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SUMÁRIO 1. Introdução ..................................................................... 3 2. Fisiopatologia .............................................................. 4 3. Clínica ............................................................................. 7 4. Diagnóstico ................................................................13 5. Classificação .............................................................18 6. Tratamento .................................................................19 Referências Bibliográficas ........................................25 3DOENÇA ARTERIAL OBSTRUTIVA PERIFÉRICA 1. INTRODUÇÃO A aterosclerose é uma doença sistê- mica das artérias de grande e médio calibre que causa estreitamento lu- minal (focal ou difuso) como resulta- do do acúmulo de material lipídico e fibroso entre as camadas íntima e mé- dia do vaso. Pode causar doenças das artérias coronárias, cerebrais e perifé- ricas. A aterosclerose das artérias dos membros inferiores é definida como Doença Arterial Obstrutiva Perifé- rica (DAOP), sendo mais comum que os membros inferiores sejam envol- vidos. Embora outros processos pato- lógicos possam levar ao estreitamento das artérias dos membros (por exem- plo, inflamação, trombose) e sintomas de insuficiência arterial, a ateroscle- rose é a etiologia mais prevalente da DAOP. Podem ocorrer sintomas agu- dos ou crônicos, em decorrência de embolia proveniente de vasos mais proximais ou trombose de uma artéria que foi progressivamente estreitada. Os sintomas isquêmicos ocorrem quando há um desequilíbrio entre a oferta e a demanda de fluxo san- guíneo. As manifestações clínicas da DAOP dependem da localização e gravidade da estenose arterial ou oclusão, e variam de dor moderada nos membros com atividade (isto é, claudicação) a isquemia que amea- ça os membros. A maioria dos pa- cientes com DAOP assintomática tem um curso benigno, no entanto, as manifestações clínicas podem se desenvolver ou progredir rápida e im- previsivelmente naqueles que conti- nuam fumando ou naqueles com dia- betes ou insuficiência renal. A prevalência mundial da Doença Ar- terial Obstrutiva Periférica dos mem- bros inferiores está entre 3 e 12%. A maioria (70%) dos acometidos vive em países de baixa ou média renda. É mais prevalente em indivíduos mais velhos, afro-americanos, em famí- lias com aterosclerose e naqueles com fatores de risco para doenças cardiovasculares (hipertensão, dia- betes, hiperlipidemia, síndrome meta- bólica, tabagismo). Os fatores de risco para DAOP são semelhantes aos fa- tores de risco para doença arterial co- ronária, devido à associação de am- bas com a aterosclerose. As diretrizes do American College of Cardiology e American Heart Association (ACC/ AHA) sobre DAOP identificaram os seguintes grupos de risco associados a um aumento da prevalência da do- ença e início precoce: GRUPOS DE RISCO PARA DAOP (ACC/AHA) Idade ≥ 70 anos; Entre 50 e 69 anos com histórico de tabagismo ou diabetes; Entre 40 e 49 anos com diabetes e pelo menos outro fator de risco para aterosclerose; Sintomas nas pernas sugestivos de claudicação com esforço ou dor isquêmica em repouso; Exame anormal de pulso na extremidade inferior; Aterosclerose conhecida em outros locais (doença coronariana, carotídea, artéria renal...) 4DOENÇA ARTERIAL OBSTRUTIVA PERIFÉRICA SE LIGA! O tabagismo parece ser um fator de risco mais poderoso para DAOP que para Doença Arterial Coronariana. Foi relatada por diversos estudos uma relação entre a quantidade do uso de cigarros e o risco de DAOP, além do aumento da gravidade, efeitos negativos na permeabilidade da reconstrução vascular, aumento do risco de ampu- tação e mortalidade cardiovascular após revascularização associados a um número maior de maços-ano. de colesterol, com restos necróticos), recobertas por uma cápsula fibro- sa. As placas ateromatosas podem obstruir mecanicamente o lúmen vascular