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SERVIÇO SOCIAL E TERCEIRO SETOR Professora Esp. Daniela Sikosrski Professora Esp. Silviane Del Conte Curi GRADUAÇÃO Unicesumar C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a Distância; SIKOSRSKI, Daniela; CURI, Silviane Del Conte. Serviço Social e Terceiro Setor. Daniela Sikosrski; Silviane Del Conte Curi. Maringá-Pr.: UniCesumar, 2018. 192 p. “Graduação - EaD”. 1. Serviço Social. 2. Terceiro Setor . 3. EaD. I. Título. ISBN 978-85-459-0081-8 CDD - 22 ed. 658.048 CIP - NBR 12899 - AACR/2 Ficha catalográfica elaborada pelo bibliotecário João Vivaldo de Souza - CRB-8 - 6828 Impresso por: Reitor Wilson de Matos Silva Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor de Administração Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor Executivo de EAD William Victor Kendrick de Matos Silva Pró-Reitor de EAD Janes Fidélis Tomelin Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi NEAD - Núcleo de Educação a Distância Diretoria de Design Educacional Débora Leite Diretoria de Pós-graduação e Graduação Kátia Coelho Diretoria de Permanência Leonardo Spaine Direção de Operações Chrystiano Minco� Direção de Polos Próprios James Prestes Direção de Desenvolvimento Dayane Almeida Direção de Relacionamento Alessandra Baron Head de Produção de Conteúdos Celso Luiz Braga de Souza Filho Gerência de Produção de Conteúdo Diogo Ribeiro Garcia Gerência de Projetos Especiais Daniel Fuverki Hey Supervisão do Núcleo de Produção de Materiais Nádila Toledo Supervisão Operacional de Ensino Luiz Arthur Sanglard Coordenador de Conteúdo Maria Cristina Araújo de Brito Cunha Designer Educacional Lilian Vespa Projeto Gráfico Jaime de Marchi Junior José Jhonny Coelho Arte Capa Arthur Cantareli Silva Editoração Robson Yuiti Saito Qualidade Textual Priscila Sousa Ilustração Marta Kakitani Marcelo Goto Em um mundo global e dinâmico, nós trabalhamos com princípios éticos e profissionalismo, não so- mente para oferecer uma educação de qualidade, mas, acima de tudo, para gerar uma conversão in- tegral das pessoas ao conhecimento. Baseamo-nos em 4 pilares: intelectual, profissional, emocional e espiritual. Iniciamos a Unicesumar em 1990, com dois cursos de graduação e 180 alunos. Hoje, temos mais de 100 mil estudantes espalhados em todo o Brasil: nos quatro campi presenciais (Maringá, Curitiba, Ponta Grossa e Londrina) e em mais de 300 polos EAD no país, com dezenas de cursos de graduação e pós-graduação. Produzimos e revisamos 500 livros e distribuímos mais de 500 mil exemplares por ano. Somos reconhecidos pelo MEC como uma instituição de excelência, com IGC 4 em 7 anos consecutivos. Estamos entre os 10 maiores grupos educacionais do Brasil. A rapidez do mundo moderno exige dos educa- dores soluções inteligentes para as necessidades de todos. Para continuar relevante, a instituição de educação precisa ter pelo menos três virtudes: inovação, coragem e compromisso com a quali- dade. Por isso, desenvolvemos, para os cursos de Engenharia, metodologias ativas, as quais visam reunir o melhor do ensino presencial e a distância. Tudo isso para honrarmos a nossa missão que é promover a educação de qualidade nas diferentes áreas do conhecimento, formando profissionais cidadãos que contribuam para o desenvolvimento de uma sociedade justa e solidária. Vamos juntos! Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você está iniciando um processo de transformação, pois quando investimos em nossa formação, seja ela pessoal ou profissional, nos transformamos e, consequentemente, transformamos também a sociedade na qual estamos inseridos. De que forma o fazemos? Criando oportu- nidades e/ou estabelecendo mudanças capazes de alcançar um nível de desenvolvimento compatível com os desafios que surgem no mundo contemporâneo. O Centro Universitário Cesumar mediante o Núcleo de Educação a Distância, o(a) acompanhará durante todo este processo, pois conforme Freire (1996): “Os homens se educam juntos, na transformação do mundo”. Os materiais produzidos oferecem linguagem dialógica e encontram-se integrados à proposta pedagógica, con- tribuindo no processo educacional, complementando sua formação profissional, desenvolvendo competên- cias e habilidades, e aplicando conceitos teóricos em situação de realidade, de maneira a inseri-lo no mercado de trabalho. Ou seja, estes materiais têm como principal objetivo “provocar uma aproximação entre você e o conteúdo”, desta forma possibilita o desenvolvimento da autonomia em busca dos conhecimentos necessá- rios para a sua formação pessoal e profissional. Portanto, nossa distância nesse processo de cresci- mento e construção do conhecimento deve ser apenas geográfica. Utilize os diversos recursos pedagógicos que o Centro Universitário Cesumar lhe possibilita. Ou seja, acesse regularmente o Studeo, que é o seu Ambiente Virtual de Aprendizagem, interaja nos fóruns e enquetes, assista às aulas ao vivo e participe das dis- cussões. Além disso, lembre-se que existe uma equipe de professores e tutores que se encontra disponível para sanar suas dúvidas e auxiliá-lo(a) em seu processo de aprendizagem, possibilitando-lhe trilhar com tranqui- lidade e segurança sua trajetória acadêmica. CU RR ÍC U LO Professora Esp. Daniela Sikorski Especialista em Políticas Sociais e Gestão de Serviços Sociais. Bacharel em Serviço Social pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (2001). Docente do Curso de Serviço Social e Supervisora Acadêmica do Centro de Ensino Superior de Maringá, autora de livros e materiais pedagógicos para o Curso de Serviço Social. Gestora de Pessoas e Relacionamento no Hospital Gastroclínica de Londrina. Experiência na área de Serviço Social Educacional, Serviço Social Organizacional, Terceiro Setor, Responsabilidade Social, Gestão de Voluntariado, Qualidade e Acreditação Hospitalar. Link: <http://lattes.cnpq.br/7555727127923107>. Professora Esp. Silviane Del Conte Curi Especialista em Contabilidade Pública e Responsabilidade Fiscal (2009). Agente Inovativa Brasil 2015/2017. Graduada em Serviço Social pelo Centro Universitário de Maringá (2007). Membro da Association of Fundraising Professionals (AFP), inscrita no Portal da Inovação do Governo Federal do Brasil, cadastrada na Associação Brasileira dos Captadores de Recursos (ABCR). Mentora nos programas: Inovativa Brasil, Founder Institute e Aliança Empreendedora. Docente nos cursos de Serviço Social e Gestão do Terceiro Setor na Unicesumar-PR. Atua na assessoria e consultoria em Projetos de Inovação e Impacto Social, na Inpar Soluções Empresariais, Humanas e Sociais Ltda, credenciada para Trabalho técnico social pela Caixa Econômica Federal. Tem experiência nas áreas de mentoria a projetos e startups com foco em demandas sociais, relacionamento, inovação e projetos de impacto social nas áreas de educação, saúde, assistência, esporte e lazer e em Processos de Gestão Jurídica e Contábil do Terceiro Setor. Link: <http://lattes.cnpq.br/1840748555642852>. SEJA BEM-VINDO(A)! Caro(a) aluno(a), seja bem-vindo(a) a mais uma etapa da sua formação professional. Esta é mais uma conquista e você é merecedor(a). Parabéns! Onde quer que você esteja, conte conosco para mais este estudo. É um prazer estarmos contigo neste processo de construção do conhecimento e com certeza teremos muito a aprender e a compartilhar! O estudo sobre o Terceiro Setor é muito relevante na formação professional. Por isso, va- mos conhecer e nos aprofundar neste tema, buscando sempre a qualidade profissional, se capacitando para o trabalho interdisciplinar, uma vez que a atuação no Terceiro Setor não é exclusividade do Serviço Social. As reflexões e os estudos sobre o Terceiro Setor que realizaremos nos trarão informações atualizadas, proporcionando compreensão sobre as diversas possibilidades de atuação na área, uma vez que percebemos as contradições e desigualdades sociais de nossa socie- dade, contrapondo-se a um cenário socioeconômico globalizado, de mudanças e desen-volvimento científico e tecnológico acelerado. Você já parou para pensar em tais contra- dições? Como pode o ser humano ser capaz de grandes criações e ao mesmo tempo não dar conta de sanar tamanhas desigualdades? É neste contexto que o Terceiro Setor atua. Para entendermos o Terceiro Setor, você precisa ter claro sua dimensão, seus componen- tes, compreender o contexto em que está inserido global e localmente, investigar suas raízes e suas mudanças ao longo dos anos. É imprescindível adotarmos uma postura madura e aberta para que não nos enganemos imaginando que o Terceiro Setor é a úni- ca solução dos problemas sociais, tomando para a si a responsabilidade que é do Estado no que diz respeito ao papel de formulador e executor das políticas sociais. Porém, não podemos negar a sua relevância nas tratativas em busca do enfrentamento das diversas manifestações da questão social de nosso país. Sendo assim, o objetivo deste estudo é esclarecer a respeito do papel das organizações do terceiro setor em nossa sociedade, bem como dos profissionais que contribuem para sua execução. Na Unidade I – “O Terceiro Setor” –, buscaremos conhecer as características e os concei- tos que permeiam o terceiro setor, descrevendo o seu contexto sócio-histórico e cultural no mundo e no Brasil, bem como conhecer a respeito da organização sociojurídica dos setores que compõem a ordem sócio-política. Na Unidade II – “Estado, Sociedade e os papéis representados no Terceiro Setor” –, ire- mos conhecer a respeito do papel do Estado e como ele se configura junto ao Terceiro Setor, o processo de Reforma do Aparelho do Estado brasileiro até a composição legal das organizações da sociedade civil, compreendendo o