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Direitos Humanos - Verbo Jurídico - 2020

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DIREITOS HUMANOS 
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DIREITOS HUMANOS 
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SUMÁRIO 
 
1. FUNDAMENTOS DOS DIREITOS HUMANOS ............................................................................. 03 
2. EVOLUÇÃO HISTÓRICA DOS DIREITOS HUMANOS .................................................................. 08 
3. DIMENSÕES E CARACTERÍSTICAS DOS DIREITOS HUMANOS .................................................. 13 
4. VERTENTES DA PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS ............................... 22 
5. DIREITOS HUMANOS NA CF/88 ................................................................................................ 25 
6. SISTEMA INTERNACIONAL DE PROTEÇÃO AOS DIREITOS HUMANOS .................................... 34 
7. DIREITOS HUMANOS NO ÂMBITO INTERNACIONAL ............................................................... 43 
8. EXECUÇÃO DE DECISÕES ORIUNDAS DE TRIBUNAIS INTERNACIONAIS .................................. 46 
9. DIREITOS HUMANOS E ACESSO À JUSTIÇA .............................................................................. 47 
10. SISTEMAS ESPECÍFICOS DE PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS ....................................... 50 
11. CONVENÇÃO AMERICANA DE DIREITOS HUMANOS ............................................................. 56 
12. CONVENÇÕES INTERAMERICANAS ........................................................................................ 71 
 
 
DIREITOS HUMANOS 
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FUNDAMENTOS DOS DIREITOS HUMA-
NOS 
 
 
Fundamentos envolvem as bases, as premissas sobre as quais os Direitos Humanos encontram 
suas razões. Isso é importante para que possamos compreender as bases e as premissas que envol-
vem a nossa matéria. 
 
Esse tema é abstrato, envolvendo conceitos históricos e discussões filosóficas. Entretanto, co-
mo o assunto é recorrente em provas, vamos trazer os assuntos de forma sucinta e didática, com 
destaque para as principais informações, em duas linhas de pensamento. 
 
Primeiramente, lembre-se: 
 
 
 
 
 
 IMPOSSIBILIDADE DE DELIMITAÇÃO DOS FUNDAMENTOS 
Formou-se, na doutrina, a corrente negativista que nega a possibilidade de ser definido um 
fundamento para os Direitos Humanos. 
 
Há quem entenda, a exemplo de Norberto Bobbio, que é impossível definir o fundamento de 
nossa disciplina, por 3 motivos: 
1. Existem divergências quanto à definição de qual ser ia o conjunto de direitos abrangi-
dos. Assim, não ser ia possível definir o fundamento, pois nem se sabe ao certo quais são os 
direitos compreendidos em nossa disciplina; 
 
2. Em razão de sua historicidade, os Direitos Humanos constituem disciplina que está em 
constante evolução; e 
 
3. Direitos Humanos constituem uma categoria de direitos heterogênea, por vezes confli-
tuosa, exigindo do aplicador a técnica da ponderação de interesses. 
 
Para outros doutrinadores, não é possível identificar o fundamento dos Direitos Humanos por-
que esses direitos são consagrados a partir de juízos de valor. Vale dizer, são consagrados por op-
ções morais que, por definição, não podem ser comprovadas ou justificadas, mas apenas aceitas por 
convicção pessoal. 
 
O que significa isso? 
Consiste no fato de que não existe uma norma, como é o texto constitucional de um Estado, 
que seja fundamento de validade para as demais normas de determinado ordenamento jurídico. Em 
Direito Constitucional estudamos que a Constituição é fundamento de validade para todas as normas 
infraconstitucionais. Já na seara dos Direitos Humanos, como inexiste um referencial (como a Consti-
FUNDAMENTOS DOS 
DIREITOS HUMANOS 
Razões que legitimam e 
que motivam o reconhe-
cimento dos Direitos 
Humanos 
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DIREITOS HUMANOS 
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tuição), cada organismo internacional poderá compreender o fundamento da disciplina de acordo 
com suas concepções morais e juízos de valor. 
 
Para esses autores o fato de os direitos humanos possuírem estrutura aberta impede que se 
delimitem os fundamentos dos direitos humanos. 
 
 FUNDAMENTOS 
Paralelamente à corrente que nega a possibilidade de delimitação dos Direitos Humanos, há 
vários doutrinadores que compreendem existir fundamentos. 
 
Estudaremos os fundamentos principais: 
 FUNDAMENTO JUSNATURALISTA 
Para a corrente jusnaturalista, o fundamento dos Direitos Humanos está em normas anterio-
res e superiores ao direito estatal posto, decorrente de um conjunto de ideias, de origem divina ou 
fruto da razão humana. 
 
Assim, para essa cor rente de pensamento, os Direitos Humanos ser iam equivalentes aos di-
reitos naturais, consequência da afirmação dos ideais jusnaturalistas. 
 
Uma característica importante da corrente jusnaturalista é o cunho metafísico, uma vez que 
os Direitos Humanos encontram fundamento na existência de um direito pré-existente ao direito 
produzido pelo homem, oriundo de: 
a) Deus: escola de direito natural de razão divina; 
De acordo com a concepção religiosa jusnaturalista, a lei humana somente teria validade 
se estiver de acordo com as leis divinas. 
 
b) da natureza inerente do ser humano: escola de direito natural moderna. 
De acordo com corrente jusnaturalista pura, há um conjunto de direitos que são ineren-
tes à simples existência da pessoa. 
 
Em crítica a esse fundamento, argui-se que os direitos humanos são históricos, ou seja, con-
quistados pela sociedade em razão das confluências sociais e culturais, de forma que os Direitos Hu-
manos não são pré-existentes a tudo que existe de normativo. 
 
A religião foi importante para o desenvolvimento dos Direitos Humanos, especialmente a Igre-
ja Católica, que privilegiou o respeito ao ser humano, à pessoa, o respeito à dignidade. Além disso, a 
própria existência humana traz consigo alguns valores importantes, tais como o direito à vida e à 
liberdade que se relacionam diretamente com a matéria. 
 
 FUNDAMENTO RACIONAL 
Aqui temos uma visão laica dos direitos humanos, não vinculada à natureza ou à religião. A 
vinculação pretendida se dá em relação à razão humana, que distingue o homem dos demais seres 
vivos. Diante disso, aquilo que o homem, por intermédio de uma reflexão racional, procura estabele-
cer como inerente à condição humana constituirá o fundamento para os direitos humanos. 
 
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Essa fundamentação ganha força com o desenvolvimento do pensamento iluminista, que pro-
cura centrar o foco da reflexão filosófica no homem, colocado, agora, como centro das atenções e 
do pensamento. Assim, os defensores do fundamento racional compreendem que os direitos huma-
nos têm suas bases lançadas neste movimento racional. 
 
 FUNDAMENTO POSITIVISTA 
O fundamento positivista dos direitos humanos se opõe fortemente ao fundamento jusnatura-
lista. Nega-se a pré-existência de direitos humanos, pois todos ser iam decorrentes das normas esta-
tais. 
 
Segundo o fundamento positivista, a formação dos Estados Constitucionais de Direito levou à 
inserção de Direitos Humanos nas constituições. Desse modo, se os Direitos Humanos estiverem 
escritos em textos legais (e principalmente, constitucionais) são considerados Direitos Humanos. 
Antes de serem positivados, são considerados apenas valores e juízos morais. 
 
Sobre a corrente, leciona André de Carvalho Ramos: 
“O fundamento dos direitos humanos consiste na existência da lei positiva, cujo pressupos-
to de validade está em sua edição conforme as regras estabelecidas na Constituição. As-
sim, os direitos humanos justificam-se graças a sua validade formal.”
 1
 
 
De acordo com a doutrina de Fábio Konder Comparato2, a normatização dos direitos humanos 
confere segurança jurídica às relações sociais, tendo finalidade pedagógica perante a comunidade na 
medida em que faz prevalecer valores éticos que estão positivadosnas normas jurídicas. 
 
Por outro lado, essa corrente não pode ser considerada unilateralmente, pois a necessidade 
de positivação do direito enfraquece-o. Não é possível aceitar que somente os direitos humanos 
positivados no âmbito internacional ou internamente possam ser assegurados. Adotando-se unilate-
ralmente a tese positivista, se a lei for omissa ou mesmo contrária à dignidade humana, estaremos 
diante de uma precarização dos Direitos Humanos. 
 
 FUNDAMENTO MORAL 
Para finalizar, vejamos a fundamentação moral, segundo a qual os direitos humanos consis-
tem no conjunto de direitos subjetivos originados diretamente dos princípios, independentemente 
da existência de regras prévias. Assim, os direitos humanos podem ser considerados direitos morais 
que não aferem sua validade por normas positivadas, mas extraem validade diretamente de valo-
res morais da coletividade humana. Entende-se que a moralidade integra o ordenamento jurídico 
por meio de princípios, referindo-se às exigências de justiça, de equidade ou de qualquer outra di-
mensão da moral. 
 
Existe, portanto, um conteúdo ético na fundamentação dos Direitos Humanos, no que se re-
fere à necessidade de assegurar uma vida digna às pessoas. 
 
 QUADRO SINÓTICO 
 
 
1 RAMOS, André de Carvalho. Teor ia Geral dos Direitos Humanos na Ordem Internacional. 2ª edição, São Paulo: Editora Saraiva, 2012 
(versão eletrônica). 
2 COMPARATO, Fábio Konder. Afirmação Histórica dos Direitos Humanos, 7ª edição, São Paulo: Editora Saraiva S/ A, 2010, p. 72. 
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Impossibilidade de delimitação 
dos Fundamentos 
Nega a possibilidade de fundamentação dos direitos humanos, 
por vários motivos: 
- há divergências quanto à abrangência; 
- estão em constante evolução; 
- constituem categoria heterogênea; 
- são consagrados a partir de juízos de valor, que não podem ser 
justificados e comprovados; 
- constitui disciplina universalmente aceita e fundada na moral. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A partir das reflexões acima, pergunta- se: há uma teoria que prevalece? 
Não vamos adotar nenhuma delas de forma isolada, mas o conjunto desses fundamentos com 
vistas à realização da dignidade da pessoa. Essa é a compreensão que prevalece. 
 
