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Perícia Contábil W B A 0 2 0 2 _ V 1. 2 2/219 Perícia Contábil Autoria: Davidson Benicio de Souza Como citar este documento: SOUZA, Davidson Benicio de. Perícia Contábil. Valinhos: 2017. Sumário Apresentação da Disciplina 03 Unidade 1: Aspectos Históricos da Perícia Contábil 05 Unidade 2: A Perícia Judicial 35 Unidade 3: A Perícia Extrajudicial e Administrativa 59 Unidade 4: Espécie de Perícia Contábil 83 2/219 Unidade 5: Execução da Perícia 105 Unidade 6: Termo de Diligência 130 Unidade 7: Laudo Pericial 152 Unidade 8: Parecer Pericial 183 3/219 Apresentação da Disciplina Esta disciplina buscará desenvolver uma abordagem dos principais achados e estu- dos que envolvem a perícia contábil no ce- nário brasileiro. Diante de um ambiente que transcende o da graduação, o presente material servirá de apoio para formação do conhecimen- to mínimo a respeito do assunto. Todavia, não intenciona substituir em profundidade as obras contemporâneas, que são ricas em detalhes e aplicações práticas. De antemão, serão delineadas as questões centrais da perícia versando sobre maté- rias da contabilidade como uma ciência a ser explorada e tendo na perícia contábil o resultado da sua aplicação, a realidade fá- tica. Ademais, a execução da perícia aliará o empirismo, ou seja, a técnica ou o exe- cutar prático com o conhecimento oriundo da tecnologia (conhecimento científico de fato). Você verá também que o exercer da profis- são no caso brasileiro requer o preenchi- mento de uma série de requisitos e exigên- cias legais, haja vista que o perito atuará como sendo um auxiliar da justiça em lides diversas e, para tal, deverá possuir elevado conhecimento técnico/científico a fim de que possa entregar um laudo de qualidade. Num ambiente de especialização, você vai se deparar com o fato de que nem todos possuem sua formação básica galgada na ciência da contabilidade, o que pode exigir um pouco mais de leitura para entender al- guns dos termos e assuntos aqui tratados. 4/219 Desta feita, a disciplina de perícia contábil abordará em seus 8 conteúdos programáti- cos assuntos diversos, a saber: • Aspectos Históricos da Perícia Contá- bil. • A Perícia Judicial. • A Perícia Extrajudicial e Administrativa. • Espécies de Perícia Contábil. • A Execução da Perícia. • Termo de Diligência. • Laudo Pericial. • Parecer Pericial. Após estudar os assuntos em tela, você será capaz de entender o papel do perito num processo judicial, desde sua atuação quan- do nomeado até quando estiver exercendo a função de assistente técnico das partes envolvidas na lide. A didática do rito processual será delinea- da de forma bastante simples, de modo que você possa compreender os principais as- pectos inerentes à atividade da perícia judi- cial e extrajudicial, desde o deferimento da prova técnica pelo douto magistrado até o executar do labor pericial (aqui se inclui as diligências, a resposta aos quesitos, a con- clusão e entrega do laudo no cartório) e a resposta a esclarecimentos ou, por fim, em casos extremos, o depoimento em audiên- cia. 5/219 Unidade 1 Aspectos Históricos da Perícia Contábil Objetivos 1. Apresentar os aspectos históricos da perícia contábil no Brasil. 2. Aprender os fundamentos doutriná- rios sobre a utilidade social da perícia e da ética profissional. 3. Conhecer que legislação regulamenta a perícia. 4. Aprender as bases teóricas e concei- tuais sobre perícia e o profissional pe- rito. Unidade 1 • Aspectos Históricos da Perícia Contábil6/219 Introdução Esse conteúdo programático terá como principal abordagem o breve estudo da pe- rícia contábil a partir da exposição de alguns achados históricos no âmbito brasileiro, mas também almejará trazer à tona funda- mentos doutrinários, legislação e bases te- óricas da perícia. Você verá que, comparado ao resto do mundo, a perícia no Brasil pos- sui estudo e execução bastante recentes. Quanto ao comentário em questão, o sau- doso Sá (2009, p. 2) explica que as perícias contábeis “são muito antigas” e remontam “as manifestações de verificações sobre a verdade dos fatos, buscada por meios con- tábeis e elas já se manifestavam entre os sumérios-babilônios”. Para saber mais “O professor António Lopes de Sá faleceu aos 83 anos, na sua amada cidade de Belo Horizonte”. Ele nasceu em 1927 e representa um grande nome da contabilidade, publicando mais de 150 obras, além de artigos em jornais e revistas das mais va- riadas latitudes. “Possuidor de mais de trinta te- oremas e axiomas científicos contabilísticos, era doutor em Ciências Contábeis pela Universidade do Brasil do Rio de Janeiro”. APOTEC. Disponível em: <http://www.apotec. pt/pt/centro-de-estudos-composicao/an- tonio-lopes-de-sa-prof-doutor/>. Acesso em: 22 ago. 2017. http://www.apotec.pt/pt/centro-de-estudos-composicao/antonio-lopes-de-sa-prof-doutor/ http://www.apotec.pt/pt/centro-de-estudos-composicao/antonio-lopes-de-sa-prof-doutor/ http://www.apotec.pt/pt/centro-de-estudos-composicao/antonio-lopes-de-sa-prof-doutor/ Unidade 1 • Aspectos Históricos da Perícia Contábil7/219 No caso brasileiro, o século XX é marco ini- cial regulatório, sendo inclusive a profis- são do contador regulamentada apenas em 1946, com a criação do Conselho Federal de Contabilidade. Este e outros aspectos histó- ricos, como o I Congresso Brasileiro de Con- tabilidade, serão brevemente relatados no Tema 1. Embora a sua execução, no caso da perícia contábil, seja delineada à luz da boa técnica (aqui se menciona os princípios de conta- bilidade geralmente aceitos e as normas de contabilidade específicas) e dos princípios morais e éticos, esta deverá obedecer aos preceitos legais (o código do processo ci- vil, em especial) a serem relatados ao longo desta disciplina. Para que você compreenda a relevância des- sa atividade e sua utilidade social, a própria legislação federal que regula a atividade pericial, no caso o Código de Processo Civil (o já atualizado CPC – Lei nº 13.105/2015), se refere ao perito-contador como sendo um cientista, ou seja, um profissional alta- mente capacitado e de confiança do douto juízo para assumir o encargo legal. Faz-se importante relatar que a perícia será sempre deferida pelo magistrado, quando este, para fundamentar a sua decisão em determinada lide processual, necessitar de prova técnica de um especialista em qual- quer que seja a área do conhecimento hu- mano. Válido salientar que o comentário an- terior possui previsão legal fundamentada no art. 145 da Lei n. 5.869, de 11 de janeiro Unidade 1 • Aspectos Históricos da Perícia Contábil8/219 de 1973, in verbis: “Art. 145. Quando a prova do fato depender de conhecimento técnico ou científico, o juiz será assistido por perito, segundo o disposto no art. 421”. Com base na exposição acima, é preciso que você entenda que é condição obrigatória ao perito possuir especialidade técnica na ma- téria a ser decidida, sob pena de ter que se declarar impedido de executar determinado encargo. É preciso que você também entenda que o insumo básico para desenvolvimento da atividade do perito contábil transcenderá o conhecimento da contabilidade. A experiência aponta que deve o profissio- nal perito ter conhecimento de legislações como a societária, a trabalhista, a tributá- ria, a processual civil, dentre outras tantas. Apesar de a perícia repugnar a amostragem como critério, as técnicas de auditoria e sua forma imparcial de executá-la serão bem- -vindas quando da aceitação do encargo a que se é submetido quando da nomeação pelo magistrado. Ademais, o labor pericial exigirá do profis- sional o estudo contínuo, o desenvolvimen- to de capacidade investigativa, o pensar crí- tico, além do domínio de diversos assuntos que ultrapassam aqueles demasiadamente básicos e comuns aos demais profissionais da área. Além da obrigação de melhor servir dentro do prazo estipulado pelo magistrado, terá também o perito judicial a incumbência,perante a justiça, de elucidar determinados Unidade 1 • Aspectos Históricos da Perícia Contábil9/219 fatos e trazer a verdade fática às lides judi- ciais em que estiver nomeado. Anseia-se que a riqueza dos conteúdos in- trínsecos ou extrínsecos ao estudo da perícia contábil caia no gosto do leitor e que a lei- tura deste se torne prazerosa à medida que avançamos na abordagem do conteúdo. 