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© Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. Propedêutica e Semiologia em CARDIOLOGIA © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. Outros livros de interesseCARDIOLOGIA Aloan Hemodinâmica e Angiocardiografia 2a ed. Aloan Cardiologia Intervencionista Andrade e `vila Doença Cardiovascular, Gravidez e Planejamento Familiar Bassan Síndrome Coronariana Aguda nas Unidades de Dor TorÆcica Batlouni e Ramires Farmacologia e TerapŒutica Cardiovascular Beltrame Ribeiro Atualizaçªo em Hipertensªo Arterial Clínica, Diagnóstico e TerapŒutica Cabrera e Lacoste Cirurgia da InsuficiŒncia Cardíaca Grave Chagas Palandrini Pronto-Socorro Cardiológico Dancini Noçıes BÆsicas para o Residente em Cirurgia Cardíaca Dias Carneiro e Couto Conduta Diagnóstica e TerapŒutica em Cardiologia Dias Carneiro e Couto Endocardite Infecciosa Dias Carneiro e Couto Semiologia e PropedŒutica Cardiológica Dias Carneiro e Couto Tromboembolismo Pulmonar Evandro Tinoco Semiologia Cardiovascular Fortuna O Pós-Operatório Imediato em Cirurgia Cardíaca Guia para Intensivistas, Anestesiologistas e Enfermagem Especializada Franco Jr. (SØrie Hospital UniversitÆrio USP) Vol. 1 Manual de Terapia Intensiva Furtado Transradial, Diagnóstico e Intervençªo CoronÆria Ghorayeb e Meneghelo MØtodos Diagnósticos em Cardiologia Clínica Ghorayeb e Turíbio O Exercício Preparaçªo Fisiológica, Avaliaçªo MØdica, Aspectos Especiais e Preventivos Giannini Cardiologia Preventiva Prevençªo PrimÆria e SecundÆria Goldberger Tratamento das EmergŒncias Cardíacas Knobel Condutas no Paciente Grave 2a ed. (2 vols.) Knobel Terapia Intensiva em Cardiologia Knobel Terapia Intensiva em Hemodinâmica Lage e Ramires Cardiologia no Internato Bases Teórico-PrÆticas Levene e Davis Dor TorÆcica: Seu Diagnóstico e o Diagnóstico Diferencial Martinelli Atlas de Marcapasso: A Funçªo AtravØs do Eletrocardiograma Nicolau Cardiologia Intensiva Nicolau e Marin Síndromes IsquŒmicas MiocÆrdicas InstÆveis Nobre, Mion e Oigman MAPA Monitorizaçªo Ambulatorial da Pressªo Arterial 2a ed. Nobre, Mion e Oigman MAPA Monitorizaçªo Ambulatorial da Pressªo Arterial (ediçªo em espanhol) Novais Como Ter Sucesso na Profissªo MØdica 2a ed. Oliveira Cirurgia Cardiovascular Perez Hipertensªo Arterial Conceitos PrÆticos e TerapŒutica Póvoa e Ferreira Cardiologia para o Clínico Geral Pró-Cardíaco Rotinas das EmergŒncias Cardiovasculares ProtÆsio EndotØlio e Doenças Cardiovasculares ProtÆsio da Luz Nem só de CiŒncia se Faz a Cura Ramires, Lage e Machado CØsar SØrie Doença CoronÆria e Aterosclerose Clínica, Terapia Intensiva e EmergŒncias Vols. 1/2 Ratton Medicina Intensiva 3a ed. Rocha e Silva Fisiopatologia Cardiovascular Soc. Bras. Card. (SBC) FUNCOR Prevençªo das Doenças do Coraçªo Fatores de Risco SOCESP (Soc. Card. Est. SP) Cardiologia Atualizaçªo e Reciclagem 94/95 Cardiologia 96/97 Manual de Cardiologia 2000/2001 Sousa e Sousa Stent CoronÆrio - Aplicaçıes Clínicas Stolf e Jatene Tratamento Cirœrgico da InsuficiŒncia CoronÆria Terzi e Araœjo Monitorizaçªo Hemodinâmica e Suporte Cardiocirculatório do Paciente Crítico Timerman Desfibrilaçªo Precoce Reforçando a Corrente de SobrevivŒncia Timerman Ressuscitaçªo Cardiopulmonar (SØrie Clínic. Bras. Med. Intens.) Timerman Síndromes CoronÆrias Agudas Tinoco Semiologia Cardiovascular Virginia Santana Cardiopatias CongŒnitas no RecØm-Nascido Diagnóstico e Tratamento Zarco Exame Clínico do Coraçªo 2a ed. Zugaib e Kahhale Síndromes Hipertensivas na Gravidez © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. São Paulo • Rio de Janeiro • Ribeirão Preto • Belo Horizonte EDUARDO LUIS GUIMARÃES MACHADO Assistente Efetivo do Serviço de Cardiologia da Santa Casa de Misericórdia de Belo Horizonte. Chefe do Serviço de Ergometria — Holter da Santa Casa de Misericórdia de Belo Horizonte. Professor das Cadeiras de Cardiologia e Semiologia da Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais. Coordenador e Professor do Núcleo de Pesquisa Cardiovascular e Pós-graduação da Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais. Professor do Curso de Pós-graduação lato sensu em Reabilitação Cardiopulmonar da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, PUC-MG. Professor do Curso de Pós-graduação lato sensu em Reabilitação Cardíaca da Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais. Título de Especialista em Cardiologia pela Associação Médica Brasileira, Sociedade Brasileira de Cardiologia e Conselho Federal de Medicina. Título de Especialista em Ergometria pela Sociedade Brasileira de Cardiologia. Título de Mestre em Medicina, Área de Cardiologia, Conferido pela Fundação São Francisco de Assis Propedêutica e Semiologia em CARDIOLOGIA © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. PLANEJAMENTO GRÁFICO/CAPA: Equipe Atheneu Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Índice para catálogo sistemático: 1. Cardiologia: Semiologia: Medicina 616.12047 2. Semiologia: Cardiologia: Medicina 616.12047 MACHADO, E.L.G. Propedêutica e Semiologia em Cardiologia Ó Direitos reservados à EDITORA ATHENEU — São Paulo, Rio de Janeiro, Ribeirão Preto, Belo Horizonte, 2004. Machado, Eduardo Luis Guimarães Propedêutica e semiologia em cardiologia/ Eduardo Luis Guimarães Machado. — São Paulo: Editora Atheneu, 2004. Vários colaboradores. 1. Cardiologia 2. Coração – Doenças – Diagnóstico 3. Doenças cardiovasculares 4. Sintomatologia I. Título. CDD-616.12047 03-7455 NLM-WG 141 EDITORA ATHENEU São Paulo — Rua Jesuíno Pascoal, 30 Tels.:(11) 3331-9186 • 223-0143 • 222-4199 (R. 25, 27, 28 e 30) Fax: (11) 223-5513 E-mail: edathe@terra.com.br Rio de Janeiro — Rua Bambina, 74 Tel.: (21) 2539-1295 Fax: (21) 2538-1284 E-mail: atheneu@atheneu.com.br Ribeirão Preto — Rua Barão do Amazonas, 1.435 Tel.: (16) 636-8950 • 636-5422 Fax: (16) 636-3889 E-mail: editoratheneu@netsite.com.br Belo Horizonte — Rua Domingos Vieira, 319 — Conj. 1.104 © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. ÁLVARO LUIZ BARROSO Especialista em Medicina Nuclear. Coordenador da Residência Médica da Inal Ciência e Saúde — Medicina Nuclear. Coordenador dos Serviços de Medicina Nuclear do Biocor Instituto, Hospital Mater Dei e Santa Casa de Misericórdia Belo Horizonte ANTÔNIO CARLOS MELO JUNIOR Residente em Medicina Nuclear da Inal Ciência e Saúde — Medicina Nuclear, Belo Horizonte AIERSON FARIA JUNIOR Ex-Presidente do Departamento de Oftalmologia da Associação Médica de Minas Gerais. Professor do Curso de Especialização em Oftalmologia do Centro Oftalmológico de Minas Gerais, Belo Horizonte ARIPUANà COBÉRIO Dermatologista da Santa Casa de Misericórdia de Belo Horizonte AUGUSTO DE LIMA FILHO Chefe do Serviço de Cardiologia Intervencionista da Santa Casa de Misericórdia de Belo Horizonte. Membro das Sociedades Brasileiras de Hemodinâmica e de Cardiologia. Membro da Sociedade Internacional de Hemodinâmica CELSO MELO DOS SANTOS Especialista pela Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia. Membro Efetivo da Sociedade Brasileira de Diabetes. Supervisor de Estágios do Programa de Pós-graduação do Serviço de Endocrinologia e Metabologia do Hospital Belo Horizonte CEZAR ALENCAR DE LIMA REZENDE Professor Adjunto Doutor do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais, UFMG. Doutor em Medicina pela UFMG. Membro do Serviço de Assistência à Gestação de Alto Risco do Hospital das Clínicas da UFMG Colaboradores © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. CLÓVIS ANTÔNIO BACHA Doutorando do Curso de Pós-graduação em Ginecologia e Obstetrícia da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais,UFMG. Membro do Serviço de Assistência à Gestação de Alto Risco do Hospital das Clínicas da UFMG CHRISTIANE AYRES FLYSCH Assistente Voluntária do Serviço de Cirurgia Cardiovascular da Santa Casa de Misericórdia de Belo Horizonte DEMERCINDO BRANDÃO NETO Professor de Ética Médica e Medicina Legal da Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais, FCMMG. Médico Legista do Institulo Médico-legal, MG. Bacharel em Direito pela Pontifícia Universidade Católica, Minas Gerais, PUC-MG DOMINGOS SÁVIO LAGE GUERRA Professor-assistente da Cadeira de Psiquiatria da Faculdade de Medicina de Minas Gerais, FCMMG. Chefe da Clínica Psiquiátrica do Hospital Militar de Belo Horizonte DENISE GRANATA NOGUEIRA DE SOUZA Cardiologista Clínica do Hospital do Coração da Santa Casa de Misericórdia de Belo Horizonte. Monitora de Cardiologia da Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais, FCMMG EDMUNDO CLARINDO OLIVEIRA Chefe do Serviço de Cardiologia e Cardiologia Pediátrica do Hospital Vera Cruz, Belo Horizonte. Consultor de Cardiologia Pediátrica da Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais, FHEMIG. Hemodinamicista Infantil do Hospital Vera Cruz EDUARDO LANZA PADRÃO Especialista em Medicina Nuclear. Coordenador da Residência Médica da Inal Ciência e Saúde — Medicina Nuclear, Belo Horizonte EDUARDO RIBEIRO MUNDIM Especialista pela Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia. Secretário da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, Regional de Minas Gerais. Supervisor do Programa de Pós-graduação do Serviço de Endocrinologia e Metabologia do Hospital Belo Horizonte FILIPE MOURA MOREIRA Coordenador do Setor de Arritmia Cardíaca Não-invasiva do Hospital Mater Dei, Belo Horizonte FERNANDO ANTÔNIO FANTINI Presidente da Sociedade Mineira de Cirurgia Cardiovascular. Coordenador do Curso de Especialização em Cirurgia Cardiovascular do Hospital Biocor, Belo Horizonte. Membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Cardiovascular, SBCCV © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. GERALDO CALDEIRA