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1 2 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 4 2 TEORIA PIAGETIANA ................................................................................ 5 2.1 Os estágios do desenvolvimento cognitivo segundo piaget ................. 8 3 PROCESSOS DE DESENVOLVIMENTO ................................................. 21 4 DESENVOLVIMENTO INFANTIL ............................................................. 23 4.1 A importância do brincar na educação infantil pré-escolar ................. 25 4.2 O ensino-aprendizagem através do brincar na pré-escola ................. 27 4.3 Importância do brinquedo na primeira infância ................................... 30 4.4 O brinquedo, a brincadeira e o jogo ................................................... 31 4.5 Características psicológicas do desenvolvimento .............................. 32 4.6 Desenvolvimento afetivo, visual, tátil, auditivo e motor ...................... 32 4.7 Atividade objetal manipulatória ........................................................... 33 4.8 Aparecimento de novos tipos de atividades na primeira infância ....... 37 4.9 Desenvolvimento da percepção e das noções sobre as propriedades dos objetos 38 5 FUNDAMENTOS DA TEORIA PIAGETIANA ............................................ 38 5.1 A importância de se definir os períodos de desenvolvimento da inteligência 41 5.2 Piaget e o desenvolvimento da inteligência ........................................ 41 5.3 Conceitos fundamentais no desenvolvimento da inteligência ............ 42 6 A LINGUAGEM E O PENSAMENTO DA CRIANÇA ................................. 43 7 A TEORIA DE VYGOTSKY ....................................................................... 46 8 A TEORIA DE WALLON ........................................................................... 47 8.1 Estágios de desenvolvimento da teoria de wallon .............................. 48 9 PONTOS DIVERGENTES ENTRE JEAN PIAGET, LEV VYGOTSKY E HENRI WALLON ....................................................................................................... 49 3 10 O DESENVOLVIMENTO DA ADOLESCENCIA NA TEORIA DE PIAGET 50 10.1 O que é adolescência ......................................................................... 53 11 O DESENVOVLIMENTO COGNITIVO PIAGETIANO ........................... 55 12 A AFETIVIDADE E A COGNIÇÃO NA TEORIA PIAGETIANA .............. 56 12.1 Características da afetividade na adolescência ................................. 58 12.2 Pertencimento/descentração .............................................................. 59 12.3 Praxeologia e/ou economia de conduta ............................................. 59 12.4 Valor ................................................................................................... 60 12.5 O período operatório formal ............................................................... 61 12.6 Desenvolvimento psicossexual, psicossocial e cognitivo na adolescência .......................................................................................................... 68 12.7 Desenvolvimento psicossexual .......................................................... 69 12.8 Desenvolvimento emocional e social.................................................. 72 13 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................... 76 14 BIBLIOGRAFIA ...................................................................................... 81 4 1 INTRODUÇÃO Prezado aluno! O Grupo Educacional FAVENI , esclarece que o material virtual é semelhante ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil. Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que lhe convier para isso. A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser seguida e prazos definidos para as atividades. Bons estudos! 5 2 TEORIA PIAGETIANA Sua teoria tem como objetivo central a necessidade de estudar a gênese dos processos mentais, ou seja, como esses processos são construídos ao longo da vida do indivíduo. O conhecimento resultaria de interações que produzem entre o sujeito e o objeto. A troca inicial entre sujeito e objeto se daria a partir da ação do sujeito. Nossa exposição, juntamente com argumentos de diversos pensadores deixa visível que as teorias de Piaget tiveram grande repercussão e ainda são de muita influência para a sociedade. Inúmeras biografias de Piaget foram escritas e estão disponíveis nas bibliotecas e na Internet. Sendo assim, a tese fundamental do pensamento piagetiano é que somente uma visão desenvolvimentista e articulada do conhecimento, quer dizer, não calcada em estruturas pré-formadas, sejam racionalistas, focadas na anterioridade do sujeito, sejam empiristas, focadas no objeto, podem prover uma resposta a problemas que, tradicionalmente, são evitados pela filosofia de caráter meramente especulativo. Destacando a proposta de Piaget que é entender como a criança constrói conhecimentos para que as atividades de ensino sejam apropriadas aos níveis de desenvolvimento das crianças. Por isso ele estruturou seu modelo de desenvolvimento. O desenvolvimento é caracterizado por um processo de sucessivas equilibrações. O desenvolvimento psíquico começa quando nascemos e segue até a maturidade, sendo comparável ao crescimento orgânico; como este, orienta-se, essencialmente, para o equilíbrio. (PIAGET, 1974, apud Rafaela de oliveira, Cryslânia Géssica, Deribaldo José, Rodrigues Janete). Segundo Piaget o sujeito epistêmico expressa aspectos presentes em todas as pessoas, suas características conferem a todos nós a possibilidade de construir conhecimentos, desde o aprendizado mais simples até os mais elevados níveis de conhecimento. O conceito de sujeito epistêmico começou a tomar forma quando Piaget iniciou seus estudos sobre o processo de construção de conhecimentos de matemática e física na criança pequena. Ele é considerado o inaugurador da epistemologia genética. 6 As ideias do alemão Immanuel Kant (1724) -(1804), exerceram grande influência na obra de Piaget, Kant foi um dos primeiros a sugerir que o conhecimento vem da interação do sujeito com o meio, ao trabalhar com as concepções de Kant, Piaget concordou com a ideia da interação sujeito/meio, porém, foi mais além, afirmou que o desenvolvimento das estruturas mentais inicia- se no nascimento, quando o indivíduo começa o processo de troca com o universo ao seu redor. A Epistemologia é uma das principais contribuições ao entendimento de como o ser humano se desenvolve. Ela é baseada na inteligência e na construção do conhecimento e visa mostrar não só como os indivíduos, sozinhos ou em conjunto, constroem conhecimentos, mas também por quais processos e por que etapas eles conseguem fazer isso. Sendo assim, destaca que a Epistemologia tem como objetivo explicar a continuidade entre processos biológicos e cognitivos, sem tentar reduzir os últimos aos primeiros, o que justifica,e ao mesmo tempo delimita, a especificidade de sua pesquisa epistemológica: o termo genético. (...) convém lembrar que Piaget se propôs a estudar o processo de desenvolvimento do pensamento e não a aprendizagem em si. Ele observa a aprendizagem infantil não com o intuito de diferenciá-la do desenvolvimento, mas para obter uma resposta a questão fundamental (de ordem epistemológica) que se refere a natureza da inteligência, qual seja: como se constrói o conhecimento? (...) Ele trabalha com o sujeito epistêmico que, mesmo não correspondendo a ninguém em particular, sintetiza as possibilidades de cada indivíduo e de todos ao mesmo tempo. Na perspectiva piagetiana, o outro polo desta relação, ou seja, o objeto do conhecimento refere-se ao meio genérico que engloba tanto os aspectos físicos como os sociais. (PALANGANA, 2001 apud, Rafaela de oliveira, Cryslânia Géssica, Deribaldo José, Rodrigues Janete). O autor se preocupa em como o conhecimento surge no ser humano, inclusive das mesmas raízes do conhecimento mais elementar, as quais não se absolutizam em um conhecimento primeiro, como, aliás, adverte o próprio Piaget logo na introdução: a grande lição contida no estudo da gênese ou das gêneses é, pelo contrário, mostrar que não existem jamais conhecimentos absolutos. Segundo Piaget, o conhecimento não pode ser concebido como algo predeterminado desde o nascimento (inatismo), nem como resultado do simples registro de percepções e informações (empirismo): o conhecimento resulta das ações e interações do sujeito no ambiente em que vive. 7 Todo conhecimento é uma construção que vai sendo elaborada desde a infância, por meio de interações do sujeito com os objetos que procura conhecer, sejam eles do mundo físico ou do mundo cultural. O conhecimento resulta de uma inter-relação do sujeito que conhece com objeto a ser conhecido. (MOREIRA, 1999). A relação desenvolvimento e aprendizagem antes de ser de cunho psicológico são de natureza essencialmente epistemológica, sabe-se que todo conhecimento implica necessariamente uma relação entre dois polos, ou seja, o sujeito que busca conhecer e o objeto a ser conhecido. As concepções psicológicas que valorizam os processos de desenvolvimento em detrimento da aprendizagem estão automaticamente priorizando o sujeito, o endógeno, a organização interna inerente ao sujeito; diminuindo assim o papel ou a importância do objeto do meio físico e social, do exterior, da experiência. Esta situação obviamente se inverte quando o polo privilegiado passa a ser a aprendizagem. Piaget acredita que a aprendizagem subordina-se ao desenvolvimento e tem pouco impacto sobre ele, com isso ele minimiza o papel da interação social. O modelo teórico proposto por Piaget pode ser qualificado em princípio de interacionista. Ele acredita que o conhecimento não é imanente nem ao sujeito nem ao objeto, sendo isto sim construído na interação entre dois polos. Contudo, na medida em que Piaget defende a tese segundo a qual o processo de construção de conhecimento é desencadeado pela ação do sujeito através de seus mecanismos de adaptação e organização, ele está incorporando postulados próprios do inatismo. Segundo Piaget a inteligência é a solução de um problema novo para o indivíduo, sendo uma coordenação dos meios para atingir certo fim, o qual não é acessível de maneira imediata; daí o método genético, essencialmente retrospectivo. Já o pensamento é a inteligência interiorizada e se apoiando não mais sobre a ação direta, mas sobre um simbolismo, sobre a evocação simbólica pela linguagem, pelas imagens mentais. A interação do sujeito com o ambiente permite que esse indivíduo organize os significados em estruturas cognitivas. Nesse contexto, a maturação do organismo contribui de forma decisiva para que apareçam novas estruturas mentais que proporcionem a adaptação cada vez melhor ao ambiente. 