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Ebook_Cineclubismo e educação

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Cineclubismo e 
Educação: 
possibilidades do 
cinema no 
contexto escolar 
Profa. Yasmin Bidim Pereira dos Santos 
 
 
 
 
Cineclubismo e Educação: possibilidades do cinema no contexto 
escolar1 
 
1. Introdução. 
Sabemos que o cinema é amplamente utilizado como recurso pedagógico, 
especificamente na exibição de filmes em sala de aula como material didático, num método 
que encontra no cinema um aliado para a construção de imaginários acerca de matérias e 
conteúdos didáticos. Penso sempre nas aulas de história ou de artes, nas quais, com 
frequência, os professores exibem filmes com temas históricos e biografias de grandes 
artistas. 
Essa é, sem dúvida, uma maneira muito popular e bastante intuitiva de se utilizar o 
cinema como recurso pedagógico, que deriva de nossa cultura audiovisual: crescemos 
assistindo a filmes, seja no cinema, através do vídeo e do DVD e na própria televisão. Filmes 
fazem parte de nosso imaginário e de nosso espectro de objetos e acontecimentos que 
compõem nosso meio social e nosso campo cultural. É quase natural que ele seja também 
utilizado em sala de aula. 
No entanto, o que propomos aqui é um redirecionamento do olhar sobre as 
possibilidades do cinema para a educação. Hoje falamos em audiovisual, um termo que 
busca compreender a expansão do que antes era "somente" cinema. Compreendemos que, 
na nossa atualidade dominada pelas novas tecnologias de informação e comunicação, o 
audiovisual se faz presente nas mais variadas esferas. Estamos rodeados de objetos 
audiovisuais: da TV, ao celular; das comunicações interpessoais aos processos de ensino e 
aprendizagem com a Educação a Distância. E o audiovisual segue sendo o grande 
entretenimento de massa do nosso século, agora com um espectro ampliadíssimo de meios 
de circulação e canais de difusão: canais de streaming, aplicativos de celular, canais de TV 
por assinatura, salas de cinema de ultradefinição. 
Dentro desse contexto, o que mais o audiovisual pode oferecer de novo para as 
relações de ensino e aprendizagem? O que vemos é que, justamente por essa ubiquidade do 
audiovisual em nossas vidas – levando em conta os aspectos afetivos, sociais e culturais – é 
que se faz necessário trazer para dentro da escola não somente o audiovisual como recurso 
pedagógico, mas criar possibilidades de refletir sobre o que é e o que faz o audiovisual na 
nossa vivência diária. 
 
1 Yasmin Bidim Pereira dos Santos é Mestra em Imagem e Som pela Universidade Federal de São Carlos e 
doutoranda em Literatura pela mesma universidade. 
 
Assim, compreendendo a importância de se colocar em cheque o audiovisual em si, 
enxergamos no cineclubismo uma possibilidade de criar novos usos do audiovisual dentro do 
contexto escolar. 
 
2. O que é cineclube? 
Há muitas maneiras de definir o que é cineclube. Mas há algumas considerações que 
são importantes de se ter em mente: 1) cineclubismo é um movimento de organização social 
em torno da atividade de exibição de filmes; 2) cineclubismo é um movimento que faz parte 
da história do cinema enquanto arte e linguagem; 3) cineclubismo é uma atividade 
essencialmente formativa, que enxerga o cinema (e, hoje em dia, o audiovisual) como 
instrumento de compreensão de mundo. 
O surgimento do cineclubismo está ligado à experiência da espectatorialidade. Ou 
seja, ao ato de "ser espectador". Uma espectatorialidade ativa e propositiva, visto que o 
cineclube surge com reunião de pessoas – espírito associativo – em torno não só do ato de 
assistir a filmes, mas de comentá-los, conversar sobre eles, estender o momento da exibição 
para um momento de troca de impressões, de diálogo e criação de sentidos a partir da obra 
audiovisual. 
Ou seja, podemos identificar no cineclubismo uma vontade de acessar o cinema não 
só como espectador passivo, mas como público ativo. O cineclubismo propõe uma 
experiência de espectatorialidade que não se restringe ao padrão comercial das salas de 
cinema, mas dá um sentido formativo e político para o cinema, promovendo um 
acontecimento que privilegia o diálogo e a troca de experiências. 
 
