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FACULDADE INTEGRAL DIFERENCIAL CURSO DE PSICOLOGIA ANDRÉ LUIS MARQUES MEDEIROS ANDRESSA MILENA MENDES ARAGAO EDNA DE OLIVEIRA CUNHA MATHEUS BANDEIRA MIRANDA PAULO BRENER SILVA MORAIS YASMIN FRANCISCO CARDOSO ROCHA UMA VISÃO FENOMENOLÓGICA SOBRE O FILME “COLCHA DE RETALHOS” TERESINA 2020 ANDRÉ LUIS MARQUES MEDEIROS ANDRESSA MILENA MENDES ARAGAO EDNA DE OLIVEIRA CUNHA MATHEUS BANDEIRA MIRANDA PAULO BRENER SILVA MORAIS YASMIN FRANCISCO CARDOSO ROCHA UMA VISÃO FENOMENOLÓGICA SOBRE O FILME “COLCHA DE RETALHOS” Trabalho análise apresentado ao Curso de Psicologia da Faculdade Integral Diferencial como crédito parcial da disciplina de Técnicas Psicoterápicas: Fenomenologia e Existencialismo, como solicitado pela Profa. Maria Silva. TERESINA 2020 UMA VISÃO FENOMENOLÓGICA SOBRE O FILME “COLCHA DE RETALHOS”. Resumo: O presente trabalho tem como objetivo fazer uma análise do filme How to Make an American Quilt, ou Colcha de Retalhos em português. A análise foi realizada com base em três artigos de fundamentação teórica sobre fenomenologia e existencialismo, utilizando conceitos base de Heidegger como Dasein e da liberdade de Sartre. O tema se faz inesgotável, permitindo mais análises e interpretações. Palavras-chave: Filme, Colcha de Retalhos, fenomenologia, existencialismo, Heidegger, Dasein, Sartre, liberdade. 1 INTRODUÇÃO O filme Colcha de Retalhos é um longa metragem produzido em 1995, do gênero Drama/Romance. O longa conta a história de Finn (Wynona Ryder), sua trajetória e dúvidas dentro de seu relacionamento, e sua in-decisão sobre se casar ou não com seu namorado Sam (Dermot Mulroney). Ela, então, faz uma viagem para visitar sua avó e revê algumas pessoas de sua história e conhece novas, fazendo uma jornada por entre o passado das colegas de sua avó. Ao se deparar com a subjetividade de cada uma das senhoras do filme, ela mesma produz sua própria colcha de retalhos juntando as vivências de cada um, mantendo-se presente e percebendo a subjetividade de cada indivíduo. Finn passa então por um longo processo de autoconhecimento cheio de conturbações e angústias por sua liberdade para com a vida, chegando na sua escolha ao fim do filme. O filme pode ser visto sob uma ótica fenomenológico-existencial, quando associado a ideias centrais da teoria como Dasein, liberdade, presença, subjetividade, ser, ente, etc. A teoria fenomenológica surgiu em contradição ao pragmatismo americano, mostrando que os seres não são somente coisas objetivas, e que a subjetividade perpassa a existência. Trouxe então várias ideias como o ser-no-tempo, a existência precede a essência, e trouxe ao centro a subjetividade humana; retirando o por que do centro das discussões, e colocando o como no topo dos debates. O presente trabalho visa utilizar termos, conceitos e ideias fenomenológicas e basear uma análise do filme em questão. 2 REFERENCIAL TEÓRICO 2.1 HOW TO MAKE AN AMERICAN QUILT O filme How to Make an American Quilt, de 1995, com título tradução de Colchas de Retalhos expõe a história de Finn, uma mulher que decide ir para a casa da sua avó e tia-avó e terminar sua tese de mestrado enquanto um grupo de mulheres se reúnem para bordar uma colcha de retalhos, tradição que ocorre anualmente. A nova colcha tem como tema “onde mora o amor”, o produto final será o presente de casamento para Finn que está prestes a se casar com Sam, no entanto ela ainda tem dúvidas sobre realizar o casamento. O grupo de mulheres que concebem a colcha coloca em seus bordados algo relacionado aos sentimentos e experiências de cada uma o que resulta em desentendimentos durante a produção da coberta. No decorrer do filme Finn descobre as histórias e segredos dessas mulheres que fazem-na refletir sobre o seu próprio relacionamento. Essas histórias são contadas separadamente ao longo do filme mostrando relacionamentos frustrados, traições, desentendimentos e histórias de amor. A primeira história contada é sobre Gladi, sua tia-avó, e Jaci, avó de Finn. Jaci ao deparar com a possível morte do seu marido acaba se envolvendo com o marido de sua irmã, Gladi descobre a traição e começa a quebrar objetos que ver pela casa, recolhe os cacos e cola na parede de sua casa com o argumento de que a “a auto-expressão cura o coração ferido”. A próxima história é de Sofia que quando jovem era nadadora e acaba por se apaixonar e casar com seu marido geólogo, mas por conta do trabalho ele acaba viajando sozinho e ela fica em casa cuidando dos filhos o que acaba