8 2.1 Os estágios do desenvolvimento cognitivo segundo piaget A contribuição de maior extensão da teoria piagetiana é a compreensão dos estágios do desenvolvimento cognitivo. Piaget demonstra as estruturas de conjunto que caracterizam cada estágio. Cada estágio corresponderá um tipo de estrutura cognitiva, que possibilitará diferentes formas de interação com o meio. Assim, o homem aprende o mundo de maneira diversa a cada momento de seu desenvolvimento. São as diferentes estruturas cognitivas que permitem prever o que se pode conhecer naquele momento de evolução. Os sujeitos vão evoluindo, de um estado de total desconhecimento do mundo que o cerca, até o desenvolvimento da capacidade de conhecer o que ultrapassa os limites do que está a sua volta. O indivíduo tende a um equilíbrio que está relacionado a um comportamento adaptativo em relação à natureza, que por sua vez sugere um sujeito de características biológicas inegáveis, as quais são fonte de construção da inteligência. O desenvolvimento psíquico começa quando nascemos e segue até a maturidade, sendo comparável ao crescimento orgânico. O conhecimento, apesar de ser rotineiro é caracterizado por determinadas formas de pensar e agir em diferentes idades, formas que Piaget classificou como estágios e refletem os diferentes modos da criança pensar ao longo da sua vida. Por aceitar que os fatores internos preponderem sobre os externos, postula que o desenvolvimento segue uma sequência fixa e universal de estágios, que são eles: A inteligência sensório-motor; A representação pré-operatório; Operatório concreto; Operatório formal; O que marca cada um desses estágios é o fato deles possuírem características próprias, onde o primeiro é uma preparação para o surgimento do próximo e a transição entre eles não é abrupta. Em busca de uma explicação para o processo cognitivo humano, Piaget, juntamente com diversos colaboradores, realizou novas pesquisas, nas décadas de 60 e 70. 9 De acordo com sua visão, ao entendermos a forma como a criança conhece, nós abrimos a possibilidade de compreendermos como todos os outros conhecimentos são adquiridos. Nas pesquisas, ele aprofunda a investigação da atividade cognitiva no campo da causalidade por ser este mais controlável que o da cultura, o da moral e o da afetividade. O homem é um ser localizado no tempo e no espaço e sua existência exige que tenha uma participação ativa no meio em que vive. Na medida que interage com seu mundo, transformando-o, ele próprio sofre transformações segundo as leis da natureza e as sociais. Sendo assim, podemos afirmar que ao organizar o mundo, o indivíduo também se auto organiza e constrói seu conhecimento. Piaget procura demonstrar que na construção do conhecimento infantil a experiência através da ação é fundamental, porém, esta experiência não dispensa relações de natureza lógico-matemática, ou seja, relações em que há coerência lógica e quantificação. O desenvolvimento cognitivo do sujeito está dividido em dois planos. O primeiro, sensório-motor, forma-se nos primeiros anos da criança e ocorre durante toda sua vida. E o segundo, representativo, inicia-se a partir do primeiro e se desenvolve paralelo a ele desde os sete anos. É a interação entre estes dois planos que possibilitará a sistematização do conhecimento. Piaget tem como objetivo acompanhar, o desenvolvimento do conhecimento físico na criança desde seus primeiros meses até a fase operatória própria do pré- adolescente. A primeira é relativa ao plano sensório-motor que, por sua vez, se subdivide em atividade sensório-motora, predominante nas crianças até dezoito meses, e atividade perceptiva, constante na vida do indivíduo de forma mais ou menos intensa. A segunda parte analisa o sistema operatório, próprio do plano representativo, que determina a possibilidade do ser humano, ao compreender o mundo em que vive, comunicar-se e interagir com ele. Sensório-motor (0-24 meses):Esse período inicia com um egocentrismo inconsciente e integral, até que os progressos da inteligência sensório-motora levem à construção de um universo objetivo, onde o bebê irá explorar seu próprio corpo, conhecer os seus vários componentes, sentir emoções, estimular o ambiente social e ser por ele estimulado, 10 dessa forma irá desenvolver a base do seu autoconceito. A criança está trabalhando ativamente no sentido de formar uma noção de eu. Depois a criança inicia alguns reflexos que pelo exercício, se transformam em esquemas sensoriais- motores. Pré-operacional (2-7 anos): Nesse período, a partir da linguagem a criança inicia a capacidade de representar uma coisa por outra, ou seja, formar esquemas simbólicos. No momento da aparição da linguagem, a criança se acha às voltas, não apenas com o universo físico como antes, mas com dois mundos novos: o mundo social e o das representações interiores. Durante esse período a criança continua bastante egocêntrica, devido à ausência de esquemas conceituais e de lógica, a criança mistura a realidade com fantasia, tornando um pensamento lúdico. O egocentrismo é caracterizado como uma visão da realidade que parte do próprio eu, isto é, a criança se confunde com objetos e pessoas. Nessa fase a criança desenvolve noções a respeito de objetos que serão utilizados na próxima fase, para formar, a criança está sujeita a vários erros. Operacional-concreto (7-12 anos): Esse período se destaca como o declínio do egocentrismo intelectual e o crescimento do pensamento lógico, pois é nessa idade que a criança inicia na escola. É nesse período que a realidade passa a ser estruturada pela razão. A criança terá um conhecimento real, correto e adequado de objetos e situações da realidade. A criança agora pensa antes de agir, ou seja, ela consegue solucionar mentalmente um problema. A operação que antes levava alguns minutos, agora é resolvida rapidamente. Operacional-formal (12 anos em diante): A presença do objeto vai sendo gradativamente substituído por hipóteses e deduções, o objeto é reconstruído internamente em todas as suas propriedades físicas e lógicas. A criança passa a operar com a imaginação e o pensamento formal, e seu pensamento assume um caráter hipotético-dedutivo. Essa fase envolve crianças, pré-adolescentes e adolescentes. Uma das características mais importantes desse período é o pensamento é a mobilidade/flexibilidade. Conhecimento sensório motor A - Plano sensório-motor: - Inteligência sensório-motora 11 Este período é anterior à linguagem e assim é denominado devido à ausência da função simbólica que, consequentemente, impossibilita a criança elaborar pensamentos ou mesmo vincular afetividade às representações que lembrem pessoas ou objetos ausentes. O desenvolvimento mental neste período é muito rápido e importante, porque é nele que se forma um conjunto de subestruturas cognitivas que será o ponto de partida das futuras construções perceptivas e intelectuais, como também de todo o campo da afetividade. O processo mental desta fase, denominado de inteligência sensório motora, é basicamente prático; busca soluções para alguns problemas da ação. Apoia-se exclusivamente em percepções e movimentos através de uma coordenação sensório- motora, já que não há, ainda, uma elaboração simbólica. À medida que a inteligência sensório-motora vai ultrapassando seus limites, também vai construindo um sistema complexo de esquemas de assimilação e de organização do real de acordo com um conjunto de estruturas espaço temporais e causais. O mecanismo responsável, segundo Piaget, por essa progressão contínua dos movimentos espontâneos (reflexos), que vão desenvolver os hábitos adquiridos e depois a inteligência, consiste de uma assimilação: (comparável à assimilação biológica em sentido lato), a atividade organizadora do sujeito deve ser, então, considerada tão importante quanto as ligações inerentes aos estímulos exteriores, pois o sujeito só se toma sensível a estes últimos na medida em que são assimiláveis às estruturas já construídas que eles modificarão e enriquecerão em função das novas assimilações. (PIAGET & INHELDER, 1994 apud Ribeiro Sônia; 1999). A inteligência sensório-motora, através de seu próprio funcionamento, propícia a organização do real ao construir as grandes categorias da ação: os esquemas do objeto permanente, do espaço e do tempo, e da causalidade. Estas categorias são as subestruturas das futuras noções correspondentes. Elas não são princípios universais independentes do homem. Ao contrário, elas estão totalmente centradas na ação e no corpo do sujeito, num egocentrismo inconsciente. Por objeto permanente, Piaget quer dizer que o objeto permanece existindo desde que sua localização seja percebida pelo sujeito. Ou seja, a construção do esquema do objeto permanente está interligada a organização espaciotemporal do universo prático como também com a estruturação causal. 