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UNIDADE I COZINHA BRASILEIRA 2 Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, do Grupo Ser Educacional. Edição, revisão e diagramação: Equipe de Desenvolvimento de Material Didático EaD ___________________________________________________________________________ Perrotta, Regina Coeli Carvalhal. Cozinha Brasileira: Unidade 1 - Recife: Grupo Ser Educacional, 2018. ___________________________________________________________________________ Grupo Ser Educacional Rua Treze de Maio, 254 - Santo Amaro CEP: 50100-160, Recife - PE PABX: (81) 3413-4611 3 SUMÁRIO PARA INÍCIO DE CONVERSA ...................................................................................... 4 FORMAÇÃO DA COZINHA BRASILEIRA ................................................................... 4 REGIÕES BRASILEIRAS: CULTURA E HISTORICIDADE .......................................... 6 ALIMENTAÇÃO INDÍGENA: HÁBITOS, PRODUTOS E ALGUMAS TÉCNICAS. ... 8 Doceria conventual .................................................................................................................. 12 Comidas de Santo .................................................................................................................... 13 4 COZINHA BRASILEIRA UNIDADE 1 PARA INÍCIO DE CONVERSA Olá, prezado(a) estudante! Seja bem-vindo(a) ao nosso primeiro encontro da disciplina de Cozinha Brasileira. A partir de agora, eu e você estaremos juntos desvendando e conhecendo a Cozinha Brasileira. A riqueza e a versatilidade de nossa culinária nos levarão a descobertas que nos farão perceber o porque do nosso cotidiano alimentar ser tão variado e interessante. As marcadas diferenças regionais também contribuem para tornar atraente o universo da Cozinha Brasileira. Partindo do estudo desta culinária e suas influências, entenderemos seus principais ingredientes, técnicas de cocção e, consequentemente, o povo brasileiro. ORIENTAÇÕES DA DISCIPLINA Ao longo dos encontros que teremos nesta disciplina, em alguns momentos, será necessário que você realize algumas consultas na internet e em alguns livros da biblioteca virtual da sua instituição de ensino. Mas não se preocupe, que eu irei indicar e facilitar o seu acesso a esse material extra, para que você possa aprofundar os seus estudos. Esse esforço a mais é necessário para que você tenha uma formação mais completa. FORMAÇÃO DA COZINHA BRASILEIRA Prezado(a) aluno(a), antes de estudarmos as regiões brasileiras e suas culinárias típicas precisamos compreender como se deu a formação do que hoje se conhece por Cozinha Brasileira. Na verdade, a cozinha brasileira como se apresenta atualmente, na maioria dos restaurantes, bares e lanchonetes, não é uma cozinha genuína, original, sem mudanças ou adaptações, pois o mundo é globalizado e, consequentemente, a culinária também o é. Sendo assim, os pratos que são mostrados nos cardápios dos restaurantes em geral, já foram modificados para atender o paladar da maioria da população. Isto somente não costuma acontecer, em restaurantes típicos, que são fiéis a culinária que eles representam. Mas essa realidade não ocorre somente nos estabelecimentos comerciais que vendem comida, no dia a dia, na sua casa, você pode perceber que seu hábito alimentar não está restrito somente ao que é 5 tipicamente brasileiro, pois se fosse assim, comeríamos feijoada, churrasco, pato no tucupi, quindim e outras tantas delícias da cozinha brasileira diariamente. Além disso, o Brasil, por suas dimensões continentais faz com que muitos alimentos típicos de uma região não cheguem as outras partes dos país. GUARDE ESSA IDEIA! Para você entender melhor essa realidade pense no seguinte exemplo: um morador de São Paulo é questionado sobre seu conhecimento acerca da comida típica brasileira e suas experiências alimentares. Assim, perguntamos a ele se o mesmo gosta e consome pequi e framboesa com frequência? Sem causar espanto ou surpresa, sua resposta provavelmente será que já ouviu falar