2.1. Breve histórico do cineclubismo no Brasil. 
Oficialmente, o primeiro cineclube brasileiro estabelecido na forma de associação foi 
o Chaplin Club, surgido em 1928, período caracterizado como o primeiro cinema, quando os 
filmes eram em preto e branco e ainda não sonorizados. O trabalho do grupo por trás do 
Chaplin Club envolvia a produção de sessões, a promoção de debates e a realização da 
revista “O Fan”, com um caráter bastante ensaístico, textos críticos e teóricos. 
O cineclube surge essencialmente dentro de um contexto de uma elite cultural da 
época, que tinha de fato uma preocupação com a produção cultural e uma relação com o 
cinema para além de sua vocação enquanto indústria: 
 
 
Essa primeira fase do cineclubismo no Brasil terá um caráter um tanto restrito, já 
que as discussões aconteciam entre um pequeno grupo de intelectuais dotados de 
uma expressiva cultura cinematográfica. Mas, ao mesmo tempo, a iniciativa sugere 
uma nova forma de se relacionar com o cinema, o início de uma reflexão crítica e 
coletiva. Nesse aspecto, será um avanço fundamental, pois demonstrará a 
insatisfação com o que era oferecido pela rede comercial, propondo uma nova 
forma de exibição e apreciação de cinema (BUTRUCE, 2003, p. 118). 
 
Os anos 1940 caracterizam o período de consolidação da atividade cineclubista 
enquanto movimento, com diversos cineclubes surgindo em diferentes cidades e estados, 
muitos organizados em associações e com forte ligação com movimentos culturais da época, 
como é o caso do Clube de Cinema de São Paulo, que teve como um de seus fundadores 
Paulo Emílio Sales Gomes, importante crítico e teórico de cinema. A iniciativa surge de 
dentro da Faculdade de Filosofia da Universidade de São Paulo. 
Nos anos 1950 e 1960 o movimento passa pela sua fase de organização, com diversas 
entidades se estabelecendo, como o Centro de Cineclubes de São Paulo, que tinha como 
sede a Cinemateca Brasileira; e também as Federações de Cineclubes de Minas Gerais e do 
Rio de Janeiro. 
 
A criação de todas essas federações anuncia uma nova postura perante o 
movimento cineclubista. A existência já bastante numerosa de cineclubes 
prescindia de órgãos centralizadores que sistematizassem suas atividades. O 
movimento ocupava um lugar de destaque, mesmo se posicionando de maneira 
pouco contundente em relação ao circuito de exibição comercial, já que 
possibilitava a circulação de títulos que permaneceriam fora deste mercado 
(BUTRUCE, 2003, p. 120). 
 
Vê-se que já se destacava no cineclubismo uma vocação de promover a circulação e a 
exibição de filmes que não eram exibidos no circuito comercial. O cinema consolidou-se 
como indústria já nos anos 1930, e o mercado norte-americano dominava as salas de 
exibição em muitos países do mundo, inclusive no Brasil. Assim, os cineclubes consolidaram-
se como espaços essenciais para circulação de obras independentes, nacionais e de outros 
países. Obras que traziam, na estética e na temática, outras narrativas e formas que 
propunham visões de mundo distintas das que dominavam no cinema comercial. Esse é um 
aspecto que torna o cineclubismo um potente instrumento de promoção de reflexão no 
ambiente escolar. 
No período da ditadura militar, o movimento cineclubista reforça seu compromisso 
com a democracia e com a cultura, mas não escapa dos movimentos de repressão e censura. 
É neste momento que o cinema mundial passa por uma fase de revolução na linguagem, 
encabeçada pelo movimento na Nouvelle Vague na França, que trazia filmes que quebravam 
com os paradigmas da linguagem clássica estabelecida por Hollywood. No Brasil temos o 
 
surgimento do Cinema Novo, acompanhando essa tendência, e também o Cinema Marginal, 
surgindo como um cinemadeste momento de grande repressão às liberdades de expressão 
e violação dos direitos cidadãos. 
 
Com o recrudescimento da ditadura, toda e qualquer manifestação cultural com a 
mínima vocação democrática foi extinta. O cineclubismo, representado nesse 
momento por uma juventude bastante ativa, também sofreu as consequências 
desse recrudescimento, tendo sido suas entidades fechadas ou proibidas de atuar. 
Esse desmantelamento atingirá substancialmente a relação dos cineclubes com 
outros setores da atividade cinematográfica no Brasil (BUTRUCE, 2003, p. 121). 
 