e se romper, evoluindo para trombose dos vasos. Elas tam- bém enfraquecem a camada média subjacente e levam à formação de aneurismas. MAPA MENTAL: INTRODUÇÃO Doença Arterial Obstrutiva Periférica Aterosclerose Epidemiologia Estreitamento luminal pelo acúmulo de material lipídico e fibroso Prevalência entre 3 e 12%; Sintomas agudos ou crônicos; Embolia ou trombose. Mais comum em MMII; Maior prevalência: idade elevada, afro-americanos, fatores de risco para DCV (HAS, DM, hiperlipidemia, Sd. Metabólica e tabagismo) 2. FISIOPATOLOGIA Aterosclerose: A aterosclerose é caracterizada por lesões na íntima chamadas atero- mas, ou placas ateromatosas. Estas são lesões elevadas compostas por centro mole e grumoso de lipídeos (principalmente colesterol e ésteres 5DOENÇA ARTERIAL OBSTRUTIVA PERIFÉRICA Os fatores de risco para ateroscle- rose podem ser divididos entre não modificáveis, ou constitucionais, e modificáveis: PRINCIPAIS FATORES DE RISCO PARA ATEROSCLEROSE Não Modificáveis (Constitucionais) Anormalidades genéticas Antecedentes familiares Idade avançada Sexo masculino Modificáveis Hiperlipidemia Hipertensão Tabagismo Diabetes Inflamação A aterosclerose é considerada uma resposta inflamatória crônica da parede arterial à lesão endote- lial. A progressão da lesão envolve a interação de lipoproteínas modifica- das, macrófagos, linfócitos T e cons- tituintes celulares da parede arterial. De acordo com esse modelo, a ate- rosclerose é formada inicialmente por uma lesão endotelial que promove o espessamento da íntima e na pre- sença de dietas ricas em lipídios resul- ta na formação de ateromas típicos. Uma sequência de eventos contribui para a origem do ateroma: adesão de monócitos ao endotélio, migra- ção para a íntima e diferenciação em macrófagos e células espumosas, acúmulo de lipídios no interior dos macrófagos, com liberação de cito- cinas inflamatórias, recrutamento de células musculares lisas devido aos fatores liberados pela ativação de plaquetas, macrófagos e células da parede vascular e proliferação de células musculares lisas para forma- ção do ateroma maduro. Figura 1. Estrutura básica da placa ateromatosa. Fonte: Robbins, Patologia Básica. 2013 6DOENÇA ARTERIAL OBSTRUTIVA PERIFÉRICA Figura 2. Resposta à lesão na aterogênese. Fonte: Robbins, Patologia Básica. 2013 A distribuição anatômica da ateros- clerose é geralmente constante, com uma concentração das placas nas bi- furcações e angulações dos vasos, onde sabidamente ocorrem alterações locais devidas ao esforço, à separa- ção do fluxo, turbulência e estase. A aorta infrarrenal, artérias coronárias proximais, artérias iliofemorais (espe- cialmente a artéria femoral superficial), bifurcação carotídea e as artérias po- plíteas são comumente envolvidas. Figura 3. Vasos mais acometidos na DAOP. Fonte: https://clinicaconceitto.com.br/exames/presente-em-ho- mens-e-mulheres-a-doenca-arterial-obstrutiva-perife- rica-e-mais-comum-a-partir-dos-55-anos DAOP Pacientes com DAOP geralmente são assintomáticos, no entanto, se o su- primento de sangue não for sufi- ciente para atender os requisitos metabólicos contínuos como con- sequência do estreitamento arte- rial, ocorrerão sintomas. A gravidade 7DOENÇA ARTERIAL OBSTRUTIVA PERIFÉRICA dependerá do grau de estreitamento arterial, número de artérias afetadas e nível e atividade dos pacientes. O pa- ciente pode apresentar dor de um ou mais grupos musculares dos mem- bros inferiores relacionados à ativida- de (claudicação intermitente), dor atípica, dor em repouso ou feridas não cicatrizadas, ulceração ou gan- grena. A dor desses pacientes é cau- sada por uma neurite isquêmica e ten- de a piorar à noite quando o membro é colocado em posição horizontal. 