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Iana Barbosa Martins 1 SOI III – Cardio – Fisiopatologia / MED 31 Doença Arterial Obstrutiva Periférica Definição Aterosclerose das artérias dos MMII é definida como DAOP, mais comum nos MMII. Aterosclerose (etiologia prevalente de DAOP) é uma doença sistemica das artérias de grande e médio calibre que causa estreitamento luminal (focal ou difuso) resultando do acúmulo de material lipídico e fibroso entre as camadas íntima e média do vaso. Pode causar doença das artérias coronárias, cerebrais e periféricas. Sintomas agudos ou crônicos em decorrência de embolia proveniente de vasos mais proximais ou trombose de uma artéria estreitada. Sintomas isquêmicos ocorrem quando há desequilíbrio entre a oferta e a demanda do fluxo. Manifestações clinicas dependem da localização e gravidade da estenose arterial ou oclusão, variando de dor moderada nos membros com atividade (claudicação) a isquemia com evolução para amputação. A maioria é assintomática, mas a doença pode evoluir rapidamente nos que continuam fumando ou com DM e IR. Principal condição desencadeante da DAOP é aterosclerose: Obstrução: nas paredes das artérias em diversos seguimentos arteriais, normalmente nas artérias periféricas. A aterosclerose, por ser uma doença sistêmica acomete artérias em geral: cérebro, coração, rim. Estado de hipoperfusão: obstrução crônica e progressiva da aterosclerose vai diminuir o fluxo sanguíneo para periferia, causando hipoperfusão principalmente durante atividade física. Comprometimento maior dos MMII: extremidade que mais sente com a obstrução, devido a pré existência de uma dificuldade natural de fluxo sanguíneo por conta da gravidade. Epidemiologia Prevalencia mundial 3 e 12%. 70% vive em países de baixa e média renda. Mais prevalente: Idosos Afro-americanos. Historia familiar de aterosclerose. Fatores de risco para doenças cardiovasculares. Fisiopatologia Aterosclerose Definição: Doença sistêmica que acomete difusamente, além das artérias periféricas, outras estruturas ao longo do corpo. Caracterizada por: Lesões elevadas na íntima: ateromas ou placas ateromatosas, composta por centro mole e grumoso de lipídeos (principalmente colesterol e ésteres de colesterol, com restos necróticos), recobertos por uma cápsula fibrosa. Os ateromas obstruem mecanicamente o lúmen vascular e se rompem, evoluindo para trombose dos vasos. Enfraquecem a camada média subjacente e levam à formação de aneurismas. Fisiopatologia: Resposta inflamatória crônica da parede arterial à lesão endotelial. Progressão da lesão envolve interação de lipoproteínas modificadas, macrófagos, linfócitos T e constituintes celulares na parede arterial. 1. Formado inicialmente por uma lesão endotelial (hiperlipidemia, has, tabagismo, homocisteína, fatores hhemodinamicos, toxinas, viroses, reações imunes) que promove o espessamento da íntima que na presença de dietas ricas em lipídios resulta da formação de ateromas típicos. Sequencia de eventos para a origem do ateroma: 2. Acontece disjunção endotelial (aumento da permeabilidade) e adesão de monócitos ao endotélio, migração para a íntima e diferenciação em macrófagos e células espumosas. 3. Acúmulo de lipídios no interior dos macrófagos com liberação de citosinas inflamatórias. 4. Há o recrutamento de células musculares lisas devido aos fatores liberados pela ativação de plaquetas, macrófagos e células da parede vascular. 5. Os macrófagos e células musculares englobam o lipídio. 