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1 Instituto Federal Catarinense Campus Avançado Sombrio Curso Superior de Licenciatura em Matemática Componente Curricular: Equações Diferenciais Ordinárias Professora: Denise Prado Kronbauer Prof. Denise Kronbauer – denipk@gmail.com Equações com coeficientes variáveis Até aqui estudamos as equações lineares com coeficientes constantes, porque existe um procedimento sistemático para resolvê-las. Não há um procedimento simples para a solução de equações lineares com coeficientes variáveis, exceto para alguns tipos. Um tipo de equação linear apropriado e que veremos a seguir (porque pode sempre ser transformado em uma equação de coeficientes constantes) é a Equação de Euler (também conhecida como equação de Euler-Cauchy ou equação equidimensional) que pode ser expressa como: 𝑥2𝑦′′ + 𝑏𝑥𝑦′ + 𝑐𝑦 = 𝑟(𝑥) onde 𝑏 e 𝑐 são constantes. As características dessa equação são as seguintes: o coeficiente de 𝑦 é constante; o coeficiente de 𝑦′ é uma constante multiplicada por 𝑥 e, em geral, o coeficiente da derivada de ordem 𝑛 é um múltiplo constante de 𝑥 elevado a 𝑛. Isto é, cada termo do lado esquerdo da equação diferencial está na forma 𝑘𝑥𝑛𝑦(𝑛), onde 𝑘 é uma constante. A equação de Euler pode ser colocada na forma padrão dividindo cada termo da equação pelo coeficiente da derivada de ordem superior. 𝑦′′ + 𝑏 𝑥 𝑦′ + 𝑐 𝑥2 𝑦 = 𝑅(𝑥) 𝑥 ≠ 0 onde 𝑅(𝑥) = 𝑟(𝑥)/𝑥2. Os coeficientes dessa equação não são contínuos em 𝑥 = 0, devemos então excluir esse ponto de qualquer intervalo para que possamos obter a solução. Para evitarmos o incômodo de utilizar o símbolo de valor absoluto, consideraremos apenas o intervalo 𝑥 > 0, a menos que seja mencionado o contrário. 𝑥2𝑦′′ + 𝑏𝑥𝑦′ + 𝑐𝑦 = 𝑟(𝑥) 𝑥2𝑦(2) (𝑛 = 2) 𝑏𝑥1𝑦(1) (𝑛 = 1) 𝑐𝑥0𝑦(0) (𝑛 = 0) 2 Instituto Federal Catarinense Campus Avançado Sombrio Curso Superior de Licenciatura em Matemática Componente Curricular: Equações Diferenciais Ordinárias Professora: Denise Prado Kronbauer Prof. Denise Kronbauer – denipk@gmail.com Equação homogênea de Euler Vamos procurar uma solução da equação de Euler da forma 𝑦 = 𝑥𝑟 , onde 𝑟 é uma constante. Obtendo suas derivadas, temos: 𝑦′ = 𝑟𝑥𝑟−1 e 𝑦′′ = 𝑟(𝑟 − 1)𝑥𝑟−2. Substituindo na equação de Euler, temos: 𝑥2𝑦′′ + 𝑏𝑥𝑦′ + 𝑐𝑦 = 0 𝑥2[𝑟(𝑟 − 1)𝑥𝑟 . 