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A amazônia e a integridade do Brasil (livraria - Senado Federal)

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Figura Ajoelhada – Óleo sobre tela de Milton da Costa – Acervo do Banco Central.
Reprodução fotográfica de Sandra Bethlem
Sem título-1 13/05/2002, 10:361
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
A AMAZÔNIA E A 
INTEGRIDADE
DO BRASIL
Mesa Di re to ra
Biê nio 2001/2002
Se na dor Ra mez Te bet
Pre si den te
Se na dor Edi son Lo bão
1º Vice-Pre si den te
Se na dor Antônio Car los Va la dares
2º Vice-Pre si den te
Se na dor Car los Wil son
1º Se cre tá rio
Se na dor Ante ro Paes de Bar ros
2º Se cre tá rio
Se na dor Ro nal do Cu nha Lima
3º Se cre tá rio
Se na dor Mo za ril do Ca val can ti
4º Se cre tá rio
Su plen tes de Se cre tá rio
Se na dor Alber to Sil va Se na do ra Ma ria do Car mo Alves
Se na do ra Mar lu ce Pin to Se na dor Nilo Te i xe i ra Cam pos
Con se lho Edi to ri al
Se na dor Lú cio Alcân ta ra
Pre si den te
Jo a quim Cam pe lo Mar ques
Vi ce-Presidente
Con se lhe i ros
Car los Hen ri que Car dim Carl yle Cou ti nho Ma dru ga
Ra i mun do Pon tes Cu nha Neto
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Co le ção Bra sil 500 Anos
A AMAZÔNIA E A
INTEGRIDADE
DO BRASIL
Arthur Cé zar Fer re i ra Reis
Bra sí lia – 2001
BRASIL 500 ANOS
O Con se lho Edi to ri al do Se na do Fe de ral, cri a do pela Mesa Di re to ra em 31 de ja ne i ro de 1997,
bus ca rá edi tar, sem pre, obras de va lor his tó ri co e cul tu ral e de im por tân cia re le van te para a com -
pre en são da his tó ria po lí ti ca, eco nô mi ca e so ci al do Bra sil, e re fle xão so bre os des ti nos do País.
COLEÇÃO BRASIL 500 ANOS
De Pro fe cia e Inqui si ção (2ª edi ção), do Pa dre Antô nio Vi e i ra
O Bra sil no Pen sa men to Bra si le i ro (Vo lu me I), or ga ni za ção de Dja cir Me ne ses
Ma nu al Bi bli o grá fi co de Estu dos Bra si le i ros, de Ru bens Bor ba de Mo ra is e Wil li am Ber ri en
Ca tá lo go de Expo si ção de His tó ria do Bra sil, or ga ni za ção de Ra miz Gal vão
Ga le ria dos Bra si le i ros Ilus tres, de S. A. Sis son (2 vo lu mes)
Rio Bran co e as Fron te i ras do Bra sil, de A. G. de Ara ú jo Jor ge
Um Pa ra í so Per di do (Ensa i os Ama zô ni cos), de Eu cli des da Cu nha
Efe mé ri des Bra si le i ras, do Ba rão do Rio Bran co
Ama pá: a ter ra onde o Bra sil co me ça (2ª edi ção), de José Sar ney e Pe dro Cos ta
Na Pla ní cie Ama zô ni ca, de Ra i mun do Mo ra is
Cas ti lhis mo – uma fi lo so fia da Re pú bli ca, de Ri car do Vé lez Ro drí guez
Por que cons truí Bra sí lia, de Jus ce li no Ku bits chek
Dom Hel der: o Arte são da Paz, or ga ni za ção de Ra i mun do Ca ra mu ru Bar ros
Pa re ce res dos Con sul to res Ju rí di cos do Ita ma raty, or ga ni za ção de Antô nio Pa u lo
 Ca cha puz de Me de i ros (9 vo lu mes)
O dis cur so au to ri tá rio de Ca i ru, de João Alfre do de Sou sa Mon te ne gro
O Rio de Ja ne i ro no Tem po dos Vice-Reis, de Luís Edmun do
For ma ção His tó ri ca do Acre, de Le an dro To can tins (2 vo lu mes)
Tex tos Po lí ti cos da His tó ria do Bra sil, or ga ni za ção de Pa u lo Bo na vi des e Ro ber to Ama ral (9 vo lu mes)
Pro je to grá fi co: Achil les Mi lan Neto
© Se na do Fe de ral, 2001
Con gres so Na ci o nal
Pra ça dos Três Po de res – CEP 70168-970 – Bra sí lia – DF
CEDIT@se na do.gov.br
http://www.se na do.gov.br/web/con se lho/con se lho.htros
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Reis, Arthur Cé zar Fer re i ra, 1906.
A Ama zô nia e a in te gri da de do Bra sil / Arthur Cé zar Fer re i ra. – Bra sí lia : Se na do
 Fe de ral, Con se lho Edi to ri al, 2001.
254 p. – (Co le ção Bra sil 500 Anos)
1. Ama zô nia. 2. Ama zô nia, his tória, Bra sil. 3. Acre, his tó ria, Bra sil. 4. Ama pá,
his tó ria Bra sil. 5. Su pe rin ten dên cia do Pla no de Va lo ri za ção Eco nô mi ca da
Ama zô nia (Bra sil) (SPEVEA), ori gens. 6. Insti tu to Na ci o nal de Pes qui sa da
Ama zô nia (Bra sil) (INPA), ori gens. I. Tí tu lo. II. Sé rie.
CDD 918.11
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Su má rio 
Apre sen ta ção
pág. 9
I – Ama zô nia: con ce i to, sua evo lu ção his tó ri ca
pág. 15
II – A Ama zô nia na con jun tu ra in ter na ci o nal
pág. 31
III – A Ama zô nia e as áre as de sér ti cas do Bra sil
pág. 65
IV – A Ama zô nia é um mun do por des co brir
pág. 75
V – A jor na da de Pe dro Te i xe i ra
pág. 97
VI – Os des cri ti vos da jor na da de Pe dro Te i xe i ra
pág. 101
VII – Ser ta nis tas e mis si o ná ri os na iden ti fi ca ção da Ama zô nia
pág. 105
VIII – O Tra ta do de 1700 e a in te gri da de ter ri to ri al
do Bra sil-Amazônico
pág. 109
IX – Uma ten ta ti va de se ces são na Ama zô nia
pág. 113
X – O des bra va men to do ser tão ama zô ni co
pág.117
XI – A con quis ta da Ama zô nia bra si le i ra
pág. 121
XII – Sil va Cou ti nho e a Ama zô nia
pág. 125
XIII – Go el di e a in te gri da de do Ama pá
pág. 129
XIV – Plá ci do de Cas tro e a ges ta he rói ca da in cor po ra ção do Acre
pág. 135
XV – Fun da men tos, his tó ria, es tru tu ra e fun ci o na men to da SPVEA
pág. 145
XVI – O Insti tu to Na ci o nal de Pes qui sas da Ama zô nia. Ori gem.
 Obje ti vos. Fun ci o na men to. Sua con tri bu i ção para o co nhe ci men to
 re a lís ti co da Amazônia
pág. 177
XVII – Aspec tos so ci a is da Va lo ri za ção Eco nô mi ca da Ama zô nia
pág. 201
XVIII – A va lo ri za ção da Ama zô nia e a co o pe ra ção da as sis tên cia téc ni ca
pág. 215
XIX – A in te gra ção da Ama zô nia à ci vi li za ção bra si le i ra
pág. 231
Índice Ono más ti co
pág. 249
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Apre sen ta ção
A prin cí pio, o es pa ço com pre en dia o li to ral, en tre o
que se ri am Be lém e La gu na. Fora fi xa do en tre por tu gue ses e es pa -
nhóis, na par ti lha do mun do, efe tu a da em Tor de si lhas. Ano de 1494.
A ocu pa ção pro ces sou-se va ga rosamen te. Co me çou pelo re co nhe ci men to
da ter ra cos te i ra, lan ça men to das pri me i ras fe i to ri as, que ser vi am para a
cons ta ta ção da so be ra nia e os con ta tos mer can tis, o es cam bo, en tre europe us 
e “pri mi ti vos” lo ca is. Pros se guiu de po is com o re gi me das ca pi ta ni as,
com o que ten tou o po der pú bli co inte res sar a ini ci a ti va pri va da na pos se 
ime di a ta, per ma nen te, e na ex plo ra ção do que se pu des se iden ti fi car no
solo e no sub so lo como atra ti vos à em pre sa eco nô mi ca.
A ex pe riên cia de go ver no ge ral veio em 1549, com a ci da de
for ta le za do Sal va dor, para sede da ad mi nis tra ção uni tá ria que em
Lisboa acre di ta vam ser o ca mi nho cer to a se guir para pre ser var o es pa ço
fí si co e a so be ra nia, já pos ta em pe ri go pela in cur são dos en tre lo pos fran -
ce ses. Fran cis co I não pu de ra ver o Testamen to de Adão para ace i tar a
tese de que o Novo Mun do, re al men te, de via ser uma re a li za ção ou uma
fa ça nha ibé ri ca.
A con cor rên cia pe ri go sa dos fran ce ses, dos in gle ses, de ho lan de -
ses, que de se ja vam par ti ci par da dis pu ta da ter ra, onde já se lan ça vam os 
fun da men tos de uma eco no mia tro pi cal, no uso da ter ra, que res pon dia
com vi gor às exi gên ci as da so ci e da de em for ma ção, todo esse con fli to de
in te res ses, a re fle ti rem co bi ça de sen fre a da, im pôs a exe cu ção de uma po lí -
ti ca. Essa po lí ti ca não po dia ser ape nas aque la da to ma da de pos se ou
de po li ci a men to dos ma res. Impu nha-se a fun da ção do Esta do, na de ci -
são de pos su ir efe ti va men te o es pa ço. No nor te, a fron te i ra se ria a ba cia
ama zô ni ca; no sul, a ba cia pla ti na. Os ob je ti vos eram am bi ci o sos. Tor -
de si lhas fora um ajus te ela bo ra do sem da dos exa tos, fru to da ima gi na ção 
dos que o ne go ci a ram e dos par cos ele men tos de que dis pu nham no mo -
men to da ne go ci a ção.
Ora po lí ti ca ofi ci al, ora fa ça nha do pró prio co lo no, no seu ím -
pe to cri a dor, na sua am bi ção de cres cer e mul ti pli car-se, es sas fron tei ras
al can ça ram-se. Em 1616, com o for tim do Pre sé pio, fun da ção de Fran -
cis co Cal de i ra de Cas te lo Bran co, e raiz da ci da de de Be lém, a de ci são,
no nor te, era uma re a li da de pal pá vel. Os epi só di os, de ocu pa ção do li to ral,
ha vi am co me ça do em 1586, com Mar tim Le i tão fun dan do a Fi li péia;
em 1597, Ma nu el Mas ca re nhas Ho mem, o for te dos Três Reis Ma gos;
em 1612, Mar tim So a res Mo re no, o for te de N. S. do Ampa ro; em
1615, Je rô ni mo de Albu quer que ocu pa va S. Luís, ex pul san do os fran ce ses.
No sul, a ope ra ção foi mais va ga ro sa. Par ti ria de S. Vi cen te
– em 1640, Ga bri el de Lara fun da va Pa ra na guá; em 1658, Ma nuel
Lou ren ço de Andra de, S. Fran cis co do Sul; em 1665, Fran cis co Dias
Ve lho, Des ter ro, hoje Flo ri a nó po lis; em 1676, Do min gos de Bri to Pe i -
xo to, La gu na; em 1680, Ma nuel Lobo al can çan do fi nal men te o Pra ta,
plan ta va a Co lô nia do Sa cra men to. Em 1737, era a vez do Rio Gran de,
onde João de Ma ga lhães e Cris tóvão Pe re i ra ha vi am re a li za do in cur sões
pi o ne i ras. Nes se ano, José da Sil va Pais es ta be le ceu o pre sí dio de Je sus
Ma ria José, raiz da ci da de do Rio Gran de.
