Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
visualização criativa 1 1 SUMÁRIO 2 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 2 3 ARTETERAPIA ........................................................................................... 3 3.1 HISTÓRICO DA ARTETERAPIA .......................................................... 6 3.2 PRESSUPOSTOS FUNDAMENTAIS NA ARTETERAPIA ................. 11 3.3 AS ARTES QUE SÃO UTILIZADAS NA TERAPIA PSICOLÓGICA ... 14 4 ARTETERAPIA: CRIATIVIDADE, ARTE E SAÚDE MENTAL COM PACIENTE ADICTOS ............................................................................................... 17 4.1 METODOLOGIA USADA EM SESSÕES DE ARTERAPIA APLICADAS AOS DEPENDENTES QUÍMICOS JOVENS ......................................................... 18 5 OS SENTIMENTOS PROPORCIONADOS PELA ARTETERAPIA .......... 24 6 A IMPORTÂNCIA DAS RELAÇÕES PESSOAIS NO GRUPO DE ARTETERAPIA ......................................................................................................... 25 7 ARTETERAPIA NO ENFRENTAMENTO DO CÂNCER ........................... 27 8 CULTURA DE PAZ E ARTETERAPIA ...................................................... 35 9 A ARTETERAPIA NO TRATAMENTO DO TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA (TEA) ......................................................................................................... 43 10 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................... 46 2 2 INTRODUÇÃO Prezado aluno! O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil. Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que lhe convier para isso. A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser seguida e prazos definidos para as atividades. Bons estudos! 3 3 ARTETERAPIA Arteterapia é uma área de atuação profissional que utiliza recursos artísticos com finalidade terapêutica (CARVALHO, 1995, p;23, apud REIS, 2013, p. 143). Na definição da Associação Brasileira de Arteterapia, “é um modo de trabalhar utilizando a linguagem artística como base da comunicação cliente profissional. Sua essência é a criação estética e a elaboração artística em prol da saúde”. Conforme delimita a Associação, a arteterapia é uma especialização destinada a profissionais com graduação na área da saúde, como Psicologia, Enfermagem e Fisioterapia, embora se reconheça sua utilização por pessoas formadas nas áreas das artes e da educação, desde que sem o enfoque clínico. Fonte: institutopsicologiaemfoco.com.br/2016/11/11/saude-mental-e-arte/ A arteterapia usa a atividade artística como instrumento de intervenção profissional para a promoção da saúde e a qualidade de vida, abrangendo hoje as mais diversas linguagens: x Plástica: que são os desenhos, as esculturas; x Sonora: através de música, instrumentos; x Literária: escrita criativa, poesias, utilização de contos, mitos: x Dramática: ligada a expressão cénica, teatral, porém diferente do teatro convencional; 4 x Corporal: pode acontecer desde um relaxamento, técnicas de respiração, como também trabalhos envolvendo a dança, dança expressiva, criativa. Lembrando que todas essas linguagens, são linguagens onde não é enfatizado a questão estética. Técnicas expressivas: x Desenho; x Pintura; x Modelagem: pode acontecer com argila, que é um excelente material de trabalho, mas também pode ser usado massinha de modelagem com os pequenos, com biscuit; x Música; x Poesia; x Dramatização e dança. Tendo em vista a formação do profissional e o público com o qual trabalha, a arteterapia encontra diferentes aplicações: na avaliação, prevenção, tratamento e reabilitação voltados para a saúde, como instrumento pedagógico na educação e como meio para o desenvolvimento (inter) pessoal através da criatividade em contextos grupais. Desse modo, os campos de atuação da arteterapia tem se ampliado, abrangendo além do contexto clínico, com uma aplicação bem expressiva, o educacional, com os projetos de arte-educação, com um enfoque no trabalho de habilidades sociais diante da arteterapia, o campo comunitário, outro enfoque é o hospitalar, que ocorre com pacientes já internados em quadro crônico, pacientes que estão entre um tratamento e outro e o organizacional. ((REIS, 2014) No entanto, o desenvolvimento da arteterapia como área específica de trabalho deu-se na Psicologia, ligado primordialmente à questão da saúde mental, como veremos adiante. Importante se faz refletir sobre a arte como uma ferramenta de trabalho do psicólogo, contextualizando historicamente a arteterapia, discutindo os pressupostos Mônica Moura Tendo em vista a formação do profissional e o público com o qual trabalha, a arteterapia encontra diferentes aplicações: na avaliação, prevenção, tratamento e reabilitação voltados para a saúde, como instrumento pedagógico na educação e como meio para o desenvolvimento (inter) pessoal através da criatividade em contextos grupais. 5 fundamentais que sustentam esta prática e apresentando suas principais abordagens teóricas. Este trabalho vem contribuir no sentido de mostrar um panorama geral acerca da arteterapia, que permitirá a estudantes e a psicólogos conhecer uma especialização de que ainda pouco se fala nos cursos de graduação universitários, avançando ao refletir sobre a própria contribuição da arte na atuação do psicólogo, seja na clínica, seja em outros contextos, como um meio para trabalharmos com a (inter) subjetividade em uma concepção estética do humano. Hoje a arteterapia não está mais restrita aos consultórios, revelando-se um valioso instrumento para intervenções também nas áreas da Psicologia social, escolar, organizacional, da saúde e hospitalar. O que se quer mostrar aqui é que a arte é um poderoso canal de expressão da subjetividade humana, que permite ao psicólogo e a seu cliente, seja ele um indivíduo, seja um grupo, acessar conteúdos emocionais e retrabalhá-los através da própria atividade artística. Uma grande diversidade de temas, desde traumas e conflitos emocionais, aspectos das relações interpessoais em um grupo, expectativas profissionais, gênero e sexualidade, identidade pessoal e coletiva, entre outros, podem ser abordados pelo psicólogo através da arte. Ela é uma ferramenta que amplia as possibilidades de expressão, indo além da abordagem tradicional, que é baseada na linguagem verbal. A mediação da arte na comunicação apresenta algumas vantagens, entre as quais a expressão mais direta do universo emocional, pois não passa pelo crivo da racionalização que acompanha o discurso verbal. Além disso, com a atividade artística, facilitamos o contato do sujeito com suas questões por um viés criativo, e não apenas dando forma a determinado conteúdo subjetivo, mas também podendo reconfigurar em novos sentidos. O modo como esse processo acontece encontra diferentes explicações em função da perspectiva teórica considerada, como será analisado adiante, mas a ideia central é essa: a atividade criadora como um instrumento e a arte comoum caminho de transformação subjetiva. Como método de trabalho do psicólogo, a arteterapia poderá ser adaptada a diferentes objetivos, bem como sustentada sobre diferentes abordagens teóricas, cabendo ao psicólogo a escolha da linha com que mais se identifique. Serão enfocadas as abordagens consideradas principais e que foram as primeiras a marcar presença no desenvolvimento da arteterapia: psicanálise, junguiana, gestalt. Embora cada uma delas tenha seu modo próprio de trabalhar com 6 o fazer criativo, todas reconhecem que a arte promove o autoconhecimento e potencializa a criatividade, habilidades essenciais ao desenvolvimento, tanto de um indivíduo como de um grupo com quem o psicólogo esteja trabalhando. 3.1 HISTÓRICO DA ARTETERAPIA Entre os anos 20-30, as teorias de Freud e Jung trouxeram as bases para o desenvolvimento inicial da arteterapia como campo específico de atuação, segundo descrevem Carvalho e Andrade (1995, apud REIS, 2014, p; 144). Os autores relembram que Freud, ao analisar algumas obras de arte (por exemplo, o Moisés, de Michelangelo), observou que elas expressavam manifestações inconscientes do artista, considerando-as uma forma de comunicação simbólica, com função catártica. A ideia freudiana de que o inconsciente se expressa por imagens, tais como as originadas no sonho, levou à compreensão das imagens criadas na arte como uma via de acesso privilegiada ao inconsciente, pois elas escapariam mais facilmente da censura do que as palavras. Apesar desse grande achado, o próprio Freud não chegou a utilizar a arte como parte do processo psicoterapêutico. Jung (1875-1961, apud, REIS, 2014, p. 145), ilustre discípulo de Freud, com quem posteriormente rompeu ao desenvolver sua própria teoria, a Psicologia analítica, foi quem propriamente começou a usar a linguagem artística associada à psicoterapia. Diferentemente de Freud, que considerava a arte uma forma de sublimação das pulsões, Jung considerava a criatividade artística uma função psíquica natural e estruturante, cuja capacidade de cura estava em dar forma, em transformar conteúdos inconscientes em imagens simbólicas (SILVEIRA, 2001, apud REIS, p 145). Ele sugeria aos seus pacientes que desenhassem ou pintassem livremente seus sonhos, sentimentos, situações conflitivas, etc., analisando as imagens criadas por eles como uma simbolização do inconsciente individual e coletivo (ANDRADE, 2000, apud REIS, p. 145). Jung utilizava o desenho livre para facilitar a interação verbal com o paciente e porque acreditava na possibilidade de o homem organizar seu caos interior utilizando-se da arte (ANDRADE, 2000, p.52, apud REIS, p 145). Partindo