3. CLÍNICA As diretrizes da American College of Cardiology/ American Heart As- sociation (ACC/AHA) sobre DAOP sugeriram a seguinte distribuição da apresentação clínica da DAOP nos pacientem com ≥ 50 anos: Assintomático: 20-50%; Dor na perna atípica:40-50%; Claudicação clássica: 10-35%; Membro ameaçado: 1-2%. • Assintomáticos: Os pacientes as- sintomáticos são diagnosticados pela triagem que é recomendada em casos específicos. Estes pa- cientes se beneficiam da redução de lipídeos, controle da PA e ces- sação do tabagismo que reduzem o risco de infarto do miocárdio, aci- dente vascular cerebral e morte. MAPA MENTAL: FISIOPATOLOGIA Aterosclerose Principalmente em Bifurcação e angulação de vasos Lesão endotelial Adesão de monócitos ao endotélio Diferenciação em macrófagos e células espumosas Acúmulo de lipídios no interior dos macrófagos Liberação de citocinas inflamatórias Proliferação de células musculares lisas FORMAÇÃO DE PLACAS DE ATEROMA Redução do lúmen arterial Isquemia dos membros Claudicação, dor em repouso, úlceras, gangrena DAOP 8DOENÇA ARTERIAL OBSTRUTIVA PERIFÉRICA • Dor nos membros inferiores: É o sintoma predominante em pacien- tes com DAOP e é devido a graus variados de isquemia. Pode ocorrer dor na panturrilha, coxa ou nádega provocada por atividade e aliviada com repouso (claudicação intermi- tente), dor atípica nas pernas ou dor constante (dor isquêmica no repouso) • Claudicação intermitente: A clau- dicação intermitente é definida como um desconforto reprodutível de um grupo definido de múscu- los que é induzido pelo exercício e aliviado com o repouso. Embora o suprimento de sangue seja sufi- ciente para atender às demandas do músculo inativo, ocorre uma incom- patibilidade entre o suprimento de sangue e o aumento da demanda induzida pela atividade. A percep- ção da claudicação pode variar de um desconforto incômodo de pou- ca consequência a uma dor severa e debilitante que se torna limitadora do estilo de vida. É comum o relato do paciente de dor nas pernas por esforço que começa após uma cer- ta distância a pé, faz com que ele pare de andar e se resolve dentro de 10 minutos, permitindo que re- tome a caminhada. Pode se apre- sentar uni ou bilateralmente, em ná- degas, quadris, coxas, panturrilhas ou pés de acordo com o local anatô- mico da DAOP. ◊ Nádegas quadris: Acometi- mento aorto-ilíaco. Pulso fe- moral está diminuído uni ou bilateralmente. Pode haver disfunção erétil em homens. ◊ Coxas: Acometimento de ar- téria femoral. ◊ Panturrilhas: É a queixa mais comum. Dor nos dois terços superiores da panturrilha ocor- re devido à estenose da artéria femoral superficial, enquanto a dor no terço inferior da pan- turrilha ocorre devido à esteno- se da artéria poplítea. ◊ Pés: Acometimento das arté- rias tibial e fibular. É pouco comum. SAIBA MAIS! A síndrome de Leriche é uma doença oclusiva aorto-ilíaca e se apresenta com a tríade: Claudicação, pulsos femorais ausentes ou diminuídos e disfunção erétil. • Dor atípica nas extremidades: Os sintomas atípicos são mais comuns em pacientes com comorbidades, inatividade física e percepção aletrada da dor. Muitas vezes é difícil separar nesses casos a dor decorrente da DAOP de outras etiologias, como artrite, neuropatia, 9DOENÇA ARTERIAL OBSTRUTIVA PERIFÉRICA fibromialgia, entre outras. Dessa forma, antes de atribuir um sintoma atípico à DAOP é importante consi- derar outros diagnósticos. • Dor isquêmica em repouso: Uma redução severa na perfusão dos membros pode resultar em dor is- quêmica em repouso. Esta é tipica- mente localizada no antepé e nos dedos dos pés e não é facilmente controlada por analgésicos. O pa- ciente refere uma piora da dor com a elevação do membro inferior. Re- duções crônicas no fluxo sanguíneo das extremidades também podem levar a uma dor neuropática isquêmi- ca sobreposta que é frequentemente descrita como latejante ou ardente. • Dor difusa grave: A isquemia agu- da difusa dos membros é caracte- rizada pelo início repentino dor nas extremidades, progredindo para dormência e, finalmente, paralisia da extremidade, acompanhada de palidez, parestesias e ausência de pulsos palpáveis. • Ferida/úlcera sem cicatrização: As úlceras isquêmicas geralmen- te começam como