Nos anos 1990, com a extinção da Embrafilmes pelo governo Collor, o cinema 
nacional sofre um grande revés e o número de produções nacionais cai drasticamente. 
Historicamente, o cinema nacional sempre esteve atrelado a mecanismos de financiamento 
estatais, e uma indústria que sempre foi fragilizada diante do domínio norte-americano se 
viu ainda mais enfraquecida. O movimento cineclubista, que sempre esteve intimamente 
ligado às produções nacionais, também se desarticula. 
É nos anos 2000 que o movimento cineclubista volta a se organizar. Importante 
ressaltar que esse histórico do cineclubismo é influenciado pelos avanços tecnológicos que 
ressignificaram as experiências de distribuição e exibição de filmes. O vídeo, o DVD e a 
tecnologia digital trouxeram novas possibilidades tanto para a produção quanto para a 
exibição de filmes. De qualquer maneira, a essência comunitária, a reflexão da linguagem e a 
dimensão político-social do movimento cineclubista se mantiveram e um novo momento de 
organização se desenhou. 
Vale destacar aqui ações como o Cine Mais Cultura e os Pontos de Difusão Digital, 
programas de políticas públicas que tinham como objetivo democratizar o acesso ao 
audiovisual para comunidades historicamente excluídas de ambientes como as salas de 
cinema dos grandes shoppings. O cineclubismo na era digital também tem importante papel 
de distribuição e circulação de uma produção independente e alternativa, que se multiplicou 
com as novas possibilidades de produção de filmes. 
Os desafios que se desenham para o movimento cineclubista na era da digitalidade e 
da virtualidade vêm no sentido de continuar a ser um espaço de discussão, de debate e de 
reflexão. De manter o interesse no cinema e no audiovisual e difundir obras que apresentem 
outros olhares e formas distintas das que circulam nos canais dominantes. 
 
Diante da lógica tão invisível quanto determinante do mercado, as opções de 
atividades culturais se mostram cada vez mais restritas, pois ficam condicionadas a 
uma ótica monopolista que acaba por esmagar qualquer particularidade. É vital a 
criação de espaços que possibilitem o contato com um outro tipo de manifestação 
 
cultural, um pouco mais livre dessa pressão mercadológica (BUTRUCE, 2003, p. 
125). 
 
Entendemos que o movimento cineclubista encara uma nova fase, na qual as 
possibilidades são infinitas, em todos os aspectos. Desde o formato de exibição, ao local das 
sessões; passando pela programação e pelo recorte do público. É impossível não olhar para 
o movimento cineclubista hoje como integrado a um momento de grande hibridismo 
cultural neste contexto globalizador que vivemos. Logo, existem vantagens e desvantagens 
nesse cenário. 
Se podemos pensar em futuro do cineclubismo – ou mesmo no presente do 
cineclubismo –, talvez pensá-lo como recurso pedagógico seja um importante meio de 
preservar sua história e pensar os processos educativos em conjunto com práticas culturais. 
O cineclubismo nas escolas já é uma realidade, e existem muitas escolas e outros 
espaços de ensino e aprendizagem que se utilizam do cineclubismo como ferramenta 
pedagógica, afinal o cineclube tem essa vocação de formação e reflexão. 
 
3. Cinema e Educação. 
Uma maneira de pensar o cinema nas escolas é compreender quais as suas 
possibilidades para além do uso como material de apoio a conteúdos didáticos. E aqui 
trazemos o texto Cinema e Educação: O que pode o Cinema?, de Alexander de Freitas e 
Karyne Dias Coutinho (2013). Para compreender outros potenciais usos do cinema na 
educação, apresentamos aqui três funções que o cinema pode ter. Essas funções 
encontram-se descritas no texto supracitado e foram depreendidas a partir da leitura da 
obra do filósofo francês Gilles Deleuze, que foi um grande pensador do cinema e suas 
potencialidades. 
Temos, então, as funções: 
 
1) O cinema como produtor de choques e violências ao pensamento, flagrando sua 
estagnação, imobilidade e inércia, possibilitando o uso do cinema na 
experimentação do pensamento (uso transgressor para fazer “bem” pensar); 
2) O cinema como vidência e resistência às representações dominantes e aos 
clichês, abrindo a percepção ao campo de experimentação do não representado e 
do imperceptível (uso visionário que faz devir o pensamento); 
3) O cinema como recurso privilegiado para uma cartografia do tempo presente, 
permitindo flagrar o contemporâneo em sua potência afirmativa, sem ressalvas 
(uso problematizador da vida contemporânea) (FREITAS; COUTINHO, 2013, p. 491). 
 