1. Um pouco de história da perí- cia contábil e os primeiros rela- tos no Brasil Quando o assunto diz respeito aos primór- dios da perícia contábil no cenário bra- sileiro, os aspectos históricos mais rele- vantes que envolvem o desenvolvimento desta atividade, conforme desde já ensi- na Sá (2009), remetem à primeira metade do século XX, muito embora Alberto Filho mencione que já existissem “registros da nomeação de peritos contábeis no âmbito judicial em nosso País a partir do séc. XIX” (ALBERTO, 2010, p. 16). Em termos mundiais, e como diria Alberto (2012, p. 5), “a perícia existe desde os mais remotos tempos da humanidade”. Todavia, o perito aos olhos da sociedade à época era “aquele que, seja pela experiência ou pelo maior poderio físico, comandava a socieda- de”. Tais atribuições, ainda segundo o mes- mo autor, remontam o processo civilizatório e configuram “o germe básico correspon- dente ao exame de situação, coisa ou fato ali estava”. É bom desde cedo informar para o leitor ávi- do de compreender os principais relatos da Unidade 1 • Aspectos Históricos da Perícia Contábil10/219 origem dessa atividade que as nomeações de profissionais para exercerem a perícia no âmbito da justiça brasileira possuem pre- visão legal expressa, sendo as atribuições desses profissionais, desde o século XX, di- ferentes das observadas na antiguidade. Nesse mesmo diapasão, Ornelas (2011, p. 37) explica que no século XX, com as inú- meras edições do Código de Processo Civil, a legislação nacional contemplou “a possi- bilidade de o juiz nomear perito contábil [...] de sua confiança, quando precisar de auxílio especializado em seu processo decisório”. Necessário relatar para quem desde já tem a oportunidade de ler este material que o perito, no dizer de Alberto (2012, p. 4) é o “‘sujeito ativo da perícia’, que desenvolve esta atividade seja no sentido da verificação e percepção dos fatos (perito percipiente) ou no sentido de observar e apreciar fatos, emitindo juízo e conclusões a respeito deles (perito judicante)”. A leitura demonstra que foi grande contri- buição trazida para a atividade do perito no Brasil a ocorrência do I Congresso Brasilei- ro de Contabilidade, de 1924. Nesta esteira, o relato de Sá (2009) corrobora com o en- tendimento de que o marco da perícia em termos de discussão e de regulamentação ocorreu de fato a partir das calorosas dis- cussões ocorridas à época. Dentre as tantas discussões promovidas neste encontro, po- de-se relatar a busca por uma equação ide- al para a remuneração do profissional perito diante das horas que este despendia no la- bor da profissão. Unidade 1 • Aspectos Históricos da Perícia Contábil11/219 Ainda segundo leitura do mesmo autor, na ocasião tivemos por conclusas a iminente oficializa- ção da perícia judicial, com atribuição de fazer estritamente vinculado às Câmaras de contado- res e que, por sua vez, deveriam ser fiscalizadas por conselhos de contabilidade. Por simples análise cronológica, observa-se que à época de ocorrência do referido congresso, ou seja, no ano de 1924 não se havia instituído o Conselho Federal de Contabilidade e tampouco se encontrava regulamentada a profissão de contador, sendo o órgão fiscalizador criado e a profis- são regulamentada a partir do DL 9.295/1946. Por complemento, pode-se relatar que o referido Decreto-Lei, em seu art. 26, deixou definido que as perícias deveriam desde então “ser privativas dos contadores diplomados”, e de fato, a alínea “c” deste decreto (1946) relata que são conferidas por lei aos profissionais de contabilidade as perícias judiciais ou extrajudiciais, revisão de balanços e de contas em geral, verificação de haveres revisão permanente ou periódica de escritas, regula- ções judiciais ou extrajudiciais de avarias grossas ou comuns, assistência aos Conselhos Fiscais das sociedades anônimas e quaisquer outras atribuições. Unidade 1 • Aspectos Históricos da Perícia Contábil12/219 Embora não existisse uma regulamentação das atribuições do contador até 1946, Ma- galhães (2017, p. 3) lembra que “o Código de Processo Civil (CPC) de 1939 já estabelecia vagas regras sobre perícia”. Ademais, o mes- mo autor ainda relata “que também a Legis- lação Falimentar – Decreto-lei nº 7.661/45 [...] estabeleceu regras de Perícia Contábil, que definiam esta atribuição ao contador”. Por derradeiro, é relativamente importante comentar que a base normativa referente à perícia nos processos cíveis e trabalhistas, como diriam Magalhães et al. (2013), re- monta o conjunto atual da “Legislação Pro- cessual Trabalhista” (LPT). Tal conjunto con- ta com a contribuição de um combinado de leis, em especial com a Consolidação das Leis do Trabalho – Decreto-lei n° 5.452/1943. Se o fato de existirem no início do século XX leis com abordagem pouco orientadoras ao exercício da perícia contábil no Brasil repre- sentasse um problema ao profissional da época, mais grave nos parece ser a ausên- cia de obras técnicas escritas a respeito da atividade pericial, tamanha a importância e complexidade do labor da profissão. Ademais, com relação a obras específicas a respeito da perícia contábil, Sá (2009) men- ciona que a primeira surgiu no Brasil na dé- cada de 1920, escrita pelo professor João Luiz Santos e denominada por Perícia em contabilidade comercial, com direito à se- gunda edição em 1928. Complementa ain- da que grande contribuição no avanço da profissão foi a criação da Câmara de Peritos Contadores, que surgiu em 1931, com par- Unidade 1 • Aspectos Históricos da Perícia Contábil13/219 ticipação ativa do professor Erymá Carneiro. Discorridos aqui e ali os aspectos legais e técnicos, que foram os primeiros passos de todo o arcabouço normativo e técnico atual, avançaremos com o estudo deste conteúdo programático efetuando uma leitura dos fundamentos doutrinários que circundam a perícia na seção 1 e, em seguida, com uma abordagem resumida da legislação básica no cenário brasileiro. 2. Fundamentos doutrinários so- bre a perícia e da ética profissio- nal do perito Ao relatar a respeito dos fundamentos te- óricos da perícia, é extremamente impor- tante que seja formado inicialmente o en- tendimento conceitual à luz de uma teoria generalista, pois esta pode ser aplicada a qualquer área do conhecimento humano. Como diria Magalhães (2017, p. 4), a perí- cia possui seu entendimento, como sendo um “trabalho de natureza específica, cujo rigor na execução seja profundo”. Quanto à sua aplicação no meio judicial, lembra ainda que o “processo é que a classificará, poden- do ser de origem arbitral, judicial, extrajudi- cial, administrativa ou operacional”. Link Dissertação – A perícia forense no Brasil, por Ale- xandre Alberto Gonçalves da Silva (Catálogo USP). Disponível em: <http://www.teses.usp. br/teses/disponiveis/3/3142/tde-11082010- 152328/fr.php>. Acesso em: 21 ago. 2017. http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/3/3142/tde-11082010-152328/fr.php http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/3/3142/tde-11082010-152328/fr.php http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/3/3142/tde-11082010-152328/fr.php Unidade 1 • Aspectos Históricos da Perícia Contábil14/219 Alberto (2012, p. 1), ao analisar a questão, define a perícia como “conhecimento e ex- periência das coisas”. Posto isso, embora haja uma visão mais generalista do assunto, você formará a partir do estudo desta disci- plina o conceito de perícia a partir de uma abordagem contábil. Outrossim, no estudo desta disciplina nos limitaremos a tratar da perícia com bastan- te brevidade nos meiosjudicial e extraju- dicial, conforme você já pôde observar na apresentação da disciplina. Alberto (2012, p. 3), reforçando os limites que pretendemos obedecer, menciona que a perícia tem por finalidade “atender aque- le que dela se utiliza, o usuário do trabalho pericial, judicial ou extrajudicial”. Ainda re- lata que esta, ao “transmitir uma opinião abalizada sobre o estado verdadeiro do ob- jeto (a matéria), sobre o qual foi instada a se manifestar”, dá sua parcela de contribuição à sociedade ao desvendar fatos que, por sua vez, solucionam controvérsias. Feitas tais ponderações e diferentemente de diversos autores que definem de forma bastante diversa o entendimento da perí- cia contábil, traremos uma definição chan- celada pelo Conselho Federal de Contabi- lidade a respeito do assunto. Aliás, Costa (2016, p. 5) corrobora com a nossa abor- dagem quando relata que “a definição é bastante ampla e atende perfeitamente à nossa visão sobre o tema”. Colabora com o entendimento e defini- ções da perícia Magalhães et al. (2013, p. 4) quando atribui à perícia o status de “notória Unidade 1 • Aspectos Históricos da Perícia Contábil15/219 especialização feito com o objetivo de obter prova ou opinião para orientar uma autoridade for- mal no julgamento de um fato, ou desfazer conflito em interesses de pessoas”. Nesta esteira, o Conselho Federal de Contabilidade define perícia, no item 2 da NBC TP 01, como sendo: o conjunto de procedimentos técnico-científicos