Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Saúde do Trabalhador Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Profa. Esp. Erika Gambeti Viana de Santana Revisão Textual: Profa. Ms. Fátima Furlan Introdução à saúde psicológica do trabalhador • Introdução • A Trajetória do Trabalho • O Trabalho na Atualidade • Saúde Mental, Psicologia e Trabalho · Passar aos alunos as possíveis doenças que podem ser agravadas com as atividades exercidas pelos trabalhadores e também as doenças psíquicas que podem ser causadas devido ao ambiente profissional inadequado. OBJETIVO DE APRENDIZADO Introdução à saúde psicológica do trabalhador Orientações de estudo Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem aproveitado e haja uma maior aplicabilidade na sua formação acadêmica e atuação profissional, siga algumas recomendações básicas: Assim: Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e horário fixos como o seu “momento do estudo”. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar, lembre-se de que uma alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo. No material de cada Unidade, há leituras indicadas. Entre elas: artigos científicos, livros, vídeos e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você também encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados. Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discussão, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e aprendizagem. Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Determine um horário fixo para estudar. Aproveite as indicações de Material Complementar. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar, lembre-se de que uma Não se esqueça de se alimentar e se manter hidratado. Aproveite as Conserve seu material e local de estudos sempre organizados. Procure manter contato com seus colegas e tutores para trocar ideias! Isso amplia a aprendizagem. Seja original! Nunca plagie trabalhos. UNIDADE Introdução à saúde psicológica do trabalhador Introdução A Psicologia Aplicada ao Trabalho surgiu no início do século XX para abranger a área de conhecimento do cenário brasileiro e desde então vem se aperfeiçoando. Essa área teve sua evolução em cima das diferentes metodologias adotadas, visando sempre atender aos desafios e problemas deflagrados nos diversos contextos políticos, sociais e econômicos dentro de sua prática (Bastos, 2003; Sampaio, 1998). Zanelli (1994a) e Azevedo (1995) defendiam que dentro do que engloba as mudanças significativas no do universo laboral estão a reestruturação da produção e a ampliação do espaço de intervenção dos psicólogos dentro do ambiente ocupacional por conta da preocupação com o bem estar e saúde dos trabalhadores. Segundo os estudos de Zanelli (1994b), para identificação dos movimentos emergentes referente às práticas que estão sendo utilizadas pelos psicólogos brasileiros dentro das empresas, conseguiu apresentar a conclusão de que o eixo principal é a mudança de um fazer técnico para que se tenha uma atuação mais estratégica. Com isso será possível uma integração entre as práticas atuais com a busca da qualidade de vida e saúde dos trabalhadores. Mas, mesmo com a abrangência dos estudos sobre essa formação e atuação dos psicólogos do trabalho, pode-se verificar que existe uma carência de estudos para complementar a atuação desses profissionais no que diz respeito à saúde do trabalho assim defendiam: Façanha, 2003; Venturi, 1996; Zanelli, 1994a; Bastos, 1992; Malvezzi, 1979. A partir de pesquisas, foi percebido que os graduados em psicologia veem o psicólogo do trabalho como um profissional que ajuda a melhorar a vida e o ambiente laboral, associando isso à qualidade de vida (Campos e Lamônaco, 2003). Por isso, os estudos apontam que os profissionais dessa área precisam focar ainda mais nas preocupações do bem- estar e da saúde dos trabalhadores, o que pode-se dizer ser uma visão mais próxima dos quadros atuais relacionados ao trabalho. A Psicologia voltada para o trabalho vem passando por grandes evoluções ao longo do tempo, sendo estas divididas em três momentos distintos segundo Sampaio (1998). O primeiro é chamado de Psicologia Industrial, está focado no social e na revolução industrial a partir do inicio do século XX, sendo caracterizado pela maximização da produção e sendo influenciado pela visão de Taylor referente ao controle da produção. Este momento é mais focado em atender as necessidades industriais, trazendo uma adaptação aos trabalhadores em relação as suas atividades e também tendo como foco a inserção e seleção dos profissionais amparado pela base da psicologia. Então, a preocupação da Psicologia estava mais focada no aumento da eficiência e do desenvolvimento de estudos e pesquisas voltadas para a ampliação do rendimento humano no trabalho. Outros fatores que repercutiam na produtividade foram observados e se tornaram importantes, além do intuito de adaptar o homem à máquina. A Psicologia Industrial passou a voltar-se para a comunicação, o funcionamento dos grupos e para a motivação, entre outros. Essa psicologia encontrou espaço 8 9 favorável para aprimorar suas técnicas de seleção de pessoal e treinamento após a segunda guerra mundial, o que contribuiu bastante para consolidar a área. Mas, os modelos e práticas atuais já não atendiam de forma eficaz este novo momento, por conta das diversas transformações econômicas e sociais, demandando mudanças para que se tivesse um momento produtivo e emergente. Agora o momento é chamado de organizacional. A Psicologia Organizacional tem seu surgimento por conta da necessidade do desenvolvimento instrumental teórico e prático para se intervier na organização e sua estrutura. A psicologia organizacional, segundo Sampaio (1988), não se trata de algo radical, mas sim, ampliar o nível de atuação, pois a produtividade ainda era o foco. As criticas ainda eram muitas em relação a esse modelo devido seu caráter tecnocrático, de sua orientação para produtividade e eficácia e também na busca pelo amortecimento das tendências de divisões de classes. Uma série de estudos das diversas áreas é favorecida a partir da década de 70, por conta das mudanças sociais e econômicas. A área administrativa é uma delas, onde as teorias estudadas alimentam um caráter mais crítico e explicativo sobre a organização do trabalho e em relação ao seu maior elemento que é o trabalhador. A partir daí que surge o pilar que faltava para o terceiro momento da psicologia do trabalho, que vem da Sociologia e da Administração. O ponto central desse momento é o trabalho, seus significados e as manifestações que ele