Médico, Psicanalista. Ex-presidente da Associação Brasileira de Medicina Psicossomática. Membro Titular da Academia Mineira de Medicina GERALDO MAGELA GOMES DA CRUZ Diretor da Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais, FCMMG. Professor Titular de Coloproctologia da FCMMG. Chefe do Departamento de Coloproctologia da Santa Casa de Misericórdia de Belo Horizonte. Vice-presidente e Membro da International Society of University Colon and Rectal Surgeons. GIL PATRUS MUNDIM PENA Médico Patologista do Serviço de Anatomia Patológica e Citopatologia do Hospital Felício Rocho, Belo Horizonte HENRIQUE BARROSO MOREIRA Especialista em Estimulação Cardíaca Artificial, Arritmia e Eletrofisiologia dos Hospitais Mater Dei e Luxemburgo, Belo Horizonte HILDA MARIA DE OLIVEIRA Professora Auxiliar da Disciplina de Hematologia da Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais, FCMMG. Médica Hematologista do Hospital Felício Rocho. Médica Hematologista da Fundação Hemominas HILTON CAVALCANTI LOBATO Professor Auxiliar da Disciplina de Radiologia da Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais. Assistente Efetivo do Serviço de Radiologia da Santa Casa de Misericórdia de Belo Horizonte. Membro Titular do Colégio Brasileiro de Radiologia. Coordenador das Disciplinas de Radiologia dos Cursos de Fisioterapia e Terapia Ocupacional da FCMMG JOÃO ALFREDO DE PAULA E SILVA Professor da Disciplina de Cirurgia Cardiovascular da Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais. Chefe do Serviço de Cirurgia Cardiovascular da Santa Casa de Misericórdia de Belo Horizonte JOSÉ CÔDO ALBINO DIAS Especialista pela Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia. Coordenador do Serviço de Endocrinologia e Metabologia do Hospital Belo Horizonte. Professor da Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais, FCMMG, 1979 a 1995 JOSÉ DE SOUZA ANDRADE FILHO Chefe do Serviço de Anatomia Patológica e Citopatologia do Hospital Felício Rocho. Professor Titular de Patologia da Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais, FCMMG © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. JOSÉ LUIZ BARROS PENA Mestre em Medicina. Chefe do Serviço de Ecocardiografia do Hospital Felício Rocho, Belo Horizonte. Diretor da Clínica Baeta Vianna, Belo Horizonte KARINE LESSA SANTOS COSTA Cardiologista do Hospital Biocor, Belo Horizonte LERMINO PIMENTA Livre-docente em Nefrologia pela Universidade Federal de Minas Gerais, UFMG. Doutor em Nefrologia pela UFMG. Chefe do Serviço de Nefrologia Clínica e Hemodiálise (Terapia de Substituição Renal) dos Hospitais da Santa Casa de Misericórdia de Belo Horizonte LUCAS VIANNA MACHADO Professor Titular de Ginecologia da Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais, FCMMG. Membro Titular da Academia Mineira de Medicina LUCIANA DIAS MORETZSOHN Professora-assistente do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais, UFMG. Assistente Efetiva da Clínica Gastrenterológica da Santa Casa de Misericórdia de Belo Horizonte MARCOS VALÉRIO SUSARO CANABRAVA Médico Assistente do Serviço de Ergometria da Santa Casa de Misericórdia de Belo Horizonte. Especializado em Cardiologia pelo Hospital Biocor, Belo Horizonte MARIA ELISABETH RENNÓ DE CASTRO SANTOS Professora da Disciplina de Cirurgia Cardiovascular da Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais, FCMMG. Médica Assistente do Serviço de Cirurgia Cardiovascular da Santa Casa de Misericórdia de Belo Horizonte MARIA SILVIA LABORNE ALVES DE SOUSA Professora de Dermatologia da Faculdade de Medicina de Minas Gerais, FCMMG. Assistente Efetiva do Serviço de Dermatologia da Santa Casa de Misericórdia de Belo Horizonte. Mestre em Dermatologia pela Universidade Federal de Minas Gerais, UFMG MARIA SUELY DA SILVA NAMEM LOPES Professor Auxiliar da Disciplina de Hematologia da Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais, FCMMG. Médica Hematologista do Hospital Felício Rocho. Médica Hematologista da Fundação Hemominas MESSIAS EUSTÁQUIO CHAVES Psicólogo, Psicanalista e Perito do Judiciário. Membro do Círculo Psicanalítico de Minas Gerais. Pós-graduado em Perícia Técnico-consultiva do Poder Judiciário © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. MITERMAYER REIS BRITO Coordenador dos Serviços de Eletrofisiologia dos Hospitais Madre Tereza, Prontocor e Socor, Belo Horizonte OSVALDO MENDES DE SOUZA JÚNIOR Professor da Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais RAIMUNDO MARQUES NASCIMENTO NETO Presidente da Sociedade Mineira de Cardiologia. Diretor do Instituto de Hipertensão Arterial. Coordenador da Residência em Cardiologia do Hospital Luxemburgo, Belo Horizonte REYNALDO DE CASTRO MIRANDA Coordenador do Setor de Arritmia e Eletrofisiologia Cardíaca do Hospital Felício Rocho. Coordenador do Setor de Eletrofisiologia Cardíaca e Ablação por Cateter dos Hospitais Luxemburgo e Mater Dei. Doutor em Cardiologia pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, FMUSP com enfoque em Eletrofisiologia Cardíaca e Ablação RENATO MACIEL Professor-assistente de Pneumologia da Faculdade de Medicina de Minas Gerais, FCMMG. Preceptor da Residência de Pneumologia da Santa Casa de Misericórdia de Belo Horizonte ROMERO BORGES NETTO Especialista pela Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia. Membro Efetivo da Sociedade Brasileira de Diabetes. Supervisor da Enfermaria do Serviço de Endocrinologia e Metabologia do Hospital Belo Horizonte SÂMARA NUNES DE OLIVEIRA Especialista pela Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia. Membro Efetivo da Sociedade Brasileira de Diabetes. Supervisora de Reuniões Científicas do Programa de Pós-graduação do Serviço de Endocrinologia e Metabologia do Hospital Belo Horizonte SÉRGIO SCHNEIDER GUIMARÃES Professor do Curso de Especialização em Oftalmologia do CentroOftalmológico de Minas Gerais, Belo Horizonte. Ex-presidente do Departamento de Oftalmologia da Associação Médica de Minas Gerais TEREZA AUGUSTA GRILLO Especialista em Estimulação Cardíaca Artificial, Arritmia e Eletrofisiologia dos Hospitais Mater Dei, Luxemburgo e Felício Rocho, Belo Horizonte THIAGO DA ROCHA RODRIGUES Membro do Serviço de Arritmia e Eletrofisiologia Cardíaca do Hospital Felício Rocho, Belo Horizonte © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. WAGNER CARDOSO DE PÁDUA FILHO Cardiologista do Hospital Luxemburgo. Membro da Diretoria da Sociedade Mineira de Cardiologia. Doutorando em Cardiologia pela Universidade de São Paulo, USP WAGNARA GUINESES CHAVES Médica Hematologista © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. Agradecimentos Agradeço aos meus pais, José Lacerda e Maria Cecília, pela dedicação, amor e por tudo que me transmitiram. São pessoas como eles que nos motivam a viver com dignidade. Às minhas filhas, Flávia e Cristiane, pelo seu carinho, compreensão e participação. Aos colaboradores deste livro, pelo esforço e dedicação. Aos amigos da Atheneu, Dr. Paulo Rzezinski, Alexandre e Daniel Sant’Anna, pelo carinho e amizade. © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. Prefácio Ao dispor-me a escrever este prefácio, sejam minhas primeiras palavras as mais vivas expressões de agradecimento ao seleto grupo de colegas, jovens e talentosos, que lembraram meu nome para uma tarefa a um só tempo desafiadora e revigorante, um simples médico que ao cabo de uma vida de intensa e infatigável atividade profissional nada tem para oferecer senão uma gratuita vocação para a gratidão. Toda minha vida enfrentei, mais ou menos bem, com dedicação e permanente tensão da vontade, atribuições que me tocaram, desde as mais humildes, às mais honrosas, sem brilho nem fulgor. Não obstante as dúvidas sobre mim mesmo, seria inútil, agora, esconder ou disfarçar o gesto humano com que me cercais honrando-me com especial participação na elaboração de um livro, onde se incorporam, mantida a correção do texto, as mais recentes conquistas da semiologia cardiovascular, não meramente descritivas ou impessoais, mas solidamente sedimentadas em vários anos de experiência e, sobretudo, atenta e ponderada. No bojo e no quadro geral da cardiologia clínica contemporânea, em que o enriquecimento básico dos conhecimentos se faz de modo acelerado sem precedentes, fruto das pesquisas maciças, envolvendo, não só, pelos seus espetaculares avanços, mas principalmente os numerosos e complexos mecanismos que compõem sua fisiopatologia sem cujo domínio torna-se impraticável o competente e racional exercício da especialidade. Sabe-se que os diversos ramos da patologia médica não crescem nem se desenvolvem em ritmo uniforme, cabendo às cardiopatias e às moléstias cerebrovasculares, no limiar deste século, como é notório ocupar o lugar até então das moléstias infecciosas e parasitárias passando a ostentar — o que não escapa a nenhum observador — o destaque especial que traz consigo a marca do relevo que conquistaram não só, pelos seus espetaculares avanços, mas antes disto por carregarem, sem concorrente próximo, a incômoda liderança entre os maiores responsáveis pelos altos índices de mortalidade e invalidez na maioria dos países. Visando converter tão preocupante quadro, não obstante as profundas e favoráveis transformações que ultimamente, neste tema, têm sido inegáveis os profissionais da saúde, firmemente apoiados não apenas nos fantásticos avanços da metodologia bioquímica e nas técnicas de imageamento, mas, igualmente, com presença marcada nos seminários internacionais e na prática do cotidiano, dentro desta visão, vem concentrando seus esforços para efeitos de se buscar os múltiplos e complexos mecanismos que conformam a etiologia e a fisiopatologia das moléstias do coração. ldentificá-los, desfazendo antigos