12 Quanto ao espaço e o tempo, no início da existência do indivíduo, o primeiro é percebido como uma ação do próprio corpo de forma heterogênea (espaço bucal, tátil, visual, auditivo, de postura); assim como o tempo está ligado a impressões também sentidas pelo corpo (expectação, etc.). Portanto, não há coordenação objetiva até este ponto. Progressivamente os espaços vão se organizando (ex. bucal e tátil-cinestésico), de forma parcial e durante longo tempo enquanto a construção do esquema do objeto permanente não propiciar a distinção fundamental entre mudanças de estado (ou modificações físicas) e mudanças de posição (ou deslocamentos constitutivos do espaço). O esquema do objeto permanente também está interligado a uma estrutura causal já que o objeto é, ou origem, ou sede, ou resultado de ações cujas relações formam a categoria da causalidade. A causalidade, na fase inicial, é caracterizada como mágico-fenomenista: "fenomenista, porque qualquer coisa pode produzir qualquer coisa segundo as ligações anteriormente observadas. E 'mágica', porque está centrada na ação do sujeito sem considerar os contatos espaciais." (PIAGET & INHELDER, 1994, apud; Ribeiro Sônia; 1999). Contudo, no decorrer do desenvolvimento da inteligência sensório motora, as grandes categorias da causalidade, espaço e tempo, vão incorporando: ( ... ) à medida que o universo é estruturado pela inteligência sensório-motora, segundo uma organização espaço-temporal e pela constituição de objetos permanentes, a causalidade se objetiva e espacializa, o que quer dizer que as causas reconhecidas pelo sujeito já não estão situadas unicamente na ação própria, senão em objetos quaisquer e as relações de causa e efeito entre dois objetos ou suas ações supõem um contato tisico e espacial. (PIAGET & INHELDER, 1994). O esquema sensório-motor está presente nas três fases de desenvolvimento das formas de evolução cognitiva: Nas formas iniciais que são constituídas por estruturas de ritmos; Nas formas posteriores que são constituídas por regulações diversas que dependem de esquemas múltiplos; E por fim, nas formas mais desenvolvidas que abarcam um princípio de reversibilidade, origem das futuras 'operações' do pensamento, mas já presentes no nível sensório-motor. 13 B- Percepção e atividade perceptiva Como foi visto acima, as estruturas sensório-motoras constituem a origem das operações posteriores do pensamento. “ (...) a inteligência tem origem na ação na medida em que transfoma os objetos e o real, e que o conhecimento, cuja formação pode seguir-se na criança, é essencialmente assimilação ativa e operatória" (PIAGET & INHELDER, 1994). A atividade perceptiva é um caso particular das atividades sensório motoras e sua particularidade está no fato dela (percepção) depender do aspecto figurativo do conhecimento do real, enquanto que a ação (sensório-motora) é fundamentalmenteoperatória e transformadora do real. Embora a dificuldade de se estudar a percepção nos primeiros meses de vida de uma criança seja real, duas questões próprias da percepção já podem ser relacionadas com as reações sensório-motoras do primeiro ano: 1° - A das constâncias: da forma e da grandeza e; 2° - A da causalidade perceptiva. A constância da forma é a percepção que se tem da forma habitual de um objeto independente de seu próprio aspecto. Durante a fase de formação desta constante, entretanto, o esquema sensório-motor está interligado, pois a criança procura pela forma conhecida do objeto manuseando-o. E a constância da grandeza trata-se da percepção da grandeza real de um objeto independente da distância que possa tomá-lo menor ou maior. Essa constância que se desenvolve a partir do quinto mês, deve-se a uma percepção visual, mas também tátil cinestésica decorrente do toque constante que permite a coordenação entre visão e preensão. Michotte buscou explicações para a interpretação da causalidade sensório- motora na causalidade perceptiva, que para ele é anterior à sensório-motora. Porém, segundo Piaget, a causalidade sensório-motora, no nível inicial, é mágico- fenomenista, e, portanto, não sujeita a uma perspectiva espacial necessária a uma explicação de causalidade baseada na percepção. Piaget, em sua obra La transmission des mouviments; études d’ epistémologie genetique XXVII, afirma que a causalidade perceptiva visual é precedida geneticamente por uma causalidade perceptiva de natureza tátil cinestésica 14 (movimento de mão ou pé ao deslocar algo) que corresponde a uma experiência muito precoce. A composição perceptiva pode se exprimir por um jogo de compensações semelhante àquelas que garantem uma estimativa de grandeza real e constante de um objeto por uma composição de sua grandeza aparente com a distância. Trata-se de uma compensação aproximada, mas relevante, de regulações perceptivas e não de operações intelectuais. É preciso lembrar que as regulações em Jogo podem resultar de atividades perceptivas ligadas aos movimentos oculares: A percepção de um movimento supõe um transporte visual do móvel de uma determinada posição para a seguinte; e, A frenagem do movimento ocular é que dá ideia de resistência. Quatro são as variáveis da causalidade perceptiva de natureza tátil- cinestésica: Movimento de parte do próprio corpo; Pressão que exerce o corpo sobre o objeto; Movimento adquirido pelo objeto; A resistência diretamente sentida em oposição ao impulso É a compensação entre os dois primeiros fatores e os dois últimos que dá a impressão de uma transmissão de movimentos com a equivalência entre o que é feito e despendido pelo sujeito e o que é feito e ganho pelo objeto. Com a causalidade perceptiva visual ocorre o mesmo: as propriedades tátil-cinestésica são traduzidas em seus correspondentes visuais atribuídas aos objetos de forma visual. O transporte ocular representa um papel significativo na causalidade perceptiva visual paralelamente à dinâmica da ação e da motricidade do sujeito na causalidade tátil-cinestésica. O transporte ocular parece indispensável para explicar aquilo que o sujeito "vê" ou percebe visualmente nos objetos, e fornece essa síntese da conservação e da produção na qual consiste toda causalidade tanto representativa como perceptiva. 15 Então, duas hipóteses são possíveis a respeito da assimilação dos dados visuais: 1° - O dado visual é percebido por assimilação com as atividades perceptivas do sujeito, ou melhor, há uma identificação do móvel com o próprio movimento da atenção, o que permite reparar no movimento do móvel em relação ao fundo. 2° - Os dados visuais, que estão reunidos em uma interação indissociável entre as atividades do sujeito e as características dos objetos, são assimilados sem cessar aos esquemas inter-sensoriais (plurisensoriais) pois as figuras percebidas não são planas, mas objetos sólidos e substanciais (como o são quase todos os objetos de nossa percepção), que podem corresponder às impressões tátil - cenestésicas tão bem quanto as visuais. Duas espécies de fenômenos perceptivos visuais podem ser diferenciados a partir dos 4-5 até 12-15 anos (crianças que já podem ser submetidas a I experiências de laboratório). A primeira espécie refere-se aos efeitos de campo ou de centração que não supõem nenhum movimento do olhar e são visíveis num único foco da visão. A segunda espécie trata "das atividades perceptivas que supõem deslocamento do olhar no espaço ou comparações no tempo, orientadas (ambas) por uma busca ativa do sujeito: exploração, transporte (do que é visto em X para o que é visto em Y) no espaço ou no tempo, transposição de um. Conjunto de relações, antecipações, estabelecimento de referências das direções, etc." (PIAGET & INHELDER, 1994). Segundo Piaget, enquanto as atividades perceptivas desenvolvem com a idade, tanto com relação à capacidade de perceber mais como de perceber melhor, os efeitos de campo tendem a permanecer qualitativamente os mesmos em todas as idades, apesar de novos efeitos poderem formar-se através das atividades perceptivas. A percepção não pode ser considerada precisa porque, sendo fruto de uma ação imediata, sua característica é a de probabilidade. Além do mais, quando algum campo é fixado, uma ideia geral é formada, mas os detalhes não são vistos com a mesma precisão e nem ao mesmo tempo. Isto porque os órgãos receptores da imagem agem aleatoriamente no primeiro momento, criando prováveis deformações sistemáticas que permanecerão durante a vida do indivíduo, embora possam ser diminuídas de intensidade ou número de erros 16 com o desenvolvimento das atividades perceptivas nas quais exista um certo grau de controle. Portanto, ao contrário dos efeitos de campo que permanecem quase que constantes durante toda uma vida, as atividades perceptivas vão se desenvolvendo progressivamente até que os processos operatórios se constituam com suas funções orientadoras. Este é o caso da exploração das configurações por deslocamento mais ou menos sistemático do olhar e de seus pontos de fixação (centrações). De modo geral, as crianças se comportam como se a visão fosse diferente (sincretismo), apesar de partirem de centrações bem evidentes. Já os adultos, através de estratégias de exploração ou "um jogo de decisões tal que os pontos de centração apresentam o máximo de informação e o