significado de sociedade civil e o contexto da cidadania em que o cidadão se orienta. Estudaremos sobre a contextuali- zação das origens legais do Terceiro setor no Brasil, com base na Reforma Administrativa do Estado. APRESENTAÇÃO SERVIÇO SOCIAL E TERCEIRO SETOR Na Unidade III – “Organizações do Terceiro Setor” –, vamos dedicar o nosso estu- do para compreender como o Terceiro Setor foi se configurando juridicamente no Brasil, as qualificações e titulações vigentes atualmente. Veremos sobre as pessoas jurídicas consideradas sem fins lucrativos e quais destas são consideradas como Ter- ceiro setor. Na Unidade IV – “Administração e Planejamento no Terceiro Setor” –, será apresenta- do brevemente os elementos da administração e a sua aplicabilidade junto às orga- nizações do Terceiro Setor, os novos desafios enfrentados pelo setor, bem como as oportunidades que existem na gestão capacitada e profissionalizada. Nesta unida- de, também estudaremos sobre os documentos que são necessários à estruturação inicial da organização. Na Unidade V – “O Serviço Social e o Terceiro Setor” –, você poderá conhecer um pouco mais sobre as atribuições e responsabilidades do profissional de serviço so- cial junto às organizações do Terceiro Setor, bem como nas equipes interdisciplina- res de trabalho. Analisaremos a importância do planejamento estratégico na prática profissional sobre as competências e habilidades que são exigidas aos profissionais do Terceiro Setor ou aos que pretendem ingressar nele. Conto com você nesta etapa, sucesso! Bons estudos! Um grande abraço! Professoras Daniela Sikorski e Silviane Del Conte Curi. APRESENTAÇÃO SUMÁRIO 09 UNIDADE I O TERCEIRO SETOR 15 Introdução 16 Características e Conceitos do Terceiro Setor no Mundo 24 Fundamentação Histórica e Social do Terceiro Setor no Brasil 32 Formas Organizativas da Ordem Sociopolítica 38 Considerações Finais 45 Referências 47 Gabarito UNIDADE II ESTADO, SOCIEDADE E OS PAPÉIS REPRESENTADOS NO TERCEIRO SETOR 51 Introdução 52 Estado e Sociedade Civil 55 O Cidadão, a Cidadania e a Sociedade Civil 60 Reforma do Estado e o “Terceiro Setor” no Brasil 72 Considerações Finais 79 Referências 81 Gabarito SUMÁRIO 10 UNIDADE III ORGANIZAÇÕES DO TERCEIRO SETOR 85 Introdução 86 As Pessoas Jurídicas e as Entidades do Terceiro Setor 103 Bases Legais do Terceiro Setor 109 Organizações do Terceiro Setor, as Titulações e as Qualificações 113 Considerações Finais 120 Referências 124 Gabarito UNIDADE IV ADMINISTRAÇÃO E PLANEJAMENTO NO TERCEIRO SETOR 127 Introdução 128 Checklist Básico do Terceiro Setor 133 Gestão Para o Terceiro Setor: Desafios 151 Gestão para o Terceiro Setor: Oportunidades 155 Considerações Finais 163 Referências 164 Gabarito SUMÁRIO 11 UNIDADE V O SERVIÇO SOCIAL E O TERCEIRO SETOR 167 Introdução 168 Contribuições e Atribuições Profissionais do/da Assistente Social no Terceiro Setor 173 Equipes de Trabalho no Terceiro Setor: Multidisciplinares e Interdisciplinares 177 Competências e Habilidades Necessárias ao Profissional do Terceiro Setor 182 Considerações Finais 190 Referências 191 Gabarito 192 Conclusão U N ID A D E I Professora Esp. Daniela Sikorski Professora Esp. Silviane Del Conte Curi O TERCEIRO SETOR Objetivos de Aprendizagem ■ Conhecer as características, os conceitos e as definições sobre o Terceiro Setor. ■ Descrever o contexto sócio-histórico e cultural do Terceiro Setor. ■ Compreender a organização do primeiro, segundo e Terceiro Setor. Plano de Estudo A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: ■ Características e conceitos do Terceiro Setor no mundo ■ Fundamentação histórica e social do termo “Terceiro Setor” no Brasil ■ Formas organizativas da ordem sócio-política INTRODUÇÃO Caro(a) aluno(a), bem-vindo(a) à Unidade I do livro “Serviço social e Terceiro Setor”! Iniciaremos nosso estudo conhecendo um pouco a respeito de quais caracte- rísticas o Terceiro Setor apresenta em alguns países e no Brasil, pois para olharmos para o tempo presente e compreendê-lo, precisamos observar os caminhos que percorreu até chegar onde está e ser como é hoje. Para isso, vamos observar os processos históricos e sociais que contribuíram para a formação jurídica das organizações que compõem o Terceiro Setor na atualidade. Sabemos que este espaço tem acolhido cada vez mais áreas profissionais e tem sido campo fértil para a construção das políticas públicas junto ao Estado. Ao longo do trajeto, caro(a) acadêmico(a), você perceberá que existe uma grande diversidade de explicações e entendimentos a respeito dos conceitos sobre o Terceiro Setor, mas com as análises apresentadas irá conseguir diferenciá-lo do Primeiro e do Segundo setor, consolidando seu conhecimento para um mundo vasto de possibilidades de intervenção profissional. Neste material, teremos a discussão pautada em diversos autores, para que você tenha condições de exercitar a sua capacidade de reflexão e aprofunde seu conhecimento sobre conceitos e definições do termo Terceiro Setor e a origem das organizações sem fins lucrativos, através dos tempos. Porém, não teremos condições e nem a pretensão de esgotar o tema, ainda há muito que se aprender a respeito, bem como as definições legais que permeiam as associações e fundações. Nem sempre elas receberam o nome de organização sem fins lucrativos ou do Terceiro Setor, mas percorrendo a história percebemos sua existência desde muito tempo, nos formatos que eram possíveis em cada período, até os dias atu- ais, no Brasil. Venha conosco, explore este mundo de conhecimentos que está a sua espera! Introdução Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 15 O TERCEIRO SETOR Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E16 CARACTERÍSTICAS E CONCEITOS DO TERCEIRO SETOR NO MUNDO Olá, aluno(a), seja bem-vindo(a)! Vamos iniciar nossa aproximação com o Terceiro Setor observando os conceitos atribuídos a ele e as características que assume pelo mundo afora e no Brasil. É preciso que nossa compreensão alcanceas configurações e os avanços do Terceiro Setor com base nas realidades histó- ricas e culturais de cada território. Falando do Terceiro Setor, será comum entre as definições, os conceitos e o histórico das organizações, percebermos que muitas estavam (e muitas ainda estão) relacionadas às atividades caritativas, filantrópicas, voluntárias ou ao asso- ciativismo comunitário. Embora seus objetivos tenham como foco as causas, as demandas dos indivíduos ou dos grupos de indivíduos, cada uma pode assu- mir características distintas ou um conjunto de características que as diferencia. Neste sentido, é importante ressaltar que: […] a lógica mobilizadora e participativa que move o Terceiro Setor está presidida pela lei do amor que, considerado em sua dimensão es- trutural, busca o cumprimento da lei desde a perspectiva do impulso moral que a assiste. O drama da solidariedade é o mesmo drama que acontece para cada ser humano; tem que sujar as mãos, como indicara Sartre, há de modelar-se em fórmulas políticas e econômicas alternati- vas e viáveis (GONZALO, 1997, p.111). Independente da posição geográfica das organizações que compõem o Terceiro Setor no mundo, elas têm por princípio realizar ações que agregam valor e efeti- vidade ao contexto social, tais atividades são desenvolvidas em diversos setores e segmentos, como: saúde, educação, comunicação, segurança pública, defesa de direi- tos, fortalecimento do grupo institucional, assistência social, arte, cultura, esporte e lazer, cultura, meio ambiente, respeito à diversidade, entre tantas outras áreas. As instituições do Terceiro Setor vêm para fazer aquilo que o Estado Características E Conceitos Do Terceiro Setor No Mundo Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 17 não consegue fazer, seja por sua própria omissão, seja por sua incapaci- dade de atingir a todos. O Estado como tal é insubstituível e necessário. Cabe a todos então partir para a realização daquilo que ele não con- segue fazer e cobrar uma ação que pode fazer. Diante destas institui- ções, o Estado deve então garantir os direitos essenciais e universais das pessoas e também regular as relações entre as instituições e o próprio Estado (MEISTER, 2003, p.23). Ao analisarmos os processos históricos, perceberemos que a criação das orga- nizações desta natureza assumem características específicas e de acordo com a realidade social, política e cultural de cada país/continente; são os reflexos da for- mação e constituição política e social, da realidade e das particularidades locais. Não podemos afirmar que exista uma regra que determine todas, não há homo- geneidade nas características, nos formatos e nos conceitos, uma vez que estão ligadas às dinâmicas de cada sociedade em cada tempo, às demandas e às neces- sidades de cada comunidade ou território em dado momento. [...] o crescimento do Terceiro Setor decorre de várias pressões, deman- das e necessidades advindas das pessoas, como cidadãos, das institui- ções e até dos próprios governos (SALAMON, 1998, p.5). Com base nestas diferenças, “essa pluralidade não pode ser negligenciada, pois constitui uma das importantes particularidades desse fenômeno social nascente e indica sua enorme riqueza e complexidade.” (ANDION, 1998, p.14). Contudo, para que possamos compreender o Terceiro Setor é necessário nos apropriarmos dos conceitos e das origens que permeiam suas definições, para termos condições de atuar com segurança nos diversos campos profissio- nais que o setor pode abarcar. No caso dos profissionais do serviço social, até bem pouco tempo, havia uma visão que os afastava das organizações do Terceiro Setor, mas com a inser- ção da possibilidade de contribuição do setor no campo da construção e