paradigmas, utilizando todas as maravilhas da tecnologia médica. As cardiopatias, apesar de todas as medidas de natureza preventiva, não param de crescer, assumindo as dimensões de uma real epidemia, merecendo das autoridades competentes todo cuidado e atenção. Dentro deste prisma um longo e atribulado caminho, neste século, tem sido percorrido, no qual conquistas, como dantes jamais imaginadas, se acumularam, sem que, em contrapartida, os desafios tivessem desaparecido. © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. A medicina, que tanto se aprimora em velocidade, chegando a desnortear os próprios médicos, não sendo uma ciência exata, nem revelada como a teologia, cuja prática bem definida combina ciência e arte, o que a permite o acesso aos mais remotos recessos do corpo humano, encerra temas inesgotáveis, em que as verdades de hoje podem esconder mentiras e enganos amanhã. Sem ser cético nem um otimista incondicional, parece-me que muito do que vemos e afirmamos é falso, pois jamais conheceremos tudo o que constitui o todo, as verdades insofismáveis, ditas cartesianas, transcendem os limites do conhecimento humano. Arte instável em constante reformulação antes de tudo do conhecimento humano, a medicina nos extremos, ainda não conseguiu, o que seria sua suprema vitória, tornar a saúde contagiosa, se debate entre o flagelo das degenerescências, das malignidades e das banalidades dos resfriados. Infelizmente, a etiologia e a fisiopatologia das moléstias cardíacas, ao contrário das infecciosas, são sumamente complexas, em que se interagem inúmeros fatores genéticos ambientais e psicológicos ainda não completamente transparentes encobertos por vastas zonas de sombras. Discuti-los e identificá-los, do que depende um diagnóstico indiscutível, principalmente no que se refere a aterosclerose, é a grande expectativa e, com certeza, um dos mais polêmicos temas do futuro. No entanto, embora ainda sobrelevem controvérsias e desafios tantos e tamanhos podemos proclamar — não há negar — jamais, como atualmente foi mais alta a taxa de sobrevivência humana o que vale dizer que as moléstias cardiovasculares responsáveis ainda pelas principais ameaças à vida e à saúde não representam contudo um inexorável atributo do avanço da idade ou da constituição genética ao se tornarem afinal susceptíveis de prevenção e tratamento. Até que em tempos não tão remotos competirá aos geneticistas e não aos médicos como o somos penetrar no inimaginável mas admirável novo mundo onde a juventude será eterna os mistérios da vida a da morte desaparecerão não se podendo totalmente descartar a superação da própria mortalidade. Se o avanço espetacular da tecnologia que tanto aprimora o diagnóstico e por conseqüência o tratamento, cujo valor inquestionável, no entanto, tomado por si só terá de conviver agora e talvez para sempre com graves e interrogativas questões de fundo, nem por isso o paciente deve ser olhado friamente Ao contrário sua compreensão, como entidade humana fica a exigir do especialista cuidados especiais e horizontes mais amplos. O verdadeiro médico, ao atender o paciente, não deve apenas se valer de sua habilidade técnica e científica é necessário que ele ouça as vozes que embora reflitam conceitos de outras épocas, voltam agora, felizmente, a soar tão sólidas e sonoras como outrora. A medicina que cuida apenas das doenças amputa-se grande parte de si mesma. Somente através do humanismo que jamais poderá ser substituído por um interesse puramente tecnicista, o médico cumpre como deve seu nobre labor antes que se esfacele a cândida relação médico-paciente e o ato médico perca a sua autenticidade. Em verdade, o grande objetivo dos autores deste livro resultou em um instrumento de apoio sucinto mas suficientemente informativo destinado não só aos clínicos em geral mas, principalmente, aos próprios especialistas algo afastados de áreas de sua habitual cogitação e que desejam se atualizar no desenvolvimentoda moderna medicina cardiovascular. A Santa Casa de Belo Horizonte e a Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais em cujo solo generoso e humano esparramaram sementes que, através dos tempos e das gerações frutificaram até as culminâncias em que hoje se encontram, se engrandecem, com pesos idênticos, ao homenagear os médicos que elaboraram esta obra em cujo seio se formaram e se aprimoraram. Belo Horizonte, outono de 2004 Arlindo Polizzi Professor Titular da Disciplina de Cardiologia da Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais. Diretor Clínico do Instituto do Coração da Santa Casa de Belo Horizonte. Consultor Médico da Provedoria da Santa Casa de Belo Horizonte © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. É a propedêutica, em sua etimologia grega, o estudo introdutório, preliminar, espécie de preparação para receber o ensino mais completo. Por extensão, em Medicina, tornou-se o conjunto de perguntas e indagações orais e das técnicas de exame físico, cuja base é o aprofundamento das investigações para o correto diagnóstico. Neste sentido vocabular, há, por assim dizer, a propedêutica calcada na investigação dos sintomas e sinais – a semiologia, que compõe o subtítulo deste livro, voltada para a investigação apenas dos sinais de imagem e dos expressos em valores bioquímicos, hematológicos e outros. Uma, a propedêutica de imagem; outra, de laboratório ou medicina laboratorial. A par destas definições, hodiernamente, quando se pensa num semiologista, evoca-se a imagem de um médico sessentão debruçado sobre o leito do paciente, interrogando sintomas, investigando sinais. Embora muitos saibam ser a criteriosa anamnese e o detalhado exame clínico (particularmente a aus- culta cardíaca) capazes de realizar pelo menos 80% do diagnóstico das doenças cardiovasculares, na prática isto não acontece. Voltam-se acomodadamente para os sofisticados métodos de imagem e de exa- mes laboratoriais. Mas o que dizer? Os exames complementares, como bem diz nossa língua, “servem de complemento”, “sucedem ao básico, ao elementar”. Ambos se completam; o elementar ao complementar, à medida que avança a investigação diagnóstica. Não obstante, cada um, por si, limita-se ao seu círculo de possibilida- des investigatórias. Daí não haver nem mérito ou demérito ao compará-los. O correto é, sim, promover sua integração através dos procedimentos e das rotinas médicas. Pode-se dizer ter a Medicina alcançado a precisão diag- nóstica, em decorrência da associação da habilidade e do raciocínio humanos à tecnologia. Pois, jamais, a máquina poderá substituir o sentido a um só tempo prospectivo e criativo da inteligência e da sensibilida- de construídas na relação médico-paciente. Este é um livro de reflexão. Da reflexão que induz ao raciocínio médico, à propedêutica e à semiologia aqui mencionadas; preâmbulo e introdução de terapêutica e do prognóstico. Do raciocínio que tem a anamnese como colheita de informações e meio de engajamento da relação interpessoal, médico-paciente. Do raciocínio que conduz seletivamente ao exame complementar, e com isso viabiliza menos tempo e custo e mais eficiência. Do raciocínio, finalmente, que se torna instrumento de humanização da Medicina, cujo fim em todas as suas vertentes sempre será a cura. Por todo este elenco de preocupações o livro dirige-se ao estudante de cardiologia em nível de gradua- ção, ao interno e ao residente, estes últimos ávidos por reciclar os seus conhecimentos e, por que não dizer, sua postura investigatória. Se conseguir alguns desses objetivos, não digo todos, em face das dificuldades que nosso ensino atravessa, terei a consciência gratificada em saber que meu esforço e dos insignes colaboradores gerou seus frutos, produziu, divulgou conhecimentos médicos. Aprimorou, enfim. Belo Horizonte, outono de 2004 Eduardo Luis Guimarães Machado Introdução © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. Sumário 1 Anamnese e Exame Físico do Aparelho Cardiovascular, 1 Eduardo Luis Guimarães Machado Denise Granata Nogueira de Souza 2 Ausculta Cardíaca — Uma Abordagem Prática, 11 Eduardo Luis Guimarães Machado Denise Granata Nogueira de Souza 3 A Importância dos Fatores de Risco Cardiovasculares na Anamnese, 29 Wagner Cardoso de Pádua Filho 4 O Estudo do Pulso e a Semiologia das Doenças Vasculares Periféricas, 39 João Alfredo de Paula e Silva Maria Elisabeth Rennó de Castro Santos Christiane Ayres Flisch 5 Sinais e Sintomas na Pneumocardiologia, 51 Renato Maciel 6 A Investigação da Síncope, 69 Mitermayer Reis Brito 7 Aspectos Clínicos da Semiologia da Hipertensão Arterial, 79 Wagner Cardoso de Pádua Filho 8 As Alterações Dermatológicas e a Investigação Cardiovascular, 85 Maria Silvia Laborne Alves de Sousa Aripuanã Cobério © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. 9 As Alterações da Hipófise e a Investigação Cardiovascular, 89 José Côdo Albino Dias Romero Borges Netto Eduardo Ribeiro Mundim Celso Melo dos Santos Sâmara Nunes de Oliveira 10 As Alterações da Tireóide e a Investigação Cardiovascular, 97 José Côdo Albino Dias Romero Borges Netto Eduardo Ribeiro Mundim Celso Melo dos Santos Sâmara Nunes de Oliveira 11 As Alterações das Supra-renais e a Investigação Cardiovascular, 103 José Côdo Albino Dias Romero Borges Netto Eduardo Ribeiro Mundim Celso Melo dos Santos Sâmara Nunes de Oliveira 12 O Diabete e a Investigação Cardiovascular, 111 José Côdo Albino Dias Romero Borges Netto Eduardo Ribeiro Mundim Celso Melo dos Santos Sâmara Nunes de Oliveira 13 A Gastroenterologia e a Investigação Cardiovascular, 115 Luciana Dias Moretzsohn 14 Ocorrências Coloproctológicas com Reflexos sobre o Sistema Cardiovascular, 125 Geraldo Magela Gomes da Cruz 15 A Obstetrícia e a Investigação Cardiovascular, 165 Cezar Alencar de Lima Rezende Clóvis Antônio Bacha 16 A Semiologia Cardiopediátrica, 177 Edmundo Clarindo Oliveira 17 A Oftalmologia na Investigação Cardiovascular, 187 Aierson Faria Junior Sérgio Schneider Guimarães © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. 