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Unidade IV - Introdução à saúde psicológica do trabalhador

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Saúde do Trabalhador
Material Teórico
Responsável pelo Conteúdo:
Profa. Esp. Erika Gambeti Viana de Santana
Revisão Textual:
Profa. Ms. Fátima Furlan
Introdução à saúde psicológica do trabalhador
• Introdução
• A Trajetória do Trabalho
• O Trabalho na Atualidade
• Saúde Mental, Psicologia e Trabalho
 · Passar aos alunos as possíveis doenças que podem ser agravadas com 
as atividades exercidas pelos trabalhadores e também as doenças 
psíquicas que podem ser causadas devido ao ambiente profissional 
inadequado.
OBJETIVO DE APRENDIZADO
Introdução à saúde psicológica do trabalhador
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem 
aproveitado e haja uma maior aplicabilidade na sua 
formação acadêmica e atuação profissional, siga 
algumas recomendações básicas: 
Assim:
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte 
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e 
horário fixos como o seu “momento do estudo”.
Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar, lembre-se de que uma 
alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo.
No material de cada Unidade, há leituras indicadas. Entre elas: artigos científicos, livros, vídeos e 
sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você também 
encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua 
interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados.
Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discussão, 
pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato 
com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e aprendizagem.
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte 
Mantenha o foco! 
Evite se distrair com 
as redes sociais.
Mantenha o foco! 
Evite se distrair com 
as redes sociais.
Determine um 
horário fixo 
para estudar.
Aproveite as 
indicações 
de Material 
Complementar.
Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar, lembre-se de que uma 
Não se esqueça 
de se alimentar 
e se manter 
hidratado.
Aproveite as 
Conserve seu 
material e local de 
estudos sempre 
organizados.
Procure manter 
contato com seus 
colegas e tutores 
para trocar ideias! 
Isso amplia a 
aprendizagem.
Seja original! 
Nunca plagie 
trabalhos.
UNIDADE Introdução à saúde psicológica do trabalhador
Introdução
A Psicologia Aplicada ao Trabalho surgiu no início do século XX para abranger 
a área de conhecimento do cenário brasileiro e desde então vem se aperfeiçoando. 
Essa área teve sua evolução em cima das diferentes metodologias adotadas, visando 
sempre atender aos desafios e problemas deflagrados nos diversos contextos 
políticos, sociais e econômicos dentro de sua prática (Bastos, 2003; Sampaio, 
1998). Zanelli (1994a) e Azevedo (1995) defendiam que dentro do que engloba as 
mudanças significativas no do universo laboral estão a reestruturação da produção e a 
ampliação do espaço de intervenção dos psicólogos dentro do ambiente ocupacional 
por conta da preocupação com o bem estar e saúde dos trabalhadores. Segundo 
os estudos de Zanelli (1994b), para identificação dos movimentos emergentes 
referente às práticas que estão sendo utilizadas pelos psicólogos brasileiros dentro 
das empresas, conseguiu apresentar a conclusão de que o eixo principal é a mudança 
de um fazer técnico para que se tenha uma atuação mais estratégica. Com isso será 
possível uma integração entre as práticas atuais com a busca da qualidade de vida 
e saúde dos trabalhadores. Mas, mesmo com a abrangência dos estudos sobre 
essa formação e atuação dos psicólogos do trabalho, pode-se verificar que existe 
uma carência de estudos para complementar a atuação desses profissionais no 
que diz respeito à saúde do trabalho assim defendiam: Façanha, 2003; Venturi, 
1996; Zanelli, 1994a; Bastos, 1992; Malvezzi, 1979. A partir de pesquisas, foi 
percebido que os graduados em psicologia veem o psicólogo do trabalho como um 
profissional que ajuda a melhorar a vida e o ambiente laboral, associando isso à 
qualidade de vida (Campos e Lamônaco, 2003). Por isso, os estudos apontam que 
os profissionais dessa área precisam focar ainda mais nas preocupações do bem-
estar e da saúde dos trabalhadores, o que pode-se dizer ser uma visão mais próxima 
dos quadros atuais relacionados ao trabalho.
A Psicologia voltada para o trabalho vem passando por grandes evoluções 
ao longo do tempo, sendo estas divididas em três momentos distintos segundo 
Sampaio (1998). O primeiro é chamado de Psicologia Industrial, está focado no 
social e na revolução industrial a partir do inicio do século XX, sendo caracterizado 
pela maximização da produção e sendo influenciado pela visão de Taylor referente 
ao controle da produção. Este momento é mais focado em atender as necessidades 
industriais, trazendo uma adaptação aos trabalhadores em relação as suas atividades 
e também tendo como foco a inserção e seleção dos profissionais amparado pela 
base da psicologia. Então, a preocupação da Psicologia estava mais focada no 
aumento da eficiência e do desenvolvimento de estudos e pesquisas voltadas para 
a ampliação do rendimento humano no trabalho.
Outros fatores que repercutiam na produtividade foram observados e se 
tornaram importantes, além do intuito de adaptar o homem à máquina. A 
Psicologia Industrial passou a voltar-se para a comunicação, o funcionamento 
dos grupos e para a motivação, entre outros. Essa psicologia encontrou espaço 
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favorável para aprimorar suas técnicas de seleção de pessoal e treinamento 
após a segunda guerra mundial, o que contribuiu bastante para consolidar a 
área. Mas, os modelos e práticas atuais já não atendiam de forma eficaz este 
novo momento, por conta das diversas transformações econômicas e sociais, 
demandando mudanças para que se tivesse um momento produtivo e emergente. 