 FUNDAMENTO DA DIGNIDADE 
De acordo com a doutrina de Norberto Bobbio, é mais importante buscar a realização dos di-
reitos humanos do que escolher um dos fundamentos acima estudados. De todo modo, o ponto em 
comum de todas os fundamentos debatidos pela doutrina está no sentido de que existe um núcleo 
de direitos que realizam os direitos mais básicos dos seres humanos, os direitos de dignidade. 
 
Argumenta-se que a universalidade dos direitos humanos, a negação da teoria puramente po-
sitivista, somados à ideia de que os direitos humanos estão em constante construção a partir das 
confluências históricas, levam à formação de um bloco de valores, que realizam a dignidade humana 
e que, portanto, constituem as razões da nossa matéria. 
 
A dúvida que se põe envolve a discussão sobre o conteúdo da dignidade: 
Afinal, o que é dignidade humana? 
Fundamento Jusnaturalista: Normas anteriores ou divinas e superiores ao direito esta-
tal posto, decorrente de um conjunto de ideias, fruto da razão humana. 
Fundamento Racional: Normas extraíveis da razão inerentes à condição humana. 
Fundamento Positivista: São Direitos Humanos os valores e os juízos condizentes com a 
dignidade positivados no ordenamento. 
Fundamento Moral: Os direitos humanos podem ser considerados direitos morais que 
não aferem sua validade por normas positivadas, mas diretamente de valores morais 
da coletividade humana. 
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A dignidade deve ser considerada como valor base de todo e qualquer ordenamento jurídico. 
Pauta-se na ideia de uma conduta justa, moral e democrática, de modo que a pessoa é colocada no 
centro das regras jurídicas. Justamente devido a sua importância, a dignidade é colocada como base 
fundamental do direito interno de qualquer Estado ou mesmo internacional. 
 
Não é possível estabelecer um conceito único de dignidade. Além disso, não cabe ao Direito 
definir o conteúdo da dignidade. Trata-se de conceito que é formado por várias áreas do saber. Tra-
ta-se de conceito multidimensional. Nesse contexto, forma-se a partir das relações sociais, culturais, 
históricas e políticas que envolve determinada pessoa em determinada comunidade. 
 
Para fins de prova, devemos ter em mente que a dignidade constitui um valor ético, por in-
termédio do qual a pessoa é considerada sujeito de direitos e obrigações, que devem ser assegura-
dos para garantir a personalidade, os quais são garantidos pela simples existência. 
 
Nesse contexto, veja o conceito de André de Carvalho Ramos: 
“Assim, a dignidade humana consiste na qualidade intrínseca e distintiva de cada ser 
humano, que o protege contra todo tratamento degradante e discriminação odiosa, bem 
como assegura condições materiais mínimas de sobrevivência. Consiste em atributo que 
todo indivíduo possui, inerente à sua condição humana, não importando qualquer outra 
condição referente à nacionalidade, opção política, orientação sexual, credo etc.”
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Com base no conceito acima, é possível identificar dois elementos que caracterizam a dignida-
de da pessoa humana: 
1º - elemento negativo: vedação à imposição de tratamento discriminatório, ofensivo ou 
degradante; e 
 
2º - elemento positivo: busca por condições mínimas de sobrevivência, da qual decorre a 
ideia de mínimo existencial. 
 
Ainda de acordo com entendimento doutrinário: 
“A despeito de orientar a interpretação e a aplicação das normas jurídicas, a dignidade da 
pessoa humana, à luz do texto constitucional brasileiro, detém força normativa, estando 
apta, portanto, de per si, a vincular, diretamente, comportamentos e a subsidiar decisões 
judiciais, como qualquer outro princípio jurídico normativo.”
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Para encerrar esse tópico vamos abordar os usos possíveis do termo “dignidade humana”. Tra-
ta-se de uma análise pautada no pensamento de André de Carvalho Ramos5, mas que possui relevân-
cia porque é construída a partir da jurisprudência do STF. 
 
Para o autor é possível identificar os seguintes usos do termo: 
 
Uso do termo na fundamentação (eficácia posi-
tiva) 
A dignidade da pessoa é utilizada como funda-
mento para a criação jurisprudencial de novos 
direitos, a exemplo do “direito à busca da felici-
dade”. 
 
3 RAMOS, André de Carvalho. Teor ia Geral dos Direitos Humanos na Ordem Internacional. 2ª edição, São Paulo: Editora Saraiva, 2012 
(versão eletrônica). 
4 BELTRAMELLI NETO, Silvio. Direitos Humanos. Col. Concurso Públicos, 2ª edição, Bahia: Editora JusPodvim, 2016, p. 39. 
5 RAMOS, Op. cit. 
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Uso do termo na interpretação adequada 
Ao abordar determinado tema, a dignidade da 
pessoa é utilizada como parâmetro interpretati-
vo. Por exemplo, ao t ratar da celeridade da 
prestação jurisdicional, a dignidade é alcançada, 
de acordo com a jurisprudência do STF, quando 
a prestação jurisdicional é tempestiva. 
Uso do termo para impor limites ao estado 
A dignidade assume na jurisprudência papel 
limitador da atuação estatal, a exemplo da limi-
tação do uso de algemas. 
Uso do termo para subsidiar a ponderação de 
interesses 
Na técnica de aplicação dos princípios a dignida-
de é ventilada, nos julgados do STF, para deter-
minar a prevalência de um princípio em relação 
ao outro. Foi utilizada tal interpretação para 
afastar o trânsito em julgado de uma ação de 
paternidade. Vale dizer, em nome da dignidade, 
prestigia-se o direito à informação genérica em 
detrimento da segurança jurídica decorrente dacoisa julgada. 
 
Por fim, embora constitua o centro axiológico (valorativo) do nosso ordenamento jurídico, de-
vemos tomar cuidado com a banalização do termo, pois, quando tudo encontra fundamento na dig-
nidade humana, esse valor de nada servirá. Dito de forma simples, quanto uma coisa é fundamento 
de tudo, ela não tem capacidade de distinguir a importância de nada. 
 
 
EVOLUÇÃO HISTÓRICA DOS DIREITOS 
HUMANOS 
 
Não há um ponto exato que determine o nascimento de uma disciplina jurídica, pelo contrário, 
há um processo que desemboca na consagração de diplomas normativos, com princípios e regras 
que dimensionam o novo ramo do Direito. 
 
No tocante aos direitos humanos, o seu cerne é a luta contra a opressão e busca do bem-estar 
do indivíduo; consequentemente, suas “idéias-âncoras” são referentes à justiça, igualdade e liberda-
de, cujo conteúdo impregna a vida social desde o surgimento das primeiras comunidades humanas. 
 
Na Antiguidade (período compreendido entre os séculos VIII e II a.C.): primeiro passo rumo á 
afirmação dos direitos humanos, com a emergência de vários filósofos de influência até os dias de 
hoje (Zaratustra, Buda, Confúcio, Dêutero-Isaías). Cujo ponto em comum foi a adoção de códigos de 
comportamento baseados no amor e no respeito ao outro. 
- Antigo Egito: reconhecimento de direitos dos indivíduos na codificação de Menes 
(3100-2850 a.C.); 
 
DIREITOS HUMANOS 
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- Suméria antiga: edição do Código de Hammurabi, na Babilônia (1792-1750 a.C): primei-
ro código de normas de condutas, preceituando esboços de direitos dos indivíduos, con-
solidando os costumes e estendendo a lei a todos os súditos do império; 
 
- Suméria e Pérsia: edição, por Ciro II, no século VI a. C, de uma declaração de boa go-
vernança. O Cilindro de Ciro, é considerado a primeira declaração de direitos humanos, 
ao permitir que os povos exilados na Babilônia regressassem à suas terras de origem, 
Ciro II, o Grande, Rei persa, a sua importância é tão grande que a ONU o traduziu para 
todos os seus idiomas oficiais em 1971; 
 
- China: no século VI e V a.C., Confúcio lançou as bases para a sua filosofia, com ênfase 
na defesa do amor aos indivíduos; 
 
- Budismo: introduziu um código de conduta pelo qual se prega o bem comum e uma 
sociedade pacífica, sem prejuízo a qualquer ser humano; 
 
- Islamismo: traz a prescrição da fraternidade e solidariedade aos vulneráveis. 
 
Temos também na afirmação histórica dos direitos humanos a herança grega na consolidação 
destes direitos: 
- Consolidação dos direitos políticos, com participação dos cidadãos (com diversas exclu-
sões). 
 
- Platão, em sua obra A República (400 a C), defendeu a igualdade e a noção do bem 
comum; 
 
- Aristóteles, na Ética a Nicômaco, salientou a importância do agir com justiça, para o 
bem de todos da pólis, mesmo em face de leis injustas; 
 
- Reflexão sobre a superioridade normativa de determinadas normas, mesmo em face 
da vontade do poder. 
 
No tocante a República Romana: 
- Há uma contribuição na sedimentação do princípio da legalidade; 
 
- Consagração de vários direitos, como a propriedade, liberdade, personalidade jurídica, 
entre outros; 
 
- Reconhecimento da igualdade entre todos os seres humanos, em especial pela aceita-
ção do jus gentium, o direito aplicado a todos romanos ou não; 
 
- Marco Túlio Cícero retoma a defesa da razão reta (recta ratio), salientando, na Repúbli-
ca, que a verdadeira lei é a lei da razão, inviolável mesmo em face da vontade do poder. 
 
No antigo e no novo testamento temos a influência do cristianismo: 
- 5 livros de Moisés (Torah): apregoam solidariedade e preocupação com o bem-estar de 
todos (1800-1500 a.C.); 
 
DIREITOS HUMANOS 
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- O Antigo Testamento: faz menção à necessidade de respeito a todos, em especial aos 
vulneráveis; 
 
- Cristianismo contribui para a disciplina: há varios trechos da Bíblia (Novo Testamento) 
que pregam a igualdade e a solidariedade com o semelhante; 
 
- Filósofos católicos também merecem ser citados, em especial São Tomás de Aquino. 
 