traz. Passamos a colocar a produtividade de lado e adquirir a preocupação em relação à promoção da qualidade de vida e da saúde do trabalhador, demandando o reposicionamento dos psicólogos, a partir do momento que a compreensão do homem que trabalha é o mais importante. A psicologia do Trabalho é formada por duas escolas diferentes: escola anglo- saxã, que trata de assuntos relacionados ao estresse laboral conforme definição de Sampaio (1998) e a escola Latina, que traz conceitos da Psicanálise e da Sociologia segundo Dejours (1998,1994). Trata-se de um vasto campo de estudos e informações que foram se ampliando ao longo das décadas e se consolidando ainda mais em relação às pesquisas, se bem que, podemos dizer que essa evolução acabou sendo bem mais incorporativa do que seletiva. As três faces acabam se misturando por conta dos instrumentos e práticasque são utilizados dentro dos vários contextos em sua construção. Portanto, dentro da Psicologia do Trabalho temos dois sentidos, um da Psicologia Industrial e o outro da Psicologia Organizacional, sendo constituído pelo stricto-sensu de forma genérica e fazendo a inter-relação das três faces que se completam em suas práticas profissionais conforme Sampaio (1998). A investigação sobre o designar das práticas contemporâneas dos psicólogos atuantes nas organizações é a definição de Psicologia do Trabalho. 9 UNIDADE Introdução à saúde psicológica do trabalhador A Trajetória do Trabalho Em toda a história podemos observar que o trabalho está presente na vida do homem, variando em relação às sociedades apenas pela concepção da atividade laboral. No caso das primitivas, essas tinham o trabalho como algo de subsistência, já com as sociedades greco-romanas, o trabalho passou a ser uma atividade organizada e estruturada. A representação de labor que essas sociedades tinham é de algo passivo e submisso ao ritmo da natureza e de forças não controláveis. Segundo Albornoz (2002), na cidade grega, encontramos a democracia igualitária, cujos cidadãos eram tidos como livres, portanto os que não estavam entre esses eram os que deviam trabalhar. Durante o período romano essa era a forma que predominava. Ocorre uma alteração bem significativa na vida social após a desestruturação do império romano. Os escravos agora são reconhecidos como servos tendo assim alguns direitos e deveres em relação aos seus senhores feudais. Os princípios da judaico-cristã passam a ser colocados pela Igreja nesse período e interfere no sistema social, trazendo o trabalho como salvação divina e castigo pelo pecado original. Com isso era colocado que por conta do homem e da mulher não serem mais inocentes como no paraíso, eram castigados e precisavam conquistar o pão com o próprio suor. No século XVI, ocorre a Reforma Protestante que leva a outra categoria de compreensão sobre o trabalho, que passa a ser entendido, como o caminho religioso para a salvação, portanto uma virtude para a vida social. Essa concepção toma força e a partir do desenvolvimento social e tecnológico abre espaço para um tipo de organização social chamada de capitalista. Essa Sociedade Capitalista traz muitas mudanças no cenário, nos fazendo entender e organizar a atividade laboral assumida, sendo então possível conhecer as características na contemporaneidade. O Trabalho na Atualidade A Terceira Revolução Industrial nas últimas décadas trouxe o avanço da globalização e repercutiu por todo o mundo do trabalho. Foram muitas transformações econômicas, políticas e sociais sofridas pela globalização da economia. A produtividade de qualidade passou a ser o foco por conta da competição sem fronteiras, exigindo assim a qualificação dos trabalhadores. No inicio da década de 80, dá-se início a reestruturação produtiva, a fim de atender as novas demandas do trabalho, assumindo a produção de Taylor e Ford, surgindo assim no vas práticas produtivas e também novos modelos de gestão destacados pela produtividade máxima, o desafio contínuo e a competição com qualidade total (Goulart e Guimarães, 2002). Após o enfraquecimento deste modelo, o desempenho do trabalhador passa a ser mais enfatizado, tornando- se fundamental para a produtividade, deixando de ser representada pela racionalização e controle, e sim por meio de técnicas e domínio comportamental 10 11 (controle psicológico). Esses novos modelos tem por objetivo controlar de forma sutil e invisível os trabalhadores, utilizando estímulos psicológicos e sociais, com isso se tem o condicionamento da colaboração espontânea e o alcance de seus objetivos organizacionais (Oliveira, 2001). Influenciado pela tecnologia, o cenário atual das organizações traz um ambiente voltado para o controle da produtividade, na delegação da responsabilidade e na descentralização de decisões, mostrando uma suposta autonomia para as realizações dos trabalhos e interferência nos processos de construção do conhecimento e também da consciência e conduta dos trabalhadores. O modelo de gestão atual era visto como uma estratégia do controle político e cognitivo do desempenho, buscando a criação de vínculos intelectuais e afetivos, visando o compromisso dos trabalhadores e os interesses comuns da organização. Figura 1 Fonte: iStock/Getty Images A intensa competição mercadológica ajuda nesse modelo de gestão, pois é caracterizada pelos ciclos reduzidos de produção, pelas mudanças dos trabalhos, visando uma maior produtividade e consolidando as tecnologias de informática. As organizações passam a conter os custos e diminuir o pessoal, aumentando a jornada de trabalho dos que ainda ficam nas organizações e aumentando as metas por conta da busca pela lucratividade e rendimento, esta, impulsionada pela economia globalizada. As estratégias empresariais como exigências de qualificação e produtividade, a instabilidade em relação aos direitos trabalhistas e os quadros de redução de trabalhadores geravam grandes impactos para os trabalhadores. Com a melhora dos processos e sua qualidade, com os novos conhecimentos e desenvolvimento, com aspectos de fortalecimento da identidade dos trabalhadores de suas competências e habilidades ocorreu uma reestruturação produtiva e melhora das condições de trabalho. Segundo Mendes (2003), mediante contexto atual, podemos notar a falta de autonomia, exigência de produtividade e pela ausência de condições do crescimento profissional, assumindo assim um caráter de mal estar que repercute na saúde mental dos indivíduos. 