destinados a levar à ins- tância decisória elementos de prova necessários a subsidiar à justa solu- ção do litígio ou constatação de um fato, mediante laudo pericial contábil e/ou parecer pericial contábil, em conformidade com as normas jurídicas e profissionais, e a legislação específica no que for pertinente. Para saber mais Como diria Capez (2014, p. 99) “o termo em tela é oriundo do latim probatio, representa o conjunto de atos praticados pelas partes, pelo juiz (CPP, art. 156, incisos I e II, com redação determinada pela Lei 11.690/08, 209 e 234) e por terceiros, destinados a levar ao magistrado a convicção acerca da existência ou inexistência de um fato, da falsidade ou veracidade de uma afirmação. Trata-se, portanto, de todo e qualquer meio de percepção empregado pelo homem com a finalidade de comprovar a verdade de uma alegação”. Unidade 1 • Aspectos Históricos da Perícia Contábil16/219 Apesar da longa definição, esta se com- porta de forma completa, pois veja que os procedimentos periciais são relatados com caráter técnico e científico, o que significa dizer que a perícia requer prática (empi- rismo) e conhecimento da ciência contábil (tecnologia). Outro aspecto que deve ser entendido por você é que os elementos de prova mencio- nados serão solicitados pelo magistrado sempre que houver um processo judicial instaurado. Desta feita, a perícia será utili- zada sempre que necessária e com a inten- ção de deslindar fato controvertido, ou seja, será um elemento de prova aceito (deferi- do) pelo juiz, e, diga-se de passagem, possui previsão legal para tanto. Costa (2016, p. 5) relembra que servir como prova diante do judiciário significa que esta, no caso a perícia, também chamada nos autos de prova técnica, possui respaldo na lei de acordo com os “meios processuais ou materiais considerados idôneos pelo orde- namento jurídico para demonstrar a verda- de, ou não, da existência e verificação de um fato jurídico”. Definido e detalhado o entendimento do que seja conceitualmente a perícia, é ne- cessário que definamos o sujeito da perícia, no caso, o perito. Magalhães (2017, p. 4) ressalta que o art. 1º da Lei nº 7.270/1984, quando alterou o art. 145 do CPC, cujos §§ 1º e 2º expressam: Unidade 1 • Aspectos Históricos da Perícia Contábil17/219 § 1º Os peritos serão escolhidos entre profissionais de nível universitário, devidamente inscritos no órgão de classe competente; § 2º […] comprova- rão sua especialidade […] mediante certidão do órgão profissional em que estiverem inscritos. Os dois parágrafos do art. 145 desde já delimitam quem pode atuar como profissional da perícia, e frise-se que tal determinação já estava expressa desde a criação do Conselho Federal em 1946. Sá (2009, p. 2) certifica o comentário acima quando expôs em sua obra que “só na década de 40, todavia, seria regulamentada a profissão de contador, época em que se fez privativa do contador à perícia (DL 9.295/46)”. Link Vídeo – Perícia Contábil e o Conselho Federal de Contabilidade, por Elys Carvalho. Perícia Contábil: entre- vistas de peritos contadores na região do Sudeste. Disponível em: <https://www.youtube.com/wat- ch?v=OWu5BGcR7bU&spfreload=10>. Acesso em: 21 ago. 2017. https://www.youtube.com/watch?v=OWu5BGcR7bU&spfreload=10 https://www.youtube.com/watch?v=OWu5BGcR7bU&spfreload=10 Unidade 1 • Aspectos Históricos da Perícia Contábil18/219 3. Legislação básica atrelada à perícia contábil no cenário bra- sileiro Quando o assunto é a legislação básica atrelada à perícia contábil no Brasil, o orde- namento jurídico existente no início do sé- culo XX, conforme amplamente comentado por Magalhães (2017), carecia de clareza em seus dispositivos e normas. As legislações relatadas basicamente eram o vigente Decreto-Lei nº 1.608, de 18 de setembro de 1939, também denominado Código de Processo Civil (CPC); o Decreto- -lei nº 7.661/1945, conhecido como sendo a Legislação Falimentar da época; e, por fim, o Decreto-lei nº 9.295/1946, que, como já comentamos, criou o CFC e definiu, dentre outras coisas, as atribuições do contador. Ainda segundo o relato de Magalhães (2017, p. 3) ao modificar a Legislação Falimentar de 1945, através da Lei nº 4.983/1966, “em seus arts. 63, inciso VI; 93, parágrafo único; 169, inciso VI; 211 e 212, incisos I e II – esta- beleceu regras de Perícia Contábil”. Mas, conforme suscita Hoog (2001, [s.p.]), foi a Lei nº 5.869/1973 que contribuiu de forma bastante relevante com as perícias judiciárias, deixando-as “agasalhadas com tratamento mais cristalino”. Neste sentido, a legislação em tela teve sua última altera- ção recentemente, através da entrada em vigor Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015. Unidade 1 • Aspectos Históricos da Perícia Contábil19/219 Em continuidade deste assunto, Magalhães (2017, p. 3) explana que a Lei nº 13.105/2015 cons- titui na realidade brasileira um conjunto com as atualizações do Código de Processo Penal (CPP – al- teração da Lei nº 11.960/2008), da Lei Processual Trabalhista (LTP – Lei nº 5.584/1970) e da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT – Decreto-lei nº 5.452/1943), combinadas às jurisprudências de natureza processual. Já no que diz respeito às normas contábeis inerentes à perícia, Costa (2016) lembra-se da impor- tância da Resolução n° 1.243/2009 do CFC, sendo esta norma contábil responsável pela aprova- ção da NBC TP 01 – Perícia Contábil. Ainda quando o assunto é a norma de Perícia Contábil supracitada, observa-se que a ata aprova- da prevê aspectos conceituais, de execução, procedimentos e planejamento, este último com as previsões a respeito do desenvolvimento do trabalho pericial, dos riscos e custos, além de uma abordagem a respeito da equipe técnica e cronograma. Ademais a normativa ainda prescreve a respeito do termo de diligência, do laudo do parecer pe- ricial com explicações a respeito da apresentação de ambos (estrutura, assinatura em conjunto, esclarecimentos, quesitos e respostas). Unidade 1 • Aspectos Históricos da Perícia Contábil20/219 Não pouco relevante, a Resolução n° 1.244/2009 do CFC aprovou a NBC PP 01 – Perito Contábil, sendo esta norma tão im- portante quanto a norma que trata da Perí- cia Contábil (NBC TP 01). Dentre os assun- tos mais relevantes da norma em tela estão as abordagens que se observa e que tratam da competência profissional, da educação continuada, da independência do profissio- nal e das diversas abordagens de impedi- mento e suspeição. Aindadispõe sobre o sigilo, a responsabili- dade e a ética profissionais, as implicações civil e penal, a que o perito está inserido no desenvolver do encargo, além de observa- ções a respeito do zelo ao desempenhar o labor pericial. Por derradeiro, a mesma norma estabele- ce parâmetros quanto aos esclarecimentos quando necessários, a utilização do traba- lho de especialistas, honorários e a elabora- ção de propostas. Link Vídeo – Diálogos: perícia contábil e o mercado de trabalho, por UnBTV. Disponível em: <https:// www.youtube.com/watch?v=4KkWvibXEU- Q&t=120s>. Acesso em: 21 ago. 2017. https://www.youtube.com/watch?v=4KkWvibXEUQ&t=120s https://www.youtube.com/watch?v=4KkWvibXEUQ&t=120s https://www.youtube.com/watch?v=4KkWvibXEUQ&t=120s Unidade 1 • Aspectos Históricos da Perícia Contábil21/219 Glossário Lide: Trata-se do conflito de interesses manifestado em juízo. Tal termo é muitas vezes utilizado como sinônimo de ação, porém na verdade aquela (lide) é um meio pelo qual se exercita o direito a esta (ação). Significa demanda, litígio, pleito judicial1. Perícia judicial: O exame de situações ou fatos relacionados a coisas e pessoas, praticado por especialistas na matéria que lhe é submetida, com o objetivo de elucidar determinados aspectos técnicos2. Verdade fática: Expressão usada para referir-se a discursos de verdades emocionantes, que cos- tumam gerar comoção e bons sentimentos nos ouvintes; o que propicia a sociabilidade3. 1 Disponível em: <http://www.direitonet.com.br/dicionario/exibir/873/Lide/>. Acesso em: 10 ago. 2017. 2 Disponível em: <https://www.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/direito/definicao-de-pericia-judicial/36328/>. Acesso em: 10 ago. 2017. 3 Disponível em: <http://www.dicionarioinformal.com.br/verdade%20f%C3%A1tica/>. Acesso em: 10 ago. 2017. http://www.direitonet.com.br/dicionario/exibir/873/Lide/ https://www.