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Maria Beatriz Machado ATENÇÃO BÁSICA II – AULA TEÓRICA 07 – MIOMATOSE UTERINA 1. INTRODUÇÃO Definição de miomas: São tumores benignos que se originam nas células musculares do miométrio (músculo liso uterino) e que apresentam consistência fibrosa (tecido conectivo). Devemos deixar MUITO claro para a paciente que a miomatose não tem nada de malignidade, que são apenas tumores originados de musculatura. Sinonímias: Fibromas uterinos, miomas uterinos, leiomiomas. Características dos miomas: Consistência firme e dura Podem ser únicos ou múltiplos Em geral são tumores bem delimitados. 2. INCIDENCIA 01 em cada 4 mulheres pode apresentar miomas na idade reprodutiva Isso não quer dizer que ela obrigatoriamente terá repercussões. Os miomas estão presentes em 50% das necrópsias. São mais frequentes na 3ª e 4ª décadas de vida. 90% dos miomas são diagnosticados apenas entre mulheres de 35 à 54 anos Nessa idade as pacientes procuram mais atendimento médico, portanto mais diagnósticos são feitos Os miomas são raros antes dos 20 anos, porém quando encontramos miomas nessa idade, geralmente é uma miomatose complicada. Os miomas são excepcionais antes da puberdade Praticamente nunca ocorrem São mais comuns na raça negra (50% x 25%) São mais frequentes em mulheres nulíparas ou inférteis. Os miomas tendem a involuir após a menopausa. Fatores protetores: Anticoncepcional oral e multiparidade. 3. ETIOLOGIA Desconhecida Os miomas são estrógeno dependentes, ou seja, enquanto tivermos estrógeno circulando e atuando no corpo, podemos acelerar o comprometimento de um mioma uterino Os anticoncepcionais orais acabam suprimindo o eixo hipófise-ovário, ou seja, bloqueiam o FSH/LH e assim os ovários não produzirão o estrogênio. Além disso, o estradiol dos anticoncepcionais orais é menos potente e em menor quantidade. Papel dos estrógenos e da progesterona: Eles intervêm no aumento do tamanho do mioma, estimulando de forma anormal a expressão de fatores de crescimento. 50% dos miomas possuem aumento de atividade mitótica durante a fase luteínica A atividade mitótica é mais alta em mulheres mais jovens, de 30 a 35 anos Os miomas permanecem relativamente ativos durante a fase folicular Maria Beatriz Machado 4. LOCALIZAÇÃO Mioma subseroso (camada mais exterior do útero – serosa) Mioma intramural (fica no miométrio) Mioma submucoso (fica dentro do endométrio) 4.1. MIOMA SUBSEROSO 40% dos casos São situados abaixo do peritônio visceral uterino. Alcançam grandes tamanhos Algumas vezes podem crescer se tornando maiores que o próprio útero São pouco sintomáticos. Podem ser pediculados Possuem resolução mais simples Podem crescer para dentro da cavidade abdominal Nesse caso podem comprimir a bexiga (levando a infecções urinárias devido a retenção de urina, ou podem ter incontinência urinária, etc), podem comprimir o intestino delgado/grosso Podem se aderir ao epiplón (omento), intestino e outras estruturas. 4.2. MIOMA INTRAMURAL São os mais frequentes (55%) Se proliferam na porção muscular uterina (miométrio) Podem se tornar submucosos (caso cresçam para dentro atingindo o endométrio), ou subserosos (caso cresçam para fora atingindo a serosa). Maria Beatriz Machado 4.3. MIOMA SUBMUCOSO Somente 5 - 10% dos casos Se proliferam dentro da cavidade uterina (endométrio) São os mais sintomáticos. Esse tipo de mioma pode causar hemorragia, porque ele altera a estrutura do endométrio, fazendo com que ele se estique e sangre. Podem ser pediculados e se prolapsar através do orifício cervical do colo uterino (mioma parido) OBS: Quando temos uma paciente com abortos de repetição, precisamos pensar na possibilidade de que ela tenha miomatose uterina por miomas submucosos, porque dependendo do tamanho deles, e da porção que eles ocupam do endométrio, a gravidez não consegue se desenvolver. 4.4. MIOMA PARIDO/PEDICULADO – qualquer tipo de mioma pode se tornar pediculado/parido Chamamos de mioma parido aquele que se prolapsa para fora do útero Algumas vezes possuem tamanho tão grande, que é possível vê-los saindo pelo orifício exterior do colo uterino, e até mesmo no introito vaginal. OBS: Temos ainda os miomas “cervicais”, que são aqueles encontrados no colo uterino. 