11 UNIDADE Introdução à saúde psicológica do trabalhador Saúde Mental, Psicologia e Trabalho Dentro de uma perspectiva objetiva, organicista e naturalista a saúde é concebida dentro da sociedade em que estamos inseridos, enfatizando o modelo biomédico segundo Gonzalez-Rey (2004). Podemos afirmar que a psicologia não é diferente. A Psicologia está relacionada com o processo de legitimação da disciplina como ciência, além de possuir uma grande influência do modelo biomédico e também ter conceitos naturalistas e objetivistas predominantes. No século XIX, a psicologia assumiu um papel mais pontual e objetivo, resultando na naturalização do comportamento humano, deixando o status científico e se afastando da filosofia dos aspectos comportamentais (González-Rey, 2004). A psicologia, segundo o autor acima citado, passou a enxergar a doença como do modelo biomédico, impregnando-se por uma visão descritiva e comportamentalista dos fenômenos, adotando as classificações de patologias como uma conjunção de sintomas, inclusive a patologia no comportamento de cada pessoa. Nessa perspectiva se legitimavam como patológicos certos conjuntos de sintomas individuais, o qual definiu uma forte tendência à rotulação padronizada dos indivíduos em entidades despersonalizadas: (...) Foi imposto assim, um modelo descritivo despersonalizado, que separou a doença do sujeito e ao mesmo tempo, do social. González-Rey, 2004. A partir da classificação dos sintomas e comportamentos individuais a psicologia passou a considerar como opostos os processos de doença e saúde, sendo esses classificados sendo da categoria nosográficas, isso tudo negando a trama social que envolve os processos humanos, dentre eles o trabalho. A psicologia considera a realidade laboral como apenas um cenário para emergência dos problemas de saúde. O trabalho humano não é considerado como algo importante pelos psicólogos para a avaliação do sofrimento psicológico, sendo que a patologização do psíquico limita- se apenas ao externo da vida laboral, segundo Ruiz (1999). Dentro da psicologia (ciência que privilegia o modelo terapêutico) o adoecimento não tem relação com o trabalho, fazendo com que essa categoria ficasse marginalizada. Segundo Jacques (1989), nesse caso é negligenciada a compreensão do comportamento por conta do trabalho pelo homem. O pensamento psicológicocaracteriza a construção dos sistemas sem levar em conta a atividade laboral e as influências que essas causam no mundo criado pelo homem, isso segundo Codo et al (1993). Dentro da psicologia os trabalhos e seus significados, passaram a ser reduzidos as expressões numéricas e desconsiderados como processos sociais que geram a saúde e as patologias. A psicologia enxerga, nos casos de adoecimento, que os trabalhadores não produzem mais, ao invés de pensar no sofrimento que isso gera a eles (Nardi, 1996). 12 13 Durante todo o contexto laboral, a psicologia vem passando por mudanças devido aos desafios, à visão tradicional da psicologia e de suas demandas, fazendo com que o olhar tome outra dimensão em relação ao trabalho. Dejous (1988) enfatizava que as teorias clássicas do psiquismo tratam o trabalho como algo secundário, fato que gera questionamentos entre os autores, fazendo com que o trabalho na constituição tomasse mais importância no caso da inserção social, associado ao adoecimento mental e a estratégia de saúde (Jacques, 2003) e assim contribuindo para que à saúde do trabalhador assumisse realmente sua importância e o posicionamento do centro na área. Podemos definir a saúde como a relação entre o indivíduo e as diversas atividades importantes de sua existência. O trabalho é uma destas atividades e se destaca por ser a mais significativa no âmbito psicossocial. Diversos estudos tratam da relação entre a saúde e o trabalho por toda a antiguidade desde a revolução industrial, que foi onde o trabalhador passou a cobrar por sua força de trabalho e submetido a duras condições impostas pelo modelo capitalista de produção (Minayo Gomez e Thedim-Costa, 1997). A Medicina do Trabalho e da Saúde Ocupacional, que vem do modelo biomédico e destaca um caráter biológico das patologias, traz um ambiente do trabalho considerado como algo de risco podendo desencadear doenças. Já por outro lado temos os modelos que focam mais na inter-relação dos processos saúde-doença e o trabalho, onde se destacam os fenômenos mentais (Seligmann Silva, 1994). Neste último caso, temos uma abordagem de que a saúde mental em relação ao trabalho consideram as repercussões mentais e físicas que a saúde traz em relação ao trabalho (MinayoGomez e Thedim-Costa, 1997), destacado-se dois eixos nas abordagens que dizem respeito à saúde mental e trabalho, que são constituídos pelas diferentes abordagens teórico-metodológicas, Tittoni (2002). No primeiro eixo, temos a relação entre os sintomas psicológicos e seu vinculo com as situações trabalhistas. Analisando estes casos, encontramos as pesquisas de Codo et al (1993), que traz a construção de instrumentos diagnósticos que possibilitaram o estabelecimento dos nexos causais que estavam entre as situações do trabalho e dos sintomas psicológicos, sendo esta uma abordagem bem parecida com a Medicina do Trabalho, mesmo sendo admitida a multicausalidade. No segundo eixo, temos as experiências vivenciadas pelos trabalhadores em seus cotidianos laborais e os adoecimentos sem enfatizar o diagnóstico de doenças ocupacionais. A Psicodinâmica do Trabalho destaca-se nesses estudos feitos por Dejours e seus ajudantes (Dejours, 1988 e Dejours et al, 1994), considerando as vivências de sofrimento-prazer no âmbito laboral e os indicadores de saúde no trabalho que se destacam. Algumas condições de trabalho podem resultar em problemas de saúde e adoecimento por conta da exposição a produtos químicos ou dos acidentes que podem ocorrer devido aos equipamentos e máquinas, agravando assim a saúde do trabalhador. O interessante é compreender as influências que o processo de trabalho podem trazer as vivências internas dos trabalhadores no campo da psicologia. Podemos dizer que o balanceamento entre o prazer e sofrimento das 13 UNIDADE Introdução à saúde psicológica do trabalhador vivências, a capacidade de mobilizar os trabalhadores para relações mais prazerosas e gratificantes podem ser consideradas como saúde no trabalho (Mendes, 2004). No centro da relação entre o trabalho e o homem está o sofrimento, que é representado pela luta entre o indivíduo e a situação de trabalho que pode causar o adoecimento. Não necessariamente por termos o sofrimento, teremos o adoecimento, pois esta patologia é decorrente de como os trabalhadores lidam com este sofrimento e as estratégias que utilizam de forma a adquirir um caráter patológico ou criativo (Mendes, 2004). Quando