10 Arthur Cé zar Fer re i ra Reis
Incor po ra da a vas ta cos ta, vol tou-se o co lo no para a área in -
ter na. A Ama zô nia, o cen tro-oes te e o cen tro-sul, pelo di plo ma de Tor -
de si lhas, per ten ci am à Espa nha. Mas essa na ção não se lan ça va ao uso
da con ces são. A hin ter lân dia sul-ame ri ca na, em sua gran de ex ten são,
era, as sim, um con vi te ao mais im pe tu o so. O ban de i ris mo pa u lis ta e o
ser ta nis mo nor des ti no e ama zô ni co, com efe i to, fo ram uma fa ta li da de,
con se qüen te, de cer to modo, a essa ino pe rân cia de Espa nha. Por que a
fron te i ra de Tor de si lhas, que lhe as se gu ra ra o do mí nio in te ri or, ia ser
ig no ra da, des lo ca da, em pur ra da, in ces san te men te até en cer rar-se o rush
com uma nova fron te i ra, fi xa da em novo ajus te, o di plo ma de Ma dri,
fir ma do a 13 de ja ne i ro de 1750.
Tan to o po der pú bli co como o im pul so do co lo no ti ve ram a sua 
res pon sa bi li da de nes se mo vi men to de ex pan são in ter na. Como na que le
do li to ral. Vi sa vam, ban de i ran tes e ser ta nis tas, nos seus pro pó si tos
pes so a is: a mão-de-obra do in dí ge na, ne ces sá ria à di na mi za ção da eco no -
mia agrí co la; a des co ber ta de mi né ri os, como se jam o ouro, a pra ta, os
di a man tes; o en con tro de áre as onde lan çar e cri ar o gado. Vi sa va o
po der pú bli co a in te ri o ri za ção do es pa ço sobre que exer cer o do mí nio. A 
em pre sa de di la ta ção ter ri to ri al, pro ces sa da em dois sé cu los, efe ti va ra-se,
por tan to, como ope ra ção de Esta do e como li vre ope ra ção de co lo nos ou -
sa dos, aque les ho mens que Sa int-Hi la i re, res trin gin do a clas si fi ca ção aos 
pa u lis tas, mas re al men te po den do ne les ins cre ver-se toda a gama hu ma na 
que se dis tin guia na que las de ci sões e re a li za ções, cha ma ria de “raça de
gi gan tes”.
Po lí ti ca de Esta do, que mu i tas ve zes va leu como le ga li za ção e
fa ça nha iso la da, pi o ne i ra, dos co lo nos, a ocu pa ção do es pa ço bra si le i ro
im por tou tam bém na ela bo ra ção de uma cons ciên cia de so be ra nia e de
na ci o na li da de. E como de cor rên cia, a de fe sa des se mes mo es pa ço, para a
conso li da ção do do mí nio po lí ti co, que se exer ceu atra vés de um vas to
sis te ma ad mi nis tra ti vo, que di vi diu a base fí si ca em uni da des ma i o res e 
A Ama zô nia e a Inte gri da de do Brasil 11
me no res, den tro de dois Esta dos, o do Bra sil e o do Ma ra nhão e
Grão-Pará, mais tar de do Grão-Pará e Ma ra nhão.
A em pre sa de di la ta ção da fron te i ra e o exer cí cio inin ter rup to
do do mí nio já re a li za do, as sim, como uma cons tan te, que re fle tia um
es ta do de es pí ri to, uma de ci são co le ti va, que se for ti fi cou pe los tem pos
adi an te e cons ti tui hoje não ape nas um pen sa men to e uma ação re gi o na is, 
mas, e ain da re cen te men te isso fi cou evi den ci a do, a pro pó si to de ma no -
bras sus pe i tas de or ga ni za ções es tran ge i ras, tam bém uma cons ciên cia, que 
reflete ape sar de de se qui lí bri os eco nô mi cos e cul tu ra is, a uni da de a vi go rar
em todo o país.
A Ama zô nia, em todo esse epi só dio ad mi rá vel, atra vés do
qual es cre ve mos as pá gi nas mais vi bran tes e mais su ges ti vas de nos sa his -
tó ria, por que a his tó ria da cri a ção do nos so cor po fí si co, tem uma par ti ci -
pação che ia de in te res se, par ti ci pa ção de que, nes te li vro, ten to fi xar al guns
ca pí tu los. E por eles, in di car aos nos sos pos sí ve is le i to res, em par ti cu lar a
mo ci da de das es co las de ní vel mé dio e uni ver si tá rio, todo o pro pó si to de
nossos an te pas sa dos para a in te gra ção da Ama zô nia ao pa tri mô nio
ter ri to ri al e cul tu ral do Bra sil. Acre di to que te nha con se guido pro por
as li nhas mes tras, de on tem e de hoje, do es for ço de Go ver no e povo.
É pre ci so re gis trar, no en tan to, que a in te gra ção da Ama zô -
nia não se efe ti va rá ape nas por um ato de co ra gem de ho mens e de au to -
ri da des, como ocor reu no pas sa do. Hoje, im põe-se a par ti ci pa ção de ór -
gãos de pes qui sa que a in ven ta ri em com ri gor ci en tí fi co, e a ela bo ra ção de 
pla nos, que con subs tan ci em a dis ci pli na da ocu pa ção do es pa ço, a uti li za -
ção das ri que zas do solo, sub so lo, flo res ta e água, as se gu rem con di ções de
ha bi ta bi li da de e de pro ce di men to para cri ar área, eco no mi ca men te sa dia
e prós pe ra, que au to ri ze a par ti ci pa ção hu ma na em ba ses de fi ni ti vas e
não sob o as pec to de mera aven tu ra. Os ar ti gos so bre a SPVEA, o
INPA, a con tri bu i ção es tran ge i ra têm, por tan to, nes te li vro, um lu gar
na tu ral, ao lado da que les so bre a in cor po ra ção do Acre e do Ama pá.
12 Arthur Cé zar Fer re i ra Reis
Vi sa mos, pa re ce cla ro, mos trar qual a nos sa con tri bu i ção à
uni da de bra si le i ra, uni da de que se con subs tan cia na plu ra li da de dos as -
pec tos fí si cos, na di ver si fi ca ção qua se imen su rá vel da pro du ção, mas se
con cre ti za nos an se i os es pi ri tu a is, nos vín cu los de san gue, nos sen ti men tos 
ob je ti van do sem pre a uma mais in ten sa e mais de ci si va so li da ri e da de de
ti pos, de clas ses, de or dem so ci al. Os êxi tos que al can ça mos so bre a pa i -
sa gem fí si ca já cons ti tu em uma evi den ci a ção mu i to po si ti va de que so mos, 
re al men te, uma Pá tria in di vi sí vel. E des sa Pá tria in di vi sí vel, a Ama zô -
nia, por que seus fi lhos as sim de se jam, é par te in te gran te.
Manaus, mar ço de 1966. 
ARTHUR CÉZAR FERREIRA REIS
A Ama zô nia e a Inte gri da de do Brasil 13
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
I – Amazônia: Conceito, Sua 
Evolução Histórica
Come ce mos por uma afir ma ção: – não há uma Ama zô nia.
Con se qüen te men te, não ha ve rá um con ce i to de Ama zô nia. E não será,
as sim, pos sí vel de fi nir a Ama zô nia como um todo ho mo gê neo, har mô -
ni co, glo bal.
Qu an do pen sa mos em Ama zô nia, logo ela se re fle te como o
tre cho do es pa ço fí si co bra si le i ro mar ca do pro fun da men te pe las águas
da gi gan tes ca ba cia ama zô ni ca e co ber to por uma flo res ta de alto por te,
de co lo ra ção ver de-forte, de con ti nu i da de e he te ro ge ne i da de im pres -
si o nan tes. Re gião de alta plu vi o si da de, cli ma quente e úmi do, eco no -
mia pre da tó ria, solo po bre, po pu la ção es cas sa, de ba i xo pa drão de vida,
es pe lha da à mar gem da ca lha cen tral do rio prin ci pal e seus tri bu tá ri os
ma i o res e me no res e vi ven do sob o pe ri go cons tan te de en de mi as que
se ri am uma ex pli ca ção para o pro ble ma quan ti ta ti vo de po pu la ção, po -
pu la ção, en fim, que, na ma i oria vin da do Nor des te, te ria ope ra do a sua
con quis ta numa aven tu ra che ia de bra vu ra.
Evi den te men te es ta mos fren te a uma ge ne ra li za ção. Por que
esse tre cho da base fí si ca do Bra sil não apre sen ta a uni da de cons tan te
da que las ca rac te rís ti cas por que a ima gi na mos. Nem toda a Ama zô nia é
só flo res ta, nem essa flo res ta é sem pre de ver de-forte, é per ma nen te
úmi da e fre qüen ta da pela plu vi o si da de mais in ten sa. Nem toda a Ama -
zô nia é fru to de eco no mia pre da tó ria so bre a flo res ta, nem, tam pou co, a 
sua po pu la ção está toda dis per sa, sem a cons tân cia das aglo me ra ções
mais ou me nos den sas. Tam bém a Ama zô nia não é ape nas uma par te
in te gran te do ter ri tó rio bra si le i ro, nem é o fru to ex clu si vo da ação dos
bra vos ser ta ne jos nor des ti nos que a ti ves sem ocu pa do, na fa ça nha que
Eu cli des imor ta li zou em pá gi nas ful gu ran tes de À mar gem da His tó ria e
Con tras tes e Con fron tos.
A Ama zô nia, no con ce i to clás si co, é aque la que con for ma mos 
em nos sa ima gi na ção, tra ba lha da pelo sen sa ci o na lis mo de vi a jan tes e de
uma li te ra tu ra exó ti ca, in fi el, no ci va, que a cri ou sem qual quer obe diên cia
ao real. Mas há ou tras Ama zô nias, in clu si ve uma mais nova, ela bo ra da no 
tex to le gal, cons tan te do di plo ma le gis la ti vo nº 1.806, de 6 de ja ne i ro de
1953. Exem pli fi que mos. As ilhas do ar qui pé la go do Ma ra jó, essa ilha em 
par ti cu lar, é zona de flo res ta e de cam po; é zona de umi da de e de seca,
seca tão vi o len ta como as que ma tam o gado do Nor des te e pro vo cam
os êxo dos po pu la ci o na is.
Nos ter ri tó ri os do Rio Bran co e Ama pá, a flo res ta não pre do -
mi na. No Rio Bran co, ao con trá rio, o que é po si ti vo, mar can te, ca rac te -
rís ti co é o cam po. Entre Ma na us e a mar gem es quer da do rio Bran co, a
flores ta que prin ci pia fron do sa, es pes sa, qua se im pe ne trá vel, per de al tu ra,
es pes su ra. A co lo ra ção ver de-forte es ma e ce, o ar do mi na dor en tra em
co lap so. No Ba i xo-Amazonas, a ter ra pla ni ciá ria so fre in ter rup ções com 
o apare ci men to de ele va ções, como tam bém na fron te i ra com a Ve ne -
zu e la e com a Gu i a na Ho lan de sa. Ago ra mes mo, com o ras ga mento da 
es tra da Be lém-Brasília, en con tra ram-se, aqui e ali, ele va ções que con tra -
ri am ou des men tem a tese de uma pla ní cie har mô ni ca. No to can te à
ba cia, é de re gis trar que os tri bu tá ri os do Ama zo nas não são de todo
na ve gá ve is – in ter rom pi dos por cor re de i ras ou di mi nu i ção da pro fun di -
da de do le i to – é o caso do To can tins, do Ta pa jós, do Ma de i ra, do Ne gro, 
do Bran co, do Ja pu rá, do Pu rus, do Jari, do Trom be tas, do Nha mun dá; é
o caso do Pu rus-Acre e do Ju ruá, no que é o Ter ri tó rio do Acre, onde as 
em bar ca ções flu vi a is, du ran te me ses do ano, não po dem sin grá-las. E no 
tocante ao pro ble ma de ha bi ta bi li da de? Espa ço tro pi cal, nele será pos sí vel 
a re a li za ção de uma em pre sa ci vi li za do ra em gran de estilo?
16 Arthur Cé zar Fer re i ra Reis
No de cor rer des ta pa les tra, te re mos opor tu ni da de de fi xar as
re ser vas aos de ma is ele men tos da ca rac te ri za ção clás si ca. E en tão, hão
de concor dar que uma de fi ni ção de Ama zô nia pa re ce mu i to di fí cil, tal vez
im pos sí vel de ob ter-se a ri gor. Por que, evi den te men te, não há ape nas
uma Ama zô nia, mas vá ri as.