dessas duas vertentes teóricas, o uso da arte como instrumento terapêutico foi progressivamente ganhando espaço. A educadora norte-americana 7 Margareth Naumburg (1890-1983) pode ser considerada a fundadora da arteterapia, pois foi a primeira a sistematizá-la, em 1941 (ANDRADE, 1995, 2000, apud REIS, p 145). Seu trabalho é denominado Arteterapia de Orientação Dinâmica, e foi desenvolvido com base na teoria psicanalítica (Naumburg, 1966). Nessa perspectiva, as técnicas de arteterapia visam a facilitar a projeção de conflitos inconscientes em representações pictóricas, sendo esse material submetido à interpretação seguindo o modelo teórico proposto por Freud. No Brasil, a história da arteterapia nasce na primeira metade do século passado entrelaçada com a psiquiatria e influenciada tanto pela vertente psicanalítica quanto pela junguiana. Estas encontram-se representadas respectivamente nas figuras de Osório Cesar (1895-1979, apud REIS, p 145) e Nise da Silveira (1905-1999, apud REIS, p 145), psiquiatras precursores no trabalho com arte junto a pacientes em instituições de saúde mental. Ambos contribuíram para o desenvolvimento de uma outra abordagem frente à loucura, contrapondo aos métodos agressivos de contenção vigentes na época (eletrochoque, isolamento) à possibilidade de expressão da loucura e de sua eventual cura através da arte. Conforme relata Silveira, nesse caminho alternativo, construiu-se um tratamento mais humano, com inegáveis efeitos terapêuticos na reabilitação dos pacientes, que promovia a recuperação do indivíduo para a comunidade em nível até mesmo superior àquele em que se encontrava antes da experiência psicótica (2001, p.19, apud REIS, p 145). Em 1923, Osório Cesar já era estudante interno no Hospital Psiquiátrico de Juqueri, localizado em Franco da Rocha, região metropolitana de São Paulo, e, a partir de 1925, aí trabalhou como médico ao longo de 40 anos (ANDRIOLO, 2003, apud REIS, p 145). Já em 1925, cria a Escola Livre de Artes Plásticas do Juqueri, e, em 1948, é o organizador da 1ª Exposição de Arte do Hospital do Juqueri, no Museu de Arte de São Paulo. Sobre seu trabalho de arte com psicóticos, o Dr. Osório publica, em 1929, sua obra principal, A Expressão Artística nos Alienados, na qual apresenta seu método de classificação e de análise de obras de arte de pacientes psiquiátricos. Andriolo (2003, apud REIS, p 145) considera a importância do pensamento de Osório Cesar, localizando-o no início da formação do campo da Psicologia da arte no Brasil, onde sua obra representaria um exemplo consistente de leitura freudiana de arte, embora hoje passível de crítica pelo reducionismo da obra artística a uma psicologia individual e patologizante, em detrimento dos seus aspectos históricos e sociais. 8 No que tange à história da arteterapia, Carvalho e Andrade destacam o papel de Osório Cesar pela contribuição que trouxe no plano teórico, ao articular os conceitos freudianos à análise da arte, considerando-o o precursor no Brasil da análise da expressão psicopatológica de doentes mentais. Na perspectiva psicanalítica clássica, Osório Cesar analisa a simbologia sexual presente nas produções artísticas de seus pacientes, compreendendo a obra de arte como uma representação dos desejos pessoais do autor, disfarçados nos elementos simbólicos presentes nas imagens (CESAR, 1944, apud REIS, p 146). Devemos levar em conta ainda a relevância do trabalho de Osório Cesar para a valorização da arteterapia, pois ele realizou mais de 50 exposições divulgando a expressão artística de doentes mentais, procurando, com isso, afirmar a dignidade humana dessas pessoas (ANDRADE, 2000, apud REIS, p 146). Em termos da prática, de acordo com Carvalho e Andrade, o seu método era baseado na espontaneidade e na crença de que o fazer arte já propiciava a cura por si', por ser um veículo de acesso ao conhecimento do mundo interior (1995, p.34, apud REIS, p 146). A psiquiatra Nise da Silveira trabalhava no Centro Psiquiátrico D. Pedro II, em Engenho de Dentro, Rio de Janeiro Em 1946, assumiu a Seção de Terapêutica Ocupacional, onde os pacientes realizam variadas atividades expressivas (sobretudo pintura e modelagem), dando- lhe uma nova orientação, pois, para ela, a terapia com arte não deveria ter a finalidade de distrair, mas de contribuir efetivamente para a cura dos pacientes. Em 1952, ela criou, na mesma instituição, o Museu de Imagens do Inconsciente, composto pelo acervo crescente das obras produzidas pelos internos, que conta com mais de 300.000 documentos plásticos, entre telas, papéis e esculturas. Desse modo, constituiu um rico campo de pesquisa, em que a prática realizada na Seção de Terapêutica Ocupacional era respaldada pelo estudo do valor terapêutico da atividade criadora, a partir da investigação das imagens arquivadas no Museu de Imagens do Inconsciente. Essa trajetória é narrada por ela no livro O Mundo Das Imagens, no qual explica seu método e traz diversos exemplos de análise de obras de arte no processo psicoterapêutico de pacientes, em uma leitura junguiana. Embora seja considerada uma pioneira na história da arteterapia no Brasil (CARVALHO& ANDRADE, 1995; ANDRADE, 2000, apud REIS, 2014, p 146), Nise da Silveira não aceitava essa denominação ao seu trabalho, preferindo designá-lo 9 terapêutica ocupacional. Ela considerava que a palavra arte trazia uma conotação de valor, de qualidade estética, que não tinha em vista ao utilizar a atividade expressiva com seus pacientes (SILVEIRA, 2001, apud REIS, p 146). Apesar disso, críticos de arte como Mário Pedrosa e outros que passaram a frequentar o Museu de Imagens do Inconsciente reconheceram ali verdadeiras obras de arte, como analisa Frayze- Pereira (2003, apud REIS, p 146). Outros aspectos a embasar a crítica de Nise da Silveira à arteterapia é que esta, se caracteriza pela intervenção do terapeuta, enquanto, na prática adotada em Engenho de Dentro, as atividades realizadas pelos pacientes eram absolutamente livres, suas criações davam-se espontaneamente a partir do material disponibilizado nos ateliers, sendo apenas acompanhadas por uma monitora, mas não dirigidas por ela. Nisso encontramos uma distinção não somente metodológica, mas também teórica, pois Nise da Silveira, junguiana, refere-se especificamente à arteterapia desenvolvida por Margaret Naumburg, psicanalítica, na qual o paciente é dinamicamente orientado, a partir da relação transferencial, a descobrir a significação de suas criações, um processo de interpretação que não ocorria na abordagem proposta por Nise da Silveira. Para ela, a função terapêutica da arte era permitir a expressão de vivências não verbalizáveis por aqueles que se encontravam imersos no inconsciente, ou seja, em um mundo fora do alcance da elaboração racional, cabendo ao terapeuta a tarefa de estabelecer conexões entre imagens que emergem do inconsciente e a situação emocional vivida pelo indivíduo. Nessa tarefa, apoiava-se sobretudo na psicologia analítica de Jung, de onde derivou uma das mais importantes abordagens em arteterapia, de cujos conceitos principais iremos tratar adiante. Para Nise da Silveira, as produções artísticas não somente trazem elementos esclarecedores acerca do processo psicótico (sobretudo quando as obras de um mesmo autor são examinadas em série, revelando temas recorrentes) mas também trazem um valor terapêutico em si mesmas, pois davam forma a emoções tumultuosas, despotencializando-as, e objetivavam forças auto curativas que se moviam em direção à consciência, isto é, à realidade. Para os pacientes, a atividade criadora permitia não somente dar uma forma ao seu tumulto emocional, mas também transformá-lo por meio dessa expressão. Nise da Silveira destaca que a eficiência do tratamento através de atividades expressivas se revelou na diminuição da porcentagem de recaídas na condição 10 psicótica e de reinternações de pacientes beneficiados por esse trabalho em Engenho de Dentro, especialmente quando os egressos continuaram com algum acompanhamento. Este foi viabilizado por ela com a criação da Casa das Palmeiras, em 1956, instituição pioneira no atendimento de pacientes em regime de portas- abertas. Fonte: hubspot.com O trabalho de Nise da Silveira inaugurou um novo olhar acerca da relação entre arte e loucura. Conforme analisa Frayze-Pereira, o Museu de Imagens do Inconsciente se constituiu, desde sua origem, como um núcleo de pesquisa da esquizofrenia (2003, p.198, apud REIS, 2014, p 147). No entanto, mais do que somente dar acesso à interioridade dos esquizofrênicos e levar as suas obras ao conhecimento do grande público, o autor destaca a importância do Museu na formação de um novo campo de sentidos, que abre a passagem entre o hospício e o mundo das imagens, campo que articula Psicologia, arte e política numa trama cultural. Nesse campo, a arte não só é instrumento de transformação da realidade interna do esquizofrênico como também de sua realidade externa, à medida que sua expressão ganha o espaço do Museu: na moldura de uma exposição legitimada pela cultura, a expressão marginal' certamente ganha o selo de obra de arte'. O marginal, o louco, o psiquiatrizado, torna-se artista e aos olhos do espectador, gênio' (2003, p.204, apud REIS, 2014, p 147). 