a organização impõe tarefas aos trabalhadores que paralisam a atividade psíquica faz com que ocorra o sofrimento patológico. Disso ainda temos as aspirações de realização dos trabalhadores e a incongruência entre as tarefas executadas, do livre funcionamento em relação aos conjuntos de tarefas e o trabalho livre, organizado e que traz satisfação, reconhecimento e identidade ao trabalhador traz um sofrimento criativo. Quando o trabalho traz satisfação e o prazer, possibilita caminhos a saúde criando uma identidade pessoal e social e traz o reconhecimento (Mendes, 2004). A saúde no trabalho busca modificar as situações adversas dentro do trabalho, buscando transformação e prazer. Quando os trabalhadores podem buscar estratégias coletivas e individuais para resolver as situações diárias, encontramos a saúde que estamos procurando. Quando ocorre o esgotamento das tentativas do trabalhador de se adaptar ao trabalho no âmbito de atendimento às suas necessidades e desejos, temos o adoecimento e sofrimento. Visando conciliar produtividade e saúde dentro da relação do trabalhador com a organização em que trabalha, é que se encontra a busca por uma regulação e negociação. Ao longo dos anos, o aumento dos problemas de saúde causados pelo trabalho, fez com que surgissem práticas ligadas à saúde coletiva, configurando o Campo da Saúde do Trabalhador. A Saúde do Trabalhador e suas práticas e disciplinas são definidas por Nardi (1999) como o grupo dos conhecimentos e práticas das diversas disciplinas como: psicologia, saúde pública, engenharia, medicina ocupacional e sociologia, possibilitando assim que o entendimento sobre saúde-trabalho seja mais amplo, e isso aumenta a atenção pelos trabalhadores assim como, as intervenções nos ambientes de trabalho. A partir de 1986, foram trazidas alterações significativas sobre os fatores fundamentais para este campo, que foram propostas pela VIIIª Conferência Nacional de Saúde e também Iª Conferência Nacional de Saúde do Trabalhador que foram consolidadas na Constituição Brasileira de 1988 e na Lei Orgânica da Saúde no ano de 1990, sendo possível uma construção da prática de separação das disciplinas de modo que elas proponham ações interdisciplinares, mas integradas (Nardi, 1997). Portanto, nasce um campo diferente do que já tínhamos visto propondo a regulação das relações de trabalho e saúde que estão diretamente ligadas a Saúde Ocupacional e a Engenharia de Segurança do Trabalho. A Saúde Ocupacional é a que aborda a relação entre saúde, doença e trabalho, definindo o ser humano como uma máquina que está sendo exposto aos agentes de risco. Com isso podemos dizer que as consequências que o trabalho acarreta para a saúde respondem a interação dos agentes externos sendo eles químicos, físicos, 14 15 mecânicos ou biológicos com o organismo. O trabalho pode ser visto através das características de intervenções que servem para adaptar o ambiente e as condições de trabalho com os parâmetros estabelecidos para os agentes e fatores ambientais. A Saúde Ocupacional procura adequar o ambiente da organização ao trabalhador e o trabalhador às atividades que realizarão. Podemos dizer que a área da Saúde do Trabalhador vem contrapor a Saúde Ocupacional, pois se volta mais às relações da organização-divisão do trabalho que abrange os seguintes fatores: turnos de trabalho e suas jornadas, duração dessas jornadas, o que envolve as tarefas, o controle da produtividade e as consequências que isso traz à saúde assim como as formascomo são manifestadas através de doenças mentais e degenerativas (Lacaz, 2007). O trabalho agora passa a ser analisado de outra forma, como um processo que se insere nas relações sociais e de produção, isso tudo se trata de um conjunto das práticas e conhecimentos dando ênfase ao processo saúde-doença. É muito importante estudar os impactos que esse capitalismo pode exercer sobre os processos de trabalho, fazendo assim com que seja apresentada uma forma de alienação, subcarga e sobrecarga no trabalho. A Saúde do Trabalhador aborda a recuperação do lado humano das atividades do trabalho e a capacidade de provocar danos à saúde dos que trabalham. A proposta é intervir nas relações de saúde-doença-trabalho, com referência no surgimento da classe operária que está incluída em uma sociedade marcada pelas transformações políticas, sociais e econômicas. É desconstruída a visão que se tem do trabalhador como um ser passivo, a partir do momento que se começa a vê-lo como um agente de mudanças, que pensa e que tem vivências no trabalho que pode interferir na realidade e também tem controle da nocividade conseguindo interferir nas estratégias transformadoras. Uma nova forma de ver a relação entre saúde e trabalho é estabelecida e propõe que o trabalhador é um participante essencial para as ações de saúde visando a construção de novas formas de subjetivação e inserção laboral, que podem minimizar o sofrimento psíquico, privilegiando as medidas de prevenção e de intervenção que incorporam o saber do trabalhador em relação à maximização dos esforços e as melhorias no ambiente de trabalho, visando assim a proteção da saúde. A Saúde do Trabalhador engloba um espaço onde são considerados os objetivos do trabalhador e sua saúde, buscando dar prioridade ao sofrimento e adoecimento dos grupos sociais que estão neste contexto. Portanto, é de grande valia observar as condições gerais de produção, da vida e do trabalho, priorizando as determinantes políticas, sociais, econômicas e ideológicas que descrevem bem a luta e as contradições que o sistema capitalista nos apresenta. A saúde do trabalhador é descrita por meio das condições externas e internas do ambiente de trabalho. Condições que são impostas aos trabalhadores no ambiente da organização. No Brasil, a Saúde do Trabalhador tem como objetivo o compromisso de mudar o quadro da saúde da população que trabalha. Isso envolve o comprometimento dos profissionais que atuam nestas áreas e também dos setores sindicais atuantes para que sejam controlados os problemas de suas categorias. A Saúde do Trabalhador sendo 15 UNIDADE Introdução à saúde psicológica do trabalhador o campo de produção de conhecimento que orienta as ações transformadoras se depara com novos objetivos e demandas, fazendo com que essa área esteja sempre em constante construção. É fundamental a incorporação de outros conceitos de diversos campos do conhecimento, trazendo uma proposta de integração que ajude na construção das interfaces e traga novos olhares sobre o assunto. O tratamento interdisciplinar traz conceitos de dois tipos de análise, que abrange