são hipertensos, os filhos correm alto risco de também desenvolver HA (em até 75% dos casos de HA, há história familia). • Afro-americanos (porém geralmente não os africanos) são duas vezes mais afetados que caucasianos e têm maior incidência de complicações cardíacas, cerebrovasculares e renais. Fatores ambientais. Iana Barbosa Martins 3 FISIOPATOLOGIA – CARDIO – MED 31 • Moradores de cidades têm níveis pressóricos mais elevados do que os que vivem em áreas rurais; quando estes se mudam para as cidades, passam a ter maior risco de desenvolver HA. • Estresse atue mediante aumento de hormônios circulantes (p. ex., catecolaminas) que elevam a resistência vascular periférica. • Obesos têm maior chance de desenvolver HA, possivelmente por causa da hiperinsulinemia decorrente de resistência à insulina. Sódio, lipídios, fibras (carboidratos complexos), álcool, cafeína. Hipertensão secundária Hipertensão arterial secundária associa-se a doenças variadas, sobretudo renais e endócrinas. Hipertensão renal: • Doenças renais são a causa mais comum de hipertensão arterial secundária. • Hipertensão renovascular é provocada por estenose da artéria renal por aterosclerose, displasia fibromuscular, trombose, vasculite, dissecação da aorta que se estende ao óstio da artéria renal ou compressão extrínseca. Nas fases iniciais do processo, há aumento de renina e angiotensina II, que não ocorre na fase crônica. O diagnóstico de estreitamento na artéria renal e sua correção cirúrgica na fase inicial curam a hipertensão. • Hipertensão renoparenquimatosa associa-se a doenças renais crônicas como glomerulonefrites, doença policística, nefropatia diabética e insuficiência renal, nas quais ocorre destruição progressiva do parênquima renal. A retenção de sódio e água leva a aumento do volume circulante e a hipertensão arterial. Discute- se ainda a participação de mecanismos adicionais, como inativação de vasodilatadores circulantes, liberação de vasoconstritores ainda não conhecidos ou incapacidade do parênquima renal de produzir substâncias vasodilatadoras. Hipertensão endócrina: • O feocromocitoma, neoplasia da medular da suprarrenal que sintetiza adrenalina, causa HA por liberar catecolaminas. • No hiperaldosteronismo primário (síndrome de Conn), o paciente tem quase sempre um adenoma da cortical da suprarrenal que produz mineralocorticoides, os quais causam retenção de sódio e água e perda de potássio. • Na síndrome de Cushing, existe excesso de glicocorticoides e, eventualmente, de mineralocorticoides, os quais provocam retenção de sódio e água. • Remoção cirúrgica dos tumores que causam essas doenças endócrinas corrige a hipertensão arterial. • Cerca de um terço dos pacientes com acromegalia (causada geralmente por adenoma hipofisário) tem hipertensão arterial; os níveis tensionais correlacionam-se com a taxa plasmática de hormônio somatotrófico. • Hipertensão arterial pode ser encontrada também em pacientes com hipertireoidismo. Hipertensão doenças cardiovasculares: • Doenças cardíacas ou de grandes vasos podem causar HA. Insuficiência aórtica, fístulas arteriovenosas ou comunicação interatrial provocam hipertensão arterial por aumento do débito cardíaco. Como já foi comentado, aterosclerose difusa da aorta provoca redução da elasticidade arterial e hipertensão sistólica. Hipertensão neurogênica • Alterações nos barorreceptores. Aterosclerose no seio carotídeo pode alterar o controle homeostático da pressão arterial e assim aumentar os níveis pressóricos; • Hipertensão intracraniana (por tumores, edema etc.) provoca redução da perfusão sanguínea, hipóxia e isquemia cerebral, especialmente no tronco encefálico; • Por mecanismo de contrarregulação, aumenta-se a pressão arterial sistêmica, que por sua vez melhora a perfusão intracraniana. • Estados de estresse, emoções fortes ou apneia durante o sono também podem aumentar a pressão arterial. Hipertensão e gravidez • Em cerca de 10 a 15% das gestações, as mães apresentam hipertensão arterial, que pode ser devida a: (1) hipertensão arterial que já existia mas que não era conhecida; (2) hipertensão arterial induzida pela gravidez; (3) pré-eclâmpsia/eclâmpsia. A pré-eclâmpsia, que aparece após a 16ª semana de gestação, é definida como a hipertensão arterial que surge na gravidez e se acompanha de proteinúria e edema, que regridem após o parto. Parece que a doença decorre de anormalidades no processo de Iana Barbosa Martins 4 