Qu e re mos re fe rir, po rém, des de logo que o as sun to não é
novo. Em mo no gra fia que es cre veu por de ter mi na ção nos sa quan do à
fren te da SPVEA, e pos te ri or men te am pli a da para o INPA, ago ra por
soli ci ta ção que lhe fi ze mos, o pro fes sor Ei dor fe Mo re i ra ten tou res pon -
der à in da ga ção – como con ce i tu ar a Ama zô nia? Escre veu ele: “A Ama -
zô nia não é, con tu do, uma re gião fá cil de de fi nir ou de de li mi tar a co -
me çar pela plu ri va lên cia do sen ti do do ter mo que a no me ie, que tan to
pode sig ni fi car uma ba cia hi dro grá fi ca com uma pro vín cia bo tâ ni ca, um
con jun to po lí ti co, como um es pa ço eco nô mi co.”
E para me lhor es cla re cer o seu pen sa men to, exa mi nou o que
po de ría mos cha mar de con ce i tos hi dro grá fi co, fi to ge o grá fi co, zo o ge o -
grá fi co, po lí ti co e eco nô mi co, cada um ten do por eixo o as pec to pon de -
ran te a que bus cou o nome. Assim, sob o cri té rio hi dro grá fi co, a Ama -
zô nia te ria de ser a re gião inun da da pe las águas do rio Ama zo nas e sua
in fi ni ta rede de aflu en tes, su ba flu en tes, iga ra pés, pa ra nás, fu ros, la gos.
Fica ri am, des se modo, ex clu í dos os tre chos do Ama zo nas, onde um cer to 
nú me ro de cur sos d’água, que se lançam no Atlân ti co, ne nhu ma li ga ção
têm com os rios da ba cia ama zô ni ca.
Pelo cri té rio bo tâ ni co ou fi to ge o gráf co, os tre chos onde não
ocor res se a co ber tu ra flo res tal es ta vam fora do mun do ama zô ni co –
como se jam os cam pos do Rio Bran co, que pos si vel men te al can çam a
cos ta do Ama pá, numa con ti nu i da de só aqui e ali in ter rom pi da pela
presença das ilhas de flo res ta tro pi cal. No Ma ra jó, ain da para exem pli -
fi car, além da área de ve ge ta ção cor pu len ta, há um am plo es pa ço de
cam po, onde se faz o cri a tó rio, o ma i or cri a tó rio do ex tre mo nor te do
Bra sil.
O con ce i to zo o ge o grá fi co pos sui, de seu lado, uma sig ni fi ca ção 
ain da mais po bre. Por que, para con tá-lo se ria ne ces sá rio que cer tas es -
pé ci es da fa u na cons ti tu ís sem nú cleo pon de rá vel. Seja as das es pé ci es
que se es con dem na flo res ta, seja as que se en con tram nas águas dos rios.
A pre sença dos pe i xes e dos ani ma is de pe que no por te, que po de mos
A Ama zô nia e a Inte gri da de do Brasil 17
caçar para o negócio dos cou ros e pe les, não é ho mo gê nea quan to à sua
dis tri bu i ção. Nem to dos os rios são pis co sos, como nem nos pis co sos
existem es pé ci es igua is. As áre as do pe i xe-boi, do pi ra ru cu, das tar ta ru gas, 
das pes ca das, dos tam ba quis são dis tintas. Em al gu mas pro vín ci as da
Ama zô nia, cer tos pe i xes são co nhe ci dos das res pec ti vas po pu la ções por 
ou vir di zer e não pela sua uti li za ção. Ain da re cen te men te, um gru po de
bate do res do 27º Ba ta lhão de Ca ça do res, se di a do em Ma na us, pre ten deu
pro ce der ao re co nhe ci men to da zona en tre Manaca pu ru e Ma na us para
efe i to de ope ra ção ex pe ri men tal de guer ra na sel va. O INPA pro por ci o -
nou um bo tâ ni co para acom pa nhar o gru po. A vi a gem, por ter ra, fez-se
em mais de uma se ma na. Ne nhum es pé ci men de fa u na foi en con tra do.
Ne nhu ma cri a tu ra hu ma na. Como ne nhu ma fru ta e ne nhum veio de
água.
Se for mos ao cri té rio po lí ti co, te mos de en fren tar o pro ble ma 
das so be ra ni as – por que o que cha ma mos de Ama zô nia não per ten ce
unica men te ao pa tri mô nio do Bra sil. É tam bém par te in te gran te da Bo -
lí via, do Peru, do Equa dor, da Co lôm bia e da Ve ne zu e la. Se nos fi xar -
mos ape nas no que per ten ce ao Bra sil, te mos de aten tar para o caso par -
ti cu lar da di vi são ad mi nis tra ti va do país. Que Esta dos com pre en de rão a
Ama zô nia bra si le i ra? Esses Esta dos se rão in te gral men te ama zô ni cos ou
ape nas par ci al men te? A Lei nº 1.806, de ja ne i ro de 1953, dis ci pli nan do o 
dis po si ti vo cons ti tu ci o nal re fe ren te à va lo ri za ção re gi o nal, de ter mi na
que a Ama zô nia será, para os efe i tos da exe cu ção do di plo ma, “a re gião
com pre en di da pe los Esta dos do Pará e Ama zo nas, pe los ter ri tó ri os fe -
de ra is do Acre, Ama pá, Gu a po ré e Rio Bran co, e ain da, a par te do
Esta do de Mato Gros so ao nor te do pa ralelo de 16º, a do Esta do de
Goiás ao nor te do pa ra le lo de 13º e a do Ma ra nhão ao nor te do me ri -
di a no de 44º”.
Como ve mos, o cri tério po lí ti co-legislativo está ris ca do com
uma au to no mia ver da de i ra men te sur pre en den te.
Em face do que aqui ex pu se mos, a que con clu são che gar?
Qual o cri té rio pre fe rí vel? Como con ce i tu ar a Ama zô nia? Há, re al men te 
uma só Ama zô nia?
II – A Ama zô nia co me ça, nas pá gi nas da His tó ria, como
cam po de con fli to en tre os po vos eu ro pe us que na empre sa dos des co -
bri mentos ge o grá fi cos e for ma ção de im pé ri os co lo ni a is, ten ta ram
18 Arthur Cé zar Fer re i ra Reis
pos suí-la para ex plo rá-la na far tu ra de suas es pé ci es flo res ta is. Assim,
espanhóis, in gle ses, ho lan de ses, fran ce ses e por fim por tu gue ses, ter çan do 
ar mas, dis pu ta ram-na numa te i mo sa de mons tra ção de co bi ça ili mi ta da.
Os es pa nhóis, é cer to, ti ve ram as hon ras da re ve la ção.
Ne nhu ma ou tra re gião das Amé ri cas foi, como a Ama zô nia,
re ve la da de uma só vez, numa fa ça nha que a pro pôs na ma i or ex ten são
da ba cia hi dro grá fi ca que as dis tin gue. Fran cis co de Ore la na, vin do do
Pa cí fi co, en tre 1539 e 1541, e Pe dro de Ursúa e Lopo de Aguir re, en tre
1559 e 1561, des ce ram o rio atin gin do o Atlân ti co, num con ta to de mo -
ra do, audaci o so e de cer to modo pe ne tran te com a re gião, a cu jos as -
pec tos mais vi sí ve is pu de ram aten tar para iden ti fi ca ção ime di a tis ta que
lhes permi tiu, e ao cro nis ta da pri me i ra vi a gem, pa dre Gas par do Car -
va jal, re la to vivo, ca paz de pro vo car, como pro vo cou, o in te res se eu ro -
peu. To das as ou tras re giões do Novo Mun do fo ram sen do iden ti fi ca das 
trecho a tre cho. Ape nas na Ama zô nia, essa iden ti fi ca ção se fez, no sen -
ti do este-oeste, numa ex ten são tão am pla que au to ri zou uma vi são glo bal, 
raiz, cer ta men te, de quan ta afir ma ção sen sa ci o na lis ta foi sen do es cri ta,
dis tan te da re a li da de que só mais tar de foi apu ra da.
Os es pa nhóis não se de ti ve ram, po rém, na em pre sa de ocu pa ção 
da Ama zô nia. Os Andes, o de ses tí mu lo de cor ren te da não-identificação de
ri que zas do tipo da que las que se en con tra vam no Mé xi co e no Peru cons ti -
tu íam ra zões de peso a ex pli car essa au sên cia.
Os fran ce ses, a esse tem po, fre qüen ta vam as ime di a ções do
del ta. Fá cil lhes foi, por isso, pe ne trá-lo, apro fun dan do o co nhe ci men to. 
Su bin do o To can tins, as se gu ram-se um co nhe ci men to mais ex ten so, que 
lhes ha ve ria de as se gu rar, em fu tu ro pró xi mo, a am pli a ção da que la base
fí si ca, que es ta ri am cri an do com a pos se do Ma ra nhão.
Os acon te ci men tos de São Luís não per mi ti ram a exe cu ção
do pro gra ma im pe ri al.
Os in gle ses e os ho lan de ses, or ga ni za dos em pe que nas com -
pa nhi as de co mér cio, com sede em Lon dres e em Fle is sin gué, ti ve ram
mais êxi to al can çan do a cos ta do Ma ca pá e, vi a jan do pela zona dos es -
tre i tos até cer ca ni as do Ta pa jós, man ti ve ram fe i to ri as e po si ções for ti fi -
ca das. Em co mér cio ati vo com os gru pos Tu pi nam bá, as su mi ram o
con tro le da re gião. Plan ta ram ta ba co e cana. Fa bri ca ram açú car. Expor -
A Ama zô nia e a Inte gri da de do Brasil 19
ta ram pe i xes sal ga dos, uru cu e ou tras es pé ci es ve ge ta is, já em con su mo
na Eu ro pa.
Em 1616, to da via, che ga ram os por tu gue ses, que en cer ra ram
a fa ça nha da con quis ta do li to ral Nor te e da cha ma da cos ta les te-oeste.
Ingle ses e ho lan de ses, dis pos tos a fi car, re a gi ram. Até 1647, os cho ques
mi li ta res en tre os que dis pu ta vam a Ama zô nia ocor re ram com ma i or ou 
menor im pe tu o si da de. Ven ce ram os lu so-brasileiros. Dos es ta be le ci -
men tos armados res tou ape nas o re du to de Gu a ru pá, que foi for ti fi ca do
e du ran te al gum tem po ser viu de ca be ça-de-ponte para a ex pan são pe las
águas aci ma do Ama zo nas. O nú cleo mi li tar do Pre sé pio, como mais
tar de o de São José do Rio Ne gro, aque le ori gem da ci da de de Be lém e
este de Ma na us, as se gu ran do o do mí nio de Por tu gal na boca da ba cia e
no al to-sertão, per mi ti ram a pe ne tra ção con ti nu a da, in ces san te e ve loz,
que ser ta nis tas, mis si o ná ri os e tro pas de guer ra re a li za ram. Alcan çou-se
o Oi a po que; li gou-se, pelo To can tins, pelo Ta pa jós e pelo Ma de i ra, a
Ama zô nia ao Bra sil Cen tral. Alcan çou-se o alto rio Ne gro, pas san do-se
ao Ore no co pelo Ca ci qui a ri, des co bri men to dos mes ti ços que ope ra vam 
o des lo ca men to da fron te i ra e a co le ta de es pe ci a ria re gi o nal. Su bin do o
Ama zo nas, en tão de no mi na do de “es tra da real”, Pe dro Te i xe i ra al can -
çou Qu i to, no Equa dor, e a re gião fi xou a fron te i ra en tre o Napo e o
Agua ri co.
Em me nos de oi ten ta anos, a Ama zô nia por tu gue sa pos su ía a
imen sa ba cia fí si ca que só em fins do sé cu lo XIX se ria al te ra da com o
Acre.