18 A Nefrologia e a Investigação Cardiovascular dentro de uma Prática Semiológica Completa, 195 Lermino Pimenta 19 A Hematologia na Investigação Cardiovascular, 213 Hilda Maria de Oliveira Maria Suely da Silva Nanem Lopes Wagnara Guinese Chaves 20 A Semiologia do Coração na Cirurgia Cardiovascular, 229 Fernando Antônio Fantini 21 A Psiquiatria na Investigação Cardiovascular, 253 Domingos Sávio Lage Guerra 22 A Medicina Psicossomática na Investigação Cardiovascular, 271 Geraldo Caldeira Messias Eustáquio Chaves 23 A Semiologia do Coração na Ginecologia, 281 Lucas Vianna Machado 24 Repercussões Médico-legais e Responsabilidade Profissional, 289 Demercindo Brandão Neto 25 Noções de Eletrocardiografia Aplicada à Prática Clínica, 299 Eduardo Luis Guimarães Machado Denise Granata Nogueira de Souza 26 Radiologia do Coração, 321 Hilton Cavalcanti Lobato 27 Ecodopplercardiografia, 327 José Luiz Barros Pena 28 O Estudo Hemodinâmico na Propedêutica Diagnóstica do Coração, 375 Augusto de Lima Filho © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. 29 Medicina Nuclear em Cardiologia, 429 Álvaro Luiz Barroso Eduardo Lanza Padrão Leonardo Lamego Rezende Antônio Carlos Melo Junior 30 O Teste Ergométrico na Avaliação Cardiovascular, 449 Eduardo Luis Guimarães Machado Marcos Valério Susaro Canabrava 31 Biópsia Cardíaca, 469 Gil Patrus Mundim Pena José de Souza Andrade Filho 32 Eletrofisiologia Cardíaca, 477 Reynaldo de Castro Miranda Tereza Augusta Grillo Henrique Barroso Moreira Thiago da Rocha Rodrigues 33 Laboratório na Cardiologia, 489 Osvaldo Mendes de Souza Júnior 34 Monitorização Ambulatorial da Pressão Arterial, 499 Raimundo Marques Nascimento Neto 35 Monitorização Eletrocardiográfica Ambulatorial, 505 Reynaldode Castro Miranda Henrique Barroso Moreira Tereza Augusta Grillo Thiago da Rocha Rodrigues Filipe Moura Moreira Posfácio, 515 Antônio Leite Rangel CAP˝TULO 1 1 © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. Anamnese e Exame Físico do Aparelho Cardiovascular Eduardo Luis Guimarªes Machado Denise Granata Nogueira de Souza A relação médico-paciente é um dos principais fato- res para uma boa anamnese. Muitas vezes o paciente, enquanto espera o médico, observa tudo ao seu redor e troca informações com outros pacientes a respeito do médico, da consulta e até dos medicamentos receitados. Quando em contato com o paciente, o médico deve atentar para alguns detalhes: Recebê-lo com atenção, chamá-lo pelo nome, evi- tando fazer perguntas como: “Qual é o seu nome mes- mo?”, “você já esteve aqui?”Caso esqueça o nome do paciente, o médico deve tentar descobri-lo sem demons- trar desinteresse. Estes cuidados, muitas vezes, fazem com que o paciente se torne mais confiante e amigo do médico, não omitindo informações. O EXAME CARDIOLÓGICO O exame do aparelho cardiovascular, assim como dos demais aparelhos, deve ser constituído por uma anamnese, um exame físico e exames complementares para chegar- mos a um diagnóstico e adotarmos uma conduta (Fig. 1.1). Anamnese Como toda anamnese, a do aparelho cardiovascular consiste na identificação do paciente e na história clínica. A Identificação do Paciente Nome completo, idade, sexo, cor (raça), estado ci- vil, nacionalidade e naturalidade, residência e proce- dência, profissão (ocupação). A simples identificação do paciente já dá início ao trajeto final, que é o diagnóstico, e a um melhor relacio- namento com o doente, podendo conhecer sua persona- lidade. Muitas doenças estão relacionadas com a idade, sexo, cor, nacionalidade e naturalidade, residência e procedência, profissão. Por exemplo, a doença reumá- tica acomete mais pacientes entre 5 a 15 anos, o infarto do miocárdio acomete mais pacientes acima de 45 anos e com profissões de estresse, a doença de Chagas tem uma região endêmica, a obesidade e as dislipidemias (alterações no colesterol e triglicérides) estão relacio- nadas com a alimentação. A História Clínica Compreende: • Queixa principal • História da doença atual • História patológica pregressa • História familiar • História psicossocial Ela pode ser colhida com o paciente relatando os fatos ou de uma forma dirigida, com o médico pergun- tando ao paciente os dados que serão úteis para o diag- nóstico. Exemplo: “Você sente dor quando anda?”, “A dor irradia para onde?” Devemos ter cuidado ao indagar o paciente. Alguns pacientes costumam ficar ansiosos com a presença do médico e responder de forma errada as perguntas. Aci- ma de tudo, o médico deve saber ouvir seu paciente. CAP˝TULOCAP˝TULO 11 2 CAP˝TULO 1 © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. QUEIXA PRINCIPAL É a queixa ou motivo da consulta médica. Ela deve ser única, se possível com as palavras do paciente. Muitas vezes o paciente relata várias queixas (dor de cabeça, dor nas pernas, dor no peito) durante uma consulta, mas a queixa principal, geralmente, é úni- ca. Para ajudar a encontrá-la podemos perguntá-lo: “o que mais incomoda o senhor?” ou, tentar abordá- lo de uma forma que achamos conveniente, naquela situação. Entre as queixas mais comuns em consultório de cardiologia, temos: “Dor no peito”, “falta de ar”, “palpitação”, “incha- ço” e “tosse”. HISTÓRIA DA DOENÇA ATUAL Diferente da queixa principal, deve ser escrita com termos técnicos (médicos) e deve seguir um roteiro, no qual a sua seqüência nos direcione ao diagnóstico. Devem ser atribuídas as seguintes características aos sintomas do paciente: 1. Cronologia: (quando iniciou o sintoma) 2. Evolução (como evoluiu até a presente data) 3. Localização 4. Tipo 5. Intensidade 6. Circunstância que iniciou 7. Fatores de agravo 8. Fatores de melhora 9. Manifestações associadas Além disto devem ser mencionados os tratamentos realizados previamente e o tratamento atual. HISTÓRIA PATOLÓGICA PREGRESSA É o relato dos acontecimentos passados (doenças) do paciente. Deve-se pesquisar: • Doenças prévias (doenças comuns na infância, infec- ções, verminoses, diabete, hipertensão), traumas, fra- turas, cirurgias, internações,transfusão sangüíneas, vacinas, fumo, álcool, tóxicos, medicamentos (efeitos indesejáveis). Em mulheres deve ser informado o nú- mero de gestações, partos e presença de abortos. HISTÓRIA FAMILIAR É o relato do estado de saúde dos seus familiares (pais, avós, irmãos e filhos). Deve-se investigar a pre- sença ou história de diabete, hipertensão, neoplasias, dislipidemias e de doenças coronarianas na família. Nos casos de falecimento do familiar deve-se identificar a idade na época do óbito e sua causa. HISTÓRIA PSICOSSOCIAL Deve ser descrito as condições de moradia do pa- ciente (presença de saneamento básico), contato com águas naturais, fumo, bebida, suas relações interpesso- ais familiares e suas ansiedades. ANAMNESE ESPECIAL DO APARELHO CARDIOVASCULAR Para caracterizar melhor a dor precordial devemos seguir um roteiro: • Cronologia • Tipo • Localização da dor • Irradiação da dor • Intensidade da dor • Periodicidade • Duração (tempo) da dor • Condições que melhoram a dor • Condições que pioram a dor • Sinais e sintomas que acompanham a dor • Devemos verificar a presença de outros sinais e sin- tomas como: — Dispnéia — Tosse Anamnese + Exame Físico Exames Complementares Identificaçªo História Clínica Diagnóstico Conduta Fig. 1.1 Exame cardiológico. CAP˝TULO 1 3 © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. ANGINA INSTÁVEL Quando a dor precordial mudar as características, isto é, a dor precordial durar mais tempo (5 minutos ou mais), aparecer em repouso, demorar mais tempo para desaparecer com o repouso ou com uso de nitratos é considerada angina instável. INFARTO AGUDO DO MIOCÁRDIO (IAM) Se a dor precordial persistir com episódios recor- rentes (ou acontecer em intervalos de tempo menores) ou apresentar maior duração podemos estar diante de um infarto agudo do miocárdio. Não podemos esquecer que em torno de ¼ dos in- fartos agudos do miocárdio pode se apresentar de for- ma silenciosa (sem sintomas). PERICARDITE É a inflamação do pericárdio. Nesta doença a dor pode ser localizada no precórdio, de intensidade variá- vel, não relacionada com o esforço, apresentar melhora com a posição sentada, inclinada para frente e apresen- tar piora com a respiração profunda e com o decúbito. ANEURISMA DISSECANTE DA AORTA Aneurisma de aorta é a dilatação localizada da aor- ta. Quando o sangue sai do seu trajeto normal (de den- tro da luz do vaso) e penetra através das camadas da parede da artéria (camada média) formando uma falsa luz, é chamado aneurisma dissecante. A dor geralmente é precordial, com irradiação para parte posterior do tórax e para os membros, não varian- do com a respiração ou posição do doente. Dor de Origem Não-cardíaca CERVICOBRAQUIALGIA É a dor de origem cervical que irradia para o braço. Quando irradia para o membro superior esquerdo é con- siderada um diagnóstico diferencial de IAM. Pode ter intensidade variável, durar dias, meses ou ser contínua. Aparece, principalmente, em pacientes que adotam pos- turas irregulares. GASTRITE Dor epigástrica de intensidade variável, sem irradia- ção, geralmente relacionada com alimentação e acom- panhada de queimação epigástrica. — Hemoptise — Edema e oliguria — Palpitações — Cianose — Sincope ou lipotimia — Poliartralgia — Coréia — outros • Algumas características das principais queixas em cardiologia: “Dor no Peito” A dor no peito (dor precordial ou dor torácica) pode ter causa cardíaca e não-cardíaca. Entre as principais dores de origem cardíacatemos a angina de peito, infarto agudo do miocárdio (IAM), pericardite e o aneurisma dissecante da aorta. Entre as dores não cardíacas temos como as mais freqüentes a cervicobraquialgia, gastrite, hérnia de hia- to e os traumas. Dor de Origem Cardíaca ANGINA ESTÁVEL Preenche os seguintes critérios: • Localização da dor: geralmente localizada na região precordial. • Irradiação da dor: quando ocorre, na maioria dos casos se dá para membro superior esquerdo, man- díbula e região cervical. A dor precordial pode irra- diar também para o membro superior direito e para as costas. • Intensidade da dor: variável. Pode ser fraca, forte ou média intensidade. • Duração (tempo) da dor: geralmente de curta dura- ção (2 a 3 minutos), desaparecendo totalmente após este período. • Condição que melhora a dor: repouso, uso de nitrato sublingual. • Condição que desencadeia ou que piora a dor: Es- forço físico, frio, alimentação, estresse. Nunca apa- rece com o repouso. • Sinais e sintomas que acompanham a dor: náuseas, vômitos, sudorese, dispnéia. 