do pequi, mas nunca consumiu, e que a framboesa ele já experimentou em uma sobremesa chamada “cheesecake de framboesa”. É triste, mas é verdade, e você agora deve estar falando consigo mesmo, que realmente esta é uma realidade paradoxal que ocorre, pois, esta situação reflete a dinâmica da alimentação e do mundo atual, onde se tem uma valorização e acesso fácil ao que é externo e desconhecimento daquilo que é próprio dependendo do local onde se reside. Contudo, a forma como um povo se alimenta está diretamente ligada à sua cultura, aos indivíduos que a compõe e ao meio geográfico no qual ela se formou. A alimentação revela muito do seu povo e reflete a sociabilidade ligada ao ato de se alimentar. Para entender melhor essas circunstâncias que envolvem o alimento, basta você pensar no seu hábito alimentar, que foi moldado desde a sua infância, com influência das pessoas e do local que o cercavam. Até mesmo as festas e rituais populares contribuíram para isto, pois expressavam a cultura local, e assim formaram a sua memória gustativa. O fato é que estes hábitos são como heranças, que são passados de geração em geração, e que com o passar do tempo podem se modificar, adaptar ou permanecer de forma original, sendo esta condição mais difícil. O importante é que eles não se percam no tempo, pois a cultura alimentar representa um povo e sua identidade, e por isso devem ser preservados. PALAVRAS DO PROFESSOR Sendo assim, meu(inha) caro(a) estudante, precisamos conversar um pouco sobre os influenciadores e formadores da Cozinha Brasileira. Remetendo as aulas de história do Brasil que você tinha nos bancos escolares, fica fácil lembrar como o povo brasileiro se formou. Sabemos que o Brasil foi descoberto e colonizado pelos portugueses, e estes quando chegaram em terras tupiniquins se depararam com os nativos, os índios. Pronto! A partir deste momento já ocorreu uma primeira troca cultural mediada pela língua, pelas vestimentas e com certeza também pelos alimentos. Afinal, os índios experimentaram e conheceram alguns alimentos trazidos pelos portugueses, e os colonizadores também trocaram experiências alimentares com os ameríndios, e tudo isso foi relatado nas cartas escritas por Pero Vaz de Caminha, um fidalgo português que fazia parte da armada de Pedro Álvares Cabral, e que tinha a função de relatar de forma escrita para a colônia portuguesa todas as impressões e ocorrências na nova terra descoberta. 6 VISITE A PÁGINA Para mais informações sobre Pero Vaz de Caminha, você pode acessar o site através do LINK , espero que goste. Prezado(a), retomando a relação entre os colonizadores e os colonizados, pode-se dizer que em um primeiro momento a convivência entre os índios e os portugueses foi de certa forma cordial, pois os portugueses estavam tentando conhecer melhor seu novo território. Porém, a Expansão Marítima que trouxe os lusitanos para as terras brasileiras não tinha o intuito de conhecer e fazer “novos amigos”, porque na verdade o que eles queriam eram buscar riquezas, que podiam ser sob a forma de especiarias, produtos que tivessem um alto valor no mercado europeu e novos indivíduos para serem catequisados. PARA REFLETIR Vamos refletir, a Expansão Marítima que aconteceu na metade do século XIV contribuiu de forma significativa para a globalização dos alimentos, pois além de colocar as Américas no mapa, fez com que muitos alimentos se tornassem mundialmente importantes, como é o caso do tomate, do cacau, da batata, do milho e tantos outros que foram descobertos pelos portugueses e espanhóis em função da Expansão Marítima. Mas com o passar do tempo, essa relação entre os indígenas e os portugueses começou a ficar um pouco ruim, pois os europeustentaram de certa forma escravizar os índios para extrair em um primeiro momento, o pau-brasil, o que não deu muito certo. Diante deste fato algumas providências foram tomadas pelos portugueses, afinal, eles precisavam de pessoas para explorar produtos na nova colônia e levar riquezas para a Europa, posteriormente