FISIOPATOLOGIA – CARDIO – MED 31 invasão do trofoblasto nas artérias espiraladas do miométrio, resultando em isquemia placentária, considerada o evento determinante da préeclâmpsia (ver Capítulo 19). Em roedores, inibição da síntese do NO causa uma síndrome muito semelhante à pré- eclâmpsia. A pré-eclâmpsia pode evoluir para eclâmpsia, que, além de hipertensão arterial, manifesta-se também por distúrbios da coagulação e convulsões, podendo ser fatal. Hipertensão arterial durante a gravidez é responsável por cerca de 30% das mortes maternas e por cerca de 20% dos óbitos fetais ou neonatais. Epidemiologia no Brasil No Brasil atinge 25 a 30% da população adulta, mas pode chegar a mais de 50% dos idosos, nas crianças e adolescentes estima-se que o acometimento é de 4%. Além disso, é responsável por 40% das mortes por acidente vascular cerebral, por 25% das mortes por doença arterial coronariana e, em combinação com o diabete, 50% dos casos de insuficiência renal. A HAS apresenta uma alta morbimortalidade sendo considerado um problema de saúde publica mundial. REGULAÇÃO DA PA PA é uma função do débito cardíaco e da resistência vascular periférica, ambas influenciadas por múltiplos fatores genéticos e ambientais. Quem influencia na PA A pressão arterial (PA) depende essencialmente de duas variáveis hemodinâmicas: débito cardíaco (DC) e resistência vascular periférica (RVP), segundo a fórmula: PA = DC x RVP • Débito cardíaco é uma função do volume sistólico e da frequência cardíaca. Pressão de enchimento: determinante mais importante do volume sistólico, regulada pela homeostase do sódio e seu efeito no volume sanguíneo. A FC e a contratibilidade miocárdica: segundo fator que afeta o volume sistólico, são controlados pelos sistemas α e adrenérgicos – importante efeito no tônus vascular. O débito cardíaco é função da frequência cardíaca e do volume sistólico; este depende, entre outros fatores, do volume circulante e, portanto, da quantidade de sódio no organismo. • Resistência periférica é regulada de forma predominante no nível das arteríolas por estímulos neurais e hormonais. Tônus vascular reflete o equilíbrio entre vasoconstritores (angiotensina II, catecolaminas e endotelina) e vasodilatadores (citinas, prostaglandinas e óxido nítrico). Autorregulação: os vasos de resistência possuem, por meio da qual o aumento do fluxo sanguíneo induz Iana Barbosa Martins 5 FISIOPATOLOGIA – CARDIO – MED 31 vasoconstrição para proteger o tecido da hiperperfusão. PA é ajustada pelo pH tecidual e pela hipoxia para acomodar as demandas metabólicas locais. A resistência vascular periférica depende do estado de contração (tônus) das arteríolas e pequenas artérias e é controlada por fatores humorais, nervosos e metabólicos, sendo sensível a mecanismos de autorregulação: nos estados de hiperfluxo, por exemplo, surge vasoconstrição que evita hiperperfusão nos tecidos. Características da regulação da PA: Fatores liberados pelos rins, suprarrenais e miocárdio interagem para modificar o tônus vascular e para regular o volume sanguíneo através do ajuste do equilíbrio de sódio. Rins filtram 170L de plasma contendo 23 mols de sal diariamente. Uma quantidade do sal filtrado deve ser reabsorvido para manter níveis totais de Na no corpo. Aproximadamente 98% do sódio filtrado éreabsorvido pelos transportadores de Na constitutivamente ativos. Pequena quantidade de Na remanescente está sujeita a reabsorção pelo canal epitelial de Na (EnaC), regulado de forma precisa pelo sra – via que determina o equilíbrio de Na. Quem age na regulação da PA Rins e coração têm células que sentem alterações no volume ou PA. Os rins têm papel importante na regulação do volume circulante e, portanto, na pressão arterial Em resposta, essas células liberam efetores circulatórios que agem em conjunto para manter a PA normal. Rins influenciam a resistência periférica e a excreção/retenção de Na primariamente através do SRA. • Renina: enzima proteolítica produzida pelas células justaglomerulares renais – celular mioepiteliais que envolvem as arteríolas aferentes glomerulares. Liberada como resposta à baixa pressão arterial em arteríolas aferentes, a níveis elevados de catecolaminas da circulação ou a baixos níveis de Na nos túbulos contorcidos renais – quando a taxa de filtração glomerular cai (baixo debito cardíaco), levando ao aumento da reabsorção de Na pelos túbulos proximais. Como acontece a regulação: 1. A renina, secretada pelas células justaglomerulares cliva o angiotensinogênio plasmático em angiotensina I, que por sua vez é convertida em angiotensina II pela enzima conversora de angiotensina (ECA), produzida pelo endotélio vascular. 