mínimo de perdas"(PIAGET & INHELDER, 1994), apresentam uma atividade perceptiva mais elaborada e, muitas vezes, mais precisa. Podemos ilustrar esta diferença citando a experiência de G. Meili-Dworetski, que utilizou uma figura em que se podia visualizar ora um rosto, ora uma tesoura. Para os adultos tal distinção ficou clara e evidente; já para algumas crianças era uma tesoura atirada no rosto de um homem. Porém, existem casos que o erro é acentuado com a idade. É o caso das verticais que são consideradas mais longas que as horizontais do mesmo comprimento, porque as centrações são fixadas no meio das horizontais e na extremidade superior das verticais, graças aos movimentos oculares. A exploração através de exercícios da atividade perceptiva ajuda em muito reduzir o erro, principalmente a partir dos sete anos, quando o "sincretismo", as crenças fantasiosas, são substituídas lentamente por movimentos oculares melhor direcionados e "sobretudo, em que se constituem as primeiras operações lógico- matemáticas, isto é, em que a atividade perceptiva pode ser dirigida por uma inteligência." (PIAGET & INHELDER, 1994). É claro que esta operação não vem substituir a percepção, mas vem auxiliar na seleção das informações perceptivas que mais ênfase devem receber. Segundo Piaget, apenas o desenvolvimento da percepção não é suficiente para explicar a inteligência nem mesmo as noções decorrentesda compreensão. É necessário também uma estruturação que proceda da ação e das próprias operações mentais e que forneça conteúdo às noções. (...) a percepção só fornece, com efeito, instantâneos correspondentes a este ou àquele ponto de vista, que é o do sujeito no momento considerado, ao passo que a noção supõe a coordenação de todos os pontos de vista e a 17 compreensão das transformações que conduzem de um ponto de vista a outro." (PIAGET & INHELDER, 1994 apud, Ribeiro Sônia; 1999). As estruturas perceptivas são basicamente não aditivas e irreversíveis devido a sua composição probabilística, embora as atividades perceptivas intervenham com algumas regulações. Já as operações, graças a suas estruturas de conjunto, são aditivas e essencialmente reversíveis. Portanto, o sistema operatório é imprescindível, pois esta (...) dualidade fundamental de orientação, [é importante] tanto do ponto de vista genético quanto do ponto de vista dos seus destinos na história do pensamento científico" (PIAGET & INHELDER, 1994). As operações e a causalidade: Plano representativo É no plano representativo que as transformações do real ocorrem através de ações interiorizadas e agrupadas em sistemas coerentes e reversíveis. O surgimento deste segundo plano exige a superação de dois obstáculos cuja solução dependerá de um aparato cognitivo adquirido a partir dos 7 anos. O primeiro trata-se da capacidade de representar simbolicamente, através de mapa, maquete, planos, etc., uma ação normalmente desempenhada no dia-a-dia. E o segundo é o estado de descentração da ação do próprio corpo que posteriormente permitirá a descentração da representação do indivíduo, colocando-o diante de um universo muito mais extenso e complexo. As operações são ações interiorizáveis, reversíveis e coordenadas em sistemas, próprias de todos os indivíduos com o mesmo nível mental e adequadas à toda função cognitiva. Por reversibilidade das operações, Piaget quer dizer que elas processam transformações reversíveis, seja por inversões (A - A =O) ou reciprocidade (A corresponde a B e B corresponde a A). A transformação operatória é sempre relativa a uma invariante, caso contrário ela não seria reversível (não teria como retomar). Esta invariante de um sistema de transformações denomina-se "noção" ou "esquema de conservação". O fator indicador de um nível pré-operatório, em crianças abaixo de 7 anos, é a ausência de noções de conservação. 18 Ex. da dissolução do açúcar na água: Elas, primeiro, se prendem aos estados e configurações aparentes da mudança, mas não levam em conta como as transformações ocorreram; as explicações são mágico-fenomênicas. Segundo, as crianças não concebem as transformações como tal, ou melhor, como uma passagem reversível de um estado para outro que modifica as formas, mas não a quantidade. As transformações são tidas como uma ação própria não semelhante a qualquer outra dedutível de aplicação exterior. No entanto, a partir dos 7 anos, quando a criança começa a operar concretamente, sua compreensão abarca identificação, adição, reversibilidade e compensação. “ (...) os estados, daqui por diante, subordinam-se às transformações e estas, descentradas da ação própria para se tomarem reversíveis, explicam, ao mesmo tempo, as modificações em suas variações compensadas e a invariante implicada pela reversibilidade" (PIAGET & INHELDER, 1994 Ribeiro Sônia 1999). Seja qual for a experiência com crianças (dissolução do açúcar em água, deformações de bolinhas de argila, conservação das substâncias, do peso ou do volume, etc.), no nível pré-operatório as reações estão centradas, ao mesmo tempo, em configurações perceptivas ou acompanhadas de imagens. Enquanto que no nível operatório, as reações estão fundamentadas sobre a identidade e a reversibilidade por inversão ou reciprocidade. As operações concretas são assim definidas porque se baseiam nos objetos diretamente. Elas estabelecem a transição entre a ação e as estruturas lógico matemáticas que, por sua vez, implica uma combinatória; e formam uma estrutura de grupo que coordena as formas possíveis de reversibilidade (inversão ou reciprocidade). As operações também coordenam estruturas de conjuntos (agrupamentos) como classificações, seriações, etc., que têm como característica peculiar a constituição de encadeamentos progressivos que comportam composições de operações diretas, inversas, idênticas, tautológicas e parcialmente associativas. A causalidade é uma das atividades estruturadas do sistema operatório na busca de assimilação do real. As crianças estão sempre perguntando o porquê das coisas. Inicialmente, até 7 anos, como ainda não possuem um processo operatório propriamente dito (e sim 19 pré-operatório), suas explicações causais são, na verdade, pré-causais. Manifestam- se como "realismo", na medida que não distinguem o psíquico do físico; e como "animismo", ou seja, tudo que está em movimento é vivo e consciente. A pré-causalidade no plano sensório-motor é "mágico-fenomenista"; mas assim que os processos operatórios, enquanto coordenações gerais das ações, vão se consolidando, a pré-causalidade vai dando lugar a uma causalidade racional e objetiva. Bom exemplo dessa causalidade operatória é o do atomismo infantil como derivante das operações aditivas e da conservação que delas decorre. A propósito de experiências de conservação, interrogamos, outrora, crianças de 5-12 anos sobre o que se passa após a dissolução de pedaços de açúcar num copo d'água (J. Piaget e B. Inhelder, Le développement des quantités physiques chez I 'enfant, 1962). Até 7 anos, mais ou menos, o açúcar dissolvido se destrói e o seu gosto se dissipa como simples cheiro; a partir dos 7-8 anos a sua substância se conserva, mas não se lhes conservam o peso nem o volume; a partir dos 9-10 anos, acrescenta-se lhe a conservação do peso e, a partir dos 11-12 anos, a do volume (que se reconhece pelo fato de que o nível da água, um pouco aumentado quando se opera a imersão dos torrões de açúcar, não volta ao nível inicial após a dissolução)." (PIAGET & INHELDER, 1994). Conclusão: todo progresso na constituição das invariantes ou do atomismo, segundo Piaget, é resultante, primeiro, de uma experiência ou, segundo, de uma dedução a priori ou, terceiro, da construção que une esses termos. Então, para compreender o conjunto dos mecanismos da conservação é preciso separar o sentido das relações estabelecidas pela criança entre a experiência e o raciocínio. Na verdade, a construção das invariantes não se deve apenas à experiência, nem ao raciocínio puro, mas aos dois ao mesmo tempo e de forma complexa. A experiência proveniente dos sentidos é evidente na fOffi1ação dos princípios de conservação e do atomismo: o sabor do açúcar ou observação do nível d'água com a imersão do açúcar. Porém, a experiência não é suficiente para conduzir a uma conservação rigorosa, a uma transitividade operatória, ou ao atomismo de composição. São necessários fatores dedutivos para estruturar e completar os dados perceptíveis. 