6. Acontece a proliferação de células musculares lisas, deposição de colágeno e MEC e lipídeos extracelulares formando o ateroma maduro. A distribuição anatômica da aterosclerose é geralmente constante, concentrada nas bifurcações e angulações dos vasos, locais onde ocorre alterações locais devidas a esforço, separação de fluxo, turbulência e estase. Aorta infrarrenal, a coronárias proximais, a íliofemorais (a femoral superficial), bifurcação carotídea e a poplíteas são comumente envolvidas. Iana Barbosa Martins 2 SOI III – Cardio – Fisiopatologia / MED 31 DAOP Pacientes com DAOP geralmente são assintomáticos, no entanto, se o suprimento de sangue não for suficiente para atender os requisitos metabólicos contínuos como consequência do estreitamento arterial, ocorrerão sintomas. A gravidade dependerá do grau de estreitamento arterial, número de artérias afetadas e nível e atividade dos pacientes. O paciente pode apresentar dor de um ou mais grupos musculares dos membros inferiores relacionados à atividade (claudicação intermitente), dor atípica, dor em repouso ou feridas não cicatrizadas, ulceração ou gangrena. A dor desses pacientes é causada por uma neurite isquêmica e tende a piorar à noite quando o membro é colocado em posição horizontal. Fatores de risco: modificáveis e não modificáveis. Associada com outras doenças cardiovasculares: DAOP e IAM, AVC, insuficiência renal, isquemia mesentérica. Fatores de risco DAOP TABAGISCO E DIABETES MELLITUS: mais relevantes. HAS Dislipidemia Obesidade Sedentarismo Sexo masculino História familiar: predisposição genética > 50 anos Negros Relação entre número de cigarros consumidos e DAOP: aumento da gravidade, efeito negativo na permeabilidade da reconstrução vascular, aumento de risco de amputação e mortalidade cardiovascular após revascularização associados a um número maior de maços por ano. Grupo de risco Idade ≥ 70 anos Entre 50 e 69 anos com histórico de tabagismo ou DM Entre 40 e 49 anos com DM e pelo menos outro fator de risco para aterosclerose. Sintomas nas pernas sugestivos da claudicação com esforço ou dor isquêmica em repouso. Exame anormal de pulso na extremidade inferior. Aterosclerose conhecida em outros locais. Epidemiologia Muito prevalente > 50 anos Raro < 50 anos 2x mais frequentes em negros: HAS na população negra. > 200 milhões de pessoas no mundo 6:1000 pessoas > 65 anos A doença causa feridas nas extremidades, risco de amputação e complicações nos pacientes. Quadro Clínico As diretrizes da American College of Cardiology/ American Heart Association (ACC/AHA) sobre DAOP sugeriram a seguinte distribuição da apresentação clínica da DAOP nos pacientem com ≥ 50 anos: Assintomático: 20-50%; Dor na perna atípica: 40-50%; Claudicação clássica: 10-35%; Membro ameaçado: 1-2%. Fisiopatologia extremamente ligada ao quadro clínico do paciente, pois quanto maior obstrução mais claudicação ele terá, menor distancia percorrida até sentir dor durante a deambulação. O início da doença é de forma assintomática: Devido a obstrução ser parcial. Por conta da rede de colaterais que consegue suprir a extremidade. Os pacientes assintomáticos são diagnosticados pela triagem que é recomendada em casos específicos. Estes pacientes se beneficiam da redução de lipídeos, controle da PA e cessação do tabagismo que reduzem o risco de infarto do miocárdio, acidente vascular cerebral e morte. Obstrução aumenta: Regime de hipoperfusão para a musculatura relevante dá início aos sintomas. CLAUDICAÇÃO INTERMITENTE: Dor a deambulação. Iana Barbosa Martins 3 SOI III – Cardio – Fisiopatologia / MED 31 Mensurar a distancia que o paciente consegue andar sem dor: Claudicação inicia aos 200m. Dificilmente o paciente saberá dizer em metros, pedir em exemplos de quadras: quantas quadras percorre sem dor? Importante para acompanhar sintomas, piora da doença. Melhora dos sintomas ao repouso e com o membro para baixo. Melhora o fluxo e perfusão com a ajuda da gravidade. Contrário da insuficiência venosa, que melhora edema, peso e dor com elevação da extremidade. Identificação topográfica da dor: Dor está relacionada ao local de obstrução pela placa de aterosclerose (território da artéria ilíaca, femoral ou poplítea). Por conta dos ramos muscularesde perfusão arterial. Sintomas Dor nos membros inferiores: Sintoma mais predominante, devido a graus variados de isquemia. Provocado por atividade e aliviado ao repouso. Claudicação intermitente Incopatibilidade entre