gestão das políticas públicas dos diversos setores, a aproximação profissional foi essen- cial para ambos, profissionais e o próprio setor. Cada vez mais o Terceiro Setor vem se configurando como um grande empregador de distintas profissões, com base nas causas em que atue, tais como o serviço social, a psicologia, a sociologia, a medicina veterinária, a engenharia ambiental, o direito, a administração, entre tantas outras. Porém, esta relação dos profissionais e as causas, discutiremos em outro momento. O TERCEIRO SETOR Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E18 Caro(a) aluno(a), há diversas maneiras de conceituar o Terceiro Setor, sendo assim, o quadro a seguir nos mostra a visão de alguns autores a respeito do que é o Terceiro Setor. Quadro 1 - Definições do Terceiro Setor Maria Lúcia Pra- tes Rodrigues (1998 p.31) [...] por Terceiro Setor entenda-se [...] a sociedade civil que se organiza e busca soluções próprias para suas necessidades e problemas, fora da lógica do Estado e do mercado. Rubem César Fernandes (1997 p.27) [...] o Terceiro Setor é composto de organizações sem fins lucrativos, criadas e mantidas pela ênfase na participação voluntária, no âmbito não governamental, dando continuidade a práticas tradicionais de caridade, da filantropia e do mecenato e expandindo o seu sentido para outros domínios, graças, sobretudo, à incorporação do conceito de cidadania e de suas múltiplas manifestações na sociedade civil. Fernando G. Tenório (2001 p. 07) Essas organizações não fazem parte do Estado, nem a ele estão vinculadas, mas se revestem de caráter público na medida em que se dedicam a causas e problemas sociais e em que, apesar de serem sociedades civis privadas, não têm como objetivo o lucro e, sim, o atendimento das necessidades da sociedade. Lester Salamon (1998, p.5, grifo nosso) É uma imponente rede de organizações privadas autônomas, não voltadas à distribuição de lucros para acionistas e diretores, atenden- do propósitos públicos, embora localizada à margem do aparelho formal do Estado... O crescimento do Terceiro Setor decorre de várias pressões, demandas e necessidades advindas das pessoas, como cidadãos, das instituições e até dos próprios governos. Ele reflete um conjunto nítido de mudanças sociais tecnológicas, aliado à contínua crise de confiança na capacidade do Estado. Simone de Castro Tavares Coelho (2000, p. 40- 58- 60- 69) O Terceiro Setor pode ser definido como aquele em que as atividades não seriam nem coercitivas nem voltadas ao lucro. Suas atividades visam ao atendimento de necessidade coletivas, e muitas vezes, públi- cas. Genericamente, a literatura agrupa nessas denominações todas as organizações privadas, sem fins lucrativos, e que visam à produção de um bem coletivo. [...] Portanto, essa característica [de prestação de ser- viço público] deve vir sempre casada com outras duas: serem privadas, o que difere das instituições governamentais; e sem fins lucrativos, o que as diferencia das empresas inseridas no mercado. Gustavo Henri- que Justino de Oliveira (2005, p.86) O Terceiro Setor pode ser concebido como o conjunto de atividades voluntárias, desenvolvidas por organizações privadas não governa- mentais e sem ânimo de lucro (associações ou fundações), realizadas em prol da sociedade, independentemente dos demais setores (Esta- do e mercado), embora com eles possa firmar parcerias e deles possa receber investimentos (públicos e privados). Fonte: a autora. Características E Conceitos Do Terceiro Setor No Mundo Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 19 Segundo Salamon o Terceiro Setor pode existir a partir de três vertentes distin- tas, a seguir: Terceiro Setor como ideia: conceito que engloba os valores sociais, como o altruísmo, a iniciativa e o livre arbítrio, levando os indivíduos a agirem de forma a melhorarem suas vidas e a dos outros por meio da solidariedade. Terceiro Setor como realidade: Um dilema: A diversidade do setor é tãoassombrosa, que nos induz a passar por alto as consideráveis similitudes que também existem nele. As pessoas ocupadas com o desenvolvimento não querem ser confundidas com as que se devotam à mera assistên- cia. Associações civis que lutam por direitos humanos não se identificam com entidades religiosas ou corporações profissionais. Carecendo de um conceito unificador, o todo vem a parecer menor que as partes consti- tuintes. Pouco organizado e capacitado enquanto capital humano. Terceiro Setor como ideologia: o Terceiro Setor, como mitologia e ide- ologia, substitui facilmente o Terceiro Setor como ‘realidade’ ou ‘ideia’ na mente de muitas pessoas. Convém mencionar aqui, quatro desses mitos: mito da insignificância ou incompetência, a noção de que as organizações do Terceiro Setor, na melhor das hipóteses, dispõe de bisonhas operações amadorísticas com um pouco de estofo para um impacto sustentado sobre os problemas cruciais que suas sociedades enfrentam; e, na pior, agitadores irresponsáveis interessados em apresentar exigências absurdas a fim de so- lapar a autoridade governamental legítima; o mito do voluntarismo, a no- ção de que as organizações sem fins lucrativos devem apoiar-se unicamente na ação voluntária não remunerada e a caridade privada, pois essas formas de ação seriam mais puras e mais eficientes para a solução dos problemas sociais do que a participação do Estado; o mito da virtude pura, a noção de que as organizações voluntárias são por natureza instrumentos com pro- pósitos essencialmente públicos, responsáveis pelas camadas necessitadas e obedientes a normas democráticas; o mito da imaculada conceição, a no- ção de que a filantropia e o voluntariado constituem fenômenos novos em quase todo mundo e de que a construção de um setor social podem, em consequência, ocorrer em solo virgem e copiar livremente modelos de fora (SALAMON apud VILLAS BÔAS NETO, 2003, p.46-47). Para que tenhamos condições de analisar os diferentes posicionamentos teóricos, existem algumas discussões sobre outras bases autorais, iniciando por Anheir (apud Fernandes, 2002), que defende que a caracterização de uma organização como sendo do Terceiro Setor precisa apresentar entre suas características algu- mas especificidades, sendo: O TERCEIRO SETOR Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E20 Figura 1 - Características do Terceiro Setor. Fonte: a autora adaptado de Fernandes (2002). Em alguns casos, contraponto, noutros, afirmação e em outros como comple- mento, Aragão (2009) emite a sua opinião a respeito das características que definem uma organização ser do Terceiro Setor, definindo que: organização: precisa ter um certo grau de institucionalização e sistema- tização documental, tais como: estatuto, endereço, sede, ter diretoria legalmente constituída, regimento, registros diversos. privada: estar fora do aparelho do Estado enquanto instituição; pode firmar convênios ou parcerias com o poder público; deve ter condições de manter sua autonomia financeira e administrativa. não distribuir lucros: não retornar nenhum ganho a seus associados; toda a receita recebida em doações, parcerias ou prestação de serviços deve ser aplicada na própria instituição e no atendimento de seus obje- tivos institucionais. autogovernada: ser apta a controlar suas atividades por meio de gestão própria. trabalho voluntário: deve envolver algum tipo de participação volun- tária em suas ações. Caro(a) aluno(a), podemos constatar que existem pontos em comum com a discussão anterior, sobre o que caracteriza uma organização do Terceiro Setor, alterando a forma de apresentação do conceito do autor, mas para que a com- paração seja mais rica, seguem mais algumas características distribuindo-as da seguinte maneira: estruturadas: possuem certo nível de formalização de regras e proce- dimentos, ou algum grau de organização permanente. São portanto, Prestar atendimento a uma diversidade e variedade de questões que afetam a sociedade (assistência social, saúde, meio ambiente, cultura, educação, lazer esporte etc). Manter um signi�cativo envolvimento do voluntariado, mesmo que seja somente a diretoria. Ser Instituição de caráter privado mas desenvolvendo um trabalho de interesse público; separada institucionalmente do Estado podendo manter parceria com este, mas não depender exclusivamente dele. Apresentar um mínimo de organização, de institucionalizacão, com registro em cartório, Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ), endereço e sede própria. Não ter �ns econômicos, de acordo com o código civil, não sendo distribuidora de lucros entre os seus diretores. Atender a pessoas que estão excluídas do processo produtivo, fora do mercado de trabalho, em situacão de vulnerabilidades social. Características E Conceitos Do Terceiro Setor No Mundo Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 21 excluídas as organizações sociais que não apresentem uma estrutura interna formal. privadas: essas organizações não tem nenhuma relação institucional com governos, embora possam dele receber recursos. não distribuidoras de lucros: nenhum lucro gerado pode ser distribu- ído entre seus proprietários ou dirigentes. Portanto, o que distingue essas organizações não é fato de não possuírem fins lucrativos, e sim, o destino que é dado a estes, quando existem. Eles devem ser dirigidos à realização da missão da instituição. autônomas: possuem os meios para controlar sua própria gestão, não sendo controladas por entidades externas. voluntárias: envolvem um grau significativo de participação voluntária (trabalho não remunerado). A participação de voluntários pode variar entre organizações e de acordo com a natureza da atividade por ela desenvolvida. Existem situações que, mesmo