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Maria Beatriz Machado ATENÇÃO BÁSICA II – AULA TEÓRICA 09 – DOENÇAS INFECCIOSAS NA GESTAÇÃO (TORCH) 1. INTRODUÇÃO OBS: Não falaremos de sífilis porque segundo a Dra, teremos uma aula somente disso. HIV Estreptococos beta-hemolítico Torch: Toxoplasmose, rubéola, citomegalovírus e hepatite TORCH é o acrônimo para um grupo de doenças infecciosas capazes de causar doença em gestantes e malformações congênitas no feto. 2. ESTREPTOCOCCUS DO GRUPO B (GBS) Agente principal: Streptoccocus agalactiae Septicemia neonatal precoce (até 48h de vida) Condição grave com elevada mortalidade Contaminação: Ocorre no canal do parto e durante o trabalho de parto (gestante colonizada) 20% das gestantes brasileiras estão colonizadas pelo estreptococo do grupo B Reservatório natural do agente: Trato gastrointestinal Trato genital 2.1. PROFILAXIA Deve ser feita a cultura vaginal e retal entre 35 – 37 semanas de gestação: Swab vaginal (2cm sem uso do espéculo) Swab anal (ultrapassando o esfíncter anal) 2.2. CULTURA Cultura positiva: Tratar somente durante o trabalho de parto e manter até o nascimento (até clampear o cordão) Penicilina G cristalina (principal): 5.000.000 UI EV, seguido de 2.500.000 UI EV 4/4 horas Ampicilina (conduta alternativa): 2g EV, seguido de 1g EV 4/4 horas Clindamicina (nos casos de alergia): 900 mg EV 8/8 horas Cultura não realizada: Fazer profilaxia em caso de: Recém-nascido com história prévia de infecção por GBS Bacteriúria materna ou infecção urinária por GBS (estreptococo grupo B) durante a atual gestação Trabalho de parto prematuro (< 37 semanas) Amniorrexe prematura com duração ≥ 18 horas Temperatura axilar > 38°C durante o trabalho de parto Não realizar profilaxia: Gestação prévia com cultura negativa para GBS Cesariana eletiva, na ausência de trabalho de parto e de amniorrexe prematura (independente do resultado das culturas) Culturas vaginal e anorretal negativas na atual gestação Maria Beatriz Machado 3. HIV 0,4% das gestantes são soropositivas Principal fator de risco associado à transmissão vertical: Carga viral elevada A gestação acelera a evolução da doença 70% das transmissões ocorrem intraparto Mãe não tratadas: 16% dos RN infectados Como diminuir a transmissão vertical: Obter a menor carga viral possível Via de parto: Cesárea eletiva Idade gestacional do parto: 38 semanas (evitar pós termo) Antirretrovirais no parto: Mãe e feto Menor contato possível na assistência ao parto Aleitamento materno: Suspenso 3.1. CONDUTA OBSTÉTRICA Teste rápido para HIV na internação: Na verdade TODAS as gestantes são obrigadas a fazer o teste na internação! Gestantes sem pré-natal Gestantes não testadas no pré-natal Gestantes sem registro do teste Parceiro HIV (+) Prostitutas Portadoras de outras DST Usuárias de drogas ilícitas Sem resultado do teste do último trimestre (2º teste) Para diagnóstico: Dois testes positivos 3.2. CARGA VIRAL Dosagem ideal: Por volta das 34 semanas Brasil: CV < 1000 Influencia na via de parto porque a paciente pode tentar parto normal EUA e EUROPA: CV < 400 Influencia na via de parto porque a paciente pode tentar parto normal Carga viral sistêmica pode não se relacionar com a carga viral vaginal 3.3. PARTO Via de parto: Cesárea eletiva É a via de preferência Parto normal Precisamos observar em quais situações ele pode ser feito Há transmissão para o feto: Durante as contrações (micro transfusões) Pelo canal de parto Maria Beatriz Machado Condições da via de parto: Carga viral desconhecida Indicativo de cesárea Carga viral > 1000 Indicativo de cesárea Terapia antirretroviral (TARV) não realizada ou iniciada somente no último trimestre Indicativo de cesárea 3.3.1. CÉSÁREA ELETIVA Deve ser feita com 38 semanas Sem entrar em trabalho de parto Mesmo que a paciente entre em trabalho de parto, devemos fazer a cesárea Tentar manter as membranas íntegras Cuidados de proteção do feto (compressas protetoras) Tentar parto empelicado Ligar o cordão imediatamente Realizar antibioticoprofilaxia 3.3.2. PARTO NORMAL Pode ser realizado quando carga viral < 1000 Realizar partograma Realizar a menor quantidade de toques vaginais quanto possível Evitar parto