11 Embora os psiquiatras Osório César e Nise da Silveira sejam pioneiros no trabalho com terapias expressivas no Brasil, o desenvolvimento da arteterapia e sua sistematização no campo específico da Psicologia se deram posteriormente. Conforme descreve Andrade (2000, apud REIS, 2014, p 147), na construção desse campo, destaca-se Maria Margarida M. J. de Carvalho, que, em 1980, implantou o primeiro Curso de Arteterapia no Instituto Sedes Sapientae, em São Paulo. Ela é psicóloga clínica, foi professora do Instituto de Psicologia da USP e coordenadora, em 1995, do livro A Arte Cura? Recursos Artísticos em Psicoterapia. Outro marco destacado por Andrade foi a criação, em 1982, da Clínica Pomar, no Rio de Janeiro, coordenada por Ângela Philippini, onde se oferece curso de formação em arteterapia de orientação junguiana. Já em 1990, outra abordagem entra no cenário da arteterapia brasileira, ao ser implantada uma especialização em arteterapia gestáltica por Selma Ciornai, no Sedes Sapientae. Desde então, a arteterapia vem crescendo cada vez mais, ganhando outros espaços além da clínica e também outras molduras teóricas, como a rogeriana, a antroposófica e a transpessoal, entre outras. 3.2 PRESSUPOSTOS FUNDAMENTAIS NA ARTETERAPIA Embora possa ser desenvolvida a partir de diferentes referenciais teóricos, a arteterapia se define em todos eles por um ponto em comum: o uso da arte como meio à expressão da subjetividade. Sua noção central é que a linguagem artística reflete (em muitos casos melhor do que a verbal) nossas experiências interiores, proporcionando uma ampliação da consciência acerca dos fenômenos subjetivos (Ciornai, 1995, apud REIS, 2014, p 147). Liomar Quinto Andrade, que é psicólogo clínico e autor do livro Terapias Expressivas, publicação oriunda de sua tese de doutorado pela USP, define que a expressividade ou a arte se torna um instrumento de trabalho quando combinada a um objetivo educacional ou terapêutico, apresentando como pressupostos fundamentais da arteterapia: a) A expressão artística revela a interioridade do homem, fala do modo de ser e visão de cada um e seu mundo. Esse ato revela um suposto sentido, e cada teoria e método em arte- terapia e terapia expressiva se apodera desse ato diferentemente 12 b) Por intermédio desse fazer arte', expressar-se, o terapeuta pode estabelecer um contato com o cliente possibilitando a este último o autoconhecimento, a resolução de conflitos pessoais e de relacionamento e o desenvolvimento geral da personalidade (Andrade, 2000, p.18 apud REIS, 2014, p 148). O autor do trabalho, Raphael Domingues (1912-1979, apud REIS, 2014, p 148), foi um dos pacientes-artistas de Engenho de Dentro que participaram de importantes exposições, dentre as quais uma realizada em 1949, no Museu de Arte Moderna de São Paulo, cuja repercussão na imprensa e no meio artístico é examinada por Dionísio (2001, apud REIS, 2014, p 148). O autor lembra que, nessa ocasião, o crítico de arte Mário Pedrosa cria o termo arte virgem para designar os trabalhos dos nove participantes, então pacientes da Dra. Nise da Silveira. Entre eles, Raphael e Emygdio de Barros (1895-1986, apud REIS, 2014, p 148) são hoje vistos como grandes artistas esquizofrênicos. À parte a discussão sobre a qualidade artística ou não dos trabalhos produzidos em arteterapia, o importante para o psicólogo é que a atividade expressiva se torne um instrumento à expressão e à reflexão dos sujeitos. Como atividade terapêutica, o que aqui se pretende não é propriamente fazer arte, mas sim, exercitar a criatividade, proporcionar que no fazer criativo se produzam outros modos de objetivação e de subjetivação. Desse modo, ela pode ser utilizadacomo recurso no contexto da clínica, da educação, da comunidade, da saúde pública, das empresas, em intervenções na área de dificuldades físicas, cognitivas, emocionais e sociais junto a indivíduos, famílias, grupos sociais e equipes de trabalho. Uma característica comum às terapias com arte é que, por meio da vivência expressiva, o sujeito pode dar-se conta do que de fato sente e, durante esse processo, pode verdadeiramente fazer algo que assim o represente e a ele faça sentido (ANDRADE, 2000, p.33, apud REIS, 2014, p 148). Portanto, na arteterapia, o fazer artístico se constitui como mediação no processo de autoconhecimento e de (re) significação do sujeito acerca de si próprio e de sua relação com o mundo. Outro ponto compartilhado entre as diferentes abordagens é o reconhecimento da função terapêutica inerente à própria atividade artística e diretamente ligada à criatividade. Para Ostrower, criar é, basicamente, formar. É poder dar uma forma a algo novo, é tanto estruturar quanto comunicar-se, é integrar significados e é transmiti- 13 los. Assim, o sentido da arte como ferramenta para o psicólogo não se restringe à sua função meramente expressiva, mas amplia-se pelo poder transformador da arte como ação criadora. E aqui compreendo arte como um processo de formatividade, ideia desenvolvida pelo filósofo italiano Luigi Pareyson (1918-1991, apud REIS, 2014, p 149), que definiu a atividade artística como um formar, cujo resultado é um ser, uma forma inteiramente nova, pois a arte é um tal fazer que, enquanto faz, inventa o por fazer e o modo de fazer. Na perspectiva histórico-cultural em Psicologia, a atividade criadora é compreendida como um processo no qual o sujeito reorganiza diversos elementos de sua experiência, combinando-os de modo diferenciado e, com isso, produzindo o novo (Vygotski, 1990, apud REIS, 2014, p 149). Nessa atividade, ele parte do que está dado, do que é conhecido, reconfigurando-o em uma nova forma a partir da imaginação, o que culmina na objetivação do produto da imaginação, a qual, ao materializar-se na realidade, traz consigo uma nova força, que se distingue por seu poder transformador frente à realidade da qual partiu. Vygostki, na obra Psicologia da Arte, salienta a função transformadora dessa atividade, que extrai da vida o seu material, produzindo algo acima desse material, pois a arte está para a vida como o vinho para a uva (1998, p.307, apud REIS, 2014, p 149). Embora esse não seja um autor de referência na arteterapia, a ideia de que o fazer criativo é transformador perpassa esse campo. Na visão de Ciornai, o propósito fundamental da arteterapia é resgatar a criatividade na vida, ou seja, contribuir para que o sujeito aprenda a lidar criativamente com os limites que a vida lhe impõe (1995, p.59), transformando-se assim em artista da própria vida. Isso é possível porque a arte nos abre a uma realidade alternativa (1995, p.61, apud REIS, 2014, p 149), na qual o homem pode perceber, figurar e reconfigurar suas relações consigo, com os outros e com o mundo. Portanto, no trabalho do psicólogo mediado pelo fazer artístico, destaco como princípios fundamentais a concepção da arte como atividade expressiva e criativa: não se trata apenas da expressão da subjetividade, da objetivação de emoções, sentimentos e pensamentos em uma forma artística (desenho, pintura, modelagem, etc.), mas especialmente da sua transmutação pela arte, da sua reconfiguração em novas formas e em outros sentidos, em um processo no qual, ao criar na arte, o sujeito se recria na vida. 14 3.3 AS ARTES QUE SÃO UTILIZADAS NA TERAPIA PSICOLÓGICA As artes visuais são as utilizadas na terapia. Falamos de pintura, barro, colagem, artes cênicas como a atuação, contos, teatro da lembrança, jogos de função, marionetes. Com a música se utiliza o ritmo, sons, voz, instrumentos, e na escrita podem ser utilizados diferentes gêneros. A arteterapia é uma forma de dizer a verdade brincando com o simbólico. As experiências na criação podem representar atos de agressividade, abandonos, perdas, sentimentos, e o fazem de forma indireta, sem uma intencionalidade (BASSOLS, 2006, p 20). Fonte: amenteemaravilhosa.com.br/arteterapia-definicao-beneficios/ No trabalho teatral, dramático ou com palhaços, o paciente fala dele por meio do personagem. É a arte da ação através do personagem de ficção, um processo de criação individual e/ou coletivo que se situa entre dois mundos: a realidade e a ficção. Nas produções de barro se estabelece um diálogo com a matéria, trata-se de favorecer o reencontro da pessoa com a matéria e acompanhá-la no percurso que vai do barro até a si mesma. 15 Fonte: websta.org/tag/terapiadoriso Na pintura, se dá um primeiro passo de desbloqueio, deixando-se levar pelas imagens que venham, os traços, as formas, as cores, buscando que a mão fuja da censura do olho, como uma desinibição, para organizar, em um segundo momento, e pouco a pouco ir adentrando no mais profundo da pessoa. Fonte: .iped.com.br/materias/educacao-e-pedagogia/arteterapeuta.html Na dança existe um início, um momento de conscientização do próprio movimento, no sentido de escutá-lo e se escutar através desse dinamismo, https://www.websta.org/tag/terapiadoriso https://www.iped.com.br/materias/educacao-e-pedagogia/arteterapeuta.html 16 permitindo, posteriormente, uma aproximação para si mesmo e facilitando a comunicação com o outro. No trabalho de voz busca-se e utiliza-se a voz natural, desbloqueia-se a respiração; se cria e se transforma a partir de improvisações, combinando diversas qualidades de sons. Fonte:www.mediacionartistica.org Por outro lado, a escrita possibilita novas formas para jogar com a imaginação a partir das próprias experiências e vivências. Aparecem situações e companheiros imaginários, itinerários diversos, até chegar à recreação de relatos e contos na ficção. “A finalidade da arte é dar corpo à essência secreta das coisas, não é o copiar de sua aparência.” – Aristóteles – 17 4 ARTETERAPIA: CRIATIVIDADE, ARTE E SAÚDE MENTAL COM PACIENTE ADICTOS Fonte: www.researchgate.net A Arteterapia, aplicada ao dependente químico e de acordo com os novos paradigmas de atenção em saúde mental, é um processo terapêutico predominantemente não-verbal, por meio das artes plásticas, que acolhe o ser humano com toda sua diversidade, complexidade, dinamicidade e o auxilia a encontrar novos “sentidos” para sua vida, objetivando a reinserção e inclusão social. A Arteterapia também procura respeitar os diversos aspectos dos usuários, como os afetivos, culturais, cognitivos, motores, sociais entre outros, aspectos tão importantes na saúde mental (VALLADARES et al, 2008 p.05). Presume-se, então, que a análise dos conteúdos das produções simbólicas: cores, profundidade, criatividade etc apresenta o registro dos momentos de suas vidas. 