A idade média, o início da idade moderna e os primeiros diplomas de direitos humanos: 
- Na idade média: o poder dos governantes era ilimitado, pois era fundado na vontade 
divina; 
 
- O surgimento dos primeiros movimentos de reivindicação de liberdades a determina-
dos estamentos, como a Declaração das Cortes de Leão adotada na Península Ibérica em 
1188 e a Magna Carta inglesa de 1215. 
 
- Renascimento e Reforma Protestante: crise da Idade Média deu lugar ao surgimento 
dos Estados nacionais absolutistas e a sociedade estamental medieval foi substituída pe-
la forte centralização do poder na figura do rei; 
 
- Com a erosão da importância dos estamentos (igreja e senhores feudais), surge a ideia 
de igualdade de todos submetidos ao poder absoluto do rei, o que não exclui a opressão 
e a violência, como o extermínio perpetrado contra os indígenas na América; 
 
- Século XVII: o Estado Absolutista foi questionado, em especial na Inglaterra. A busca 
pela limitação do poder é consagrada na Petition of Rights de 1628. A edição do Habeas 
Corpus Act (1679) formaliza o mandado de proteção judicial aos que haviam sido injus-
tamente presos, existente tão somente no direito consuetudinário inglês (common law); 
 
- 1689 (após a Revolução Gloriosa): edição da “Declaração Inglesa de Direitos”, a “Bill of 
Rights” (1689), pelo qual o poder autocrático dos reis ingleses é reduzido de forma defi-
nitiva; 
 
- 1701: aprovação do Act of Settlement, que enfim fixou a linha de sucessão da coroa in-
glesa, reafirmou o poder do Parlamento e da vontade da lei, resguardando-se os direitos 
dos súditos contra a volta da tirania dos monarcas. 
 
Os Pensadores e as principais ideias ligadas aos direitos humanos: 
- Thomas Hobbes (Leviatã – 1651): é um dos 1ºs textos que versa claramente sobre o di-
reito do ser humano, que é ainda tratado sendo pleno no estado da natureza. Mas Hob-
bes conclui que o ser humano abdica de sua liberdade inicial e se submete ao poder do 
Estado (o Leviatã), cuja existência justifica-se pela necessidade de se dar segurança ao 
indivíduo, diante das ameaças de seus semelhantes. Entretanto, os indivíduos não pos-
suiriam qualquer proteção contra o poder do Estado. 
 
- Hugo Grócio (Da guerra e da paz – 1625): defendeu a existência do direito natural, de 
cunho racionalista, reconhecendo, assim, que suas normas decorrem de “princípios ine-
rentes ao ser humano”. 
 
DIREITOS HUMANOS 
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- John Locke (Tratado sobre o governo civil – 1689): defendeu o direito dos indivíduos 
mesmo contra a Estado, um dos pilares contemporâneo regime dos direitos humanos. O 
grande e principal objetivo das sociedades políticas sob a tutela de um determinado go-
verno é a preservação dos direitos à vida, à liberdade e à propriedade. Logo, o governo 
não pode ser arbitrário e deve seu poder ser limitado pela supremacia do bem público. 
 
- Abbé Charles de Saint-Pierre (Projeto de paz perpétua – 1713): defendeu o fim das 
guerras européias e o estabelecimento de mecanismos pacíficos para superar as contro-
vérsias entre os Estados em uma precursora ideia de federação mundial. 
 
- Jean-Jacques Rousseau (Do contrato social – 1762): prega que a vida em sociedade é 
baseada em um contrato (o pacto social) entre homens livres e iguais (qualidades ine-
rentes aos seres humanos), que estruturam o estado para zelar pelo bem-estar da maio-
ria. Um governo arbitrário e liberticida não poderia sequer alegar que teria sido aceito 
pela população, pois a renúncia à liberdade seria o mesmo que renunciar à natureza 
humana, sendo inadmissível. 
 
- Cesare Beccaria (Dos delitos e das penas – 1766): sustentou a existência de limites para 
a ação do Estado na repressão penal, balizando os limites do jus puniendi que permane-
cem até hoje. 
 
- Kant (Fundamentação da metafísica dos costumes – 1785): defendeu a existência da 
dignidade intrínseca a todo ser racional, quenão tem preço ou equivalente. Justamente 
em virtude dessa dignidade, não se pode tratar o ser humano como um meio, mas sim 
como um fim em si mesmo. 
 
A fase do constitucionalismo liberal e das declarações de direitos: 
- As revoluções liberais, inglesa, americana e francesa, e suas respectivas Declarações de 
Direitos marcaram a primeira afirmação histórica dos direitos humanos; 
 
- “Revolução Inglesa”: teve como marcos a Petition of Rights, de 1628, que buscou ga-
rantir determinadas liberdades individuais, e o Bill of Rights, de 1689, que consagrou a 
supremacia do parlamento e o império da lei; 
 
- “Revolução Americana”: retrata o processo de independência das colônias britânicas 
na América do Norte, culminado em 1776, e ainda a criação da Constituição norte-
americana de 1787. Somente em 1791 foram aprovadas 10 Emendas que, finalmente, 
introduziram um rol de direitos na Constituição norte-americana; 
 
- “Revolução Francesa”: adoção da Declaração Francesa dos Direitos do Homem e do Ci-
dadão pela Assembleia Nacional Constituinte francesa, em 27 de agosto de 1789, que 
consagra a igualdade e liberdade, que levou à abolição de privilégios, direitos feudais e 
imunidades de várias castas, em especial da aristocracia de terras. Lema dos revolucio-
nários: “liberdade”, “igualdade” e “fraternidade”. 
 
- Projeto de Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã: de 1971, proposto por 
Olympe de Gouges, reivindicou a igualdade de direitos de gênero; 
 
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- 1791: edição da primeira Constituição da França revolucionária, que consagrou a perda 
dos direitos absolutos do monarca francês, implantando-se uma monarquia constitucio-
nal, mas ao mesmo tempo reconheceu o voto censitário; 
 
- Declaração Francesa dos Direitos do Homem e do Cidadão consagrada como sendo a 
primeira com vocação universal. Esse universalismo será o grande alicerce da futura a-
firmação dos direitos humanos no século XX, com a edição da Declaração Universal dos 
Direitos Humanos. 
 
 A Fase do socialismo e do constitucionalismo social: 
- Antecedentes: Final do século XVIII: próprios jacobinos franceses defendiam a amplia-
ção do rol de direitos da Declaração Francesa para barcar também os direitos sociais, 
como o direito à educação e assistência social; 
 
- Em 1793: revolucionários franceses editam uma nova “Declaração Francesa dos Direi-
tos do Homem e do Cidadão”, redigida com forte apela à igualdade, com reconhecimen-
to de direitos sociais como o direito a educação. 
 
- Na Europa do século XIX os movimentos socialistas ganham apoio popular nos seus a-
taques ao modo de produção capitalista. Expoentes: Proudhon, Karl Marx, Engels, Au-
gust Bebel. 
 
- Revolução Russa de 1917 estimulou novos avanços na defesa da igualdade e justiça so-
cial. 
 
- Introdução dos chamados direitos sociais que pretendiam assegurar condições materi-
ais mínimas de existência, em várias constituições, tendo sido a pioneira a Constituição 
do México (1917), da República da Alemanha (também chamada de República de Wei-
mar, 1919) e , no Brasil a Constituição de 1934; 
 
- Plano do direito internacional: consagrou-se, pela primeira vez, uma organização inter-
nacional voltada à melhoria das condições dos trabalhadores – a Organização Interna-
cional do Trabalho (OIT), criada em 1919 pelo próprio tratado de Versailles que pôs fim à 
Primeira Guerra Mundial. 
 
Aqui, interessa uma concepção contemporânea dos direitos humanos, isto é, aquela que e-
mergiu com a Declaração Universal de 1948, reiterada pela Declaração de Direitos Humanos de 
Viena de 1993. Essas duas declarações são os documentos que consistem nos marcos obrigatórios 
para se compreender o tema dos direitos humanos nos dias atuais. 
 
Pode-se dizer que a opção por tais marcos se dá pelo fato de que o movimento de internacio-
nalização desses direitos humanos constitui um processo muito próximo da nossa história, vez que 
surge como conseqüência dos efeitos da II Guerra Mundial (1939-1945). Durante esse período, o 
Estado mostrou-se agente capaz de violar e justificar a violação dos direitos humanos, através de 
meios destrutivos e banais da figura física, psíquica e cultural daqueles sujeitos compreendidos como 
inferiores ou descartáveis. Os efeitos dessas circunstâncias foram de tal intensidade que foram senti-
dos durante o restante do século XX, que ficou marcado pela necessidade de se impedir uma nova 
experiência dessa natureza. 
 
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Resultado disso foi que a essência do conceito de Direitos Humanos passou a ser intrinseca-
mente relacionada à proteção aos direitos mais importantes dos homens, notadamente, a dignidade. 
O conceito de dignidade humana está relacionado à convicção de que todos os serem humanos têm 
direito a ser igualmente respeitados, pelo simples fato de sua humanidade6. 
 
A Declaração Universal dos Direitos Humanos foi aprovada em 10 de dezembro de 1948. Esse 
documento é considerado o ponto de partida para a reconstrução de uma ideia de homem, de direi-
tos humanos universais e com práticas que obriguem inclusive e principalmente o Estado, a respeitar 
e garantir a existência de uma dignidade humana. 
 
As grandes características desse documento são a universalidade e a indivisibilidade. Em pri-
meiro lugar, é possível afirmar que se caracteriza por ser universal porque clama pela extensão uni-
versal dos direitos humanos, sob a certeza de que a condição de pessoa é o requisito único para a 
dignidade e titularidade de direitos. Nessa linha, é também indivisível, porque a garantia dos direitos 
civis e políticos é uma condição fundamental para a observância dos direitos sociais, econômicos e 
culturais, e vice-versa. 
 