todo o contexto, cultural, político, social e econômico, sendo estes que estipulam como serão as características dos processos que envolvem o trabalho e a repercussão que traz aos trabalhadores, segundo o que diz Gomes e Thedim Costa (1997). A Psicologia voltada para os assuntos do mundo do trabalho apresenta diferentes denominações e também diversas definições que possuem diferentes posições sobre o campo. Aplicar os princípios da psicologia às organizações e ao ambiente de trabalho é o que constitui essa Psicologia aplicada ao trabalho (Spector, 2006). Este campo possui diversos aspectos e está dedicado a organizar da melhor forma os funcionários e também gerencia a eficiência da organização, ajudando assim a cuidar da saúde e do bem-estar dos trabalhadores. As diretrizes da American Psicological Association (APA) traz a definição de que a Psicologia do Trabalho é a forma de aplicar a teoria e metodologia psicológica aos problemas diários das empresas e também aos problemas individuais e coletivos dentro do ambiente organizacional (Krumm, 2005). Essa área apresenta a compreensão sobre as atividades de produtividade e seleção. Krumm (2005) e Spector (2006) definem o posicionamento de uma prática pautada nos interesses da organização em consequência das demandas do trabalhador. Outros autores definem a psicologia do trabalho como sendo o posicionamento distinto dos compromissos dessa área, defendendo que se deve visar a promoção da saúde do indivíduo. Psicologia Organizacional do Trabalho é como Zanelli e Bastos (2004) chamam a área da psicologia que se destina ao trabalho e definem que é um campo que compreende o comportamento humano em seu contexto de trabalho. Segundo esses autores, devem existir um comprometimento em relação à análise que é feita sobre a vida das pessoas, dos grupos e das organizações para estabelecer práticas e ações que possam promover a qualidade de vida e bem-estar das pessoas. Seguindo essa mesma linha de estudo, Goulart (1998), nos mostra a Psicologia do Trabalho como estudos de uma ciência psicológica que vem das questões relacionadas ao homem e ao trabalho, visando à promoção da saúde do trabalhador e da satisfação em realizar suas tarefas. É importante que os profissionais da psicologia atuem buscando contribuir com o ambiente de trabalho, trazendo melhorias e ações que garantam a saúde mental dos trabalhadores (Figueiredo, 1990). Malvezzi (1990) diz que os psicólogos do trabalho devem prestar atenção à saúde mental do trabalhador e se comprometer com o que se relaciona ao desenvolvimento da realização, liberdade e qualidade de vida. Os objetivos antagônicos na visão do autor são saúde e produtividade. Essa produtividade de maneira alguma deve ser 16 17 ignorada, mas não precisa ser colocada como principal, em contra partida a saúde que desde o inicio foi sacrificada, deve ser o foco, de forma que o psicólogo deve se atentar a sua prática a aos dois objetivos. Apesar de tudo que as práticas definem e apontam, Zanelli (2002) descreve que a atuação dos psicólogos nesta área é prejudicada desde a origem dos trabalhos por conta das falhas na estruturação dos cursos de graduação, uma vez que não acompanharam as transformações reais do meio desde que surgiu em 1964. Limitando assim a preparação do profissional do trabalho em algumas disciplinas, que possuem cargas horárias limitadas e não apresentam técnicas que podem ser realmente utilizadas, deixando a teoria muito distante da prática. Essa precariedade dos ensinos vem em resposta a diversos fatores, que se relacionam a preferência dos psicólogos pela área clinica e não por outras disciplinas acadêmicas, com isso enxergam o ser humano de forma individual, com ênfase no emocional, desconectando o individuo no contexto social e pessoal do mundo organizacional (Keller, 2002). Segundo pesquisas realizadas com os psicólogos, pode-se verificar que a formação é deficiente e tecnicista, sendo que o conteúdo é limitado e desatualizado tendo abordagem centrada no indivíduo, esquecendo assim dos subsídios teóricos e práticos para uma atuação competente (Zanelli, 2002). O material de aprendizagem relacionado à saúde mental do trabalho é limitado faltando referência para a apreensão nas relações da produção, assim os profissionais encontram-se despreparados para ter um posicionamento crítico, estando assim desconectados da realidade laboral. Vários fatores vêm influenciando essa realidade, estes incluem os valores, a motivação pessoal, a instância, a cultura, o grupo profissionais onde estão inseridos, sua formação e seu histórico profissional junto com suas competências. Por conta das falhas na formação do profissional dos psicólogos é que são acarretadas as consequências, pois o psicólogo atua sem clareza neste contexto do trabalho e critica o seu próprio papel, limitando aoativismo de consciência, o que traduz uma prática repetitiva e mecânica que é moldado de acordo com os padrões da organização. As atividades dos psicólogos ficam sem crédito e comprometidas por conta de sua ineficácia e restritividade, fazendo com que esse profissional perca sua credibilidade diante da sociedade, com isso a visão se tornou preconceituosa referente à área, vinda dos próprios psicólogos que tratam como uma área inferior da psicologia (Codo, 1989; 195). A Psicologia voltada ao trabalho tem sido ao longo do tempo alvo de críticas que mostram um caráter ideológico e manipulador da área e também uma subordinação ao capital (Figueiredo, 1989). São identificados três tipos de orientações ético-politicas por Zanelli (2002), referente aos psicólogos que trabalham nas organizações, sendo: 1. Os que concordam com a situação das empresas e as preservam; 2. Os que reconhecem as dificuldades relacionadas aos conflitos e buscam modos de melhorar a qualidade de vida; 17 UNIDADE Introdução à saúde psicológica do trabalhador 3. Os que enxergam os conflitos e buscam atuar como mediadores deles em detrimento ao trabalhador. Ao observarmos as orientações ético-políticas do autor, podemos observar que não existem critérios unificados das práticas psicológicas, com isso percebemos que não existe consenso entre os profissionais dessa área de atuação, contribuindo para uma estigmatização do assunto. Segundo Tupinambá (1987), o surgimento da psicologia no Brasil está traçada pelo progresso da própria psicologia sendo profissão e ciência no ambiente brasileiro. Novas exigências foram impostas à psicologia por conta da crescente industrialização e com isso pôde aumentar o conhecimento e ajudou a diferenciar a formação das pessoas e os grupos que seriam selecionados