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/direito/definicao-de-pericia-judicial/36328/ http://www.dicionarioinformal.com.br/verdade%20f%C3%A1tica/ Questão reflexão ? para 22/219 Como você viu, as perícias contábeis por previsão legal deman- dam profissionais com notória especialização. Diante da necessi- dade de decisão do douto magistrado, sempre que esta depender de uma competência técnica para que a lide seja elucidada, o juiz, por previsão legal, será assistido por perito. Atualmente o mercado e a justiça sinalizam pela importância deste profissional e sua atu- ação é, de certa forma, reconhecida, inclusive sob o ponto de vis- ta da remuneração. Pesquise qual era a condição de atuação deste profissional do ponto de vista de reconhecimento e importância da profissão no início do século XX. Em seguida, reflita que aspectos sociais influenciaram a situação. 23/219 Considerações Finais Diante do que foi tratado neste conteúdo programático abordou-se basica- mente os aspectos iniciais que envolvem a perícia contábil no ambiente brasi- leiro, com foco: • No histórico e evolução da perícia desde o século XX até o cenário brasileiro contemporâneo. • Na abordagem de conceitos da perícia, com foco na perícia contábil e no sujeito da perícia: o perito. • Na legislação pertinente e que regula a perícia contábil no Brasil. • Nos pormenores e procedimentos contidos nas Normas Brasileiras de Con- tabilidade. Unidade 1 • Aspectos Históricos da Perícia Contábil24/219 Referências ALBERTO, F. R. P. Da perícia ao perito. 2. ed. rev. e ampl. Rio de Janeiro: Impetus, 2010. ALBERTO, Valder Palombo. Perícia contábil. São Paulo: Atlas, 2012. ______. Perícia contábil. 5. ed. São Paulo: Altas, 2017. BRASIL. Decreto-Lei n° 5.452, de 1° de maio de 1943. Aprova a Consolidação das Leis do Tra- balho. Rio de Janeiro, 1943. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/ Del5452.htm>. Acesso em: 10 ago. 2017. ______. Decreto-Lei n° 9.295, de 27 de maio de 1946. Cria o Conselho Federal de Contabilida- de, define as atribuições do Contador e do Guarda-livros, e dá outras providências. Rio de Janeiro, 1946. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del9295.htm>. Acesso em: 10 ago. 2017. ______. Lei nº 4.983, de 18 de maio de 1966. Altera disposições do Decreto-lei número 7.661, de 21 de junho de 1945 (Lei de Falências). Brasília, 1966. Disponível em: <http://www.planalto. gov.br/ccivil_03/leis/L4983.htm>. Acesso em: 10 ago. 2017. ______. Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de 1973. Institui o Código de Processo Civil. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L5869.htm>. Acesso em: 10 ago. 2017. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del5452.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del5452.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del9295.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L4983.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L4983.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L5869.htm Unidade 1 • Aspectos Históricos da Perícia Contábil25/219 ______. Lei nº 7.270, de 10 de dezembro de 1984. Acrescenta Parágrafos ao art. 145, da Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de 1973 – Código de Processo Civil. Brasília, 1984. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/1980-1988/L7270.htm>. Acesso em: 10 ago. 2017. ______. Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015. Código de Processo Civil. Brasília, 2015. Dispo- nível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm>. Acesso em: 10 ago. 2017. COSTA, João Carlos da. Perícia contábil – aplicação prática. São Paulo: Atlas, 2016. CAPEZ, Fernando. Curso de processo penal. 20. ed. São Paulo: Saraiva, 2014. CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE. Normas brasileiras de contabilidade. NBC TP 01 – da Perícia Contábil; Resolução CFC n° 1.243/2009. HOOG, Wilson Alberto Zappa. Prova pericial contábil: aspectos práticos & Fundamentais. Curi- tiba: Juruá, 2001. ORNELAS, M. M. G. Perícia contábil. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2011. MAGALHÃES, Antônio de Farias. Perícia contábil – uma abordagem teórica, ética, legal, proces- sual e operacional. 8. ed. São Paulo: Atlas, 2017. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/1980-1988/L7270.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm Unidade 1 • Aspectos Históricos da Perícia Contábil26/219 MAGALHÃES, Antônio de Deus Farias et al. Perícia contábil. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2013. SÁ, Antônio Lopes de. Perícia contábil. 9. ed. São Paulo: Atlas, 2009. 27/219 1. As perícias deveriam, por previsão legal, ser “privativas dos contadores diplomados”. Todas as atividades a seguir são consideradas privativas dos peritos, EXCETO: a) Perícias judiciais ou extrajudiciais. b) Assistência aos consumidores finais das sociedades anônimas e quaisquer outras atribui- ções. c) Regulações judiciais ou extrajudiciais de avarias grossas ou comuns. d) Verificação de haveres, revisão permanente ou periódica de escritas. e) Revisão de balanços e de contas em geral. Questão 1 28/219 2. Assinale a alternativa que preenche corretamente as lacunas. Os peritos serão escolhidos entre profissionais de nível _________, devidamente inscritos no _________ competente de modo que comprovarão sua especialidade mediante _________ do órgão profissional em que estiverem inscritos. a) médio; órgão fiscal; certidão. b) universitário; órgão de classe; carteira de registro. c) técnico; órgão fiscal; carteira de registro. d) técnico; órgão de classe; certidão. e) universitário; órgão de classe; certidão. Questão 2 29/219 3. A respeito da perícia, todas as assertivas estão corretas, EXCETO: a) A perícia existe desde os mais remotos tempos da humanidade. b) A perícia tem por finalidade atender aquele que dela se utiliza, o usuário do trabalho pericial, judicial ou extrajudicial. c) O perito é o sujeito passivo da perícia, que desenvolve esta atividade aguardando o resulta- do da decisão judicial para poder emitir sua opinião. d) A parcela de contribuição do perito corrobora em transmitir uma opinião abalizadasobre o estado verdadeiro do objeto (a matéria). e) O perito, aos olhos da sociedade à época, era aquele que, seja pela experiência ou pelo maior poderio físico, comandava a sociedade. Questão 3 30/219 4. Assinale a opção em que se observa a correta definição de perícia contábil: a) O conjunto de procedimentos técnicos destinado a levar à instância decisória elementos de prova necessários para subsidiar a justa solução do litígio ou constatação de um fato, me- diante laudo pericial contábil e/ou parecer pericial contábil, em conformidade com as nor- mas jurídicas e profissionais, e a legislação específica no que for pertinente. b) O conjunto de procedimentos científicos destinado a levar à instância decisória elementos de prova necessários para subsidiar a justa solução do litígio ou constatação de um fato, mediante laudo pericial contábil e/ou parecer pericial contábil, em conformidade com as normas jurídicas e profissionais, e a legislação específica no que for pertinente. c) O conjunto de procedimentos técnicos destinado a levar à instância decisória elementos de prova necessários para subsidiar a injusta solução do litígio ou constatação de um fato, mediante laudo pericial contábil e/ou parecer pericial contábil, em conformidade com as normas jurídicas e profissionais, e a legislação específica no que for pertinente. Questão 4 31/219 Questão 4 d) O conjunto de procedimentos técnico-científicos destinados a levar à instância decisória elementos de prova necessários para subsidiar a injusta solução do litígio ou constatação de um fato, mediante laudo pericial contábil, em conformidade com as normas jurídicas e profissionais, e a legislação específica no que for pertinente. e) O conjunto de procedimentos técnico-científicos destinados a levar à instância decisória elementos de prova necessários para subsidiar a justa solução do litígio ou constatação de um fato, mediante laudo pericial contábil e/ou parecer pericial contábil, em conformidade com as normas jurídicas e profissionais, e a legislação específica no que for pertinente. 32/219 5. Assinale a alternativa que preenche corretamente as lacunas. As perícias contábeis são _________ e remontam às manifestações de verificações sobre a _________, buscada por meios _________ e elas já se manifestavam entre os sumérios-babilônios. a) muito antigas; verdade dos fatos; contábeis. b) muito antigas; parte dos fatos; financeiras. c) bem recentes; verdade dos fatos; contábeis. d) muito antigas; parte dos fatos; econômicos. e) bem recentes; meias verdades; econômicos. Questão 5 33/219 Gabarito 1. Resposta: B. A abordagem correta desta opção seria: “as- sistência aos Conselhos Fiscais das socieda- des anônimas e quaisquer outras atribui- ções, e não aos consumidores finais como relatado”. 