18 4.1 METODOLOGIA USADA EM SESSÕES DE ARTERAPIA APLICADAS AOS DEPENDENTES QUÍMICOS JOVENS Atividades de Arteterapia, realizada com um total de 98 usuários jovens de ambos os sexos de um Hospital Psiquiátrico de Goiânia/GO. Compuseram o estudo 32 intervenções breves de Arteterapia realizadas duas vezes por semana, no período matutino, em ambiente inicialmente fechado e posteriormente descontraído e junto à natureza, com participação média de 15 usuários por sessão, em sua maioria de pessoas do sexo masculino. O período total abrangeu os meses de agosto a dezembro de 2007. O grupo foi formado por pessoas aquiescentes ao processo, sendo o mesmo rotativo, pois a clientela era livre para entrar e sair do grupo e das sessões quando quisesse. Os pacientes apresentaram oscilação no diagnóstico clínico (OMS, 2003, apud VALLADARES et al, 2008 p.06). Os transtornos mentais decorrentes do uso abusivo deSubstâncias Psicoativas variaram entre as drogas: álcool, opióides, canabinóides, sedativos ou hipnóticos, cocaína, estimulantes, alucinógenos, tabaco, solventes voláteis. Os usuários se encontravam em fase de desintoxicação das substâncias psicoativas e estavam internados na Ala de Dependentes Químicos de um Hospital Psiquiátrico particular de Goiânia/GO. O tratamento preconizado nesta Instituição aos dependentes químicos era de 28 dias de internação, atendimento por uma equipe multiprofissional e atividades terapêuticas diversas, além do acompanhamento familiar. Os objetivos das intervenções de Arteterapia foram facilitar a expressão da subjetividade dos participantes e auxiliar, tanto no auto expressão, quanto na elaboração de conteúdos internos, alívio de tensões, angústias, medos, expectativas e ansiedades, bem como favorecer a integração do grupo. Permitir, ainda, que o criador pudesse expressar seus sentimentos, adquirir consciência dos mesmos e, em seguida, melhorar a ativação e a estruturação do processo de seu desenvolvimento interno. Foram feitas 6 atividades diferentes entre os grupos, das quais citaremos 3 experiências com os internos: 19 SÉRIE MANDALAS Objetivos: A mandala tem uma dupla finalidade, o de conservar a ordem psíquica, se ela já existe; ou de restabelecê-la, se desapareceu. Nesse último caso, incentiva a criação do ser humano (JUNG, 2005, apud VALLADARES et al, 2008 p.07). Atividades desenvolvidas: Tipologia de Jung: quatro funções – quatro elementos da Arteterapia (terra, fogo, ar e água). Utilizou-se dos seguintes materiais: terra - colagem com areia e pedras coloridas sobre mandala de papel. Fogo - velas e giz de cera derretidos sobre mandala de papel. Ar – materiais gráficos coloridos (desenho) sobre modelos diversos de mandala já pré-riscadas sobre papel. Água - pintura sobre CD. Desenvolvimento: Elemento Ar (Desenho) – Função Pensamento. Elemento Terra (Areia e pedras) – Função Sensação. Elemento Água (Pintura) – Função Sentimento. Elemento Fogo (Giz e vela) – Função Intuição. Comentários/Análise: O desenho (Ar) permitiu o distanciamento emocional, trabalhou a racionalidade, ajudou a organizar os fatos e as ideias. O ar é o símbolo da liberdade, da expansão, da comunicação e da criação (CHEVALIER & GHEERBRANT, 2003; CIRLOT, 2005; FINCHER, 1991; LEXIKON, 1994, apud VALLADARES et al, 2008 p.07). Os mesmos autores acima citados afirmam, que a terra é firme, próximo à realidade, é um símbolo ligado às raízes e às bases da humanidade. Possibilitou ajuda na estruturação psíquica, permitiu percepções de sensações/fenômenos e favoreceu a imaginação criativa. A terra é o símbolo da origem da vida, que sustenta, nutri e acolhe o ser. (et al, 2008 p.07). A pintura fluida explora o elemento água e trouxe flexibilidade, abertura e envolvimento. Símbolo que trouxe a expansão, a fluidez, o frescor e o relaxamento. Facilitou a concretização de imagens psíquicas internas. (CHEVALIER & GHEERBRANT, 2003; CIRLOT, 2005; FINCHER, 1991; LEXIKON, 1994, apud VALLADARES et al, 2008 p.07). O fogo permite entrar em contato mais rápido com a luz porque faz iluminar aspectos negativos, sombrios etc. O fogo trouxe uma energia intensa e por meio dele, 20 os jovens drogadictos perceberam um sentido no que estavam fazendo. O fogo é um símbolo purificador, regenerador e transformador (CHEVALIER & GHEERBRANT, 2003; CIRLOT, 2005; FINCHER, 1991; LEXIKON, 1994, apud VALLADARES et al, 2008 p.08). Esta série Mandalas possibilitou que se estimulassem as funções psíquicas menos desenvolvidas, iluminando aspectos sombrios da psique. A utilização dos quatro elementos na Arteterapia exerce a finalidade de revitalizar áreas desusadas, núcleos bloqueados, recupera a possibilidade de fluxo da energia psíquica (PHILIPPINI, 2005, apud VALLADARES et al, 2008 p.08). SÉRIE CORPO Objetivos: Resgatar a identidade do dependente químico e preencher o vazio. “O fato é que o auto-retrato pode ser distorcido da realidade, porque muitas vezes tal imagem associa-se a aspectos idealizados ou patológicos que geralmente refletem dificuldades profundas com o próprio corpo” (VALLADARES & CARVALHO, 2005b, p.40, apud VALLADARES et al, 2008 p.08). Atividades desenvolvidas: Representação do próprio rosto com técnicas de desenho e pintura em papel. Representação do corpo inteiro com técnicas de colagem utilizando-se de pedaços de papéis, pedras coloridas ou pingos de velas em papel e tecidos. Representação de personagens com técnica de pintura num mural coletivo. Desenvolvimento: Representação do próprio rosto – trabalho individual. Representação do corpo inteiro – trabalho em grupo. Representação de vários personagens – personagens confeccionados no início individualmente, mas dentro de uma composição coletiva. Comentários/Análise: A representação do próprio rosto possibilitou “expressar o mundo interno” dos usuários. A ação criativa revelou a riqueza inconsciente dos dependentes químicos. A representação do corpo inteiro foi um trabalho de juntar fragmentos (pedaços de papel, pingos de velas ou pedras coloridas). Representou simbolicamente a construção ou reintegração das personalidades fragmentadas e em desordem dos adictos. 21 Com a representação de vários personagens permitiu-se estabelecer uma ponte entre o intrapsíquico e o extra psíquico, possibilitou-se a percepção de si mesmo e analisar a troca com o outro e a integração do grupo. SÉRIE CONSTRUÇÃO Objetivos: A construção resgata a edificação, a estruturação, a organização e a elaboração da matéria e ao mesmo tempo, simbolicamente, incitam o indivíduo a construir sua vida pessoal (VALLADARES & NOVATO, 2001, apud VALLADARES et al, 2008 p.12). Atividades desenvolvidas: Construção de uma cidade com sucata. Desenvolvimento: Cada usuário deveria construir sua própria casa e algum elemento coletivo da cidade de forma individual. Depois coletivamente deveriam montar a cidade com os elementos já confeccionados e criar novos elementos, pessoas e ambientes. Comentários/Análise: O exercício possibilitou ao jovem dependente químico construir e transformar na ação criativa, pois a Arteterapia é um processo alquímico e não é só uma catarse. A simbologia que mais esteve presente nos trabalhos foram: - Flor: “Símbolo da natureza efêmera da vida e da beleza, e da eterna renovação da vida. É uma imagem do “Centro” e, portanto, uma imagem arquetípica da alma. As flores anunciam a primavera, que revela a aceleração do ciclo de evolução pessoal. Assinalam o cumprimento de uma meta ou tarefa que exigiu muita dedicação” (CHEVALIER & GHEERBRANT, 2003; CIRLOT, 2005; FINCHER, 1991; LEXIKON, 1994, apud VALLADARES et al, 2008 p.12). - Sol: “É representado frequentemente como personificação da luz e, por conseguinte, ao mesmo tempo, da inteligência cósmica suprema, do calor, do fogo e do princípio vital. Imagem simbólica da ressurreição e, de modo geral, de cada novo começo” (CHEVALIER & GHEERBRANT, 2003; CIRLOT, 2005; FINCHER, 1991; LEXIKON, 1994, apud VALLADARES et al, 2008 p.13). - Pássaros: são símbolos antigos da alma humana, do elemento ar e do processo de transformação. Os pássaros voando para cima podem representar idéias sendo divulgadas ou trazidas à luz” (CHEVALIER & GHEERBRANT, 2003; CIRLOT, 2005; FINCHER, 1991; LEXIKON, 1994, apud VALLADARES ET AL, 2008 p.13). 