𝑥−2] + 𝑏𝑥(𝑟. 𝑥𝑟 . 𝑥−1) + 𝑐𝑥𝑟 = 0 𝑟(𝑟 − 1)𝑥𝑟 + 𝑏𝑟𝑥𝑟 + 𝑐𝑥𝑟 = 0 [𝑟(𝑟 − 1) + 𝑏𝑟 + 𝑐]𝑥𝑟 = 0 Já que 𝑥 ≠ 0 e, com isso, 𝑥𝑟 não pode ser zero, temos que 𝑟(𝑟 − 1) + 𝑏𝑟 + 𝑐 = 0 Conclusão: 𝑦 = 𝑥𝑟 é uma solução da equação de Euler, quando 𝑟 for uma raiz da equação algébrica 𝑟(𝑟 − 1) + 𝑏𝑟 + 𝑐 = 0 𝑟2 − 𝑟 + 𝑏𝑟 + 𝑐 = 0 𝑟2 + (𝑏 − 1)𝑟 + 𝑐 = 0 Esta equação algébrica, chamada equação auxiliar, desempenha o mesmo papel que a equação característica desempenhava para as EDO lineares homogêneas de coeficientes constantes. Novamente, as duas raízes podem ser reais e distintas, reais e iguais ou complexas, dependendo se (𝑏 − 1)2 − 4𝑐 é positivo, negativo ou nulo. A solução geral será dada por 𝑦 = 𝑐1𝑦1 + 𝑐2𝑦2, sendo 𝑐1 e 𝑐2 constantes, e 𝑦1 e 𝑦2 soluções particulares. Consideremos cada caso separadamente. 1° caso) Raízes reais distintas (𝑟1 ≠ 𝑟2) Neste caso, as duas soluções linearmente independentes são 𝑦1 = 𝑥 𝑟1 e 𝑦2 = 𝑥 𝑟2, e a solução geral da parte homogênea da equação (de segunda ordem) de Euler é 𝑦 = 𝑐1𝑥 𝑟1 + 𝑐2𝑥 𝑟2 3 Instituto Federal Catarinense Campus Avançado Sombrio Curso Superior de Licenciatura em Matemática Componente Curricular: Equações Diferenciais Ordinárias Professora: Denise Prado Kronbauer Prof. Denise Kronbauer – denipk@gmail.com 2° caso) Raízes reais iguais (𝑟1 = 𝑟2) Neste caso, o procedimento descrito anteriormente nos dá apenas uma solução 𝑦1 = 𝑥 𝑟. A outra solução pode ser obtida fazendo 𝑦2 = 𝑣. 𝑦1. Substituindo 𝑦2 na equação original juntamente com suas derivadas, obteremos a segunda solução particular. A solução geral da parte homogênea da equação de Euler que será da forma: 𝑦 = 𝑐1𝑥 𝑟 + 𝑐2𝑥 𝑟 ln 𝑥 Em seguida veremos um exemplo utilizando 𝑦2 = 𝑣. 𝑦1 como uma solução da EDO que explica o ‘surgimento’ da função 𝑣 = ln 𝑥. 3° caso) Raízes complexas conjugadas (𝑟1,2 = 𝛼 + 𝑖𝛽) Nesse caso, as raízes são necessariamente complexas e conjugadas entre si, e podem ser expressas como 𝑟1 = 𝛼 + 𝑖𝛽 e 𝑟2 = 𝛼 − 𝑖𝛽, onde 𝛼 e 𝛽 são reais. Uma solução geral pode ser escrita da forma: 𝑦 = 𝑐1𝑦1 + 𝑐2𝑦2 onde 