Assim, pode-se concluir que quando um dos direitos humanos é violado, todos os seus ele-
mentos característicos também o são. Essa circunstância traduz o caráter indivisível e interdepen-
dente de conjugar, de forma indissolúvel, os direitos civis e políticos com os sociais, econômicos e 
culturais. 
 
A doutrina destaca que o reconhecimento integral de todos esses direitos tem um papel de 
suma relevância. Isso porque, por exemplo, sem efetividade de gozo dos direitos econômicos, sociais 
e culturais os direitos civis e políticos se reduzem a meras categorias formais. Por outro lado, sem a 
efetivação dos direitos civis e políticos, os direitos econômicos, sociais e culturais carecem de verda-
deira significação. 
 
Em termos conceituais, é importante fazer a distinção entre direitos humanos e direitos fun-
damentais. Embora o conteúdo dos conceitos não apresente distinção relevante, no plano da positi-
vação, por exemplo, pode-se dizer que os direitos humanos referem-se àqueles universalmente acei-
tos. Por outro lado, os direitos fundamentais constituem o conjunto de direitos positivados na ordem 
interna de determinado Estado. 
 
 
 
DIMENSÕES E CARACTERÍSTICAS DOS 
DIREITOS HUMANOS 
 
 
 A TEORIA DAS GERAÇÕES OU DIMENSÕES DE DIREITOS 
De acordo com o que já foi exposto, a ideia de classe de direitos humanos é equivocada, pois 
todos os direitos que compõe tal rol estão intrinsecamente relacionados. Direitos sociais, econômi-
cos e culturais são verdadeiros direitos fundamentais, nesse sentido, amplamente acionáveis, exigí-
veis, demandando por parte do Estado e da própria sociedade uma objetiva e responsável observân-
cia. 
 
 
6 COMPARATO, Fábio Konder. Afirmação Histórica dos Direitos Humanos. 7ª edição, rev., ampl. e atual., São Paulo: Editora Saraiva, 2010, p. 
13. 
DIREITOS HUMANOS 
14 
 
 
A Declaração Universal de 1948 foi um marco decisivo do movimento que aprofundou e inter-
nacionalizou os direitos humanos, tornando pública a necessidade, o interesse e a responsabilidade 
em torno desses direitos do homem, de todo e qualquer ser humano. 
 
Nessa linha conceitual, é importante reforçar a ideia de que a proteção dos direitos humanos 
não é limitadae restrita a um domínio reservado de um Estado. Isso significa que a defesa de tais 
direitos cabe à toda a sociedade global, não constituindo competência exclusiva de uma nação ou de 
uma jurisdição doméstica. O entendimento é que a dignidade humana independe dos limites físicos, 
culturais e políticos, mas de todos os homens. 
 
Como consequência dessa posição está a delimitação do fim de uma antiga mentalidade, por 
meio da qual a soberania dos entes estatais era absoluta. Agora o Estado Nacional fica suscetível a 
um processo de relativização de sua soberania, na medida em que são possíveis e admissíveis inter-
venções no espaço nacional em nome da defesa e proteção dos direitos humanos. Em outras pala-
vras, ocorreu a substituição de uma ideologia que previa ao Estado Nacional tratar os seus nacionais 
como um problema exclusivamente interno, enfrentado apenas por uma jurisdição doméstica, pois 
agora, são admitidas formas de monitoramento e responsabilização internacional quando os direitos 
humanos foram de uma ou de outra forma violados. 
 
Os direitos humanos nascem, portanto, como direitos naturais universais, desenvolvendo-se 
como direitos positivos particulares que são incorporados por cada Constituição Nacional (na medida 
em que elas passam a se constituir em declarações de direitos, de reconhecimento de garantias e de 
normatização dos direitos fundamentais). 
 
Em face da crescente consolidação e reconhecimento desse direito positivo universal concer-
nente aos direitos humanos, pode-se afirmar que tratados, convenções e acordos internacionais de 
proteção aos direitos humanos representam, sobretudo, uma consciência ética compartilhada por 
todos os Estados, vez que invocam um consenso internacional acerca dos direitos civis, políticos, 
econômicos, sociais e culturais, a proibição da tortura, o combate e a eliminação da discriminação de 
todos os tipos, a proteção à criança e ao adolescente, ao idoso, a família, ao trabalho, etc. 
 
A Declaração de Direitos Humanos de Viena de 1993 ratifica toda essa posição apresentada em 
1948, quando em seu parágrafo 5º, destaca que: 
5. Todos os direitos humanos são universais, interdependentes e inter-relacionados. A 
comunidade internacional deve tratar os direitos humanos globalmente de forma justa e 
equitativa, em pé de igualdade e com a mesma ênfase. 
 
O processo que permite compreender a consolidação atual dos direitos humanos veio acom-
panhado de uma alteração na natureza dos próprios direitos a partir de sua constitucionalização. As 
dimensões de direito representam esse longo caminho em direção ao reconhecimento de que no 
espaço social muitas são as formas de manifestação do direito e variados e distintos são os seus efei-
tos nos sujeitos sociais. 
 
 A PRIMEIRA DIMENSÃO DE DIREITOS HUMANOS: DIREITOS CIVIS E 
POLÍTICOS 
Essa categoria de direitos é voltada a conferir maior atenção à vida, à liberdade, à propriedade, 
à segurança pública, à proibição da escravidão, à proibição da tortura, à igualdade perante a lei, à 
proibição da prisão arbitrária, ao direito a um julgamento justo, ao direito de habeas corpus, ao direi-
to à privacidade do lar e ao respeito de própria imagem pública, à garantia de direitos iguais entre 
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homens e mulheres no casamento, ao direito de religião e de livre expressão do pensamento, à li-
berdade de ir e vir dentro do país e entre os países, ao direito de asilo político e de ter uma naciona-
lidade, à liberdade de imprensa e de informação, à liberdade de associação, à liberdade de participa-
ção política direta ou indireta, ao princípio da soberania popular e regras básicas da democracia (li-
berdade de formar partidos, de votar e ser votado, etc.). 
 
São direitos marcados pelos eventos do século XIX, da consolidação do liberalismo, das trans-
formações sócio-econômico-políticas da Revolução Industrial, a partir de um Estado Nacional que se 
propunha ser de mínima intervenção, conhecido como ‘mão invisível’. 
 
As consequências desse período fomentaram críticas de grande força ideológica. A partir de 
tais críticas, os Estados Nacionais, fundamentalmente na Europa Ocidental, empreenderam a trans-
formação de suas estruturas jurídicas, políticas e sócio-econômicas para aquilo que se convencionou 
chamar de segunda dimensão de direitos. 
 
 A SEGUNDA DIMENSÃO DE DIREITOS HUMANOS: DIREITOS ECONÔ-
MICOS, SOCIAIS E CULTURAIS 
Essa dimensão abarca direitos voltados à seguridade social, ao direito ao trabalho e a seguran-
ça no trabalho, ao seguro contra o desemprego, ao direito a um salário justo e satisfatório, à proibi-
ção da discriminação salarial, ao direito a formar sindicatos, ao direito ao lazer a ao descanso remu-
nerado, ao direito à proteção do Estado do Bem-Estar-Social, à proteção especial para a maternidade 
e a infância, ao direito à educação pública, gratuita e universal, ao direito a participar da vida cultural 
da comunidade e a se beneficiar do progresso científico e artístico, à proteção dos direitos autorais e 
das patentes científicas. 
 
Percebe-se, aqui, que os Estados Nacionais incorporaram as críticas de que vinham sendo alvo, 
transformando o espaço público numa área de realização dos direitos sociais. Em termos históricos, a 
Constituição Mexicana de 1917, e a Constituição de Weimar em 1919 são marcos dessas transfor-
mações, por terem colocado o Estado como principal agente da defesa dos direitos sociais, esvazian-
do, fundamentalmente no cenário ocidental, a força revolucionária da proposta marxista e, permi-
tindo ao espaço político, reafirmar o seu papel de principal espaço para a consagração dos valores 
sociais. 
 
A dificuldade enfrentada por essa dimensão de direitos não poderia ter sido prevista, pois a I 
Guerra Mundial, o período entre guerras e a II Guerra Mundial foram limites concretos e de grande 
significação que acabaram minando a legitimidade dessas transformações normativas, vez que toda 
essa dimensão estava centrada na figura do Estado de Direito. O ente estatal não conseguiu frear a 
opção em vários países ao autoritarismo e ao totalitarismo, colocando o próprio agente estatal como 
principal responsável pela violação aos direitos do homem. 
 
Sob o efeito do conhecimento de todos os danos sofridos pela figura humana ao longo da se-
gunda guerra mundial, numa intensidade que permitiu, inclusive, que se cunhasse a expressão ‘bana-
lidade do mal’, a necessidade de se recriar algum espaço consistente para a defesa dos direitos hu-
manos levou o processo histórico-jurídico a Declaração Universal de 1948, e a uma nova dimensão de 
direitos a ser defendidos. 
 
Ainda, é importante reconhecer o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos como outro 
marco nessa defesa de Direitos Humanos. 
 
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 A TERCEIRA DIMENSÃO DE DIREITOS HUMANOS: UMA NOVA ORDEM 
INTERNACIONAL 
A terceira dimensão consagra direitos a uma ordem social e internacional em que os direitos e 
as liberdades estabelecidos na Declaração Universal do Homem possam ser plenamente realizados. 
Propugnam a defesa do direito à paz, ao desenvolvimento, ao ambiente, ao reconhecimento da exis-
tência de um direito difuso, pertencente a toda a sociedade, a fraternidade e a solidariedade. 
 
A necessidade de se alcançar novos espaços obriga o sistema jurídico reconhecer novos insti-
tutos passíveis de defesa, uma vez que esses novos espaços, como o direito difuso, o direito ao am-
biente não estão afastados e isolados da figura humana. Ao contrário, o direito à vida pressupõe uma 
necessária condição de dignidade do ambiente onde essa se desenvolve. 
 