Agora o momento é chamado de organizacional. A Psicologia Organizacional 
tem seu surgimento por conta da necessidade do desenvolvimento instrumental 
teórico e prático para se intervier na organização e sua estrutura. A psicologia 
organizacional, segundo Sampaio (1988), não se trata de algo radical, mas sim, 
ampliar o nível de atuação, pois a produtividade ainda era o foco. As criticas ainda 
eram muitas em relação a esse modelo devido seu caráter tecnocrático, de sua 
orientação para produtividade e eficácia e também na busca pelo amortecimento 
das tendências de divisões de classes.
Uma série de estudos das diversas áreas é favorecida a partir da década de 70, 
por conta das mudanças sociais e econômicas. A área administrativa é uma delas, 
onde as teorias estudadas alimentam um caráter mais crítico e explicativo sobre a 
organização do trabalho e em relação ao seu maior elemento que é o trabalhador. 
A partir daí que surge o pilar que faltava para o terceiro momento da psicologia 
do trabalho, que vem da Sociologia e da Administração. O ponto central desse 
momento é o trabalho, seus significados e as manifestações que ele traz. Passamos 
a colocar a produtividade de lado e adquirir a preocupação em relação à promoção 
da qualidade de vida e da saúde do trabalhador, demandando o reposicionamento 
dos psicólogos, a partir do momento que a compreensão do homem que trabalha 
é o mais importante.
A psicologia do Trabalho é formada por duas escolas diferentes: escola anglo-
saxã, que trata de assuntos relacionados ao estresse laboral conforme definição 
de Sampaio (1998) e a escola Latina, que traz conceitos da Psicanálise e da 
Sociologia segundo Dejours (1998,1994). Trata-se de um vasto campo de estudos 
e informações que foram se ampliando ao longo das décadas e se consolidando 
ainda mais em relação às pesquisas, se bem que, podemos dizer que essa evolução 
acabou sendo bem mais incorporativa do que seletiva. As três faces acabam 
se misturando por conta dos instrumentos e práticasque são utilizados dentro 
dos vários contextos em sua construção. Portanto, dentro da Psicologia do 
Trabalho temos dois sentidos, um da Psicologia Industrial e o outro da Psicologia 
Organizacional, sendo constituído pelo stricto-sensu de forma genérica e fazendo 
a inter-relação das três faces que se completam em suas práticas profissionais 
conforme Sampaio (1998).
A investigação sobre o designar das práticas contemporâneas dos psicólogos 
atuantes nas organizações é a definição de Psicologia do Trabalho.
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UNIDADE Introdução à saúde psicológica do trabalhador
A Trajetória do Trabalho
Em toda a história podemos observar que o trabalho está presente na vida do 
homem, variando em relação às sociedades apenas pela concepção da atividade 
laboral. No caso das primitivas, essas tinham o trabalho como algo de subsistência, já 
com as sociedades greco-romanas, o trabalho passou a ser uma atividade organizada 
e estruturada. A representação de labor que essas sociedades tinham é de algo passivo 
e submisso ao ritmo da natureza e de forças não controláveis. Segundo Albornoz 
(2002), na cidade grega, encontramos a democracia igualitária, cujos cidadãos eram 
tidos como livres, portanto os que não estavam entre esses eram os que deviam 
trabalhar. Durante o período romano essa era a forma que predominava. 
Ocorre uma alteração bem significativa na vida social após a desestruturação do 
império romano. Os escravos agora são reconhecidos como servos tendo assim 
alguns direitos e deveres em relação aos seus senhores feudais. Os princípios da 
judaico-cristã passam a ser colocados pela Igreja nesse período e interfere no sistema 
social, trazendo o trabalho como salvação divina e castigo pelo pecado original. 
Com isso era colocado que por conta do homem e da mulher não serem mais 
inocentes como no paraíso, eram castigados e precisavam conquistar o pão com 
o próprio suor. No século XVI, ocorre a Reforma Protestante que leva a outra 
categoria de compreensão sobre o trabalho, que passa a ser entendido, como o 
caminho religioso para a salvação, portanto uma virtude para a vida social. Essa 
concepção toma força e a partir do desenvolvimento social e tecnológico abre 
espaço para um tipo de organização social chamada de capitalista. Essa Sociedade 
Capitalista traz muitas mudanças no cenário, nos fazendo entender e organizar 
a atividade laboral assumida, sendo então possível conhecer as características na 
contemporaneidade.
O Trabalho na Atualidade
A Terceira Revolução Industrial nas últimas décadas trouxe o avanço 
da globalização e repercutiu por todo o mundo do trabalho. Foram muitas 
transformações econômicas, políticas e sociais sofridas pela globalização 
da economia. A produtividade de qualidade passou a ser o foco por conta da 
competição sem fronteiras, exigindo assim a qualificação dos trabalhadores. No 
inicio da década de 80, dá-se início a reestruturação produtiva, a fim de atender 
as novas demandas do trabalho, assumindo a produção de Taylor e Ford, 
surgindo assim no vas práticas produtivas e também novos modelos de gestão 
destacados pela produtividade máxima, o desafio contínuo e a competição com 
qualidade total (Goulart e Guimarães, 2002). Após o enfraquecimento deste 
modelo, o desempenho do trabalhador passa a ser mais enfatizado, tornando-
se fundamental para a produtividade, deixando de ser representada pela 
racionalização e controle, e sim por meio de técnicas e domínio comportamental 
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(controle psicológico). Esses novos modelos tem por objetivo controlar de forma 
sutil e invisível os trabalhadores, utilizando estímulos psicológicos e sociais, com 
isso se tem o condicionamento da colaboração espontânea e o alcance de seus 
objetivos organizacionais (Oliveira, 2001). Influenciado pela tecnologia, o cenário 
atual das organizações traz um ambiente voltado para o controle da produtividade, 
na delegação da responsabilidade e na descentralização de decisões, mostrando 
uma suposta autonomia para as realizações dos trabalhos e interferência nos 
processos de construção do conhecimento e também da consciência e conduta 
dos trabalhadores. O modelo de gestão atual era visto como uma estratégia do 
controle político e cognitivo do desempenho, buscando a criação de vínculos 
intelectuais e afetivos, visando o compromisso dos trabalhadores e os interesses 
comuns da organização.