Toda essa fa ça nha pro ces sa ra-se como um em pre en di men to
do Esta do, como con quis ta es pi ri tu al e aven tu ra eco nô mi ca. Esta, em
face da mul ti pli ci da de de es pé ci mens flo res ta is com que Por tu gal ima -
gi nou com pen sar-se da cri se que es ta va so fren do com a per da das pos -
ses sões no Ori en te. As “dro gas do ser tão”, de no minação que re ce be ram 
aque les es pé ci mens flo res ta is, pa re ce ram um su ce dâ neo à es pe ci a ria
asiá ti ca, de cujo mo no pó lio a ve lha po tên cia pe nin su lar não dis pu nha
mais. A pro cu ra das “dro gas”, iden ti fi ca das pelo in dí ge na lo cal, que
gui ou as embar ca ções, tra ba lhou nos ser vi ços do més ti cos e no do go -
ver no, per ten ceu às for ças ar ma das, em bar ca das ou de ter ra, pro vo cou
uma cor ri da ao in te ri or.
20 Arthur Cé zar Fer re i ra Reis
A con quis ta es pi ri tu al, a car go de seis Ordens Re li gi o sas, a
Com pa nhia de Je sus, os car me li tas, os fran cis ca nos de San to Antô nio,
os mer ce dá ri os, os fra des da Pi e da de, os ca pu chos da Con ce i ção da
Be i ra e Mi nho, per mi tiu a par ti ci pa ção da mul ti dão pri mi ti va, co or de -
na da nos al de a men tos e em no vos sis te mas de vida sob ori en ta ção dos 
mis si o ná ri os.
O pro pó si to ofi ci al de do mí nio ex pres sou-se na or ga ni za ção
de um po der pú bli co rico em ins ti tu i ções, in clu si ve aque las mi li ta res –
uma vas ta rede de for ti fi ca ções e uma flo ti lha que po li ci ou os rios in te ri o -
res, a cos ta, e ser viu à fa ça nha de con quis ta, ne ces sária e útil, da Gu i a na
Fran cesa, em 1808. Mais – na sé rie de pro vi dên ci as de cre ta das de Lis boa,
vi san do à ma nu ten ção do mun do ama zô ni co sob so be rania por tu gue sa,
seja pela ação mi li tar, seja pela ocu pa ção per ma nen te atra vés de nú cle os
ur ba nos, sí ti os de la vou ra, fa zen das de cri ar, imi gra ção dis ci pli na da,
cons tru ção de uma ci da de como Be lém, onde se le van ta ram edi fí ci os
pú blicos e tem plos de alto por te ar qui te tô ni co que per mi ti ram, in clu si ve,
a no tí cia de que a Cor te pre ten dia trans la dar-se para a cida de-capital, em
mo men to de con fli to com a Espa nha.
III – As di fi cul da des de co mu ni ca ção com o go ver no se di a do 
na Ba hia, as con di ções es pe ci a lís si mas que a des li ga ram do qua dro fi si o -
grá fi co das de ma is par tes do Bra sil nas cen te, a con ve niên cia de cri ar
uma área de fi xa ção no pro je to de am pli a ção da base ter ri to ri al bra si le i ra,
le va ram à pro vi dên cia de con ce der à re gião uma auto no mia po lí ti ca, que
só no pe río do jo a ni no foi en cer ra da. Cri ou-se, en tão, no ano de 1621, o
Esta do do Ma ra nhão e Grão-Pará, com ca pi tal não em Be lém, mas em
São Luís. Esse es ta do vi ve ria pela po lí ti ca que se de cre ta ria de Lis boa,
sem su bor di na ção de qual quer es pé cie ao Esta do do Bra sil. Cres ceu,
as sim, o ex tre mo nor te, cres ceu em ex ten são ter ri to ri al, em po pu la ção,
em cam pode ati vi da de eco nô mi ca, como uma par te sin gu lar men te des -
tacada do Bra sil. O go ver no pró prio que pos su iu teve ca rá ter ci vil e ca -
rá ter mi li tar, es sen ci a is à em pre sa de sua con so li da ção, e mes mo no
par ti cu lar de vida es pi ri tu al pos su ía au to no mia – bis pa do do Ma ra nhão,
bis pa do do Pará, or dens re li gi o sas, in clu si ve a Com pa nhia de Je sus, que
ca mi nha vam e re a li za vam-se in de pen den te men te, isto é, tam bém sem
su bordi na ção às au to ri da des ecle siás ti cas do Esta do do Bra sil –; go ver no
ci vil e mili tar por que a re gião pos su ía uma fron te i ra am pla, a ma i or da
A Ama zô nia e a Inte gri da de do Brasil 21
co lô nia sul-americana, a fron te i ra que ia sen do ela bo ra da em me nos pre zo 
aos tí tu los que a Espa nha susten ta va, so bre es pa ço que, re al men te, se vi -
gen te o Tra ta do de Tor de si lhas, es ta ria su je i to à so be ra nia da que la po -
tên cia. Não se ria pos sí vel, é cla ro, efe tu ar qual quer ope ra ção go ver na -
men tal sem ter pre sen te aque las con di ções. E dela re sul ta va não só a
con ve niên cia de man ter a ma i or aten ção em tor no aos pe ri gos que po -
de ri am sur gir e eles sur gi ram, re al men te, mais de uma vez, como a ne -
ces sidade de ado tar essa po lí ti ca de se gu ran ça, que não era ape nas mi li tar
por que de ve ria re pou sar na pre pa ra ção de con di ções exis tenci a is per ma -
nen tes, se gu ras e ati vas.
As au to ri da des me tro po li ta nas, cons ci en tes do qua dro a que
era pre ciso aten der, não lhe fu gi ram à pro po si ção nem ig no ra ram as
so lu ções prag má ti cas. Fo ram, nes se par ti cu lar, pro fun da men te ob je ti vas.
Não se lhes pode acu sar de te rem pos to em exe cu ção pro gra mas e con -
fli tos com a re a li da de am bi en te. Cedo, aper ce ben do-se que o novo
meio po lí ti co exi gia me di das es pe ci a is, pra ti ca ram-nas com co ra gem,
com de ci são e ím pe to. Toda uma sé rie de atos fo ram sen do ba i xa dos de
Lis boa, de po is do exa me re fle ti do do Con se lho Ultra ma ri no e do pro -
nun ci a men to dos go ver na do res re gi o na is, que fa la vam a lin gua gem da
ex pe riên cia, al can ça da dia a dia no tra to da co i sa pú bli ca e da ter ra di fe -
ren te.
Esse cor po de leis, com pon do uma po lí ti ca de es ta do, que
não so freu al te ra ções pon de rá ve is, im por tou numa pri me i ra ten ta ti va de
em pos sa men to da re gião atra vés de ação co or de na da e não como aven -
tu ra de sor de na da. Sob o Con su la do do Mar quês de Pom bal, um vas to
pla ne ja men to foi or de na do. Cons ta das ins tru ções ba i xa das a Fran cis co
Xavier de Men don ça Fur ta do, que de ve ria pro mo ver os pri me i ros
gran des es for ços de va lo ri za ção, que in clu iu o po vo a men to com ca sa is
de ilhéus, como ocor reu no Rio Gran de, e a fun da ção de nú cle os ur ba -
nos, a in ten si fi ca ção da agri cul tu ra, a de fe sa da pro du ção flo res tal e
ani mal, a re or ga ni za ção do sis te ma de tra ba lho, a in ten si fi ca ção do co -
mér cio de ex por ta ção, a in te gra ção de uma nova so ci e da de com a par ti -
ci pa ção da mul ti dão in dí ge na cha ma da a par ti ci par da di re ção dos ne gó -
ci os lo ca is, nas câ ma ras mu ni ci pa is. Esse pla ne ja men to in ci pi en te, a que
não faltou a cons ciên cia de que era fun da men tal a exis tên cia dos re cur sos 
fi nan ce i ros in dis pen sá ve is, bus ca dos ao ca pi tal pri va do e ao ca pi tal do
22 Arthur Cé zar Fer re i ra Reis
Esta do, que se as so ci a ram na Com pa nhia de Co mér cio, não te ria sido, é 
evi den te, um pla ne ja men to nos mol des por que hoje a con ce be mos e é
em gran de par te fru to do pro gres so tec no ló gi co e da ne ces si da de de
apres sar so lu ções. Tal pla ne ja men to, se as sim con si de rar mos aque le
con jun to de pro vi dên ci as en glo ba das num tex to úni co e pos te ri or men te 
en ri que ci do pela de cre ta ção de me di das com ple men ta res, pode ser dis -
pos to no qua dro dos pla ne ja men tos in ci pi en tes do tipo da que le que
Col bert es tru tu ra va vi san do à Fran ça eu ro péia e à Fran ça ul tra ma ri na. E 
já em fins do sé cu lo XVIII, um go ver nan te da ma i or es ta tu ra, D. Fran -
cisco Ino cên cio de Sou sa Cou ti nho, ir mão do fu tu ro Con de de Li nha res,
am pli a va os pla nos, numa atu a ção ain da mais rea lis ta, en tre elas a de pro -
ce der à li ga ção per ma nen te da Ama zô nia com o Cen tro-Oeste e o Sul,
li ber tan do-a do im pe ra ti vo das co mu ni ca ções pela via ma rí ti ma. O To -
can tins, como ca mi nho ide al, foi es tu da do e, ao lon go de seu curso,
ini ci a da a ocu pa ção que ga ran tis se aque la co mu ni ca ção cons tan te sem
in ter rup ções. Vi sa va, por tan to, numa an te ci pa ção de con cep ção, à in te -
gra ção do Bra sil na uni da de de vín cu los eco nô mi cos que le va ri am aos
vín cu los po lí ti cos.
A Ama zô nia es ta va na com pre en são dos ho mens de Esta do
do ve lho Por tu gal, exi gia ca u te las, tra ta men to es pe ci al.
IV – Essa in te gra ção ia ser uma re a li za ção ob ti da mais so li da -
men te com a Inde pen dên cia. Os anos que se se gui ram ao ex pi rar da do -
minação por tu gue sa na Ama zô nia fo ram anos de agi ta ção, de in se gu -
ran ça, de guer ra ci vil. Como a pró pria con quis ta da Inde pen dên cia,
que não se pro ces sou como em mu i tas ou tras par tes do Impé rio nas -
cen te. Na Ama zô nia, os que de se ja vam a nova so be ra nia ti ve ram de agir
pe las ar mas. A prin cí pio nas jor na das li be ra is de im pren sa, na cons pi ra -
ção do més ti ca, que aos pou cos foi to man do toda a re gião, de i xan do de
li mi tar-se a Be lém, para de po is pas sar aos con ci liá bu los de quar tel, com
os pro nun ci a men tos de rua. Os lí de res da Inde pen dên cia, em li ga ção
com os cen tros da me tró po le bra si le i ra, exe cu ta ram um tra ba lho in ten so,
que re sul tou na ob ten ção da li ber da de.
A in cor po ra ção da Ama zô nia ao Impé rio, se no mo men to fi nal 
ocor reu pla ci da men te, dan do a im pres são de ar ran jo, de en ten di men to
amá vel, de ade são mes qui nha, pois que se fez sem mais um tiro, em
hora de ci si va, à sim ples pre sen ça, em águas do Gu a má, de um bar co de
A Ama zô nia e a Inte gri da de do Brasil 23
guer ra, o bri gue Ma ra nhão, ex pe di do pelo Almi ran te Coch ra ne, na re a li -
da de fora pos sí vel da que la ma ne i ra qua se su a ve, por que já se for ma ra ali 
uma cons ciên cia à vol ta de sua ne ces si da de e con ve niên cia. Toda e
qual quer re a ção se ria in fru tí fe ra. Os pro nun ci a men tos ar ma dos de 14
de abril e de 28 de maio de 1882 eram elo qüen tes como afir ma ção na ci o -
na lis ta cres cente.
As ho ras pos te ri o res iam mos trar, po rém, até que pon to a de -
mo ra da in cor po ra ção e o modo se re no por que ela se fi ze ra fora um
erro. É que os ele men tos li ga dos aos in te res ses de Por tu gal não aban do -
na ram as po si ções. E para de sa lo já-los, os par ti dá ri os da Inde pen dên cia
lan ça ram-se a atos de vi o lên cia que cul mi na ram com a re ti ra da de vá ri as
cen te nas de co mer ci an tes e pro pri e tá ri os, fun ci o ná ri os e mi li ta res por tu -
gueses que não qui se ram ou não pu de ram ace i tar a nova or dem de co i sas. 