20 Então, em primeiro lugar, é possível dizer que um sentimento de necessidade a priori aparece para contrastar em tudo com o fenomenismo da não conservação e com as hesitações das fases intermediárias. Em segundo lugar, a própria quantificação é produto de uma dedução segura de si mesma. A quantificação não é uma característica que se acrescente a princípios de permanência já estabelecidos antes dela; a quantificação é a própria expressão dos métodos de composição que conduzem a essa conservação. E, em terceiro lugar, acreditar que as noções da invariância da substância, do peso e do volume (como qualquer outro fenômeno físico) são resultantes dos dados da experiência, é afirmar simplesmente que esses fatos podem servir de material para uma elaboração esquemática.Mas isto só é possível através de uma construção dedutiva que modele os dados e os complete, assimilando-os a um sistema de operações coerentes. Para a conservação, tal como para o atomismo, supõe-se uma colaboração íntima entre a experiência e a dedução. Na medida que a dedução toma-se possível sobre um ponto (a invariante substancial), a indução experimental aparece nos outros, como no caso do peso e do volume, até o momento em que o sistema inteiro se toma dedutivo e se fecha sobre si mesmo. O raciocínio repousa sobre a construção de um sistema de relações comuns à indução e à dedução. Enquanto a composição indutiva constrói aos poucos, as operações dedutivas reúnem as relações num todo. À medida que se diferenciam os procedimentos operatórios do pensamento e os dados não deformados pelo eu da própria experiência, segue-se, ao mesmo tempo, uma dedução necessária e uma indução exata. Contudo, é preciso compreender que a história das trocas entre a dedução e a experiência supõe um direcionamento que vai do fenomenismo inconscientemente centrado no eu à construção de um "grupo" de operações físicas exteriores ao eu egocêntrico. No início deste processo não há qualquer coordenação objetiva possível, pois, o sistema de referência neste caso é constituído pelo egocentrismo das relações percebidas. Porém, o estado final caracteriza-se por uma coordenação, ao mesmo tempo, lógico-matemática e experimental; ou seja, o sistema no estágio final está 21 descentralizado em proveito de uma composição geral que integra a atividade própria deste sistema ao universo de transformações reversíveis. Não há nada no conteúdo dos agrupamentos que tenha sua origem na própria experiência: as relações de volume, peso e de quantidade de substância, as imagens do átomo-grão, as transformações por seccionamento, deslocamento, compressões, são todas impostas pelos fatos a priori como tais. 3 PROCESSOS DE DESENVOLVIMENTO Para Piaget quando uma pessoa entra em contato com o novo conhecimento, há naquele momento um desequilíbrio e surge a necessidade de voltar ao equilíbrio. O processo começa com a assimilação do elemento novo, com a incorporação as estruturas já esquematizadas através da interação. Há mudanças no sujeito e tem início o processo de acomodação, que aos poucos chega à organização interna, começa a adaptação externa do sujeito e a internalização já acontece; um novo desequilíbrio volta a acontecer e pode ser provocada por carência, curiosidade, dúvida, dentre outros. O movimento é dialético (do movimento constante) e o domínio afetivo acompanha sempre o cognitivo (habilidades intelectuais), um processo endógeno. Piaget trabalhou o desenvolvimento humano definindo-os como: Esquema; Assimilação; Acomodação; Equilibração; A adaptação é a essência do funcionamento intelectual, assim como a essência do funcionamento biológico. É uma das tendências básicas inerentes a todas as espécies. A outra tendência é a organização. Que constitui a habilidade de integrar as estruturas físicas e psicológicas em sistemas coerentes. A adaptação acontece através da organização, e assim, o organismo discrimina entre a miríade de estímulos e sensações com os quais é bombardeado e as organiza em alguma forma de estrutura. Esse processo de adaptação é então realizado sob duas operações, a assimilação e a acomodação 22 Independentemente do estágio em que os seres humanos encontram-se, a aquisição de conhecimentos segundo Piaget acontece por meio da relação sujeito/objeto. Esta relação é dialética e se dá por processos de esquema, assimilação, acomodação e equilibração, num desenvolvimento sintético mútuo e progressivo. Esquemas: São as estruturas mentais ou cognitivas pelas quais os indivíduos intelectualmente organizam o meio, onde se modificam com o desenvolvimento mental e que tornam-se cada vez mais refinadas à medida em que a criança torna-se mais apta a generalizar os estímulos. Os esquemas são estruturas mentais, ou cognitivas, pelas quais os indivíduos intelectualmente se adaptam e organizam o meio. Assim sendo, os esquemas são tratados, não como objetos reais, mas como conjuntos de processos dentro do sistema nervoso. Os esquemas não são observáveis, são inferidos e, portanto, são constructos hipotéticos. Assimilação: É a incorporação de elementos do meio externo (objeto, acontecimento...) a um esquema ou estrutura do sujeito. Em outras palavras, é o processo pelo qual o indivíduo cognitivamente capta o ambiente e o organiza possibilitando, assim, a ampliação de seus esquemas. Na assimilação o indivíduo usa as estruturas que já possui. Consiste na tentativa do indivíduo em solucionar uma determinada situação a partir da estrutura cognitiva que ele possui naquele momento específico da sua existência. Representa um processo contínuo na medida em que o indivíduo está em constante atividade de interpretação da realidade que o rodeia e, consequentemente, tendo que se adaptar a ela. Como o processo de assimilação representa sempre uma tentativa de integração de aspectos experienciais aos esquemas previamente estruturados, ao entrar em contato com o objeto do conhecimento o indivíduo busca retirar dele as informações que lhe interessam deixando outras que não lhe são tão importantes, visando sempre a restabelecer a equilibração do organismo. Acomodação: É a modificação de um esquema ou de uma estrutura em função das particularidades do objeto a ser assimilado. A acomodação pode ser de duas formas, 23 visto que se pode ter duas alternativas: Criar um novo esquema no qual se possa encaixar o novo estímulo, ou modificar um já existente de modo que o estímulo possa ser incluído nele. Consiste na capacidade de modificação da estrutura mental antiga para dar conta de dominar um novo objeto do conhecimento. Quer dizer, a acomodação representa o momento da ação do objeto sobre o sujeito emergindo, portanto, como o elemento complementar das interações sujeito-objeto. Em síntese, toda experiência é assimilada a uma estrutura de ideias já existentes (esquemas) podendo provocar uma transformação nesses esquemas, ou seja, gerando um processo de acomodação. Equilibração: É o processo da passagem de uma situação de menor equilíbrio para uma de maior equilíbrio. Uma fonte de desequilíbrio ocorre quando se espera que uma situação ocorra de determinada maneira, e esta não acontece. O conceito de equilibração torna-se especialmente marcante na teoria de Piaget, pois ele representa o fundamento que explica todo o processo do desenvolvimento humano. Trata-se de um fenômeno que tem, em sua essência, um caráter universal, já que é de igual ocorrência para todos os indivíduos da espécie humana, mas que pode sofrer variações em função de conteúdos culturais do meio em que o indivíduo está inserido. Nessa linha de raciocínio, o trabalho de Piaget leva em conta a atuação de dois elementos básicos ao desenvolvimento humano: os fatores invariantes e os fatores variantes. A inteligência não começa nem pelo conhecimento do eu nem pelo conhecimento das coisas enquanto tais, mas pelo conhecimento de sua intenção e, orientando-se simultaneamente para os dois pólos desta interação, a inteligência organiza o mundo, organiza-se a si mesma. (FERREIRO, 2001, apud Rafaela de oliveira, Cryslânia Géssica, Deribaldo José, Rodrigues Janete). 4 DESENVOLVIMENTO INFANTIL O desenvolvimento infantil esta pautado na interação com o meio, segundo Vygotsky a criança aprende e depois se desenvolve, deste modo, o desenvolvimento de um ser humano se dá pela aquisição/aprendizagem de tudo aquilo que o ser humano construiu socialmente ao longo da história da humanidade. 24 Ao se tratar de escola, estamos em um âmbito mais aprofundado, pois para além de transmitir o conhecimento acumulado, este processo devese dar de forma organizada de modo que, todas as ações realizadas pela escola e seus profissionais devem ser pensadas, refletidas, discutidas e planejadas, pois todas as ações devem ter intencionalidade e finalidade. Na educação infantil este processo não pode ser diferente, pois o período dos 0 aos 5 anos que fará mais diferença no futuro, sendo a base para o desenvolvimento posterior. Deste modo, destacamos a importância da escola como local para além dos cuidados na educação infantil, porque é nele que a criança deve se envolver, interagir e agir com o meio, com o outro e com si mesma para apreender o mundo que a cerca e ir além apreendendo para além da imagem, mas também os significados por trás delas. Advogamos o princípio segundo o qual a escola, independentemente da faixa estaria que atenda, cumpra a função de transmitir 294 conhecimentos, isto é, de ensinar como lócus privilegiado de socialização para além das esferas cotidianas e dos limites inerentes à cultura do senso comum. (MARTINS, 2009, apud Duarte, Bruna Silva, Batista, Cleide Vitor Mussini 2012). Neste sentido, a escola de educação infantil não pode se isentar do ato intencional de educar, presando apenas pelo cuidar, devendo assim haver um equilíbrio entre o cuidar e o educar para que as crianças possam aprender e desenvolver todas as suas possibilidades e habilidades da forma mais integral possível. De acordo com a periodização feita por Abrantes (2012) a teoria histórico cultural pode ser dividida em épocas, Primeira Infância (0 a 3 anos), Infância (3 a 10 anos) e Adolescência (10 a 17 anos) e períodos, Primeiro Ano (0 a 1 ano), Primeira Infância (1 a 3 anos), Idade Pré-Escolar (3 a 6 anos), Idade Escolar (6 a 10 anos), Adolescência Inicial (10 a 14 anos) e Adolescência (14 a 17 anos). A transição entre os períodos se dá por meio de crises e a atividade dominante em cada período é respectivamente: Comunicação Emocional Direta, Atividade Objetal Manipulatória, Jogo de Papéis, Atividade de Estudo, Comunicação Íntima Pessoal e Atividade Profissional Estudo. Trataremos das crianças de um a três anos de vida, ou seja, a Primeira Infância e/ou Atividade Objetal Manipulatória. 