Figura 1
Fonte: iStock/Getty Images
A intensa competição mercadológica ajuda nesse modelo de gestão, pois é 
caracterizada pelos ciclos reduzidos de produção, pelas mudanças dos trabalhos, 
visando uma maior produtividade e consolidando as tecnologias de informática. 
As organizações passam a conter os custos e diminuir o pessoal, aumentando 
a jornada de trabalho dos que ainda ficam nas organizações e aumentando as 
metas por conta da busca pela lucratividade e rendimento, esta, impulsionada pela 
economia globalizada. As estratégias empresariais como exigências de qualificação 
e produtividade, a instabilidade em relação aos direitos trabalhistas e os quadros 
de redução de trabalhadores geravam grandes impactos para os trabalhadores. 
Com a melhora dos processos e sua qualidade, com os novos conhecimentos e 
desenvolvimento, com aspectos de fortalecimento da identidade dos trabalhadores 
de suas competências e habilidades ocorreu uma reestruturação produtiva e melhora 
das condições de trabalho.
Segundo Mendes (2003), mediante contexto atual, podemos notar a falta de 
autonomia, exigência de produtividade e pela ausência de condições do crescimento 
profissional, assumindo assim um caráter de mal estar que repercute na saúde 
mental dos indivíduos.
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UNIDADE Introdução à saúde psicológica do trabalhador
Saúde Mental, Psicologia e Trabalho
Dentro de uma perspectiva objetiva, organicista e naturalista a saúde é concebida 
dentro da sociedade em que estamos inseridos, enfatizando o modelo biomédico 
segundo Gonzalez-Rey (2004). Podemos afirmar que a psicologia não é diferente.
 A Psicologia está relacionada com o processo de legitimação da disciplina 
como ciência, além de possuir uma grande influência do modelo biomédico e 
também ter conceitos naturalistas e objetivistas predominantes. No século XIX, a 
psicologia assumiu um papel mais pontual e objetivo, resultando na naturalização 
do comportamento humano, deixando o status científico e se afastando da filosofia 
dos aspectos comportamentais (González-Rey, 2004). A psicologia, segundo 
o autor acima citado, passou a enxergar a doença como do modelo biomédico, 
impregnando-se por uma visão descritiva e comportamentalista dos fenômenos, 
adotando as classificações de patologias como uma conjunção de sintomas, inclusive 
a patologia no comportamento de cada pessoa.
Nessa perspectiva se legitimavam como patológicos certos conjuntos de 
sintomas individuais, o qual definiu uma forte tendência à rotulação padronizada 
dos indivíduos em entidades despersonalizadas:
(...) Foi imposto assim, um modelo descritivo despersonalizado, que separou 
a doença do sujeito e ao mesmo tempo, do social. González-Rey, 2004.
A partir da classificação dos sintomas e comportamentos individuais a psicologia 
passou a considerar como opostos os processos de doença e saúde, sendo esses 
classificados sendo da categoria nosográficas, isso tudo negando a trama social que 
envolve os processos humanos, dentre eles o trabalho. A psicologia considera a 
realidade laboral como apenas um cenário para emergência dos problemas de saúde. 
O trabalho humano não é considerado como algo importante pelos psicólogos para 
a avaliação do sofrimento psicológico, sendo que a patologização do psíquico limita-
se apenas ao externo da vida laboral, segundo Ruiz (1999). Dentro da psicologia 
(ciência que privilegia o modelo terapêutico) o adoecimento não tem relação com o 
trabalho, fazendo com que essa categoria ficasse marginalizada. Segundo Jacques 
(1989), nesse caso é negligenciada a compreensão do comportamento por conta 
do trabalho pelo homem.
O pensamento psicológicocaracteriza a construção dos sistemas sem levar em 
conta a atividade laboral e as influências que essas causam no mundo criado pelo 
homem, isso segundo Codo et al (1993).
Dentro da psicologia os trabalhos e seus significados, passaram a ser reduzidos 
as expressões numéricas e desconsiderados como processos sociais que geram a 
saúde e as patologias. A psicologia enxerga, nos casos de adoecimento, que os 
trabalhadores não produzem mais, ao invés de pensar no sofrimento que isso gera 
a eles (Nardi, 1996).
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Durante todo o contexto laboral, a psicologia vem passando por mudanças 
devido aos desafios, à visão tradicional da psicologia e de suas demandas, fazendo 
com que o olhar tome outra dimensão em relação ao trabalho. Dejous (1988) 
enfatizava que as teorias clássicas do psiquismo tratam o trabalho como algo 
secundário, fato que gera questionamentos entre os autores, fazendo com que 
o trabalho na constituição tomasse mais importância no caso da inserção social, 
associado ao adoecimento mental e a estratégia de saúde (Jacques, 2003) e assim 
contribuindo para que à saúde do trabalhador assumisse realmente sua importância 
e o posicionamento do centro na área.
