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HAM III – SEMIOLOGIA DO SISTEMA CARDIOVASCULAR EMILLY ELEUTÉRIO SILVA – TURMA 44 A semiologia cardiovascular consiste em um aparato fundamental para qualquer médico, independentemente de sua área de atuação. A realização do exame físico, aliada à uma anamnese coerente, pode fazer com que o exame cardiovascular por si só seja suficiente para realizar o diagnóstico de 90% das patologias desse sistema. ANAMNESE CARDIOVASCULAR: Além dos dados que estão presentes em todas as anamneses, um exame clínico cardiovascular adequado busca ativamente por manifestações cardíacas. DOR TORÁCICA: Uma vez que o paciente se queixa de dor torácica, deve-se ter em mente sempre os diagnósticos eminentemente fatais, como angina instável, infarto agudo do miocárdio, aneurisma dissecante de aorta e embolia pulmonar. A caracterização da dor é importante, principalmente nos casos atípicos. PALPITAÇÕES: As palpitações consistem numa percepção desconfortável quanto aos batimentos cardíacos. Os pacientes podem se queixar desse sinal de diversos modos, como se o coração estivesse pulando, acelerado, tremendo, batendo forte etc. As palpitações podem decorrer de: Batimentos cardíacos irregulares, Rápido aumento ou redução da frequência cardíaca, Contração cardíaca mais vigorosa. FALTA DE AR: A falta de ar consiste numa queixa comum dos pacientes, podendo representar quadros de dispneia, ortopneia ou dispneia paroxística noturna. A dispneia consiste na percepção consciente e desconfortável da respiração, incompatível com o nível de esforço realizado pelo paciente. Ortopneia: consiste na dispneia que ocorre com o paciente deitado, melhorando quando esse se senta. De modo geral, pode-se classificá-la numerando-se a quantidade de travesseiros que o paciente utilizar para conseguir dormir, uma vez que esse carece de dormir sentado. Deve-se realizar a certificação de que o paciente utiliza esses travesseiros extras ou dorme em posição ereta em decorrência da falta de ar ao deitar-se e não por outros motivos. Dispneia paroxística noturna: consiste em episódios de dispneia e ortopneia súbitas, que despertam o paciente do sono, cerca de uma ou duas horas após deitar-se. Esse quadro obriga o paciente a se sentar, fica em pé ou ir até a janela para respirar melhor. EDEMA: Uma das partes importantes quanto à avaliação do sistema vascular consiste na verificação da presença de edema. Representa o acúmulo exagerado de líquido do espaço intersticial, ocorrendo absorção de grandes volumes de líquido, podendo cursar com grande aumento de peso (cerca de 10%) até que seja identificável. As causas variam de locais a sistêmicas. MANIFESTAÇÃO CLÍNICA: Quando palpamos a região, a digito-pressão forma uma depressão local, que se desfaz lentamente. A esse achado chamamos de Sinal de Godet ou do cacifo. HAM III – SEMIOLOGIA DO SISTEMA CARDIOVASCULAR EMILLY ELEUTÉRIO SILVA – TURMA 44 Uma vez que se busca pela presença de edema, deve-se comparar os membros quanto à sua simetria, verificando, caso haja edema, se esse acomete somente um membro ou ambos, e, caso acometa os dois, se o edema é simétrico e se apresenta sinais flogísticos (indicativos de inflamação), como calor, rubor e dor. Por isso, podemos classificar tais edemas em cruzes, de acordo com a sua extensão, da seguinte maneira: +: Edema somente nos pés, até o nível maleolar ++: Edema que se estende até o terço médio da perna +++: Edema que acomete o membro inferior até o nível do joelho ++++: Edema que acomete todo o membro superior, da extremidade até a raiz da coxa. Edemas que se estendem superiormente, além da raiz da coxa, configuram