prolongado e uso de ocitocina (evitar micro transfusões) Não usar: Fórceps e vácuo extração Não romper bolsa das águas (tentar parto empelicado) Não realizar episiotomia Ligar o cordão imediatamente Realizar antibioticoprofilaxia: Cefazolina ou cefalotina 2g no momento de fazer a ligadura do cordão 3.3.3. TRABALHO DE PARTO PREMATURO Tratar como as não infectadas Usar AZT endovenoso (zidovudina) até a inibição do parto Fazer profilaxia de estreptococos do grupo B 3.3.4. RPMO < 34 semanas: Inibir 48h (para fazer uso do corticóide) Considerar interrupção 34 semanas ou mais: Resolução 3.4. TERAPIA ANTIRRETROVIRAL (TARV) Sem tratamento: 16% dos fetos nascem infectados Maria Beatriz Machado Com tratamento: AZT (zidovudina): 8,3% de contaminação AZT + cesárea: 2,5% TARV múltipla: 0 a 2% TARV múltipla + cesárea: < 1% Dose do AZT: Trabalho de parto: Dose de ataque: 2mg/Kg na 1ª hora Dose de manutenção: 1 mg/Kg/h até a ligadura do cordão Cesárea (geralmente é programada): Iniciar 3 horas antes da cesárea eletiva a dose de ataque e manter até o clampeamento do cordão 3.5. PUERPÉRIO Manter no alojamento conjunto Suspender a lactação: Cabergolina 0,5mg cada cp: 2 cps (dose única) logo após o nascimento Enfaixar as mamas Manter ou não a TARV no puerpério (depende do infectologista) Consultar infectologia 4. TOXOPLASMOSE Agente etiológico: Toxoplasma Gondii Transmissão: Ingestão ou inalação de oocistos (fezes de gato) Ingestão de cistos teciduais (carne contaminada) Congênita Quadro clínico: Adenopatia cervical, febre, linfocitose Congênita (primo infecção no 2º e 3º trimestre): Tétrade de Sabin: PRECISA SABER!!! Calcificações cerebrais Corioretinite Hidrocefalia Retardo mental ou perturbações neurológicas Recorrência de toxoplasmose: Só acomete o feto caso a mãe seja imunodeprimida (portadoras de HIV – o feto pode ser acometido mesmo que ela já tenha tido toxoplasmose previamente e seja “imunizada”) Toxoplasmose adquirida no início da gravidez: O contagio fetal é menos frequente, porém, com lesões mais graves para o concepto. Toxoplasmose adquirida mais tardiamente na gravidez: Há maior risco de transmissão para o feto, porém, com lesões menos graves para o concepto Maria Beatriz Machado Testes sorológicos: Imunofluorescência indireta: IgG* e IgM** Avidez da IgG: Se < 30%: Infecção há menos de 3 meses Se > 60%: Infecção há mais de 3 meses Entre 30 - 60%: É inconclusiva OBS: IgG persiste positiva por toda a vida OBS: IgM positiva 1 a 2 semanas após infecção e pode ser detectada por vários anos Prevenção primária (IgG e IgM negativos): Usar luvas no manuseio de jardins Lavar frutas e verduras Evitar carne e ovos mal cozidos Cuidado no contato com animais Gestantes HIV (+) com CD4 < 100 cels/ml: Sulfametoxazol (800 mg/dia) + trimetropim (160 mg/dia) Repetir sorologia no 2º e 3º trimestres Paciente imune (IgG positivo e IgM negativo): Paciente com imunidade permanente, não precisa mais repetir sorologia (exceto paciente com HIV) As pacientes HIV positivas DEVEM fazer sorologia nos TRÊS TRIMESTRES da gestação, porque podem ter recorrência da doença! IMPORTANTE!!! Maria Beatriz Machado Paciente com IgG +/- e IgM +: Pode ser fase aguda IgM +: Repetir sorologia e teste deavidez em 15 dias: Casos IgM negative ou permaneça em título menor que o anterior: Com avidez alta (> 60%): Doença aguda faz mais de 12 semanas Ficamos mais tranquilos e tranquilizamos a paciente. Com baixa avidez (< 30%): Doença com menos de 12 semanas Encaminhamos a paciente para o pré-natal de alto risco e deve ser feita a profilaxia. Entre 30-60%: É duvidoso Caso IgM aumente: Doença aguda atual Encaminhamos a paciente para o pré-natal de alto risco e deve ser feita a profilaxia. Em todos os casos de IgM positivo, até a repetição dos exames: Espiramicina (Rovamicina ®): 1g (2 cp) de 8/8 horas VO continuamente Cada comprimido possui 500mg, então devemos dar 2 cp. Investigação fetal na doença aguda: US morfológico (20s): Sensibilidade de 20% Amniocentese (20s): PCR do líquido amniótico Coletamos líquido amniótico na amniocentese e é feito PCR nele Esse exame confirma ou não se existe material genético do toxoplasma, portanto, se existe contaminação fetal Nos casos onde temos material genético do toxoplasma, é feito o tratamento modificado 4.1. TRATAMENTO Tratamento modificado: Alternando três semanas de: Pirimetamina (Daraprim®): 50mg/dia Sulfadiazina (Sulfadiazina®): 1,5 g 2x/dia Com três semanas de: Espiramicina 3g/dia até o parto Suspender esquema com 36 semanas e manter apenas a espiramicina até 15 dias antes do parto Manter o ácido fólico durante qualquer fase do esquema, porque esses medicamentos inibem sua síntese, aumentando o risco de malformação do tubo neural. 