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ANÁLISE CRÍTICA AO ARTIGO “O TRATAMENTO DADO AOS SERIAL KILLERS NO PROCESSO PENAL BRASILEIRO” Por Shirley Silva de Souza A então aluna de Direito Mariane Furtado Cardoso, elaborou como Tese de Conclusão de Curso um artigo científico que aborda o tratamento que é dado aos serial killers no âmbito penal. Para isso, ela discorreu sobre o perfil e características dos assassinos em série, as sanções aplicadas a eles e a inconstitucionalidade do projeto que prevê tratamento diferenciado para esse perfil de infrator. É de suma relevância fazermos uma análise sobre esse texto afim de entender se o tratamento penal dado é o melhor e eficaz para o meio social. De início foi salientado que a psicopatia possui grau leve, moderado e grave, levando ao entendimento de que nem todo psicopata é serial killer somente os que possuem os dois últimos graus citados. Foi destacado que psicopatas são inteligentes, minuciosos e possuem mentes privilegiadas, pois conseguem ficar imperceptíveis até o momento da ação delituosa. Assim, apesar de ter aparência normal eles não respeitam as normas sociais. Diferentemente do que a população tem como base para classificar assassinos em série, eles possuem um perfil agradável, normalmente sedutor e cativante, mas a verdade é que não há empatia pelo próximo. De acordo com a autora, a diferença brutal das características do perfil é baseada no prazer imensurável que sentem em produzir o sofrimento e na capacidade de mentir sem sofrer qualquer alteração física ou mental. A pesquisa mostrou a falta de tratamento para essa classe de psicopatas. A porcentagem carcerária é formada por 25% de portadores de psicopatia grave, e já que a psicopatia não tem cura se deve achar um meio de separar os presos recuperáveis dos não-recuperáveis. Notamos que em alguns casos de reincidência, o infrator assim que é solto volta a praticar o mesmo crime hediondo, o que o nesse sentido o caracterizaria como “não recuperável”. A segunda parte do desenvolvimento foi dedicada a análise das sanções que são impostas a esses indivíduos. Primeiramente Mariane expos que o conceito de crime é constituído pelo fato típico, antijurídico e culpável tendo como principal objeto de crítica a excludente de culpabilidade que se estende aos menores de idade, doentes mentais, embriagados, ao erro de proibição, à coação moral irresistível e à obediência hierárquica. Assim, os que se enquadrem nas excludentes de culpabilidade seriam inimputáveis. Foi exposto que a inimputabilidade não pode ser presumida e deve ser provada por meio de perícia e em condições de absoluta certeza. Para isso o Código de Processo Penal prever que em alguns casos peculiares, deve-se instaurar o incidente de insanidade para que se tenha certeza da saúde mental do indivíduo e leva uma aplicação correta de sanção. Se o laudo da perícia apontar a insanidade mental, o indivíduo não poderá receber pena, mas será aplicada a Medida de Segurança que não possui caráter punitivo, mas sim buscará a cura do agente para no fim o ressocializar. A autora trouxe o comentário do penalista René Ariel Dotti que difere a pena – que pressupõe a culpabilidade – da medida de segurança – que pressupõe a periculosidade. No decorrer do capítulo expos também a citação do jurista Luiz Flávio Gomes que salienta ainda mais as diferenças da pena e da medida de segurança trazendo o entendimento de que se o quadro de um psicopata for confundido com o de uma pessoa comum, e àquele for aplicado a pena restritiva de liberdade, ao findar do cumprimento da pena o serial killer será reinserido à sociedade e estará livre para cometer novos crimes em série. A sociedade brasileira nota de forma clara o impacto que uma ressocialização ineficaz traz aos cidadãos da federação, o que aumenta ainda a insegurança do convívio e o desprazer de ter novamente no âmbito social pessoas com esse tipo de perfil. Por esse motivo se salientou a extrema necessidade da verificação do quadro correto de cada agente, não podendo errar ao aplicar as penas que privam o indivíduo de sua liberdade - com objetivo de punir - das medidas que levam semi-imputáveis e inimputáveis a buscarem tratamentos de controle comportamental. Ao se fazer um diagnóstico equivocado de medida de segurança, um assassino em série poderia facilmente ludibriar a perícia alegando a cura e controle dos problemas, para retornar à sociedade. É lícito ressaltar que de acordo com o Consenso da psiquiatria mundial, os transtornos psicológicos não são curáveis, assim, a soltura desses indivíduos traria danos irreparáveis a sociedade, pois certamente os psicopatas voltariam a cometer seus “prazerosos” crimes. Sendo assim, se tornaria mais extenso a aplicação penal para cada indivíduo e caberia estudo aprofundado de cada caso com a colaboração de vários profissionais das áreas da psiquiatria forense, psicologia forense etc. Com esse entendimento foi exposto que transtorno psicológico se difere de doença mental. O assassinos em série possuem total consciência de seus atos, sentem prazer em pratica-los, por isso não podem ser tratados como pessoas normais ou como indivíduos mentalmente afetados (os inimputáveis). Salienta-se que indivíduos com doenças mentais não possuem ciência das suas ações. O último capítulo do artigo abrange o Projeto de lei do Senado Federal nº 140/2010 que acrescentaria alguns textos ao Código Penal, para que haja reconhecimento e tratamento diferente para serial killers. Tal projeto acrescentaria mais quatro parágrafos ao artigo 121 do Código Penal brasileiro e teria o objetivo de estabelecer