acabaram trazendo de forma compulsória alguns negros vindos da África. Após nós relembrarmos um pouquinho da história do descobrimento do Brasil fica mais fácil para você perceber que o nosso país, tem como característica marcante na sua formação inicial a influência dos índios, dos portugueses e dos africanos e, cada um desses povos agregou valores para que a Cozinha Brasileira, nosso objeto de estudo, fosse construída, explicando, portanto, a miscigenação da gastronomia brasileira. Podemos continuar? REGIÕES BRASILEIRAS: CULTURA E HISTORICIDADE Apesar dos formadores da cozinha brasileira em geral serem os mesmos, ou seja, os portugueses, os ameríndios e os africanos, ao estudarmos a culinária típica brasileira podemos perceber que, o grau de influência de cada um desses povos variou entre as regiões brasileiras de forma e intensidade variada. E mais, ocorreu uma miscigenação significativa destas culturas. Muito disso se deu devido as atividades econômicas que cada região desenvolveu ao longo do tempo, pois onde era necessário indivíduos para desenvolverem as atividades econômicas, os formadores da cozinha brasileira lá estavam. https://pt.wikipedia.org/wiki/Pero_Vaz_de_Caminha 7 EXEMPLO Como exemplo desta experiência se tem o nordeste brasileiro. Salvador foi a capital do Brasil de 1549-1763, e assim muitos portugueses e africanos passaram a ocupar esta região que anteriormente só possuía os nativos. Isso também aconteceu devido a exploração da cana de açúcar, principalmente na região dos engenhos, os quais produziam açúcar para exportação e derivados para consumo interno, e que por isso, teve uma presença maciça de negros africanos, que trabalhavam nos engenhos, mas também dos portugueses e dos indígenas, o que acabou resultando em uma culinária nordestina com grande influência africana, mas que também tem resquícios das heranças portuguesas e indígenas. Entretanto, as intensidades dos influenciadores variam dentro da própria região nordeste, em função dos momentos históricos associados as atividades econômicas. O mesmo podemos observar na região sudeste, principalmente na cidade do Rio de Janeiro que pela presença marcante ao longo da história da corte portuguesa durante o período do Brasil Império, com a chegada da corte em 1808, desenvolveu uma culinária típica, com fortes traços lusitanos, mas que também tem traços da cozinha africana e indígena. Esta realidade, que demonstra a mistura das culturas e dos povos, pode ser observada nos quadros de Jean- Baptiste Debret (1768-1848), um pintor francês que fundou a academia de Artes e Ofícios no Rio de Janeiro, onde ele retratava o cotidiano no Rio de Janeiro da população em geral e a vida dos escravos durante este período da história. Algumas de suas obras que exprimem esta relação podem ser visualizadas abaixo. Fonte: pt.wikipedia.org Fonte: idd.org.br 8 Caro(a) estudante, na primeira imagem é possível ver uma negra vendendo cajus nas ruas do Rio de Janeiro e na segunda imagem o cotidiano alimentar desfrutado por brancos e negros no Brasil. Retomando as regiões brasileiras, sabe-se que o norte do Brasil pode ser caracterizado como o mais autêntico no que se refere a alimentação, pois possui traços mais leves da cozinha portuguesa e dos africanos, guardando uma maior relação com os hábitos indígenas, e se pensarmos que os nativos eram os nossos representantes com menos influências externas, entendemos o fato da culinária nortista ser considerada a mais genuína. Considerando a região centro-oeste e todas as atividades econômicas que lá se desenvolveram, percebemos que sua culinária típica é basicamente composta pelas influências indígenas e portuguesas, assim como a região sul. FICA A DICA Vale lembrar que estas atividades econômicas remetem primeiramente a produção de açúcar, depois à exploração do ouro nas Minas Gerais e mais tardiamente ao cultivo do café, e que estas atividades, foram responsáveis pelo deslocamento de pessoas ao longo das regiões brasileiras, fazendo com