22 - O número Dois: “O dois indica tensão, separação e conflito. Ele é uma ligação saudável que anuncia o retorno da harmonia” (CHEVALIER & GHEERBRANT, 2003; CIRLOT, 2005; FINCHER, 1991; LEXIKON, 1994, apud VALLADARES et al, 2008 p.13). As atividades mais prazerosas para os usuários, segundo relato verbal deles foram: - Mandalas com velas: o fogo purifica e regenera. Mensageiro entre o mundo dos vivos e dos mortos. A vela é o símbolo da luz, da almaindividualizada e da relação entre o espírito e a matéria (CHEVALIER & GHEERBRANT, 2003; CIRLOT, 2005; FINCHER, 1991; JUNG, 2005; LEXIKON, 1994, apud VALLADARES et al, 2008 p.13). - Construção da cidade: A pessoa com a vivência de construção e de transformação sente-se apta e segura a dar forma, direção e movimento à sua própria vida, o que se constitui não só num processo externo, mas também interno do indivíduo (SAAD, 1998, apud VALLADARES et al, 2008 p.13). Ao criar e transformar materiais expressivos, os usuários puderam vivenciar sensações, ideias, sonhos, desejos, expectativas, fantasias relacionando-se de uma outra forma com o material e, consequentemente, a atividade pode despertar neles a identificação de sentimentos, atitudes e dificuldades que até então não eram expressos nem modificados, porque a comunicação não-verbal fala por si só, sem necessariamente ter que ser expresso de maneira verbal. As sessões de Arteterapia facilitaram a expressão da subjetividade dos participantes e auxiliaram, sobremaneira, tanto no auto expressão, como na elaboração de conteúdo internos e alívio de tensões. Permitiram, ainda, que o criador pudesse expressar seus sentimentos, adquirir consciência dos mesmos e, em seguida, melhorassem a ativação e a estruturação do processo de seu desenvolvimento interno. Aspectos da persona dos usuários puderam ser vistos em trabalhos feitos durante as sessões de Arteterapia, quando eles criaram personagens fictícios ou não e ao narrar suas histórias, o que permitiu a eles entrar em contato com os aspectos psíquicos para serem compreendidos e transformados. A sombra é representada pelos sentimentos negativos, como raiva, frustração e inveja, que se acumulam no inconsciente e não são facilmente expostos pelas pessoas em geral. Sentimento de revolta, medo e raiva experenciados pelos usuários, 23 muitas vezes não podem ser aceitos pela sociedade e expressos por eles, e se acumulam como sombras no seu inconsciente. Oferecer oportunidades para que estes símbolos (sombras) venham à tona por meio dos trabalhos plásticos, de maneira lúdica e que não ameace a estrutura psíquica juvenil, favorece a sua elaboração. A sombra normalmente está implícita e presente, ao mesmo tempo, em qualquer trabalho artístico, o que sugere dizer que os dependentes químicos tenham projetado em seus personagens e histórias aspectos sombrios da sua personalidade e relacionados com seu momento de vida atual. Na dinâmica do processo arteterapêutico, quando as imagens internas são projetadas, elaboradas e transformadas do material plástico ao produto expressivo final, é como se as pessoas externassem simbolicamente parte de si, e, ao mesmo tempo, levassem as imagens e os conteúdos trabalhados “para dentro” novamente, mas desta vez decodificados e ressignificados (VASCONCELLOS & GIGLIO, 2006, apud VALLADARES et al, 2008 p.14). A Arteterapia trabalha com símbolos, que são imagens arquetípicas e apresentam características individuais e coletivas simultâneas. Os dependentes químicos, ao trazerem as imagens e os símbolos para o plano material, trouxeram também conteúdos de sua história pessoal inseridos na história coletiva da humanidade (inconsciente coletivo); assim, as significações encontradas nas culturas, nos mitos e nas religiões, simultaneamente, faziam ligação com a história de vida dos usuários, que expuseram cores, formas e símbolos representativos do seu mundo subjetivo, com significados especiais para eles naquele momento de vida, elementos que também os ligam aos significados que estes foram tendo para a humanidade ao longo dos tempos. As imagens dos usuários ao serem projetadas nas produções plásticas, mostraram suas histórias de vida e o momento existencial deles, sinais sugestivos ou não de fragilidade emocional como: suas angústias, medos, objetivos, metas e planos futuros. Concluindo, trabalhar a Arteterapia com dependentes químicos permite a troca com o outro que possui características semelhantes às suas e ainda, favorece o compartilhar de dificuldades e anseios relacionados à própria dependência, podendo os personagens expressar e lidar de uma forma mais natural com a doença. 24 Este trabalho pode trazer contribuições importantes para a área de saúde mental, pois a Arteterapia é uma prática acessível ao tratamento de dependentes químicos e pode ser um suporte importante para esta clientela, cujos resultados vêm sendo satisfatórios. É importante também apontar que este estudo poderá ser utilizado em contextos de Arteterapia clínica ou institucional, tendo em vista o valor e a eficácia do trabalho arteterapêutico aqui demonstrados. A saúde mental vem ampliando seus conhecimentos e utilizando-se de novas práticas na assistência a seus usuários, assim, o investimento no trabalho e em práticas complementares e criativas, com jovens dependentes químicos, é fator importante no novo cenário da atenção em saúde mental. Este tipo de atendimento, no qual se incluem as sessões de Arteterapia, permite que se valorize o potencial existente em cada ser humano, objetivando melhorar sua saúde e qualidade de vida. 5 OS SENTIMENTOS PROPORCIONADOS PELA ARTETERAPIA No que diz respeito aos sentimentos, podemos perceber que o grupo de arteterapia teve grande importância no que diz respeito ao bem-estar e autoestima do indivíduo. A participação no grupo promove sentimentos admiráveis na vida dos usuários, como ser um indivíduo único e importante, considerando estes aspectos nas mais diversas realidade, culturas e crenças. Segundo Potter (2013, apud FACCO, S.C.M., et al 2016, p. 51), em tempos modernos, a saúde era considerada como apenas a ausência de doenças, pelos indivíduos e sociedades. Esta percepção ignorava os estados profundos de saúde, desconsiderando em muitos momentos, a saúde mental dos indivíduos. A maneira como nos sentimos a respeito de nós mesmos é algo fundamental, pois esse sentimento afeta todas as nossas relações. Assim nossas ações e reações respondem de acordo com o que ou quem pensamos ser. A autoestima é um conceito positivo que o indivíduo tem em relação a si mesmo de estar em paz e sintonia com o seu eu e estar realizando as atividades que deseja continuar realizando (WOSIACK, 2011, apud FACCO, S.C.M., et al 2016, p. 51). 25 Segundo Werneck (2010, apud FACCO, S.C.M., et al 2016, p. 51), não há empecilho que uma pessoa que se aprecie tenha a humildade de perder que ainda menos sabe, do que na realidade sabe. Nada impede que essa pessoa, peça ajuda espiritual e psicológica. A autoestima não é uma incubadora de orgulho, pelo contrário, permite ser realidade de maneira positiva, onde devemos adiar a satisfação e conviver com as frustrações. Aliada a essas percepções, constatasse que a arteterapia pode beneficiar as pessoas no resgate da autoestima e da autoconfiança, para o melhor enfrentamento e resolução de conflitos, melhorando consideravelmente a sua qualidade de vida, como também, suas relações pessoais. 6 A IMPORTÂNCIA DAS RELAÇÕES PESSOAIS NO GRUPO DE ARTETERAPIA Nesta terceira categoria, assuntos referentes às relações pessoais emergiram a partir da questão: Qual o ponto positivo do grupo de arteterapia? “O ponto positivo é que o pessoal vai ajudando, todo mundo se ajuda né (...)” (J) “Às vezes eu estou parado com o desenho e vem alguém e pergunta se quer Alguma ajuda para fazer alguma coisa, não falo nada, mas fica na cabeça né? (...). Fica na cabeça (...) Sinal que o pessoal está querendo ajudar uns aos outros. ” (J) “Fica junto com os amigos. ” (PAM) Os amigos são bem legal, respeita todo mundo, respeito (...)” (PAM). A partir das falas acima, observa-se o grupo de arteterapia como um mediador de criação de vínculos entre usuários e colaboradores, desenvolvendo assim, um ambiente propicio e agradávelde interação. Notou-se também o laço afetivo interligado ao grupo de arteterapia, por ser satisfatório o resultado de desenvolvimento das atividades propostas no grupo e de extrema importância significativa para todos os usuários participantes. 26 Segundo Ciornai (2004, apud FACCO, S.C.M., ET AL 2016, p. 52), quando se faz arte com consciência, percebem-se muitas alternativas, percebem-se a cada momento alterações concretas no trabalho em que se está elaborando. Dialoga com possibilidades transformando, se alterando, se interligando, para formar um todo harmonioso. Ou seja, exercita-se o diálogo com transformação, a arteterapia nos exercita na expressão das emoções, libertando-nos para novos sentimentos e sensações, proporcionando conforto e bem-estar interno. Pode-se perceber que a arteterapia tem uma importante influência na mudança de hábitos, possibilitando qualidade de vida dos sujeitos envolvidos. Considerando este trabalho, podemos destacar algumas dificuldades em sua realização, como a produção e publicação escassa de estudos relacionados à temática da arteterapia, tanto desenvolvida em CAPS quanto em outros espaços. Essa limitação, assim como, o desenvolvimento deste estudo, sugere novas pesquisas relacionadas a essa temática, as quais favoreçam a promoção da saúde aos diversos sujeitos. Além do CAPS, outras pesquisas semelhantes a esta podem ser desenvolvidas em lugares como clinicas, com pacientes de todas as faixas etárias, em hospitais, instituições de longa permanência, com abordagens de temáticas características dos lugares e usuários, levando em consideração sempre a problemática da patologia, com o intuito de promoção e prevenção do bem-estar do paciente, ajudando na melhora do usuário e sua recuperação tanto física como mental. Tendo em vista todos os aspectos abordados neste estudo, sabemos que a mudança de hábitos e atitudes é algo que requer algum tempo, isto por questões culturais e emocionais, interferindo no tratamento da saúde mental de cada indivíduo. Nessa perspectiva, foi de suma importância os relatos dos usuários, os quais participam da oficina de arteterapia a mais de dois anos. Esse tempo permite identificar a evolução do tratamento de cada caso clínico, assim como, as relações a ele vinculadas. Em relação a arteterapia como método de terapia para ajudar os usuários do CAPS, o mesmo possibilita a superação de tensões, estresse e conflitos internos, a medida que os usuários participaram, cada um no seu tempo de melhora dependendo de seu diagnóstico e evolução em particular. 