2. Resposta: E. A questão torna-se assertiva apenas se as- sim estiver disposta: Os peritos serão esco- lhidos entre profissionais de nível superior, devidamente inscritos no órgão de classe competente de modo que comprovarão sua especialidade mediante certificado do ór- gão profissional em que estiverem inscritos. 3. Resposta: C. O perito no desenvolver do labor pericial desenvolve ativamente. Seu trabalho con- tribui para que seja proferida uma decisão por parte do magistrado. 4. Resposta: E. Este é o entendimento técnico correto: A perícia contábil é o conjunto de procedi- mentos técnico-científicos destinados a le- var à instância decisória elementos de prova necessários a subsidiar à justa solução do li- tígio ou constatação de um fato, mediante laudo pericial contábil e/ou parecer pericial contábil, em conformidade com as normas jurídicas e profissionais, e a legislação espe- cífica no que for pertinente. 34/219 Gabarito 5. Resposta: A. Esse é o entendimento técnico correto: As perícias contábeis são muito antigas e re- montam às manifestações de verificações sobre a verdade dos fatos, buscada por meios contábeis, e elas já se manifestavam entre os sumérios-babilônios. 35/219 Unidade 2 A Perícia Judicial Objetivos 1. Expor preliminares conceituais inerentes ao assunto. 2. Estudar como ocorrem a nomeação, a in- timação e a substituição do perito no pro- cesso. 3. Abordar as fases do ciclo da perícia judicial. 4. Demonstrar os possíveis objetos da perícia judicial. 5. Abordar a importância do comportamento ético entre os peritos. Unidade 2 • A Perícia Judicial36/219 Introdução Como você bem viu, foram estudados ante- riormente os aspectos históricos da perícia contábil no cenário brasileiro. A partir de agora, serão estudadas as principais carac- terísticas da perícia contábil no âmbito do judiciário, com ênfase nos principais con- ceitos. A perícia, a partir desta leitura, será trazida como um valioso elemento de pro- va, ressalvados os momentos do processo em que possa ser deferida pelo magistrado, essa poderá inclusive ser trazida aos autos na petição inicial. Mas veja-se que na maioria das situações a perícia, ou prova técnica, embasará a fase de instrução e conhecimento e outras si- tuações da fase de liquidação de sentença. Ademais, muito importante que a perícia seja realizada por profissional conhecedor da matéria, sabendo que fará interação com outros profissionais que devem ter uma postura extremamente pautada pela ética e cordialidade. 1. Preliminares conceituais e a perícia judicial contábil É muito importante mencionar de início que a perícia judicial só ocorrerá se o seu pedi- do for deferido pelo magistrado ou quando este, por conta da necessidade de profe- rir sua sentença, a considere indispensável para elucidação da verdade dos fatos. Unidade 2 • A Perícia Judicial37/219 Comumente, nos processos judiciais nos referimos à perícia usando o termo prova técnica. Geralmente o pedido é realizado nos autos do processo por uma das partes envolvidas na lide e, como bem lembra Sá (2009, p. 63), a “perícia judicial é específica e define-se pelo texto da lei; estabelece o artigo 420 do Código de Processo Civil na parte relativa ao ‘Processo de Conhecimento’”. Nesse sentido, a perícia judicial no proces- so de conhecimento está prevista no arti- go 156 do Novo Código Processo Civil – Lei n. 13.105, de março de 2015 in verbis: “Art. 156. O juiz será assistido por perito quan- do a prova do fato depender de conheci- mento técnico ou científico”. É legalmente entendida como elemento de prova. Como bem esclarece Sá (2009, p. 63) “geralmente é aceita quando as provas dos autos são in- suficientes para o esclarecimento”. Ademais, a prova pericial possui interação com as demais provas sendo inserida no contexto jurídico brasileiro, assim como: o Para saber mais De acordo Marttinolo, (D’AURIA apud MAGA- LHÃES et al., 2017, p. 5) a perícia judicial: “[…] é o testemunho de uma ou mais pessoas técnicas (experts), no sentido de fazer conhecer um fato cuja existência não pode ser acertada ou juridi- camente apreciada, senão apoiada em especiais conhecimentos científicos ou técnicos”. Unidade 2 • A Perícia Judicial38/219 depoimento pessoal, a confissão, a exibição de documento ou coisa, o testemunho e a inspeção judicial (ALBERTO, 2012). Em termos contábeis, a perícia judicial, de- pendendo do tipo da ação, pode, segundo Sá (2009), ser total ou parcial e consistirá, segundo o artigo 464 do Código de Proces- so Civil, em “exame, vistoria ou avaliação”. Como diria Koliver (apud SÁ, 2009, p. 33) “é o patrimônio, na sua expressão mais ampla” a totalidade de “aspectos quantitativos e qualitativos, não somente em termos está- ticos, mas principalmente dinâmicos, isto é, das suas variações”. Não obstante, o objeto da contabilidade, uma vez consubstanciado no estudo do pa- trimônio, pode ser examinado pelo perito (no nosso caso, o contador) em caráter par- cial quando da elaboração da prova técnica de forma que este verificará bens, valores, saldos, lançamentos contábeis, extratos, apurações etc. Aliás, Ornelas(2003, p. 26) menciona que a “função primordial da prova pericial é a de demonstrar os fatos relativos à lide, de natureza técnica ou científica, em verdade formal, em certeza jurídica”. De antemão e em continuação desse argumento, Orne- las (1995, p. 19) enfatiza que o perito nesse contexto tem necessidade de Unidade 2 • A Perícia Judicial39/219 aprender algumas noções fundamentais quanto ao instituto da prova, qual a fun- ção da prova, a quem compete o ônus, os meios de prova contábeis disponíveis, bem assim os tipos de prova, sobre os quais estará desenvolvendo seu mister. E a respeito da certeza jurídica, Ornelas (2003) citado por Bonumá (apud MILHOMENS, 2009, p. 24) esclarece que “a prova, no significado comum e geral, visa à demonstração da verdade, ao passo que a prova específica e processual civil limita-se à produção da certeza jurídica”. De fato, como infere Silva e Leite ([s.d.], p. 19), a segurança e a certeza jurídica são princípios deslocados em sua força e essência do perfil do Estado de Direito e do Welfere – a garantia do direito pensado em termos do passado ou no vislum- bre do amanhã, respectivamente – para uma concepção de garantia emoldura- da pela ‘previsibilidade’ das decisões judiciais para atender a lógica do mercado prevalecente. O trecho citado enaltece a importância da segurança e da certeza jurídica e, na mesma esteira, colabora com este feito, a prova técnica, ou como esclarece Sá (2009), a prova pericial ou sim- plesmente perícia são extremamente importantes para deslindar a verdade dos fatos de forma Unidade 2 • A Perícia Judicial40/219 a contribuir para que os objetivos no âmbi- to do judiciário sejam consubstanciados em decisões mais justas e assertivas. Em continuidade ao que fora menciona- do, é relevante lembrar que o ordenamen- to jurídico vigente traz na letra fria da Lei n. 13.105/2015, em seu artigo 156, § 1º, a previsão legal quanto à nomeação de deter- minado profissional que desempenhe suas funções com excelência e alta capacidade em determinadas matérias. 2. Nomeação, indicação e inti- mação do perito e o ciclo da pe- rícia judicial No âmbito do direito, como bem relata Ro- drigues (1985, [s.p.]), a “perícia é uma me- dida de instrução necessitando de investi- gações complexas, confiadas pelo juiz, em virtude de seu poder soberano de aprecia- ção, a um especialista”. Link Vídeo: Prova Pericial, Prova Final – Direito Proces- sual Penal. Disponível em: <https://www.you- tube.com/watch?v=I65qlvlaBuY>. Acesso em: 21 ago. 2017. https://www.youtube.com/watch?v=I65qlvlaBuY https://www.youtube.com/watch?v=I65qlvlaBuY Unidade 2 • A Perícia Judicial41/219 Aliás, a Lei n. 13.105/2015, em seu o artigo 156, § 1º, preconiza que os peritos “serão nomeados entre os profissionais legalmen- te habilitados e os órgãos técnicos ou cien- tíficos devidamente inscritos em cadastro mantido pelo tribunal ao qual o juiz está vinculado”. Nos termos da legislação vigen- te, não é possível que se exerça no âmbito do judiciário o labor pericial sem que haja o preenchimento desses requisitos. Em que pese tal exigência legal, diante da aprovação do Novo Código do processo Ci- vil de 2015, o seu artigo 156 ainda traz, no § 2°, que para formação do cadastro, os tri- bunais Para saber mais Diante das investigações complexas menciona- das, Magalhães (2017, p. 4) lembra que a Associa- ção dos Peritos Judiciais do Estado de São Paulo, ao aprovar as primeiras 30 Normas e Procedimentos de Perícia Judicial (NPPJ), contribuiu com algumas conceituações. NPPJ-2: “A perícia judicial, quan- do pertinente a profissões regulamentadas, será exercida por profissionais legalmente