que tanta diversidade se criasse em torno da alimentação. Porém, esta é uma característica que atribuímos as regiões brasileiras quando nos referimos aos formadores da Cozinha Brasileira, porque se sabe que muitos outros povos, em outros momentos da história do Brasil, devido a alguns acontecimentos mundiais, influenciaram na cozinha regional, como os italianos e os alemães que imigraram para a região sul do Brasil. Com relação a estes detalhes você poderá se aprofundar mais nas unidades III e IV, que discutiremos cada uma das regiões brasileiras e seus principais pratos típicos. ALIMENTAÇÃO INDÍGENA: HÁBITOS, PRODUTOS E ALGUMAS TÉCNICAS. Retomando a formação da Cozinha Brasileira e focando nos índios, sabemos que eles viviam em grupos e tinham o costume de pescar, caçar e coletar. A caça praticada pelos índios era basicamente de mamíferos e aves, e assim comiam capivara, porco do mato, macaco, jacus, macucos, rolas e etc. Quanto a pesca se sabe que era principalmente de pescados de rio como: pintado, tucunaré, piranha e outros. A preferência era sempre pelos peixes, podendo dizer que a carne de caça era um alimento secundário. Os insetos e as larvas também eram consumidos dentre eles, os lagartos, as tanajuras ou içás e os turus. VEJA O VÍDEO! Para saber mais sobre o turu que os índios consumiam e consomem até hoje, assista ao vídeo (duração de 45’34’’) acessando o LINK, espero que goste. https://youtu.be/xw0GtkYUHnk 9 Já no que se refere a coleta tinham as frutas como a goiaba, araçá, pitombas, umbus e muitas outras. A banana conhecida pelos índios era a variedade chamada pacovã ou pacova, o que chamamos hoje de banana da terra. As outras variedades que atualmente você encontra disponível como prata, ouro, nanica e maçã não existiam no nosso território, e foram trazidas pelos portugueses, mas tem origem asiática. O milho era o único cereal e alguns vegetais como batata-doce, abóbora, feijão, palmito, serralha e muitos outros também eram consumidos pelos nativos. O principal ingrediente da dieta alimentar indígena era a mandioca e todos os seus subprodutos que eles mesmo elaboravam. Para extrair o tucupi ou manicuera, por exemplo, ingrediente importante do prato típico da região norte “Pato no Tucupi” muito conhecido, os índios utilizavam o tipiti. VEJA O VÍDEO! Para visualizar como é elaborado um tipiti assista o vídeo (duração de 10’51’’) disponibilizado no LINK, aproveite! Será muito rico para seus estudos. Sem dúvidas a mandioca sempre foi a base da dieta alimentar indígena e dela se extraíam muitos outros subprodutos além do tucupi, que são consumidos de forma significativa até os dias atuais, e que servem de base para muitas preparações típicas das regiões brasileiras. Como exemplo destes subprodutos temos a tapioca, o polvilho, as farinhas secas e d’água. Vale dizer que este insumo que é encontrado em todas as regiões brasileiras tem o seu nome modificado de acordo com a localidade, podendo ser chamado de aipim, macaxeira e mandioca. Todas essas iguarias indígenas eram preparadas basicamente no moquém, ou no pilão até virar paçoca, ou eram aferventadas. O moquém nada mais era que uma trempe (grade) de madeira que acomodava os alimentos para serem moqueados no fogo. Abaixo é possível visualizar o moqueio de alguns peixes e como os índios utilizam o pilão. Fonte: moqueio.blogspot.com https://www.youtube.com/watch?v=VEc_4jN4wHI 10 Fonte: imagensdobrasil.art.br GUARDE ESSA IDEIA! Vale ressaltar que, os índios não conheciam o sal, e para temperar utilizavam algumas pimentas nativas, que eram seus temperos prediletos, como a cumari, murupi, cambucie aroeira. Outro fato interessante é que os índios já consumiam e conheciam algumas bebidas alcoólicas fermentadas como os caxiris de mandioca e o cauim de milho, que eram fermentadas a partir do contato com a saliva pela mastigação, e que depois de mastigada, a matéria-prima era cuspida e deixada para fermentar, produzindo álcool. Muita informação não é, mas não se preocupe, o seu tutor pode te ajudar no que for preciso caso surja alguma dúvida no conteúdo. Vamos adiante! 