em meio a tantas semelhanças, as ideias, as vezes, entram em conflito e nos confundem. É a diversidade de conceitos e configurações que dificultam a caracterização deste setor, uma vez que a origem e motivação de cada uma das diferentes instituições são, muitas vezes, incompatíveis na sua vertente ideológica. A exemplo desta incompatibilidade, podemos citar aquelas instituições que nascem e desenvolvem seu trabalho pautadas puramente no altruísmo e na bene- volência, que tem suas atividades avaliadas por aquelas que visam à conquista e manutenção dos direitos humanos como um reforço da dependência e do con- trole do indivíduo e das massas populacionais. Tais avaliações não anulam a relevância do trabalho desenvolvido por cada uma, pois em muitos casos é pre- ciso do paliativo imediato a um determinado problema ou demanda, para que Exercite sua capacidade de reflexão e síntese, e tente escrever com suas pró- prias palavras a definição para as organizações que fazem parte do Terceiro Setor, com as composições que vimos até aqui. Fonte: a autora. O TERCEIRO SETOR Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E22 se atinja um resultado a longo prazo, que realmente seja promotor de mudanças significativas na vida do indivíduo, do meio e/ou do contexto onde está inserido. As organizações que atuam no campo social têm assumido ao mes- mo tempo funções econômicas (pois geram emprego), políticas (pois constituem espaço de exercício de cidadania) e sociais (pois permitem que as pessoas atuem visando transformar a realidade em que vivem). (ANDION, 1998, p.8) Para atender tais demandas, podemos afirmar que a sociedade se mobiliza e se organiza em instituições para atender aos interesses públicos, em áreas e seg- mentos distintos, sem a participação direta do Estado, por este motivo são conhecidas como organizações não governamentais. Para falarmos sobre a parte histórica, social e cultural que tanto colaborou, iniciaremos nossa observação das característicase dos formatos das organizações do Terceiro Setor nos Estados Unidos e, em seguida, na Europa, para poder- mos compreender como elas se consolidaram no Brasil. Vamos à nossa jornada! ESTADOS UNIDOS Nos Estados Unidos, de acordo com Fernandes (2002), o termo Terceiro Setor faz parte do vocabulário sociológico corrente. No idioma native, tem sua tradução em “Third Sector” e identifica as organizações sem fins lucrativos e as organiza- ções de caráter voluntário. Existem ainda outras terminologias que eram usadas para designar as organizações que compunham o Terceiro Setor, como podemos confirmar em Villas Boas Neto (2003): non profit organizations: (organizações não governamentais), que di- zem respeito àquelas instituições cujo lucro/benefícios financeiros não podem ser repassados ou distribuídos aos seus associados e/ou direto- res. A expressão Organização Não Governamental (ONG) proveniente da Europa continental, teve sua origem pelas Nações Unidas. Contudo, na América Latina o que se difundiu foi a terminologia Organização da Sociedade Civil e Terceiro Setor. charites: (significa caridade), termo inglês utilizado e nos remete a um conceito de conotação religiosa. filantropia: termo mais moderno com a mesma conotação do termo “sem fins lucrativos”. (NETO, 2003) Características E Conceitos Do Terceiro Setor No Mundo Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 23 As organizações nascem com os mesmos objetivos e tendo clara sua distinção entre as ações estatais. Elas refletem a busca da sociedade civil organizada no atendimento do bem comum, das causas coletivas. Embora atualmente tais con- ceitos caracterizam grande parte das instituições e organizações do Terceiro Setor, estão direcionadas para mudanças, que veremos mais adiante. O Terceiro Setor acaba assumindo características de complemento ao papel do Estado, gerando distanciamento de sua conotação política e do caráter reivin- dicatório, como é visto em outros países. Aqui, o Estado atua como um suporte, regulador e financeiro para um parcela significativa das organizações no país. EUROPA Na Europa, as organizações não governamentais nascem com a forte motiva- ção de ajudar no desenvolvimento de países menos desenvolvidos. Este apoio se efetiva através de parcerias das organizações européias com os países, através de suas organizações não governamentais, impulsionando a criação de outras inú- meras organizações no Brasil e no mundo. Essas organizações atuam em setores diversos tais como – saúde, edu- cação, transporte, lazer, desenvolvimento urbano, proteção do meio ambiente, serviços domésticos, alimentação etc. – tendo como objetivo principal a promoção social. Em termos gerais, elas assumem diversas nomenclaturas e formas jurídicas. Na França, predomina a forma asso- ciativa; em Quebec, as organizações comunitárias; na Itália, as coopera- tivas; na América Latina e no Brasil, as organizações não governamen- tais populares (ANDION, 1998, p.14, grifo da autora). As organizações se formam a partir da união de pessoas que se associam em prol de uma causa comum àquele grupo. Na Europa, o movimento associativo é identificado por duas tradições: a tradição romana, que se concretizou a partir do surgimento das confrarias religiosas, dos partidos políticos e das corpora- ções da Idade Média; a tradição germânica está bastante atrelada às guildas que tinham funções políticas, econômicas e sociais, e tinham características de pro- teção mútua, ética comercial e direitos do comércio. O TERCEIRO SETOR Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E24 FUNDAMENTAÇÃO HISTÓRICA E SOCIAL DO TERCEIRO SETOR NO BRASIL No Brasil, as organizações do Terceiro Setor nasceram pautadas em um movi- mento reivindicatório e politizado, visando a garantia de direitos, e não na filantropia, como nos Estados Unidos. Mas cabe esclarecer que a filantropia existiu e existe no Brasil, porém não foi o fator fundante do setor no nosso país. De acordo com Villas Boas Neto (2003), o Terceiro Setor no Brasil se cons- trói como um conjunto organizacionalmente diferenciado no bojo do processo de democratização, sendo em sua maioria remanescentes dos movimentos sociais que atuaram na resistência aos governos totalitários e das entidades que substi- tuíram ou complementaram o papel do Estado, no esforço de estabelecer algum grau de equidade social. Em nosso país, o Terceiro Setor começou a ser utilizado para as entidades que realizavam os trabalhos que até aquele momento estavam atreladas à Igreja. Contudo, diante do fato de que as atividades da igreja trabalhavam mais com ati- vidades vinculadas à caridade em escolas, hospitais, asilos, creches e orfanatos, não atendendo a todas as demandas da sociedade que se estendiam para outros setores, como habitação, defesa e garantia de direitos. As instituições iniciam suas ações a partir destas últimas demandas e operam no sentido de construir uma sociedade mais justa. De acordo com Salamon (2005), esse tipo de atividade [voluntária] estava presente na China na Antiguidade e foi fortalecida e institucionalizada sob o Budismo desde o século VII. No Japão, a atividade filantrópica remonta ao período Budista e a primeira fundação japonesa moderna, a Sociedade da Gratidão que foi estabelecida em 1829, cerca de um século antes da primei- ra fundação norte-americana. Fonte: adaptado de Salamon (2005, p.10). Fundamentação Histórica e Social do Terceiro Setor no Brasil Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 25 Caro(a) aluno(a), para que possamos entender melhor o presente, vamos fazer um pequeno passeio pelo passado. Visitaremos fases e alguns períodos históricos pelos quais o Brasil atravessou, para que tenhamos condições de compreender a atuação do Terceiro Setor nos dias de hoje. Neste quadro-resumo do Conselho Regional de Administração, vemos a identificação do principal ator social atuando junto às demandas da população e distinguimos quais eram os paradigmas de cada período. Quadro 2 - Histórico da atuação social PERÍODO ATOR SOCIAL PARADIGMA Séc. XIX Estado Oligárquico Igreja Caridade Cristã Séc. XX – 1930 Estado Populista Igreja e Estado Caridade Estatal Séc. XX – 1964 Estado autoritário Estado e Sociedade Controle Estatal Séc. XX – 1988 Estado Democrático Sociedade e Estado Cidadania Fonte: Conselho Regional de Administração (2011, on-line). Porém, caro(a) aluno(a), para cada período citado anteriormente, temos uma configuração, e, para conhecermos melhor, as estudaremos agora. O TERCEIRO SETOR Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E26 ESTADO OLIGÁRQUICO E A REPÚBLICA VELHA O Estado Oligárquico inicia no ano de 1889 e segue até 1930. Nesta época, os problemas sociais que atingiam a população não eram atendidos. Aqueles que fossem pobres não possuíam direitos efetivos e dependiam de forma contundente da caridade alheia, inclusive da Igreja Católica que se institui enquanto mono- pólio, já que, muitas vezes, havia a indiferença e ausência por parte do Estado. E as instituições que foram criadas tinham a finalidade de atender aos menos favorecidos, aqueles que não tinham condições básicas de sobrevivência e tra- balho, hoje, vulneráveis socioeconomicamente. Conforme adentramos no contexto histórico, percebemos a existência de ações da sociedade civil organizada, mesmo antes da Proclamação da República (15/11/1889), e o trabalho era realizado por instituições vinculadas à Igreja, como caridade e benesse. Essas intervenções cristãs eram financiadas pelos setores oligárquicos e a Igreja assume, quase que complementamente, a função de “ajuda aos necessitados”, período em que iniciam as primeiras ações de saúde,que culminam na constru- ção das Santas Casas de Misericórdia. A