pequenas feri- das traumáticas e depois não ci- catrizam porque o suprimento de sangue é insuficiente para atender às crescentes demandas do tecido cicatrizante. As úlce- ras isquêmicas que envolvem o pé podem ser infectadas e levar à osteomielite. Figura 4. Ferida isquêmica na lateral da perna, próxima ao maléolo lateral. Fonte: Uptodate, 2020 • Descoloração da pele/ gangrena: A isquemia extrema altera a aparên- cia da pele. Podem surgir áreas focais de descoloração da pele que podem evoluir para necrose cutânea. Figura 5. Ferida isquêmica no antepé. Fonte: Uptodate, 2020 10DOENÇA ARTERIAL OBSTRUTIVA PERIFÉRICA SAIBA MAIS! A síndrome do dedo azul ocorre geralmente devido à oclusão das artérias digitais com ma- terial ateroembólico de uma fonte arterial proximal e pode progredir para uma úlcera não cicatrizante ou áreas focais de gangrena se houver DAOP grave. Figura 6. Síndrome do dedo azul. Fonte: Uptodate, 2020 aguda é definida como aquela que ocorre dentro de duas semanas após o evento que a causou e co- mumente está associada a trom- boembolismo (fibrilação atrial, por exemplo). Já a isquemia crônica é aquela que ocorre após mais de duas semanas do evento deflagra- dor e é geralmente resultado de estenoses. Uma característica que pode ser en- contrada no exame físico dos pacien- tes com DAOP é extremidades com pele fina, seca, brilhante e sem pelos. As unhas podem ficar quebradiças, • Membro ameaçado: A ameaça de um membro faz parte de um am- plo espectro de doenças, cuja per- fusão é um determinante do resul- tado. Outros fatores importantes incluem a extensão e a gravidade de qualquer ferida e a presen- ça e gravidade de infecções. A isquemia suficiente para ameaçar um membro ocorre quando o flu- xo sanguíneo arterial é insuficiente para atender às demandas meta- bólicas dos músculos em repou- so. Os pacientes podem enfrentar graus variados de perda de tecido ou gangrena de dígitos. A isquemia 11DOENÇA ARTERIAL OBSTRUTIVA PERIFÉRICA hipertróficas e estriadas. Pode ser observada também uma alteração da temperatura da pele local (um mem- bro isquêmico é frio). As ulcerações têm uma aparência característica dependendo da sua origem. As ulcerações causadas por isquemia estão tipicamente localiza- das na terminação dos ramos arte- riais, nas pontas dos dedos dos pés e entre os dígitos. São lesões doloro- sas, secas e com pouco sangramento. HORA DA REVISÃO! Diante de uma úlcera em membros inferiores é importante lembrar do diagnóstico diferencial entre úlceras venosas, arteriais e neuropáticas: CARACTERÍSTICAS ÚLCERA ARTERIAL ÚLCERA VENOSA ÚLCERA NEUROPÁTICA Localização Sobre as articulações dos dedos dos pés, maléolos, base do cal- canhar, pontos de pressão. Área maleolar medial e lateral, panturrilha. Superfície plantar, calca- nhar, metatarso, pontos de pressão. Aparência Margens irregulares, base seca e pálida, necrótica. Margens irregulares, base rosa ou vermelha, coberta por tecido fibrinoso e exsudato. Úlcera geralmente super- ficial, base vermelha. Temperatura dos pés Quente ou frio Quente Quente Dor Importante Geralmente leve Ausente Pulsos arteriais Ausente Presente Presente ou ausente Sensibilidade Variável Presente Ausência de sensibilidade tátil, dolorosa, térmica e de pressão. Deformidades nos pés Ausente Ausente Frequente Alterações na pele Brilhante, tensa, perda de pelos. Eritema, hiperpigmentação amarronzada, edema, varizes. Brilhante, seca, pode ter edema e perda de pelos. Tabela 3. Diagnóstico diferencial de úlceras nos pés. Adaptado de: Uptodate 12DOENÇA ARTERIAL OBSTRUTIVA PERIFÉRICA MAPA MENTAL: CLÍNICA Assintomáticos Clínica 20-50% Úlceras ou gangrena Membro ameaçado Dor nos MMII 1-2% Difícil cicatrização; Pele brilhante, tensa, perda de pelos Claudicação Dor atípica 10-35% 40-50% Envolve extensão e gravidade da ferida e presença de infecção Isquemia aguda:Tromboembolismo Isquemia crônica: Estenoses Desconforto em grupo muscular induzido por exercício e aliviado com