27 Diante do conjunto de evidencias geradas, é de grande necessidade a arteterapia como método terapêutico na saúde mental dos usuários do CAPS, amenizando as tensões e provendo bem-estar do usuário, destacando a importância da inserção do profissional enfermeiro nestes espaços de cuidado, fortalecendo a promoção, prevenção e reabilitação da saúde dos indivíduos e da coletividade. Além do CAPS a arteterapia pode ser desenvolvida em outros espaços, com outros públicos, como acima no texto citado pois ela perpassa o significado da arte como ator principal, ela traz a promoção da saúde em meio a esses sentidos. 7 ARTETERAPIA NO ENFRENTAMENTO DO CÂNCER A arteterapia é o uso terapêutico da atividade artística no contexto da relação profissional, com pessoas acometidas por doenças, traumas ou que buscam pelo desenvolvimento pessoal. O desenvolvimento da arte e a reflexão sobre os processos e trabalhos artísticos resultantes estimulam as pessoas a ampliar o conhecimento de si e dos outros; aumentar a autoestima; lidar melhor com sintomas físicos e psíquicos, estresses e experiências traumáticas; desenvolver habilidades físicas, cognitivas e emocionais e desfrutar do momento proporcionado pelo fazer artístico (A. A. A, 2013, apud D’ALENCAR, 2014, p 3) Na arteterapia, verifica-se a adoção do trabalho em grupo devido à possibilidade de crescimento individual e coletivo. Desta forma, o processo terapêutico grupal permite que os sujeitos despertem para assuntos desconhecidos e/ou inconscientes, discutam, reflitam e transfiram para a vida, conhecimentos que os auxiliarão a serem agentes de sua própria saúde, durante ou após o período de terapia (SOUZA, 2011, apud D’ALENCAR, 2014, p 3). O trabalho de grupo é um conceito geral que se refere ao que acontece dentro deste, durante a vida de cada indivíduo que busca constantemente preservar sua identidade. Contudo, não inclui apenas o conteúdo do que é dito ou feito, mas também a maneira pela qual os membros interagem entre si e sua relação com o líder. A vantagem primordial na composição grupal é o fato de que uma variedade de pessoas com problemas ou objetivos semelhantes está trabalhando no apoio mútuo e no 28 compartilhar de experiências comuns. Estas, dentro de um ajuntamento tem, frequentemente, valor terapêutico, pois as relações vivenciadas, de alguma forma, afetam a individualidade de cada um (CARDOSO, 2011, apud D’ALENCAR, 2014, p 3). Habitualmente, no ambiente hospitalar, as terapias convencionais têm como intuito assistir à doença, não abrangendo o cuidado holístico à pessoa doente. No entanto, é sabido que o princípio fundamental da formação do enfermeiro é centrado no cuidado individualizado ao ser humano, no atendimento às necessidades biopsicossociais e não apenas no corpo doente, contrapondo ao modelo biomédico, no qual o diagnóstico é mais valorizado do que a pessoa. Em outras palavras, o enfermeiro necessita se envolver emocionalmente com o paciente e seus acompanhantes, sejam eles familiares ou não, com o intuito de manter uma relação autêntica. Visto que este envolvimento é vital na relação terapêutica, uma vez que promove empatia e permite que o profissional conheça melhor o paciente e atenda às suas necessidades, sem prejudicar sua atuação em determinados momentos, para o desenvolvimento da relação terapêutica (COSTA ET AL, 2005, apud D’ALENCAR, 2014, p 3). Sendo assim, o cuidado humanizado potencializa as relações humanas para a promoção de sentimentos de prazer, confiança e respeito mútuo. Restabelecendo assim, o desejo de viver e cuidar de si mesmo. Durante o processo de ensino- aprendizagem na formação acadêmica, observaram-se, inúmeras vezes, pacientes em ambientes hospitalares com pouca ou nenhuma perspectiva de desenvolver atividade artística ou lúdica. Sentimento de tristeza perpassam o cotidiano destes, por diversos motivos, como a ociosidade e a adaptação em um lugar estranho ao seu habitat natural, no qual os vínculos afetivos e familiares são rompidos e suas barreiras de proteção são expostas ao processo de adoecimento e morte. Assim, o tempo ocioso gera angústia, temor, baixa autoestima e pouca socialização, em virtude da permanência em posição deitada, além do silêncio (BARBOSA et al, 2007, apud D’ALENCAR, 2014, p 3). Em face dessa problemática, pacientes em situação de doença oncológica e dos seus acompanhantes, durante a internação hospitalar, motivou o grupo Projeto Integrado de Pesquisa e Extensão em Perda, Luto e Separação - PLUS+ a realizar essa intervenção, utilizando como estratégia, na condução de grupos, a arteterapia. 29 Com o intuito de reduzir a ociosidade, criar laços de integração e interação entre as pessoas, nas unidades de internação e tornar o hospital um ambiente menos insalubre, de melhor convivência e harmonia. O PLUS+ foi criado em 2000 e está ligado ao Departamento de Enfermagem e à Pró-Reitoria de Extensão da Universidade Federal do Ceará, composto por acadêmicos de Enfermagem, Medicina e Psicologia. Tendo como objetivo maior, a difusão de temas relacionados à tanatologia, através do desenvolvimento da pesquisa-ação, de relatos de experiência, psico-oncologia, terapias do luto e suicídio, para pessoas com câncer e seus acompanhantes.Nos treze anos de existência, esse projeto já realizou diversas atividades, como cursos, eventos, pesquisas e publicações, atingindo um público-alvo de aproximadamente mil e duzentos indivíduos. Diante dessas considerações, é conduzido a reflexão que objetiva relatar a experiência por meio das atividades de arteterapia com um grupo de pacientes e seus acompanhantes em um hospital universitário Dessa maneira, acredita-se que a utilização da arteterapia possibilite mudança de paradigma, no que diz respeito à promoção da saúde em ambientes hospitalares. Neste sentido, este estudo torna-se relevante e pode se constitui uma contribuição importante para a Enfermagem, em sua prática de cuidados aos pacientes oncológicos, pois ainda é escassa a realização de atividades com abordagem com arte-terapia nesta área. É evidenciado que na jornada laboral hospitalar traz consigo momentos de desgaste para os profissionais de saúde, em que muitas vezes, subestima-se a capacidade de coparticipação do paciente na melhoria da sua saúde. Deste modo, enfatiza-se que a promoção da saúde, por meio de atividades lúdicas, torna-se possível dentro do ambiente hospitalar (SOUZA ET AL, 2007, apud D’ALENCAR, 2014, p 3). ORGANIZAÇÃO Um relato de experiência, com o uso da arteterapia, realizado no setor de oncologia de um hospital universitário, na cidade de Fortaleza – Ceará, desenvolvido durante o período de setembro de 2010 a fevereiro de 2011. Para participar do estudo 30 era necessário que os participantes e acompanhantes que se encontrassem no setor de oncologia estivessem ativos, lúcidos e aceitassem envolver-se com as atividades. Excluíram-se os acamados e os em isolamento, devido à baixa imunidade durante o tratamento de quimioterapia. Ao total tivemos 49 participantes neste estudo. Os encontros grupais com atividades de arteterapia foram conduzidos por acadêmicas de graduação do curso de Enfermagem da Universidade Federal do Ceará (UFC), orientados por professores enfermeiros e terapeutas especialistas em arteterapia e massoterapia. Sendo realizados semanalmente, com duração média de uma hora, divididos em três fases, a primeira iniciava-se com a apresentação dos facilitadores e dos participantes; a segunda consistia na explicação e realização da arteterapia proposta; e a terceira vislumbrou a avaliação, quando os membros relataram seus sentimentos diante das atividades. O processo grupal foi registrado em diário de campo, como instrumento de coleta das informações relatadas pelos participantes. Para alcançar os objetivos de cada atividade (aumentar a autoestima, facilitar o autoconhecimento e relaxar), utilizaram-se métodos da arteterapia, como: pintura, recorte, desenho, colagem, visualização criativa, técnica do espelho, cromoterapia, argiloterapia, meditação e massoterapia. A análise dos dados se deu com a criação de quadros, compostos pelo número de participantes, gênero representados simbolicamente, objetivo a ser alcançado, método da arteterapia utilizado e resultados encontrados. A discussão foi realizada com base em estudos pertinentes à temática. Já as questões éticas foram fundamentadas na Resolução 196/96, do Conselho Nacional de Saúde (M.S. et al, apud D’ALENCAR, 2014, p 5), sendo o estudo aprovado pelo Comitê de Ética de Pesquisa, sob o protocolo nº 019.04.09. Os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Todos tiveram garantia do sigilo e anonimato, e também foi assegurado que a qualquer momento poderiam não participar das atividades de arteterapia, sem prejuízo de qualquer natureza ao tratamento. 