quadro de edema generalizado, caracterizando um estado denominado de anasarca. HAM III – SEMIOLOGIA DO SISTEMA CARDIOVASCULAR EMILLY ELEUTÉRIO SILVA – TURMA 44 EXAME FÍSICO CARDIOVASCULAR: EXAME DO TÓRAX: Inspeção: A inspeção do tórax tem o seu início no primeiro contato com o paciente, podendo colocá-lo deitado em decúbito dorsal para melhor examiná- lo. Como sempre, o examinador deve se posicionar em pé, à direita do paciente, buscando por abaulamentos, cicatrizes, assimetrias e quaisquer outras anormalidades que podem estar presentes no tórax do paciente. É importante lembrar que abaulamentos podem ser decorrentes do aumento do tamanho do coração, bem como decorrentes de aneurismas da aorta. Palpação: Basicamente: identificação de frêmitos e do ictus cordis (região em que é possível sentir claramente os batimentos cardíacos, decorrente do choque do coração com a parede torácica). ICTUS CORDIS: Para a sua correta avaliação, deve-se inicialmente observar o tórax do paciente, averiguando se o ictus é visível (lembre se que essa parte é componente de inspeção). A sua posição habitual se dá, geralmente, no quinto espaço intercostal, na linha hemiclavicular esquerda. Ao buscá-lo, deve-se procurar uma pulsação da pele na região citada e em suas proximidades. Identificando ou não o ictus só pela observação, deve-se partir para a palpação propriamente dita. Uma vez identificado deve-se: Determinar com exatidão a sua localização com base nas linhas do tórax, Avaliar a sua extensão (utilizando como medida as polpas digitais; geralmente usamos o indicador como medida, sendo um valor comum o de duas polpas, ou 2,5cm), Classificar a sua intensidade pulsátil por meio do sistema de cruzes (+), sendo esse método bastante subjetivo, mas tem-se que um padrão de duas cruzes é considerado o normal. Em casos em que há dificuldade de se identificar o ictus, pode-se pedir ao paciente para se colocar em decúbito lateral esquerdo para aproximar o coração ainda mais da parede torácica e a partir daí, pesquisar a sua localização através da palpação. Caso ainda assim não o identificar, pode-se pedir para o paciente que expire completamente, mantendo a respiração presa por alguns segundos. Pacientes do sexo feminino podem requerer que a mama esquerda seja afastada para cima ou para o lado, devendo o examinador solicitar que ela mesma o faça. No caso da não identificação do ictus, mesmo diante das manobras citadas, pode-se descrever no prontuário que o paciente possui o ictus não palpável. HAM III – SEMIOLOGIA DO SISTEMA CARDIOVASCULAR EMILLY ELEUTÉRIO SILVA – TURMA 44 Achar a localização do ictus cordis, bem como classificá-lo quanto à sua extensão é muito importante, pois esse achado pode evidenciar doenças miocárdicas que cursam com dilatação, como quadros de insuficiência cardíaca. FRÊMITOS: No tocante à palpação de frêmitos, esses são realizado com a mão espalmada, tocando-se os focos de ausculta no precórdio do paciente, a fim de buscar indícios de sopros. Os frêmitos nada mais são do que manifestações sensoriais e, em algumas vezes, auditivas, da presença de turbilhonamento do fluxo sanguíneo, geralmente decorrente de sopros. A sua percepção dá-se quando é sentida uma vibração ou zumbido, como consequência da turbulência vascular. Uma vez que o frêmito tenha sido identificado, a região em que esse foi sentido deve ser auscultada, buscando-se por sopros. Apesar da busca centrar-se nos focos de ausculta, o examinador pode palpar as demais regiões do precórdio, a fim de tornar o seu exame mais sensível. Ausculta cardíaca: LEMBRAR QUE: Os focos de ausculta não correspondem à localização anatômica das