5. DEGENERAÇÕES DOS MIOMAS Sempre que retirarmos um mioma uterino, devemos encaminhá-lo para biópsia, e a análise mostrará se ele possui degeneração, e se possuir, qual o tipo dela. Degeneracão hialina: Mais frequente (65%). Substituição do tecido miomatoso por material hialino acelular. Ocorre mais nos miomas subserosos. Degeneracão cística: Representa 4%. Tecido hialino se agrupa e forma cavidades císticas. Maria Beatriz Machado Degeneracão por calcificação: 4 - 10%. É comum em menopausadas. (⍨ atrofia miomatosa). Degeneracão roxa ou por necrose: Ocorre quando o mioma cresce muito em pouco tempo, produzindo-se um infarto muscular agudo que provoca dor e irritação peritoneal. É mais frequente durante a gravidez. Degeneracão maligna ou sarcomatosa (?): Esse tipo de degeneração ocorre quando o mioma possui origem sarcomatosa Pouco frequente (0.5%). Ocorre em miomas de crescimento rápido. Pacientes pós-menopausadas. Esse tipo de degeneração geralmente é encontrada em pacientes mais velhas e que provavelmente possuem câncer de endométrio 6. SINTOMATOLOGIA A maioria é assintomática (50 - 80%) E por essa razão, grande parte dos miomas só é diagnosticada nas revisões de rotina (US de rotina) Os sintomas dependem da localização e do tamanho. Possível sintomatologia: É uma sintomatologia muito vaga e inespecífica Geral: Infertilidade: Prejudicam a fecundação ou implantação Os miomas subserosos não causam tanto. Parto: Aumentam as distocias, apresentações anômalas e partos pré-termo. Miomas submucosos: Hemorragias uterinas ou menorragia Anemia hipocrômica: É mais raro, porém pode ocorrer Miomas subserosos: Sintomas de compressão: Intestinal e vesical Dor pélvica: Geralmente é causada por torção, dilatação do colo, degeneração, compressão nervosa ou compressão de estruturas contíguas Aumento do volume abdominal Miomas intramurais: Aumento do volume abdominal 7. DIAGNÓSTICO História clínica e exame físico: A história clínica é muito falha. Devemos realizar: Palpação abdominal Palpa-se melhor os miomas subserosos. Toque vaginal. Avaliar tamanho, forma e consistência. Maria Beatriz Machado Ultrassonografia pélvica transabdominal/transvaginal: É o método diagnóstico mais utilizado O US além de dar o diagnóstico, também mostra a quantidade de miomas, quais os tipos de mioma, e as possíveis complicações que eles possam apresentar. Volume uterino: Nuliparas ou jovens = 30 a 60 cm³ Após 1 filho ± 70 a 90 cm³ Após 2 filhos ± 100 a 120 cm³ Após 3 filhos ou mais ± 180 a 200cm³ Cirúrgico quando > 300cm³ IMPORTANTE!!! Tamanho dos ovários: Normal até 10cm³ Espessamento do endométrio: Utilizamos essa medida principalmente nas mulheres na menopausa, porque elas devem ter o útero atrófico. Caso o endométrio tenha até 6mm, é considerada uma hiperplasia endometrial. Histeroscopia: Só utilizamos a histeroscopia nos casos de miomas submucosos (já diagnosticados através da ultrassonografia) Através dela podemos retirar o mioma submucoso. OBS: No livro do medcurso é falado que a ressonância magnética é o melhor exame para visualização e mensuração dos miomas, porém por ser um exame caro, só é feito caso o mioma não seja diagnosticado pelo US. 8. TRATAMENTO Depende dos seguintes fatores: Idade Paridade Estado da gravidez Saúde Sintomas Tamanho Tipo e localização do mioma. 8.1. CONDUTA EXPECTANTE Miomas pequenos e assintomáticos (+ próximo de entrar na menopausa) Controles periódicos a cada 3 - 6 meses 8.2. TRATAMENTO MEDICAMENTOSO Anticoncepcionais orais: Melhoram as cólicas menstruais Devem ser usados continuamente (para que a paciente não tenha ciclos menstruais e evite sangramento) Anti-inflamatórios não hormonais Progestágenos (usados de forma contínua) Análogo de GNRH Maria Beatriz Machado 8.2.1. ANÁLOGO DO GNRH Utilizados nos casos de úteros ≥ 300cm³ Medicamentos: Goserrelina (10.8 mg/dia) Mais importante!!! Buserelina (3.75 mg/dia) Triptorelina Leuprorelina Ações: Diminuem o tamanho uterino IMPORTANTE!!! Isso é importante para que marquemos a cirurgia quando o útero tiver diminuído de tamanho Geralmente a cirurgia é marcada 90 dias após o início do uso Causam abolição da função hipotálamo – hipofisária, e desaparecimento da secreção do FSH – LH, levando a queda do estradiol Diminuição da vascularização tumoral ou redução do fluxo da artéria uterina. Redução do tamanho do mioma de 30 a 70% (devido a diminuição do estradiol) Não produzem morte celular nos miomas, e portanto eles voltam a crescer. 8.3. TRATAMENTO CIRÚRGICO Embolização das artérias uterinas: Causa bloqueio do crescimento dos miomas O resultado não é muito bom, e só funciona para miomas pequenos E geralmente esses miomas pequenos conseguem ser controlados apenas com medicamentos, ou muitas vezes nem necessitam de medicamentos por estarem estabilizados, portanto não é vantagem expor a paciente a este tipo de tratamento mais “invasivo”. Laparoscopia: Miomectomia: Serve para miomas intramurais e subserosos de pequeno tamanho Videolaparoscopia: Histerectomia total/parcial Para miomas grandes Histeroscopia: Para miomas Submucosos