25 Assim, o período o qual nos dedicaremos será o da Primeira infância e/ou Atividade Objetal Manipulatória entendido como essencial para a criança. É neste momento que a criança desenvolverá características, habilidades e aptidões. Essas transformações quantitativas e qualitativas são consideradas fundamentais para o desenvolvimento da criança persistindo ao longo de toda sua vida adulta. Este período se constitui como: [...] a base para as aprendizagens humanas está na primeira infância. Entre o primeiro e o terceiro ano de idade a qualidade de vida de uma criança tem muita influência em seu desenvolvimento futuro e ainda pode ser determinante em relação às contribuições que, quando adulta, oferecerá à sociedade. Caso esta fase ainda inclua suporte para os demais desenvolvimentos, como habilidades motoras, adaptativas, crescimento cognitivo, aspectos sócio emocionais e desenvolvimento da linguagem, as relações sociais e a vida escolar da criança serão bem-sucedidas e fortalecidas. (PICCININ, 2012, apud apud Duarte, Bruna Silva, Batista, Cleide Vitor Mussini 2012) 4.1 A importância do brincar na educação infantil pré-escolar A criança é um ser integral e complexo, com suas singularidades de observar o mundo, que fornece perspectivas que devem ser entendidas dentro do seu estágio de vida. Um dos processos de desenvolvimento cognitivo da criança é a brincadeira, que tem suma importância na infância, além de ser um instrumento de aprendizado, pois enquanto brinca, ela tem uma visão maior de mundo. Brincar é viver criativamente no mundo e ter prazer em viver. Machado (1994) relata que a criança, quando brinca, explora tudo que está em sua volta e tem um sentimento de liberdade. A criança que brinca livremente no seu nível e na sua maneira está expressando sentimentos, ideias, fantasias, relacionando o real e o imaginário. Brincar é também raciocinar, descobrir, persistir, aprender a perder e saber que haverá novas oportunidades para ganhar. Quando brinca, a criança aprende os conceitos de bem e mal em suas vivências. A criança que não brinca, não adquire essa capacidade de aprender a resolver conflitos. Passar por essas experiências é significativo para o seu desenvolvimento. 26 Nas palavras de Kishimoto (2001, p.67), “Toda experiência resgatada através das brincadeiras contribuirá para o crescimento da criança no seu modo de ver e atuar no mundo”. Não se pode privar a criança dos momentos de brincadeiras durante o seu cotidiano, pois possibilitará a conquista e a formação de sua identidade no desenrolar de sua vida na infância. Ela mesma saberá administrar seu tempo, seu espaço, escolher seus brinquedos e suas companhias na hora da brincadeira. É um momento exclusivamente dela e isso é fundamental para o seu desenvolvimento. Toda criança tem o direito de brincar. Esse direito se apresenta como um dos direitos da cidadania, como o direito à cultura, à arte, ao esporte e ao lazer, mas sabemos que, hoje, muitas crianças encontram-se desprovidas desse direito e privadas da própria infância. Elas não brincam tanto como antigamente. O Referencial Curricular da Educação Infantil especifica vários aspectos, dentre eles, o do brincar: A qualidade das experiências oferecidas que podem contribuir para o exercício da cidadania, respeitando-se as especificidades afetivas, emocionais, sociais e cognitivas das crianças de zero a seis anos, devem estar embasadas nos seguintes princípios: O respeito à dignidade e aos direitos das crianças, consideradas nas suas diferenças individuais, sociais, econômicas, culturais, étnicas, religiosas, etc.; O direito das crianças a brincar, como forma particular de expressão, pensamento, interação e comunicação infantil; O acesso das crianças aos bens sócio culturais disponíveis, ampliando o desenvolvimento das capacidades relativas à expressão, à comunicação, à interação, ao pensamento, à ética e à ciência. A socialização das crianças por meio de sua participação e inserção nas mais diversificadas práticas sociais, sem discriminação de espécie alguma; O atendimento aos cuidados essenciais associados à sobrevivência e ao desenvolvimento de sua identidade. (BRASIL, 1998, p.23). O tempo das crianças ficou curto com tantas atividades que até mesmo os pais propõem aos filhos a fazerem, como, por exemplo: aulas de inglês, aulas de música, aulas de natação, aulas de computação, etc. Claro que todas as atividades são importantes, mas é necessário deixar um tempo do dia para as crianças brincarem. Elas vivenciarão o seu mundo infantil de forma plena. 27 O mundo moderno vem nos desapropriando das atividades lúdicas, trazendo intrinsecamente um pensamento cada vez mais centrado nas ideias de trabalho, produção e seriedade. Mas, independentemente da classe social, toda a criança sente a necessidade de brincar e desenvolver atividades gostosas e prazerosas. Como negar à criança a apropriação desse tempo e desse espaço dela? É no brincar que a criança ou adulto fluem de sua liberdade de criar e interagir com o mundo. O brincar é a oportunidade de a criança ser o que realmente é, adquirindo conhecimentos. 4.2 O ensino-aprendizagem através do brincar na pré-escola O brincar é o momento mais significativo para a criança que contribui totalmente para a aprendizagem. Não há como separar esta relação, pois é brincando que a criança aprende e estabelece a sua cognição. Determina uma realidade imediata atribuindo significado. A brincadeira na educação infantil pré-escolar tem sua grande importância. A introdução de brincadeiras, jogos e brinquedos na prática pedagógica pode desenvolver diferentes atividades que contribuem parainúmeras aprendizagens de crianças na pré-escola. Ela adquire informações, habilidades, valores, atitudes, etc, através do seu contato com o meio-ambiente, com os colegas de turma e com o seu contexto em que vive. Machado (1994) diz que a brincadeira verdadeiramente espontânea surge da própria criança, que escolheu brincar do seu jeito, no seu tempo e no seu espaço. Isso implica uma atitude por parte do adulto em deixar a criança tranquila, livre para fazer suas escolhas. Assim, ela se sentirá mais à vontade para lidar com o mundo à sua maneira, aprendendo o que ela quer aprender. A criança precisa desse espaço que é somente dela, para que ela adquira suas próprias experiências. O RCNEI (1998) defende o brincar como uma atividade necessária na vida escolar, por possibilitar às crianças momentos de experiências e novas descobertas. Brincar é uma das atividades essenciais para o desenvolvimento da identidade e autonomia. “O fato de a criança, desde muito cedo, se comunicar por meio de gestos, sons e, mais tarde, representar determinado papel na brincadeira faz com que ela desenvolva sua imaginação”. (RCNEI, 1998, p.22). 28 A brincadeira ocorre por meio da articulação entre a imaginação e a imitação da realidade, e é uma imitação transformada no plano das ideias e de uma realidade anteriormente vivenciada. O ato do brincar pode ser uma importante estratégia para o ensino- aprendizagem da criança. Para que ocorra esta aprendizagem, depende da postura do professor na escola em criar formas de o aluno utilizar a criatividade, a sua autonomia, a sua imaginação. O papel do educador será fundamental para que ele possa intervir quando for conveniente e incentivar a criança em sua atividade com o brincar. Ensinar não é apenas passar informações, mas mostrar o melhor caminho para alcançar a aprendizagem do aluno. Nesta perspectiva, o RCNEI relata: O professor é mediador entre as crianças e os objetos de conhecimento, organizando e propiciando espaços e situações de aprendizagens que articulem os recursos e capacidades afetivas, emocionais, sociais e cognitivas de cada criança aos seus conhecimentos prévios e aos conteúdos referentes aos diferentes campos de conhecimento humano. Na instituição de educação infantil, o professor constitui-se, portanto, no parceiro mais experiente, por excelência, cuja função é propiciar e garantir um ambiente rico, prazeroso, saudável e não discriminatório de experiências educativas e sociais variadas. (BRASIL, 1998, apud Leandro Gabriel 2010). Cabe ao educador criar um ambiente que motive a criança a brincar em grupo e não só a reproduzir conteúdo para os alunos nas aulas. É preciso motivação para que a criança aprenda. Deve-se ainda oferecer um espaço estruturado para brincar, permitindo um enriquecimento das competências imaginativas e criativas. É importante que a brincadeira faça parte do plano de aula da escola. Santos (2002) relata que a ludicidade é uma necessidade do ser humano em qualquer idade e principalmente na infância e deve ser vivenciada não apenas como diversão ou lazer. O professor precisa também participar das brincadeiras, bem como organizar situações para que a ludicidade ocorra de forma diversificada e propicie às crianças a oportunidade de escolherem os temas, os papéis, os objetos e parceiros com quem brincar. Assim, elas elaborarão de forma pessoal e independente seus conhecimentos e regras sociais, desenvolvendo a sua aprendizagem. Todo e qualquer trabalho desenvolvido na Educação Infantil deve ser mediante estímulos, integrando a aprendizagem através de jogos e brincadeiras. 