4 CAP˝TULO 1 © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. Muitas vezes é diagnóstico diferencial de infarto agudo do miocárdio inferior. ANSIEDADE O paciente pode sentir dor de intensidade variável, com ou sem irradiação, com ou sem náuseas e vômitos. Atenção: algumas vezes o paciente conhece os sinto- mas de angina e tenta simulá-los. “Falta de Ar” A queixa de falta de ar (dispnéia) caracteriza-se como a dificuldade em respirar. O paciente apresenta movimentos respiratórios rápidos e superficiais. Dispnéia de decúbito é aquela onde a dispnéia apa- rece quando o paciente deita-se, diferente da dispnéia noturna (dispnéia paroxística noturna) onde o paciente deita-se sem dispnéia e acorda com ela. A dispnéia de esforço pode ocorrer aos grandes esforços (exercício intenso), aos médios esforços (exercício moderado) e aos pequenos esforços. Ortopnéia é a posição sentada adotada pelo pacien- te com dispnéia na tentativa de obter melhora do pa- drão respiratório. “Inchaço nas Pernas” A queixa de “inchaço” (edema) de origem cardíaca tem a seguinte característica: O edema geralmente é frio, mole, indolor e vesper- tino, bilateral (nas duas pernas). “Tosse” A queixa de tosse de origem cardíaca geralmente é devida a congestão pulmonar. Ela é seca, aparece ou se agrava quando o paciente deita-se ou faz um exercício de maior intensidade. Muitas vezes esta tosse pode ser devida ao efeito colateral do uso de medicação (como os inibidores da enzima de conversão — Captopril). “Palpitações” A queixa de palpitação é a sensação de batimentos cardíacos irregulares. Geralmente pode ser devido a arritmias cardíacas (fibrilação atrial, taquicardias, etc.) ou ansiedade. ESTADO GERAL DO PACIENTE O primeiro passo do exame físico é a observação do estado geral do paciente. Mesmo no exame físico do aparelho cardiovascu- lar devemos observar o paciente como um todo. Resu- midamente, temos: Marcha e Posição Adotada pelo Paciente O paciente pode apresentar-se ao exame clínico ado- tando uma marcha anormal ou uma posição que indi- que um sinal comum de uma doença. Por exemplo: a posição genupeitoral é comum no paciente com grande derrame pericárdico (Fig. 1.2), a ortopnéia é freqüente nos quadros de insuficiência cardíaca e na doença pul- monar obstrutiva crônica (DPOC), e a posição de cóco- ras é comum na tetralogia de Fallot. Algumas vezes encontramos o paciente em uma posição antálgica como no infarto agudo do miocárdio (Fig. 1.3). Estado de Consciência Deve ser avaliado o estado de consciência do paci- ente: consciência vigil, sono profundo ou inconsciente (em coma). Orientação • Quanto a sua pessoa (dados pessoais) • Quanto ao tempo (dia da semana, mês, ano, período de internação) • Quanto ao espaço (de onde veio,onde está) Mucosas e Pele Deve ser observado: • Coloração e umidade A mucosa da conjuntiva, dos lábios e da boca pode apresentar alterações da coloração e/ou da umidade (hipocorado, desidratado). A palidez é comum nas anemias; a cianose, colora- ção azulada, é comum nas cardiopatias congênitas e pa- tologias respiratórias; icterícia, coloração amarelada, é comum nas doenças hepáticas. • Edema • Circulação colateral • Calor das extremidades CAP˝TULO 1 5 © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. Padrão Respiratório • Observar se o paciente apresenta dificuldade respi- ratória: eupneico (sem dificuldade), dispnéico (com dificuldade). EXAME FÍSICO Após a anamnese segue-se o exame físico. Este deve ser feito com muito respeito, evitando constranger o paciente. Observe o local, as pessoas ao redor, evite comentar perto do paciente qualquer alteração que pos- sa preocupá-lo. Existem várias maneiras de abordar um paciente para o exame cardiológico. Examinaremos o paciente observando: • Pescoço • Tórax • Epigástrico Pescoço Na inspeção do pescoço devemos observar as pul- sações aórtica e carotídea e também fazer a ausculta na procura de sopros. O estudo do pulso e a semiologia das doenças car- diovasculares será visto no Capítulo 4. De maneira prática podemos dizer que: • No paciente em repouso, as pulsações aórtica e caro- tídea não são visíveis. Podem ser visíveis no caso do paciente se exercitar muito. • Algumas doenças como a aterosclerose, insuficiên- cia valvar aórtica e hipertensão arterial podem levar ao aparecimento de pulsações na fúrcula (pulsações aórtica) e no pescoço (pulsações carotídeas). • Com o paciente deitado, em decúbito dorsal a 45 graus observamos se ocorrerá ingurgitamento. Em condi- ções normais o ingurgitamento não pode ocorrer aci- ma do terço inferior. • Normalmente não temos sopros no pescoço. Caso eles ocorram será devido à irradiação do sopro cardíaco. Na estenose aórtica, por exemplo, a irradiação do sopro sistólico de ejeção se faz para a carótida direi- ta e fúrcula. Podem aparecer sopros no pescoço pro- venientes de obstruções arteriais ou de estados hipercinéticos. • Na base do pescoço encontra-se o pulso venoso (jugulares) e reflete a dinâmica do coração direito. Quando o paciente sentado apresenta ingurgitamen- to jugular pode-se suspeitar de compressão da veia cava, insuficiência ventricular direita ou pericardite constritiva. Fig. 1.2 Posiçªo adotada em um paciente com grande derrame pericÆrdico. Fig. 1.3 Paciente em posiçªo antÆlgica (portador de infarto agudo do miocÆrdio). 6 CAP˝TULO 1 © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. Tórax Existem várias formas de tórax, entre elas: • Forma de tonel (relacionado com doença pulmonar obstrutiva crônica), peito de pombo (congênito), cha- to (desnutrição), sino (grandes ascites), cifoescolió- tico (patologias ortopédicas). • Podemos ter abaulamento precordiais decorrentes, às vezes, de grande aumento do coração (cardio- megalia), geralmente provocado por doenças con- gênitas. Em caso de abaulamentos pulsáteis na parede torácica devemos investigar a presença de aneurisma aórtico (se o aneurisma for de aorta descendente pode-se verificar abaulamento pulsá- til no dorso do paciente). • As retrações torácicas podem aparecer e são devidas geralmente à toracotomia. Aparecem também em caso de hipertrofia direita, onde temos uma retração sistólica apical. Ictus Cordis É o impacto do coração sobre a parede torácica e corresponde, anatomicamente, à ponta do ventrículo esquerdo. Devemos visualizá-lo e analisá-lo (Fig. 1.4). CARACTERÍSTICAS DO ICTUS CORDIS • Localização: entre o quarto e quinto espaço intercos- tal esquerdo (EIE), aproximadamente 0,5cm para dentro da linha hemiclavicular esquerda (LHCE) com o paciente em decúbito dorsal, podendo variar com o biotipo do paciente. • Extensão: uma a uma e meia polpa digital (aproxi- madamente 1,5 a 2,0cm). • Intensidade:quanto à intensidade podemos classifi- cá-la em forte, fraca, média intensidade. • Em algumas situações podemos sentir o ictus como um choque curto e intenso (cupuliforme), o que é comum nas hipertrofias, em outras como um cho- que de duração maior (globoso), que é comum nas dilatações. • Mobilidade: o ictus é móvel. Desloca-se para a di- reita ou esquerda (mobilidade de 2cm aproxima- damente) de acordo com o decúbito adotado. Fig. 1.4 Exame do ictus cordis. PRINCIPAIS ALTERAÇÕES DO ICTUS Seu deslocamento significa dilatação e/ou hipertro- fia do ventrículo esquerdo. O ictus pode estar desviado para baixo e para fora da linha hemiclavicular esquerda (hipertrofia ventricu- lar esquerda) e para dentro da linha hemiclavicular es- querda (Hipertrofia ventricular direita). O ictus também pode ter outras posições: desviado para cima (3o ou 4o EIE) na gravidez; desviado para o lado oposto ao pneumotórax ou grande derrame pleural. A mobilidade pode estar diminuída ou mesmo au- sente na pericardite constritiva. Frêmito É a sensação táctil do sopro cardíaco. Colocamos o paciente em decúbito dorsal e lateral esquerdo e, às vezes, sentado com o tórax inclinado para frente (Figs. 1.5, 1.6 e 1.7). O examinador coloca a palma da mão no tórax do paciente (região precordial) com os dedos estendidos. CAP˝TULO 1 7 © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. Esta sensação táctil deve ser classificada em: • Tempo (ciclo cardíaco): sistólico, diastólico, contínuo. O frêmito sistólico coincide com o pulso; o diastólico, não. • Intensidade: a intensidade do frêmito é dada em cru- zes (de + a ++++). Ausculta Cardíaca A ausculta cardíaca é tema de muito interesse e será visto no Capítulo 2. Epigastro No exame do epigástrico devemos procurar abau- lamentos, pulsações e retrações. Abaulamentos • Causas cardíacas: aneurisma de aorta, hipertrofias (principalmente de ventrículo direito), cardiomega- lia, derrame pericárdico, alterações da caixa torácica. • Causas não-cardíacas: tumores e abscessos. Fig. 1.7 Exame do frŒmito. Fig. 1.6 Exame do frŒmito.Fig. 1.5 Exame do frŒmito. 