31 RESULTADOS O estudo teve início com a inserção das acadêmicas de enfermagem no campo hospitalar. O setor de oncologia do hospital era divido em dois ambientes: um era composto por quatro enfermarias, cada uma com dois ou três leitos, iluminado e agradável e o outro por três enfermarias isoladas com ar condicionado, não permitida à entrada de acompanhantes e o mínimo possível de fluxo de pessoas, pois os pacientes estavam em tratamento quimioterápico, com baixa imunidade e requisição de cuidados específicos. As atividades foram realizadas apenas nas quatro enfermarias em que se podiam transitar facilmente e teve a participação de 49 pessoas, entre pacientes e acompanhantes. Os profissionais do setor mostraram-se acolhedores e atenciosos em apresentar a unidade e os pacientes. Em nenhum momento do desenvolvimento da arteterapia foi questionado o diagnóstico do participante, pois esse não era o foco do estudo. Após a primeira atividade grupal, a equipe de coordenadoras percebeu que se teria um longo caminho a percorrer, mas com a certeza de que cada momento se tornaria gratificante para o crescimento profissional e pessoal. Diante do conhecimento do local e das impressões obtidas, foram desenvolvidas atividades que envolvessem o autoconhecimento, a autoestima e o relaxamento. Atividades de arteterapia para o estímulo ao Autoconhecimento, foi desenvolvida com 16 participantes entre homens e mulheres, com objetivos de possibilitar interação entre coordenadores e participantes, resgatar pensamentos sobre quem é, resgatar fatos em fases da vida, resgatar suas características. 32 Fonte: www.eusemfronteiras.com.br Os métodos usados, foram recorte, colagem, desenhos. Foram elaboraram crachás com recortes relacionados ao que gostavam de fazer: maquiar, lavar roupas, cozinhar, costurar, fotografar, ensinar os alunos, cuidar de bebês e idosos; Desenharam pássaros, representando pensamentos de paz; pessoa alegre por se enxergar como ser humano extrovertido, feliz e que ajuda os outros. Uma não quis participar da atividade por não se lembrar do que gostava de fazer. Na infância, brincar de bonecas e comer chocolate. Na adolescência, sair, conversar com amigos e namorar. Na fase adulta, casamento, ter filhos, a saída com amigos, voltar a estudar, trabalhar muito, comprar um carro e viver bem com o marido. Na velhice, uma idosa relembrou o nascimento da neta. Recortaram figuras de animais relacionados à personalidade de cada participante. Borboleta: por gostar de liberdade, de ser livre para voar pelos caminhos da vida. Peixe: por gostar muito de água. Leão: pela força e conseguir tudo o que deseja. Cachorro: pela inteligência. Com o primeiro grupo, observou- se que os objetivos foram alcançados quando possibilitaram a interação, valorização e elevação do autoconhecimento entre coordenadores, participantes e seus acompanhantes nas enfermarias. Foram resgatados pensamentos sobre a realidade vivida, e os relatos mostraram que foram trazidos da memória fatos ocorridos em cada fase da vida. 33 Vamos citar a experiência feita com um segundo grupo, que teve como objetivo, resgatar momentos positivos, de felicidades, resgatar o futuro após a alta hospitalar, aspectos interessantes da vida e o desejo de cada um. O método usado foi, pintura terapêutica, visualização criativa e a técnica do espelho. Os resultados foram momentos de alegria, como colher e plantar na roça, cuidar do gado, estar com o filho. Uma participante não conseguiu relatar em nenhum momento alegre. Referiram relaxamento e grande prazer ao realizar a atividade. Visualizaram a felicidade em momentos marcantes, como estar com a família, cuidar dos netos, estar num sítio, ter saúde, estar fora do hospital e sentir que não tem mais câncer. Relataram também a vontade de ir à igreja, amar o marido, conversar muito com as pessoas que ama, ouvir música, voltar ao lar, servir a Deus e ser feliz. Refletiram o quanto são importantes. Sentiram-se surpresos e emocionados. Perceberam que deveriam cuidar mais de si e valorizar mais o seu potencial. Relembraram momentos da vida cotidiana, como ter uma boa higiene (tomar banho, escovar os dentes, pentearo cabelo), pois gostavam de estar limpos mesmo no hospital. E teve ainda quem falou do seu desejo de ter a carteira de habilitação, uma casa com um grande quintal, trabalhar com turismo, voltar à faculdade, uma casa para abrigar 20 animais. Com os resultados do segundo grupo, mostra que a elevação da autoestima foi um dos fatores que mais se destacou nas atividades propostas, por se registrar o resgate de momentos positivos e de felicidade, além de desejos para o futuro. Também houve estímulo para que essas pessoas pudessem estar em contato com sua vida durante seu adoecimento, buscando encontrar alguns aspectos importantes que pudessem resgatar planos futuros. Com isso, foi desenvolvido um estudo com o objetivo de relatar a experiência de atividades de arteterapia com um grupo de pacientes e seus acompanhantes em um hospital universitário. Relato de experiência realizado em Fortaleza - CE, no período de setembro de 2010 a fevereiro de 2011. Participaram dos encontros grupais 49 pessoas que, utilizando os métodos da arteterapia, realizaram diversas atividades, tais como: pintura, recorte, desenho, colagem, visualização criativa e cromoterapia. 34 No momento destinado às avaliações, os participantes descreveram que a intervenção permitia dialogar tanto com o processo da vida quanto o enfrentamento do câncer. Observou-se com os relatos dos participantes e acompanhantes, que o uso da arteterapia, no ambiente hospitalar, propiciou resgate de aspectos saudáveis, como: reviver as lembranças do passado de modo mais harmônico, dar significado positivo ao adoecimento, relembrar as fases de vida, entre outros. É possível afirmar que com a elaboração e planejamento de sessões grupais dentro de enfermarias no hospital pode-se atender a um número maior de pessoas facilitando interações e integração de pacientes e acompanhantes em situação de doença grave como o câncer. A experiência da prática da arteterapia fez com que pudesse ser evidenciado com esse método de condução simples e de baixo custo como: pintura, recorte, desenho, colagem, visualização criativa, cromoterapia, argiloterapia, relaxamento, meditação e Massoterapia com materiais recicláveis pode trazer referências positivas para a vida das pessoas que estão submetidas a condição de doença oncológica e seus acompanhantes em um hospital. Também proporciona autoconhecimento, resgate da autoestima e sensação de bem-estar. Ocupando horas que são consideradas ociosas, em que não há atividades a serem realizadas, foi propiciado benefícios como alegria, visão de futuro e desejo de mudanças a indivíduos adoecidos fisicamente que, muitas vezes, se encontravam com prognóstico desfavorável. Considera-se que esse trabalho foi de grande relevância por ser um relato de experiência, no qual a arteterapia está em destaque, como método que pode auxiliar na melhoria da qualidade de vida de pacientes com doença oncológica e acompanhantes nos hospitais. Podendo ainda ser incluído como estratégia no planejamento da assistência de enfermagem, pois demonstra que o uso dessa técnica facilita o diálogo entre paciente e acompanhante, no enfrentamento da patologia. 35 8 CULTURA DE PAZ E ARTETERAPIA Fonte: espacoelabora.com.br Auxiliar adolescentes a enfrentar riscos, implica em implantar programas de "Cultura de Paz", entendida como: ... conjunto de valores, atitudes e comportamentos que traduzem o respeito à vida, à pessoa humana, à sua dignidade e a todos os direitos do homem, bem como rejeição da violência sob todas as formas e o comprometimento com os princípios de liberdade, justiça, solidariedade, tolerância, direitos do homem e compreensão tanto entre as pessoas, quanto entre os grupos e indivíduos. (Unesco, 1989, p. 53, apud NORGREN, 2011). As intervenções em Cultura de Paz podem ser muitas: mediação ou condução positiva de conflitos; desenvolvimento de tolerância ou de competências sociais e emocionais. Nosso foco será programas de desenvolvimento de competências socioemocionais, pois há relação significativa entre competência social, acadêmica e qualidade de vida. Elas podem ser implementadas pela aprendizagem socioemocional, que se refere à característica ou habilidade de interação e adaptação, desenvolvida por meio da aquisição de conhecimentos, atitudes e habilidades, sentimentos e comportamentos (ZINS & ELIAS, 2006; ET AL, apud NORGREN, 2011). Esse aprendizado deve ser abordado em uma perspectiva de risco e resiliência, pois funciona como mecanismo de proteção para os indivíduos. O grupo de amigos 36 ajuda os jovens a aprender a se relacionar em sociedade, a adaptar suas necessidades e desejos aos dos outros, a perceber quando é possível ceder e quando deve se permanecer firme; permite desenvolver a sociabilidade e a intimidade, adquirir senso de afiliação, de identidade, habilidades de liderança, comunicação e cooperação. Jovens que aprendem a lidar precocemente com situações difíceis, estão mais aptos a transpor esse aprendizado para outras situações de sua vida, favorecendo o desenvolvimento de um processo de resiliência (MASTEN & COATSWORTH,1998, ET AL, apud NORGREN, 2011). Realizar programas de aprendizagem socioemocional requer atuar em: autoconhecimento; tomada de decisão responsável; habilidades de relacionamento; consciência social; auto regulação (DURLAK & WEISSBERG, 2007, apud NORGREN, 2011). É necessário promover padrões adequados de comunicação; favorecer padrões de apego seguro; desenvolver a criatividade (como busca de alternativa para as dificuldades e os problemas vivenciados); desenvolver a competência social e emocional; ajudar a promover melhoria de qualidade de vida e da funcionalidade da família, propiciando coesão, consenso e flexibilidade entre seus membros (COWAN et al, 1996, apud NORGREN, 2011). 