Cor reu san gue. Mu ni cí pi os do in terior le van ta ram-se, exi gin do a en tre ga
do po der uni ca men te a fi lhos da Ama zô nia. Por todo o vale la vrou a in -
sur re i ção. O go ver no es ta be le ci do em Be lém não dis pôs de for ças para
con ter os âni mos. As ex pe di ções ar ma das que ex pe diu para es ma gar os
gru pos que se pro nun ci a vam, con tra ele e con tra o es pí ri to de pa ci fi ca -
ção que re pre sen ta va, fo ram ba ti das. Com a che ga da do pri me i ro pre si -
den te, no me a do pelo Impe ra dor, aqui e tou o am bi en te. E as ar mas fo ram
de pos tas. O pri me i ro pre si den te, con quan to fi lho de paispor tu gue ses, ele 
pró prio de cer to modo in cli na do a uma apro xi ma ção com as for ças eco -
nô mi cas que os por tu gue ses ain da re pre sen ta vam tão ex pres si va men te,
era na tu ral da re gião. Pa ra en se. Bas ta va, nes se mo men to, para sa tis fa -
zer os an se i os da mul ti dão agi ta di ça.
Era re al men te a pa ci fi ca ção de es pí ri tos? As duas fac ções em
luta, dis pu tan do o po der, ce de ri am nos seus ape ti tes? Ces sa ria de exis tir
o gru po que so nha va com uma res ta u ra ção por tu gue sa? Du ran te todo o 
pri me i ro re i na do, as lu tas se re gis tra ram mais ou me nos vi o len tas. Não
houve pos si bi li da de de paz. Nin guém ce dia. A in com pre en são era gran de, 
sem li mites.
O pe río do re gen ci al não foi me nos di fí cil e im pro du ti vo.
Épo ca he rói ca bra si le i ra, tal vez ne ces sá ria para es tru tu rar em ba ses mais 
só li das os sen ti men tos de na ci o na li da de e de uni da de pá tria, cus tou um
sem-número de vi das e va leu tre men da ex pe riên cia po lí ti ca.
24 Arthur Cé zar Fer re i ra Reis
Na Ama zô nia es cre veu-se, en tão, a sua pá gi na de mais ex ten sa
vi bra ção cí vi ca. As mul ti dões em ar mas, ple i te ando uma nova con di ção
de exis tên cia, mul ti dões sa í das das áre as mais po bres da so ci e da de, e por 
isso mes mo ten do por ban de i ra a re i vin di ca ção so ci o e co nô mi ca, que foi 
a mo ti va ção fun da men tal de sua ex plo são, lu ta ram com uma co ra gem e
uma vi o lên cia di fí ce is de ex pli car numa so ci e da de até en tão se re na, tran -
qüi la. Du ran te cin co anos, de 1835 a 1840, quan do para es ta be le cer a or -
dem e acal mar os es pí ri tos, ven cen do-lhe o de ses pe ro, o go ver no ce deu
pela anis tia que con ce deu, por toda a Ama zô nia os gru pos se cho ca ram. 
Era a Ca ba na gem. Os ca u di lhos da Inde pen dên cia fo ram subs ti tu í dos
por líderes po pu la res, como os ir mãos Vi na gre e Ange lim, um se rin -
gue i ro que vi nha ocu par os pos tos de Cle men te Mal cher e Ba tis ta
Campos. E sem um mo men to de con ces são, le ga is e re bel des lu ta ram,
pra ti can do mor ti cí ni os, pi lha gens. Be lém pa de ceu um co me ço de in cên -
dio ate a do, no dia em que as for ças da re vo lu ção, ten do de aban do ná-la,
ante o po de rio ofi ci al, ba te ram em re ti ra da para as guer ri lhas em que se
fir ma ram numa ten ta ti va ex tre ma de tor nar ven ce do ra a ca u sa que de -
fen diam.
Trin ta mil mor tos e toda a la vou ra e o cri a tó rio do Ma ra jó e
do Ba i xo Ama zo nas des tru í dos ou pra ti ca men te des tru í dos, fo ram os
re sul ta dos da guer ra ci vil. Afi nal, era a paz? Go ver nan tes e go ver na dos,
can sa dos da luta, dar-se-iam as mãos? A pa ci fi ca ção, tra zi da por meio da 
anis tia, foi ace i ta. E a re gião pôde en trar num novo ci clo de tra ba lho.
V – Até en tão, a Ama zô nia per ma ne ce ra fe cha da aos olhos
atre vi dos, pers cru ta do res, am bi ci o sos, do es tran ge i ro. Por tu gal de fen dia
o pa tri mô nio ter ri to ri al que cri a ra, por to dos os me i os e mo dos. E ne -
nhum lhe pa re ceu me lhor que aque le da por ta tran ca da. Tran ca da an tes
que o aven tu re i ro ou o con cor ren te che gas se. Com a si tu a ção nova cri a da 
com a en tra da do Bra sil no con cer to uni ver sal, se ria pos sí vel man ter a
mes ma ori en ta ção?
No par ti cu lar da na ve ga ção do Ama zo nas, foi esse o ob je ti vo
do go ver no im pe ri al. Uma ofen si va pe ri go sa, to da via, foi de sen ca de a da
con tra ela, pe los Esta dos Uni dos e, em me nor es ca la, pela Ingla ter ra.
Sus tenta va-se, con tra a ar gu men ta ção bra si le i ra, que os in te res ses da
hu ma ni da de es ta vam aci ma dos tí tu los de so be ra nia que in vo camos.
Um ofi ci al da ma ri nha nor te-americana, o te nen te Ma ury, mo bi li zou a
A Ama zô nia e a Inte gri da de do Brasil 25
opinião pú bli ca de seu país. O “des ti no ma ni fes to” do povo nor -
te-americano le va va-o não ape nas à am pli a ção de sua base fí sica, no
des lo ca men to da fron te i ra em di re ção oes te, mas à cri a ção de áre as que
ser vis sem, no ex te ri or, aos seus in te res ses, pro por ci o nan do-lhe aque les
ele men tos eco nô mi cos que lhe fal ta vam para sua as cen são e para a sua
pre pon de rân cia. Ade ma is, a hu ma ni da de pre ci sa va ser sa tis fe i ta nos seus 
an se i os de bem-estar, que os po vos ca pa zes de vi am as se gu rar-lhe. Ora,
a Ama zô nia, vi si ta da por ofi ci a is das ma ri nhas nor te-americana e in gle sa,
sur gia como o pa ra í so dos pro du tos tro pi ca is, como mer ca do em poten -
ci al, como área por ocu par e di na mi zar.
O Bra sil man te ve-se fir me no seu pro pó si to de não fran que ar 
o rio à na ve ga ção in ter na ci o nal. Tra vou uma ba ta lha enér gi ca. O go ver no
nor te-americano, à pres são da opi nião pú bli ca nacional, ten tou for çar o
Bra sil a mu dar de po si ção. Tam bém a Ingla ter ra. Em vão. A na ve ga ção
foi re a li za da por fro tas bra si le i ras, a pri me i ra das qua is or ga ni za da pelo
ca pi tal de Iri neu Evan ge lis ta de Sou sa. E só quan do, ces sa da a cam pa -
nha no ex te ri or, foi sen ti da, ante a pres são in te ri or, a con ve niên cia de
aban do nar o pro pó si to, é que de cre tou a aber tu ra do rio à na ve ga ção
das ban de i ras ami gas, cri an do uma nova era à re gião.
Já, en tão, ha via de mons tra ções fran cas de ape ti te so bre a
Ama zô nia. A Fran ça dis pu ta va o Ama pá. A Grã-Bretanha pe ne tra ra no
Pi ra ra. Côn su les es tran ge i ros pro pa gan de a vam a con ve niên cia das po -
pu la ções ama zô ni cas, de so bri garem-se de obe diên cia ao Impe ra dor para 
se transfor ma rem em mem bros de uma nova pá tria. Du ran te a Ca ba na -
gem, su ge ri ra-se ao go ver nan te re bel de a se ces são, sob a ga ran tia in gle sa.
Expe di ções ci en tí fi cas vi si ta vam a “hin ter lân dia” não ape nas a ser vi ço
da ciên cia, mas dos in te res ses ma te ri a is de seus pa í ses. Jor na lis tas, vi a -
jan tes dis cre tos tam bém a fren qüen ta vam to dos anun ci an do ou in sis tin do 
na tese de que ao Impé rio fal ta vam con di ções para trans for mar a Ama -
zô nia num tre cho útil à hu ma ni da de. Um go ver nan te im pe ri al con fes sa va
que a Ama zô nia exi gia, para sua va lo ri za ção, um ho mem de gê nio.
VI – O des co bri men to do em pre go da bor ra cha apres sou o
pro cesso de apro ve i ta men to do ex tre mo nor te. A prin cí pio fo ram ca -
bo clos pa ra en ses e ama zo nen ses, de po is ma ra nhen ses, que ex ploraram 
os se rin ga is. As le vas de nor des ti nos, no en tan to, é que as se gu ra ram
pres su ro si da de ao em pre en di men to. A fron te i ra eco nô mi ca foi le va da
26 Arthur Cé zar Fer re i ra Reis
aos al tos rios, onde se des co bria hé vea. Cer ca de 100.000 nor des ti nos fi -
ze ram a Ama zô nia, nes sa fase. Em con se qüên cia, as ba ci as do Xin gu, do 
Ta pa jós, do Pu rus-Acre e do Ju ruá fo ram su bi das e, às mar gens des ses
cur sos flu vi a is, aber tos os se rin ga is na ti vos. O Acre cons ti tu iu uma re -
sul tan te des se ar ro jo pi o ne i ro e des sa ofen si va con tra a flo res ta. Re co -
nhe ce ra-o a Bo lí via, pelo Tra ta do de 1867. Mas aque la na ção não se
apres sa ra em des co bri-lo e ocu pá-lo. Fo ram, as sim, os se rin gue i ros
nor des ti nos que dele se em pos sa ram, es ta be le cen do uma nova fron te i ra, 
que qua se nos leva ao es ta do de guer ra.
O mo no pó lio da pro du ção gu mí fe ra as se gu ra ao Bra sil ama -
zô ni co a sua vi ta li za ção. Empre sa ad mi rá vel, em que só bra si le i ros ti ve -
ram a par ti ci pa ção que re ve la va a bra vu ra in di vi du al. A essa al tu ra,
com os re cur sos que o Nor te, com a bor ra cha, e o Sul, com o café, pro -
por ci o na vam, a Re pú bli ca co me ça va um ou tro ci clo exis ten ci al. A di na -
mi za ção do pro ces so na ci o nal fun da va-se no bi nô mio ca fé-borracha.
VII – A pro du ção dos sin té ti cos não é su fici en te nem pa re ce
o su ce dâ neo para a ma té ria-prima ve ge tal, ani mal e ma te ri al. A fome em 
tor no a ela, por isso mes mo, con ti nua a mes ma. As es ta tís ti cas das Na -
ções Uni das são elo qüen tes para con fir ma ção do que afir ma mos. Assim 
sen do, as re giões que as pos su em e onde po dem ser bus ca das são re -
giões so bre as qua is re cai o in te res se, por que não di zer bem, o ape ti te
in sofrido das na ções que se afir mam pelo po ten ci al eco nô mi co, ou
me lhor, pela po ten ci a li da de in dus tri al.
A Áfri ca, o Ori en te e a Amé ri ca do Sul cons ti tu em as áre as
prefe ren ci a is da pro du ção tro pi cal de ma té ria-prima. O Ori en te, no
en tan to, re a ge à con di ção co lo ni al sob que vi via. Na África, gran de
con cor ren te do Bra sil, as ma ni fes ta ções na ci o na lis tas es tão per tur ban do
os pla nos eu ro pe us de uma Eu rá fri ca, que subs ti tu i ria a Eu rá sia per di da. 