2. Angiotensina II aumenta a pressão arterial por (1) induzir a contração vascular (resistência vascular), (2) estimular a secreção de aldosterona pela glândula suprarrenal, e (3) aumentar a reabsorção tubular de sódio. 3. Aldosterona da suprarrenal eleva a pressão arterial aumentando a reabsorção de sódio (e também de água) nos túbulos contorcidos distais, resultando no aumento do volume sanguíneo. 4. O rim também produz várias substâncias relaxantes vasculares (incluindo as prostaglandinas e o NO), que presumivelmente contrabalançam os efeitos vasopressores da angiotensina. 5. Peptídios natriuréticos miocárdicos são liberados do miocárdio atrial e ventricular em resposta à expansão do volume; isto inibe a reabsorção de sódio nos túbulos renais distais, resultando na excreção do sódio e diurese. Eles também produzem vasodilatação sistêmica. Regulação da Pressão Arterial e o SN O sistema nervoso central também participa na regulação da pressão arterial mediante regulação da homeostase da água e dos eletrólitos e, via sistema nervoso autônomo, do tônus vascular. Aumento da pressão arterial provoca distensão da parede arterial que, por sua vez, estimula barorreceptores, os quais, por meio de um reflexo (centros vagais no bulbo), ativam o nervo vago e inibem a atividade simpática; em indivíduos idosos, perda da elasticidade da parede arterial impede o bom funcionamento desse reflexo. O hipotálamo também atua no controle da pressão arterial: aumento de atividade da porção posterolateral eleva, enquanto estímulo da região anterior reduz a PA. Hiperatividade simpática aumenta a PA (p. ex., em emoções). Regulação da PA e o Coração Nos átrios (e, em situações especiais, também no miocárdio ventricular) ocorrem síntese e liberação de fatores natriuréticos que induzem diurese e vasodilatação, contribuindo para a homeostase do sódio e do volume extracelular. Regulação da PA e Vasos Nos vasos, o endotélio tem papel fundamental no controle da pressão arterial, pois sintetiza endotelinas (vasoconstritores potentes), prostaciclina e óxido nítrico (vasodilatadores); ambos exercem papel fundamental na regulação do tônus vascular e, portanto, da PA. Iana Barbosa Martins 6 FISIOPATOLOGIA – CARDIO – MED 31 Inibição da síntese do óxido nítrico (NO), por exemplo, provoca hipertensão arterial. Insulina em concentração elevada causa maior reabsorção de sódio e aumenta a taxa de catecolaminas, ambos fatores que elevam a pressão arterial. Prostaglandinas atuam como hipotensores, por reduzirem a liberação de noradrenalina, diminuir a vasoconstrição provocada pela angiotensina II e aumentar a natriurese. Resumo da Regulação da Pressão Arterial • A PA é determinada pela resistência vascular e débito cardíaco. • A resistência vascular é regulada ao nível de arteríolas, influenciada por estímulos neurais e hormonais. • O débito cardíaco é determinado pela frequência cardíaca e pelo volume sistólico, que é influenciado significativamente pelo volume sanguíneo. • O volume de sangue é regulado, principalmente, pela excreção ou reabsorção renal de sódio. • A renina, um dos principais reguladores de pressão arterial, é secretada pelos rins em resposta à queda da pressão arterial nas arteríolas aferentes. • A renina cliva angiotensinogênio em angiotensina I que é convertida em angiotensina II, reguladora da pressão arterial por aumentar o tônus das células musculares lisas vasculares e a secreção de aldosterona pela suprarrenal, elevando a reabsorção renal de sódio. PATOGENIA DA HIPERTENSÃO Hipertensão é uma doença com múltiplos componentes genéticos e ambientais. 