para as empresas de forma apropriada (Bock, 2003). Considerando o lado social, podemos dizer que este campo está ligado ao panorama econômico das primeiras décadas do século XIX, marcado pelas diversas atividades produtivas em consequência da industrialização impulsionada pelo café. A plantação de café faz com que aumentem as indústrias no país e o surgimento de mais conflitos referentes aos operários que se encontram descontentes com as condições impostas no trabalho e também à detenção do capital. Os empresários começam uma nova busca pela contenção e manutenção dos princípios da administração científica por conta da preocupação com a classe trabalhadora. O apogeu do uso dos testes psicológicos é que incrementou a psicologia do trabalho no Brasil, pois forneceu instrumentos necessários para legitimar as aplicações da Psicologia dentro do contexto do trabalho. Os primeiros psicotécnicos foram formados nesta época e a eles se atribuíam os conhecimentos da psicologia do trabalho. O Instituto de Organização Racional do Trabalho (IDORT) foi de grande importância para o desenvolvimento da psicologia aplicada ao trabalho, a qual tinha por objetivo apresentar soluções para problemas das empresas e estudar a organização como um todo e suas práticas administrativas, de seleção e treinamento. O Instituto de Seleção e Orientação Profissional de Pernambuco também contribuiu muito com a disciplina da psicotécnica e com a preparação dos técnicos, esse foi criado pelo psiquiatra Ulisses Pernambuco em 1925 assim como o Instituto de Seleção e Orientação Profissional da Fundação Administrativo do Serviço Público (Zanelli, 2002). O IDORT depois de algum tempo teve sua atuação enfraquecida, com a criação dos departamentos administrativos do serviço público (DASP), dos laboratórios de Psicotécnica do SENAI em 1942 e do Instituto de Seleção e Orientação Profissional que era coordenado por Mira y Lopez (Faé, 2002). No Brasil, a década de 60 ficou marcada pelo surgimento da psicologia industrial, por conta dos diversos profissionais que viviam a intensa luta pela regulamentação e profissionalização dos psicólogos que tiveram sua regulamentação em 27 de agosto de 1962. Pelo menos há três décadas, a psicologia escolar e organizacional 18 19 já tinham uma tradição e aplicação em diversas áreas (Zanelli, 2002) ainda salientando sobre as circunstâncias relacionadas ao desenvolvimento e surgimento da psicologia aplicada ao trabalho no Brasil, cujas origens são fora do âmbito acadêmico. Devido às pressões do desenvolvimento industrial foram promovidos os incrementos da área para o próprio consumo, situação que dura até os dias atuais, onde o trabalho acadêmico é distanciado da aplicação das organizações gerando a discrepância entre os conteúdos e a realidade problemática das organizações, trazendo sérias repercussões para suas práticas. Segundo Goulart (1998), mesmo sendo um campo eclético com práticas e metodologias diferentes, a área vem se renovando e atende as mudanças que ocorrem durante as décadas, tanto voltadas para a organização do trabalho quanto nas contribuições mais objetivas e críticas. As práticas que os psicólogos utilizam dentro das organizações não podem ficar distantes das transformações que ocorrem no desenvolvimento da ciência (Zanelli, 2004). Podemos verificar no cenário contemporâneo em relação às atividades dos psicólogos, que têm sido ampliadas efetivamente novas práticas que estão sendo incorporadas às clássicas. Com isso as práticas tradicionais sofreram transições por conta das mudanças no trabalho. É um longo e difícil caminho definir qual o real foco que a psicologia do trabalho vem seguindo ao longo do tempo. A psicologia manteve distante o assunto sobre trabalho e saúde, como se não fizesse parte do seu trabalho. O foco era apenas a produtividade e os lucros empresariais em relação à categoria do trabalho (Grisci e Lazzarotto, 2002). Duas perspectivas de atuação são notadas por Sato (2003) sobre a disciplina em seu processo de desenvolvimento: uma estando articulada com a engenharia e administração e outra embasada na Psicologia Coletiva e Social. Na primeira perspectiva, a psicologia mantém sua referência em atender as necessidades da produção por meio da seleção de pessoal, avaliação e treinamento, trata-se da consolidação da aplicabilidade no mercado de trabalho. Já na segunda, o mais importante são os problemas humanos no trabalho e sociais, que estão contidos nas organizações e do lado de fora delas. A Psicologia do Trabalho se apresenta como um campo que congrega duas atuações distintas, sobre diferentes objetos, um lado voltado para os interesses da organização e a produtividade e outro que se preocupa com o trabalhador seu bem- estar e a saúde. O importante é pensar qual das duas tendências se sobressai nos dias atuais nas práticas dos psicólogos. Segundo Jacques (2003), atualmente se tem um grande interesse dos profissionais pela área da saúde do trabalhador. Mas, se observa uma indefinição entre teoria e metodologia por conta do desconhecimento do assunto, o que faz com que se tenham tentativas ingênuas de mesclar as duas teorias. A psicologia começou a focar nas questões de saúde do trabalho recentemente por conta das restrições dos debates sobre o assunto e também da lentidão (Spink, 1992). Isso se deve à dificuldade de sistematizar uma prática mais abrangente por parte da psicologia. Trabalhar com uma abrangência macro envolve a atuação em um nível mais alto, onde se busca incidências e frequências, para assim conseguir mudar a discussão sobre as formas de prevenções no contexto organizacional, já a 19 UNIDADE Introdução à saúde psicológica do trabalhador um nível micro compreendemos o trabalho individual, não precisando estudar nem entender o contexto externo (Spink, 1992). Quando relatamos uma abrangência média, estamos falando de um alcance que permite uma atuação mais voltada ao trabalho de forma que essa análise se torne curativa e o processo individual preventivo (Spink, 1992). Kyrillos Neto (1997) afirma que o psicólogo desenvolve um papel decisivo no sentido preventivo da conquista pela saúde, mas é necessárioque se antecipe as resistências e amplie o conceito da atuação da psicologia no trabalho assim como as práticas antigas precisam ser revistas para se redesenhar a atuação. É de grande importância que o profissional entenda o seu verdadeiro papel e amplie seu campo de atuação para contribuir de maneira mais eficiente e evidente a fim de ser notado (Raffih et al, 2001). Com isso podemos destacar algumas práticas de intervenção do profissional nesse assunto