8 CAP˝TULO 1 © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. Retrações • Causadas por cicatrizes, lesões congênitas. Pulsações • As pulsações da aorta são transmitidas à parede ab- dominal, gerando as pulsações epigástricas. Estas, na maioria das vezes, indica hipertrofias ventriculares, dilatação da aorta e artéria pulmonar e aneurismas ventriculares. MEDIDA DA PRESSÃO ARTERIAL A medida da pressão arterial deve seguir algumas normas. A mais utilizada é a da Sociedade Brasileira de Cardiologia. A medida da pressão arterial, pela sua importância, deve ser estimulada e realizada, em toda avaliação de saúde, por médicos de todas as especialidades e demais profissionais da área de saúde. O esfigmomanômetro de coluna de mercúrio é o ideal para essas medidas. Os aparelhos do tipo anerói- de, quando usados, devem ser periodicamente testados e devidamente calibrados. A medida da pressão arterial deve ser realizada na posição sentada, de acordo com o procedimento descrito a seguir: 1. Explicar o procedimento ao paciente. 2. Certificar-se de que o paciente: • Não está com a bexiga cheia. • Não praticou exercícios físicos. • Não ingeriu bebidas alcoólicas, café, alimentos, ou fumou até 30 minutos antes da medida. 3. Deixar o paciente descansar por 5 a 10 minutos em ambiente calmo, com temperatura agradável. 4. Localizar a artéria braquial por palpação. 5. Colocar o manguito firmemente cerca de 2cm a 3cm acima da fossa antecubital, centralizando a bolsa de borracha sobre a artéria braquial. A largura da bolsa de borracha do manguito deve corresponder a 40% da circunferência do braço e seu comprimen- to, envolver pelo menos 80% do braço. Assim, a largura do manguito a ser utilizado estará na de- pendência da circunferência do braço do paciente. 6. Manter o braço do paciente na altura do coração. 7. Posicionar os olhos no mesmo nível da coluna de mercúrio ou do mostrador do manômetro aneróide. 8. Palpar o pulso radial e inflar o manguito até seu de- saparecimento, para a estimativa do nível da pres- são sistólica, desinflar rapidamente e aguardar de 15 a 30 segundos antes de inflar novamente. 9. Colocar o estetoscópio nos ouvidos, com a curva- tura voltada para a frente. 10. Posicionar o estetoscópio suavemente sobre a arté- ria braquial, na fossa antecubital, evitando compres- são excessiva. 11. Solicitar ao paciente que não fale durante o proce- dimento de medição. 12. Inflar rapidamente, de 10mmHg em 10mmHg, até o nível estimado da pressão arterial. 13. Proceder à deflação, com velocidade constante ini- cial de 2mmHg a 4mmHg por segundo, evitando congestão venosa e desconforto para o paciente. 14. Determinar a pressão sistólica no momento do apa- recimento do primeiro som (fase I de Korotkoff), que se intensifica com o aumento da velocidade de deflação. 15. Determinar a pressão diastólica no desaparecimen- to do som (fase V de Korotkoff), exceto em condi- ções especiais. Auscultar cerca de 20mmHg a 30mmHg abaixo do último som para confirmar seu desaparecimento e depois proceder à deflação rápi- da e completa. Quando os batimentos persistirem até o nível zero, determinar a pressão diastólica no abafamento dos sons (fase IV de Korotkoff). 16. Registrar os valores das pressões sistólica e diastó- lica, complementando com a posição do paciente, o tamanho do manguito e o braço em que foi feita a mensuração. Deverá ser registrado sempre o valor da pressão obtido na escala do manômetro, que va- ria de 2mmHg em 2mmHg, evitando-se arredonda- mentos e valores de pressão terminados em 5. 17. Esperar 1 a 2 minutos antes de realizar novas medidas. 18. O paciente deve ser informado sobre os valores da pressão arterial e a possível necessidade de acom- panhamento. Para a medida da pressão arterial na coxa, o proce- dimento é o seguinte: • Utilizar manguito de tamanho adequado, colocado no terço inferior da coxa. • Colocar o paciente em decúbito ventral. • Realizar a ausculta na artéria poplítea. Na medida da pressão arterial em posição ereta, o braço deve ser mantido na altura do coração, com apoio. CAP˝TULO 1 9 © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. Na presença de fibrilação artrial, pela dificuldade de determinação da pressão arterial, deverão ser conside- rados os valores aproximados. Nos indivíduos idosos, portadores de disautonomia, alcoólatras e/ou em uso de medicação anti-hipertensiva, a pressão arterial deve ser medida também na posição ortostática. 19. Tomadas na consulta: em cada consulta, deverão ser realizadas no mínimo duas medidas, com inter- valo de 1 a 2 minutos entre elas; caso as pressões diastólicas obtidas apresentem diferenças superio- res a 5mmHg, sugere-se que sejam realizadas novas aferições, até que seja obtida medida com diferença inferior a esse valor. De acordo com a situação clíni- ca do presente, recomenda-se que as medidas sejam repetidas em pelo menos duas ou mais visitas. As medições na primeira avaliação devem ser obtidas em ambos os membros superiores. As posições re- comendadas na rotina para a medida da pressão ar- terial são sentada e/ou deitada. Medida Domiciliar e Automedida da Pressão Arterial • Esses procedimentos são úteis para identificar a hi- pertensão do avental branco (hipertensão de consul- tório isolada); • Avaliar a eficácia da terapêutica anti-hipertensiva; • Estimular a adesão ao tratamento; e • Reduzir custos. Os aparelhos eletrônicos devidamente validados e calibrados são os mais indicados para a medida da pres- são arterial domiciliar. Os aparelhos de coluna de mer- cúrio e os aneróides podem ser usados, desde que calibrados e após treinamento apropriado. Os aparelhos de medida da pressão arterial no dedonão são reco- mendados. Apesar de ainda não existir consenso quanto aos valores de normalidade para a medida de pressão ar- terial domiciliar, consideram-se valores normais até 120/80mmHg. Medida Ambulatorial da Pressão Arterial (MAPA) O MAPA é um método automático de medida indi- reta e intermitente da pressão arterial durante 24 horas, enquanto o paciente realiza suas atividades rotineiras, inclusive durante o sono. Estudos têm demonstrado que esse método apresenta melhor correlação com risco cardiovascular do que a medida da pressão arterial de consultório. As principais indicações para o uso desse método, de acordo com o II Consenso de MAPA, estão apresentadas a seguir. É importante ressaltar que ainda não existe evidên- cia de que esse método deva ser empregado na avalia- ção rotineira do paciente hipertenso, não substituindo, portanto, a avaliação clínica do paciente e a medida da pressão arterial de consultório. Indicações para a MAPA • Hipertensão de consultório (hipertensão do avental branco) • Hipertensão arterial limítrofe • Hipertensão episódica • Avaliação do efeito terapêutico anti-hipertensivo, quando existirem dúvidas no controle da pressão ar- terial em 24 horas. • Outras: sintomas sugestivos de hipotensão, suspeita de disfunção autonômica, episódios de síncope e pes- quisa clínica. Situações Especiais de Medida da Pressão Arterial Crianças A determinação da pressão arterial em crianças é recomendada como parte integrante de sua avaliação clínica. Há semelhança dos critérios já descritos para adultos: 1. A largura da bolsa de borracha do manguito deve corresponder a 40% da circunferência do braço. 2. O comprimento da bolsa do manguito deve envol- ver 80% a 100% da circunferência do braço. 3. A pressão distólica deve ser determinada na fase V de Korotkoff nos desaparecimentos do som. Idosos Na medida da pressão arterial dos idoso, existem dois aspectos importantes: • maior freqüência de hiato auscultatório, que subesti- ma a verdadeira pressão sistólica. • pseudo-hipertensão, caracterizada por nível de pres- são arterial falsamente elevado em decorrência do enrijecimento da parede da artéria. Pode ser detecta- da por meio da manobra de Osler, que consiste na inflação do manguito até o desaparecimento do pulso radial. Se a artéria continuar palpável após esse pro- cedimento, o paciente é considerado Osler positivo. 10 CAP˝TULO 1 © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. Gestantes Devido às alterações na medida da pressão arterial em diferentes posições, atualmente é recomendado que a medida da pressão arterial em gestantes seja feita na posição sentada. A determinação da pressão diastólica deverá ser considerada na fase V de Korotkoff. Even- tualmente, quando os batimentos arteriais permanece- rem audíveis até o nível zero, deve-se utilizar a fase IV (abafamento dos sons) para registro da pressão arterial diastólica. Obesos Em pacientes obesos, deve-se utilizar manguito de tamanho adequado a circunferência do braço. Na ausência deste, pode-se: • Corrigir a leitura obtida com manguito padrão (13 × 24cm), de acordo com as tabelas próprias; • Usar fita de correção aplicada no manguito; e • Colocar o manguito no antebraço e auscultar a artéria radial, sendo esta a forma menos recomen- dada. BIBLIOGRAFIA 1. Thorn GW, Adams RD, Brawnwald, Isselbacher KJ, Peters- dorf RG. O primeiro contato com o doente. In: Harrinson. Me- dicina Interna, Rio de Janeiro: ed. Guanabara Koogan. 8 ed. 2. Balint M. O médico, seu paciente e a doença. São Paulo. Edi- tora Atheneu, 1984. 3. Barsky III AJ. Patients who amplify bodily sensations. An In- tern Med 1979. 4. Barsky III, Aj. Hidden reasons some patients visit doctors. An Intern Med 1981. 5. Meares A. Communication with the patient. Lancet 1960. 6. American Board of Internal Medicine. Clinical competence in internal medicine. An Intern Med 1979. 