 
Nota-se que essa abordagem permite olhar para o cinema não só levando em conta 
seu conteúdo – os temas dos filmes que podem ser aproveitados como material didático –, 
mas considera o potencial da própria imagem cinematográfica, em toda sua amplitude 
estética e formal. 
Estamos querendo afirmar que os produtos audiovisuais em si, para além de seus 
temas e narrativas, podem agir como instrumentos de transformação do indivíduo. E aqui 
fazemos a conexão com o cineclubismo, visto que o cineclube entende esse potencial de 
transformação do cinema, e trabalha essencialmente essas três funções que acabamos de 
levantar. 
 
4. Como funciona um cineclube. 
Agora queremos trazer um conteúdo mais prático. Um conteúdo que apresente 
algumas dinâmicas de funcionamento de um cineclube que foram apreendidas na prática, a 
partir de experiências de trabalho com atividade cineclubista. 
Importante ressaltar que a ideia de trazer o cineclube para o ambiente de 
aprendizado vai para além de pensar os modos de utilização de produtos audiovisuais, mas 
engloba as perspectivas que o cineclube traz de articulação, de senso comunitário, de 
trabalho em equipe, de trabalho em torno de uma atividade cultural, de promoção de uma 
atividade de lazer e reflexão. Compreendemos que a atividade cineclubista é alinhada a 
práticas democráticas e horizontais de gestão e promoção de cultura, e que a possibilidade 
dessas vivências para as pessoas que compõem o ambiente escolar faz parte da experiência 
pedagógica cineclubista e constitui um importante mecanismo de formação para práticas 
cidadãs e de transformação social. 
Assim, traremos a seguir algumas informações do funcionamento da estrutura de um 
cineclube. Essas informações compreendem dinâmicas gerais de funcionamento de um 
cineclube, não somente no ambiente escolar, mas em contextos gerais. Dessa maneira, o 
que se pretende é apresentar um conteúdo que possa ser adaptado e ressignificado para 
cada contexto específico de atuação, lembrando que compreendemos não somente as 
escolas de ensino formal como ambientes de ensino e aprendizagem, mas levamos em conta 
ambientes informais e alternativos. 
 
 
 
 
4.1. Estrutura. 
Local: Espaço físico onde ocorrem as sessões. Pode ser um local aberto ou fechado. 
Lembrando que se for aberto, é bom se prevenir em caso de chuva e ter um local 
alternativo. 
Equipamentos: A estrutura básica de projeção para sessões de cinema compreende o 
equipamento de projeção/exibição e o de sonorização. Quanto à projeção, a estrutura de 
projetor com uma tela ou superfície de cor clara (uma parede lisa serve) é a ideia. Claro que 
se, no contexto específico de uma escola, só houver à disposição uma televisão, por 
exemplo, isso não precisa ser um impeditivo para arealização das sessões. Sobre o 
equipamento de sonorização, é bastante importante que seja de qualidade e permita ao 
público compreender bem o som dos filmes que serão exibidos. 
Público: Qual o público alvo do cineclube? Aqui a ideia é desenhar um perfil do 
público a quem se destina o cineclube, pensando em questões objetivas, como faixa etária, 
escolaridade, local geográfico onde moram, classe social, se praticam esportes ou outras 
atividades de lazer e cultura etc.; e questões subjetivas, como as preferências culturais, 
como se relacionam com o ambiente escolar, que tipo de música gostam, quais as 
referências audiovisuais etc. 
Acervo: É de onde virão os filmes que serão exibidos. É inegável que, no contexto 
contemporâneo, o principal meio de acesso aos filmes é a internet. Mas a internet é um 
ambiente que contém muita informação que nem sempre está organizada e sistematizada. 
Por isso é importante pesquisar e descobrir fontes específicas onde seja possível encontrar 
filmes e obras audiovisuais em geral que possam ser exibidas. E vale ainda destacar que é 
essencial não descartar a possibilidade de acessar filmes de forma física, afinal nem tudo 
está na internet e existem ainda muitas obras que podem ser encontradas em VHS e DVD, 
por exemplo. Pode-se fazer parcerias com videolocadoras, conversar com pessoas que 
tenham acervos pessoais e coleções de filmes. Também é possível entrar em contato com a 
prefeitura ou outros órgãos de cultura, como bibliotecas, e saber se existe um acervo 
público de filmes. 
Regularidade: É importante que o cineclube tenha uma regularidade na realização 
das suas sessões, estabelecendo assim uma relação de rotina e temporalidade com seu 
público. Essa frequência pode ser semanal, quinzenal ou mensal e pode variar de acordo 
com as necessidades de cada comunidade. Essa é uma questão que deve ser testada no 
começo da vida do cineclube. Às vezes, começar com sessões quinzenais para sentir as 
dinâmicas de público e, com o tempo, passar a fazer sessões semanais. 
 