Sob o manto da Declaração Universal de 1948, uma ideia de homem em sentido lato obriga o 
sistema jurídico, a Constituição a reconhecer um papel decisivo para os princípios fundamentais, 
bem assim para os direitos humanos. E a sua melhor aplicabilidade se dá na medida em que eles são 
reconhecidoscomo universais e indivisíveis e uniformes. 
 
 A QUARTA DIMENSÃO DE DIREITOS HUMANOS: UMA NOVA ERA NA 
TECNOLOGIA GENÉTICA E COMUNICACIONAL 
Os direitos da quarta dimensão não representam a superação das outras dimensões, mas, sim, 
que se reconhece uma nova natureza de direitos que ainda estão em discussão, mas que fazem parte 
dessa nova humanidade multimídia, sem espaços territoriais definidos e de temporalidade acelerada, 
e que trazem para universos biológicos e físicos preocupações quanto ao patrimônio genético de 
tudo aquilo que é e está em contato com o homem, bem assim quanto a nossa responsabilidade 
quanto às gerações futuras, quer dizer, quanto a um compromisso de se deixar o mundo em que 
vivemos, melhor, se for possível, ou o “mais possível” ou “menos pior” do que aquele que recebe-
mos. Isso implica uma série de políticas que envolvem todas as três gerações de direitos e a obrigató-
ria constituição de uma nova ordem econômica, política, jurídica e ética internacional. 
 
Existe uma controvérsia doutrinária sobre a oportunidade de se considerar como direitos efe-
tivos os de terceira e quarta geração, porque para alguns não existiria, ainda, um poder que os ga-
ranta, bem assim como há divergência quanto à lista dos direitos a serem incluídos nessas categorias. 
 
Entretanto, apesar da controvérsia, ou de uma ausência de positivação de normas, esta lista 
crescente e ampla de direitos nos leva a reconhecer a existência de vários e multíplices aspetos dos 
diretos humanos: em verdade, não se tratam simplesmente de “direitos” naquele sentido mais estri-
tamente jurídico da palavra, mas de um conjunto de “valores” humanos que implicam várias dimen-
sões da humanidade. 
 
 OUTRAS DIMENSÕES QUE ENVOLVEM OS DIREITOS HUMANOS A 
PARTIR DA DECLARAÇÃO UNIVERSAL DE 1948 
Existem outras classificações que envolvem os direitos humanos. Vejamos algumas delas: 
 
 DIMENSÃO ÉTICA 
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A Declaração Universal de 1948 afirma que “todas as pessoas nascem livres e iguais”, quer di-
zer que isto confirma o caráter natural dos direitos: os direitos humanos são inerentes à natureza de 
todo e qualquer ser humano, e esses estão reconhecidos na sua dignidade intrínseca. Portanto, eles 
se constituem em um conjunto de valores éticos universais que estão “acima” do nível estritamente 
jurídico e que devem orientar a legislação dos Estados, uma vez que envolvem não um sujeito nacio-
nal, mas uma condição de humanidade universal. 
 
 DIMENSÃO JURÍDICA 
Importa lembrar que, uma vez que todos os princípios contidos na Declaração Universal de 
1948 estão especificados e determinados em protocolos, tratados, convenções internacionais, eles se 
tornam parte do direito internacional, vez que esses tratados passam a se constituir de um valor e 
uma força jurídica enquanto assinados elos Estados Nacionais. 
 
Eles se ampliam na medida em que deixam, portanto, de serem apenas orientações éticas ou 
de direito natural, para se tornarem um conjunto de direitos positivos que vinculam as relações in-
ternas e externas dos Estados, assimilados e incorporados pelas Constituições e, através delas, pelas 
leis ordinárias. 
 
Essa necessária assimilação por parte das Constituições, e no caso brasileiro a partir de uma 
votação em dois turnos no Congresso Nacional, com a aprovação exigida a partir de uma votação de 
3/5 dos membros desse poder legislativo nacional, ratifica a sua positivação interna, sem que isso 
signifique uma afirmação de uma soberania exclusiva ou mesmo de um ferimento em relação à sobe-
rania dos Estados Nacionais. 
 
 DIMENSÃO POLÍTICA 
Os direitos humanos, enquanto conjunto de normas jurídicas, se tornam critérios de orienta-
ção e de implementação das políticas públicas institucionais nos vários setores da relação Estado-
sociedade. 
 
Isso é assim porque o Estado, enquanto agente representativo do titular do poder político, isto 
é, o cidadão, assume o compromisso de ser o principal promotor do conjunto dos direitos fundamen-
tais, tanto do ponto de vista negativo, isto é, não interferindo na esfera das liberdades individuais 
dos cidadãos, quanto do ponto de vista positivo, quer dizer, através de um amplo processo que justi-
fica a implementação de políticas que garantam a efetiva realização desses direitos para todos. 
 
Está nesse espaço, por exemplo, o Programa Nacional de Direitos Humanos desenvolvido pelo 
governo federal e que constitui um avanço na assunção de responsabilidades concretas por parte do 
Estado no Brasil, fazendo com que os direitos humanos se tornem parte integrante das políticas pú-
blicas, não somente como indicadores da natureza dessas políticas, mas como fins a serem alcança-
dos pela ação dos agentes públicos. 
 
 DIMENSÃO ECONÔMICA 
Não se pode desvincular a dimensão econômica daquela dimensão política, ainda que se possa 
olhá-la por ela mesma. Essa dimensão significa que sem a existência de uma mínima satisfação de 
um mínimo de atendimento das necessidades humanas básicas, isto é, sem a realização dos direitos 
econômicos e sociais, não é possível o exercício dos direitos civis e políticos, enfim, dos direitos hu-
manos como se afirma na Declaração Universal de 1948. 
 
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DIREITOS HUMANOS 
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Dessa forma, ao Estado, portanto, não se pode esperar que se limite, apenas, a garantia abs-
trata dos direitos de liberdade, mas sim, ao contrário, que ele deve igualmente agir e exercer um 
papel ativo na realização de programas que busquem efetivamente os direitos de igualdade, que 
somente podem ser percebidos em sua plena existência a partir de uma melhor capacidade econô-
mica do indivíduo. Atuar contra as condições da desigualdade sócio-econômica são necessidades 
existenciais para uma maior política de defesa dos direitos humanos. 
 
E o reconhecimento dessa dimensão de direitos está no próprio texto da Constituição, con-
forme se podem anotar na compreensão, mais especificamente, dos artigos 1º a 3º da Constituição 
promulgada de 1988. 
 
 DIMENSÃO SOCIAL 
A dimensão social tem relação com a responsabilidade pela efetivação dos direitos humanos. 
Significa que não cabe somente ao Estado a implementação dos direitos, mas, também, à sociedade 
civil organizada tem um papel importante na luta pela efetivação dos direitos, através dos movimen-
tos sociais, sindicatos, associações, centros de defesa e de educação, conselhos de direitos. É a luta 
pela efetivação dos direitos humanos que vai levar estes direitos no cotidiano das pessoas e vai de-
terminar o alcance que os mesmos vão conseguir numa determinada sociedade. 
 
 DIMENSÃO CULTURAL 
Os direitos humanos implicam algo mais do que uma mera dimensão jurídica, isto significa que 
é preciso que eles encontrem um respaldo e um espaço na cultura, na história, na tradição, nos cos-
tumes de uma dada realidade social se tornem de certa forma, parte do seu corpo coletivo, isto é, de 
sua identidade cultural e maneira de ser. É importante que os direitos humanos integrem os hábitos 
de uma coletividade quer dizer, que se realize na cotidianidade dos sujeitos sociais, o que exige certo 
lapso de tempo para se afirmar e pôr raízes num determinado contexto. 
 
 DIMENSÃO EDUCATIVA 
Afirmar que os direitos humanos são “direitos naturais”, que as pessoas “nascem livres e i-
guais”, não significa afirmar que a consciência dos direitos seja algo espontâneo. O homem é um ser, 
ao mesmo tempo, natural e cultural que deve ser socializado pelo espaço social. A educação para a 
cidadania constitui, portanto, uma das dimensões fundamentais para a efetivação dos direitos, tanto 
na educação formal, quanto num aprendizado informal ou popular, bem assim nos meios de comuni-
cação. 
 
A partir dessas dimensões se percebe o caráter complexo dos direitos humanos, vez que eles 
implicam num conjunto de espaços de direito que devem estar interligados.Elas não podem ser vis-
tas como espaços isolados e separados, mas a partir de uma organicidade relacional, de tal forma 
que uma dimensão se integra e se realiza junto com todas as outras. 
 
 CARACTERÍSTICAS DOS DIREITOS HUMANOS 
Os direitos humanos são dotados de características próprias, que lhes diferenciam e acabam 
por conceituar-lhes. Vejamos as principais: 
a) Historicidade 
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A historicidade significa que os direitos humanos são fruto de uma evolução histórica lenta e 
gradual, isto é, são reconhecidos através da história. Para parte da doutrina, os direitos humanos 
podem até vir a desaparecer ao longo da história, isto é, não sendo mais necessária proteção especí-
fica àquela matéria. Outra linha defende que eles são atemporais, isto é, estão presentes em todos 
os momentos da história. 
 
Determina também que os direitos humanos passam por um processo de afirmação gradual, 
ao longo do tempo: na medida em que vão surgindo novas necessidades, vão sendo afirmados novos 
direitos. Exemplo disso é o reconhecimento da Internet como direito fundamental em alguns países. 
 
b) Vinculação dos Poderes Públicos 
Os direitos fundamentais vinculam a todos; esse é, inclusive, um dos planos da universalidade. 
Assim, no plano da titularidade, por exemplo, se extrai que todos são titulares dos direitos humanos; 
no plano da temporariedade, significa que são reconhecidos em todos os tempos; no plano cultural, 
em todas as culturas finalmente, no plano da vinculação, porque vinculam a todos (Estados, povos, 
etc.). 
 