primeira Santa Casa de Misericórdia foi construída na Vila de Santos, em 1943. Com a chegada da industrialização no Brasil, as primeiras discussões sobre os direitos sociais começam a surgir, e como afirma Meister (2003, p.28) “apa- rece a própria pobreza como uma realidade produzida e mantida socialmente”. O fim do Estado Oligárquico foi marcado por fatores históricos e sociais, tais como: a própria crise da Oligarquia, a ascensão dos movimentos sociais urba- nos em busca de direitos e, em 1917, a greve geral da indústria e a fundação do Partido Comunista. No final da década de 1920, esses movimentos urbanos ganham impulso e poder, compondo-se como um novo agente político e ganhando visibilidade neste novo cenário da história que se desenhava. A chegada dos imigrantes, na década de 1930, contribuiu imensamente para que estes movimentos ganhas- sem corpo, uma vez que eles vinham da Europa com sua formação política clara e passaram a também reivindicar por direitos. Fundamentação Histórica e Social do Terceiro Setor no Brasil Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 27 ESTADO POPULISTA E A REPÚBLICA NOVA Período que vai do ano de 1946 a 1964, sob a liderança de Getúlio Vargas, conhe- cido como “pai dos pobres”, se caracterizou como um Estado Corporativo, populista, autoritário e nacionalista. O Estado assume uma política clientelista, pautada na caridade. “O Estado busca então uma estratégia de atrelar às iniciativas autônomas e emergentes da sociedade civil, tornando-as aparelhos paraestatais a serviço do fortalecimento do seu próprio poder” (VILLAS BOAS NETO, 2003, p.34). Foi criado o sistema de ensino público, a carteira de trabalho, o sufrágio uni- versal, na assistência aos pobres, a Legião Brasileira de Assistência (LBA), e no atendimento a economia e capacitação de mão de obra, os serviços do Sistema S: Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial – SENAI (1942), Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial – SENAC. O fim deste período é marcado pela própria crise do Estado Corporativista, que esbarrou na associação dos setores industriais ao capital externo e o fortaleci- mento dos sindicatos que cobravam pelas reformas prometidas pelo governo, esgotando o sistema. A Igreja mantém sua importância no campo da assistência aos pobres, complementada agora pela presença do Estado. Apesar destes avanços, na prática, os pobres ainda não se constituem como sujeitos deste direito. O clientelismo permanece como política oficial. A caridade dos cristãos para com seus fiéis é em parte substituída pela “caridade” do Estado e pela soli- dariedade administrativa. Os pobres continuam sendo objeto de bondade de algum senhor. Fonte: Villas Boas Neto (2003, p.34). O TERCEIRO SETOR Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E28 ESTADO AUTORITÁRIO E A REPÚBLICA MILITAR Período compreendido entre 1964 a 1985, foi marcado pelo rompimento do Estado com a sociedade. O Estado passa a assumir as políticas sociais como único executor, tornando ilegal e clandestina qualquer tipo de organização da socie- dade. Estava neste patamar qualquer atitude ou pensamento que ele [o Estado] não pudesse controlar e exercer seu poder autoritário, fazendo da participação cívica da sociedade, algo nulo. Como nos demais setores do governo, o regime militar adota, na área social, uma postura controladora criando grandes estruturas hierarqui- zadas e centralizadas com vistas a reduzir drasticamente a pobreza e as diferenças regionais: INPS; BNH; COBAL; CEME; MOBRAL; etc. Tais políticas compensatórias distributivas e de integração nacional mobili- zaram pesados recursos públicos (VILLAS BOAS NETO, 2003, p. 35). A repressão do movimento sindical, iniciado no período anterior, faz surgir uma ampla gama de outros movimentos sociais autônomos, que assumem caráter libertador, revolucionário e politizador com o apoio e aval da Igreja. Com isto posto, a partir do final da década de 1960, [...] tem início um trabalho que se gesta dentro das igrejas o qual toma vulto, com o volver dos anos, passando, mais tarde, a denominar-se ins- tituições do Terceiro Setor, isto é, organizações sociais sem fins lucrati- vos, ONGs (organizações não governamentais), fundações, institutos, etc. elas realizam tarefas que a Igreja e o Estado não conseguem mais atender devido às grandes demandas sociais (MEISTER, 2003, p.28). A Igreja nesta época, ainda independente, não mantinha nenhum tipo de relação ou qualquer diálogo com o Estado, e auxiliou na reorganização da sociedade civil com a consolidação das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) e a Teologia da Libertação. É à Igreja Católica, contudo, mais particularmente à Teologia da Liber- tação, que devemos o ímpeto maior do movimento (de emancipação do indivíduo). O fechamento do Estado pelo exército deixou também a Igreja Católica fora dos círculos mais íntimos do poder. Nesta época, o Vaticano convoca os católicos a buscarem, positivamente, uma sin- tonia com os sinais dos tempos. Em resposta ao Concílio Vaticano II, os bispos, latino-americanos reuniram-se em Medelin, Colômbia, em 1968,e proclamaram a doutrina de que a boa nova do evangelho impli- cava uma ‘opção preferencial pelos pobres’. Assim nasceu o movimento inspirado na Teologia da Libertação, apostando no valor a um tempo sagrado e profético das Comunidades Eclesiais de Base (FERNANDES, Fundamentação Histórica e Social do Terceiro Setor no Brasil Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 29 apud VILLAS BOAS NETO, 2003, p. 36). A sociedade passou a se mobilizar de forma invisível, no contexto das comu- nidades, onde estavam os círculos bíblicos, os grupos de jovens, cursos de alfabetização, grupos de reflexão, associações populares de produção e autoa- juda, os clubes de mães, espaços onde a formação de líderes acabava acontecendo. Essa mobilização social se pautava na reivindicação por soluções à falta de água, energia elétrica, saneamento básico, habitação, trânsito, preços praticados, polui- ção, entre tantas outras necessidades abandonadas e tão conhecidas nossas até os dias atuais. E que para Fernandes (2002, p. 20): Sua emergência é de tal relevância que se pode falar de uma “virtual revolução” a implicar mudanças no modo de agir e pensar. As relações entre o Estado e mercado, que tem dominado a cena pública, hão de ser transformadas pela presença desta terceira figura – as associações voluntárias. Não se pode dizer, é claro, que a atividade dos cidadãos ou que a vida associativa sejam invenções destes dias. Ao contrário, há quem prefira denominá-las “o primeiro setor” justamente para enfati- zar sua antecedência lógica e histórica. A novidade estaria nos núme- ros, em expansão geométrica, e nos padrões de relacionamento. Neste pano de fundo emergem as primeiras organizações não governamen- tais, de caráter público. Caráter público porque visavam o bem da população e tinham o objetivo de lutar pela democracia, por direitos e qualidade de vida. As relações sociais e interpessoais se fortalecem pautadas no sentimento de ajuda, colaboração mútua e solidariedade. Estas organizações: […] passam a unir-se a organizações internacionais e instituições que de certo modo possam fornecer subsídio e auxílio na organização das instituições no Brasil. O auxílio de organizações internacionais exige que se estabeleça uma instituição dotada de personalidade jurídica (MEISTER, 2003, p.29). Com o afastamento do Estado da solução dos problemas sociais, há o fortaleci- mento e a criação das organizações que passaram a prestar serviços para atender tais demandas. Com isto, o Estado afasta-se da obrigatoriedade de investir na área, se eximindode custear tais ações, o que intensifica ainda mais o surgimento e desenvolvimento das organizações de interesse público de caráter privado no Brasil, e o controle do Estado perde força, instaurando as bases para a Nova República. Em 15 de janeiro de 1985 foi eleito o novo presidente do país, encer- rando o regime autoritário instaurado. O TERCEIRO SETOR Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E30 ESTADO DEMOCRÁTICO E A NOVA REPÚBLICA Iniciada no ano de 1985, a Nova República traduz parte do sentimento de liber- dade da nação. O Estado e a sociedade pretendiam redimensionar seu papel nas políticas sociais. Com o fim do regime militar, os movimentos sociais organiza- dos ainda imbuídos na luta e garantia de direitos acabam por propiciar discussões para assegurar a liberdade por meio de uma nova Constituição. A consolida- ção da democracia se concretiza em 1988, com a promulgação da Constituição Federal, que procura em seus artigos ampliar os espaços e meios de participa- ção popular e das organizações não governamentais, na sociedade e no poder público, inaugura-se o Estado Democrático. Trata-se de uma tentativa de fazer o movimento inverso da nossa tra- dição histórica: o de construir o Estado a partir da sociedade e sob o controle dela. Podemos reconhecer os indicadores deste movimento nas Leis como o: Estatuto da Criança e do Adolescente, a Lei Orgânica de Assistência Social, na disseminação dos Conselhos para definir as diretrizes públicas, no próprio processo de fortalecimento dos municí- pios (VILLAS BOAS NETO, 2003, p.39). Nesse processo, os movimentos sociais agora intervindo como organizações sem fins lucrativos, já com conhecimento acumulado a respeito do atendimento de determinadas demandas da população e da sociedade, tendo o Estado reconhe- cido tais iniciativas e compreendendo o papel de interlocutoras e parceiras na execução das políticas públicas, propõe sua efetivação na função de tal papel, em 1995 com a Reforma Administrativa do Estado brasileiro, emergem