valvas que lhes conferem os seus nomes, sendo apenas projeções sonoras, onde seria mais favorável a ausculta de seus sons. FOCOS DE AUSCULTA: PULMONAR:Localizado no segundo espaço intercostal esquerdo, junto do esterno. AÓRTICO: O foco aórtico está localizado contralateralmente ao foco pulmonar, ou seja, no segundo espaço intercostal direito, na região justaesternal. AÓRTICO ACESSÓRIO: localizado entre o terceiro e quarto espaços intercostais, na região justaesternal. FOCO MITRAL: quinto espaço intercostal esquerdo, na linha hemiclavicular, correspondente ao ictus cordis. Em pacientes com cardiomegalia em estágio avançado, esse foco se desloca lateralmente, em direção à linha axilar anterior. FOCO TRICÚSPIDE: está localizado na chamada área paraesternal, nas regiões entre o quarto e o sexto espaço intercostal, correspondendo à base do apêndice xifoide, ligeiramente para esquerda. HAM III – SEMIOLOGIA DO SISTEMA CARDIOVASCULAR EMILLY ELEUTÉRIO SILVA – TURMA 44 Além dos focos citados, existem outras regiões estratégicas que podem ser auscultadas, como as regiões laterais do pescoço, importantes para a caracterização de sopro de estenose aórtica, com irradiação seguindo a direção do fluxo sanguíneo ejetado pelo ventrículo esquerdo. BULHAS CARDÍACAS: Bulhas: são os sons cardíacos; As bulhas devem ser classificadas quanto: À sua fonética (normo, hiper ou hipofonéticas), Ao seu ritmo (se regular ou arrítmico) e Ao seu tempo (em dois ou três tempos). Com isso, em pacientes com exame normal, temos a famosa anotação dos prontuários de Bulhas Rítmicas, Normofonéticas em dois tempos, ou BRNF2T. Deve-se comparar as intensidades de cada bulha, deslocando-se o estetoscópio para os demais focos de ausculta, sendo que B2 costuma ser mais hiperfonética na base, enquanto B1 costuma o ser na região apical do coração. CICLO CARDÍACO E A AUSCULTA: Durante a diástole: o átrio esquerdo se encontra cheio de sangue, de modo que a pressão em seu interior supera discretamente aquela do ventrículo esquerdo relaxado. Isso propicia um gradiente pressórico que promove a passagem do sangue do átrio esquerdo para o ventrículo homolateral (de mesmo lado) por meio da abertura da valva mitral. Um pouco antes do início da sístole ventricular, a contração atrial provoca um pequeno aumento da pressão nas duas câmaras. Durante a sístole: tem-se o início da contração ventricular esquerda, de modo que a pressão ventricular supera rapidamente a atrial, promovendo o fechamento da valva mitral. Esse fechamento da valva mitral produz a primeira bulha cardíaca, denominada B1, a qual define a duração da sístole. A pressão ventricular esquerda continua a aumentar, ultrapassando a pressão da raiz da aorta, induzindo a abertura da valva aórtica. HAM III – SEMIOLOGIA DO SISTEMA CARDIOVASCULAR EMILLY ELEUTÉRIO SILVA – TURMA 44 Em condições patológicas, um sopro de ejeção protossistólico (logo após B1 – ou seja – no início da sístole) acompanha a abertura da valva aórtica. Quando a pressão ventricular esquerda cai abaixo da pressão aórtica, ocorre o fechamento da valva aórtica. Esse fechamento da valva aórtica produz a segunda bulha cardíaca, denominada B2, a qual define a duração da diástole. Durante a diástole: a pressão ventricular continua a cair, alcançando níveis inferiores ao da pressão atrial esquerda, ocorrendo novamente a abertura da valva mitral. Tal evento costuma ser silencioso, mas pode ser audível como um estalido de abertura patológico, caso haja alguma restrição à movimentação das válvulas das valvas cardíacas, como ocorre na estenose mitral. Após a abertura da valva mitral, ocorre o enchimento ventricular rápido, com o