Significa que os direitos fundamentais são limites à atuação de quem detém o poder. Todos os 
poderes constituídos devem observância aos direitos fundamentais. Em relação ao Poder Executivo, 
a atuação do Poder Público é vinculada a esse parâmetro, sob pena de nulidade. Isso porque, na a-
cepção atual, o Estado figura como garantidor dos direitos fundamentais. Assim, por exemplo, o Po-
der Executivo pode se negar a aplicar lei por ela violar direitos fundamentais, sendo, portanto, in-
constitucional. 
 
No âmbito do Poder Legislativo, essa característica significa que as leis editadas devem ser co-
erentes com os direitos humanos. Além disso, é imperativa a edição de normas para regulamentar os 
direitos fundamentais cuja máxima efetividade dependa da atuação do legislador. 
 
Por outro lado, quando o papel da norma é restringir direito fundamental, tal restrição, por 
parte do legislador, deve respeitar o núcleo essencial do direito em questão, além da proporcionali-
dade e da razoabilidade. Mesmo estando autorizado a fazê-lo, o legislador não pode restringir direito 
fundamental de forma irrazoável, desproporcional ou atingindo núcleo essencial de direito funda-
mental. 
 
Ao Poder Judiciário também cabe a vinculação aos direitos fundamentais. Assim, no curso do 
processo, há o poder-dever de conferir aos direitos fundamentais a máxima eficácia possível e, tam-
bém, negar a aplicação de leis e normas que os violem. 
 
c) Inalienabilidade / Indisponibilidade 
Os direitos fundamentais são intransferíveis, indisponíveis, inegociáveis e desprovidos de con-
teúdo econômico-patrimonial. Assim, o titular de um direito fundamental não pode tornar impossí-
vel, física ou juridicamente, o exercício dos direitos fundamentais de forma válida. Nesse sentido, o 
consentimento do ser humano não é suficiente para justificar a supressão de determinado direito 
fundamental. A título exemplificativo, pode-se citar a impossibilidade de comercializar partes do 
corpo humano (art. 199,§4º, CC). Ademais, o consentimento do ofendido não isenta de pena quem 
matou a vítima. 
 
Parte da doutrina defende que apenas os direitos humanos que visam a resguardar a potencia-
lidade do ser humano e sua autodeterminação deveriam ser considerados indisponíveis. Outra parce-
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la refere que a posição mais acertada é aquela que indica que a inalienabilidade deva ser vista caso a 
caso, à luz da dignidade da pessoa humana. 
 
É importante atentar para o fato de que vários negócios jurídicos podem afetar, de alguma 
forma, ainda que indiretamente, os direitos fundamentais. É imprescindível que não se confunda a 
inalienabilidade dos direitos fundamentais com negócios jurídicos que tangenciam ou afetam indire-
tamente esses direitos. Não se pode confundir a indisponibilidade de um direito e a indisponibilidade 
do bem sobre o qual recai o direito. Assim, uma pessoa pode firmar um contrato de utilização de 
imagem, por exemplo, mas não pode dispor totalmente de sua imagem. 
 
d) Personalíssimos 
Os direitos fundamentais caracterizam-se por serem personalíssimos. Isso significa que eles 
são extintos com a morte do titular. Não há vedação, no entanto, de que terceiros herdem bens so-
bre os quais recaíam direitos fundamentais do de cujus. 
 
e) Imprescritibilidade 
Os direitos fundamentais não prescrevem, não se perdem pelo desuso. 
 
f) Inviolabilidade 
Os direitos fundamentais devem ser obrigatoriamente observados pelas normas infraconstitu-
cionais, pelos agentes do Poder Público e, também, pelos demais particulares. 
 
g) Irrenunciabilidade 
A característica da irrenunciabilidade significa que não é possível renunciar a um direito fun-
damental. No entanto, pode ocorrer de um direito fundamental não ser exercido pelo titular por 
força de auto-limitação voluntária, revogável a qualquer tempo. 
 
h) Constitucionalização 
Significa que os direitos fundamentais devem ser positivados em um ordenamento jurídico no 
plano constitucional. As normas que tratam de direitos fundamentais serão sempre constitucionais 
materiais. 
 
i) Aplicabilidade Imediata 
De acordo com o art. 5º, § 1º da Constituição, as normas definidoras dos direitos e garantias 
fundamentais têm aplicação imediata. Esse dispositivo institui uma presunção relativa de eficácia 
plena e imediata às normas definidoras de direitos e garantias fundamentais. 
 
No entanto, é necessário ressaltar que nem todas as normas definidoras de direitos funda-
mentais são de eficácia plena ou de eficácia contida. Excepcionalmente, algumas normas de direitos 
fundamentais podem ser normas de eficácia limitada de natureza programática. Nesses casos, o ins-
trumento processual cabível para garantir a edição de norma será o mandado de injunção. 
 
É necessário atentar para a impossibilidade de retrocesso, em caso de edição de lei regula-
mentando direito fundamental previsto em norma de eficácia limitada de natureza programática. 
Isso significa, por exemplo, que o Código de Defesa do Consumidor não pode ser simplesmente revo-
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gado, por força da previsão do art. 5º, XXXII, da Constituição, que determina ao Estado a promoção 
da defesa do consumidor. Essa característica não impõe o engessamento da legislação concernente 
ao tema, mas apenas veda a restrição a direito fundamental previsto. 
 
Ainda em relação a esse tipo de norma, é possível dizer que existe um duplo efeito das normas 
de eficácia limitada de natureza programática. Em primeiro lugar, tais normas criam o dever de o 
legislador legislar, de forma a produzir instrumento apto a conferir eficácia máxima àquelas. O se-
gundo efeito relaciona-se ao dever de preservar a aplicabilidade máxima das normas programáticas. 
 
j) Relatividade 
Diz respeito ao fato de os direitos fundamentais não serem absolutos, isto é, poderem sofrer 
limitação frente a outros direitos fundamentais ou outros valores constitucionais. A proporcionalida-
de, em sua dupla face (vedação ao abuso ou ao excesso, e a razoabilidade é que balizarão a aplicação 
dos valores colidentes, no caso concreto. 
 
k) Não taxatividade 
A característica da “não taxatividade” significa que os direitos fundamentais previstos na Cons-
tituição não excluem outros nela implícitos. Trata-se de um rol aberto, a teordo que dispõe o art. 5º, 
§ 2º, da Constituição. 
 
l) Indivisibilidade e Interdependência 
Significa que os direitos fundamentais são indivisíveis e há interdependência, sejam eles classi-
ficados como civis e políticos, sociais, econômicos ou culturais. No âmbito do Sistema Internacional 
de Proteção aos Direitos Humanos, a existência de Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos 
(no Brasil, Decreto no 592, de 6 de julho de 1992)e de Pacto Internacional sobre Direitos Econômicos, 
Sociais e Culturais (no Brasil, Decreto nº 591, de 6 de julho de 1992) não altera tal conclusão, a des-
peito de serem tratados em documentos distintos. 
 
m) Concorrência 
A concorrência é característica que permite que, em determinadas situações, vários direitos 
fundamentais sejam exercidos, pelo mesmo titular, ao mesmo tempo. 
 
n) Universalidade 
A universalidade é um dos traços mais relevantes dos direitos fundamentais. Pode ser identifi-
cada em 4 diferentes acepções: (i) titularidade, que se refere à amplitude subjetiva e significa que 
todos os seres humanos são titulares; (ii) temporalidade, que está relacionada à amplitude temporal; 
(iii) plano cultural, que determina que os direitos fundamentais estejam ou devam estar presentes 
em todas as culturas; (iv) vinculabilidade, que traduz a vinculação universal dos direitos fundamen-
tais, no sentido de que a todos obrigam. 
 
Em relação ao plano cultural, há forte polêmica na doutrina. Para alguns autores, tal determi-
nação pressupõe a ideia de hierarquização de culturas, isto é: dizer que os direitos fundamentais são 
reconhecidos quando se atinge determinado grau de compreensão implica dizer que cultura que já 
garante direitos humanos é mais evoluída que outra. 
 
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Visando a resolver tal problemática, parte da doutrina propõe, como justificativa, a existência 
de diálogos culturais. Essa tese propõe que as culturas dialogam sem a pretensão de hierarquização, 
admitindo que todas as culturas têm a aprender umas com as outras. 
 
Por outro lado, a ideia de universalidade é reforçada pelo conceito de jus cogens, que justifica 
a existência de normas cogentes e imperativas no âmbito internacional, que excepcionam a sobera-
nia dos Estados, pois insuscetíveis de serem derrogadas. 
 
 
VERTENTES DA PROTEÇÃO INTERNA-
CIONAL DA PESSOA HUMANA 
 
 
A pessoa humana é detentora de personalidade internacional, com restrições factuais e com 
condicionamentos legais, ficando ultrapassadas as teorias que negavam a personalidade jurídica a 
esta e a colocavam como simples objeto, resolvendo o problema de violações por parte dos Estados 
e de danos eventualmente causados pela atuação internacional de, por exemplo, terroristas, contra-
bandistas, traficantes, etc. 
 
A Proteção Internacional da Pessoa Humana, classicamente, pautou-se na divisão de em sub-
ramos do Direito Internacional, levando ilustres doutrinadores como Cançado Trindade a estabelecer 
a divisão da proteção em vertentes. Para este jurista a Proteção Internacional da Pessoa Humana é 
caracterizada por três vertentes, sendo estas o Direito Internacional dos Direitos Humanos, o Direi-
to Humanitário e o Direito Internacional dos Refugiados. 
 
O propósito inquestionável dos três ramos é a salvaguarda dos Direitos Humanos, portanto no 
âmbito internacional houve a preocupação de abarcar vários contextos de proteção da dignidade da 
pessoa humana, sendo nos momentos difíceis enfrentados nos conflitos armados, seja no igualmente 
complicado momento enfrentado pelos que se vêem obrigados a deixar o seu país de origem por 
razões de segurança ou perigo de vida, bem como, por mais ordinárias que sejam as situações em 
que os direitos fundamentais da pessoa humana não sejam respeitados. 
 
 DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS 
Direito Internacional dos Direitos Humanos é o ramo do Direito Internacional que tem por ob-
jetivo precípuo proteger e promover a dignidade humana em caráter universal, alçando a proteção 
a estes direitos como um interesse comum e superior de todos os Estados, constituindo um impera-
tivo de proteção à pessoa. 
 
Os Direitos Humanos, segundo André Carvalho Ramos “consistem em um conjunto de direitos 
considerado indispensável para uma vida humana pautada na liberdade, igualdade e dignidade. Os 
direitos humanos são os direitos essenciais e indispensáveis à vida digna”.7 
 
Na esteira do supracitado doutrinador “O Direito Internacional dos Direitos Humanos consiste 
no conjunto de direitos e faculdades que garante a dignidade do ser humano e se beneficia de garan-
tias internacionais institucionalizadas”.8 
 
7 RAMOS, André de Carvalho. Curso de Direitos Humanos. São Paulo: Saraiva, 2014. P. 24. 
8 RAMOS, André de Carvalho. Teoria Geral dos Direitos Humanos na Ordem Internacional. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 18. 
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DIREITOS HUMANOS 
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 DIREITO HUMANITÁRIO 
A segunda vertente a ser, brevemente explanada é o Direito Humanitário, que pode ser con-
ceituado como o conjunto de normas internacionais, de origem convencional ou consuetudinária, 
especificamente destinado a ser aplicado nos conflitos armados, internacionais ou não-
internacionais. E que limita, por razões humanitárias, o direito das Partes em conflito de escolher 
livremente os métodos e os meios utilizados na guerra, ou que protege as pessoas e os bens afeta-
dos, ou que possam ser afetados pelo conflito.9 
 
A gênese desta vertente encontra-se intrinsecamente relacionada ao surgimento de combate 
entre os povos, porém a história deste ramo do Direito Internacional Público aponta para o marco 
teórico específico da Batalha de Solferino, e ao desenvolvimento da obra intitulada “Lembrança de 
Solferino” pelo suíço Henry Dunant (1828-1910). 
 
Como uma tentativa de submeter à relação internacional do conflito armado ao direito, no ano 
de 1864, é realizada a Convenção de Genebra para a melhoria da sorte dos feridos nos exércitos em 
campanha, que instituiu o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV). Assim, a Convenção de 
Genebra de 1864 é considerada o marco histórico do surgimento do Direito Internacional Humani-
tário, sendo completada, no decorrer dos anos, e posteriormente tendo seu texto substituído pelas 
Convenções de 1906, 1929 e 1949. 
 
Com a exação da Convenção de Genebra de 1864, da Declaração de São Petersburgo de 1868 e 
das Convenções de Haia, o Direito Humanitário constituiu-se sob duas perspectivas estruturadas: a 
proteção Internacional das vítimas de conflitos armados, por uma parte, e por outra, a limitação dos 
meios e dos métodos de combate. Estes dois corpos de normas são conhecidos como Direito de Ge-
nebra e Direito de Haia, respectivamente. 
 
O Direito de Genebra deve ser compreendido como “o processo de elaboração do direito in-
ternacional humanitário foi sendo realizado mediante uma série de tratados multilaterais habitual-
mente conhecidos com o nome genérico de Convenções de Genebra” 10. Esta corrente do Direito Hu-
manitário preocupa-se, precipuamente, com a proteção dos direitos dos não-combatentes, sejam 
eles civis, feridos, etc. 
 
As Convenções, conjuntamente aos Protocolos Adicionais formam o corpo normativo do Direi-
to de Genebra, que se fundamenta precipuamente na atuação do Comitê Internacional da Cruz Ver-
melha (CICV), que desempenha uma função única e conjunta a outros órgãos que constituem o Mo-
vimento Internacional da Cruz Vermelha. 
 
Quanto ao Direito de Haia “deve-se considerar o Direito de Haia na perspectiva da restrição 
dos direitos dos combatentes” 11. Esta corrente do Direito Internacional Humanitário confirma-se no 
sentido da limitação das condutas procedidas pelos combatentes quando da ocorrência de conflitos 
armados. Pautado na necessidade de construção de limites normativos à atuação dos beligerantes 
quanto aos meios empregados para a obtenção dosfins pretendidos, ou seja, o abalizamento dos 
recursos utilizados para alcançar o objetivo de enfraquecer as forças inimigas. 
 
 
9 SWINARSKI, Chritopher. Introdução ao Direito Humanitário. Brasília: Comitê Internacional da Cruz Vermelha, 1996. P. 9. 
10 Ibid. P. 10. 
11 DEYRA, Michel. Direito Internacional Humanitário. Procuradoria Geral da República-Gabinete de Documentação e Direito Comparado, 
2001. P. 20. 
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Os Tratados mais importantes assinados na cidade holandesa foram: a Primeira Conferência 
Internacional da Paz de Haia de 1899, a II Convenção sobre as leis e Costumes da Guerra Terrestre. A 
III Convenção para aplicar à Guerra Marítima aos Princípios da Convenção de Genebra de 1864; Se-
gunda conferência Internacional da Paz da Haia de 1907, IV Convenção sobre as Leis e Costumes da 
Guerra Terrestre; X Convenção para Aplicar à Guerra Marítima aos Princípios da Convenção de Ge-
nebra e a Convenção da Haia para a Proteção dos Bens Culturais em Caso de Conflito Armado. 
 
 DIREITO INTERNACIONAL DOS REFUGIADOS 
Por último passa-se à análise da terceira e última vertente, referente ao Direito Internacional 
dos Refugiados. Primeiramente é essencial a definição de refugiado, haja vista que a prescrição de 
critérios para o estabelecimento de quem é refugiado é importante à medida que aquele que é reco-
nhecido como tal é titular de uma série de direitos e deveres próprios do instituto, o que significa ter 
direito a um tipo de assistência humanitária peculiar e garantidora de, pelo menos, o mínimo aos 
grupos que necessitam e buscam tal salvaguarda. Assim para o Direito Internacional refugiado é toda 
pessoa que por bem fundado receio ou contundente ameaça de perseguição por razões de raça, 
opinião política, grupo social, etc., não podem ou não querem permanecer no Estado em que tal 
perigo seja iminente para sua vida ou incolumidade física. 
 
O surgimento, contundente desta vertente dá-se com a criação do Alto Comissariado das Na-
ções Unidas para os Refugiados (ACNUR), e com a exação da Convenção de 51 que é o marco institu-
cional da proteção moderna em relação aos direitos das pessoas em condição de Refúgio. A Conven-
ção de 51 traz em seu corpo os mais importantes princípios, específicos, do Direito Internacional dos 
Refugiados, como o princípio do non-refoulement, que determina que os indivíduos não possam ser 
mandados, contra a sua vontade, para um território no qual possam ser expostos a perseguição ou 
onde corram risco de morte ou ainda para um território do qual se sabe que serão enviados a um 
terceiro território no qual possam sofrer perseguição ou tenham sua integridade física ou vida amea-
çadas; assim como o princípio da não-discriminação; os preceitos acerca do estatuto pessoal do 
refugiado; a proibição da punição por entrada ou permanência irregular no país onde se solicita refú-
gio, e as normas sobre trabalho dos refugiados e sobre documentos de identificação e viagem. 
 
A Convenção foi complementada posteriormente pelo Protocolo de 1967, Relativo ao Estatu-
to dos Refugiados de 1966, cuja preocupação principal foi superar a limitação constante na definição 
de refugiado contida na Convenção. Esses dois tratados constituem o arcabouço positivado principal 
no tocante à internacionalização do Direito dos Refugiados, sendo conhecidos como o Estatuto In-
ternacional dos Refugiados. 
 
Porquanto, tratados não específicos sobre o tema dos refugiados, são utilizados pelo Direito 
Internacional dos Refugiados com o escopo de configurar uma melhor proteção a esses indivíduos, 
confirmando a assertiva de serem as vertentes da Proteção Internacional da Pessoa Humana interli-
gadas, não formando uma separação estanque, mas complementares. Ademais, sendo os Direitos 
Humanos compostos por direitos universais, indivisíveis, interdependentes e relacionados, devem ser 
aplicados em diversas situações, em especial no campo dos refugiados, pessoas as quais os direito 
mais básicos são reiteradamente negados e agredidos. 
 
 
 
 
 
 
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DIREITOS HUMANOS 
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DIREITOS HUMANOS NA CF/88 
 
 
 
A dignidade da pessoa humana pode ser considerada como o fundamento último do Estado 
brasileiro. Ela é o valor-fonte a determinar a interpretação e a aplicação da Constituição, assim como 
a atuação de todos os poderes públicos que compõem a República Federativa do Brasil. Em síntese, o 
Estado existe para garantir e promover a dignidade de todas as pessoas. É nesse amplo alcance que 
está a universalidade do princípio da dignidade humana e dos direitos humanos. 
 
Como valor-fonte, é da dignidade da pessoa humana que decorrem todos os demais direitos 
humanos. A origem da palavra dignidade ajuda-nos a compreender essa idéia essencial. Dignus, em 
latim, é um adjetivo ligado ao verbo decet (é conveniente, é apropriado) e ao substantivo decor (de-
cência, decoro). Nesse sentido, dizer que alguém teve tratamento digno significa dizer que essa pes-
soa teve tratamento apropriado, adequado, decente. 
 
Se pensarmos em dignidade da vida humana ou o que é necessário para se ter uma vida digna, 
começaremos a ver com mais clareza como todos os direitos humanos decorrem da dignidade da 
pessoa humana. Para que uma pessoa, desde sua infância, possa viver, crescer e desenvolver suas 
potencialidades decentemente, ela precisa de adequada saúde, alimentação, educação, moradia, 
afeto; precisa também de liberdade para fazer suas opções profissionais, religiosas, políticas, afeti-
vas, etc. Esse conjunto de necessidades e capacidades nada mais é que o conteúdo dos direitos hu-
manos, reconhecidos, por essa razão, como princípios e direitos fundamentais na Constituição Brasi-
leira. 
 