habilitados, com títulos registrados nos órgãos fiscalizadores do exercício de suas profissões, requeridas, ainda, reconhecida idoneidade moral, capacidade técni- ca e experiência profissional”. Unidade 2 • A Perícia Judicial42/219 devem realizar consulta pública, por meio de divulgação na rede mundial de computadores ou em jornais de grande circulação, além de consulta direta a universidades, a conselhos de classe, ao Ministério Público, à De- fensoria Pública e à Ordem dos Advogados do Brasil, para a indicação de profissionais ou de órgãos técnicos interessados. O § 3° relata ainda que os tribunais “realizarão avaliações e reavaliações periódicas para manu- tenção do cadastro, considerando a formação profissional, a atualização do conhecimento e a experiência dos peritos interessados”. Nesse sentido, o magistrado, uma vez que careça de opi- nião técnica de especialista para proferir determinada sentença judicial em curso ou em outros casos que necessite de arbitramento técnico de valores, proferirá decisão nos autos de um de- terminado processo e nomeará profissional com elevada estima e saber notável na matéria alvo de discussão. Por força do artigo 157 do CPC, uma vez nomeado para determinada demanda, o perito será intimado por meio eletrônico e terá o dever de cumprir o encargo a que foi submetido podendo inclusive se escusar de tal incumbência, uma vez que apresente motivo legítimo. Unidade 2 • A Perícia Judicial43/219 Diante dessa situação, o magistrado, em atendimento ao parágrafo único do artigo 467 do CPC, pode vir a aceitar a escusa ou julgar procedente a impugnação, e nesse momento nomeará novo perito. Também está previsto no artigo 146 que o perito deve apresentar, em até 15 dias a contar da data da intimação (data do conhecimento do fato), os motivos da escusa. Nessa mesma linha de raciocínio, Silva (1999, p. 665) expõe que a “escusa é tomada em signifi- cação mais especial: exprime a justificativa [...], causa ou razão que possam justificar para que se livre o recusante de qualquer sanção por não ter aceito, não ter feito ou não ter cumprido alguma coisa”. Mas, veja os relatados de Alberto (2012, p. 62-63) a respeito dos motivos considerados pelo texto do CPC como sendo legítimos: (a) aqueles que tornem-no inapto para determinada perícia, por ausência de conhecimento técnico específico que o caso requer [...]; ( Link Modelo de Escusa do Perito. Disponível em: <http://portal.toledoprudente.edu.br/upload/usua- rios/1148/aulas/Escusa%20em%20Pericia%20Judicial.pdf>. Acesso em: 21 ago. 2017. http://portal.toledoprudente.edu.br/upload/usuarios/1148/aulas/Escusa em Pericia Judicial.pdf http://portal.toledoprudente.edu.br/upload/usuarios/1148/aulas/Escusa em Pericia Judicial.pdf Unidade 2 • A Perícia Judicial44/219 b) aqueles que tornem-no inapto por representar o encargo grave dano a si, bem como a seu cônjuge e a seus parentes consanguíneos ou afins, em linha reta, ou na colateral em segundo grau; ou versar sobre fatos cujo res- peito, por estado ou profissão, deva guardar sigilo; (c) aqueles aplicáveis à suspeição e impedimentos do juiz, devendo considerar-se, ainda que a nin- guém é dado eximir-se de colaborar para que a verdade venha aos autos. Outrossim, caso assuma o encargo, o perito deve exercer o seu mister com excelência, pois do contrário poderá ser também substituído (conforme explicita o artigo 467 do CPC, em seus inci- sos I e II). Da mesma forma, se “faltar-lhe conhecimento técnico ou científico e/ou quando sem motivo legítimo, deixar de cumprir o encargo no prazo que lhe foi assinado”, também será confi- gurada a necessidade de substituição do perito. Ressalte-se que caso não haja impedimento ou suspeição do perito nomeado este, como diria Alberto (2012, p. 41), realizará o trabalho pericial “dentro dos procedimentos processuais do Po- der Judiciário, por determinação, requerimento ou necessidade de seus agentes ativos”. Relem- bra nesse sentido que a perícia será ou “prova ou arbitramento”. Unidade 2 • A Perícia Judicial45/219 Complementa o autor que na primeira si- tuação servirá de prova técnica a perícia quando esta “tiver por escopo trazer a ver- dade” com intuito de deslindar a causa. Ademais, poderá a perícia ser considerada como arbitramento quandoesta tiver por objeto “quantificar mediante critério técni- co a obrigação de dar”. Veja ainda que Magalhães (2017, p. 8) lem- bra que “depois da nomeação do perito, po- dem as partes ou uma delas indicar assisten- te técnico Perito da Parte”. É extremamente relevante que tais indicações ocorram, pois o perito do juízo será assistido muitas vezes por esses profissionais através do forneci- mento de documentos e de esclarecimen- tos que se façam necessários. Os peritos farão diligências sempre que for necessário obter informações ou documen- tos para elaboração do laudo pericial con- tábil. Por força do § 2º do art. 465 do CPC, o auxiliar da justiça “deve assegurar aos as- sistentes das partes o acesso e o acompa- nhamento das diligências e dos exames que realizar, com prévia comunicação, compro- vada nos autos, com antecedência mínima de 5 (cinco) dias”. Para saber mais De acordo com o item 13.4.1.5 da NBC T 13 – Da Perícia Contábil, constitui um dos procedimentos técnicos de perícia contábil e que visam funda- mentar as conclusões do perito, estando defini- das como sendo “[...] a determinação de valores ou a solução de controvérsia por critério técnico”. Unidade 2 • A Perícia Judicial46/219 O ciclo normal da perícia, segundo Sá (2009, p. 64), consiste nas fases: “preliminar, ope- racional e final”. 3. O comportamento ético entre os peritos Como bem relembra Sá (2009, p. 75), uma vez que a “perícia judicial é feita com a par- ticipação de três profissionais, necessário se faz o exercício de um comportamento ético pautado pela cordialidade e respeito”. Os profissionais envolvidos devem encher- -se de virtudes e de excelência moral e inte- lectual e, como menciona Alberto (2012, p. 42), essas virtudes Link Vídeo: Profissão Perito.wmv. Saiba tudo sobre a profissão de perito. Quem pode ser perito? Atu- ação do Perito. Disponível em: <https://www. youtube.com/watch?v=TUQTMNFhO9o&- t=218s>. Acesso em: 21 ago. 2017. https://www.youtube.com/watch?v=TUQTMNFhO9o&t=218s https://www.youtube.com/watch?v=TUQTMNFhO9o&t=218s https://www.youtube.com/watch?v=TUQTMNFhO9o&t=218s Unidade 2 • A Perícia Judicial47/219 propiciarão a manifestação consciente do agente (o perito) na realidade (o conflito), de forma equilibrada, palavra esta aqui empregada no sentido de ser o equilíbrio o distanciamento perfeito, intelectual e de ânimo, que a peça produzida deve manifestar, de modo a servir com perfeição a sua própria finalidade. Em que pese os argumentos trazidos anteriormente, a atividade da perícia judicial exige também uma atuação pautada na necessidade de uma base moral adequada dos agentes envolvidos no processo e, como bem explicam Magalhães e Lunkes (2012, p. 7), existem “algumas razões para isto: os homens não são perfeitos, os métodos também não, os sistemas nem sempre atuais e adequados para as organizações, condições essas que geram irregularidades”. Diante dessas breves considerações, pode-se compreender o quão importante é que os profis- sionais que servem a justiça, em especial o perito nomeado nos autos de cada processo, desen- volvam sua atividade com integridade, honestidade e, acima de tudo, com saber técnico. Unidade 2 • A Perícia Judicial48/219 Glossário Impedimento legal: São acontecimentos que por lei impedem o perito de executar o trabalho pericial, tal como preconizado no item 20 da NBC PP 01 (COSTA, 2016, p. 16). Impedimento técnico-científico: São acontecimentos que, por falta de conhecimento, de estru- tura laboral ou ainda circunstancial, impedem o perito de executar o trabalho pericial, tal como preconizado no item 21 da NBC PP 01 (COSTA, 2016, p. 16). Suspeição: São circunstâncias também legais que impedem o perito de executar o trabalho pe- ricial, tal como preconizado nos itens 22 a 24 da NBC PP 01, bem como no artigo 467 do CPC (COSTA, 2016, p. 16). Questão reflexão ? para 49/219 Como você viu, existem situações fáticas que impedem o perito de atuar e mesmo nomeado ou escolhido, poderá ele, segundo a legislação vigente, escusar-se do encar- go a que foi submetido apenas alegando motivo. Ade- mais vimos também que configuram eventos legítimos para fins de cumprimento do encargo: impedimento e suspeição. Reflita que possíveis exemplos se enquadram nesses dois motivos. 