Equipe: Um cineclube, sendo uma atividade cultural, demanda uma estrutura de 
produção cultural, e essa estrutura prevê uma equipe, que pode ser dividida da seguinte 
maneira: 
 Produção: vai pensar o cronograma, a logística, a sustentabilidade, as parcerias; 
 Programação/Curadoria: a curadoria de um projeto artístico, seja de uma mostra de 
cinema, de uma exposição de artes visuais, de uma publicação, é a etapa que vai 
fazer a seleção das obras que serão disponibilizadas para o público; 
 Arte gráfica: essa pessoa irá trabalhar na produção de materiais gráficos de 
divulgação, identidade visual, cartazes e outros materiais de comunicação do 
cineclube; 
 Comunicação: vai pensar as estratégias de comunicação e divulgação do cineclube, 
quais meios de comunicação serão utilizados, que conteúdos precisam ser 
produzidos etc. 
 
4.2. Etapas da realização. 
As etapas de realização coincidem, de certa maneira, com as funções anteriormente 
descritas. Ou seja, as funções dos membros dos cineclubes dizem respeito às etapas de 
realização que são essenciais para que as sessões aconteçam. São elas: 
1 – Produção: planejamento das ações, elaboração de cronograma, gestão de equipe, 
logística; 
2 – Programação: trabalho de curadoria que geralmente é feito de forma 
colaborativa com participação de toda a equipe. Etapa mais estimulante; 
3 – Identidade visual: elaboração da arte gráfica do cineclube. Desde os cartazes e 
flyers virtuais e impressos até as peças que identificam o cineclube; 
4 – Divulgação: deve ser muito bem planejada e constantemente avaliada para saber 
se está sendo efetiva. 
As etapas são interdependentes e relacionadas. De maneira geral, é mais simples 
organizá-las dentro de um ciclo mensal, assim fica mais fácil organizar as etapas e fazer um 
fechamento e avaliação no fim de cada ciclo. A ideia do ciclo mensal traz algumas vantagens, 
como por exemplo, para a divulgação. Fechando a programação de um mês todo com 
antecedência é possível divulgar as sessões todas de uma vez, de modo a oferecer para o 
público a possibilidade de se planejar para participar das sessões. 
A programação pode e deve ser pensada por todos da equipe. É uma forma de 
garantir uma pluralidade maior na programação e também de manter a equipe integrada. 
 
Uma forma de fazer isso organizadamente é, a cada fim de mês quando for discutida a 
programação do mês seguinte, definir responsáveis pela programação de cada sessão, de 
acordo com a afinidade e tempo de cada membro da equipe. A produção também pode ser 
dividida da mesma forma. Por exemplo, cada membro pode ser responsável por produzir 
determinados itens de uma sessão. Dessa forma, a produção se potencializa, nenhum 
membro da equipe fica sobrecarregado, e todos conseguem ter um conhecimento mínimo 
de cada área. Uma área depende inteiramente da outra e é importantíssimo que cada 
membro da equipe esteja ciente dos prazos e das funções, responsabilidades e necessidades 
dos outros membros. 
Algumas áreas de trabalho de um cineclube podem demandar conhecimentos 
específicos e a rotação de funções fica mais difícil, como por exemplo a produção de 
material gráfico ou manutenção de site. Inclusive, todo o trabalho de produção de material 
gráfico e conteúdo de divulgação dependem do fechamento da programação, portanto é 
essencial os prazos estarem sempre negociados e existir um senso de colaboração entre a 
equipe. 
 