o conceito penal de assassino em série. Para a caracterização da figura do assassino, o Projeto de criaria alguns requisitos que difeririam agentes comuns de agentes com psicopatia aguda, dentre esses requisitos destacam-se o cometimento de homicídios dolosos com conexão temporal entre as condutas, o padrão de elegimento de vítimas e o modo como se faz tornar como sua identidade a pratica dos homicídios (exemplo levando um pertence da vítima a cada homicídio). Como pena o legislador prevê que o assassino em série seja sujeito a uma expiação mínima de 30 anos de reclusão em regime integralmente fechado ou submetido à medida de segurança, por igual período, em hospital psiquiátrico ou estabelecimento do gênero. Contudo a autora frisou que esse entendimento trouxe polêmica, pois o texto proposto entraria em confronto com o CP já que o artigo 75 enfatiza que a reclusão não ultrapasse 30 anos (hoje com o pacote anticrime 40 anos). Além do confronto temporal haveria dissonância com o cumprimento de regime, pois o texto prevê que o assassino em série cumpra a pena de forma integralmente fechada além das muitas vedações à concessão de anistia, graça, indulto, progressão de regime ou qualquer outro benefício. Através da pesquisa realizada a aluna Mariane chega à conclusão de que o perfil de um assassino em série normalmente foge do padrão que a sociedade imagina – antipático, maltrapilho, iletrado – e sim que possuem inteligência e mente elevadas. Conclui que os psicopatas que precisam mais observância ao tratamento penal são os que possuem grau moderado e elevado de periculosidade, pois sentem prazer com a prática do mal. Ela ressalta a capacidade de coação através da mentira e que pode tornar instrumentos como detectores de mentira ineficazes. Além disso, foi reforçada a ideia de que a psicopatia não tem tratamento o que torna seus agentes irrecuperáveis, por isso defendeu a necessariedade da separação carcerária dos detentos recuperáveis para os não recuperáveis. Mariane finalizou defendendo o Projeto de Lei nº 140/2010 que apesar de rigoroso e alguns pontos conflitante com a Constituição Federal do Brasil, se faz necessária no ordenamento jurídico para o controle dos crimes com características similares e reincidências penais. Enfatizou que um assassino em série é um tipo especial de criminoso, pois comente seus assassinatos de forma metódica, estudada e criteriosa. Possuem ações violentas e as praticam com requintes de crueldade, e poresse motivo não podem ser tratados de forma branda e tradicional. Apesar da afirmação de que o poder público necessita dar mais observância a esse perfil criminal é destacado no artigo que o projeto de lei foi arquivado em determinação da Presidência em dezembro de 2014, mas que poderá ser requerida a continuidade da tramitação cumprindo alguns critérios de assinaturas dos Congresso e Plenário. Entendo que a psicopatia se difere dos problemas mentais e que a periculosidade pode estar sujeita a todos e provavelmente é desencadeada de acordo com a situação e ambiente. E para fomentar meu pensamento, inicialmente faço referência dos três elementos que compõe a mente humana: ID, Ego e Superego. O ID desperta o princípio do prazer que leva o indivíduo a ocultar a realidade e ética e o impulsiona a agir por instintos, de forma extremamente inconsequente, para suprir seus desejos; o Ego seria o componente racional que equilibra os elementos mentais, regulando o prazer de forma que esse não fira as normas existentes; e o Superego é o componente que traz o sentimento de repressão através da culpa, logo então auxilia o Ego fazendo alertas dos ideais e dos valores morais adquiridos pelo indivíduo ao longo da vida. Vemos então a diferença entre esses elementos trazidos por Freud. Tendo como base essa explicação ficaria claro entender que assassinos em série possuem o ID com predominância e o Superego completamente reduzido, entendendo o porquê da maior partes dos estudos psicológicos e psiquiatras alegarem que não há cura para tal problema. Além disso vislumbro que a relação que serial killers possuem com suas vítimas é de “sujeito-objeto”; claramente o agressor não busca uma relação igual, mas sim estabelece uma relação superior sem qualquer tipo de empatia. O sistema penal atual prega a lei da pena minimalista com intuito de reintroduzir o mais rápido possível o apenado ao convívio social. Observando esse conceito e o de sobrecarga de ID em pessoas que cometem crimes em série é fácil perceber que haverá deficiências na execução penal se esses forem tratados sem que haja penas pertinentes ao seu perfil. Contudo é lícito afirmar que eles são passíveis de penalidade, mas essa deveria ser aplicada de forma específica, evitando a soltura desses indivíduos para a prática de ilicitudes. Sendo assim, expresso o igual desejo da criação de leis que regulem o quadro dos psicopatas, pois eles não podem ser tratados como indivíduos que comentem “crimes comuns” e muito menos como doentes mentais. Enfatizando que esses agentes por terem como predominância o desejo e prazer pessoal e a falta de obediência as normas estabelecidas à sociedade, certamente, ao possuir a liberdade voltaram a cometer os crimes. Cabe ao poder constituinte, aos estudiosos da matéria e entre outras pessoas que possam contribuir para análise mais profunda de comportamentos humanos, a elaboração de métodos que possam distinguir e classificar de forma mais coesa a periculosidade de cada indivíduo e analisar se esse possui alguma ligação ou caráter que o consolide como serial killer.
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