90 a 95% da hipertensão é essencial ou idiopática. Supõe-se que múltiplas pequenas alterações na homeostase do sódio/renal e/ou no tônus ou estrutura das paredes vasculares agem em combinação, causando-a. Patogenia da hipertensão secundária Em muitas formas da HS, os mecanismos básicos são entendidos. • Hipertensão renovascular: Estenose da artéria renal causa diminuição do fluxo glomerular e da pressão na arteríola aferente. Isso induz a secreção de renina, aumentando o tônus vascular e o volume sanguíneo através da via AA. Disturbios monogenéticos causam formas graves, porem raras. • Defeitos genéticos afetando enzimas no metabolismo da aldosterona (aldosterona sintase, 11βhidroxilase, 17α-hidroxilase) Levam a um aumento na secreção de aldosterona, aumento da reabsorção de sal e água, expansão do volume plasmático e hipertensão. Hiperaldosteronismo primário é uma das causas mais comuns de hipertensão secundária. • Mutações afetando proteínas que influenciam a reabsorção de sódio: A forma moderadamente grave de hipertensão sensível ao sal, chamada síndrome de Liddle, é causada por mutações tipo “ganho de função” numa proteína do canal epitelial de Na + que aumenta a reabsorção tubular distal de sódio induzida pela aldosterona. Patogenia da Hipertensão Essencial • Fatores genéticos: Influenciam a regulação da pressão arterial, conforme apresentado pelas comparações entre gêmeos monozigóticos e dizigóticos, e crianças com relações genéticas vs. crianças adotadas. Vários distúrbios monogenéticos causam formas relativamente raras de hipertensão (e hipotensão), alterando a reabsorção final de sódio no rim. Suspeita-se também (sem comprovação) que as variações na pressão arterial possam resultar de efeitos cumulativos dos polimorfismos em vários genes que afetam a pressão arterial; por exemplo, variantes sequenciais nos genes receptores de angiotensinogênio e angiotensina foram associadas com a hipertensão em alguns estudos. • Redução da excreção de sódio na presença de pressão arterial normal Pode ser um evento-chave iniciante na hipertensão essencial e uma via final comum para a patogenia da hipertensão. Diminuição da excreção de sódio pode levar sequencialmente a um aumento no volume de líquido, aumento do débito cardíaco e à vasoconstrição periférica, elevando a PA. Na pressão arterial mais alta, é excretado sódio adicional suficiente pelos rins para igualar o consumo e impedir maior retenção hídrica. Desse modo, um novo estado de equilíbrio de sódio seria atingido (“reajuste da natriurese de pressão”), porém à custa de um aumento da pressão arterial. • Influências vasoconstritoras Fatores que induzem vasoconstrição ou estímulos que causam alterações estruturais na parede do vaso, podem levar a um aumento da resistência periférica e também podem desempenhar um papel na hipertensão primária.• Fatores ambientais Estresse, obesidade, tabagismo, inatividade física e alto consumo de sal, estão implicados na hipertensão. Na verdade, é particularmente impressionante a Iana Barbosa Martins 7 FISIOPATOLOGIA – CARDIO – MED 31 ligação do nível de consumo de sódio na dieta com a prevalência de hipertensão em diferentes populações. Patologia vascular na hipertensão Ahipertensão não apenas acelera a aterogênese (ver adiante), mas também causa alterações degenerativas nas paredes das grandes e médias artérias, o que pode levar à dissecção da aorta e à hemorragia cerebrovascular. A hipertensão também está associada com duas formas de doenças em pequenos vasos: arteriolosclerose hialina e arteriolosclerose hiperplásica. Arteriolosclerose hialina As arteríolas mostram espessamento hialino homogêneo e róseo com estreitamento da luz associado (Fig. 11-6A). Essas alterações refletem o extravasamento de proteínas plasmáticas através das células endoteliais lesadas e o aumento da síntese da matriz pelas células musculares lisas em resposta ao estresse hemodinâmico crônico da hipertensão. Embora os vasos de pacientes mais velhos (geralmente normo ou hipertensos) também frequentemente mostrem arteriosclerose hialina, esta é mais generalizada e mais intensa nos pacientes com hipertensão. As mesmas lesões também são uma característica comum da microangiopatia diabética; neste caso, a etiologia de base é a disfunção de células endoteliais induzida pela hiperglicemia (Cap. 24). Na nefrosclerose causada por hipertensão crônica, o estreitamento vascular pela arteriosclerose hialina causa comprometimento difuso da irrigação renal e cicatrizes glomerulares (Cap. 20). Arteriolosclerose hiperplásica Esta lesão ocorre na hipertensão grave; os vasos exibem o espessamento laminar e concêntrico (“lesões em casca de cebola”) das paredes e estreitamento da luz (Fig. 11-6B). As laminações consistem em células musculares lisas com membranas basais espessadas e reduplicadas; na hipertensão maligna, elas são acompanhadas por depósitos fibrinoides e necrose da parede dos vasos (arteriolite necrosante), particularmente no rim
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