4.3. Que filmes exibir? 
No contexto de um cineclube é importante levar em conta o público alvo das sessões 
e qual o acervo disponível. A linha curatorial de um cineclube é, geralmente, pensada logo 
em seu surgimento e é o que define o “tipo de cineclube”. Por exemplo, o CineUFSCar, 
cineclube que ocorre dentro da Universidade Federal de São Carlos, em seus primeiros anos 
seguia uma linha de programação que dava preferência para longas-metragens em 35mm. 
Essa escolha já fazia uma filtragem inicial dos filmes que poderiam ou não ser exibidos. Nos 
cineclubes adeptos da exibição em formato digital, a oferta de filmes é maior e cabe à 
equipe avaliar se os filmes que estão sendo exibidos de fato tocam aquele público à quem as 
sessões se destinam. 
Por outro lado, o cineclube pode surgir já com a proposta de um público específico, 
que se compreende ser o caso de cineclubes que funcionam dentro de escolas, tendo já de 
antemão um público correspondente a uma ou mais turmas. Nesse caso, o público cumpre o 
papel de filtro inicial. Tendo essas diretrizes em mente, escolher a programação das sessões 
passa a ser uma tarefa de pesquisa. 
É necessário assistir aos filmes que se deseja exibir e ter a certeza que haverá uma 
cópia disponível para o dia da sessão. Programar filmes que nunca foram vistos ou exibi-los 
sem fazer testes com a cópia disponível são dois erros aparentemente inofensivos, mas que 
podem comprometer toda a sessão e, consequentemente, a recepção do público. Por fim, 
estabelecer um diálogo com o público é essencial para a escolha dos filmes. 
 
A escolha de quais filmes um cineclube irá exibir acaba sendo, portanto, uma decisão 
muito pessoal, ligada aos desejos e expectativas dos envolvidos na sua realização. E, se o 
cineclube é um espaço que tem como prioridade a criação de um ambiente de 
confraternização e formação, o caminho mais lógico é não exibir filmes comerciais ou que já 
tenham espaço garantido na grande mídia. O histórico do movimento cineclubista mostra 
que a opção pelo novo, pelo diferente e distante é uma vontade comum. Existem muitos 
filmes bons que não serão exibidos em espaços comerciais de exibição e é importante dar 
vazão para essas produções. 
A formação de público é então uma tarefa e, ao mesmo tempo, uma consequênciado cineclube. Espectadores que apreciem filmes em formatos não convencionais e fora dos 
padrões de Hollywood não existem por si só. É necessária a exposição a conteúdos 
alternativos para reconhecer seu valor. Por essa razão é que ouvir o público e entender quais 
são os referenciais culturais da comunidade do cineclube é essencial, só assim existe um 
verdadeiro diálogo. E isso não significa exibir literalmente o que o público pede, mas saber 
interpretar seus referenciais e levar um filme que possa também suprir suas expectativas 
sem deixar de ser revelador e inquietante. 
Se considerarmos, por exemplo, um público de crianças de seis a dez anos, os filmes 
selecionados deverão dialogar com esse público específico. Além de compreender 
características objetivas como a faixa etária, é importante levar em conta questões mais 
subjetivas, buscando compreender quais as demandas, desejos e preferências do público em 
questão. Veja bem, a ideia aqui não é exibir exatamente o que o público quer, mas pensar 
uma programação de filmes que, ainda que propondo novas abordagens e linguagens, 
possam dialogar de maneira afetiva, sensorial e temática com o público em questão. Um 
exemplo: vamos supor que o grupo de alunos em questão goste muito de rap, grafite, skate 
outros aspectos que envolvam a cultura hip hop. Uma boa estratégia de curadoria é pensar 
numa sessão de curtas que tragam documentários, videoclipes e até mesmo ficções que 
trabalhem com essas temáticas. Dessa maneira cria-se a possibilidade de que a turma entre 
em contato com obras audiovisuais que em outros contextos ela não teria acesso, mas ainda 
assim mantém-se um vínculo com o contexto sociocultural deste grupo específico. A função 
de programação e curadoria geralmente é compartilhada entre os membros da equipe, pois 
é sempre importante garantir a pluralidade de referências e repertório. 
 