11 A CONTRIBUIÇÃO PORTUGUESA Caro(a) estudante, da herança portuguesa também guardamos inúmeros produtos e hábitos. O jornalista Caloca Fernandes em seu livro intitulado “Viagem Gastronômica Através do Brasil” afirma que, o português trouxe para o Brasil modos de explorar a cozinha: de preparar, dosar, confeccionar, temperar e conservar os alimentos. Alguns ingredientes de destaque foram o azeite de oliva, o trigo, a laranja, o limão dentre outros, sem contar os doces e o uso das especiarias. Também trouxeram animais como a vaca, a galinha, ovelhas, cabras e porcos. Entretanto, as colaborações de maior destaque foram as técnicas culinárias: o fritar e o refogar com alho e cebola. Entretanto, todas essas técnicas somadas aos conhecimentos prévios que eles já possuíam acerca da culinária precisaram ser adaptados a realidade que eles encontraram aqui no Brasil. Muitos dos ingredientes que eles conheciam e tinham acesso na Europa, não existia no Brasil, e assim precisaram adaptar e recriar algumas receitas. Isso não aconteceu somente com os portugueses, que eram os novatos neste território, ocorreu também com os negros africanos que estavam aqui e precisavam se adaptar a esta nova cultura, reconhecendo- se assim o caráter multicultural da Cozinha Brasileira. No livro “O multiculturalismo na Gastronomia Brasileira”, das autoras Bruna Mendes e Regina Coeli Perrotta é feito um paralelo entre alguns pratos típicos brasileiros oriundos da tríade colonial (índios, portugueses e africanos) que representam essa miscigenação que resultou na chamada típica Cozinha Brasileira, e que podem ser visualizados no quadro abaixo. Pratos típicos oriundos da tríade colonial Influência Feijoada Portuguesa/Indígena Acarajé Negra/Portuguesa Pirarucu de casaca Portuguesa/Indígena Vatapá Portuguesa/Negra Caruru Portuguesa/Negra Pato no Tucupi Portuguesa/Indígena Fonte: O multiculturalismo na Gastronomia Brasileira. LEITURA COMPLEMENTAR Para se aprofundar um pouco mais nesta questão do multiculturalismo sugiro que você leia o livro: O multiculturalismo na Gastronomia Brasileira. A influência dos imigrantes na alimentação. Autoras: Bruna Mendes e Regina Coeli Perrotta 12 Doceria conventual Desde a Idade Média o clero na figura dos monges foi responsável pela preservação do conhecimento clássico e gastronômico. Neste período, os monges eram responsáveis dentro dos mosteiros pelo cultivo das hortas e pomares, criação de animais, refinamento dos queijos, produção de bebidas, como vinho e cerveja, e também da hospedagem. O que demonstra uma íntima ligação da Igreja com a alimentação e o desenvolvimento dos hábitos alimentares. Algo um pouco semelhante no que se refere a ligação da Igreja com os hábitos alimentares também aconteceu nos conventos portugueses, onde as freiras utilizavam as claras dos ovos para engomar as roupas, e sem ter opção do que fazer com as gemas que sobravam, resolveram criar os chamados doces conventuais, que acabaram por se tornar os doces típicos portugueses. Nestas iguarias eram empregadas uma quantidade significativa de açúcar, cravo, noz-moscada e canela. Dentre estes doces se pode destacar o Pastel de Belém, o Papo de Anjo, a Barriga de Freira, os Fios de Ovos, o Toucinho do Céu e outros tantos que inspiraram a doçaria brasileira que foi se desenvolvendo do contato das portuguesas com as outras culturas que aqui estavam presentes. O açúcar foi incorporado à dieta europeia a pelos árabes. No livro intitulado Gastronomia no Brasil e no mundo de Dolores Freixa e Guta Chaves, as autoras afirmam que no ambiente das cozinhas das casas-grandes, as sinhás ensinavam às mucamas receitas tradicionais portuguesas adaptando as receitas aos ingredientes que se tinha disponível por aqui, assim, a amêndoa era substituída pela castanha de caju, a farinha de trigo pela farinha de mandioca e assim, outras tantas substituições foram feitas. Elas também relatam no livro que, como em