frustrando-a, pois quando jovens prometeram viajar pelo mundo juntos. Com o relacionamento infeliz ela desiste da natação e ele vai embora, deixando-a sozinha com os filhos do casal. A seguinte que narrar suas memórias para Finn é Em que casa com um artista, o qual usava ela de modelo para seus quadros, que trai bastante a ela desde do inicio do casamento com todas as mulheres que são suas modelos. Ela chega a ir embora pra casa de seus pais, entretanto seu marido vai buscá-la e seus pais colocam suas malas no carro, fazendo-a ir embora com ele. Ela aguenta essas traições por anos uma vez que seu marido sempre diz que ama mas não consegue deixar de trair ela. A próxima a contar é Constance que, ao perder o seu marido o qual ela amava profundamente, acaba se relacionando com o marido de Em por seu momento de fragilidade e luto. A próxima a contar sua história para Finn é Anna, mulher negra conta a história e mostra a colcha da sua família, em que sua ancestral foi guiada por um corvo até o seu amor, conta também como engravidou de um homem branco que a abandonou e foi ajudada pela família de Jaci e Gladi onde pôde ter todos os cuidados na gravidez e assim ficar com sua filha. E por último é contada a história de Marianna, filha de Anna, que viajou a Paris e se relacionou com vários homens, entretanto quem a ensinou o que é o amor foi um homem que se negou a ficar com ela porque amava sua esposa. Este homem dá a ela um poema do qual ela nunca esqueceu ou se absteve: “Os jovens amantes buscam perfeição, os velhos amantes aprendem a arte de unir os retalhos e descobrem a beleza na variedade das peças”. Outra conversa que acontece se dá entre Finn e sua mãe que diz que vai casar novamente com seu pai e que todos os ensinamentos que passou para ela estavam errados, deixando Finn ainda mais confusa pois todas as histórias vão de encontro com os acontecimentos recentes que Finn está experienciando, nesses 3 meses na casa de sua avó, confusa sobre seu relacionamento ela acaba traindo seu noivo Sam com um rapaz que conheceu no começo de sua visita à avó, Leon. Ocorre um vendaval que faz com que Finn perca todo seu trabalho simbolizando toda confusão em sua cabeça. Durante e após o vendaval ocorrem uma diversidade de acontecimentos: Sofia entra no laguinho feito pelo seu marido e agora encara a vida mais feliz, Em entra no atelierde seu marido e vê que há quadros apenas delas, percebendo que ele realmente a amava, Gladi quebra a parede de cacos representado o perdão para sua irmã e ao seu ex-marido. Ao final do dia a avó de Finn a cobre com a colcha já pronta. Na manhã seguinte, então, ao acordar, ela se depara com um corvo que a guia para a “decisão certa” levando-a até Sam que dormiu em sua van e acaba ficando junto com ele. 2.2 FENOMENOLOGIA E EXISTENCIALISMO Ao longo dos anos muito se tem estudado e buscado o equilíbrio da noção fenomenológica de existência. Com o escopo de unir a ciência e as reflexões pessoais diante de um evento experienciado, o existencialismo busca a observação imanente da experiência, onde através do ser-no-mundo (ser aí ou Dasein) aparece o fenômeno, que posteriormente pode ser elaborado pelo pensamento. Para Heidegger “o existir humano nunca é um objeto simplesmente dado em algum lugar, muito menos encapsulado em si mesmo”. A existência significa apenas a abertura originária de sentido na qual podem vir à luz os entes enquanto tais”. Nesse sentido, podemos dizer que somos seres potencialmente capazes, mas esse conceito de capacidade é uma interpretação única de cada indivíduo, à medida em que ele se coloca no mundo. Para uma aproximação compreensiva desse plano de constituição dos entes, que não é, ele mesmo, ente algum, pode-se recorrer a um koan da tradição Zen Budista, conhecido e evocado por Heidegger em um diálogo ocorrido em 1958, em Freiburg, com o filósofo japonês da escola de Kioto e mestre zen da tradição Rinzai, Sh. Hisamatsu (Saviani, 2005). Trata-se de uma pergunta que, ao invés de levar a uma resposta específica, visa deslocar a perspectiva de compreensão do interrogado. O mestre bate palmas e pergunta ao discípulo: “Qual é o som que surge de apenas uma das mãos?” (Samten, 2001, p.41). Quando se bate a mão contra algo como uma mesa, um livro ou um copo de vidro, identificam-se diferentes sons que são atribuídos aos próprios objetos. Dizemos: este é o som da madeira, este do vidro, etc. Quando batemos uma mão espalmada contra outra, de qual das mãos seria o som, sendo ambas iguais? Percebe-se então que o som não é atributo