A dignidade é atributo essencial do ser humano, quaisquer que sejam suas qualificações. Em 
última instância, a dignidade humana reside no fato da existência do ser humano ser em si mesma 
um valor absoluto, ou como disse o filósofo alemão Kant: “o ser humano deve ser compreendido co-
mo um fim em si mesmo e nunca como um meio ou um instrumento para a consecução de outros 
fins”. 
 
O Estado deve ser instrumento a serviço da dignidade humana e não o contrário. Por essas ra-
zões, o princípio da dignidade da pessoa humana exige o firme repúdio a toda forma de tratamen-
to degradante (indigna) do ser humano, tais como a escravidão, a tortura, a perseguição ou o mau 
trato por razões de gênero, etnia, religião, orientação sexual ou qualquer outra. 
 
É em decorrência do princípio da dignidade da pessoa humana que a Constituição de 1988, no 
seu Título II, “Dos Direitos e Garantias Fundamentais”, afirma uma extensa relação de direitos indivi-
duais e coletivos (Capítulo I, art. 5º), de direitos sociais (Capítulo II, arts. 6º a 11), de direitos de na-
cionalidade (Capítulo III, arts. 12 e 13) e de direitos políticos (Capítulo IV, arts. 14 a 16). 
 
 REMÉDIOS CONSTITUICIONAIS 
É sempre um desafio o pleno cumprimento dos direitos fundamentais, partindo dessa premis-
sa, o legislador brasileiro assegurou aos cidadãos diversos meios previstos em lei, para a garantia 
desses direitos. 
 
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DIREITOS HUMANOS 
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A Constituição Federal de 1988 foi generosa no rol de direitos outorgados às pessoas, físicas 
ou jurídicas, públicas ou privadas, e, para amparar esses direitos, instituiu paralelamente às garanti-
as, que a doutrina convencionou denominar de remédios constitucionais. 
 
Os remédios constitucionais são, em sentido estrito, as defesas postas pela Constituição Fe-
deral aos direitos especiais do indivíduo. Consistem elas no sistema de proteção organizado pelos 
autores da nossa lei fundamental em segurança da pessoa humana, da vida humana, da liberdade 
humana. 
 
Na Visão do Professor José Afonso da Silva, as garantias dos direitoshumanos fundamentais 
podem ser divididas em dois grupos: 
“1) garantias constitucionais gerais, que são instituições constitucionais que se inserem no 
mecanismo de freios e contrapesos dos poderes e, assim, visam impedir o arbítrio, com o 
que se constituem, ao mesmo tempo, técnicas assecuratórias de eficácia das normas con-
feridas dos direitos fundamentais, como, por exemplo, a constituição rígida, direitos fun-
damentais e suas garantias. 
2) garantias constitucionais especiais, que são prescrições constitucionais que conferem, 
aos titulares dos direitos fundamentais, meios, técnicas, instrumentos ou procedimentos 
para imporem o respeito e a exigibilidade desses direitos; são, portanto, prescrições do Di-
reito Constitucional positivo, ou seja: das constituições rígidas, que, limitando a atuação 
dos órgãos estatais ou mesmo de particulares protegem a eficácia, aplicabilidade e invio-
labilidade dos direitos fundamentais de modo especial.” 
12
 
 
Sob a mesma óptica, Uadi Lammêgo Bulos, em seu livro intitulado Curso de Direito Constitu-
cional caracteriza os remédios constitucionais como: “meios constitucionais postos ao dispor dos 
indivíduos e das coletividades para provocar a intervenção das autoridades competentes, com vistas 
à defesa de um direito lesado ou ameaçado de lesão por ilegalidade ou abuso de poder”. 13 
 
Nos casos em que se verifica o desrespeito à própria garantia constitucional e consequente-
mente lesão ao direito por ela assegurado, a Constituição da República coloca à disposição daqueles 
que tiverem seus direitos violados uma categoria especial de garantias, em sua maioria processuais, 
denominadas de remédios constitucionais. Algumas dessas garantias são de caráter administrativo, 
aqui se colocam os direitos de petição e de certidão, ao passo que outras têm natureza jurisdicional, 
a saber, o habeas corpus, habeas data, o mandado de segurança, o mandado de injunção e a ação 
popular. 
 
 HABEAS CORPUS 
A Constituição Federal em seu art. 5º, XV, prevê o direito à liberdade de locomoção no terri-
tório nacional em tempo de paz, podendo qualquer pessoa, nos termos da lei, nele entrar, perma-
necer ou dele sair com seus bens. E para assegurar a liberdade de locomoção, nos termos em que ela 
é contemplada na Constituição Federal, foi previsto pelo legislador constitucional, o habeas corpus, o 
qual, a teor do art. 60, § 4º, IV, CF, goza da condição de cláusula pétrea, sendo vedada a propositura 
de emendas que tendam a sua abolição. 
 
O habeas corpus protege direito líquido e certo do indivíduo. Sua função é a de reprimir o ato 
concreto pelo qual alguém sofre a violência ou coação. 
 
 
12 SILVA, José Afonso. Curso de direito constitucional positivo. 9. ed. São Paulo: Malheiros, 1992. 
13 Bulos, Uadi Lammêgo. Curso de Direito Constitucional. 2. ed. São Paulo. Saraiva, 2008. 
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Na lição do Professor Sylvio Motta, o habeas corpus é caracterizado como sendo “o instrumen-
to judicial destinado à defesa do direito de locomoção contra ilegalidade ou abuso de poder”. 14 No 
mesmo sentido, é a lição de Bulos, que conceitua este remédio constitucional da seguinte forma: 
“Habeas corpus é o instrumento processual constitucional, isento de custas, colocado ao dispor de 
qualquer pessoa física ameaçada de sofrer violência ou coação em sua liberdade ambulatória”. 15 
 
Mas não são todos os atos restritivos de liberdade de locomoção que permitem a invocação 
deste remédio constitucional, mas somente aqueles ilegais ou praticados com abuso de poder. 
 
Assim, temos que o habeas corpus é a ação, em que o impetrante pede a imediata expedição 
de ordem judicial, dirigida contra quem estiver ilegalmente restringindo a locomoção de outrem. 
Geralmente, essa ordem judicial é dirigida contra autoridades públicas, como delegados ou juízes de 
Direito. 
 
Na ação de habeas corpus, o autor é denominado impetrante, o indivíduo em favor da qual foi 
impetrada a ação, ou seja, aquele que sofreu ou sofre a ameaça a seu direito de locomoção, de paci-
ente, e aquele que pratica ou praticou ato ilegal ou abusivo, é denominado de impetrado ou autori-
dade coatora. 
 
O habeas corpus pode ser utilizado também contra a coisa julgada ou para trancar a ação pe-
nal e, em casos excepcionais, para trancar o inquérito policial. 
 
Tendo em vista o procedimento sumaríssimo da ação constitucional de habeas corpus, nele 
não se admite dilação probatória, cabendo ao impetrante comprovar, de plano, o constrangimento 
ilegal. 
 
O habeas corpus é uma ação constitucional de caráter penal e procedimento especial, apesar 
de regulamentado no Código de Processo Penal no capítulo destinado as espécies de recurso, tal 
remédio não pode ser considerado uma espécie do mesmo. 
 
De acordo com o art. 5º, LXIII, CF, existem dois tipos de habeas corpus, o preventivo e o libera-
tório ou repressivo. O Habeas Corpus Preventivo ou salvo conduto é destinado a prevenir, evitar a 
ocorrência de uma violação à liberdade ambulatória; uma vez concedido, expede-se um salvo-
conduto, documento emitido pela autoridade judiciária, visando conceder livre trânsito ao seu por-
tador, de molde a impedir-lhe a prisão ou detenção pelo mesmo motivo que ensejou o seu pedido. Já 
o Habeas Corpus Liberatório ou Repressivo tem como objetivo a cessação da efetiva coação ao direi-
to de ir e vir; será cabível quando alguém estiver sofrendo violência ou coação em sua liberdade de 
locomoção por ilegalidade ou abuso de poder e pretende cessar esse desrespeito. 
 
Trata-se de um dos remédios constitucionais mais importantes, pois sem a liberdade de ir, vir e 
ficar, outras garantias não se realizariam. Como característica marcante deste remédio constitucio-
nal, temos que qualquer pessoa pode impetrá-lo, inclusive diretamente, sem a necessidade de um 
advogado. 
 
 HABEAS DATA 
O habeas data é um instituto previsto na Constituição Federal, que visa tutelar a esfera íntima 
dos indivíduos, assegurando o conhecimento de informações relativas à pessoa do impetrante, cons-
 
14 MOTTA FILHO, Sylvio Clemente da. Curso de direito constitucional. 2. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009. 
15 Ibid. 
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tante dos registros ou banco de dados de entidades governamentais ou de caráter público ou a fim 
de retificar dados. 
 
É uma ação personalíssima que não se admite pedido de terceiros nem sucessão no direito de 
pedir, sendo que o caráter personalíssimo deste remédio constitucional emana da própria amplitude 
do direito defendido, uma vez que o direito de saber os próprios dados e registros constantes nas 
entidades governamentais ou de caráter público compreende o direito de que esses dados não sejam 
devassados ou difundidos a terceiros. 
 
O objetivo deste remédio constitucional é o de assegurar o direito de acesso e conhecimento 
de informações relativas à pessoa do impetrante e o direito à retificação desses dados e informa-
ções constantes de entidades governamentais ou de caráter público. O habeas data tem como ob-
jetivo também, a exclusão de dados sensíveis, relativos à origem racial, política, ideológica, filosófica, 
religiosa, à filiação partidária ou sindical, à orientação sexual e finalmente o cancelamento de dados 
falsos ou colhidos para fins ilícitos. 
 
O habeas data tem o seu procedimento previsto na Lei 9.507/97 e trata-se de pedido de tutela 
jurisdicional, e, por conseguinte, há a necessidade de preenchimento das condições da ação e dos 
pressupostos processuais. 
 
O habeas data possui natureza jurídica mista, ou seja, ao mesmo tempo em que apresenta a 
face de uma autêntica ação mandamental, uma vez que a mesma concede ao impetrante o

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