repouso Nádegas/quadris: aorto-ilíaco Coxas: a. femoral Panturrilhas: a. femoral superficial ou a. poplítea Pés: a. tibial ou a. fibular 13DOENÇA ARTERIAL OBSTRUTIVA PERIFÉRICA 4. DIAGNÓSTICO Na investigação da DAOP algumas perguntas na anamnese são impor- tantes para caracterização do qua- dro, entre elas: “O paciente sente dor com a deambulação? Até onde pode caminhar antes que a dor ocorra? A dor o leva a parar de andar? Depois de quanto tempo consegue retomar a caminhada? O p aciente sente algu- ma dor nas extremidades que que o acorda do sono? Onde está localizada a dor? O paciente notou feridas ou úl- ceras de difícil cicatrização nos dedos dos pés?” No exame físico é importante aten- tar às lesões em membros inferiores, além de avaliar e comparar os pulsos. ITB: O Índice de Pressão sistólica tornozelo-braquial (ITB) em repouso é um teste simples que pode ser rea- lizado à beira leito e deve ser medido em pacientes com um ou mais acha- dos sugestivos de DAOP. O ITB é a razão entre a pressão arterial sistó- lica do tornozelo e a pressão sistóli- ca braquial detectada com Doppler. Em pacientes sem sintomas leves ou moderados, um ITB < 0,90 presenta alto grau de sensibilidade e especi- ficidade para DAOP. Pacientes com isquemia mais grave podem não to- lerar a insuflação do manguito ou os sinais do Doppler nos vasos pode ser muito fraco para medir com precisão as pressões de corte. SAIBA MAIS! Para obter um ITB preciso, o paciente deve descansar por 15 a 30 minutos antes de medir a pressão no tornozelo. O estudo começa com a aferição das pressões do pulso pedioso e da artéria tibial posterior no tornozelo. • O manguito de pressão de tamanho adequado é colocado acima do tornozelo; • Enquanto se ouve o pulso pedioso ou da artéria tibial posterior com um doppler, o mangui- to é insuflado a uma pressão acima da qual o sinal audível do doppler desaparece. Figura 7. Avaliação do ITB com doppler bidirecional. Fonte: Uptodate, 2020 14DOENÇA ARTERIAL OBSTRUTIVA PERIFÉRICA • A pressão no manguito é liberada lentamente até o pulso retornar; • É registrada pressão sistólica na qual ocorre o retorno do pulso; • Repete-se a aferição da mesma forma em outro vaso do mesmo membro inferior e depois no membro inferior contralateral; • É aferida a pressão sistólica da artéria braquial bilateralmente de maneira semelhante, usando o manguito e o doppler; • O ITB em cada extremidade é calculado dividindo-se a pressão sistólica mais alta do tor- nozelo em cada extremidade inferior pela pressão sistólica da artéria braquial. Um ITB normal vai de 0,91 a 1,3. Um ITB > 1,3 sugere a presença de vasos calcificados e a necessidade de estudos vasculares adicionais. Um ITB ≤ 0,9 é diagnóstico de doença ar- terial oclusiva em pacientes com sintomas de claudicação ou outros sinais de isquemia. Existe uma correlação geral, não absoluta, entre sintomas e gravidade da DAOP estimada a partir do ITB: • Claudicação: ITB 0,4 - 0,9; • Dor em repouso: 0,2 – 0,4; • Perda de tecido (úlcera, gangrena): 0 – 0,4 arterial (pseudoclaudicação). O teste ergométrico é realizado em um labo- ratório vascular, usando protocolo pa- dronizado de exercícios e esteira para garantir a reprodutibilidade das medi- das de distância livre de dor e distân- cia máxima caminhada. A necessidade de testes em pacien- tes com perda de tecido deve ser individualizada. Para a maioria dos pacientes é indicada a realização de testes vasculares antes da inter- venção vascular. Para muitos pacientes com fatores de risco e sinais e sintomas típicos de DAOP é possível estabelecer o diagnóstico por esses achados. Para aqueles com sintomas atípicos ou um exame de pulso ambíguo, o ITB é diagnóstico de DAOP se ≤ 0,9. Para pacientes com fatores de ris- co para DAOP e sintomas atípi- cos ou claudicação, mas com ITB normal, sugere-se a realização de teste ergométrico para fornecer da- dos diagnósticos úteis na diferencia- ção entre claudicação arterial e não 15DOENÇA ARTERIAL