estes novos atores na execução das políticas sociais. O Estado busca redefinir seu papel como fornecedor, e não necessaria- mente como executor das políticas sociais. Busca-se, com isso, dimi- nuir o seu tamanho, ampliar e fortalecer as organizações civis. É neste ambiente que devem ser compreendidas as Leis que instituíram mais tarde as Organizações Sociais (OS) e as Organizações da Sociedade Ci- vil de Interesse Público (OSCIPs) e o Programa Comunidade Solidária (TERRA, apud VILLAS BOAS NETO, 2003, p.39). O Terceiro Setor, começa a ganhar corpo e reconhecimento, e passa a se carac- terizar por estar Fundamentação Histórica e Social do Terceiro Setor no Brasil Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 31 [...] composto de organizações sem fins lucrativos, criadas e mantidas pela ênfase na participação voluntária, num âmbito não governamen- tal, dando continuidade às práticas tradicionais da caridade, da filan- tropia e de mecenato e expandindo o seu sentido para outros domí- nios, graças sobretudo, à incorporação do conceito de cidadania e de suas múltiplas manifestações na sociedade civil. (FERNANDES, apud VILLAS BOAS NETO, 2003, p. 46) Neste período, as características assumidas pelo Terceiro Setor refletiam suas origens de mobilização e solidariedade, que passaram a assumir atividades e funções que, até então, podiam ser desenvolvidas apenas pelo Estado. A conso- lidação do Terceiro Setor: [...] reflete, de certa forma, o amadurecimento da sociedade que busca consolidar sua sustentabilidade com base numa relação de parceria com demais setores sem, contudo, gerar uma relação de dependência a um de- les. Desloca-se, portanto, na tutela do Estado ou da hegemonia religiosa para tornar um conjunto de organizações autônomas profissionalizadas e não governamentais. (TERRA, apud VILLAS BOAS NETO, 2003, p.46) Maturidade traduzida na liberdade, na autonomia e na habilidade dos cidadãos de se articular respondendo às demandas sem estar sujeito unicamente ao poder público, mas podendo desenvolver ações em parceria com ele e com o segundo setor, para minimizar as demandas. O que segundo Fernandes (apud VILLAS BOAS NETO, 2003, p.38), “descobriu-se assim que as atividades de interesse público podem ser exer- cidas fora do governo e em medidas que ultrapassam as expectativas de uma vida”. Caro(a) aluno(a), em resumo até aqui, definir o Terceiro Setor é algo bas- tante complexo, pois ele assumiu características e nomes diferenciados a cada época e lugar, mas podemos dizer que são: ■ organizações que nasceram pautadas no atendimento de uma causa que fosse comum a um grupo de pessoas ou de organizações; ■ não possuem finalidades lucrativas, mas podem utilizar o excedente econô- mico somente na realização ou manutenção de sua atividade-fim (objetivo); ■ muitas têm a participação massiva de voluntários. Existem ainda algumas características que precisamos conhecer para agregar a estes conhecimento. Por hora, vamos a parte da formação jurídica para situar onde o Terceiro Setor está inserido. O TERCEIRO SETOR Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E32 FORMAS ORGANIZATIVAS DA ORDEM SOCIOPOLÍTICA Caro(a) acadêmico(a), conversamos bastante sobre o Terceiro Setor, mas ainda não esclarecemos o motivo pelo qual este segmento da economia é chamado por este nome. Já faz uma ideia da razão para o nome? Vamos, então, aos fatos! Para situarmos o Terceiro Setor no contexto econômico, precisamos delinear a estrutura jurídica que pauta a formação de sociedades e associações no nosso país. Para isso, trataremos um pouco a respeito das regras do Código Civil Brasileiro (2002). O Código Civil é o conjunto de normas, que orientadas pela Constituição Federal, determina os direitos e deveres das pessoas físicas e jurídicas, no que se refere aos bens e às relações estabelecidas entre eles. Ele traz clara a definição de sociedades, como sendo grupos sociais que se criam uma personalidade jurídica com a intenção de concretizar finalidades (lícitas e sociais) e se estruturam a par- tir de seus objetivos. Por este motivo é importante que as organizações saibam o motivo para o qual nasceram. As organizações e/ou instituições, como conhecemos no nosso cotidiano, são representações sociais de coletivos, que Maranhão & Macieira (2010, p. 1-2) definem como: [...] quaisquer grupos socialmente constituídos e organizados, tais como fábrica, loja, escola, governo (federal, estadual, distrital ou muni- cipal), hospital, família, indivíduo, supermercado, creche, clube, escola de samba, instituição de caridade, etc…, com uma finalidade comum. Ou seja, qualquer grupo de pessoas ou mesmo de organizações, que se aliem buscando atingir um objetivo que lhes seja comum, para estes autores, é denomi- nado de organização ou instituição devido à representação coletiva do objetivo, dos compromissos assumidos entre si: Formas Organizativasda Ordem Sociopolítica Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 33 [...] num sentido mais geral, as organizações são constituídas de indi- víduos, que formam os grupos, que formam as empresas, que formam uma nação, cujo conjunto juridicamente organizado forma um estado ou país. Diz-se que um estado ou país, com relação ao ponto de vista social, pode formar uma ou mais nações, cada qual por sua vez, ao longo do tempo forma um determinado “tecido social” que tem carac- terísticas comportamentais próprias, cujo aspecto é conhecido como cultura (MARANHÃO & MACIEIRA, 2010, p. 1-2). São estes coletivos e o seu movimento que organizam e reorganizam a socie- dade através dos tempos, alterando costumes e determinando os rumos do desenvolvimentosocial, econômico e financeiro de uma época. Estas alianças estabelecidas, visando objetivos e finalidades comuns, também delineiam as suas estruturas jurídicas. Para constituir-se enquanto pessoa jurídica é necessário o registro formal, e todas as organizações se estruturam a partir de um cadastro, o CNPJ (Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica). Esse cadastro delimita o âmbito de atuação daquela organização. A pessoa jurídica pode ser de Direito Público ou de Direito Privado. É sobre estas pessoas jurídicas de direito público e de direito privado que conversaremos. As de direito público, são o que conhecemos por Primeiro Setor. Nas pessoas jurídicas de direito privado, encontramos o Segundo e o Terceiro Setor, conforme estudaremos seguir. CONHECENDO O PRIMEIRO SETOR Chamamos as pessoas jurídicas de direito público de administração pública e órgãos públicos, e podemos dizer que são todas as organizações que compõem as esferas de governo. De acordo com o Código Civil, elas se dividem em direito público interno e direito público externo. A definição do Código Civil no art. 44 afirma que são “pessoas jurídicas de direito público interno: a União; os Estados, o Distrito Federal e os territórios; os municípios; as autarquias, inclusive as asso- ciações públicas; as demais entidades de caráter público criadas por lei”. O TERCEIRO SETOR Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E34 As instituições que compõem o direito público interno são o que conhecemos por Primeiro Setor, são as organizações governamentais, aquelas que foram criadas para desenvolver, regulamentar e fiscalizar tarefas sociais com o direcionamento do governo da esfera a qual estiver vinculada. A administração pública pode ainda se dividir em direta e indireta. A admi- nistração pública direta é composta pela Presidência da República, seus órgãos de consulta (Conselho da Defesa Nacional e Conselho da República), seus órgãos de assessoramento imediato (Conselho de Governo, Alto Comando das Forças Armadas e Consultoria Geral) e os órgãos de assistência direta e ime- diata (Secretarias setoriais), bem como os Ministérios setoriais (BRASIL, 1990). Em cada um destes órgãos existem muitos outros componentes, como: conse- lhos, departamentos, secretarias, institutos, comissões, coordenadorias e centros. Já a administração pública indireta é composta por órgãos que desempe- nham de forma descentralizada as funções de Estado nas esferas de governo. São criados por lei, tem personalidade jurídica própria (registro no CNPJ e outras formalidades) e tem uma finalidade específica, nascem com um objetivo fixo. Exemplos de autarquias no nível federal temos o Banco do Brasil, o Conselho de Desenvolvimento Científico (CNPq), universidades federais e o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (INEP). Ainda podemos citar as fundações públicas e as agências executivas e reguladoras. O Primeiro Setor está composto pelos órgãos da administração pública. As pessoas jurídicas de direito público externo são os Estados estrangeiros e as pessoas regidas pelo direito internacional público. Para Jean Touscoz, o Direito Internacional “é o conjunto de regras e de instituições jurídicas que regem a sociedade internacional e que visam estabelecer a paz e a justi- ça e a promover o desenvolvimento”. São, portanto, os acordos, tratados e convenções que garantem as regras de convivência entre países, estados e pessoas de nações distintas. Fonte: Albuquerque (2000). Formas Organizativasda Ordem Sociopolítica Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 35 CONHECENDO O SEGUNDO SETOR Caro(a) aluno(a), a existência legal das pessoas jurídicas de direito privado inicia com a inscrição no respectivo registro civil da pessoa jurídica (cartório), muito similar quando nasce uma criança e precisamos registrar a existência legal no cartório de registro civil de pessoas físicas. Porém, a personalidade jurídica, para ser registrada, deve conter em um documento formal (contrato social ou esta- tuto), os objetivos para os quais