Embora os ca pi ta is in ves ti dos agi gan tan do-se, in gle ses, bel gas e fran ce ses
pla ne ja ram, como ope ra ções es ta ta is ou de ini ci a ti va pri va da, a uti li za ção
eco nô mi ca do con ti nen te ne gro, na ten ta ti va de con tro lá-lo. Ne gam-lhe
a pos si bi li da de de in dus tri a li zar-se ou de re a li zar-se ou de re a li zar uma
eco nomia de base agrá ria. A de pre da ção e a de gra da ção da ter ra afri ca na,
co me ça das pe los gru pos na ti vos, in cons ci en tes do que fa ziam con tra seus 
pró pri os in te res ses fu tu ros, pros se gui das des ne ces sa ri a men te pelo eu ro -
peu con quis ta dor, ser ve de ali men to às te ses ne ga ti vis tas da in ca pa ci da de
A Ama zô nia e a Inte gri da de do Brasil 27
do mun do tro pi cal para a ela bo ra ção das gran des ci vi li za ções. Negam e
de predam para que na Áfri ca só se efe tue a pro du ção de ma té ri as-primas, 
evi tan do-se a con cor rên cia e a li ber ta ção dos po vos de cor. A re vol ta que 
mar ca a hora na Áfri ca é, to da via, uma res pos ta a me di tar. Res ta rá a
Amé rica do Sul, cu jas re ser vas são mu i to me lhor sa bi das pela ciên cia
eu ro péia que pro pri a men te pela ciên cia sul-americana, a bra si le i ra,
inclu si ve. E na Amé ri ca do Sul, pre fe ren te men te a Ama zô nia, onde os
pro du tos tro pi ca is, re pre sen ta dos nas ma de i ras, nos mi ne ra is, nos ole a -
gi nosos, nas cas ta nhas, nas re si nas, nas fi bras, nas plan tas me di ci nais,
ta ní fe ras, aro má ti cas e ali men ta res, são abun dan tes, e sem ex plo ra ção
ori en ta da, ou téc ni ca e fi nan ce i ra men te em pre en di da.
A ex plo ra ção das ma té ri as-primas na Ama zô nia tem sido a
cons tan te de sua exis tên cia em ter mos eco nô mi cos. Essa ex plo ra ção
con du zi da, po rém, sem as pro por ções de gran di o si da de de cor ren te da
ati vi da de de exér ci tos de tra ba lha do res, como ocor ria na Ásia e ain da
ocor re na Áfri ca. Isso por que a Ama zô nia é um es pa ço pra ti ca men te
de sa bi ta do. Soma a sua po pu la ção 3.500.000 ha bi tan tes, a 5.500.000km²
em nú me ros re don dos, isto é 2/3 de Bra sil. Área, por tan to, in te i ra men te 
desguar ne ci da, aber ta, es can ca ra da à in te li gên cia e à ca pa ci da de de
con tin gen tes po pu la ci o na is que a trans for mem, ex plo ran do-a e vi ta li -
zando-a.
É pre ci so con si de rar, em face da gra vi da de do qua dro que es -
ta mos apon tan do, que há, no mo men to, pres sões de mo grá fi cas e pres -
sões de fome que exi gem a nos sa aten ção. O peso des sas pres sões é in -
cal cu la vel men te se ve ro. O de sen vol vi men to de mo grá fi co do mun do
vem as su min do pro por ções gi gan tes cas. Em 1650, ha via, no ecú me no,
450 mi lhões de in di ví du os; em 1850, 1.100 mi lhões; em 1900, 1.595 mi -
lhões; em 1940, 2.150 mi lhões. Se gun do Lan drey, a con tri bu i ção da Eu -
ro pa para esse úl ti mo al ga ris mo é de 530 mi lhões; a da Amé ri ca, de 271
mi lhões; a da Áfri ca, de 153 mi lhões; a da Oce a nia, de 10 mi lhões. A
Ásia traz, to da via, o gran de al ga ris mo – 1.185 mi lhões. Em 1956, se gun -
do as es ta tís ti cas da ONU, esse úl ti mo al ga ris mo su bia para 1.480 mi -
lhões. Para a ali men ta ção des ses gru pos asiá ti cos, que se con cen tram
prin ci pal men te na Chi na e na Índia, não tem ha vi do o cres ci men to da
pro du ção no mes mo rit mo de cres ci men to da po pu la ção. Em con se -
qüên cia, se gun do os da dos co le ta dos pelo pro fes sor Ma rin Bru ga re la,
28 Arthur Cé zar Fer re i ra Reis
je su í ta es pa nhol, no seu li vro so bre El dra ma de la po bla ción, es tão mor -
ren do de fome no mun do, na atu a li da de, 30 a 40 mi lhões de pes so as.
Os su ba li men ta dos, na Sul-Amé ri ca, su bi am a cer ca de 2/3 de sua po -
pu la ção, mas na Ásia ele vam-se a 20% da po pu la ção. O dra ma da fome
é, as sim, o dra ma de nos sos dias. Como re sol vê-lo? Qu an tos o vêm es -
tu dan do, para as so lu ções a lon go e a cur to pra zo, são unâ ni mes na in -
di ca ção de um só ca mi nho – pro du ção de mais gê ne ros ali men tí ci os,
uma vez que nas re giões mais afe ta das os pro ces sos de con ten ção da na -
ta li da de não sur tem efe i to, prin ci pal men te por mo ti vos re li gi o sos. Mas
onde pro du zir e onde co lo car os ex ce den tes da que las po pu la ções que
sen tem o mar tí rio da fome e não dis põem, em suas pá tri as de ori gem,
de um pe da ço de ter ra onde cons tru ir os seus des ti nos, o seu fu tu ro? A
Aus trá lia e a Amé ri ca do Sul são as duas re giões apon ta das para o re ce -
bi men to des ses ex ce den tes e para a pro du ção de ali men tos. São, pre sen -
te men te, os dois ma i o res es pa ços de sa bi ta dos e de pers pec ti vas mais
am plas. Têm, os dois, so be ra ni as a ze lar pela sua exis tên cia. E aqui en tra 
em cena a con cep ção que se de sen vol ve e já en con tra eco no pró prio
Bra sil de que, aci ma das fron te i ras po lí ti cas na ci o na is, pa i ram os in te -
res ses da hu ma ni da de. Só isso? Não, numa li te ra tu ra que cir cu la e é re -
ce bi da sob apla u sos, sus ten ta-se que a Ama zô nia é área ide al para ser
ocu pa da e trans for ma da na fon te de pro du ção de gê ne ros ali men tí ci os,
ca pa zes de sa tis fa zer a fome que ator men ta a es pé cie hu ma na. Entre os
li vros des sa li te ra tu ra, que re mos ci tar três: A Luta con tra a Fome, de Ro -
bert Brit tain; Ter ras Des po vo a das e Po vos Fa min tos, de S. Chan dra sek har; e
A Gran de Fron te i ra, de Wal ter Pres cott. O pri me i ro au tor é um téc ni co
em pro ble mas de ali men ta ção; o se gun do, um dos mais emi nen tes no mes 
da ciên cia so ci al, en car re ga do, en tre 1948 e 1949 de di ri gir o in qué ri to de -
mo grá fi co pro mo vi do pela Unes co; o ter ce i ro, fa mo so his to ri a dor
nor te-ame ri ca no que su ge re, como úl ti mo ca pí tu lo da his tó ria da for -
ma ção da fron te i ra de sua pá tria, a que po de ria cri ar na Ama zô nia pela
in ver são de ca pi ta is e a exe cu ção de um pro gra ma de con quis ta so ci al,
sa ni tá ria e téc ni ca da imen sa re gião tro pi cal.
No ano de 1953, o go ver no fe de ral dava iní cio a um dos em -
pre en di men tos mais sé ri os, que po de ria ser uma pro va real da maturi da de 
al can ça da pelo Bra sil – a va lo ri za ção da Ama zô nia.
A Ama zô nia e a Inte gri da de do Brasil 29
Fui o pri me i ro su pe rin ten den te, no me a do para mon tar o ór -
gão cri a do para re a li zá-lo.
Na base da ex pe riên cia que al can cei, pos so afir mar – não al -
can ça mos a ma tu ri da de de se ja da. A po lí ti ca par ti dá ria, in ter fe rin do sem
ces sar, pre ju di ca o an da men to dos tra ba lhos. O go ver no fe de ral e os
dos es ta dos não pa gam as con tri bu i ções a que es tão obri ga dos por dis -
po si ti vo cons ti tu ci o nal.
O pri me i ro pla no qüin qüe nal, ela bo ra do por uma co mis são
téc ni ca, até a pre sen te data não me re ceu as hon ras de um se gun do de
aten ção do Par la men to, que deve co nhe cê-lo e apro vá-lo ou re for má-lopara sua exe cu ção.
O Bra sil, ante os pe ri gos a que está ex pos ta a Ama zô nia, e
aqui só mu i to su ma ri a men te in di ca dos, pre ci sa for mar uma cons ciên cia
acer ca dos pro ble mas da que les 2/3 do seu ter ri tó rio.
30 Arthur Cé zar Fer re i ra Reis
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
II – A Ama zô nia na Con jun tu ra 
Inter na ci o nal
A expli ca ção do que é re al men te a Ama zô nia não
tem sido sa tis fa tó ria. Para mu i ta gen te, a re gião não pas sa de tre cho de
ter ra exó ti ca, que só vale como tema li te rá rio, como sen sa ci o na lis mo de
vi a jan tes que bus cam mo ti vos para seus des cri ti vos fan ta si o sos ou como 
cu ri o si da de a ci en tis tas que não se can sam na ex plo ra ção de te ses, de
dú vi das e se per dem na in da ga ção con ti nu a da dos pro ble mas, re la ti vos à 
na tu re za fí si ca e so ci al que ali por ven tu ra pos sam ain da en con trar. Para
ou tros, po rém, apre sen ta pos si bi li da des que uma vez in ven ta ri a das e
de vi da men te con si de ra das nos la bo ra tó ri os ou nas me sas de de ba tes à
vol ta das so lu ções po lí ti cas e eco nô mi cas para a so bre vi vên cia da hu ma -
ni da de, ser vi rão a es sas so lu ções, pon do fim a tre men das di fi cul da des de 
nos sos dias.
O que já se es cre veu so bre a imen sa re gião, con vém re fle xi o -
nar, não sig ni fi ca que, ape sar de to das as re ser vas, há um in te res se par ti -
cu lar por ela e se exis te esse in te res se é por que não re pre sen ta ape nas
ma té ria uti li zá vel para re por ta gens, pá gi nas de im pres si o nis mo ou ca pí -
tu los de obras vi san do a es cla re cer ci en ti fi ca men te es tes ou aque les as -
pec tos da di nâ mi ca de uma na tu re za che ia de viço? A dú vi da per ma ne ce.
Nin guém se dá con ta, en tre nós, cons ci en te men te, de que a Amazônia
pode cons ti tu ir um lo gro ou ex pres sar uma re a li da de es plên di da para
aque las so lu ções ime di a tis tas e a lon go pra zo. Con ti nu a mos de sa ten tos,
en quan to no ex te ri or de ba tes se tra vam acer ca da re gião na pro cu ra do
que ela pos sa pro por ci o nar. Cabe, por isso, a per gun ta – se re al men te a
Ama zô nia é um lo gro, con clu são que te ria sido ob ti da pela ex pe riên cia
de qua tro sé cu los de ati vi da des na re gião ou como de cor rên cia das in da -
ga ções si len ci o sas e aus te ras dos ho mens de ciên cia que a per cor re ram e 
identi fi ca ram se gui da men te, por que ain da a têm em mira quan tos ten tam
en con trar as so lu ções dos tor men to sos proble mas da atu a li da de?
O Bra sil, é pre ci so in sis tir, ain da não to mou cons ciên cia fir me,
de ci di da, sem ape lar para um fal so re a lismo ou ce den do ape nas aos exa -
ge ros da nos sa emo ti vi da de e de nos sa ner vo sa com pre en são das co i sas, 
do que vale a Ama zô nia. Será ela ha bi tá vel para uma em pre sa de vul to
vi san do a ex tra ir ri que zas e per mi tir con di ções a ex ce den tes po pu la ci o -
nais da qui e dali, como se vem su ge rin do? Deve o país de i xar de pros -
se guir nas suas me dro sas ten ta ti vas de pos suí-la hon ra da e efe ti va men te,
pas san do a uma po lí ti ca de ma tu ri da de para do mi ná-la, as se gu rar-lhe vi ta -
li da de e em con se qüên cia de fi ni-la e exer cer nela a sua so be ra nia efe ti va? 
