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Conjuntos numéricos: Números Irracionais e Reais Vagner Luis Zanin Introdução Nesta aula, estudaremos o conjunto dos números irracionais, que inclui o π e o ϕ, alguns dos mais importantes para a matemática, e o conjunto dos números reais, que é a união dos conjuntos numéricos naturais, inteiros, racionais e irracionais. O conjunto dos irracionais é formado por números que não têm nenhuma semelhança com os conjuntos dos naturais, inteiros e racionais, pois não se originam de uma quantidade ou de uma medição. O conjunto dos números reais, por sua vez, é composto pela união dos conjuntos numéricos (naturais, inteiros, racionais e irracionais), possuindo, assim, diferentes tipos de números, cada qual com sua particularidade. Vale ressaltar que o conjunto dos irracionais possui uma característica distinta dos demais: uma operação matemática realizada com números deste conjunto pode apresentar uma resposta que não pertence aos irracionais. Objetivos de aprendizagem Ao fim desta aula, você será capaz de: • compreender o conceito de conjuntos numéricos irracionais e reais, identificando suas características principais. 1 O conjunto dos números irracionais Neste conjunto, os números não podem ser representados através da divisão entre dois intei- ros, ou seja, são números que possuem dízimas infinitas e não constantes, como podemos confe- rir nos exemplos a seguir: • √ 2 = 1,414213562… • –√ 3= –1,732050807… • π= 3,141592653… • e= 2,718281828… Neste ponto, vale destacar que as operações matemáticas podem ser realizadas neste con- junto, mas não há a garantia de que o resultado também seja um número irracional. EXEMPLO Considere a seguinte multiplicação entre números irracionais: √ 2 ∙ √ 3 = √ 6 , sendo que o valor para a raiz quadrada de seis é √ 6 = 2,4494897…. Ou seja, neste caso, o resultado √ 6 também é irracional. Agora acompanhe outro exemplo de multiplica- ção entre dois números irracionais: – √ 2 ∙ √ 2 = – 2. O resultado é um número inteiro. Para compreendermos melhor a ideia dos números irracionais, vamos pensar da seguinte maneira: inicialmente, temos os números naturais que, originalmente, eram utilizados para marcar quantidades. A partir da necessidade de trabalhar com números negativos, surgiram os inteiros. Em um segundo momento, houve a necessidade de trabalhar com partes menores em relação aos números inteiros, surgindo, assim, os racionais. Após algum tempo, o homem observou que existiam determinadas medidas que ainda não podiam ser mensuradas utilizando apenas como referência os números racionais e é a este conjunto de números incomensuráveis que damos o nome de irracionais. A descoberta dos números irracionais é atribuída ao filósofo e matemático grego Pitágoras, que nasceu na ilha de Sámos (580 - 497 a. C.). Ao estudar os triângulos retângulos, ele descobriu a relação que existe entre as medidas dos lados deste tipo de triângulo, que ficou conhecida como Teo- rema de Pitágoras (a soma do quadrado das medidas dos catetos é igual ao quadrado da medida da hipotenusa). Com isso, ao aplicar o teorema em um quadrado de lado 1, a medida da hipotenusa será √ 2. Ou seja, trata-se de uma distância que não pode ser medida utilizando os números racionais. FIQUE ATENTO! Incomensurável é tudo aquilo que não pode ser medido. É comum utilizarmos números irracionais para realizarmos atividades como o cálculo de circunferências com o número π. Mas, como este número é uma dizima infinita e não-periódica, como podemos usá-lo? Para isso, devemos considerar valores aproximados. É importante res- saltar, no entanto, que afirmações do tipo “o valor de π = 3,14” são equivocadas, pois o correto é afirmar que 3,14 é uma aproximação para o número π, ou seja, π ≃ 3,14. FIQUE ATENTO! Alguns autores utilizam o símbolo “I” para representar o conjunto dos números irra- cionais. Porém, não existe oficialmente um símbolo que represente este conjunto. Na prática, devemos sempre utilizar aproximações quando trabalhamos com os números irracionais. Apesar disso fazer com que, na prática, o resultado esteja sempre teoricamente errado, quanto maior forem os algarismos utilizados na aproximação, mais o valor obtido estará próximo do valor real, suprindo a necessidade de cada caso. Se, por exemplo, for necessário um resultado mais preciso, é conveniente utilizar sempre o maior número de casas decimais possíveis. Se, por outro lado, não houver a necessidade de tanta precisão, a utilização de poucas casas decimais terá o mesmo efeito do que se utilizarmos muitas casas decimais para a aproximação do número irracional. EXEMPLO Considere o cálculo do comprimento de uma circunferência com diferentes aproxi- mações para o valor de π, admitindo o valor de raio igual a 5 cm: • C=2 ∙ π ∙ r → C = 2 ∙ 3 ∙ 5 → C = 30 cm • C=2 ∙ π ∙ r → C = 2 ∙ 3,14 ∙ 5 → C = 31,4 cm • C=2 ∙ π ∙ r → C = 2 ∙ 3,1415∙5 → C = 31,415 cm • C=2 ∙ π ∙ r → C = 2 ∙ 3,14159265 ∙ 5 → C = 31,4159265 cm Quanto mais utilizamos decimais para o valor de π, mais próximo do real fi ca a resposta para o comprimento desta circunferência. Figura 1 – Número Fonte: graystudio/Shutterstock.com SAIBA MAIS! O