o suprimento de sangue e o aumento da demanda induzida pela atividade. Acometimento (estenose) se apresenta uni ou bilateralmente: ➢ Nádegas ou quadril: Aorto-ilíaco. Pulso femoral diminuído uni ou bilateralmente. Pode haver disfunção erétil em homens. ➢ Coxas: artéria femoral. ➢ Panturrilha: artéria femoral superficial (2/3 superiores) e artéria poplítea (terço inferior). Queixa mais comum. ➢ Pés: artérias tibiais e fibular. Pouco comum. Dor atípica nas extremidades: São mais comuns em pacientes com comorbidades, inatividade física e percepção aletrada da dor. É importante considerar outros diagnósticos como: artrite, neuropatia, fibromialgia. Dor isquêmica em repouso: Redução severa na perfusão dos membros. Localizada no antepé e nos dedos dos pés, não sendo controlada facilmente por analgésicos. Piora com elevação de membro. Redução crônica no fluxo sanguíneo das extremidades pode levar a dor neuropática isquêmica sobreposta descrita como latejante ou ardente. Dor difusa grave: Isquemia aguda difusa dos membros tem início repentino de dor nas extremidades, evolui para dormência, paralisia da extremidade com palidez, parestesia e ausência de pulsos palpáveis. Ferida/úlcera sem cicatrização: Ulceras isquêmicas começam com pequenas feridas traumáticas e não cicatrizam devido ao suprimento sanguíneo ineficiente. Ulceras no pé podem infectar e evoluir para osteomielite. Descoloração da pele/grangrena: Isquemia extrema altera a aparência da pele podendo surgir áreas focais de descoloração da pele, podendo evoluir para necrose cutânea. Membro ameaçado: Fluxo em repouso insuficiente para as demandas metabólicas. ➢ Isquemia aguda ocorre dentro de duas semanas após o evento que a causou e comumente está associada a tromboelismo. ➢ Isquemia crônica ocorre após mais de duas semanas do evento deflagrador e é geralmente resultado de estenoses. Exame físico Índice tornozelo-braço (ITB): PA tornozelo / PA braço ITB < 0,9: diminuição do pulso na região do tornozelo compatível com obstrução ao longo dos vasos do MMII. PA no tornozelo menor que a PA no braço corrobora risco de DAOP na extremidade inferior. Arteriosclerose: com a idade. Artérias calcificadas podem falcear ITB, pois a mensuração da PA do vaso não será adequada. Avaliar os pulsos periféricos: Comparar nos dois membros para comparar obstrução, se um lado mais acometido que outro. Aferir PA segmentar: Aferir: raiz da coxa, região superior da panturrilha, tornozelo e pé. Objetivo de identificar segmentos que podem estar mais acometidos. Alterações tróficas: Consequência da hipoperfusão por conta da diminuição do fluxo arterial. Atrofia muscular; Perda de pelos; Espessamento das unhas dos pés. Necrose e ferida distal: Inicia nas extremidades dos dedos e vai evoluindo subindo em direção a perna. As feridas aparecem nessas regiões por serem as regiões mais distantes e com menos acesso a fluxo sanguíneo. Iana Barbosa Martins 4 SOI III – Cardio – Fisiopatologia / MED 31 Complicações Amputação de extremidade: Pior complicação. Condição rara por conta do tratamento efetivo de controle das comorbidades que evitam a progressão da doença e tratamento cirúrgico de revascularização da extremidade acometida. Estudo de Frahminghan: 1,6 dos pacientes com claudicação evoluíram para amputação. Diagnóstico Diagnóstico diferencial: Condições em que o quadro clinico tem semelhança e mimetiza os sintomas de DAOP. Insuficiência venosa e trombose venosa podem causar compressão dos vasos por vasoespamo por conta da inflamação ao redor do vaso. Doença da medula espinal e hérnia de disco associadas a comprometimento neurológico causando dor na extremidade e na deambulação. Vasculites podem causar sintomas de claudicação intermitentes. Alterações anatômicas que causam comprometimento da artéria poplítea. Osteoartrite. Neuropatia diabética. Tromboangeíte obliterante. Diagnóstico: É necessária uma história clínica bem feita, associada a um exame físico completo (avaliação de pulsos