29 Na escola, a criança interage com os colegas e aprende a conhecer os outros. Ela, nas brincadeiras com os colegas, começa a aprender que cada pessoa tem sua preferência ao brincar. O educador precisa aceitar trabalhar o lúdico em suas aulas. Nada será feito se o professor não se interessar por essa forma de educação. É necessário que ele entenda o brincar da criança, pois ele pode obter importantes informações enquanto a criança brinca. É possível que ele diagnostique problemas como valores morais e comportamentos nos diferentes ambientes. O brincar não é simplesmente para encher o tempo depois de uma atividade feita. O brincar favorece o aprendizado à criança, pois quando ela brinca, se torna apta a viver numa ordem social e em um mundo culturalmente simbólicos. Desenvolve a sua capacidade de criar brincadeiras, seu conhecimento se amplia e, através do seu imaginário, vive suas próprias fantasias. Mas é necessário lembrar que a aprendizagem não é a mesma para todos, pois cada criança tem o seu nível de desenvolvimento e o seu tempo. O Referencial Curricular diz que: “Nas brincadeiras, as crianças podem desenvolver algumas capacidades importantes, tais como a atenção, a imitação, a memória, a imaginação”. (BRASIL, 1998). Essas capacidades cognitivas surgem a partir do brincar, como por exemplo, a brincadeira do faz de conta em que a criança imita a realidade em que ela vive, recriando personagens. O RCNEI (1998) explica que, para ocorrer as aprendizagens infantis com sucesso, é preciso que o educador trabalhe na criança: a interação com os outros colegas da mesma idade e de idades diferentes em várias situações, como fator de promoção da aprendizagem e do desenvolvimento; os conhecimentos prévios que a criança já possui sobre o assunto; a individualidade e a diversidade; e o grau de desafio que as atividades apresentam e a resolução de problemas como forma de aprendizagem. O brincar potencializa o desenvolvimento, pois a criança aprende a conhecer, aprende a fazer, aprende a conviver e, ainda, aprende a ser. Estimula a autoestima, a confiança, a criatividade, a curiosidade, a autonomia, a linguagem gerando uma maturação de novos conhecimentos e aprendizagens. 30 O adulto e, principalmente, os pais devem se conscientizar que, enquanto seus filhos estão brincando na escola, eles estão aprendendo. 4.3 Importância do brinquedo na primeira infância Brincar é o modo que a criança tem de conhecer o mundo que a cerca. É por meio da brincadeira que a criança descobre, aprende e se desenvolve, tanto na escola quanto em casa, na rua, no jardim e, assim por diante. Segundo Vygotsky compreende o brincar como uma atividade social da criança, cuja natureza e origem especifica seriam elementos fundamentais para o desenvolvimento cultural, ou seja, o brincar como compreensão da realidade (Vygotsky 1998, apud Duarte, Bruna Silva, Batista, Cleide Vitor Mussini 2012). Para o autor o brinquedo é o principal meio de desenvolvimento cultural da criança. O brincar atua nas zonas de desenvolvimento proximal e real da criança. É no brincar que a criança se comporta, além do seu comportamento habitual, diário, vivenciando desafios e situações novas. Para Elkonin (1998), o brincar é uma atividade social, humano que supõe contextos sociais e culturais. O jogo/ brinquedo reconstrói as relações sociais, como também atua no jogo com objetos da vida real. O brincar estimula, motiva e deve ser sempre orientado por um adulto, na escola, o professor, que além de mediar a brincadeira, deve brincar junto. Brincar propicia a aprendizagem por ser estimulador e motivador, ele faz com que a criança tenha um motivo para realizar determinada ação e para as crianças pequenas a aprendizagem acontece no concreto, ou seja, quando a criança participa do processo de apropriação, como por exemplo, o pente, a criança explora o objeto, e após ver um adulto utilizando o mesmo ela passa a utilizar este de acordo com sua função social, pentear. Em um segundo momento passará a utilizar o pente como barco, avião, neste momento ela já se apropriou do objeto, porém utiliza-o além da função para o qual ele foi criado. Destacamos que na escola a criança deve participar de atividades queexijam mais de sua psique, pois cada local deve propiciar atividades diferentes as crianças. Sava (1975, p. 14; apud MOYLES, 2002, p. 4) afirma que: O fato desenvolvimental 31 importante é que estimular as mentes infantis, através de atividades não regularmente oferecidas em casa, reforça sua capacidade cognitiva de lidar com as tarefas cada vez mais difíceis com as quais elas vão se deparar nas décadas futuras. Deste modo, podemos entender a brincadeira na escola como um modo de desenvolver capacidades psíquicas mais avançadas e, a brincadeira em casa como um reforço das capacidades já desenvolvidas pelas crianças. Porém, todas são formas de brincar são de extrema importância para a criança. 4.4 O brinquedo, a brincadeira e o jogo Estes três conceitos muitas vezes são confundidos e, embora estejam relacionados cada um tem o seu significado próprio. Partindo do dicionário de Língua Portuguesa passaremos a identificar cada um destes termos: Brinquedo: É o “objeto para as crianças brincarem”. Isto é, quando a criança brinca na garagem o brinquedo são os carros, quando a criança brinca na casinha das bonecas o brinquedo são as panelas, os pratos, as bonecas, entre outros; Brincadeira: É o “ato ou efeito de brincar, divertimento”. Na brincadeira pode ser usado o brinquedo ou não. O autor Kishimoto define bem este conceito ao dizer que: “é a ação que a criança desempenha ao concretizar as regras do jogo, ao mergulhar na ação lúdica. (…) desta forma, o brinquedo e brincadeira relacionam-se diretamente com a criança e não se confundem com o jogo. ” (Kishimoto, 2005;). No faz de conta a criança desenvolve a imaginação e cria um mundo imaginário onde os acontecimentos sucedem-se segundo os seus gostos e interesses. Jogo: É a “atividade física ou mental fundada em sistema de regras que definem a perda ou o ganho”. Aqui a caraterística principal são as regras e não o caráter livre da brincadeira. No entanto, apesar das regras o jogo é uma atividade prazerosa. Existe um autor que define de forma muito resumida os conceitos que acabámos de caracterizar. 32 Este autor é Schwartz (2003) e define: “brincadeira refere-se, basicamente, à ação de brincar, ao comportamento espontâneo que resulta de uma atividade não estruturada; jogo é compreendido como uma brincadeira que envolve regras; brinquedo é utilizado para designar o sentido de objeto de brincar. ” (Schwartz, 2003;). 4.5 Características psicológicas do desenvolvimento Ao adquirir controle de seus movimentos no que se refere ao andar sozinha a criança começa, então, a aperfeiçoar o grau de dificuldade desse caminhar, seja pisando em algum objeto, seja andando para trás ou mesmo um degrau, sente como a um desafio a alcançar diante desses estímulos dificultosos. A capacidade de caminhar independente da ajuda de um adulto proporciona à criança um novo panorama do mundo exterior, ampliando a compreensão dos objetos a sua volta, bem como sua manipulação, uma vez que estes eram “limitados” pelos pais. A criança se dá conta de que há a existência de obstáculos em seu trajeto e que precisa captar maneiras de evitá-los. O caminhar dá autonomia à criança. 4.6 Desenvolvimento afetivo, visual, tátil, auditivo e motor A criança no início da primeira infância é dependente da mãe, as proibições e limites impostos pela mesma geram na criança uma reação de oposição, pois esta não entende e não aceita, gerando uma dualidade de amor e ódio. Porém, quando há uma aprovação por parte do adulto em relação ao que a criança faz, ela se sente satisfeita e motivada a fazer as coisas novas. Santos (1999) argumenta que embora a criança não entenda as atitudes, deve passar por situações de satisfação e sofrimento, para que descubra que tipo de ações podem satisfazer a ela e ao adulto. Santos (1999) ainda aposta que a criança deve desenvolver o autoconceito, pois já se vê separada das pessoas e, já entende que o adulto “vai e vota”, que os objetos vão continuar no mesmo lugar, ainda que ela não os veja, é necessário ver a si mesmo como algo contínuo no tempo e espaço. 33 A partir dos dois anos a criança torna-se mais independente e autoconfiante, porém é egocêntrica, cabe nesse momento o adulto ensinar a acriança a “perceber” a outra, por exemplo, em atividades cooperativas. A visão, o tato e a audição são os meios pelos quais a criança descobre o mundo, sendo que nesta fase ela não tem medo de ver, ouvir e sentir. Esses sentidos possibilitam a criança a perceber as coisas (tamanho, forma e cor) que fazem parte do meio, o tato permite que a criança sinta diferentes texturas, agradáveis ou não. A criança nesta fase escuta tudo e se dispersa facilmente, quanto a sons em alto volume, a criança pode se assustar. Aos dois anos de idade a criança possui os músculos do corpo e o controle motor mais aprimorado, tendo mais facilidade para modelar massinha e rabiscar com giz. Estas situações são de demasiada importância para o desenvolvimento visual e tátil. Nesta idade a criança está no mundo dos sons, o papel do adulto neste momento é de estimular o desenvolvimento dos sentidos para que a criança possa ter uma expressão própria, pois como aponta Martins (2009). Em suma, desenvolvimento se produz por meio de aprendizagens e esse é o pressuposto vigotskiano, segundo o qual o bom ensino, presente em processos interpessoais, deve se antecipar ao desenvolvimento para poder conduzí-lo. Portanto não há que se esperar desenvolvimento para que se ensine; há que se ensinar para que haja desenvolvimento. (Vygotsky apud Martins 2009, apud Duarte, Bruna Silva, Batista, Cleide Vitor Mussini 2012). Contudo, faz-se necessário compreender como se dá o desenvolvimento infantil no período da Primeira Infância compreendido do 1 ano aos 3 anos de vida da criança, no qual se desenvolve a Atividade Objetal Manipulatória. 