número π surgiu na geometria, mais especifi camente no estudo da circunferência. Acompanhe: Arquimedes (287 a.C. – 212 a.C.) foi um inventor, engenheiro, matemático, astrônomo e fi lósofo que, em um de seus trabalhos chamado “Sobre a Esfera e o Cilindro”, determinou, entre outras deduções, um valor aproximado para o número π, calculando que π = 22 / 7. (FERNANDES, 2016). Mas o mais importante é a relação que Arquimedes demonstrou em seu trabalho, onde afi rma que, em qualquer circunferência, a divisão do comprimento pelo respectivo diâmetro sempre resultará no valor de π, ou seja, =C ð d . Mas espere! O número π é irracional e, por isso, não deveria ser resultado de uma fração! O que acontece então? Na verdade, obrigatoriamente o valor do comprimento ou do diâmetro é um número irracional, e sua divisão resulta também em um número irracional, que, no caso, é o número π. C = circunferência d = diâmetro C d = π Figura 2- Número π na circunferência Fonte: Elaborado pelo autor, 2016. Agora que já entendemos como surgiu o conjunto dos números irracionais, no próximo tópico estudaremos as características dos números reais. 2 Conjunto dos números Reais Este conjunto ( ) é formado pela reunião dos números naturais ( ), inteiros ( ), racionais ( ) e irracionais. N Z Q R Irracionais Figura 3 – Conjunto dos números reais Fonte: Elaborado pelo autor, 2016. FIQUE ATENTO! Os conjuntos dos números naturais, inteiros e racionais não estão contidos no con- junto dos irracionais. A união dos conjuntos numéricos para a formação do conjunto dos números reais permite um comportamento interessante quando colocamos todos dispostos em uma reta numerada. ... –5 –4 –3 –2 –1 0 1 2 3 4 5 ... Figura 4 – Reta dos números Reais Fonte: Elaborado pelo autor, 2016. Ao analisar a Figura 4, podemos verificar que esta reta é diferente dos demais conjuntos: com a inclusão dos irracionais, não há mais espaços vazios entre os números e, neste caso a região desta- cada em cinza está toda preenchida, o que não ocorria com os outros conjuntos, indicando a presença de todos os números. Por questões de conveniência, indicamos apenas os números inteiros, configu- rando uma reta contínua ou uma reta lisa sem interrupções. Veja nas imagens a seguir as alterações no formato do gráfico quando aplicamos os diferentes conjuntos numéricos na expressão y = x + 1.. 0 1 2 3 4 5–5 –4 –3 –2 –1 –1 –2 –3 –4 1 2 3 4 5 0 Figura 5 – Gráfico com os números naturais Fonte: Elaborado pelo autor, 2016. 0 1 2 3 4 5–5 –4 –3 –2 –1 –1 –2 –3 –4 1 2 3 4 5 0 Figura6 – Gráfico com os números inteiros Fonte: Elaborado pelo autor, 2016. 0 1 2 3 4 5–5 –4 –3 –2 –1 –1 –2 –3 –4 1 2 3 4 5 0 Figura 7 – Gráfico com os números racionais Fonte: Elaborado pelo autor, 2016. 0 1 2 3 4 5–5 –4 –3 –2 –1 –1 –2 –3 –4 1 2 3 4 5 0 Figura 8 – Gráfico com os números reais Fonte: Elaborado pelo autor, 2016. Podemos afirmar que o conjunto dos números reais é o mais importante para a matemática, já que o desenvolvimento alcançado pela disciplina ocorreu por causa dos números que compõem este conjunto. SAIBA MAIS! Existem outros conjuntos numéricos que são mais raros de serem estudados, como o conjunto dos Quaterniões. Veja mais em: < http://repositorio.ulusiada.pt/ bitstream/11067/338/1/mm_adilia_marinho_dissertacao.pdf> Antes de concluirmos, vale destacar que existem outros conjuntos numéricos que não estu- damos nesta aula, como, por exemplo, o conjunto dos números complexos. Fechamento Ao concluirmos esta aula, podemos perceber que a compreensão das características dos números irracionais parte do ponto de uma ideia intuitiva e entender que a união dos números naturais, inteiros, racionais e irracionais forma o conjunto dos números reais. Nesta aula, você teve oportunidade de: • compreender que os números irracionais são todos os números que não podem ser escritos na forma de razão entre números inteiros. Ou, em outras palavras, são os números decimais não-periódicos e infinitos; • entender que no conjunto dos irracionais nem sempre a solução de uma operação matemática entre dois números irracionais será outro número irracional; • identificar que o conjunto dos números reais é formado pela reunião dos conjuntos: natural, inteiro, racional e o irracional; • compreender que, diferente dos outros conjuntos numéricos, o conjunto dos números reais não possui espaços vazios entre os números quando colocados em uma reta numerada. Referências BOYER, Carl B. História da matemática. Tradução de Elza F. Gomide. 2 ed. São Paulo: Edgard Blü- cher, 1996. IFRAH, Georges. Os números: A história de uma grande invenção. 4. ed. São Paulo: Globo, 1985. FERNANDES, Carlos. Arquimedes de Siracusa. Disponível em: <http://www.dec.ufcg.edu.br/bio- grafias/Arquimed.html>. Acesso em: 10 ago. 2016.4 MARINHO, Adília Maria Lúcia Teixeira Gomes. Os quaterniões e suas aplicações. Dissertação – Universidade Lusíada, Lisboa, outubro de 2012. Disponível em: < http://repositorio.ulusiada.pt/bits- tream/11067/338/1/mm_adilia_marinho_dissertacao.pdf>. Acesso em: 09 ago. 2016. ZÖLD, Harold H. N.; CORREA, Sérgio. Matemática. São Paulo: Círculo do Livro, 1996.
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