de um objeto, surge da relação. Ampliando essa reflexão, pode-se ver que todas as atribuições de qualidades que fazemos às coisas, como se fossem características inerentes a uma substância, são frutos de uma simplificação ingênua. Antes de qualquer substância extensa ou psíquica, inferida como suporte de qualidades, há uma dinâmica de “originação interdependente” entre sujeito e objeto. Assim, como a existência é ser-no-mundo e não algo dentro do mundo, pode-se dizer também que a temporalidade existencial jamais significa ser dentro do tempo. Se “existir” é ser no mundo como abertura de sentido em que já sempre nos vêm ao encontro os entes, isto é, aquilo que tem relação direta ou indireta, o existir é temporalizar e espacializar. Por isso que, a “existência” enquanto “ser-aí” é a clareira do ser, a abertura na qual o ente destituído de mundo poder vir ao encontro e revelar-se em seu ser, vir à luz. O homem é um ente voltado para “fora”, cuja essência consiste em ter que compreender a si mesmo, neste fora, como possibilidade de ser ou não ser ele mesmo. Por exemplo, angústia remete o homem à sua singularidade, a um momento de reflexão sobre o seu agir no mundo e como os acontecimentos e as experiências podem lhe ensinar. Por meio dela, o homem medita sobre sua vida, sai da zona de conforto, busca meios de crescimento pessoal a partir daquilo que ele se ocupa no mundo. 2.2.1 PRÁTICA CLÍNICA Para uma atitude fenomenológico-hermenêutica, os objetos ideais não são nem mais nem menos reais que os objetos empíricos, são apenas diferentes modos de ser daquilo que se dá à experiência. A Psicoterapia Existencial funda-se no “cuidado” enquanto “ser-no-mundo-com-o-outro”, e não em interpretações apriorísticas ou explicações causais sobre a realidade vivencial do paciente. Se há alguma interpretação, ela deve ser fruto da elaboração temática de uma existência que se explicita enquanto projeto. O psicoterapeuta remete o indivíduo a si, estimulando-o a reconhecer sua impessoalidade e a questionar-se no sentido de encontrar suas próprias respostas para as questões que a vida lhe apresenta. Com relação às práticas psicológicas, as consequências dessa concepção do ser do homem como “existência” demarcam uma atitude clínica nitidamente diferenciada, que poderíamos, resumidamente, sistematizar em três aspectos estreitamente articulados entre si: o abandono de qualquer redução do humano a dimensões meramente orgânicas, psicológicas ou sociais, naturalmente compreendidas, isto é, o abandono de qualquer cientificismo objetivante do sofrimento existencial; a suspensão de toda postura técnica e voluntarista, em que o terapeuta se coloca no lugar daquele que conduz a dinâmica do processo clínico a partir de suas representações técnico-conceituais sobre a existência do paciente ou a partir de seu desejo pessoal de impor mudanças; o exercício da atenção e do cuidado livre de expectativas, em que o outro é convidado a uma lembrança de si como pura “existência” para, a partir daí, perspectivar seus limites e suas possibilidades mais próprias e singulares. Precisamente, a adoção desses pressupostos exige o abandono de toda tentação de transpor para o âmbito da clínica os elementos essenciais do método científico-natural: redução à objetividade conceitual, quantificação e mensuração. Portanto, acompanhar o cliente nessa tarefa significa auxiliá-lo a tornar explícito para si mesmo o sentido de suas experiências: dores, alegrias e de suas possibilidades negadas. Nessa compreensão, não há nenhum direcionamento, mas a desconstrução das meras opiniões ditadas pelo falatório do impessoal e a quebra das habitualidades abrem fissuras que deixam entrever possíveis mudanças, transformando o acontecer clínico em experiência apropriada e tematizada, constituída por “aceitar simplesmente aquilo que se mostra no fenômeno do tornar presente e nada mais” (Heidegger, 2001, p.101). 