4.4. Onde estão os filmes? 
Na teoria, a resposta é simples: em todos os lugares. Porém, na prática existe muito o 
que se levar em conta. Existem filmes de fato em todos os lugares, porém existem canais 
específicos para filmes alternativos, curtas-metragens, experimentais etc. 
 
Para exibições de filmes em película, o processo de escolha dos filmes depende de 
um catálogo físico que exista disponível e vinculado a distribuidoras específicas, como por 
exemplo a Cinemateca Brasileira, a Cinemateca da Embaixada Francesa, e as distribuidoras 
Vitrine Filmes e Pandora Filmes. 
Caso o cineclube exiba filmes no formato digital, a oferta de filmes é maior. No que 
diz respeito a direitos autorais, muitos cineclubes optam por não deixar que essa questão 
interfira na programação. Os cineclubes com caráter mais educativo ou comunitário 
dificilmente terão problemas com direitos autorais exibindo filmes com copyright. No 
entanto, principalmente ao trabalhar com curtas-metragens, é bastante possível programar 
filmes que tenham autorização, seja estando licenciados em creative commons seja através 
de contato direto com o realizador, distribuidora e produtora. 
Quando migramos para o universo da internet, de fato ampliamos exponencialmente 
o cenário de pesquisa de filmes para serem exibidos. Os principais portais de exibição e 
distribuição de vídeos, atualmente, são o Youtube e o Vimeo. Através deles é possível assistir 
aos filmes on-line, sem a necessidade de fazer download. Essa pode ser uma boa opção caso 
o local de exibição do cineclube possua internet banda larga. 
A questão é que esses sites são mega portais que abrigam uma quantidade imensa de 
conteúdos audiovisuais de todo o mundo, o que torna o trabalho de curadoria e pesquisa de 
filmes bastante complexo e cansativo. Por essa razão é que vale a pena ir atrás de catálogos 
e acervos antes. Alguns locais para buscar curtas-metragem são o Porta Curtas e o Curta o 
Curta, por exemplo. Existe um canal focado especificamente na produção audiovisual 
protagonizada por mulheres, chamado Mulheres Audiovisual, onde é possível ter acesso a 
obras para exibição. Há também, dentro do Vimeo e YouTube, canais específicos de longas e 
curtas-metragem, como a DF5. E por fim, existem também algumas distribuidoras on-line de 
filmes, focadas em distribuir filmes para cineclubes, escolas, centros comunitários etc., como 
é o caso da Taturana Mobilização Social e do Videocamp. 
Além desses meios, existem também ações organizadas de distribuição de filmes 
para cineclubes. Muitos festivais e mostras disponibilizam um catálogo de filmes para serem 
exibidos em cineclube num sistema de itinerância. Funciona assim a Mostra do Filme Livre, o 
Dia Internacional da Animação e a Mostra de Cinema e Direitos Humanos. 
E existe ainda a opção de busca em acervos físicos, considerando aí a exibição no 
formato DVD ou mesmo VHS, se houver equipamentos para isso. Muitas bibliotecas públicas 
possuem acervos de filmes que podem ser utilizados, principalmente em ambientes de 
aprendizagem. 
 
 
https://www.youtube.com/
https://vimeo.com/pt-br/
http://portacurtas.org.br/Especial/
http://curtaocurta.com.br/canal_do_curta.html
http://curtaocurta.com.br/canal_do_curta.html
https://mulheresaudiovisual.com.br/mulheres-flix
https://vimeo.com/df5
http://www.taturanamobi.com.br/
https://www.videocamp.com/pt
http://mostradofilmelivre.com/19/
https://www.abca.org.br/dia/
https://mostracinemaedireitoshumanos.sdh.gov.br/2015/
 