5. RUBÉOLA CONGÊNITA Primeira consulta de pré-natal: Controle do estado de vacinação da gestante Vacina: Vírus vivo atenuado Contraindicada na gravidez Se uma paciente NÃO gestante receber vacina, ela deve ficar os próximos 3 meses sem engravidar A vacinação deve ser estimulada em pacientes não gestantes, para a prevenção de sua transmissibilidade Se a rubéola é adquirida até o 4º mês da gravidez: Lesões fetais graves Microcefalia Lesões cerebrais Cardiopatias Se a rubéola é adquirida após o 4º mês da gravidez: Lesões menos graves Relacionadas à surdez em diferentes graus Maria Beatriz Machado A sorologia não é recomendada de rotina no pré-natal de baixo risco da OMS. Porém, diversos autores orientam que a sorologia seja solicitada na primeira consulta Não existe forma de prevenção efetiva ou tratamento na gravidez Caso a paciente apresente clínica de virose (especialmente com artralgia, linfonodomegalia ou manchas róseas na pele): Realizar sorologia para investigação. LEMBRAR DO “O”: Olhos: Coriorretinite; catarata Ouvidos: Surdez Coração: Malformações congênitas Microcefalia 6. CITOMEGALOVÍRUS Etiologia: Infecção causada por DNA vírus da família do Herpes vírus Hospedeiro único: Homem A sorologia não é rotina no pré-natal de baixo risco da OMS. Não é exame de rotina no pré-natal, porque não há imunidade permanente e não tem tratamento Transmissão: Contato pessoa a pessoas (crianças infectadas) Sexual Transmissão fetal: Transplacentária Canal de parto Amamentação Transmissão vertical: 25% a 75% - Primo infecção materna 15% - Infecção recorrente Prognóstico fetal: 1% dos RN apresentam infecção congênita RN com infecção congênita: 90% com infecção grave e 10% normais, e 5 - 10% poderão ter manifestações tardias Manifestações precoces: 50% perda auditiva 70% microcefalia 61% retardo mental Manifestações tardias: 1º e 2º meses de vida Retardo mental Hipoacusia Maria Beatriz Machado 7. HEPATITE A doença não altera o curso da gestação Nenhuma forma das hepatites virais parece ser teratogênica A cesárea não é recomendada para a redução da transmissão vertical da hepatite viral Aleitamento materno: Não é contra indicado Hepatite E: Especialmente grave na gestação Tipo de hepatite extremamente raro. 7.1. HEPATITE B Conjuntamente com outras hepatites virais, constitui a principal causa de icterícia na gestação Vacinação: Confirmar estado vacinal de todas as pacientes na primeira consulta Pacientes não vacinadas, ou com vacinação parcial: Devem ser vacinadas/complementar o esquema vacinal durante a gravidez Agente etiológico: DNA vírus; período de incubação: 60 a 180 dias Vias de transmissão: Sangue e derivados Sexual Vertical Evolução para cronicidade: 10% casos A cronicidade está relacionada com o CA de fígado Testes sorológicos: É importante pedir no pré-natal: HBs-Ag Anti-HBs Maria Beatriz Machado 7.1.1. TRATAMENTO Sem restrições dietéticas Abstinência alcoólica por pelo menos 6 meses Repouso relativo durante a fase sintomática da doença com retorno gradual às atividades físicas Medicamentos sintomáticos Não existe tratamento específico para hepatite B! Casos crônicos sem tratamento na gestação 7.1.2. PROFILAXIA MATERNO E FETAL Gestantes: Gestantes não vacinadas ou com vacinação incompleta e exposição recente ao HBV: Vacina: Iniciar ou completar esquema durante a gestação Imunoglobulina (HBIG) no parto Recém-nascidos de gestante com hepatite aguda ou crônica: Vacina: 0,5 ml, IM: 1ª dose nas primeiras 12 horas de vida 2ª dose com 1 mês de vida 3ª dose no 6º mês de vida Imunoglobulina (HBIG): 0,5 ml, IM, em região anatômica diferente da vacina, nas primeiras 12 horas de vida
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