OBSTRUTIVA PERIFÉRICA • Imagem vascular: Geralmente a imagem vascular não é necessá- ria para estabelecer o diagnóstico de DAOP, no entanto, pode ser in- dicada para diferenciá-la de ou- tras doenças vasculares e para identificar o local do vaso aco- metido em caso de indicação de intervenção. A arteriografia com contraste é o padrão-ouro para avaliação do membro acometido. A radiografia simples de membros inferiores pode mostrar calcifica- ção arterial em locais consistentes com DAOP, como nos pontos de ramificação arterial. FIGURA 8, ALGORITMO PARA DIAGNÓSTICO DE DAOP SINTOMAS Diagnóstico de DAOP ITB ≤ 0,90 ou >1,3 ITB 0,91-1,3 Medida do ITB • Sintomas atípicos • Claudicação Avaliação de especialista vascular Isquemia crítica do membro: • Dor em repouso • Perda de tecido • Úlcera não cicatrizante • Gangrena • Considerar consulta com especialista vascular; • Outros testes indicados pela intensidade dos sintomas: Doppler, Angio TC, AngioRM, Angiografia Teste ergométrico Anormal: ITB pós-exercício ↓ ≥20% Normal: ITB pós-exercício sem alteração/elevado Adaptado de: Uptodate, 2020 16DOENÇA ARTERIAL OBSTRUTIVA PERIFÉRICA Figura 9. Radiografia AP de tíbia esquer- da mostrando calcificação da artéria poplí- tea abaixo do joelho antes de se ramificar. Fonte: Uptodate, 2020 Figura 11. Angio TC com obstrução de artéria fe- moral. Fonte: https://radiopaedia.org/cases/31978/ studies/32925?lang=us&referrer=%2Farti- cles%2Fperipheral-arterial-disease%3Flang%- 3Dus%23image_list_item_8916228 Figura 10. Arteriografia com ateromatose severa da artéria femo- ral profunda e femoral superficial proximal. Fonte: www.hci.med. br/ver-caso-clinico/67/doenca-arterial-obstrutiva-periferica 17DOENÇA ARTERIAL OBSTRUTIVA PERIFÉRICA Os principais diagnósticos diferenciais de obs- trução arterial são: trombose arterial devido aneu- risma, lesão arterial, dissecção arterial ou trombo- embolismo, Tromboangeíte obliterante e síndrome do aprisionamento da artéria poplítea. MAPA MENTAL: DIAGNÓSTICO Pressão sistólica tornozelo/ Pressão sistólica braquial DiagnósticoAnamnese e Exame físico compatíveis ITB Imagem vascular Diferencia DAOP de outras doenças vasculares; Identifica vaso acometido Arteriografia é padrão-ouro ≤ 0,90 0,91-1,3 > 1,3 DAOP Normal Vasos calcificados Teste ergométrico Normal: ITB sem alteração ou elevado após exercício Anormal: ITB reduz ≥ 20% após exercício DAOP Figura 12. Angio RM com obstrução de artéria femoral . Fonte: https://radiopa- edia.org/cases/peripheral-arterial-occlusive-disease 18DOENÇA ARTERIAL OBSTRUTIVA PERIFÉRICA 5. CLASSIFICAÇÃO Os sintomas apresentados pelos pa- cientes foram agrupados em sistemas de classificação, amplamente conhe- cidos atualmente. Os sistemas Ru- therford e Fontaine foram os mais usados por décadas: SISTEMA DE CLASSIFICAÇÃO RUTHERFORD Estágio 0 Assintomático Estágio 1 Claudicação leve Estágio 2 Claudicação moderada Estágio 3 Claudicação grave Estágio 4 Dor em repouso Estágio 5 Úlcera isquêmica Estágio 6 Úlcera isquêmica grave ou gangrena SISTEMA DE CLASSIFICAÇÃO FONTAINE Estágio 1 Assintomático Estágio 2 2a: Claudicação a distância >200m 2b: Claudicação a distância < 200m Estágio 3 Dor noturna e/ou em repouso Estágio 4 Úlcera isquêmica e/ou gangrena As lesões arteriais podem ser classi- ficadas pelo Consenso Transatlântico (TASCII - TransAtlantic Inter‐Society Consensus II), em tipos A, B, C ou D de acordo com a distribuição anatô- mica, número, natureza das lesões e taxa de sucesso no tratamento com técnicas endovasculares e cirúrgicas. CLASSIFICAÇÃO TASC II LESÕES TIPO A LESÕES TIPO B Estenose única ≤ 10cm de comprimento; Oclusão única ≤ 5cm de comprimento. Múltiplas lesões (oclusões ou estenoses) ≤ 5cm cada; Oclusão ou estenose única ≤ 15cm sem envolver artéria poplítea infragenicular;Lesões únicas ou múltiplas na ausência de vasos tibiais con- tínuos melhorando o influxo para um by-pass distal; Oclusão muito calcificada ≤ 5cm de comprimento; Estenose poplítea única. LESÕES TIPO C LESÕES TIPO D Múltiplas estenoses ou oclusões totalizando > 15cm com ou sem calcificação grave; Estenoses ou oclusões recorrentes que neces- sitam de tratamento após duas intervenções endovasculares. Oclusão total crônica da artéria femoral comum ou superfi- cial (> 20cm, envolvendo a artéria poplítea); Oclusão total crônica da artéria poplítea e vasos de trifurca- ção proximal. 