4.7 Atividade objetal manipulatória No primeiro ano de vida, a criança realiza manipulações dos objetos de maneira externa a eles, com a primeira infância, ela passa a ressignificar a utilização desses objetos, deixando de serem simples “coisas” a detentores de uma função específica, segundo a própria função social deste objeto. É na primeira infância que se constrói a passagem para a atividade objetal, atividade principal do período, na qual o adulto assume o papel de colaborar nesse processo, pois a exemplo de uma colher, ela poderá batê-la, jogá-la ao chão e, mesmo 34 assim, não descobrir sua função, a menos que o adulto intervenha e lhe demonstre sua finalidade. A assimilação da criança pelos objetos em relação ao seu destino difere dos animais, como por exemplo, do macaco que ao sentir sede, irá beber água na xícara, no balde, no chão, não se depreendendo ao fato de que a xícara é utilizada para beber algo, se ela estiver vazia vai utiliza-la para várias coisas também. A criança, portanto, assimila o significado permanente do objeto. Mukhina (1995) discorre que o destino que a sociedade conferiu ao objeto e não varia por necessidade de momento. Porém, isso não garante que a criança deixará de dar outras funções a este objeto se não o que lhe é fixado pelo social, mas a importância está na questão de ela saber e conhecer a verdadeira função deste objeto, independentemente de seu uso “indevido”. A relação entre ação e objeto apresenta três fases de desenvolvimento: na primeira fase a criança realiza qualquer função que ela domina com o objeto; na segunda fase, a criança manuseia o objeto a partir da real função a que se atribui ao objeto e, na terceira fase, tem reminiscência na primeira fase, porém a criança dominando a real função do objeto, o utiliza para “outros fins”, fora o “original” Na Figura 1 a criança explora o objeto, já na Figura 2 a criança manipula um painel sensorial, percebendo além de texturas, a função social de determinadosobjetos. FIGURA 1 – Criança explorando objeto Fonte: br.depositphotos.com 35 FIGURA 2 – Criança manipulando painel Fonte: br.depositphotos.com O que se faz importante nesse âmbito é a assimilação da atividade objetal realizada pela criança de modo a condizer às regras de comportamento social, o que faz mudar a conduta da criança quando realiza uma atividade de manipulação objetal. É importante para o desenvolvimento psíquico da criança que o uso dos objetos ocorra de modo a manter o mesmo sentido em empregos diferentes, ou seja, unívoco, uma vez que nem todas as ações que a criança assimila têm o mesmo valor no seu progresso psíquico, as ações contêm particularidades, a exemplo dos brinquedos, roupas, móveis e louças. Existem de fato diferentes formas de utilizar os objetos, as formas que mais exigem exercitação da psique são as que mais contribuem para que o psiquismo se desenvolva. As ações mais importantes que a criança assimila na primeira infância são as correlativas e as instrumentais. Sendo as ações correlativas aquelas nas quais se estabelece uma relação comum entre determinados objetos, fazendo-as recíprocas espacialmente falando, o que faz a criança levar em consideração as propriedades dos objetos, conferindo-lhe respeito a estas propriedades, dando sentido à atividade desenvolvida através do objeto. Estas ações são presentes na primeira infância, o que não ocorre com a devida “consciência” no primeiro ano de vida, antes de completar um ano. Tais ações são reguladas pelo resultado obtido, que só é alcançado pela contribuição e intervenção do adulto que aponta os erros, norteia como agir, a fim de corrigir com a finalidade do resultado correto. As ações instrumentais são aquelas nas quais se utilizam de instrumentos e /ou ferramentas para agir sobre outro objeto. 36 Ainda enfatizando a colaboração do adulto na apropriação destes objetos, a ideia é de que o adulto ofereça meios instrumentos que colaborem para que a criança se aproprie e assimile o uso do objeto, como por exemplo, a colher, nela está presente o traço que a caracteriza como ferramenta, torna-se um instrumento para que ocorra a alimentação da criança e, que se faz, portanto, uma “intermediadora” entre a mão da criança e o alimento. Deste modo, ocorre a sujeição, a reconversão dos movimentos da mão da criança à forma do instrumento. Outro exemplo é na leitura de livros, como demonstrado na Figura 3 abaixo: Fonte: neurosaber.com.br FIGURA 3 - Crianças percebendo a função do livro e, apesar de não ler o utilizam de modo correto. A assimilação das ações instrumentais não ocorre imediatamente, há etapas, sendo que a primeira, tendo o instrumento como continuação da própria mão, suas ações, portanto são manuais ainda; a segunda etapa a criança se prende para a relação instrumento e objeto sob o qual incide a ação, quanto ao êxito, só será alcançado eventualmente; a terceira fase é obtida quando a mão se adapta às propriedades do instrumento, originando as ações instrumentais de fato. Estas que são dominadas na primeira infância, estão em contínuo desenvolvimento no decorrer do tempo, não é acabado. Sua importância está na assimilação do uso dos instrumentos de maneira correta, exata. Os quais se configuram como princípios básicos da atividade humana, permitindo à criança perpassar pela autonomia do uso dos objetos. 37 4.8 Aparecimento de novos tipos de atividades na primeira infância Ao findar a primeira infância surgem novas formas de atividade, são o jogo e as formas produtivas de ação. No jogo é importante ressaltar que não há relação com o jogo dos filhotes de animais, que são instintivos, ao contrário, as crianças reproduzem o conteúdo de seus jogos a partir da sua percepção do contato com o adulto. Primitivamente não havia separação entre jogo e trabalho, a criança assimila na prática a forma de obter sustento. Como necessidade social ao passar do tempo, as formas de produção e instrumentos de trabalho deixaram de estar ao alcance da criança, passando a ser construídas para a mesmas ferramentas reduzidas, tendo como característica uma sociedade preocupada com uma infância preparada para inserir-se no trabalho. Destaque, então, para o surgimento dos jogos-exercícios, sob a direção do adulto, logo surge o brinquedo figurativo, momento em que há a separação da criança com as relações sociais, que por sua vez surge o jogo dramático, no qual a criança passa a reproduzir traços da sociedade adulta e suas relações sociais, formando comunidades infantis de representação lúdica, por meio do jogo dramático a criança satisfaz a necessidade de estar inserida no “mundo adulto”, que ocorre por meio dos brinquedos. Os jogos iniciais a princípio representam atitudes das crianças sob suas visões do adulto de maneira que elas não reproduzem suas vivencias reais, mas sim, imitando o adulto, tal como eles fazem com uma criança, somente mais tarde ocorrerá pela primeira vez jogos com recriações do real. E assim, sucessivamente a criança vai progredindo na assimilação das ações praticadas, utilizando-se de vários tipos de objetos substituindo outros que não possui, ainda não dando nome lúdico, após isto, nomeia os objetos de acordo com o papel que desempenha no jogo, compreende a significância do objeto dentro do jogo e gradativamente vai se criando as premissas para o jogo com papeis. Este desenvolvimento é prerrogativa para a atividade representativa, por meio do desenho, sendo a representação de determinado objeto. Caracterizada desde a garatuja com marcas, traços desordenados, linhas retas, curvas sem representação alguma que adentram na prévia representação para a imagem, dividida em duas 38 fases: na qual a criança reconhece o objeto numa combinação casual de traços e a outra intencionalmente a criança reconhece o que desenhou. A atividade representativa só aparecerá quando a criança verbaliza o que deseja desenhar. É de demasiada importância, a saber, que a criança aprende a desenhar, não apenas aperfeiçoando-se, praticando, mas também e valiosamente, pela influência do adulto que lhe propiciará subsídios para que se formem imagens gráficas nas linhas que ela traça. 4.9 Desenvolvimento da percepção e das noções sobre as propriedades dos objetos A criança adquire ações visuais por meio da manipulação dos objetos estabelecendo assim, propriedades dos objetos. Para que a criança perceba os objetos de forma mais completa deverão ser oferecidas novas ações de percepção, que surgem ao assimilar a atividade objetal, contudo com as ações correlativas e instrumentais. Existem as ações orientadoras externas que permitem a criança alcançar um resultado prática por meio do contato, da tentativa diante de uma situação, tais ações conduzem-nas ao conhecimento das propriedades do objeto. Comparando-se as propriedades dos objetos é possível que a criança passe à correlação visual das propriedades dos objetos, convertendo-a em modelo para determinar as propriedades de outros objetos, formando um novo tipo de concepção. 5 FUNDAMENTOS DA TEORIA PIAGETIANA A teoria piagetiana tenta responder às questões: como o conhecimento se forma? Como passamos de um estado de menor conhecimento para um estado de maior conhecimento? Enfim, como evolui o conhecimento? (PIAGET, 1975; PIAGET, 1973). Conforme enfatizam Davis & Oliveira (2005), Piaget considerou que se estudasse, cuidadosa e profundamente, a maneira pela qual as crianças constroem as noções fundamentais de conhecimento lógico, tais como as de tempo, espaço, 39 objeto, causalidade, etc, poderia compreender a gênese e a evolução do conhecimento humano. Então, entender como o conhecimento evolui constitui-se a preocupação científica de Piaget. Para tanto, ele desenvolve uma profunda e extensa investigação teórica
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