E quan do di ze mos so be ra nia efe ti va não que re mos re fe rir ape nas a pre -
sen ça de sol da dos, ma ri nhe i ros, au to ri da des po lí ti co-administrativas,
re li gi o sas, gen te es pa lha da pe las fron te i ras ou iso la da na imen si da de
es pa ci al. Qu e re mos re fe rir-nos a uma pos se e a um do mí nio que se
exer çam pela mo di fi ca ção dos gê ne ros de vida, pela cri a ção de ri que za,
pelo es ta be le ci men to con ti nu a do de po pu la ções que re fli tam bem-estar
ma te ri al e es pi ri tu al e pos sam, as sim, ofe re cer-se à con tem pla ção das
de ma is po pu la ções como fru to das pos si bi li da des do meio e da ação
cri a do ra que efe tu a ram com de ci são e cons tân cia.
Atra vés dos sé cu los que vem vi ven do, esse es for ço tem sido
ope ra do com cer ta im pe tu o si da de nes te ou na que le pe río do. O que tem
fal ta do é a obra de con ti nu i da de, pro gra ma da, dis ci pli na da e exe cu ta da
sem es mo re ci men to. Em cer ta fase, o Esta do es te ve pre sen te sem ces sar 
e os êxi tos al can ça dos res pon de ram, de cer to modo, às dú vi das que se
le van ta vam. Nou tro pe río do, to da via, o que ocor reu foi pura e sim ples -
men te a ação da ini ci a ti va pri va da, que acre di ta va mas não dis pu nha dos
ele men tos es sen ci a is a uma ta re fa que exi gia mo bi li za ção não ape nas de
32 Arthur Cé zar Fer re i ra Reis
co ra gem, de ca pi ta is, mas de téc ni cas, de re cur sos, só al can ça dos atra vés 
de uma po lí ti ca ofi ci al in ces san te e bem di ri gi da.
Re pre sen tan do cer ca de seis e meio mi lhões de qui lô me tros
qua dra dos na Sul-América – dos qua is qua tro mi lhões e meio par tes in -
te grantes do Bra sil –, a Ama zô nia, que não nos per ten ce ex clu si va men te,
pois há igual men te Ama zô ni as que se in te gram ter ri to ri al men te no pa tri -
mô nio da Bo lí via, Peru, Equa dor, Co lôm bia e Ve ne zu e la, com uma po -
pu la ção, na par te bra si le i ra, que não vai além dos 3.500.000 ha bi tan tes,
con ti nua sen do um cam po ad mi rá vel para di va ga ções, não apre sen tan do 
ain da um qua dro que a de fi na como área hu ma ni za da. A im pres são um
tan to ime di a tis ta, mas que tan ta for tu na ob te ve, de Eu cli des, a res pe i to
da pre sen ça do ho mem, que lhe pa re ce ra ain da va ga men te um in tru so, a 
che gar cedo de ma is, não se al te rou. Efe ti va men te, a dis per são e a den si -
da de exí gua que ca rac te ri zam a ocu pa ção do ex tre mo nor te le vam à
con cordân cia como cer to sen ti do da que la afir ma ti va. E em con se qüên cia, 
to das as de ma is re sul tan tes ma te ri a is e es pi ri tu a is da au sên cia ob ser va da,
não pode ser ou tra se não a que ca rac te ri za va a re gião – vida po bre, sem
pers pec ti va, o ho mem ten do re a li za do mu i to pou co que o dig ni fi que ou
o si tue na es ca la dos ven ce do res.
Até al gu mas pou cas dé ca das, toda a vida ama zô ni ca era re a li -
za da em fun ção de mer ca dos ex te ri o res. Tudo quan to pro du zia, com a
técnica pri mi ti va de que tan to alar de se fa zia para con de ná-la, en con tra va
com pra dor cer to e se gu ro na Eu ro pa como nos Esta das Uni dos. Os in -
te res ses da re gião li ga vam-se des se modo, pe ri go sa men te, aos in te res ses
dos gran des cen tros co mer ci a is e in dus tri a is da que las áre as do mun do,
em nada sig ni fi can do as pra ças do Sul do Bra sil para qual quer in ter câm -
bio mais de mo ra do e mais sig ni fi ca ti va men te útil às vin cu la ções na ci o -
na is. Com os in te res ses mer can tis, os in te res ses es pi ri tu a is. Nin guém se
aper ce bia do Rio de Ja ne i ro. Edu ca va-se, re ce bia-se cul tu ra, li am-se os
jor na is e re vis tas de lá e não do pró prio Bra sil. A re gião não se des na ci o -
na li za va, apesar da pro pa gan da que se re a li za va no sen ti do de que ela
to mas se cons ciên cia po lí ti ca pró pria e cu i das se de seus des tinos des li -
gan do-se do país para com por uma nova uni da de au tô no ma, so be ra na,
por que os ele men tos que a pro cu ra vam pos su ir, para ex tra ir as ri que zas
que es con de ra e as se gu rar con te ú do eco nô mi co mais di nâ mi co à sua
exis tên cia, eram fun da men tal e ma ci ça men te bra si le i ros. As ca ma das es -
A Ama zô nia e a Inte gri da de do Brasil 33
tran ge i ras, de eli te, que se aglo me ra vam em Be lém e Ma na us, ou se dis -
per sa vam pelo in te ri or, não ha vi am con se gui do mo di fi car aque le sta tus.
O po de rio fi nan ce i ro de que dis pu nham não era su fi ci en te para a obra
de des tru i ção dos la ços da uni da de no ci o nal.
Essa si tu a çãopa re ce-nos que pode ser man ti da. Os sen ti men -
tos de bra si li da de das po pu la ções que com põem as so ci e da des ama zô ni -
cas não se mo di fi ca ram. Con ti nu am eles fiéis, con quan to sem pre a con -
si de rar que de vi am re ce ber ou tro tra ta men to, que lhes per mi tis se ou tros 
pa drões de vida. Acon te ce, po rém, que não será ape nas esse es pí ri to de
fi de li da de o ele men to es sen ci al para evi tar sur pre sas. É que, nas com pe -
ti ções in ter na ci o na is, as ilhas dos po vos que de se jam so lu ções a cur to e
lon go pra zo para pro ble mas, vol to à tese, que an gus ti am a hu ma ni da de,
se lan çam para a re gião, que, para eles, pode ser ce le i ro ma tan do fo mes
ater ra do ras de mi lhões de se res e pode ser es pa ço para abri gar ou tros
mi lhões que não pos su em uma pal ma de ter ra para nela cons tru ir um
lar, le van tar uma casa, plan tar uma ár vo re, se me ar um grão.
Já em ar ti gos nes ta ca pi tal, em con fe rên ci as pro fe ri das pe ran te
ór gãos res pon sá ve is, e li vro de pró xi ma pu bli ca ção, re su mi mos as nos sas 
dú vi das ou an gús ti as ante aque las pers pec ti vas tão pou co sim pá ti cas.
Hou ve quem nos atri bu ís se con si de ra ções de vi si o ná rio. Igno ran do a li -
te ra tu ra que se está es cre ven do a pro pó si to, não po dia sen tir a re a li da de
do pe ri go que tal vez seja mes mo mu i to mais gra ve do que à pri me i ra
vis ta pos sa pa re cer. Essa li te ra tu ra não é mais a li te ra tu ra sen sa ci o na lis ta 
que deu no me a da à Ama zô nia. Tra ta-se de uma li te ra tu ra ela bo ra da por
pes so as de res pon sa bi li da de, de qua li fi ca ção ci en tí fi ca, li ga das a or ga ni -
za ções in ter na ci o na is que ope ram na base dos in te res ses e das con ve -
niên ci as de gru pos e de po tên ci as. A Ama zô nia, nes sa li te ra tu ra, apa re ce 
como um mun do de sér ti co, e nis so se afir ma uma ver da de in so fis má vel, 
que con ti nua de sér ti ca por in ca pa ci da de ou ino pe rân cia das re pú bli cas
que dis põem dela. Os tí tu los de so be ra nia, in vo ca dos pe las na ções que a 
usu fru em tão par ca men te, são in di ca dos como tí tu los inex pres si vos ante 
a dura re a li da de das pre men tes ne ces si da des do ho mem. Tais tí tu los es -
ta riam su pe ra dos, não pas san do de re sí du os de uma épo ca que não sou be 
agir para man tê-los atra vés da ação di re ta, cons tan te e útil. S. Chan dra sek -
har, be cá rio da Fun da ção Nuf fi eld, Edward C. Hig bee, Wal ter Pres cott
Webb, Ro bert Brit ta in, são al guns dos au to res a que nos re fe ri mos. Vêm 
34 Arthur Cé zar Fer re i ra Reis
con tri bu in do ati va e efi ci en te men te para cri ar-se e di fun dir-se a tese que 
sus ten ta a ne ces si da de da uti li za ção da Ama zô nia, vi san do-se ati vá-la
com a ocu pa ção pe los po vos fa min tos ou sem teto. Os in te res ses e con -
ve niên ci as da hu ma ni da de es ta ri am aci ma dos in te res ses e con ve niên ci as 
das so be ra ni as exer ci das tão pre ca ri a men te.
Os pe ri gos que an dam em vol ta da re gião não pos su em, por -
tan to, aque las ca rac te rís ti cas de alar mis mo, de in con sis tên cia, de fru to
de uma exa ge ra da pre o cu pa ção pelo fu tu ro de um tre cho da pá tria que
es ta ria exi gin do o de sen vol vi men to ou a apli ca ção re a lís ti ca de uma po lí -
ti ca ob je ti va, sen sa ta, di nâ mi ca e sem in ter rup ções, po lí ti ca a ser exe cu ta -
da com um sen ti do de dig ni da de e de lim pi dez fora de qual quer dúvi da.
Além do que há todo um con jun to de ou tros fa tos, do pas sa do e do
pre sente, que le vam à ace i ta ção dos re ce i os e à me di ta ção so bre a pos -
si bi li da de de sur pre sas de sa gra dá ve is, fa tos que pas sa rei a ex por,
tentando um re tros pec to e uma in di ca ção su má ria do pre sen te.
II
 Para os fa tos do pas sa do, será con ve ni en te re cor dar que esse
pas sa do é dis tan te e co me ça quan do os por tu gue ses che ga ram ao del ta e 
ti veram de en fren tar a con cor rên cia de ho lan de ses e in gle ses e pos te ri or -
men te de es pa nhóis e fran ce ses. Nos pri me i ros dias, iní cio do sé cu lo
XVII (ano de 1616) le van ta da a casa-for te do Pre sé pio, que da ria som -
bra pra te a da para a ela bo ra ção va ga ro sa do nú cleo ur ba no que é hoje a
ci da de de Be lém, a luta pro ces sou-se den tro do sen ti do de im po si ção de 
so be ra nia que os par tu gue ses pos su íam de for ma ex pres si va. É cer to
que, a essa al tu ra, Por tu gal e Espa nha es ta vam uni dos pe los la ços de um 
mo nar ca co mum. Em ne nhum mo men to, to da via, per de ra o ve lho re i no 
pe nin su lar sua fi si o no mia so be ra na. A con quis ta do li to ral e a pos te ri or
pe ne tra ção do vale ama zô ni co se ri am efe tu a das pro cu ran do-se am pli ar
o es pa ço para cri ar uma nova fron te i ra que se ria, em úl ti ma aná li se, a
fron te i ra dos de Por tu gal e Espa nha, cada uma com sua área de fi ni da ou 
em de fi nição pelo es for ço con ti nu a do de seus sol da dos, de seus mis si o ná -
ri os, de seus fun ci o ná ri os, de seus co lo nos, pe nin su la res ou já mes ti ça dos, 
con seqüen te men te re sul tan tes da aco mo da ção do pe nin su lar às exi gên ci as 
do am bi en te ame ri ca no.