19DOENÇA ARTERIAL OBSTRUTIVA PERIFÉRICA MAPA MENTAL: CLASSIFICAÇÃO Classificação Rutherford Fontaine TASC II 0 – Assintomático 1 – Claudicação leve 2 – Claudicação moderada 3 – Claudicação grave 4 – Dor em repouso 5 – Úlcera isquêmica 6 – Úlcera isquêmica grave/ gangrena 1 – Assintomático 2 – 2a: Claudicação >200m 2b: Claudicação <200m 3 – Dor noturna/ repouso 4 – Úlcera isquêmica/ gangrena A – Estenose ≤ 10cm; oclusão ≤ 5 cm B – Múltiplas lesões ≤ 5cm; oclusão/ estenose ≤ 15cm; lesão sem vaso contínuo; oclusão calcificada ≤ 5cm; estenose poplítea C – Estenoses/ oclusões > 15cm ou recorrentes D – Oclusão total crônica da a. femoral ou poplítea e vasos de trifurcação proximal 6. TRATAMENTO Uma abordagem racional do trata- mento leva em consideração a idade do paciente e as comorbidades mé- dicas, atividades e limitações diárias, gravidade dos sintomas e localização e extensão da doença. A maioria dos pacientes com diag- nóstico de claudicação deve ser tra- tada inicialmente com um regime de terapia médica já que a DAOP reflete uma doença sistêmica da ateroscle- rose. Deve incluir modificação dos fatores de risco (hiperlipidemia, hi- pertensão, hiperglicemia), prática de exercícios e terapia farmacológica. Em geral, o exercício físico deve ser 20DOENÇA ARTERIAL OBSTRUTIVA PERIFÉRICA realizado por um período mínimo de 45 a 60 minutos, pelo menos 3 ve- zes por semana, durante pelo menos 12 semanas. Durante cada sessão, um nível de exercício com intensidade suficiente para provocar claudicação deve ser alcançado. Estudos da história natural da doença mostram que a maioria dos pacientes com claudicação permanece estável, principalmente se parar de fumar. As evidências sugerem que a cessação do tabagismo e os programas de ca- minhada gradualmente progressiva podem retardar a progressão da doen- ça e melhorar os sintomas de DAOP. O uso de AAS e estatinas é reco- mendado por diversas diretrizes por reduzir a mortalidade cardio- vascular nos pacientes com DAOP. A terapia farmacológica específi- ca da claudicação visa melhorar os sintomas e aumentar a distância ca- minhada sem dor em pacientes com claudicação, principalmente se a mo- dificação dos fatores de risco e exer- cícios físicos não forem eficazes e a revascularização não puder ser ofere- cida. Para pacientes com claudicação que limita o estilo de vida, pode ser realizado um ensaio terapêutico (3 a 6 meses) de Cilostazol. HORA DA REVISÃO! O Cilostazol é um inibidor da fosfo- diesterase que suprime a agregação plaquetária e é um vasodilatador arte- rial direto. Os benefícios da terapia são observados cerca de 4 semanas após o início do uso. É usado via oral, 100mg, 2 vezes ao dia, meia hora antes ou duas horas após as refeições. Seus efeitos colaterais incluem cefaleia, diarreia, ton- tura e palpitação. A Pentoxifilina é outra droga que pode ser utilizada no tratamento dos pa- cientes com DAOP, reduzindo o sinto- ma da claudicação. Atua aumentando a deformabilidade das hemácias, au- mentando a viscosidade sanguínea e diminuindo a adesividade plaquetária. A intervenção cirúrgica é uma opção para pacientes significativamen- te incapacitados pela claudicação, naqueles refratários ao tratamen- to clínico, ou com dor em repouso, gangrenas ou úlceras. O objetivo é a retomada no fluxo sanguíneo ade- quado no membro mal perfundido. As opções incluem intervenção per- cutânea, desvio cirúrgico ou uma combinação das duas técnicas. A intervenção percutânea envolve o acesso da artéria femoral, passa- gem de um fio guia, expansão de um balão e colocação de stent. A