de saúde do trabalhado, como: a criação de estratégias integradas por meio de uma atuação interdisciplinar visando à prevenção de patologias e com pesquisas que tem por finalidade identificar os fatores ergonômicos e psicossociais que ajudam no surgimento de doenças do trabalho; organizar debates e discussões para explicitar os conflitos entre as partes contraditórias de uma organização, para os grupos de interesse é algo a se pensar. Por fim, a intervenção nos diversos grupos ocupacionais para facilitar as mudanças de percepção e atitudes sobre o trabalho, preparando os sujeitos para sua atividade laboral e uma gestão (Mendes 2003). A atuação do Psicólogo na saúde no trabalho deve abranger o campo psicológico, social e físico, ou seja, em âmbito interdisciplinar. Portanto este psicólogo que é um agente de mudanças precisa ter uma visão ampla e crítica dos processos organizacionais possibilitando assim construir diálogos que promovam um ambiente organizacional mais favorável e produtivo para os trabalhadores. O psicólogo deve trabalhar com uma perspectiva preventiva em saúde, com intervenções e diagnósticos a fim de diminuir os fatores que estão ligados ao adoecimento. A intensão é que se transforme uma atividade fatigante em algo mais equilibrado e flexível em relação à organização do trabalho, de forma que o trabalhador tenha uma liberdade maior para definir como deseja realizar as tarefas e quais os métodos que irá utilizar (Kyrillo Neto, 1997). O psicólogo tem a função de complementar com ações que valorizem o potencial dos trabalhadores e tragam oportunidade de crescimento e reconhecimento. Hashimoto (2004) vem apresentar uma proposta para a atuação da Psicologia em relação à saúde coletiva, buscando oferecer atenção aos problemas internos dos trabalhadores, os quais influem diretamente na impotência diante das situações adversas do cotidiano, junto com a apreensão de seus significados e também com a associação ao mundo do trabalho. Esse conceito vem ajudar a escutar o que os trabalhadores estão vivendo em seus contextos pessoais e organizacionais considerando a busca pela melhoria das condições de vida e do trabalho. Com a atuação da área sindical em relação à saúde do trabalhador, na conjuntura atual que esta baseada no capitalismo, é que se encontram as possibilidades de atuação dos 20 21 psicólogos dessa área. O profissional pode intervir a partir duas perspectivas: uma pela via do conhecimento do trabalhador e outra pela subjetividade. Na linha da subjetividade, o psicólogo cria estratégias que são levadas em conta, ou seja, reflete sobre o capital-trabalho tanto dentro como fora dos locais de trabalho, modificando as condições do trabalho e considerando as formas como é organizado para deixar mais flexíveis os poderes e suas divisões e também o conteúdo de cada tarefa se atendando as particularidades subjetivas. Mas, para isso é importante que se escute os trabalhadores e se leve em consideração o conhecimento adquirido pela vivência no contexto laboral, isso trata de uma nova maneira de lidar e construir o conhecimento sobre as relações entre o trabalho e a saúde de forma que sejam diferenciadas dos pressupostos que já foram adotados pela ciência, e implica em abrir espaço para se escutar e discutir com os trabalhadores a respeito do seu cotidiano laboral, onde poderão expor seus problemas e dificuldades em prol das transformações e melhorias para negociar medidas de prevenção e determinar um processo de construção melhor. A promoção da saúde do trabalhador depende do psicólogo do trabalho e de suas práticas com posicionamento ético-político que proporciona a construção de novas relações laborais que assegurem o bem-estar e a minimização do sofrimento. A primeira medida a se tomar para redimensionamento das práticas dos psicólogos é o resgate do humano, de maneira que os psicólogos orientem suas práticas não pensando apenas nas organizações, mas sim nas necessidades dos trabalhadores. Para isso é necessária a reconstrução do conceito do homem, de forma que passe a ser considerado o caráter dinâmico do humano que se constrói através do trabalho e não de forma passiva, estática e estável (Jacques, 1989). 21 UNIDADE Introdução à saúde psicológica do trabalhador Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Sites Saúde mental e trabalho: Um estudo fenomenológico com psicólogos organizacionais https://goo.gl/poifTB Saúde mental do trabalhador: A importância do equilíbrio psicológico https://goo.gl/eUA85D Psicologia e saúde do trabalhador: práticas e investigações na Saúde Pública de São Paulo https://goo.gl/LLOqqO Leitura Doenças Relacionadas Ao Trabalho Manual de Procedimentos para os Serviços de Saúde. https://goo.gl/w5sd1m 22 23 Referências AZEVEDO, M. A. D. (1995). Da psicologia organizacional à psicologia do trabalho. Cadernos de Psicologia, 3 (4): 67-71. BASTOS, A. V. B. (2003). Psicologia organizacional e do trabalho: Que resposta estamos dando aos desafios contemporâneos da sociedade brasileira? In: O. H. Yamamoto., V. V. Gouveia, (Org) Construindo a Psicologia Brasileira: Desafios da Ciência e Prática Psicológica. São Paulo: Casa do Psicólogo. BASTOS, A. V. B. (1992). O psicólogo nas organizações. Psicologia: Ciência e Profissão, 12 (2): 42-46. BOCK, A. M. B. (Org). (2003). Psicologia e o Compromisso Social. São Paulo: Cortez. CAMPOS, K. C. L. & Lomônaco, J. F. B. (2003). O protótipo do psicólogo organizacional: um estudo exploratório com graduandos de um curso de psicologia. Boletim de Psicologia de São Paulo, 53 (118): 73-87. CODO, W. (1989). O papel do psicólogo na organização industrial (nota sobre o lobo mau da psicologia). In: W. Codo., S. T. N. Lane (Orgs) Psicologia Social: o Homem em Movimento. 7.ed. São Paulo: Brasiliense. CODO, W. (1996). Um diagnóstico do trabalho (em busca do prazer). In: A. Tamayo., J. Borges-Andrade., W. Codo. (Orgs.) Trabalho, Organizações e Cultura. Coletâneas da ANPEPP. São Paulo: Cooperativa de Autores Associados. CODO, W.; Sampaio, J. J. C.; Hitomi, A. H. (1993). Indivíduo, Trabalho e Sofrimento: uma Abordagem Interdisciplinar. Petrópolis: Vozes. DEJOURS, C. (1986). Por um novo conceito de saúde. Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, 14 (54): 7-11. DEJOURS, C. (1988). A Loucura do Trabalho. São Paulo: Cortez. DEJOURS, C.; Abdoucheli, E. & Jayet, C. (1994). Psicodinâmica do Trabalho: Contribuições da Escola Dejouriana à Análise da Relação Prazer, Sofrimento e Trabalho. São Paulo: Atlas. FAÇANHA, D. C. (2003). Representações das Práticas dos Psicólogos nas Organizações. Dissertação de Mestrado, Universidade de Fortaleza. Fortaleza, Ceará, Brasil. FAÉ, R. (2002). Psicologia Organizacional no Brasil: Algumas de suas Trajetórias. Aletheia, 16: 97-106. FIGUEIREDO, C. (1990). Doenças nervosas e intervenção do psicólogo. Psicologia: Ciência e Profissão, 10 (1): 8-9. 