2.2.2 CORRELAÇÃO DO FILME COM A FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA FENOMENOLÓGICO-EXISTENCIAL O filme "Colcha de Retalhos" permite aqueles que se interessam fazer uma interpretação fenomenológico-existencial da personagem principal Finn. Ao narrar sua história de vida enquanto criança, ela expõe algumas de suas inquietações sobre sua relação com a família, pergunta-se o porquê da separação dos pais, bem como a repetição da mãe em trocar de namorado. Quando adulta, mesmo com a vida aparentemente estruturada sua narrativa ainda gira em torno dos questionamentos, entretanto, levando a temáticas diferentes. Sob a ótica fenomenológico-existencial, nota-se que as atitudes de Finn são uma expressão do contato que ela estabelece com as pessoas e o mundo. Enquanto ser-aí (Dasein), Finn se vê implicada na tarefa de “existir”, e desse modo, lidar com os outros entes que tambémestão dispostos no mundo. Ela enquanto ente que pode “vir-a-ser”, carrega consigo uma abertura ao sentido pelo qual apreende o ser dos entes dispostos ao encontro. Em outras palavras, Finn busca suas possibilidades e singularidade em meio à multidão. Nota-se que o desenrolar do filme se passa ao redor da angústia existencial de Finn sobre a possibilidade de seu casamento com Sam. A descoberta de uma possível traição, por meio de uma interpretação ao ligar para o noivo, faz com que a protagonista não só questione o casamento, mas também sua relação. Isso se intensifica ao conhecer um rapaz em um clube e sentir-se atraída por ele. A protagonista neste momento ao vivenciar a angústia, encontra-se sob a experiência do seu modo próprio de ser, ao encontro de sua singularidade, apesar de seus esforços em querer saber das experiências alheias (as senhoras costureiras), talvez, numa tentativa de querer encontrar um direcionamento, ou até mesmo uma resposta para sua angústia. A angústia no Existencialismo constitui o ponto onde o ser se encontra entre as possibilidades da vida e a escolha delas, considerando também que não escolher já é uma escolha, o sujeito está fadado a lidar com a responsabilidade do que escolheu para si enquanto projeto de ser. Já na fenomenologia mostra que o encontro "aqui e agora" leva consigo a permissividade do choque de alteridades, nessa relação o sujeito afeta e é afetado por ela, absorvendo e se abrindo ao conteúdo do diálogo. Mesmo entrando em contato com diferentes narrativas, Finn entende que as experiências para a sua subjetividade apenas dela dependem. Ela estava condenada a ser livre e apenas assim poderia dar a si mesma o seu próprio destino. 3 CONCLUSÃO Em virtude dos fatos mencionados, Colcha de Retalhos conta a história de Finn, cuja se conecta as histórias das demais personagens, confeccionadoras da Colcha de Retalho. Finn acaba por conhecer a história de vida de cada uma dessas mulheres por relação ao tema que escolheram para a colcha : “onde mora o amor”. Nesta circunstâncias repleta de perspectiva acerca do amor, do sentindo da vida, da liberdade é possível abrir caminhos para adentrar dos conhecimentos fenomenológicos, humanistas e existenciais. São encontradas várias representações desses conceitos no filme, começando com a Finn sendo ela a personagem principal, a qual se encontra dividida entre o amor e sua liberdade, gerando-se o sentimento de angústia. A angústia no existencialismo está relacionada às escolhas que o indivíduo faz não somente para si mas frente às possibilidades da vida. O filme por completo contém uma grande relação com os conceitos abordados partindo do tema principal, que é fazer uma colcha de retalhos com cada uma das costureiras, destacando onde fica o amor para cada uma delas, valorizando assim o sentimento de cada história contada. Se faz possível a comparação com temas como angústia, Dasein, liberdade, presença, e ser e ente. Inúmeras análises podem ser acrescentadas com associações a outros vários conceitos da psicologia e filosofia fenomenológico-existencial. REFERÊNCIAS COLCHA de Retalhos. Direção de Jocelyn Moorhouse. Estados Unidos, 1995. 1 DVD (109 min.). FEIJOO, Ana Maria Lopez Calvo de. Fundamentos Fenomenológico-Existenciais para a Clínica Psicológica. Simpósio de Psicologia Fenomenológico-Existencial, Belo Horizonte, 2008, pp. 07-18. LESSA, Jadir Machado; NOVAES DE SA, Roberto. A relação psicoterapêutica na abordagem fenomenológico-existencial. Aná. Psicológica, Lisboa , v. 24, n. 3, p. 393-397, jul. 2006 . Disponível em: <http://www.scielo.mec.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0870-8231200600030 0013&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em 20 set. 2020. NOVAES DE SÁ, Roberto; BRITO TAVARES BARRETO, Carmem Lúcia. A noção fenomenológica de existência e as práticas psicológicas clínicas. Estudos de Psicologia, Campinas, vol. 28, núm. 3, julho - setembro, 2011, pp. 389-394. Disponível em: <http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=395335659011>. Acesso em 20 set. 2020. http://www.adorocinema.com/personalidades/personalidade-26784/ http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=395335659011
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