Podemos definir a saúde como a relação entre o indivíduo e as diversas atividades 
importantes de sua existência. O trabalho é uma destas atividades e se destaca por 
ser a mais significativa no âmbito psicossocial. Diversos estudos tratam da relação 
entre a saúde e o trabalho por toda a antiguidade desde a revolução industrial, que 
foi onde o trabalhador passou a cobrar por sua força de trabalho e submetido a 
duras condições impostas pelo modelo capitalista de produção (Minayo Gomez e 
Thedim-Costa, 1997). A Medicina do Trabalho e da Saúde Ocupacional, que vem do 
modelo biomédico e destaca um caráter biológico das patologias, traz um ambiente 
do trabalho considerado como algo de risco podendo desencadear doenças. Já 
por outro lado temos os modelos que focam mais na inter-relação dos processos 
saúde-doença e o trabalho, onde se destacam os fenômenos mentais (Seligmann 
Silva, 1994). Neste último caso, temos uma abordagem de que a saúde mental 
em relação ao trabalho consideram as repercussões mentais e físicas que a saúde 
traz em relação ao trabalho (MinayoGomez e Thedim-Costa, 1997), destacado-se 
dois eixos nas abordagens que dizem respeito à saúde mental e trabalho, que são 
constituídos pelas diferentes abordagens teórico-metodológicas, Tittoni (2002). 
No primeiro eixo, temos a relação entre os sintomas psicológicos e seu vinculo 
com as situações trabalhistas. Analisando estes casos, encontramos as pesquisas 
de Codo et al (1993), que traz a construção de instrumentos diagnósticos que 
possibilitaram o estabelecimento dos nexos causais que estavam entre as situações 
do trabalho e dos sintomas psicológicos, sendo esta uma abordagem bem parecida 
com a Medicina do Trabalho, mesmo sendo admitida a multicausalidade.
No segundo eixo, temos as experiências vivenciadas pelos trabalhadores em 
seus cotidianos laborais e os adoecimentos sem enfatizar o diagnóstico de doenças 
ocupacionais. A Psicodinâmica do Trabalho destaca-se nesses estudos feitos por 
Dejours e seus ajudantes (Dejours, 1988 e Dejours et al, 1994), considerando as 
vivências de sofrimento-prazer no âmbito laboral e os indicadores de saúde no 
trabalho que se destacam.
Algumas condições de trabalho podem resultar em problemas de saúde e 
adoecimento por conta da exposição a produtos químicos ou dos acidentes que 
podem ocorrer devido aos equipamentos e máquinas, agravando assim a saúde 
do trabalhador. O interessante é compreender as influências que o processo 
de trabalho podem trazer as vivências internas dos trabalhadores no campo da 
psicologia. Podemos dizer que o balanceamento entre o prazer e sofrimento das 
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UNIDADE Introdução à saúde psicológica do trabalhador
vivências, a capacidade de mobilizar os trabalhadores para relações mais prazerosas 
e gratificantes podem ser consideradas como saúde no trabalho (Mendes, 2004). No 
centro da relação entre o trabalho e o homem está o sofrimento, que é representado 
pela luta entre o indivíduo e a situação de trabalho que pode causar o adoecimento.
Não necessariamente por termos o sofrimento, teremos o adoecimento, pois 
esta patologia é decorrente de como os trabalhadores lidam com este sofrimento 
e as estratégias que utilizam de forma a adquirir um caráter patológico ou criativo 
(Mendes, 2004). Quando a organização impõe tarefas aos trabalhadores que 
paralisam a atividade psíquica faz com que ocorra o sofrimento patológico. Disso 
ainda temos as aspirações de realização dos trabalhadores e a incongruência entre 
as tarefas executadas, do livre funcionamento em relação aos conjuntos de tarefas 
e o trabalho livre, organizado e que traz satisfação, reconhecimento e identidade 
ao trabalhador traz um sofrimento criativo.
Quando o trabalho traz satisfação e o prazer, possibilita caminhos a saúde criando 
uma identidade pessoal e social e traz o reconhecimento (Mendes, 2004). A saúde 
no trabalho busca modificar as situações adversas dentro do trabalho, buscando 
transformação e prazer. Quando os trabalhadores podem buscar estratégias 
coletivas e individuais para resolver as situações diárias, encontramos a saúde que 
estamos procurando. Quando ocorre o esgotamento das tentativas do trabalhador 
de se adaptar ao trabalho no âmbito de atendimento às suas necessidades e desejos, 
temos o adoecimento e sofrimento. Visando conciliar produtividade e saúde dentro 
da relação do trabalhador com a organização em que trabalha, é que se encontra a 
busca por uma regulação e negociação.
Ao longo dos anos, o aumento dos problemas de saúde causados pelo trabalho, 
fez com que surgissem práticas ligadas à saúde coletiva, configurando o Campo da 
Saúde do Trabalhador. A Saúde do Trabalhador e suas práticas e disciplinas são 
definidas por Nardi (1999) como o grupo dos conhecimentos e práticas das diversas 
disciplinas como: psicologia, saúde pública, engenharia, medicina ocupacional e 
sociologia, possibilitando assim que o entendimento sobre saúde-trabalho seja mais 
amplo, e isso aumenta a atenção pelos trabalhadores assim como, as intervenções 
nos ambientes de trabalho. A partir de 1986, foram trazidas alterações significativas 
sobre os fatores fundamentais para este campo, que foram propostas pela VIIIª 
Conferência Nacional de Saúde e também Iª Conferência Nacional de Saúde do 
Trabalhador que foram consolidadas na Constituição Brasileira de 1988 e na Lei 
Orgânica da Saúde no ano de 1990, sendo possível uma construção da prática de 
separação das disciplinas de modo que elas proponham ações interdisciplinares, mas 
integradas (Nardi, 1997). Portanto, nasce um campo diferente do que já tínhamos 
visto propondo a regulação das relações de trabalho e saúde que estão diretamente 
ligadas a Saúde Ocupacional e a Engenharia de Segurança do Trabalho. A Saúde 
Ocupacional é a que aborda a relação entre saúde, doença e trabalho, definindo 
o ser humano como uma máquina que está sendo exposto aos agentes de risco. 