𝑦1 = 𝑥 𝑟1 = 𝑥𝛼+𝑖𝛽 e 𝑦2 = 𝑥 𝑟2 = 𝑥𝛼−𝑖𝛽 𝑦 = 𝑐1𝑥 𝛼+𝑖𝛽 + 𝑐2𝑥 𝛼−𝑖𝛽 ou ainda, 𝑦 = 𝑐1𝑥 𝛼𝑥𝑖𝛽 + 𝑐2𝑥 𝛼𝑥−𝑖𝛽 Mas queremos escrever a solução apenas em termos de funções reais. Para tal, vamos iniciar as substituições usando as seguintes identidades: 𝑥𝑖𝛽 = (𝑒ln 𝑥) 𝑖𝛽 = 𝑒𝑖𝛽 ln 𝑥 𝑥−𝑖𝛽 = (𝑒ln 𝑥) −𝑖𝛽 = 𝑒−𝑖𝛽 ln 𝑥 Pela Fórmula de Euler1, temos que: 𝑒𝑖𝑥 = cos(𝑥) + 𝑖 sen(𝑥) então, podemos escrever as seguintes relações: 𝑥𝑖𝛽 = 𝑒𝑖𝛽 ln 𝑥 = cos(𝛽 ln 𝑥) + 𝑖 sen(𝛽 ln 𝑥) 𝑥−𝑖𝛽 = 𝑒−𝑖𝛽 ln 𝑥 = cos(−𝛽 ln 𝑥) + 𝑖 sen(−𝛽 ln 𝑥) = cos(𝛽 ln 𝑥) − 𝑖 sen(𝛽 ln 𝑥) 1 A fórmula de Euler é uma fórmula que mostra uma relação entre as funções trigonométricas e a função exponencial. 4 Instituto Federal Catarinense Campus Avançado Sombrio Curso Superior de Licenciatura em Matemática Componente Curricular: Equações Diferenciais Ordinárias Professora: Denise Prado Kronbauer Prof. Denise Kronbauer – denipk@gmail.com Voltando à nossa solução geral, reescrevemos: 𝑦 = 𝑐1𝑥 𝛼[cos(𝛽 ln 𝑥) + 𝑖 sen(𝛽 ln 𝑥)] + 𝑐2𝑥 𝛼[cos(𝛽 ln 𝑥) − 𝑖 sen(𝛽 ln 𝑥)] 𝑦 = 𝑥𝛼[𝑐1 cos(𝛽 ln 𝑥) + 𝑐1𝑖 sen(𝛽 ln 𝑥)] + 𝑥 𝛼[𝑐2 cos(𝛽 ln 𝑥) − 𝑐2𝑖 sen(𝛽 ln 𝑥)] 𝑦 = 𝑥𝛼[𝑐1 cos(𝛽 ln 𝑥) + 𝑐2 cos(𝛽 ln 𝑥) + 𝑐1𝑖 sen(𝛽 ln 𝑥) − 𝑐2𝑖 sen(𝛽 ln 𝑥)] 𝑦 = 𝑥𝛼[(𝑐1 + 𝑐2) cos(𝛽 ln 𝑥) + (𝑐1 − 𝑐2)𝑖 sen(𝛽 ln 𝑥)] Renomeando (𝑐1 + 𝑐2) = 𝑐1 e (𝑐1 − 𝑐2) = 𝑐2 obtemos: 𝑦 = 𝑥𝛼[𝑐1 cos(𝛽 ln 𝑥) + 𝑐2𝑖 sen(𝛽 ln 𝑥)] Tomamos as partes real e imaginária desta última função como as soluções procuradas, que são as funções reais: 𝑦1 = 𝑐1𝑥 𝛼 cos(𝛽 ln 𝑥) e 𝑦2 = 𝑐2𝑥 𝛼 sen(𝛽 ln 𝑥) Portanto, a solução geral da parte homogênea da equação de Euler pode ser expressa como: 𝑦 = 𝑥𝛼[𝑐1 cos(𝛽 ln 𝑥) + 𝑐2 sen(𝛽 ln 𝑥)] Exemplo 1: Resolver as seguintes equações diferenciais: a) 𝑥2𝑦′′ + 2𝑥𝑦′ − 2𝑦 = 0 b) 𝑥2𝑦′′ − 3 2 𝑥𝑦′ − 3 2 𝑦 = 0 5 Instituto Federal Catarinense Campus Avançado Sombrio Curso Superior de Licenciatura em Matemática Componente Curricular: Equações Diferenciais Ordinárias Professora: Denise Prado Kronbauer Prof. Denise Kronbauer – denipk@gmail.com c) 𝑥2𝑦′′ − 3𝑥𝑦′ + 4𝑦 = 0 d) 𝑥2𝑦′′ + 3𝑥𝑦′ + 𝑦 = 0 6 Instituto Federal Catarinense Campus Avançado Sombrio Curso Superior de Licenciatura em Matemática Componente Curricular: Equações Diferenciais Ordinárias