A Ama zô nia e a Inte gri da de do Brasil 35
A do cu men ta ção que exis te acer ca des se ob je ti vo po lí ti co da
ex pan são é bas tan te co pi o sa. Re su mi mo-la em nos sos li vros acer ca dos
Li mi tes e De mar ca ções na Ama zô nia Bra si le i ra, edi ta dos no Rio pela Co mis -
são Bra si le i ra De mar ca do ra de Li mi tes, pri me i ra di vi são, nos anos de
1947 e 1948. E por ela ve ri fi ca-se, in so fis ma vel men te, que os por tu gue ses 
agi am com os olhos no fu tu ro. Não se ati nham no pre sente, que re a li za -
vam, mas aos dias de ama nhã, quan do se te ria de fi xar, em tex tos es cri tos, 
a si tu a ção que se fos se cri an do, como aliás ocor reu em 1750 e 1777, com
re la ção aos es pa nhóis, e em 1713 com re la ção aos fran ce ses. A luta con tra 
os in gle ses e con tra os ho lan de ses so mou cer ca de trin ta anos de guer ra
vi o len ta que os com pên di os bra si le i ros te i mam em ig no rar. Jo gou-se,
nes sas par ti das, a sor te da re gião. Por que se as per des sem, os lu -
so-brasileiros te ri am de aban do ná-la para ce dê-la a ou tras so be ra ni as,
tal vez mais po de ro sas ou ain da mais ime di a tis ti ca men te ob je ti vas no seu 
modo de pos su ir es pa ços tro pi ca is.
O es for ço por tu guês para man ter a Ama zô nia sob sua so be -
ra nia não se re du ziu a esse en tre ve ro com os con cor ren tes es tran ge i ros,
que lhe co bi ça vam e dis pu ta vam a ter ra e suas ri que zas mais à vis ta.
Exer ceu-se numa in ten si da de ad mi rá vel, que tive oca sião de acen tu ar em 
ou tros tra ba lhos mais alen ta dos, como se jam A Po lí ti ca de Por tu gal no Vale 
Ama zô ni co e Esta dis tas Por tu gue ses na Ama zô nia, to can do os mais va ri a dos
as pec tos de uma em pre sa de con quis ta e de co lo ni za ção. Por que, é pre -
ci so ter bem em vis ta, iden ti fi can do-o pela pe ne tra ção dos ser ta nis tas,
cu jas in cur sões in cen ti vou, pelo tra ba lho de ho mens de ciên cia, que es -
tu da ram o meio ge o grá fi co, a bo tâ ni ca, a fa u na, es tas para ava li ar o que
impor ta vam como ma té ria-prima de va lor eco nô mi co ca paz de as se gu rar
con ti nu i da de à eco no mia de tipo tro pi cal que se per de ra com o de sa pa re -
ci men to do Ori en te, pos su í ram-na como de via ser pos su í da. Sem he si ta -
ções, com de ci são, ex plo ran do-a, uti li zan do-a e pro cu ran do do mi ná-la
em toda a ex ten são. Essa ação so be ra na cons ti tui um dos tí tu los de gló ria
da ex pe riên cia por tu gue sa nos mun dos tro pi ca is, que Gil ber to Fre i re
tan to lou va como em pre sa eu ro péia. Se pro cu rar mos exa mi nar o que
ingle ses, ho lan de ses e fran ce ses e mes mo es pa nhóis re a li za ram nas Gu ia -
nas, com pa ran do com a atu a ção de Por tu gal na Ama zô nia, a con clusão
será pro fun da men te des pri mo ro sa para aque les, en quan to re sul ta rá
numa evi den ci a ção de su ces so para es tes.
36 Arthur Cé zar Fer re i ra Reis
Qu an do, pois, Jo a quim Na bu co, a pro pó si to dos nos sos li mi tes 
com a Gu i a na bri tâ ni ca, teve opor tu ni da de de exa mi nar, com olhos de
ver o que fora aque la em pre sa ad mi rá vel, a ex cla ma ção que pro fe riu im -
por tou numa sín te se per fe i ta como lou vor, que re sul ta va de es tu dos e
não de ra zões do co ra ção – “Nada nas con quis tas de Por tu gal é mais
ex tra or di ná rio do que a con quis ta do Ama zo nas”. Ale xan dre Ro dri gues
Ferre i ra, an te ri or men te, ti ve ra a vi são per fe i ta do que cons ti tu í ra o gran de 
acon te ci men to his tó ri co. E em uma de suas memórias acer ca da fron te i ra 
com a Gu i a na fran ce sa, es cre ve ra que o do mí nio fora exer ci do pelo di -
re i to de des co bri men to, de con quis ta, pela con cor dân cia dos na tu ra is,
pe los Tra ta dos de Li mi tes que o re co nhe ce ram e pe las des pe sas fe i tas
pela Co roa. Estas, re sul tan tes do apres to das Arma das para des co bri -
men to, con quis ta e luta con tra os con cor ren tes, das ex plo ra ções e re co -
nhe ci men tos le va dos a ter mo pelo in te ri or, do trans por te e es ta be le ci -
mento de po vo a do res, fun da ção e con ser va ção de for tes e ou tros nú cle os 
mi li ta res, tra ba lhos de de mar ca ção das fron te i ras, cri a ção de vi las e de ma is 
si tu a ções co lo ni a is, fun da ção de igre jas, sus ten to de pá ro cos e in cor po ra -
ção de sil ví co las.
No de ba te em tor no ao es for ço por tu guês para as se gu rar-se o 
do mí nio da Ama zô nia, como no to can te a ou tros tre chos do Bra sil, a
dú vi da re pou sa no par ti cu lar da ação ter sido ofi ci al ou de ini ci a ti va pri -
va da, em bo ra sob apla u sos ou in cen ti vo do Esta do. So mos por que a
ação pos su iu as ca rac te rís ti cas de em pre en di men to go ver na men tal. É
far to o ce du lá rio de ter mi nan do a exe cu ção de ver da de i ros pro gra mas de 
tra ba lho que, cum pri dos, re sul ta vam na que le em pos sa men to de fi ni ti vo e 
no do mí nio in ces san te. Ve ja-se, para exem pli fi car, o que diz res pe i to à
cons tru ção dos es ta be le ci men tos mi li ta res, ao lon go da fron te i ra ou
mes mo lo ca li za dos nos pon tos ne vrál gi cos da re gião. Hou ve, re al men te,
uma rede de tais for ti fi ca ções, que fo ram le van ta das por de ter mi na ção
de Lis boa, que ja ma is se can sou de cu i dar dela atra vés de uma as sis tên -
cia cons tan te, de que par ti ci pa vam en ge nhe i ros mi li ta res téc ni cos em
forti fi ca ções, mu i tos de les man da dos vir es pe ci al men te da Ca pi tal pe -
nin su lar para os exa mes ne ces sá ri os.
Ve ja-se, mais, o que ocor reu com re la ção ao po vo a men to. Os
ca sa is de aço ri a nos, man da dos com ou tros gru pos de po vo a do res, des de 
o sé cu lo XVII, como a po lí ti ca da mes ti ça gem, que se efe tu ou lar ga -
A Ama zô nia e a Inte gri da de do Brasil 37
men te, pro mo vi das inin ter rup ta men te, como obra de go ver no, ser vem
para do cu men tar mais po si ti va men te ain da o pro pó si to de per ma nên cia. 
A ga ran tia do es pa ço de fen di do efe ti va-se não ape nas com aque la de -
mons tra ção de for ça, mas com a ocu pa ção pelo po vo a men to e pela or -
ga ni zação de uma so ci e da de ati va e mo de lar de acor do com as exi gên ci as
do meio. Como tam bém ser viu para do cu men tar o po der que foi atri -
bu í do às seis or dens re li gi o sas, ex pe di das para os con ta tos com a gen -
tilida de, à fren te de to das a Com pa nhia de Je sus. Não se can san do no
de sem pe nho da co mis são, es sas or ga ni za ções de con quis ta es pi ri tu al
agi ram, com de le ga ção do po der pú bli co, com fru tos sa bo ro sos, re pre -
sen tados nos mi lha res de in dí ge nas que fo ram in cor po ra dos a no vos
pa drões de vida, par ti ci pan do ati va men te da em pre sa de Por tu gal, pela 
co o pe ra ção que de ram na am pli a ção ter ri to ri al, na iden ti fi ca ção das es -
pé ci es flo res ta is e ani ma is e nos que fa ze res do més ti cos, nas fi le i ras da
tro pa para as guer ras con tra os con cor ren tes. Será con ve ni en te nes se
par ti cu lar re cor dar que, nos iní ci os da pe ne tra ção, quan do hou ve oca -
sião de ter çar ar mas con tra os in gle ses e con tra os ho lan de ses, in fi ni ta
gen ti li da de aju dou os sol da dos nor des ti nos na luta para ex pul sá-los e
para in cor po rar o ex tre mo nor te à co mu ni da de lu so-brasileira.
Ou tro ele men to pon de rá vel na apre ci a ção do que foi a em -
pre sa de Por tu gal na Ama zô nia pode e deve ser bus ca do ao que cons ti -
tu iu o co me ti men to eco nô mi co. Ten do en con tra do ali uma gi gan tes ca
re ser va de ma té ri as-primas que os mer ca dos do Ve lho Mun do ace i ta ram 
e pro cu ra ram, – po den do-se mes mo atri bu ir, já na que les dias, a essa
far tu ra, o ape ti te que de sen ca de a ram so bre a re gião as po tên ci as
compe ti do ras – pro ce deu à sua ex plo ra ção. A iden ti fi ca ção das es pé ci es
re a li zou-se, ora por atu a ção di re ta e pes so al dos ser ta nis tas que su bi am e 
des ci am os rios, ora em obe diên cia a or dens ex pres sas de cre ta das de
Lis boa. A cor ri da à flo res ta teve as sim a sua pri me i ra fase di nâ mi ca, a
que se se guiu a da po lí ti ca de apro ve i ta men to da que las re ser vas pela sua
agri cul tu ra in ten si va. E com a de las, a de ou tras es pé ci es, tra zi das do
Ori en te, e de ou tros ter ri tó ri os ul tra ma ri nos, como o café, a cana, o anil, 
o câ nha mo, as fru tas eu ro péi as e as mil va ri e da des im por ta das para as
experiên ci as que se fi ze ram, e, já nos fins do pe río do co lo ni al, eram
ori en ta dos num es ta be le ci men to es pe ci a li za do, o Jar dim Bo tâ ni co de
Be lém, ponto de par ti da para as ins ti tu i ções con gê ne res que se mon ta ram 
38 Arthur Cé zar Fer re i ra Reis
no Nor des te e no Sul do Bra sil. O que se efe tu ou no to can te à ativa ção
das ope ra ções eco nô mi cas, seja na iden ti fi ca ção das es pé ci es e sua pron ta
uti li za ção, seja na acli ma ção das es pé ci es exó ti cas, seja, ain da, na criação
de gado nos plan téis que são ain da hoje aque les a que de ram ori gem,
cons ti tui pro va elo qüen te de que a so be ra nia por tu gue sa era exer ci da
com se gu ran ça. O pro pó si to de sua ma nu ten ção es ta va bem po si ti va do.
Por fim, como ain da há pou co re cor da va num pe que no tex to
pu bli ca do no Por to acer ca da Pre sen ça de Por tu gal na Ama zô nia, e no qual
es cla re cia que em sua atu a ção os por tu gue ses re pe ti am as fa ça nhas que
lhes ha vi am ga ran ti do o do mí nio de vas to im pé rio na Áfri ca e na Ásia,
além das igre jas, que em nú me ro de mais de cem le van ta ram pela imen -
si da de es pa ci al da hin ter lân dia, será in te res san te não ig no rar que cri a ram 
e man ti ve ram mais de cem nú cle os ur ba nos, que são a raiz co lo ni al das
atu a is se des mu ni ci pa is do Pará e do Ama zo nas. A rede ur ba na não
cons ti tu ía, po rém, ape nas pá gi na de de mo gra fia. Por que nela os mo ra -
do res, cum prin do ins tru ções da Me tró po le, en ri que ci am os seus la res,
ro de an do-se de ár vo res fru tí fe ras, de cri a ção mi ú da, es sen ci a is às di e tas
ali men ta res e ao apro vi si o na men to lo cal.
Na com pe ti ção de so be ra nia, Por tu gal tri un fou. Deu um ad -
mi rá vel exem plo de ca pa ci da de, de re sis tên cia, de de ci são. Afir mou-se
como na ção ca paz de ven cer os tró pi cos. Às di fi cul da des en con tra das
no con ta to com o am bi en te fí si co e com o am bi en te so ci al, com por -
tou-se bem. Cri ou um cam po gi gan tes co de ex pe riên cia co lo ni al. O
Bra sil be ne fi ci ou-se des se es for ço. Qu an do ad qui riu a con

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