Com isso podemos dizer que as consequências que o trabalho acarreta para a 
saúde respondem a interação dos agentes externos sendo eles químicos, físicos, 
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mecânicos ou biológicos com o organismo. O trabalho pode ser visto através das 
características de intervenções que servem para adaptar o ambiente e as condições 
de trabalho com os parâmetros estabelecidos para os agentes e fatores ambientais. 
A Saúde Ocupacional procura adequar o ambiente da organização ao trabalhador 
e o trabalhador às atividades que realizarão.
Podemos dizer que a área da Saúde do Trabalhador vem contrapor a Saúde 
Ocupacional, pois se volta mais às relações da organização-divisão do trabalho que 
abrange os seguintes fatores: turnos de trabalho e suas jornadas, duração dessas 
jornadas, o que envolve as tarefas, o controle da produtividade e as consequências 
que isso traz à saúde assim como as formascomo são manifestadas através de 
doenças mentais e degenerativas (Lacaz, 2007). O trabalho agora passa a ser 
analisado de outra forma, como um processo que se insere nas relações sociais 
e de produção, isso tudo se trata de um conjunto das práticas e conhecimentos 
dando ênfase ao processo saúde-doença. É muito importante estudar os impactos 
que esse capitalismo pode exercer sobre os processos de trabalho, fazendo assim 
com que seja apresentada uma forma de alienação, subcarga e sobrecarga no 
trabalho. A Saúde do Trabalhador aborda a recuperação do lado humano das 
atividades do trabalho e a capacidade de provocar danos à saúde dos que trabalham. 
A proposta é intervir nas relações de saúde-doença-trabalho, com referência no 
surgimento da classe operária que está incluída em uma sociedade marcada pelas 
transformações políticas, sociais e econômicas. É desconstruída a visão que se tem 
do trabalhador como um ser passivo, a partir do momento que se começa a vê-lo 
como um agente de mudanças, que pensa e que tem vivências no trabalho que pode 
interferir na realidade e também tem controle da nocividade conseguindo interferir 
nas estratégias transformadoras. Uma nova forma de ver a relação entre saúde e 
trabalho é estabelecida e propõe que o trabalhador é um participante essencial para 
as ações de saúde visando a construção de novas formas de subjetivação e inserção 
laboral, que podem minimizar o sofrimento psíquico, privilegiando as medidas de 
prevenção e de intervenção que incorporam o saber do trabalhador em relação à 
maximização dos esforços e as melhorias no ambiente de trabalho, visando assim 
a proteção da saúde.
A Saúde do Trabalhador engloba um espaço onde são considerados os objetivos 
do trabalhador e sua saúde, buscando dar prioridade ao sofrimento e adoecimento 
dos grupos sociais que estão neste contexto. Portanto, é de grande valia observar as 
condições gerais de produção, da vida e do trabalho, priorizando as determinantes 
políticas, sociais, econômicas e ideológicas que descrevem bem a luta e as 
contradições que o sistema capitalista nos apresenta. A saúde do trabalhador é 
descrita por meio das condições externas e internas do ambiente de trabalho. 
Condições que são impostas aos trabalhadores no ambiente da organização.
No Brasil, a Saúde do Trabalhador tem como objetivo o compromisso de mudar 
o quadro da saúde da população que trabalha. Isso envolve o comprometimento dos 
profissionais que atuam nestas áreas e também dos setores sindicais atuantes para que 
sejam controlados os problemas de suas categorias. A Saúde do Trabalhador sendo 
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UNIDADE Introdução à saúde psicológica do trabalhador
o campo de produção de conhecimento que orienta as ações transformadoras se 
depara com novos objetivos e demandas, fazendo com que essa área esteja sempre 
em constante construção. É fundamental a incorporação de outros conceitos de 
diversos campos do conhecimento, trazendo uma proposta de integração que ajude 
na construção das interfaces e traga novos olhares sobre o assunto.
O tratamento interdisciplinar traz conceitos de dois tipos de análise, que abrange 
todo o contexto, cultural, político, social e econômico, sendo estes que estipulam 
como serão as características dos processos que envolvem o trabalho e a repercussão 
que traz aos trabalhadores, segundo o que diz Gomes e Thedim Costa (1997).
A Psicologia voltada para os assuntos do mundo do trabalho apresenta diferentes 
denominações e também diversas definições que possuem diferentes posições 
sobre o campo. Aplicar os princípios da psicologia às organizações e ao ambiente 
de trabalho é o que constitui essa Psicologia aplicada ao trabalho (Spector, 2006). 
Este campo possui diversos aspectos e está dedicado a organizar da melhor forma 
os funcionários e também gerencia a eficiência da organização, ajudando assim a 
cuidar da saúde e do bem-estar dos trabalhadores. 
As diretrizes da American Psicological Association (APA) traz a definição de que 
a Psicologia do Trabalho é a forma de aplicar a teoria e metodologia psicológica 
aos problemas diários das empresas e também aos problemas individuais e coletivos 
dentro do ambiente organizacional (Krumm, 2005).
Essa área apresenta a compreensão sobre as atividades de produtividade 
e seleção. Krumm (2005) e Spector (2006) definem o posicionamento de uma 
prática pautada nos interesses da organização em consequência das demandas 
do trabalhador. Outros autores definem a psicologia do trabalho como sendo o 
posicionamento distinto dos compromissos dessa área, defendendo que se deve 
visar a promoção da saúde do indivíduo.