50/219 Considerações Finais Na leitura fundamental apresentada você pôde ter contato com: • Alguns aspectos teóricos que envolvem a perícia judicial. • Explicações básicas que envolvem a nomeação, intimação e escusa a tra- balhos periciais no âmbito do judiciário. • Os principais aspectos relacionados ao impedimento e suspeição do perito. • O entendimento da importância da interação ética entre os agentes da pe- rícia. Unidade 2 • A Perícia Judicial51/219 Referências ALBERTO, Valder Palombo. Perícia contábil. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2012. BRASIL. Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015. Código de Processo Civil. Brasília, 2015. Disponí- vel em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13105.htm#art1046>. Acesso em: 10 ago. 2017. COSTA, João Carlos da. Perícia contábil – aplicação prática. São Paulo: Atlas, 2016. ORNELAS, Martinho Maurício Gomes de. Perícia contábil. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2003. _____________, Maurício Gomes Martinho. Perícia Contábil. 2ª edição. São Paulo: Atlas, 1995 MAGALHÃES, Antônio de Deus Farias; LUNKES, Irtes Cristina. Perícia contábil nos processos cível e trabalhista: o valor informacional da contabilidade para o sistema judiciário. São Paulo: Atlas, 2012. MAGALHÃES, Antônio de Deus Farias. Perícia contábil – uma abordagem teórica, ética, legal, processual e operacional – casos praticados. 8. ed. São Paulo: Atlas, 2017. RODRIGUES, Alberto Almada. O controle, a perícia, a investigação, a vistoria, a regulação, a ar- bitragem, a prospeção, os custos e os orçamentos no campo profissional do contador. Revista Brasileira de Contabilidade, n. 53, 1985. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13105.htm#art1046 Unidade 2 • A Perícia Judicial52/219 SÁ, Antônio Lopes de. Perícia contábil. 9. ed. São Paulo: Atlas, 2009. SILVA, M. C. N. da; LEITE, M. O. T. Os princípios da segurança e certeza jurídica na gramática globalizante: contributo (in)eficaz para a efetividade da justiça no sistema judiciário. [s.d.] Dis- ponível em: <http://www.publicadireito.com.br/artigos/?cod=f39fd0e38564affe>. Acesso em: 10 ago. 2017. http://www.publicadireito.com.br/artigos/?cod=f39fd0e38564affe 53/219 1. Assinale a alternativa correta. A perícia judicial é aquela realizada: a) Na esfera extrajudicial em atendimento à parte. b) Na câmara de arbitragem a pedido das partes. c) Em atendimento às partes envolvidas no processo. d) Em inquéritos policiais ou comissões parlamentares. e) Em atendimento a um deferimento emanado por juiz de direito. Questão 1 54/219 2. Assinale a alternativa que preenche corretamente as lacunas. Em termos contábeis, a perícia _________ dependendo do tipo da ação, pode ser _________ e consistirá segundo o artigo 464 do Código de Processo Civil em “exame, vistoria ou _________”. Questão 2 a) judicial; total ou parcial; avaliação. b) arbitral; parcial; verificação. c) extrajudicial; total; verificação. d) extrajudicial; total ou parcial; avaliação. e) judicial; parcial; avaliação. 55/219 3. A “escusa é tomada em significação mais especial: exprime a justificativa, causa ou razão que possam justificar para que se livre o recusante de qual- quer sanção por não ter aceito, não ter feito ou não ter cumprido alguma coisa”. Nessa mesma esteira, todas as opções a seguir se enquadram como sendo motivos legítimos, EXCETO Questão 3 a) O perito não possuir conhecimento técnico para assumir a perícia, o que tornará o trabalho inconsistente. b) Quando o perito tornar-se inapto por representar o encargo grave dano a seu cônjuge. c) Quando o perito tornar-se inapto por representar o encargo grave dano a si. d) Quando o perito tornar-seinapto por situação similar àquela aplicável à suspeição e impe- dimentos do juiz. e) Quando o perito tornar-se inapto por entender que não obterá um alto honorário com o caso. 56/219 4. Assinale a opção correta em relação aos peritos: Questão 4 a) Os peritos serão nomeados entre os profissionais com mestrado ou doutorado devidamente inscritos em cadastro mantido pelo Conselho Federal de Contabilidade. b) Os peritos serão nomeados entre os profissionais legalmente habilitados e os órgãos téc- nicos ou científicos devidamente inscritos em cadastro mantido pelo tribunal ao qual o juiz está vinculado. c) Os peritos serão nomeados entre os profissionais com mestrado ou doutorado devidamente inscritos em cadastro mantido pelo tribunal ao qual o juiz está vinculado. d) Os peritos serão nomeados entre os profissionais de nível técnico e os órgãos técnicos ou científicos devidamente inscritos em cadastro mantido pelo tribunal ao qual o juiz está vin- culado. e) Os peritos serão nomeados entre os profissionais legalmente habilitados nos órgãos técni- cos apenas devidamente inscritos em cadastro mantido pelo Conselho Federal de Contabi- lidade. 57/219 5. Não obstante, o objeto da contabilidade, uma vez consubstanciado no es- tudo do patrimônio, pode ser examinado pelo perito (no nosso caso o con- tador) em caráter parcial quando da elaboração da prova técnica, de forma que este verificará, por exemplo: Questão 5 a) Bens, valores, saldos. b) Lançamentos contábeis, extratos, documentos inidôneos. c) Valores, extratos, depoimentos. d) Testemunhos, documentos inidôneos e extratos. e) Depoimentos, testemunhos, saldos. 58/219 Gabarito 1. Resposta: E. A perícia judicial é aquela realizada em atendimento a um deferimento emanado por juiz de direito. 2. Resposta: A. Em termos contábeis, a perícia judicial, de- pendendo do tipo da ação, pode ser total ou parcial e consistirá, segundo o artigo 464 do Código de Processo Civil, em “exame, visto- ria ou avaliação”. 3. Resposta: E. Não constitui motivo legítimo: o fato “o pe- rito tornar-se inapto por entender que não obterá um alto honorário com o caso”. 4. Resposta: B. É correto apenas o que se afirma em: Os pe- ritos “serão nomeados entre os profissionais legalmente habilitados e os órgãos técnicos ou científicos devidamente inscritos em ca- dastro mantido pelo tribunal ao qual o juiz está vinculado”. 5. Resposta: A. Não obstante, o objeto da contabilidade, uma vez consubstanciado no estudo do pa- trimônio, pode ser examinado pelo perito (no nosso caso o contador) em caráter par- cial quando da elaboração da prova técnica, de forma que este verificará, por exemplo: bens, valores, saldos. 59/219 Unidade 3 A Perícia Extrajudicial e Administrativa Objetivos 1. Estudar as características da perícia extrajudicial. 2. Entender o que configura a perícia se- mijudicial ou administrativa. 3. Explorar as principais questões que envolvem a perícia arbitral. Unidade 3 • A Perícia Extrajudicial e Administrativa60/219 Introdução Quando estudamos a perícia contábil, é im- portante lembrar as palavras de Magalhães (2017, p. 6) quando relata que a “natureza dos fatos e do processo é que a classificará”. E ainda nesse sentido quando afirma que “quanto à natureza dos fatos que a ense- jam, pode ser classificada segundo as áre- as do conhecimento técnico e/ou científi- co, combinadas com a regulamentação das profissões”. Tal exposição remete ao fato de que estas podem assumir o caráter contá- bil, ou de engenharia, muitas das vezes de informática, ou ainda médica, trabalhista, entre outras. Os seus diversos tipos são re- latados no item 1 da Norma Brasileira de Contabilidade NBC TP 01. Aliás, esta norma relata que basicamente os tipos de perícia são: as perícias judiciais, extrajudiciais e as arbitrais. No tema anterior, inclusive, mencionamos vários dos aspectos da perícia judicial, fi- cando, a partir deste momento da leitura, o objetivo de tratar das perícias extrajudiciais e administrativas. O labor pericial quando da execução das atividades de perícia extrajudiciais e admi- nistrativas também exige do profissional, como bem explica Magalhães (2017, p. 6), “notória especialização no seio das Ciên- cias Contábeis”, até porque seu trabalho no Link NBC TP 01 – Norma Técnica de Perícia Contábil. Disponível em: <http://cfc.org.br/wp-con- tent/uploads/2016/02/NBC_TP_01.pdf>. Acesso em: 21 ago. 2017. http://cfc.org.br/wp-content/uploads/2016/02/NBC_TP_01.pdf http://cfc.org.br/wp-content/uploads/2016/02/NBC_TP_01.pdf Unidade 3 • A Perícia Extrajudicial e Administrativa61/219 caso da primeira poderá ser muita das vezes o de contestar o laudo oficial. Detendo os peritos a obrigatoriedade des- ses conhecimentos e de acordo com a NBC PP 01, podem estes ser classificados como: “Perito Oficial, Perito do Juízo e Perito As- sistente”. E como menciona Alberto (2012, p. 40), “este instrumento especial – a perí- cia – tem espécies distintas, identificáveis e definíveis segundo os ambientes em que é instada a atuar”. Também comenta que é “muito comum os menos afeitos confundi- rem as espécies de perícia por sua manifes- tação na realidade concreta: as espécies de laudo”. 