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ANTROPOLOGIA FILOSÓFICA Bruna Luísa Szast Resumo do texto “Antropologia como filosofia primeira” de Ernst Tugendhat Nessa conferência, Tugendhat propõe-se a pensar sobre a questão “o que somos como seres humanos?” superando as tradições filosóficas e a própria metafísica. Para tal, ele acredita que as três perguntas fundamentais da filosofia, feitas por Kant, “o que posso conhecer?”, “o que devo fazer?”, “o que me é permitido esperar?” podem ser concentradas na pergunta do autor. Para tal, Tugendhat (2006, p. 2) faz perguntas fundamentais/orientadoras: ‘“o que é filosofia?”, “é necessário que as diferentes disciplinas filosóficas tenham uma pergunta fundamental?”, “se sim, por que tem que ser a antropologia?” e “como devemos entender a disciplina “antropologia filosófica” em si?”’. Na concepção do autor, a filosofia é o estudo do entendimento dos homens sobre as coisas e o mundo. Entretanto, vale ressaltar, que o entendimento como ponto chave da discussão implica duas nuances: o que cada pessoa entende sobre o ser em contra posição ao entendimento compartilhado sobre o ser. Além disso, como o próprio autor evidencia, “compartilhado” não é sinônimo de igual e sim, representa o diálogo ou troca intersubjetiva dos indivíduos. Nesse ponto, o entendimento passa a ser o ponto que diferencia os humanos dos demais seres e que, em tese, poderia abarcar toda a humanidade, indo muito além do pertencimento à espécie e características fisiológicas e biológicas. Podemos perceber que as perguntas são encadeadas, não à toa a resposta à segunda questão refere-se a base comum das disciplinas filosóficas. Tanto as disciplinas da filosofia prática e analítica deveriam ocupar da pergunta “o que devemos ser enquanto seres humanos?” olhando para a dimensão do ser e do dever (ética e política). Desse modo, novamente, o entendimento toma lugar na discussão filosófica. Tugendhat reforça [...] entendimento dos seres humanos, tanto da compreensão deles mesmos como da compreensão do mundo, parece ser o ponto-chave da antropologia, e isso explica por que ela tem que ser feita na primeira pessoa. Só na primeira pessoa, do singular ou plural, temos acesso ao entendimento. (TUGENDHAT, 2006, p. 5) Para o autor, o entendimento torna-se central na discussão e, por isso, a antropologia filosófica iria se ocupar de tencionar as discussões acerca do homem. Nesse caso, o foco dá-se para linguagem proposicional, que corresponde no diálogo sobre o que é bom é o que destaca- se sobre os homens e entende-se por linguagem proposicional. Os demais seres pré-linguísticos comunicam-se de modo limitado, muito mais preocupados com as questões imediatas da sobrevivência. Já, os seres humanos, a partir do diálogo, pensam sobre o bom, usando da linguagem para fins objetivos, subjetivos, criativos... Nesse sentido, a linguagem opera o pensar, quando pensamos e pensamos sobre nossos pensamentos, criamos o fenômeno da deliberação, a capacidade de fazer juízos, de pensar sobre o pensar em diversos aspectos, como das coisas por elas mesmas. Esse proporciona que a sociedade organize-se sobre qual a melhor maneira se deve viver, tendo como base a ética e a moral. Nesse sentido, a deliberação nada mais é que a capacidade de pensar utilizando a racionalidade, que não opera mais unicamente de forma matemática, mas sim, a partir do entendimento. Ao fim, Tugendhat dedica uma parte significativa do texto para definir a antropologia filosófica diferenciando-a da antropologia cultural. Sua crítica elabora-se sobre o fato da antropologia cultural não se ocupar das perguntas “o que somos enquanto seres humanos?” e “qual a melhor forma de vivermos?”. Entretanto não é de interesse da antropologia cultural ocupar-se delas. Hoje, a antropologia cultural é pensada igualmente e, também, a partir das perguntas em primeira pessoa (singular e plural). Desse modo, estuda-se outras culturas (não apenas as distantes, mas também as ocidentais) com objetivos de dialogar e compreender estruturas de ambas sociedades. Não é à toa que um dos principais cuidados no método etnográfico é a alteridade, o cuidado com o outro e a consciência de quem é o pesquisador. Não mais baseada na dualidade pesquisador-pesquisado e na curiosidades dos relatos de viajantes do início do século XIX. Enquanto isso, segundo Tugendhat, a antropologia filosófica faz “uma reflexão racional que faz um exame crítico tanto do própria cultura como das alheias” (TUGENDHAT, 2006, p. 13) reflexão essa, sem diálogo, quem dialoga são os antropólogos culturais. De tal modo, que os seres humanos pertencentes a outras sociedades se quer sabem da existência dos filósofos pensando o que somos enquanto seres humanos1. 1 Me permito fazer um comentário pessoal. Independente das justificativas do autor, o fato de não haver um diálogo real com pessoas (material empírico coletado por filósofos) ainda me parece uma ferramenta de autopreservação da disciplina. Ou ainda, eurocêntrico quando se referem a inferências sobre outras culturas. Por fim, o autor dedica-se a afirmar que a antropologia filosófica pretende-se uma disciplina livre das tradições, pois ao pensar “o melhor modo de se viver” irá ignorar as tradições históricas, que normalmente, são elaboradas a partir de leis divinas ou de pessoas poderosas. Para o autor, o bem viver só pode ser pensado a partir da deliberação e não por ordens de alguns seres humanos ou seres místicos. Nesse sentido, Tugendhat (2006, p. 21) termina dizendo “somos seres humanos que querem conviver, com independência de todas as tradições, e isso significa que as boas razões para entrar nessa sociedade moral se baseiam numa reflexão puramente antropológica”. Ignorando, inclusive, a história pois, propõe-se a pensar e fazer novo a todo momento.
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