Psicologia Organizacional do Trabalho é como Zanelli e Bastos (2004) chamam 
a área da psicologia que se destina ao trabalho e definem que é um campo que 
compreende o comportamento humano em seu contexto de trabalho. Segundo 
esses autores, devem existir um comprometimento em relação à análise que é feita 
sobre a vida das pessoas, dos grupos e das organizações para estabelecer práticas e 
ações que possam promover a qualidade de vida e bem-estar das pessoas. Seguindo 
essa mesma linha de estudo, Goulart (1998), nos mostra a Psicologia do Trabalho 
como estudos de uma ciência psicológica que vem das questões relacionadas ao 
homem e ao trabalho, visando à promoção da saúde do trabalhador e da satisfação 
em realizar suas tarefas. É importante que os profissionais da psicologia atuem 
buscando contribuir com o ambiente de trabalho, trazendo melhorias e ações que 
garantam a saúde mental dos trabalhadores (Figueiredo, 1990).
Malvezzi (1990) diz que os psicólogos do trabalho devem prestar atenção à saúde 
mental do trabalhador e se comprometer com o que se relaciona ao desenvolvimento 
da realização, liberdade e qualidade de vida. Os objetivos antagônicos na visão do 
autor são saúde e produtividade. Essa produtividade de maneira alguma deve ser 
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ignorada, mas não precisa ser colocada como principal, em contra partida a saúde 
que desde o inicio foi sacrificada, deve ser o foco, de forma que o psicólogo deve 
se atentar a sua prática a aos dois objetivos.
Apesar de tudo que as práticas definem e apontam, Zanelli (2002) descreve que 
a atuação dos psicólogos nesta área é prejudicada desde a origem dos trabalhos 
por conta das falhas na estruturação dos cursos de graduação, uma vez que não 
acompanharam as transformações reais do meio desde que surgiu em 1964. 
Limitando assim a preparação do profissional do trabalho em algumas disciplinas, 
que possuem cargas horárias limitadas e não apresentam técnicas que podem ser 
realmente utilizadas, deixando a teoria muito distante da prática.
Essa precariedade dos ensinos vem em resposta a diversos fatores, que se 
relacionam a preferência dos psicólogos pela área clinica e não por outras disciplinas 
acadêmicas, com isso enxergam o ser humano de forma individual, com ênfase 
no emocional, desconectando o individuo no contexto social e pessoal do mundo 
organizacional (Keller, 2002). Segundo pesquisas realizadas com os psicólogos, 
pode-se verificar que a formação é deficiente e tecnicista, sendo que o conteúdo 
é limitado e desatualizado tendo abordagem centrada no indivíduo, esquecendo 
assim dos subsídios teóricos e práticos para uma atuação competente (Zanelli, 
2002). O material de aprendizagem relacionado à saúde mental do trabalho é 
limitado faltando referência para a apreensão nas relações da produção, assim 
os profissionais encontram-se despreparados para ter um posicionamento crítico, 
estando assim desconectados da realidade laboral. Vários fatores vêm influenciando 
essa realidade, estes incluem os valores, a motivação pessoal, a instância, a cultura, 
o grupo profissionais onde estão inseridos, sua formação e seu histórico profissional 
junto com suas competências. Por conta das falhas na formação do profissional 
dos psicólogos é que são acarretadas as consequências, pois o psicólogo atua 
sem clareza neste contexto do trabalho e critica o seu próprio papel, limitando 
aoativismo de consciência, o que traduz uma prática repetitiva e mecânica que é 
moldado de acordo com os padrões da organização. 
As atividades dos psicólogos ficam sem crédito e comprometidas por conta de sua 
ineficácia e restritividade, fazendo com que esse profissional perca sua credibilidade 
diante da sociedade, com isso a visão se tornou preconceituosa referente à área, 
vinda dos próprios psicólogos que tratam como uma área inferior da psicologia 
(Codo, 1989; 195).
A Psicologia voltada ao trabalho tem sido ao longo do tempo alvo de críticas que 
mostram um caráter ideológico e manipulador da área e também uma subordinação 
ao capital (Figueiredo, 1989).
São identificados três tipos de orientações ético-politicas por Zanelli (2002), 
referente aos psicólogos que trabalham nas organizações, sendo:
1. Os que concordam com a situação das empresas e as preservam;
2. Os que reconhecem as dificuldades relacionadas aos conflitos e buscam 
modos de melhorar a qualidade de vida;
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UNIDADE Introdução à saúde psicológica do trabalhador
3. Os que enxergam os conflitos e buscam atuar como mediadores deles em 
detrimento ao trabalhador.
Ao observarmos as orientações ético-políticas do autor, podemos observar que 
não existem critérios unificados das práticas psicológicas, com isso percebemos 
que não existe consenso entre os profissionais dessa área de atuação, contribuindo 
para uma estigmatização do assunto.
Segundo Tupinambá (1987), o surgimento da psicologia no Brasil está traçada pelo 
progresso da própria psicologia sendo profissão e ciência no ambiente brasileiro.
Novas exigências foram impostas à psicologia por conta da crescente 
industrialização e com isso pôde aumentar o conhecimento e ajudou a diferenciar 
a formação das pessoas e os grupos que seriam selecionados para as empresas 
de forma apropriada (Bock, 2003). Considerando o lado social, podemos dizer 
que este campo está ligado ao panorama econômico das primeiras décadas do 
século XIX, marcado pelas diversas atividades produtivas em consequência da 
industrialização impulsionada pelo café.