7. Benbassat J, Schiffmann A. An approach to teaching the intro- duction of clinical medicine. An Intern Med 1986. 8. Porto CC. Semiologia Médica. Rio de Janeiro: Ed. Guanabara Koogan S. A., 3 ed. 1997. 9. Informações obtidas no site http://www.planetcardio.com.br 10. Bird B. Jalking with Patients. Lcott, Philadelphia, 1955. 11. Lipowskizj. Psychosocial aspects os disease. An Intern Med 1969. 12. Lisans KY Et and Shocketa Br. Comprehensive medical diag- nosis for the internist. Med Clin N Amer 1967. 13. Lopez M, Medeiros JL. Semiologia Médica, As bases do diag- nóstico clínico. Rio de Janeiro: Ed. Revinter, 4 ed. 2 volumes. 1999. 14. Steel K. History taking from elderly patients. Hosp Practice 1985. 15. Wolfs. The fine art of taking a history. Hosp Practice 1985. 16. Porto CC. Exame clínico. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan S.A., 1982. CAP˝TULO 2 11 © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. 22 Ausculta Cardíaca Uma Abordagem PrÆtica Eduardo Luís Guimarªes Machado Denise Granata Nogueira de Souza INTRODUÇÃO Embora a ausculta cardíaca permita uma aproxima- ção do médico de seu paciente, sua origem denota exa- tamente de uma necessidade oposta. Quando René Theophile Hyacinthe Laennec, em 1816, concebeu as primeiras idéias do trabalho intitulado Immediate Aus- cultation, estava exatamente a examinar uma jovem e sentiu-se constrangido ao ter que depositar seu ouvido sobre o tórax da paciente, conquanto essa fosse uma prá- tica comum na época, conforme comprovam suas pró- prias palavras: “... a ausculta direta de encostar o ouvido no peito é desconfortável, tanto para o médico como para o paciente, e provoca uma repugnância que a torna impraticável nos hospital. É inconveniente no exame de mulheres devido ao obstáculo físico que as mamas po- dem representar...” (Fig. 2.1). Observando a maneira como crianças brincavam de transmitir sons através de troncos de madeira, ele ima- ginou que tal princípio poderia ser aplicado à física dos sons torácicos. A partir de então ele concebeu o modelo do primeiro estetoscópio, cuja réplica é apresentada nas Figs. 2.2 e 2.3. Seu trabalho foi extremamente importante para o desenvolvimento da semiologia cardiovascular. A par- tir de seu Immediate Auscultation, o francês Laennec (Fig. 2.4), então um médico conceituado, ganhou maior notoriedade, tendo sido retratado em alguns quadros du- rante a prática investigatória. Após seu trabalho, diversos modelos de estetoscó- pios foram produzidos. Alguns representavam meras variações do modelo original. Outros procuravam acres- centar novas opções, porém o princípio básico da trans- missão sonora vinha se mantendo. Apesar das variações de design, acreditava-se que quanto mais velho fosse um estetoscópio, melhor ele seria. Isto em alusão ao fato de que o realmente im- portante era a experiência do médico que estava por detrás do estetoscópio e não o quão tecnologicamente avançado ele fosse. Do ponto de vista biofísico havia duas escolas: A americana, que recomendava o uso do estetoscópio de membrana, e a européia, que defendia o uso da campâ- nula. Atualmente o estetoscópio padrão possui ambos os recursos cuja diferenciação será mais bem exposta em tópico subseqüente. Com o desenvolvimento tecnológico, novos prin- cípios foram sendo introduzidos à ausculta moderna. O estetoscópio ganhou variações personalizadas, ade- quadas às diferentes áreas da investigação cardiovas- cular. Deste modo, tem-se o estetoscópio desenhado para a neonatologia, que possui uma campânula e dia- fragma de pequenas dimensões, adequadas ao peque- no tórax dos neonatos examinados. Outros modelos foram concebidos para fins de ensino e pesquisa e daí surgiram os estetoscópios de múltiplas aurículas. Ou- tros, mais modernos, utilizam recursos de engenharia CAP˝TULOCAP˝TULO 12 CAP˝TULO 2 © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. Fig. 2.1 Foto obtida no site: http://wwwihm.nlm.nih.gov/ihm/images/B/29/782.jpg. Laennec Listening with his Ear Against the Chest of a Patient at the Necker Hospital. Tela de Chartran, Theobold. Fig. 2.2 RØplica do primeiro estetoscópio. Foto obtida no site http://www.planetcardio.com.br. eletrônica (Figs 2.5 e 2.6). Estes últimos têm sistemas de filtragem e amplificação dos sons. Os mais recentes permitem ao médico o armazenamento (no próprio es- tetoscópio) da ausculta de determinado paciente. Com isso ele pode comparar os achados auscultatórios da pre- sente data do exame com os sons pregressos e, a partir de então, traçar um perfil da evolução clínica de seu paciente. Para a obstetrícia tem-se desde o estetoscópio de Pinar cujo design possui grande similaridade com os Figs. 2.3 Foto obtida no site http://www.planetcardio.com.br. Fig. 2.4 Quadro de Laennec. Foto obtida do Site http:// www.cybernurse.com. primeiros estetoscópios concebidos, até os mais moder- nos sonares, que permitem uma avaliação mais precisa do estado cardiológico fetal. De qualquer modo, as possibilidades adaptativas deste tradicional instrumento são diversas, porém, con- forme citamos, apesar de toda a tecnologia de que se acercam as ciências cardiovasculares uma lógica será imutável: a de que o importante é a competência e ex- periência daquele que está por detrás do estetoscópio, promovendo a investigação clínica. A maioria dos estetoscópios é formada por duas partes funcionais: uma parte menor, a campânula (Fig. 2.7B), e uma parte maior, o diafragma ou mem- brana (Fig. 2.7A). CAP˝TULO 2 13 © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. Fig. 2.6 Modelos de estetoscópios atuais. Fig. 2.5 Modelos de estetoscópios. Fotos obtidas no site: http://www.planetcardio.com.br. A campânula é usada para auscultar melhor os sons de baixa freqüência (B3, B4 e sopro diastólico da este- nose mitral) e o diafragma é usado para auscultar os sons de alta freqüência. Além destas partes funcionais há também as aurí- culas, que possuem tamanhos, consistências e são fei- tas de materiais diversos, próprios para toda uma gama de condutos auditivos existentes. Tubos, em geral de 14 CAP˝TULO 2 © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. Fig. 2.7 As duas faces do estetoscópio. A) A face do diafragma. B) A face da campânula. borracha e de comprimentos e diâmetros variáveis, tam- bém complementam a arquitetura deste poderoso ins- trumento. FOCOS E ÁREAS DE AUSCULTA CARDÍACA A partir do estudo anatômico do coração e de seu posicionamento dentro do mediastino foi possível com- preender que os sons produzidos pelos diversos even- tos cardíacos possuem locais ou focos nos quais são mais facilmente percebidos. No tórax temos os seguin- tes focos de ausculta: FOCO OU ÁREA PULMONAR Localizado no segundo espaço intercostal esquer- do junto ao esterno (Fig. 2.8). Fig. 2.8 Focos e Æreas de ausculta. FOCO OU ÁREA AÓRTICA Localizado no segundo espaço intercostal direito (Fig. 2.8). FOCO AÓRTICO ACESSÓRIO Localizado no terceiro e próximo do quarto espaço intercostal esquerdo junto ao esterno (Fig. 2.8). FOCO OU ÁREA TRICÚSPIDE Quarto espaço intercostal esquerdo, junto ao ester- no (Fig. 2.8). FOCO OU ÁREA MITRAL Localizado na ponta, no quinto espaço intercostal esquerdo, na linha hemiclavicular (Fig. 2.8). Estes focos são usados para identificar a localiza- ção, ponto de maior intensidade e irradiação dos sopros e sons cardíacos. Devemos salientar que cada sopro cardíaco tem o seu ponto máximo de intensidade em uma área do tórax e este pode não ser o foco do mesmo nome. Na insuficiência aórtica, por exemplo, podemos ter um sopro de maior intensidade na ponta e não no foco aórtico. Cada “som ou vibração” tem uma característica peculiar que facilitará sua identificação. Para melhor compreendermos os “sons” ou even- tos que ocorrem na ausculta cardíaca, faremos uma sín- tese do ciclo cardíaco. A B F. Mitral F. Aórtico F. Pulmonar F. Ao Acessório F. Tricœspide CAP˝TULO 2 15 © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. PERÍODO SISTÓLICO Fase de Contração Isovolumétrica • Tem início com a contração ventricular e o subse- qüente fechamento das valvas atrioventriculares (pri- meira bulha cardíaca). • Ocorre então uma elevação rápida da pressão nos ven- trículos atpe abertura das valvas semilunares (aórti- ca e pulmonar), quando então começa a outra fase (ejeção ventricular rápida). Fase de Ejeção Ventricular Rápida • Inicia-se com a abertura das valvas semilunares. A pressão ventricular, ao exceder os níveis pressóricos na raiz dos grandes vasos, faz com que as valvas se- milunares se abram. • Ocorre uma ejeção rápida de uma quantidade grande do débito sistólico, que representa cerca de 2/3 deste débito. Fase de Ejeção Lenta • Inicia-se quando a curva do volume ventricular de- monstra uma brusca redução em sua velocidade de esvaziamento. • Seu término ocorre com o final da ejeção ventricu- lar, imediatamente antes do fechamento das valvas semilunares. PERÍODO DIASTÓLICO Fase de Relaxamento Isovolumétrico • Fechamento das semilunares (segunda bulha cardíaca). • Vai até a abertura das valvas atrioventriculares, quan- do então começa a fase seguinte. Fase de Enchimento Ventricular Rápido • O sangue, represado nos átrios, irá encher rapida- mente os ventrículos ocasionando um súbito aumen- to do volume sanguíneo ventricular. Fase de Enchimento Ventricular Lento • Quando a velocidade de enchimento rápida diminui temos o início desta fase, que é caracterizada pela lenta ascensão da curva de volume ventricular. • É nesta fase que ocorre a terceira bulha cardíaca. O CICLO CARDÍACO O ciclo cardíaco normal é dividido em dois perío- dos: sistólico e diastólico e estes, por sua vez, são sub- divididos em fases (Fig. 2.9): PERÍODO SISTÓLICO Fases 1. Contração isovolumétrica. 2. Ejeção ventricular rápida. 