5.2 PROGRAMA DE INTERVENÇÃO REALIZADO Maria de Betânia, 2009, realiza um programa de intervenção primária utilizando arteterapia com o objetivo de facilitar a transição da 4ª para a 5ª série do Ensino Fundamental e desenvolver competências sociais. Foi realizado com 75 alunos da rede pública, com idades entre 9 e 15 anos. (NORGREN, 2009) A metodologia utilizada foi a pesquisa-intervenção na clínica-social. Foram 18 encontros com atividades de arteterapia e dinâmicas diversas. Os temas trabalhados foram: mudança e crescimento; autoconhecimento (reconhecer e aprender a lidar com os sentimentos; conscientizar-se a respeito das capacidades, habilidades e competências); relacionamentos interpessoais (família, colegas e professores; empatia e padrões de comunicação efetiva; favorecer o convívio e a valorização da diversidade); técnicas de resolução de problemas e conflitos; mudança de escola (expectativas e receios); criatividade, como busca de alternativa para as dificuldades e os problemas vivenciados e para possibilitar "insights" sobre o processo vivenciado. 37 Após a mudança escolar, os alunos foram avaliados em relação a: desempenho escolar, taxa de absenteísmo, avaliação sociométrica, rede de apoio, percepção da escola e da mudança; avaliação dos professores e pais. Alguns enfrentaram problemas sérios entre o término e avaliação do programa: separação de pais; abandono paterno; diagnóstico de doença crônica; morte de familiares (primo, avô). Nas entrevistas realizadas, comentaram que os conteúdos aprendidos auxiliaram a lidar com tais eventos. Os dados obtidos comprovaram a eficácia da intervenção, pois a maioria dos alunos teve desempenho melhor que o apresentado no ano anterior. Confirmou-se, assim, a hipótese de que a intervenção contribuiu para adaptação dos alunos em curto prazo, mostrando-se efetiva no desenvolvimento de habilidades socioemocionais. Para lidar com a violência, enquanto educadores e profissionais de saúde, temos que favorecer a permanênciados alunos na escola e o convívio social; a ocorrência de relacionamentos interpessoais positivos e a construção do seu projeto de vida, auxiliando-os a dar voz a seus anseios, enfrentar seus problemas e lidar exigências e desafios acadêmicos. Programas de promoção de saúde e cultura de paz são alternativas viáveis e eficazes para isso. Ajudam jovens a lidar com sua vulnerabilidade, a enfrentar situações de risco e problemas do dia-a-dia; bem como, promover fatores de proteção e futuros processos de resiliência. 5.3 ARTETERAPIA COMO DISPOSITIVO TERAPÊUTICO EM SAÚDE MENTAL A arteterapia é um dispositivo terapêutico que absorve saberes das diversas áreas do conhecimento, constituindo-se como uma prática transdisciplinar, visando a resgatar o homem em sua integralidade através de processos de autoconhecimento e transformação (PHILIPPINI,2004, apud COQUEIRO.2010, p.860). Como campo específico do conhecimento, a arteterapia firma-se nos Estados Unidos da América, em 1940, com o trabalho de Margareth Nauberg, conhecida como a “mãe” da arteterapia por estabelecer as fundamentações teóricas para seu desenvolvimento, além de demarcá-la como área do saber (CIOMAR, 2004, apud COQUEIRO.2010, p.860). 38 A arteterapia recebeu influência de áreas do conhecimento como a Psicanálise Freudiana, que, no início do século XX, interessou-se pela arte como meio de manifestação do inconsciente através de imagens. Sigmund Freud observou que o artista pode simbolizar concretamente o inconsciente em sua produção, retratando conteúdo do psiquismo. Acerca disso, menciona-se seus estudos realizados sobre as obras de autores consagrados como Leonardo da Vince e Michelangelo (FREUD,1970, apud COQUEIRO.2010, p.860). A Psiquiatria Junguiana, na década de 1920, apropria- se da expressão artística como parte do processo psicoterápico. Para Jung imagens representam a simbolização do inconsciente individual e, muitas vezes, do inconsciente coletivo (JUNG, 1991, apud COQUEIRO.2010, p.860). A arteterapia é um “processo predominantemente não verbal, por meio das artes plásticas e da dramatização, que acolhe o ser humano com toda sua complexidade e dinamicidade. (...) procura aceitar os diversos aspectos dos pacientes, como os afetivos, culturais, cognitivos, motores, sociais entre outros, tão importantes na saúde mental” (VALLADARES,2008, apud COQUEIRO.2010, p.860). É dentro dessa perspectiva inovadora que os CAPS de Fortaleza, através do Projeto Arte e Saúde, integrante da política de saúde mental desse Município, vêm desenvolvendo um trabalho articulado à arte na saúde mental, visando a viabilizar e dinamizar os processos em grupos terapêuticos nos CAPS, utilizando as variadas expressões artísticas, sendo executado por artistas, arteterapeutas, arte-educadores e profissionais de saúde mental com formação em arteterapia. No CAPS/ UFC essas experiências tiveram início em junho de 2007, com a formação inicial de dois grupos. Oito meses depois, existiam oito grupos em funcionamento, utilizando-se das mais variadas linguagens artísticas. A arte está presente nos diversos CAPS de Fortaleza no Projeto Arte e Saúde, com a criação dos grupos de arteterapia. O projeto recebe assessoria e supervisão sistemática do Instituto Aquilae, especializado na formação de profissionais em arteterapia. RELATO DE UMA EXPERIÊNCIA: GRUPO AMIGOS DA ARTE Em fevereiro de 2008, teve início o grupo de arteterapia intitulado Amigos da Arte. O nome, escolhido pelos participantes, engloba em seu significado a construção 39 dos laços afetivos com base no fazer artístico. Inicialmente, o grupo teve a composição de 15 membros, homens e mulheres, com idades de 20 a 54 anos. Atualmente, possui 13 participantes. O contrato terapêutico inicialmente pactuado foi de oito meses, tendo sido prorrogado de setembro de 2008 para fevereiro de 2009. A alteração no calendário deu-se em função dos resultados alcançados terem apresentado empiricamente um nível satisfatório quanto à estabilidade psíquica dos participantes, além da necessidade surgida em função de prepará-los individualmente (cada um a seu tempo) a aceitar a alta terapêutica, uma vez que expressam afeição especial a esse modelo de terapia. Embora não tenha havido critérios rígidos para o ingresso nesse grupo terapêutico, procurou-se priorizar as pessoas que expressassem interesse pela arte. Outro fator prioritário diz respeito aos diagnósticos de transtornos mentais graves, como esquizofrenia, transtorno afetivo bipolar e alguns casos de depressão. A participação se dava na medida em que essas pessoas apresentassem condições mínimas de frequentar as sessões. Ressalta-se que a prioridade dada às pessoas com interesse e afinidade com o fazer criativo e a arte não constituiu necessariamente um critério para inclusão ou exclusão no grupo, mas se apresentou como aspecto facilitador do processo. Não significa dar ênfase às técnicas e aos aspectos estéticos, ao contrário: as nossas intenções vão ao encontro dos processos criativos e da livre expressão. A arte é então percebida como instrumento de enriquecimento dos sujeitos, valorização de expressão e descoberta de potencialidades singulares. A experiência tem mostrado que o desejo e a admiração pelo fazer artístico são fundamentais na inserção no grupo: há casos em que a pessoa, por mais que seja estimulada, não demonstra interesse em participar desse tipo de atividade. Desse modo, respeita-se o desejo do usuário naquele momento, para que em outra ocasião possa ser feita nova abordagem. O grupo tem encontros semanais às sextas-feiras, das 8h30 horas às 11 horas, tendo como facilitadores um artista com formação em artes plásticas, uma assistente social com formação em arteterapia e uma enfermeira que desenvolve um trabalho voltado à composição de músicas educativas com temas da área de saúde. É um grupo do tipo semiaberto marcado pela rotatividade relativa, na qual os participantes se ausentam por algum período e posteriormente retornam. Segundo 40 relatos dos familiares, tais ausências apontam para alguns motivos, como doença na família, acúmulo de atividades domésticas e, em alguns casos menos frequentes, de novos episódios da doença. Cabe notar a existência de uma espécie de “apego especial” dos usuários a esse tipo de grupo – que a nosso ver poderia, em alguma medida, justificar o retorno às sessões. As atividades são realizadas em espaço destinado especificamente a esse fim, a partir da adaptação de uma das salas do CAPS que ficou conhecida como ateliê, local onde ficam disponíveis os diversos materiais utilizados nos encontros: tintas, telas para pintura, papel, giz de cera, argila, pincéis, tecido, material reciclável, dentre outros. Fonte: www.alinebarcelos.com.br Os trabalhos realizados pelos participantes em cada sessão ficam expostos para secagem, dando ao local um aspecto visual de efusão de cores. Posteriormente, os criadores podem levar suas obras para casa. Os primeiros encontros foram basicamente de apresentações e discussão das expectativas do grupo, com a realização de várias vivências distribuídas ao longo das sessões iniciais para integrar e, simultaneamente, quebrar resistências. Nesses encontros iniciais, assim como nos posteriores, utilizamos equipamento de som, cadeiras, mesas e colchonetes, dispostos em posição circular para simbolizar uma situação de gestalt fechada (CASTILHO, 1994, apud COQUEIRO.2010, p.861). http://Fonte:%20www.alinebarcelos.com.br/ 41 Durante as sessões, utilizamos duas técnicas distintas, a depender do comportamento dos participantes no momento, ou seja: se a maioria apresenta certo grau de agitação, utilizamos a técnica de relaxamento com músicas instrumentais, objetivando reduzir o nível de tensão e angústia, permitindo que as emoções fluam mais intensamente
Compartilhar