A plantação de café faz com que aumentem as indústrias no país e o surgimento 
de mais conflitos referentes aos operários que se encontram descontentes com as 
condições impostas no trabalho e também à detenção do capital. Os empresários 
começam uma nova busca pela contenção e manutenção dos princípios da 
administração científica por conta da preocupação com a classe trabalhadora. O 
apogeu do uso dos testes psicológicos é que incrementou a psicologia do trabalho 
no Brasil, pois forneceu instrumentos necessários para legitimar as aplicações da 
Psicologia dentro do contexto do trabalho. Os primeiros psicotécnicos foram formados 
nesta época e a eles se atribuíam os conhecimentos da psicologia do trabalho.
O Instituto de Organização Racional do Trabalho (IDORT) foi de grande 
importância para o desenvolvimento da psicologia aplicada ao trabalho, a qual 
tinha por objetivo apresentar soluções para problemas das empresas e estudar a 
organização como um todo e suas práticas administrativas, de seleção e treinamento. 
O Instituto de Seleção e Orientação Profissional de Pernambuco também contribuiu 
muito com a disciplina da psicotécnica e com a preparação dos técnicos, esse foi 
criado pelo psiquiatra Ulisses Pernambuco em 1925 assim como o Instituto de 
Seleção e Orientação Profissional da Fundação Administrativo do Serviço Público 
(Zanelli, 2002). O IDORT depois de algum tempo teve sua atuação enfraquecida, 
com a criação dos departamentos administrativos do serviço público (DASP), 
dos laboratórios de Psicotécnica do SENAI em 1942 e do Instituto de Seleção e 
Orientação Profissional que era coordenado por Mira y Lopez (Faé, 2002).
No Brasil, a década de 60 ficou marcada pelo surgimento da psicologia industrial, 
por conta dos diversos profissionais que viviam a intensa luta pela regulamentação 
e profissionalização dos psicólogos que tiveram sua regulamentação em 27 de 
agosto de 1962. Pelo menos há três décadas, a psicologia escolar e organizacional 
18
19
já tinham uma tradição e aplicação em diversas áreas (Zanelli, 2002) ainda 
salientando sobre as circunstâncias relacionadas ao desenvolvimento e surgimento 
da psicologia aplicada ao trabalho no Brasil, cujas origens são fora do âmbito 
acadêmico. Devido às pressões do desenvolvimento industrial foram promovidos os 
incrementos da área para o próprio consumo, situação que dura até os dias atuais, 
onde o trabalho acadêmico é distanciado da aplicação das organizações gerando 
a discrepância entre os conteúdos e a realidade problemática das organizações, 
trazendo sérias repercussões para suas práticas. Segundo Goulart (1998), mesmo 
sendo um campo eclético com práticas e metodologias diferentes, a área vem se 
renovando e atende as mudanças que ocorrem durante as décadas, tanto voltadas 
para a organização do trabalho quanto nas contribuições mais objetivas e críticas. 
As práticas que os psicólogos utilizam dentro das organizações não podem ficar 
distantes das transformações que ocorrem no desenvolvimento da ciência (Zanelli, 
2004). Podemos verificar no cenário contemporâneo em relação às atividades dos 
psicólogos, que têm sido ampliadas efetivamente novas práticas que estão sendo 
incorporadas às clássicas. Com isso as práticas tradicionais sofreram transições por 
conta das mudanças no trabalho. É um longo e difícil caminho definir qual o real 
foco que a psicologia do trabalho vem seguindo ao longo do tempo. A psicologia 
manteve distante o assunto sobre trabalho e saúde, como se não fizesse parte do seu 
trabalho. O foco era apenas a produtividade e os lucros empresariais em relação à 
categoria do trabalho (Grisci e Lazzarotto, 2002). Duas perspectivas de atuação são 
notadas por Sato (2003) sobre a disciplina em seu processo de desenvolvimento: 
uma estando articulada com a engenharia e administração e outra embasada na 
Psicologia Coletiva e Social. Na primeira perspectiva, a psicologia mantém sua 
referência em atender as necessidades da produção por meio da seleção de pessoal, 
avaliação e treinamento, trata-se da consolidação da aplicabilidade no mercado de 
trabalho. Já na segunda, o mais importante são os problemas humanos no trabalho 
e sociais, que estão contidos nas organizações e do lado de fora delas.
A Psicologia do Trabalho se apresenta como um campo que congrega duas 
atuações distintas, sobre diferentes objetos, um lado voltado para os interesses da 
organização e a produtividade e outro que se preocupa com o trabalhador seu bem-
estar e a saúde. O importante é pensar qual das duas tendências se sobressai nos 
dias atuais nas práticas dos psicólogos.
 Segundo Jacques (2003), atualmente se tem um grande interesse dos profissionais 
pela área da saúde do trabalhador. Mas, se observa uma indefinição entre teoria 
e metodologia por conta do desconhecimento do assunto, o que faz com que se 
tenham tentativas ingênuas de mesclar as duas teorias.
A psicologia começou a focar nas questões de saúde do trabalho recentemente 
por conta das restrições dos debates sobre o assunto e também da lentidão (Spink, 
1992). Isso se deve à dificuldade de sistematizar uma prática mais abrangente por 
parte da psicologia. Trabalhar com uma abrangência macro envolve a atuação em 
um nível mais alto, onde se busca incidências e frequências, para assim conseguir 
mudar a discussão sobre as formas de prevenções no contexto organizacional, já a 
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UNIDADE Introdução à saúde psicológica do trabalhador
um nível micro compreendemos o trabalho individual, não precisando estudar nem 
entender o contexto externo (Spink, 1992). Quando relatamos uma abrangência 
média, estamos falando de um alcance que permite uma atuação mais voltada 
ao trabalho de forma que essa análise se torne curativa e o processo individual 
preventivo (Spink, 1992).