foi criada e os limites de sua atuação naquele tema. Esse documento é a prova inicial de seu “nascimento” e das suas inten- ções lícitas e sociais do grupo que a criou. Naquele instante, no lugar da pessoa particular de cada contratante, este ato de associação produz um corpo moral e coletivo, composto de tantos membros como a assembleia de votantes, o qual recebe neste mesmo ato sua unidade, seu eu comum, sua vida e sua vontade. Esta pessoa pública que se forma assim pela união de todas as outras rece- beu antes o nome de cidade e agora recebe o nome de república ou de corpo político, chamado por seus membros Estado, quando é passivo: soberano, quando é ativo, poder, comparando-o com seus semelhantes (ROUSSEAU, 1960, p. 25-26). A diferença entre as pessoas jurídicas de direito público para as pessoas de direito privado, é que para as últimas, o interesse é isolado do dos outros, não é um inte- resse comum e coletivo, mas privado. Para o Código Civil (2002, art.44), as pessoas jurídicas de direito privado são: “as associações; as sociedades; as fundações; as organizações religiosas; os parti- dos políticos; as empresas individuais de responsabilidade limitada”, ou seja, são de direito privado todas as formas associativas que não forem de direito público. Isso às vezes confunde um pouco, pois esse é o chamado Segundo Setor. E percebe- mos que nesse bojo estão todo o tipo de organizações, com ou sem fins lucrativos. O que as diferencia está no art. 53 do Código Civil (2002), que define as cons- tituição das associações: “pela união de pessoas que se organizem para fins não econômicos”; e das fundações, no art. 62, que além de não ter finalidades lucra- tivas, o seu instituidor/fundador deve fazer por meio de uma escritura pública ou procuração “uma dotação de bens livres, especificando o fim a que se des- tina”, e esta finalidade não poderá ser alterada nunca. O TERCEIRO SETOR Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E36 Já as sociedades com seu formato pautado nas finalidades, podem ser civis, conjugais, empresariais, cooperativas, religiosas, pias, morais, comerciais, mer- cantis, científicas ou literárias, e devem ser padronizadas de acordo com as regras específicas às suas finalidades originárias. O fato de termos no rol das “socie- dades” algumas organizações que não detém finalidade lucrativa, promove um certo conflito de informações. De acordo com a ordem sociopolítica, até bem pouco tempo, haviam dois seto- res – o primeiro (público) e o segundo (privado) –, e no segundo setor estão todas as instituições, independente de terem ou não finalidades lucrativas e/ou de seus objetivos. As instituições sem fins lucrativos, de acordo com o Código Civil, são pes- soas jurídicas de direito privado, bem como as que possuem finalidades lucrativas. Então, resumindo, as organizações sem fins lucrativos e as empresas de caráter lucrativo são ambas oriundas do Segundo Setor. No entanto, para que houvesse uma distinção no que se refere às suas causas e à sua forma organizativa, por desenvolverem no âmbito privado, atividades que seriam de interesse público, passaram a ser conhecidas como Terceiro Setor, conforme veremos a seguir. CONHECENDO O TERCEIRO SETOR Conforme estudamos até aqui, as organizações que se enquadram no Terceiro Setor, pessoas jurídicas de direito privado, sem fins lucrativos, são as associações, funda- ções, institutos e as organizações religiosas. No entanto, precisamos deixar claro, que existem outras formas associativas que compõem as organizações sem fins lucra- tivos. E, historicamente, as organizações sem fins lucrativos receberam por muito tempo, como já vimos, o nome de organizações não governamentais, as ONGs. Quala diferença entre as pessoas jurídicas de direito privado? Todas distri- buem lucros? Fonte: A autora. Formas Organizativasda Ordem Sociopolítica Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 37 Para Paes (2009), o Terceiro Setor nasce do dualismo entre Estado, socie- dade e mercado (este último, como iniciativa particular), a : [...] ideia é que nele se situem organizações privadas com adjetivos po- líticos, ocupando pelo menos em tese uma posição intermediária que lhes permita prestar serviços de interesse social sem as limitações do Estado, nem sempre evitáveis, e as ambições do Mercado, muitas vezes inaceitáveis (PAES, 2009, p. 3). São instituições que prestam serviços de interesse social, mas sem as ambições mercadológicas e lucrativas, e sem os limites burocráticos e legais do Estado. Ou seja, o Terceiro Setor está situado no Código Civil como organização privada se diferenciando do Estado legalmente, e tem na sua estrutura o fato de não ter fins lucrativos, se distanciando dos interesses diretos do mercado, “[...] trata-se de um setor intermediário entre o Estado e o mercado, entre o setor público e o privado, que compartilha de alguns traços de cada um deles” (MOREIRA, 1997, p.33). Sobre a organização da sociedade em setores, Costa (2003) pontua que: [...] o ponto de vista de que a sociedade pode ser organizada a partir de três setores está se consolidando. Mais do que simplesmente a adoção de um novo conceito, isso denota uma nova mentalidade, apoiada no reconhecimento da importância das iniciativas que surgem espontane- amente no seio da sociedade civil e de que o “modelo dualista” não é suficiente para oferecer respostas plenas aos dilemas sociais da atuali- dade. (SILVA, 2001, p. 20) O Estado não dando conta e o mercado não tendo interesse em atender à tota- lidade das demandas sociais abrem espaço para que as organizações sem fins lucrativos, de forma articulada com os dois setores, se organizem e atuem na solução das necessidades. A sociedade se caracteriza cada vez mais pela existência de fenômenos associativos que são alheios à lógica do mercado e à lógica do Estado, porque caem fora da esfera mercantil e da esfera política, na medida em que não se regem nem pelo benefício nem pela autoridade. Esse con- junto de iniciativas constitui essa realidade que nem é administrada, nem é mercantil. Se no setor estatal domina a coesão e no econômico o lucro, no ‘Terceiro Setor’ domina o ‘voluntarismo’. (MEISTER apud WUTHNOW, 2003, p. 21-22) Os movimentos associativos que agregavam as pessoas e possuíam como obje- tivo o bem comum da sociedade – ou de uma parcela dela – não atuam sob o lógica lucrativa do mercado, ou a rigidez do Estado, mas em conjunto com ambos O TERCEIRO SETOR Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E38 recebendo recursos financeiros e trabalho voluntário. Deste modo, concluímos que o Terceiro Setor é formado por instituições (associações ou fundações privadas) não governamentais que expressam a vontade da sociedade civil organizada em solucionar os problemas sociais e conta com a participação de voluntários para promover atendimentos de interesse público em diferentes áreas e segmentos. Embora os três setores pareçam estar separados, eles atuam de forma com- plementar, totalmente interligados e interdependentes. Eles compõem a realidade dialética em constante processo, em transformações gradativas. Caro(a) aluno(a), neste estudo identificamos cada um dos três setores, com suas tarefas e compromissos “com e na” sociedade. Iremos prosseguir com nossa jornada pelo conhecimento a partir daqui, olhando com mais atenção para o Terceiro Setor e as regras que o delimitam, e como ele se fortaleceu enquanto instituição de atendimento de demandas sociais. Parabéns, concluímos a pri- meira etapa de nossa travessia, nos vemos adiante, bons estudos! CONSIDERAÇÕES FINAIS Caro(a) aluno(a), encerramos aqui a primeira fase do nosso trabalho de conhecer as origens do Terceiro Setor no mundo. Mesmo que o termo ainda não estivesse claro, as ações ao longo do tempo sempre foram a de minimizar as mazelas sociais, embora atualmente tenhamos organizações em defesa de direitos ambientais. Contudo, nos períodos que tivemos a oportunidade de observar, as finalidades estavam pautadas em alguma ação de cunho social. Conhecemos algumas das características e definições do Terceiro Setor, mas para isto fizemos uma breve visita ao Primeiro e Segundo Setores, para compre- ender o posicionamento de cada um deles na sociedade e o papel desempenhado por cada um. Os diversos autores que nos fizeram companhia contribuíram para enriquecer nosso conhecimento ao longo do trajeto, cada um com suas defi- nições, mas nos dando subsídios para compreender que trata-se de um setor Considerações Finais Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 39 ligado principalmente à sociedade, às pessoas e ao voluntariado, que participa das atividades de responsabilidade do Estado, executando-as, mas não o exime de suas responsabilidades. Os paralelos efetuados com os períodos históricos do nosso país nos servi- ram para que pudéssemos perceber o quanto o contexto de cada época define a postura do Estado e da sociedade naquele tempo. Nos aproximamos dos con- ceitos que permeiam as organizações de caráter social no mundo e no Brasil, e percebemos o percurso desde a caridade, a benesse, a política populista, até che- gar na luta e efetivação de direitos civis e sociais no Brasil. Ao longo do tempo houve transformações e muitas ainda estão acontecendo. Conversamos sobre a organização sociopolítica, com base no Código Civil Brasileiro (2002), que dá nome ao setor e à sua formação jurídica, as pessoas jurídicas de direito público e de direito privado, este último, onde se situam as organizações que compõem o chamado Terceiro Setor. Caro(a) aluno(a), nesta unidade, adquirimos bastante conhecimento, mas aprofundaremos ainda mais ao longo de nosso livro. Ainda há muito que acres- centar, sem que o assunto se esgote. 