Portugal o consumo de açúcar era grande, isto acabou se incorporando ao hábito brasileiro e talvez por isso, você entenda o apreço dos brasileiros pelos doces. HERANÇA AFRICANA Os negros vindos da África principalmente da Guiné e de Angola aqui chegaram para trabalhar inicialmente nos engenhos de cana de açúcar no Nordeste, e mais tarde trabalharam na exploração do ouro nas Minas Gerais. Os que não trabalhavam na lavoura eram utilizados como escravos domésticos, sendo responsáveis por afazeres da casa e até mesmo dentro da cozinha. Com as índias, as negras aprenderam a manusear a mandioca, assim, desse contato, muitas trocas aconteceram e muitos alimentos e técnicas foram incorporados na dieta alimentar que começou a ser praticada no Brasil. Imagine, meu(inha) caro(a), o quanto foi sacrificante para estes indivíduos africanos viverem em um local como escravos, longe da sua cultura, dos seus parentes e do seu ambiente natural. E para piorar a situação os negros que chegavam aqui eram de tribos africanas diferentes, o que piorava a perspectiva. Sem contar nas condições desumanas pelos quais eles eram tratados. Contudo, sempre foram um povo muito alegre que tentava através da dança e da religião melhorar este panorama. Uma forma de atenuar este sofrimento, era através da reprodução de algumas preparações culinárias, que de certa forma, os aproximavam de sua essência, trazia a eles momentos agradáveis e sentimentos reconfortantes. Com isso, se deu inicio a construção da Cozinha Brasileira, dada a necessidade de se criar uma identidade diante da nova realidade. 13 GUARDE ESSA IDEIA! Pode-se afirmar que a dieta africana, que era praticada principalmente na região do recôncavo baiano, fez surgir a “cozinha de azeite” ou “comida de azeite”. A “cozinha de azeite” era assim chamada devido ao uso intensivo do azeite de dendê, que acabou mais tarde se tornando um ingrediente icônico da Cozinha Brasileira, estando presente na tradicional Moqueca Baiana, Casquinha de Siri, Bobó de camarão e outras tantas. O azeite de dendê é extraído de uma palmeira que tem o nome cientifico de Elaeis guineensis, sua origem é africana, mas sua introdução no Brasil se deveu aos escravos. A permanência deste ingrediente no cotidiano alimentar dos negros só foi possível porque ele era produzido na senzala, quando eles “tinham o direito” de ter um dia livre, para cuidar dos seus roçados de subsistência. Assim como os índios, os africanos conheciam algumas bebidas fermentadas que eram elaboradas com o fruto da palmeira do dendê, com o sorgo e com o mel de abelha. A cachaça que por vezes é bastante associada aos escravos, não foi uma invenção deles, pois eles ainda não conheciam o alambique e o processo de destilação, que foi apresentado ao Brasil pelos portugueses. Com a contribuição africana aprendemos a preparar assados, cozidos, defumados e guisados. Assim como os portugueses eles também conservavam as carnes com sal, acrescida de pimentas e ervas aromáticas. Os ameríndios não praticavam esta técnica de conservação porque não conheciam o sal e tampouco o açúcar. Pode -se dizer então, que os principais alimentos herdados foram o azeite de dendê, o inhame, a galinha d’angola, a pimenta malagueta, o quiabo, o coco e a banana, sendo que estes dois últimos apesar de terem origem na Ásia, foram incorporados ao hábito da cozinha brasileira pelos africanos que aqui chegaram. Vale destacar aqui que as pimentas não caracterizam somente a dieta africana, como muitos associam, ela também era consumida pelosíndios. Comidas de Santo Você sabia que as Comidas de Santo vem do ritual religioso que os africanos tinham no qual eles ofereciam alimentos aos seus orixás? Então, os orixás são deuses africanos que possuem uma ligação com as forças da natureza e, portanto, cada orixá possui seu sistema particular de cores, comidas, vantagens, rezas, ambientes, espaço físicos e horários individuais. As Comidas de Santo eram elaboradas com muito esmero pelos seus devotos, pois se não estivesse bem- feita poderia não ser aceita como uma oferenda pelo orixá, e por isso eles se preocupavam tanto com a elaboração. Essa cozinha ficou conhecida como “cozinha dos deuses” e permitia a recriação da cultura e dos ritos africanos. 