Kyrillos Neto (1997) afirma que o psicólogo desenvolve um papel decisivo no 
sentido preventivo da conquista pela saúde, mas é necessárioque se antecipe 
as resistências e amplie o conceito da atuação da psicologia no trabalho assim 
como as práticas antigas precisam ser revistas para se redesenhar a atuação. É de 
grande importância que o profissional entenda o seu verdadeiro papel e amplie 
seu campo de atuação para contribuir de maneira mais eficiente e evidente a fim 
de ser notado (Raffih et al, 2001). Com isso podemos destacar algumas práticas 
de intervenção do profissional nesse assunto de saúde do trabalhado, como: a 
criação de estratégias integradas por meio de uma atuação interdisciplinar visando 
à prevenção de patologias e com pesquisas que tem por finalidade identificar os 
fatores ergonômicos e psicossociais que ajudam no surgimento de doenças do 
trabalho; organizar debates e discussões para explicitar os conflitos entre as partes 
contraditórias de uma organização, para os grupos de interesse é algo a se pensar. 
Por fim, a intervenção nos diversos grupos ocupacionais para facilitar as mudanças 
de percepção e atitudes sobre o trabalho, preparando os sujeitos para sua atividade 
laboral e uma gestão (Mendes 2003).
A atuação do Psicólogo na saúde no trabalho deve abranger o campo psicológico, 
social e físico, ou seja, em âmbito interdisciplinar. Portanto este psicólogo que 
é um agente de mudanças precisa ter uma visão ampla e crítica dos processos 
organizacionais possibilitando assim construir diálogos que promovam um ambiente 
organizacional mais favorável e produtivo para os trabalhadores. O psicólogo 
deve trabalhar com uma perspectiva preventiva em saúde, com intervenções e 
diagnósticos a fim de diminuir os fatores que estão ligados ao adoecimento. A 
intensão é que se transforme uma atividade fatigante em algo mais equilibrado e 
flexível em relação à organização do trabalho, de forma que o trabalhador tenha 
uma liberdade maior para definir como deseja realizar as tarefas e quais os métodos 
que irá utilizar (Kyrillo Neto, 1997). O psicólogo tem a função de complementar 
com ações que valorizem o potencial dos trabalhadores e tragam oportunidade de 
crescimento e reconhecimento.
Hashimoto (2004) vem apresentar uma proposta para a atuação da Psicologia 
em relação à saúde coletiva, buscando oferecer atenção aos problemas internos 
dos trabalhadores, os quais influem diretamente na impotência diante das situações 
adversas do cotidiano, junto com a apreensão de seus significados e também 
com a associação ao mundo do trabalho. Esse conceito vem ajudar a escutar o 
que os trabalhadores estão vivendo em seus contextos pessoais e organizacionais 
considerando a busca pela melhoria das condições de vida e do trabalho. Com a 
atuação da área sindical em relação à saúde do trabalhador, na conjuntura atual que 
esta baseada no capitalismo, é que se encontram as possibilidades de atuação dos 
20
21
psicólogos dessa área. O profissional pode intervir a partir duas perspectivas: uma 
pela via do conhecimento do trabalhador e outra pela subjetividade.
Na linha da subjetividade, o psicólogo cria estratégias que são levadas em conta, 
ou seja, reflete sobre o capital-trabalho tanto dentro como fora dos locais de trabalho, 
modificando as condições do trabalho e considerando as formas como é organizado 
para deixar mais flexíveis os poderes e suas divisões e também o conteúdo de cada 
tarefa se atendando as particularidades subjetivas. Mas, para isso é importante que 
se escute os trabalhadores e se leve em consideração o conhecimento adquirido pela 
vivência no contexto laboral, isso trata de uma nova maneira de lidar e construir 
o conhecimento sobre as relações entre o trabalho e a saúde de forma que sejam 
diferenciadas dos pressupostos que já foram adotados pela ciência, e implica em 
abrir espaço para se escutar e discutir com os trabalhadores a respeito do seu 
cotidiano laboral, onde poderão expor seus problemas e dificuldades em prol das 
transformações e melhorias para negociar medidas de prevenção e determinar um 
processo de construção melhor.
A promoção da saúde do trabalhador depende do psicólogo do trabalho e de 
suas práticas com posicionamento ético-político que proporciona a construção de 
novas relações laborais que assegurem o bem-estar e a minimização do sofrimento. 
A primeira medida a se tomar para redimensionamento das práticas dos psicólogos 
é o resgate do humano, de maneira que os psicólogos orientem suas práticas não 
pensando apenas nas organizações, mas sim nas necessidades dos trabalhadores. 
Para isso é necessária a reconstrução do conceito do homem, de forma que passe a 
ser considerado o caráter dinâmico do humano que se constrói através do trabalho 
e não de forma passiva, estática e estável (Jacques, 1989).
21
UNIDADE Introdução à saúde psicológica do trabalhador
Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
 Sites
Saúde mental e trabalho: Um estudo fenomenológico com psicólogos organizacionais
https://goo.gl/poifTB
Saúde mental do trabalhador: A importância do equilíbrio psicológico
https://goo.gl/eUA85D
Psicologia e saúde do trabalhador: práticas e investigações na Saúde Pública de São Paulo
https://goo.gl/LLOqqO
 Leitura
Doenças Relacionadas Ao Trabalho
Manual de Procedimentos para os Serviços de Saúde.
https://goo.gl/w5sd1m
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