40 1. A respeito do Terceiro Setor, ainda não temos conceitos pré-definidos, mas uma discussão sobre sua composição e formas de atuação. Em nosso estudo conhecemos algumas definições utilizadas para o setor, entre o final da década de 1990 e o início dos anos 2000. Estas definições afirmam que: I. O Terceiro Setor é composto de organizações sem fins lucrativos, criadas pelo Estado. II. Entende-se por Terceiro Setor, a sociedade civil que organizada, busca solu- ções próprias para suas necessidades e seus problemas III. Entende-se por Terceiro Setor a sociedade civil organizada que atua fora da lógica do Estado e do mercado. IV. Trata-se de uma imponente rede de organizações de caráter privado e autô- nomo, que não visam à distribuição de lucro. Assinale a alternativa correta: a) Apenas I e II estão corretas. b) Apenas II e III estão corretas. c) Apenas I está correta. d) Apenas II, III e IV estão corretas. e) Nenhuma das alternativas está correta. 2. Sobre o Terceiro Setor, embora não haja ainda um conceito único e formal a respeito, existem características que de certo modo definem sua organização. Assim, assinale Verdadeiro (V) ou Falso (F) nas características do Terceiro Setor: ( ) Poder firmar convênios ou parcerias com o poder público, apesar de manter sua autonomia financeira e administrativa. ( ) Se organizam a partir da participação direta do Estado . ( ) São de caráter privado, sem fins lucrativos. Assinale a alternativa correta: a) V; V; F. b) F; F; V. c) V; F; V. d) F; F; F. e) V; V; V. 41 3. O Brasil atravessou por períodos históricos que nos fornecem subsídios para uma análise social da postura da sociedade frente às demandas sociaisem cada época. Assinale a alternativa CORRETA a respeito da relação do Es- tado no atendimento a tais demandas durante o século XX e respectivos paradigmas. a) No Estado Populista, as demandas sociais eram atendidas pela caridade cristã. b) No Estado Oligárquico, as demandas sociais eram atendidas pela caridade estatal. c) No Estado Autoritário, as demandas sociais eram atendidas com base na ca- ridade estatal. d) No Estado democrático, o atendimento de demandas sociais se dá por meio do exercício da cidadania. e) No Estado da República Velha, as demandas não eram atendidas nem pelo estado nem pela igreja. 4. Um grupo de pessoas se alia visando objetivos comuns. Tais objetivos definem sua estrutura jurídica, se terão fins lucrativos, ou se serão sem fins lucrativos. Porém, para que se organize formalmente precisa realizar seu cadastro de pes- soas jurídica. Com base no enunciado, a pessoa jurídica se divide em: a) De direito público ou direito privado. b) Associação ou uma fundação. c) Organização ou uma empresa. d) De direito público interno e externo. e) De direito privado com fins lucrativos. 5. O segundo setor faz parte da composição sociopolítica das organizações jurí- dicas, que possui em sua estrutura informal, o Primeiro, o Segundo e o Terceiro Setor. A respeito do Segundo Setor, qual documento assegura a prova de que a organização tanto com fins lucrativos quanto sem fins lucrativos co- meçou a existir? a) Estatuto e/ou CNPJ. b) Contrato social e/ou estatuto. c) O código civil brasileiro. d) O registro no conselho. e) A registro municipal. 42 Quando o Estado fracassa Por que ocorreu agora esse florescimento de atividade no Terceiro Setor? Quatro cri- ses e duas mudanças revolucionárias convergiram, tanto para limitar o poder do Estado quanto para abrir o caminho para esse aumento na ação voluntária organizada. O primeiro desses impulsos é a percebida crise do moderno welfare state. Ao longo da última década, o sistema de proteção governamental aos idosos e aos economicamente desafortunados, que se havia moldado nos anos 50 no Ocidente desenvolvido, deixa de funcionar. [...] Mais do que simplesmente proteger os cidadãos dos riscos, o welfare state estava, na opinião de vários políticos e analistas, reprimindo a iniciativa, absolvendo as pessoas da responsabilidade individual e estimulando a dependência da população em relação ao Estado. Acompanhando a crise do welfare state está a crise de desenvolvimento. Os choques do petróleo dos anos 70 e a recessão do início da década de 80 mudaram, radicalmente, as perspectivas para os países em desenvolvimento. Na África sub-Saara, na Ásia Oci- dental e em partes da América Latina, rendas médias per capita começaram a cair. [...] Apesar do progresso em alguns lugares [...], os problemas de desenvolvimento torna- ram-se tão dramáticos que uma em cada cinco pessoas no mundo vive em condições de pobreza absoluta. [...] Uma crise ambiental global também estimulou muitas iniciativas privadas, preo- cupadas com as consequências da pobreza contínua e crescente dos países em desen- volvimento, levando-os a destruir o meio ambiente e os recursos naturais para resolver a sobrevivência imediata. [...] Em algumas áreas, como na Europa Central e na Europa Oriental, chuva ácida e poluição do ar e da água ameaçavam suprimentos alimentares, reduzindo significativamente a expectativa de vida. À medida que esses e outros aspectos da crise ambiental se fizeram aparentes, cidadãos tornaram-se crescentemente frustrados com o governo e ávidos por organizar suas pró- prias iniciativas. Finalmente uma quarta crise – a do socialismo – também contribuiu para o crescimento do Terceiro Setor. Embora a promessa do socialismo estivesse sob suspeita há muito tem- po, a substituição do crescimento econômico retardatário por recessão na década de 70 ajudou a destruir a legitimidade de que o sistema comunista ainda detinha. Esse fracasso conduziu à busca de novas formas de satisfazer necessidades sociais e econômicas, o que estimulou a criação de empreendimentos cooperativos orientados para o mercado e de um conjunto de organizações não governamentais que oferecem serviços e veículos para a expressão individual, desvinculados de um Estado crescentemente desacreditado. 43 Além dessas quatro crises, dois movimentos de mudanças estruturais também expli- cam o recente crescimento das organizações do Terceiro Setor. O primeiro é a dramática revolução nas comunicações ocorrida durante os anos 70 e 80. A invenção e ampla disseminação de computador, cabo de fibra óptica, fax, televisores e satélites abriram, mesmo às regiões mais remotas do mundo, as conexões de comunicação necessárias à organização de massa e à ação coordenada. Além disso, esse desenvolvimento foi acompanhado por significativo incremento das taxas de alfabetização e educação. No mundo em desenvolvimento, as taxas de alfabetização de adultos, aumentaram de 43% para 60%, entre 1960 a 1985; considerando-se apenas a população masculina, o crescimento foi de 71%. A expansão combinada de alfabetização e comunicação tornou mais fácil às pessoas organizarem-se e mobilizarem-se. Comunicações entre capitais e regiões remotas, que antes levavam dias, agora levam apenas alguns minutos. Regimes autoritários, que con- trolavam suas redes de comunicação com sucesso, tornaram-se incapazes de impedir o fluxo de informação por meio de antenas parabólicas e fax. Militantes isolados podem mais facilmente fortalecer sua convicção, trocar experiências e manter conexões com colegas simpatizantes em seus próprios países e no exterior. O último fator crítico para o crescimento do Terceiro Setor foi o crescimento econômico considerável ocorrido durante os anos de 60 e início da década de 70, além da conse- quente mudança social acionada por ele. Durante esse período, a economia mundial cresceu à taxa de 5% a ano, com todas as regiões compartilhando essa expansão. De fato, a taxa de crescimento da Europa Oriental, da União Soviética e dos países em de- senvolvimento superou aquelas das economias industriais de mercado. Esse crescimen- to não somente permitiu a melhoria material e engendrou várias novas expectativas po- pulares, mas também ajudou a criar, na América Latina, na Ásia e na África, considerável classe média urbana cuja liderança foi essencial para a emergência de organizações privadas sem fins lucrativos. Portanto, se a crise econômica, em última instância, levou a classe média à ação, o crescimento econômico prévio criou a classe média que se or- ganizaria para reagir. MATERIAL COMPLEMENTAR Terceiro Setor: História e Gestão de Organizações Antonio Carlos Carneiro de Albuquerque Editora: Summus Editorial Sinopse: A obra faz uma análise histórica e conceitual do Terceiro Setor no Brasil e na América Latina, explicitando conceitos importantes para quem quer conhecer mais profundamente o tema: a história dos movimentos sociais e das ONGs; os desa� os enfrentados por essas instituições; as pesquisas mais recentes na área; o planejamento, a gestão de recursos humanos e o marketing social; os aspectos legais e tributários e a captação de recursos, entre outros. O artigo “Terceiro Setor brasileiro: em busca de um quadro de referência” de Carlos Eduardo Guerra Silva (2010) faz uma discussão muito interessante para compararmos os pontos de vista a respeito do tema. Aproveite! Web: <http://www.anpad.org.br/admin/pdf/apb468.pdf> REFERÊNCIAS 45 ALBUQUERQUE, C. D. Curso de Direito Internacional Público. 12. ed. rev. e ampl. São Paulo: Renovar, 2000. ANDION, Carolina. Gestão em organizações da economia solidária: contornos de uma problemática. Revista de Administração Pública, Rio de Janeiro, n. 32. p.7- 25. jan./fev. 1998. Disponível em: <http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/rap/ article/viewFile/7680/6246>. Acesso em: 16 out. 2017. ARAGÃO, P. S. Gestão da política municipal de assistência social em Londrina (2001 a 2007): avanços
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