fluxo de sangue do átrio esquerdo para o ventrículo esquerdo, logo no início da diástole. Em crianças e em adultos jovens, pode surgir desse evento uma terceira bulha, denominada B3, causada pela desaceleração rápida da coluna de sangue contra a parede ventricular. Quando B3 é auscultada em idosos (fenômeno denominado como galope por B3), geralmente é um indicativo de alteração patológica quanto a uma sobrecarga de volume. B3 e B4 são melhor auscultadas com a campânula do estetoscópio. DESDOBRAMENTO DE B2: Ocorre durante a inspiração, no qual, o aumento do tempo de enchimento do coração direito, incrementa o volume sistólico ventricular direito, fazendo com que a duração da ejeção ventricular direita dure mais do que a esquerda, de modo a retardar o fechamento da valva pulmonar, gerando o chamado desdobramento de B2 em dois componentes audíveis. DESDOBRAMENTO DE B1: O fechamento da valva mitral tende a ser mais hiperfonético, refletindo a alta pressão do coração esquerdo. Logo, como o som tricúspide é mais suave, o desdobramento de B1 é melhor auscultado no foco tricúspide, ao longo da borda esternal inferior esquerda. Diferente do desdobramento de B2, o de B1 não varia com a respiração. SOPROS CARDÍACOS: ESTENOSE: Valvas estenosadas apresentam orifício estreitado, o que reduz o fluxo sanguíneo, levando a um sopro característico. INSUFICIÊNCIA: O mesmo ocorre quando uma valva não se fecha totalmente, nos casos de valvas insuficientes, o que possibilita o refluxo de sangue, gerando um sopro regurgitativo. Uma vez que um sopro foi auscultado, deve-se classificá-lo primeiramente como sistólico ou diastólico. Para isso, o auxílio virá da palpação concomitante do pulso carotídeo ou radial. Sopros que coincidem com os pulsos sentidos são classificados como sistólicos, podendo ocorrer tanto em valvas normais como em valvas lesionadas; já os sopros diastólicos costumam indicar valvopatia cardíaca. Após isso, identificar a região precordial na qual o sopro é mais forte, se na base, ao longo da borda esternal ou no ápice, devendo ser executadas manobras para melhorar a sensibilidade do seu exame. De acordo com o timbre que você escuta, determine se o sopro é constante quanto à sua forma, se é em crescendo ou decrescendo, devendo também ser graduada a sua intensidade. HAM III – SEMIOLOGIA DO SISTEMA CARDIOVASCULAR EMILLY ELEUTÉRIO SILVA – TURMA 44 Quanto ao timbre, podemos classificar os sopros como agudos, médios ou graves e, quanto à sua característica, como um jato de vapor, rude, ruflar ou musical. A exemplo, temos como exemplo a seguinte descrição de um sopro: Sopro diastólico de tom intermediário, ++/6, aspirativo, em decrescente, no 4º espaço intercostal esquerdo, com irradiação para o ápice. Tal descrição corresponde a um sopro de regurgitação aórtica. RESUMO DO MATERIAL DE APOIO DO SANARFLIX: EXAME CARDIOVASCULAR. REFERÊNCIAS DO SANAR: Bickley, Lynn S. Bates, propedêutica médica / Lynn S. Bickley; Peter G. Szilagyi; tradução Maria de Fátima Azevedo. - 11. ed. - Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2015. Porto, Celmo Celeno; Semiologia médica I Celmo Celeno Porto; co-editor Arnaldo Lemos Porto. - 7. ed.- Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2014. Clínica Médica – HCFMUSP, Vol.2; 1. ed. – São Paulo: Manole, 2009. Goldman-Cecil Medicine, 26th Ed., Elsevier, 2020. Andreoli and Carpenter’s Cecil essentials of medicine / editor-in-chief, Ivor J. Benjamin, editors, Robert C. Griggs, Edward J. Wing, J. Gregory Fitz. - 9th edition. HAM III – SEMIOLOGIA DO SISTEMA CARDIOVASCULAR EMILLY ELEUTÉRIO SILVA – TURMA 44
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