4.5. Estratégias de programação. 
Existem algumas estratégias que facilitam o momento de pensar a programação e ao 
mesmo tempo agregam qualidade na experiência do público. Algumas são: 
 Ciclos temáticos: estratégia bastante utilizada pelos cineclubes, consiste em 
estabelecer um tema que guiará a escolha dos filmes em um período de tempo, 
geralmente mensal. Por exemplo, um ciclo que tenha como tema Música e 
Cinema. O tema ajuda na hora de filtrar as opções e permite a criação de uma 
narrativa de programação para o público; 
 Sessões interativas e/ou multimídia: levar outras atrações artísticas para o 
momento da sessão de forma a criar um evento múltiplo. Pode ser desde 
apresentações musicais a espetáculos teatrais; 
 Convidados especiais para o debate: convidar um realizador, ator ou integrante 
do filme pode enriquecer muito o debate. O mesmo vale para especialistas, 
pesquisadores e estudiosos de temas que tenham a ver com o filme; 
 Comes e bebes: às vezes oferecer ou vender algum tipo de bebida ou comida 
pode fazer bastante sucesso. 
Essas são algumas estratégias variadas, e elas podem ou não servir para 
determinados tipos de cineclube. Por isso é que, de maneira geral, as linhas de curadoria, os 
tipos de filmes exibidos e as preferências do público vão se formando ao longo do tempo, 
conforme as sessões vão sendo realizadas. 
 
4.6. Formação de público. 
A formação de público é, na verdade, a preocupação central do cineclube. Por essa 
razão é que a atividade cineclubista é, necessariamente, uma atividade de formação cultural. 
É investir na ideia de que é possível, por meio do cinema, promover momentos de 
confraternização e entretenimento ao mesmo tempo que se promovem reflexões. 
Enquanto ferramenta para educar, o cineclube é muito potente. Tem a capacidade de 
mobilizar comunidades a refletirem sobre seu papel de cidadãos e valorizar sua cultura e seu 
espaço. 
Portanto, dentro dessa narrativa da formação de público, é normal que haja sessões 
com pouca gente ou que uma determinada faixa etária não se mobilize para ir às sessões. 
Isso faz parte do processo de conhecer o público com o qual se está trabalhando e aprender 
a programar junto com ele e não somente para ele. E também é saber a importância de 
exibir filmes não convencionais, que deixem desconforto em vez de confortar. Que tratem 
 
de temas que o cinema comercial não trata e retratem personagens que nasnarrativas 
dominantes quase não aparecem. 
 
5. Considerações finais 
Nosso percurso neste material escrito possibilitou que conhecêssemos um pouco 
sobre a história do cineclubismo no Brasil, percebendo seu caráter, desde o início, de prática 
de reflexão e formação acerca da realidade por meio do cinema e de problematizações da 
própria linguagem audiovisual. A partir desta abordagem histórica, tratamos das 
potencialidades de utilização do cinema para além dos tradicionais usos como apoio 
pedagógico, pensando em formas menos normalizadoras de trabalhar o cinema em 
contextos educativos. Por fim, tratamos de diversos aspectos práticos e técnicos da 
realização de um cineclube, passando desde sua estrutura de produção, a organização de 
sua equipe, as estratégias de programação e os desafios da formação de público. Podemos 
concluir que a prática cineclubista é, em si mesma, convergente com práticas de ensino e 
aprendizagem, principalmente levando em conta uma perspectiva transformadora e 
libertadora da educação, baseada em trocas de saberes, diálogo e reflexão crítica da 
realidade que nos cerca. 
 
6. Referências bibliográficas 
BUTRUCE, D. Cineclubismo no Brasil: esboço de uma história. Acervo - Revista do Arquivo 
Nacional, v. 16, n. 1, p. 117-124, 2003. Disponível em: 
<http://hdl.handle.net/20.500.11959/brapci/43976>. Acesso em: 27 ago. 2019. 
FREITAS, A.; COUTINHO, K. D. Cinema e educação: o que pode o cinema?. Educação e 
Filosofia. Uberlândia, v. 27, n. 54, p. 477-502, jul./dez. 2013. Disponível em: 
<http://www.seer.ufu.br/index.php/EducacaoFilosofia/article/view/14174>. Acesso em 27 
ago. 2019. 
 
 
 
http://hdl.handle.net/20.500.11959/brapci/43976
http://www.seer.ufu.br/index.php/EducacaoFilosofia/article/view/14174
 
http://poca.ufscar.br/ 
 
 
O material Cineclubismo e Educação: possibilidades do cinema no 
contexto escolar de Yasmin Bidim Pereira dos Santos está licenciado com 
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