3. Ejeção ventricular lenta. PERÍODO DIASTÓLICO Fases 1. Relaxamento ventricular isovolumétrico. 2. Enchimento ventricular rápido. 3. Enchimento ventricular lento. 4. Contração atrial. Os eventos que acontecem no ciclo cardíaco, entre- tanto, não ocorrem em perfeita sincronia em ambos os lados do coração. Esta diferença de tempo se dá devido a diversos fatores: • A localização do nó sinusal no AD (átrio direito), faz com que este átrio se contraia aproximadamente 0,02 seg. antes do AE (átrio esquerdo). • O impulso elétrico, que é retardado no nó A-V, desce mais rápido pelo ramo esquerdo do que pelo direito fazendo com que o ventrículo esquerdo contraia an- tes do ventrículo direito. Portanto, o fechamento da valva mitral antecede o fechamento da tricúspide. • A abertura da valva pulmonar acontece antes da aber- tura da valva aórtica pois a resistência a ser vencida pelo sangue no nível da artéria pulmonar é menor que a observada na raiz da aorta; deste modo o VD (ventrículo direito) terá menor elevação da pressão intracavitária pois enfrentará menor resistência ao es- vaziamento. • A valva aórtica fecha-se antes da valva pulmonar pois, o tempo de ejeção do VE (ventrículo esquerdo) é menor que o do VD (ventrículo direito). • A pressão em VD torna-se rapidamente inferior a do átrio direito, fazendo com que a valva tricúspide abra antes da mitral. 16 CAP˝TULO 2 © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. Fase de Contração Atrial • O enchimento ventricular é reforçado em cerca de 20% de seu volume pela contração atrial. BULHAS E SONS CARDÍACOS Após esta revisão, passaremos a estudar os eventos do ciclo cardíaco e o primeiro passo deste estudo é o da identificação da primeira e segunda bulhas. Em segui- da, deve-se analisar os possíveis sons cardíacos conco- mitantes a estas bulhas. Finalmente, faz-se um estudo dos sopros cardíacos. Primeira Bulha (B1) Deve-se ao fechamentodas valvas mitral e tricúspide. A pressão ventricular esquerda rapidamente exce- de a pressão do átrio esquerdo e assim as cúspides da valva mitral são empurradas para dentro do átrio es- querdo até serem subitamente detidas pelos músculos papilares e pelas cordoalhas tendinosas. O mesmo acon- tece com a valva tricúspide (do lado direito) só que apro- ximadamente 20 milissegundos depois do fechamento da valva mitral. A primeira bulha então terá dois componentes. O pri- meiro, mitral (M), e o segundo, tricúspide (T) (Fig. 2.10). Normalmente o componente mitral da primeira bu- lha é audível em todos os focos de ausculta enquanto que o componente tricúspide é audível “apenas” na área tricúspide. Conseqüentemente o “som” auscultado na área tricúspide é formado pelos dois componentes (M e T) enquanto nas demais áreas do tórax a primeira bulha é formada apenas pelo componente mitral (Fig. 2.10). Existem condições, como veremos, nas quais tal fato não ocorre. Desdobramento de B1 (Primeira Bulha) O desdobramento da B1 (Fig. 2.11A, B), tal como observado no bloqueio do ramo direito, é formado pelo afastamento do componente M do T devido ao atraso do componente T ou adiantamento do componente mi- tral ou tricúspide. Como vimos, o componente tricúspide de B1, na maioria das vezes, só é audível no foco tricúspide. Por esta razão, o desdobramento de B1 deverá ser audível quase sempre apenas na área tricúspide. Tal regra, entretanto, tem exceções, e um exemplo disto pode ser observado naqueles pacientes que apre- sentam hipertensão pulmonar. Nesses casos, o compo- nente tricúspide pode ser audível também nas demais áreas do tórax. Hiperfonese de B1 Chamamos de hiperfonese de B1 quando a primei- ra bulha encontra-se aumentada em intensidade. Ocor- re quando as cúspides ainda estão amplamente separadas (devido a uma demora na passagem de san- gue do atrio para o ventrículo) e no início da sístole ven- tricular são abruptamente fechadas. As principais causas de hiperfonese de B1 são: Este- nose mitral, estenose tricúspide, síndrome de alto débito e principalmente intervalo PR curto (Wolff-Parkinson- White, por exemplo). Em pacientes emagrecidos ou mesmo em crianças pode-se perceber uma hiperfonese que, nestes casos, poderá ser considerada fisiológica, haja vista a reduzida espessura da parede torácica por Ciclo Cardíaco Sístole: Contraçªo isovolumØtrica Ejeçªo ventricular rÆpida Ejeçªo ventricular DiÆstole: Relaxamento isovolumØtrico Enchimento ventricular rÆpido Enchimento ventricular lento Contraçªo atrial Fig 2.9 Fases do ciclo cardíaco. M T A B1 B2 No foco tricœspide M A P B1 B2 No foco pulmonar M A B1 B2 No foco aórtico M A B1 B2 No foco mitral Fig. 2.10 Principais focos de ausculta, com seus principais componentes. M = Mitral; T = Tricœspide; A = Aórtico; P = Pulmonar. B1 = Primeira bulha; B2 = Segunda bulha. CAP˝TULO 2 17 © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. eles apresentada, fato que torna as bulhas naturalmente mais evidentes. Na prática clínica, nos focos mitral e tricúspide, auscultamos a primeira bulha (B1) com maior intensi- dade do que a segunda bulha (B2). Nas áreas aórtica e pulmonar auscultamos a B2 com maior intensidade que a B1 (Fig. 2.12). Para avaliarmos melhor a hiperfonese e/ou hipofo- nese das bulhas adotaremos uma maneira bem prática: Na análise de B1 auscultaremos primeiramente um dos focos em que esta bulha é mais audível (tricúspide e mitral) e na analise de B2 auscultaremos inicialmente os focos aórtico e /ou pulmonar. Para caracterizarmos um hiperfonese de B1 deve- mos colocar o estetoscópio no foco tricúspide (FT) e, posteriormente no foco pulmonar (FP). No FT aus- cultaremos a primeira bulha mais alta que a segunda, como acontece normalmente, mas ela terá intensida- de muito maior que o habitual (neste caso B2 poderá estar quase inaudível mas não estará ausente). Deve- mos então colocar o estetoscópio no FP e ai teremos B1 mais audível que B2 , o que normalmente não acon- tece (Fig. 2.13 A). Em resumo, na hiperfonese de B1, temos: • No FT: B1 mais audível que B2 • No FP: B1 mais audível que B2 Hipofonese de B1 Ocorre quando as cúspides valvulares estão rígidas e incapazes de muito movimento, ou ainda quando es- tão bem juntas antes da sístole ventricular. Principais causas: estenose mitral calcificada e prin- cipalmente intervalo PR longo (Bloqueio atrioventri- cular de 1o grau por exemplo). Outras situações como enfisema pulmonar e derrame pericárdico também po- dem determinar hipofonese das bulhas. Fig. 2.11A e B Diagrama mostrando o desdobramento de B1 (afastamento de seus componentes). M T A P B1 B2 A) Normal M A P B1 B2 B) Desdobramento de B1 Fig. 2.12 Diferença entre as Æreas de ausculta e a intensidade das bulhas padrªo normal clÆssico. Nos focos aórtico e pulmonar a segunda bulha Ø maior do que a primeira. Nos focos mitral e tricœspide, a primeira bulha normalmente Ø mais intensa do que a segunda bulha. Para caracterizarmos a hipofonese de B1 de- vemos colocar o estetoscópio no FT e posteriormen- te no FP. No FT auscultaremos a primeira bulha mais baixa que a segunda, o que normalmente não ocor- re. Então colocamos o estetoscópio no FP e tere- mos B1 ausente ou muito pouco audível com relação à B2 (Fig 2.13B). Em resumo, na hipofonese de B1, temos: • No FT: B1 mais baixa que B2 • No FP: B1 ausente ou muito pouco audivel Segunda Bulha (B2) No fim da sístole ventricular teremos as vibrações produzidas pelo fechamento das valvas aórtica e pul- monar que darão origem à segunda bulha. Do ponto de vista fisiológico, ocorre uma queda da pressão ventri- cular esquerda fazendo com que a pressão no ventrícu- lo seja menor que a pressão na raiz da aorta e, deste modo, a valva aórtica se fecha ( do lado direito ocorre o fechamento da valva pulmonar). Tal seqüência está sujeita a breves variações relaci- onadas tanto à inspiração quanto à expiração. Na expi- ração, ambas valvas fecham-se quase simultaneamente, assim, auscultamos uma segunda bulha única (componente aórtico está perto do compo- nente pulmonar). Na inspiração, temos um aumento do retorno venoso sistêmico para o ventrículo direito (pres- são negativa do tórax), prolongando a sístole ventricular direita e retardando o componente pulmonar. Aórtica Pulmonar Aórtico acessório Tricuspide Mitral 18 CAP˝TULO 2 © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. na expiração teremos o desdobramento da segunda bulha mas com inversão dos componentes, isto é, o componente pulmonar adianta-se do componente aórtico (Fig. 2.14C). Hiperfonese de B2 A segunda bulha intensa depende principalmente da tensão diastólica sistêmica e pulmonar. A hiperfone- se de B2 acontece na hipertensão arterial sistêmica (au- mento do componente aórtico de B2) e na hipertensão pulmonar (aumento do componente pulmonar de B2) Para caracterizarmos a hiperfonese de B2 devemos auscultar o FP e posteriormente analisar o FT. No FP encontraremos B2 mais audível que B1, o que normal- mente acontece, mas B2 terá intensidade muito maior que o habitual.Então, devemos colocar o estetoscópio no FT e aí teremos uma segunda bulha mais audível que a primeira. Em resumo, na hiperfonese de B2, temos: • No FP: B2 mais audível que B1 • No FT: B2 mais audível que B1 Hipofonese de B2 Para caracterizarmos uma hipofonese de B2 deve- mos analisar o FP e em seguida auscultar o FT. No FP teremos a primeira bulha mais audível que a segunda, o que não acontece normalmente. Em seguida, ausculta- O componente aórtico da segunda bulha é normal- mente audível em todos os focos e o componente pul- monar, na maioria dos casos, “só” será audível na área pulmonar. Uma das condições em que o componente pulmonar é audível em todos os focos pode ser obser- vada em pacientes
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