e PA nas extremidades distais) e fatores de risco. Essas são condições que levam a uma suspeita clinica relevante de DAOP. Através de exames é necessário e importante tentar identificar o grau de gravidade da doença. Como aterosclerose é a base de DAOP, é necessária avaliação geral para avaliar outros locais de obstrução (artérias coronárias, renais, comprometimento mesentérico). Os exames de imagem são direcionados aos MMII, mas se o paciente tiver queixas associadas fazer avaliação de outros órgãos para diagnosticar de forma precoce situações fatais como obstrução da coronária ou da artéria renal (insuficiência renal crônica). Exame laboratorial: Avaliar comorbidades e lesão em outros órgãos (rim). Exames de imagem: diagnóstico e tratamento. Arteriografia (padrão-ouro): diagnóstico e como tratamento (guia de angioplastia). AgioTC e AngioRNM: Muito usados. Menor risco de complicações por contraste (AngioTC) e aplicabilidade. Reconstrução 3D do vaso, identificação com extrema precisão do local de obstrução, levando ao planejamento adequado da cirurgia. USG arterial com Doppler: Identificação do ponto de obstrução, analise do fluxo sanguíneo associada ao ponto de obstrução. Imagens não são tão boas quanto AngioTC e RNM. Classificação AS 3 classificações mais usadas para DAOP: Rutherford Relacionada ao estado clínico. Norteia na indicação do tratamento do paciente. Estágio 0: assintomático Estágio 1: claudicação leve Estágio 2: claudicação moderada Estágio 3: claudicação severa Estágio 4: dor no repouso Pacientes candidatos a cirurgia Estágio 5: úlcera isquêmica Estágio 6: úlcera isquêmica grave ou gangrena franca Fontaine Relacionada a sintomatologia. Estágio 1: assintomático Estágio 2: claudicação intermitente 2a: após mais de 200m de caminhada sem dor 2b: após menos de 200m de caminhada sem dor Estágio 3: dor em repouso Estágio 4: úlceras isquêmicas TASC II LESÕES TIPO A: Estenose única ≤ 10cm de comprimento. Oclusão única ≤ 5cm de comprimento. LESÕES TIPO B: Múltiplas lesões (oclusões ou estenoses) ≤ 5cm cada. Oclusão ou estenose única ≤ 15cm sem envolver art poplítea infragenicular. Lesões únicas ou múltiplas na ausência de vasos tibiais contínuos melhorando o influxo para um bypass distal. Iana Barbosa Martins 5 SOI III – Cardio – Fisiopatologia / MED 31 Oclusão muito calcificada ≤ 5cm de comprimento. Estenose poplítea única. LESÕES TIPO C: Múltiplas estenoses ou oclusões > 15 cm com ou sem calcificação importante. Estenose ou oclusão recorrente que precisa de tratamento após duas intervenções endovasculares. LESÕES TIPO D: Oclusão total crônica AFC (a femoral comum) ou AFS (a femoral superficial) (> 20cm, envolvendo artéria poplítea). Oclusão total crônica da a poplítea e vasos de trifurcação proximal. Tratamento Tratamento clínico Deve ser iniciado de forma clínica para todos os indivíduos. Interromper o tabagismo. Controlar fatores de risco: Frear ou diminuir a progressão da aterosclerose. AAS profilático Evitar trombose na placa de ateroma causando isquemia aguda. Estatinas Controlar e estabilizar a placa de ateroma, evitando progressão. Cilostazol: aumento da distância antes do início da claudicação. Vasodilador, melhora na sintomatologia do paciente. Pentoxilina/ Clopidogrel/ Heparina. Auxiliam no fluxo sanguíneo, melhorando a perfusão distal. Programa de caminhadas diário de 45-60min. Supervisionado. Estimular o surgimento de colaterais, melhoraro fluxo sanguíneo para extremidades. Tratamento cirúrgico Pacientes refratários ao tto clínico ou que apresentam dor em ropouso ou gangrena / úlcera. Revasculariza extremidade. Avaliação cardiovascular no pré-op. Terapia endovascular Angioplastia com ou sem stent. Aterectomia (ressecção da placa de ateroma) Revascularização por cirurgia aberta. ➢ Enxerto de veia e prótese de Dacron ou PTFE. ➢ Bypasses: Derivações unilaterais: femoro-poplítea, ilíaca- femoral. Derivações cruzadas: femoro-femoral.
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