23 UNIDADE Introdução à saúde psicológica do trabalhador FIGUEIREDO, M. A. C. (1989). O Trabalho Alienado & O Psicólogo do Trabalho: Algumas Questões sobre o Papel do Psicólogo na Produção Capitalista. São Paulo, Edicon. GONZÁLEZ-REY, L. F. (2004). Psicologia social e saúde. In: M. F. S. Silva. & C. A. B. Aquino. (Orgs), Psicologia Social: Desdobramentos e Aplicações. São Paulo: Editora Escrituras GOULART, Í. B. (1998). A Psicologia aplicada ao trabalho: tentativa de delimitação de seu campo na atualidade. In: I. B. Goulart.; J. R. Sampaio (Orgs.), Psicologiado Trabalho e Gestão de Recursos Humanos: Estudos Contemporâneos. São Paulo: Casa do Psicólogo. GOULART, Í. B. & Guimarães, R. F. (2002). Cenários contemporâneos do mundo do trabalho. In: Goulart, I. B (Org) Psicologia Organizacional e do Trabalho: Teoria, Pesquisa e Temas Correlatos. São Paulo: Casa do Psicólogo HASHIMOTO, F. (2004). A psicologia do trabalho e a psicanálise: relações possíveis. Anais do VI Semana de Psicologia da UEM: Subjetividade e Arte. JACQUES, M. G. C. (1989). Uma proposta de Redimensionamento do papel do Psicólogo do Trabalho. Psico (PUCRS), (17) 1: 15-30. JACQUES, M. G. C. (2003). Abordagens teórico-metodológicas em saúde/ doença mental & trabalho. Psicologia e Sociedade, 15(1), 97-116. KELLER, E. (2002). Análise da formação do psicólogo organizacional e do trabalho, sua interface com a inovação e a viabilidade de sua contribuição para a consolidação de organizações inovadoras. Terra e Cultura: Cadernos d e Ensino e Pesquisa. KRUMM, D. J. (2005). Psicologia do Trabalho: uma Introdução a Psicologia Industrial/Organizacional. Rio de Janeiro: LCT. LACAZ, F. A. C. (2007). O campo Saúde do Trabalhador: resgatando conhecimentos e práticas sobre a relação trabalho-saúde. Cad. Saúde Pública. MALVEZZI, S. (1979). O Papel dos Psicólogos Profissionais de Recursos Humanos. Dissertação de Mestrado, Instituto de Psicologia, Universidade de São Paulo. São Paulo, Brasil. MENDES, A. M. (2003). Trabalho em Transição, Saúde em Risco e a Prática da Psicologia Organizacional. CFP - Conselho Federal de Psicologia. Porto Alegre: Artmed. MENDES, A, M. (2004). Cultura organizacional e prazer-sofrimento no trabalho: uma abordagem psicodinâmica. In: A. Tamayo (Org.), Cultura e Saúde nas Organizações. Porto Alegre: Artmed. MINAYO-GOMEZ, C. & Thedim-Costa, S. M. (1997). A construção do campo da saúde do trabalhador: Percurso e dilemas. Cadernos de Saúde Pública, 13 (supl. 2): 21- 32. 24 25 NARDI, H. C. (1997). Saúde do trabalhador. In: Cattani, A. (Org.) Trabalho e Tecnologia: Dicionário Crítico. Petrópolis: Vozes. NARDI, H. C. (1999). Saúde, Trabalho e Discurso Médico. São Leopoldo: Unisinos. NETO, F. K. (1997). O psicólogo e a saúde do trabalhador. O Mundo da Saúde. Oliveira, D. S. N. (2001). Tecnologia da qualidade: dimensões psicossociais do desempenho organizacional. Revista de Psicologia da UFC. RAFFIH, A. E.; Sammi, K. M. & Onesti, L. A. (2001). Percepção pessoal das atribuições do psicólogo nas organizações. Revista Terra e Cultura: Cadernos de Ensino e Pesquisa. RUIZ, E. M. (1999). Trabalho e psicologia do trabalho ou como o “gorila amansado” conquistou a subjetividade In: J. J. C. Sampaio; I. C. F. Borsói; E. M. Ruiz (Orgs.), Trabalho, Saúde e Subjetividade. Fortaleza: INESP/EDUECE. SAMPAIO, J. R. (1998). Psicologia do trabalho em três faces. In: I. B. Goulart. & J. R. Sampaio (Org.), Psicologia do Trabalho e Gestão de Recursos Humanos: Estudos Contemporâneos. São Paulo: Casa do Psicólogo. SATO, L. (1992). O psicólogo e a saúde do trabalhador na área sindical. In: F. C. B. Campos (Org), Psicologia e Saúde: Repensando Práticas. São Paulo: Hucitec. SATO, L. (2003). Psicologia, trabalho e saúde: distintas construções dos objetos “trabalho” e “organizações”. In: Z. A. Trindade.; N. A. Andrade, Psicologia e Saúde: Um Campo em Construção. São Paulo: Casa do Psicólogo. SELIGMANN-SILVA, E. (1994). Desgaste Mental no Trabalho Dominado. Rio de Janeiro: UFRJ. SPECTOR, P. (2006). Psicologia nas Organizações. São Paulo: Saraiva. SPINK, P. (1992). Saúde mental e trabalho: o bloqueio de uma prática acessível. In F. Campos (org.), Psicologia e Saúde: Repensando Práticas. São Paulo: Hucitec. SILVA, C. D, P. & Merlo, A. C (2002). Prazer e sofrimento de psicólogos no trabalho de empresas privadas. Psicologia Ciência e Profissão. TITTONI, J. (2002). Saúde mental. In: A. Cattani (Org.) Trabalho e Tecnologia: Dicionário Crítico. Petrópolis: Vozes. TUPINAMBÁ, A. C. R. (1987). A psicologia organizacional no Brasil: sua evolução e situação atual. Revista de Psicologia da UFC. VENTURI, E. P. C. (1996). Atuação do psicólogo organizacional em Curitiba. Psicologia Argumento. ZANELLI, J. C. (1994 a). O Psicólogo nas Organizações de Trabalho: Formação e Atividades Profissionais. Florianópolis: Paralelo 27. 25 UNIDADE Introdução à saúde psicológica do trabalhador ZANELLI, J. C. (1994 b). Movimentos emergentes na prática dos psicólogos brasileiros nas organizações de trabalho: Implicações para a formação. In: R. Achcar (Org.), Psicólogo Brasileiro: Práticas Emergentes e Desafios para a Formação. São Paulo: Casa do Psicólogo. ZANELLI, J. C. (2002). O Psicólogo nas Organizações de Trabalho. Porto Alegre: Artmed. ZANELLI, J. C. & Bastos, A. V. B. (2004). Psicologia e produção do conhecimento em organizações e trabalho. In: J. C. Zanelli; J. E. Borges-Andrade. & A. V. B. Bastos, Psicologia, Organizações e Trabalho no Brasil. Porto Alegre: Artmed. Sites Consultados <http://www.nesc.ufrj.br/cursos/saudetrab/2007/SAUDEDOTRABALHO.pdf> acesso em 20-12-2016 <http://www.dpunion.com.br/blog/doencas-do-trabalho/> acesso em 20-12-2016 <www.previdenciasocial.gov.br> - Ministério da Previdência e Assistência Social <www.saude.gov.br> - Ministério da Saúde <www.mte.gov.br> - Ministério do Trabalho e Emprego <www.anamt.org.br> - Associação Nacional de Medicina do Trabalho <www.fundacentro.gov.br> - Centro brasileiro de pesquisa em segurança, saúde e meio ambiente de trabalho. <www.dataprev.gov.br> - Empresa de Tecnologia e Informações da Previdência Social <www.in.gov.br> - Imprensa Nacional. D.O.U. (Diário Oficial da União) <www.portalmedico.org.br> - Conselho Federal de Medicina <www.ilo.org> - Organização Internacional do Trabalho <http://livros01.livrosgratis.com.br/cp093763.pdf> acesso em 20-12-2016 26
Compartilhar