Professora: Denise Prado Kronbauer Prof. Denise Kronbauer – denipk@gmail.com e) 𝑥2𝑦′′ + 3𝑥𝑦′ + 5𝑦 = 0 f) 𝑥2𝑦′′ + 𝑥𝑦′ + 4𝑦 = 0 Equação não homogênea de Euler Para a resolução de equações de Euler não homogêneas, primeiramente, determinamos a solução homogênea como descrito anteriormente e, depois, determinamos a solução particular por meio do método de variação de parâmetros. Observe que a equação deve ser colocada na forma padrão, primeiro dividindo cada termo pelo coeficiente de 𝑦′′, para que identifiquemos corretamente o termo não independente 𝑅(𝑥). Normalmente,o método dos coeficientes indeterminados não é aplicável nesse caso, já que a equação de Euler tem coeficientes variáveis. Caso a equação de Euler apresente a seguinte forma: (𝑥 − 𝑥0) 2𝑦′′ + 𝑏(𝑥 − 𝑥0)𝑦 ′ + 𝑐𝑦 = 𝑟(𝑥) devemos realizar a mudança de variáveis 𝑡 = 𝑥 − 𝑥0 que converterá a equação na forma padrão da equação de Euler. 7 Instituto Federal Catarinense Campus Avançado Sombrio Curso Superior de Licenciatura em Matemática Componente Curricular: Equações Diferenciais Ordinárias Professora: Denise Prado Kronbauer Prof. Denise Kronbauer – denipk@gmail.com Exemplo 2: Determine a solução geral da seguinte Equação de Euler: 𝑥2𝑦′′ − 2𝑥𝑦′ − 4𝑦 = 10𝑥 8 Instituto Federal Catarinense Campus Avançado Sombrio Curso Superior de Licenciatura em Matemática Componente Curricular: Equações Diferenciais Ordinárias Professora: Denise Prado Kronbauer Prof. Denise Kronbauer – denipk@gmail.com Exercícios: 1) Determine a solução geral das Equações de Euler de segunda ordem apresentadas a seguir: a) 𝑥2𝑦′′ − 3𝑥𝑦′ + 3𝑦 = 0 b) 𝑥2𝑦′′ − 𝑥𝑦′ + 𝑦 = 0 c) 𝑥2𝑦′′ + 𝑥𝑦′ − 𝑦 = 4 d) 𝑥2𝑦′′ − 2𝑥𝑦′ + 2𝑦 = 𝑥4 e) 𝑥2𝑦′′ − 2𝑥𝑦′ + 2𝑦 = 1 𝑥2 f) 𝑥2𝑦′′ − 4𝑥𝑦′ + 6𝑦 = 1 𝑥4 2) Resolver os seguintes problemas de valor inicial: a) 𝑥2𝑦′′ − 3𝑥𝑦′ + 4𝑦 = 0 𝑦(1) = 1 𝑦′(1) = 1 b) 𝑥2𝑦′′ − 3𝑥𝑦′ + 3𝑦 = 0 𝑦(1) = 0 𝑦′(1) = −2 Respostas: 1) EDO 2ª Ordem: a) 𝑦(𝑥) = 𝑐1𝑥 + 𝑐2𝑥 3 b) 𝑦(𝑥) = (𝑐1 + 𝑐2 ln 𝑥)𝑥 c) 𝑦(𝑥) = 𝑐1𝑥 −1 + 𝑐2𝑥 − 4 d) 𝑦(𝑥) = 𝑐1𝑥 + 𝑐2𝑥 2 + 𝑥4 6 e) 𝑦(𝑥) = 𝑐1𝑥 + 𝑐2𝑥 2 + 1 12 𝑥−2 f) 𝑦(𝑥) = 𝑐1𝑥 2 + 𝑐2𝑥 3 + 1 42 𝑥−4 2) PVI: a) 𝑦 = (1 − ln 𝑥)𝑥2 b) 𝑦 = 𝑥 − 𝑥3
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