an- gioplastia com balão possibilita uma ampliação do lúmen do vaso esteno- sado. Outra opção é a aterectomia que consiste na ressecção da placa 21DOENÇA ARTERIAL OBSTRUTIVA PERIFÉRICA de ateroma. A revascularização ci- rúrgica envolve a identificação de um vaso apropriado acima e outro abaixo da área obstruída, com sutura de um enxerto vascular (veia ou prótese- -Dacron ou PTFE) entre eles. Figura 13. Angioplastia e implante de stent no tratamento de oclusão de artéria femoral. Fonte: www.researchgate. net/figure/Figura-5-Tratamento-de-oclusao-da-arteria-femoral-superficial-com-angioplastia-e_fig5_228498983 Figura 14. Revascularização por cirurgia aberta com enxerto de veia safena, prótese de Dacron e PTFE. Fonte: Aula SANARFLIX 22DOENÇA ARTERIAL OBSTRUTIVA PERIFÉRICA SAIBA MAIS! A veia safena magna é a mais usada para realização de enxerto vascular na DAOP por ter melhor desempenho para reconstrução arterial de membros inferiores. Ela pode ser usada invertida, in situ ou translocada. As derivações extra-anatômicas consistem em procedimentos ci- rúrgicos realizados em via que não corresponde à anatomia natural. Podem ser unilaterais, quando ligam vasos ipsilaterias, por exemplo: fêmo- ro-poplítea ou ilíaca-femoral, ou cru- zadas, por exemplo: fêmoro-femoral. Figura 15. Derivações extra-anatômicas. A: fêmoro-femoral; B: axilo-bi-femoral. Fonte: http://www.medicina.ufba.br/ educacao_medica/graduacao/dep_cirurgia/sessoes/DAOP%20III%20-%20EXTRA-ANAT%D4MICOS.pdf 23DOENÇA ARTERIAL OBSTRUTIVA PERIFÉRICA MAPA MENTAL: TRATAMENTO Prática de exercícios Tratamento 45-60 min, ≥ 3 vezes/semana Intervenção Modificação dos fatores de risco Terapia farmacológica (Hiperlipidemia, hipertensão, hiperglicemia, tabagismo) Revascularização cirúrgica AAS e Estatinas Cilostazol Enxerto vascular: Veia/ prótese Balão + stent; Aterectomia Percutânea ↓ Mortalidade cardiovascular Melhora claudicação e aumenta a distância caminhada sem dor 24DOENÇA ARTERIAL OBSTRUTIVA PERIFÉRICA MAPA MENTAL: GERAL FISIOPATOLOGIA DIAGNÓSTICO TRATAMENTO CLASSIFICAÇÃO CLÍNICA FATORES DE RISCO Aterosclerose Redução do lúmen arterial Isquemia de membros Dor em MMII Úlceras Gangrena Síndrome de Leriche Membro ameaçado Claudicação Dor atípica Dor em repouso Idade avançada HAS DM DAC Dislipidemia Tabagismo Modificação dos fatores de risco Prática de exercícios AAS e Estatina Endovascular Revascularização cirúrgica Cilostazol HAS Hiperlipidemia Tabagismo Hiperglicemia Fontaine Rutherford TASC II Imagem vascular Angio TC Angio RM Arteriografia Anamnese e Exame Físico ITB ≤ 0,9 0,9-1,3 > 1,3 Teste Ergométrico ITB ↓≥ 20% DAOP DAOP 25DOENÇA ARTERIAL OBSTRUTIVA PERIFÉRICA REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BERGER, JS; DAVIES, MG. Overview of lower extremity peripheral artery disease. UpTo- Date Inc. http://www.uptodate.com (Acesso em 27 de julho de 2020). NESCHIS, DG; GOLDEN, MA. Clinical features and diagnosis of lower extremity peri- pheral artery disease. UpToDate Inc. http://www.uptodate.com (Acesso em 27 de julho de 2020). CHUNG, JE. Advanced vascular imaging for lower extremity peropheral artery disease. UpToDate Inc. http://www.uptodate.com (Acesso em 27 de julho de 2020). DAVIES, MG. Management of claudication due to peripheral artery disease. UpToDate Inc. http://www.uptodate.com (Acesso em 27 de julho de 2020). HAYWARD, RA. Screening for lower extremity peripheral artery disease. UpToDate Inc. http://www.uptodate.com (Acesso em 27 de julho de 2020). MILLS, JL. Classification of acute and chronic lower extremity ischemia. UpToDate Inc. http://www.uptodate.com (Acesso em 27 de julho de 2020). DÁYALA, MD; EIDT, JF. Lower extremity surgical by-passtechniques. UpToDate Inc. http:// www.uptodate.com (Acesso em 27 de julho de 2020). Townsend CM ET al. Sabiston, Tratado de Cirurgia. 18. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010. 26DOENÇA ARTERIAL OBSTRUTIVA PERIFÉRICA
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