14 Até os dias atuais essas comidas são reproduzidas e consumidas em festas e celebrações, contudo, para se fazer as oferendas deve se seguir algumas regras que são do conhecimento dos praticantes do candomblé. VISITE A PÁGINA Para mais informações sobre as Comidas de Santo, você pode acessar o site através do LINK Espero que goste, pois, esta cultura é muito rica e quem sabe você não se envereda por ela. PALAVRAS DO PROFESSOR Como você pode perceber, a base da cozinha brasileira foi formada pela tríade portuguesa, indígena e africana, o que resultou em uma culinária culturalmente rica, interessante e variada. Contudo, o que se apresenta nos dias de hoje é uma culinária com muito mais influenciadores do que aqueles que tivemos no inicio da formação do Brasil. Entretanto, para a sua formação é importante que você saiba as raízes da Cozinha Brasileira, compreendendo como ela foi alicerçada e se traduz de forma concreta e prática. Para complementar seus estudos faça as consultas que foram sugeridas e realize as atividades disponíveis para esta unidade, como também consulte os livros: Gastronomia no Brasil e no Mundo de Dolores Freixa e Guta Chaves e, Brasil Bom de Boca, de Raul Lody. Nas próximas unidades você verá os principais ingredientes da Cozinha Brasileira e as mais importantes características e peculiaridades das cinco regiões brasileiras. Nos veremos na próxima unidade, até lá. http://awure.jor.br/home/comida-de-santo-razao-tradicao-e-fundamentos/ 15 PARA RESUMIR Para facilitar os seus estudos apresento de forma resumida a contribuição de cada um dos componentes da tríade formadora da Cozinha Brasileira. Portugueses: Como colonizador se via superior aos índios e aos africanos; Já chegou ao Brasil com influências de povos orientais e africanos; Impôs seus hábitos alimentares, mas teve que fazer adaptações de acordo com o que estava disponível; Incorporou a farinha de mandioca e outros produtos nativos na sua dieta alimentar; Contribuíram com alguns ingredientes de destaque: como o azeite de oliva, o trigo, a laranja, o limão dentre outros. Também trouxeram animais como a vaca, a gali- nha, ovelhas, cabras e porcos; Inserção de técnicas culinárias como: o fritar e o refogar com alho e cebola; Incorporando ao hábito brasileiro o apreço pelos doces. Índios: Não praticavam agricultura, apenas coletavam, caçavam e pescavam; A figura masculina era o guerreiro e o caçador; A mulher administrava a tribo e era responsável pela subsistência da tribo; Não conhecia o sal, o açúcar e a fritura; Usavam como tempero as pimentas; Técnicas culinárias: moquear, pilar e aferventar Base da alimentação: mandioca, peixes, frutas nativas e produtos da caça. Africanos: Tinham rituais religiosos que envolviam oferendas de alimentos; A africana era a cozinheira, assim como a índia, e transforma a cozinha da casa grande; Trazem o dendê e criam a “cozinha de azeite”, e incorporam outros alimentos im- portantes para a nossa cozinha; Aprendemos com eles a preparar assados, cozidos, defumados e guisados; Principais alimentos herdados: o azeite de dendê, o inhame, a galinha d’angola, a pimenta malagueta, o coco e a banana, sendo que estes dois últimos apesar de terem origem na Ásia. Espero que ajude em seus estudos. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS FREIXA, D.; CHAVES, G. Gastronomia no Brasil e no mundo. Rio de Janeiro: Senac Nacional, 2013. LODY, R. Brasil bom de boca. Temas da antropologia da alimentação. São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2008. _GoBack Para início de conversa FORMAÇÃO DA COZINHA BRASILEIRA REGIÕES BRASILEIRAS: CULTURA E HISTORICIDADE ALIMENTAÇÃO INDÍGENA: HÁBITOS, PRODUTOS E ALGUMAS TÉCNICAS. Doceria conventual Comidas de Santo
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