1. A perícia extrajudicial e a con- tratação de assistentes técnicos Como bem relata Costa (2016, p. 9), as pe- rícias extrajudiciais “são aquelas solicita- das por entes, quer sejam empresariais ou pessoas físicas, com a finalidade de dirimir eventuais desavenças entre as partes”. A respeito do assunto, Alberto (2012, p. 41) ressalta que a perícia extrajudicial “é aque- la realizada fora do Estado, por necessi- dade e escolha de entes físicos e jurídicos particulares – privados, vale dizer – no sen- tido estrito, ou seja, não subjetiveis a outra pessoa encarregada de arbitrar a matéria conflituosa”. Diferentemente do que ocorre na perícia ju- dicial, o perito das partes ou simplesmente Unidade 3 • A Perícia Extrajudicial e Administrativa62/219 perito assistente, não é nomeado pelo juiz. Haverá a contratação deste profissional pela parte interessada em seus trabalhos com sua consequente indicação nos autos de determinado pro- cesso. Magalhães (2017, p. 6) ainda explica que a perícia extrajudicial pode também ser “exercida no âmbito arbitral, estatal ou voluntária”. Mas é importante observar que independentemente das partes solicitarem a perícia, é o magis- trado quem vai decidir se haverá não ou a necessidade da demanda. Veja o que preconiza o artigo 472 do Código do Processo Civil de 2015 quanto a esse aspecto: Para saber mais De acordo com NBC PP 01 citado por Magalhães et al. (2017, p. 7): “Perito oficial é o investido na função por lei e pertencente a órgão especial do Estado destinado, exclusivamente, a produzir perícias e que exerce a atividade por profissão” (Norma Brasileira de Contabilidade NBC PP 01, editada em 27/2/2015, item 3). “Perito do juízo é nomeado pelo juiz, árbitro, autoridade pública ou privada para exercício da pe- rícia contábil” (Norma Brasileira de Contabilidade NBC PP 01, editada em 27/2/2015, item 4). “Perito-as- sistente é o contratado e indicado pela parte em perícias contábeis” (Norma Brasileira de Contabilidade NBC PP 01, editada em 27/2/2015, item 5). Unidade 3 • A Perícia Extrajudicial e Administrativa63/219 “Art. 472. O juiz poderá dispensar prova pericial quando as partes, na inicial e na contestação, apresentarem, sobre as questões de fato, pareceres técnicos ou documentos elucidativos que considerar suficientes”. Conforme relata Costa (2016, p. 11) caso as partes “disponibilizem nos autos documentos que considerar suficientes para sua decisão, o juiz poderá recusá-la”. E este aspecto é um determinador da necessidade ou não de se nomear perito. Magalhães e Lunkes (2012, p. 27) contextualizam a interação entre a nomeação do perito e a in- dicação de assistentes técnicos quando relatam que “uma vez nomeado e intimado o perito, um conjunto de fatos decorrentessão esperados. As partes, representadas por seus advogados, têm como prerrogativas formular quesitos e indicar peritos assistentes”. E tal feito tem por base legal o artigo 465 do NCPC em seu texto, que relata o a seguir disposto: Art. 465. O juiz nomeará perito especializado no objeto da perícia e fixará de imediato o prazo para a entrega do laudo. § 1° Incumbe às partes, dentro de 15 (quinze) dias contados da intimação do despacho de nomeação do perito: I - arguir o impedimento ou a suspeição do perito, se for o caso; II - indicar assistente técnico; III - apresentar quesitos. Unidade 3 • A Perícia Extrajudicial e Administrativa64/219 Neste momento de formulação de quesitos é que geralmente inicia-se o trabalho do assistente técnico. Este deverá acompanhar ou assistir o perito nomeado disponibilizan- do informações, documentos ou auxilian- do em dúvidas que surjam no decorrer dos trabalhos. Terá a missão de louvar o laudo apensado aos autos ou tentar impugná-lo, a depender do desfecho deste. Veja que o que foi dito por Costa (2016, p. 35) corrobora com o mesmo entendimento ao relatar que a primeira função do assis- tente técnico é “defender a parte que o con- tratou por meio da elaboração de quesitos, o que deve ser feito com todo o rigor tecno- lógico, bem como se colocar à disposição do perito nomeado para auxiliá-lo na busca de documentos”. Em termos práticos, o profissional que atua como assistente técnico poderá ser con- tratado por uma das partes e, consequen- temente, auferir rendimentos como pessoa física ou jurídica especializada. Ainda quando o assunto diz respeito às ati- vidades e/ou incumbências do assistente técnico, Costa (2016, p. 35) explica que tais atividades “devem ser obrigatoriamente desempenhadas por profissional com for- mação superior em Ciências Contábeis e Link Vídeo: Petição de quesitos. Disponível em: <ht- tps://www.youtube.com/watch?v=cW- 0q7WFfx9w>. Acesso em: 21 ago. 2017. https://www.youtube.com/watch?v=cW0q7WFfx9w https://www.youtube.com/watch?v=cW0q7WFfx9w https://www.youtube.com/watch?v=cW0q7WFfx9w Unidade 3 • A Perícia Extrajudicial e Administrativa65/219 com registro no Conselho Regional de Contabilidade de seu estado, sendo a mesma formação do perito nomeado”. Quanto a esse aspecto, cabe um parêntese no caso da perícia judicial, já abordada anteriormen- te. Nesta haverá sempre a pessoalidade da função, ou seja, no exercício da perícia judicial, so- mente haverá a possibilidade de o perito haver seus honorários como pessoa física (também dita civil ou natural), até porque o art. 149 do Novo Código de Processo Civil assim já prevê: Art. 149. São auxiliares da Justiça, além de outros cujas atribuições sejam determinadas pelas normas de organização judiciária, o escrivão, o chefe de secretaria, o oficial de justiça, o perito, o depositário, o administrador, o intérprete, o tradutor, o mediador, o conciliador judicial, o partidor, o dis- tribuidor, o contabilista e o regulador de avarias. Para saber mais A partir de 2018 para que possam desempenhar trabalhos periciais deverão os profissionais estarem registrados no Cadastro Nacional dos Peritos Contábeis (CNPC) do Conselho Federal de Contabilidade (CFC), instituídos pela NBC PA 13(R2) e pela NBC PP 02 sendo, inclusive, um dos requisitos para a inscri- ção do contador no CNPC, com vistas à atuação na área da Perícia Contábil. Unidade 3 • A Perícia Extrajudicial e Administrativa66/219 Outra situação explicada por Magalhães (2017, p. 7) é que “o perito faz a perícia, la- vra e assina o laudo. O assistente técnico, entretanto, emite parecer”. É importante ressaltar que “na perícia, há limitação da matéria sob exame; portanto não é lícito ao perito exorbitar da matéria submetida a seu exame”. Já no que tange aos motivos da indicação dos assistentes técnicos, tal feito está atre- lado à nomeação do perito do juízo e que, por sua ordem, atende ao que aduz o arti- go 156 do CPC, in verbis: “Art. 156. O juiz será assistido por perito quando a prova do fato depender de conhecimento técnico ou científico”. O assistente técnico, embora caiba a ele uma postura profissional de independên- cia, exercerá sua função de forma parcial, e não neutra. Pois como bem explana Costa (2016, p. 35), cabe a ele, no caso o assisten- te técnico “elaborar parecer pericial contá- bil conforme preceitua o § 1° do artigo 477 do CPC, a seguir reproduzido, sempre que a parte assim o desejar”. 2. A perícia semijudicial e admi- nistrativa Ab initio, como bem expõem Magalhães e Lunkes (2012, p. 6), diante da diversidade de espécies de perícia é relevante lembrar que, em se tratando do processo, este pode ser: Unidade 3 • A Perícia Extrajudicial e Administrativa67/219 [...] judicial por iniciativa dos magistrados ou a requerimento das partes ou dos representantes do Ministério Público, com deferimento do juiz, para re- solver questões segundo as leis processuais: cível, criminal ou trabalhista; arbitral por iniciativa dos árbitros, para solução de conflitos extrajudiciais; administrativa e/ou operacional por iniciativa de gestores, para resolver conflitos internos nas organizações e entre organizações. (grifos nossos) Destarte, Alberto (2012, p. 41) expõe que perícia semijudicial é “aquela realizada dentro do apa- rato institucional do Estado, porém fora do Poder Judiciário, tendo como finalidade principal ser meio de prova nos ordenamentos institucionais usuários”. Veja-se também que além das de- mandas existentes no âmbito do judiciário e da câmara de arbitragem, existem perícias que ocorrem “segundo o aparato estatal atuante, em policial (nos inquéritos), parlamentar (nas co- missões parlamentares de inquérito ou especiais) e administrativo-tributária (na esfera da ad- ministração pública tributária ou conselhos de contribuintes)”. Essas perícias são comumente denominadas de perícias semijudiciais. Unidade 3 • A Perícia Extrajudicial e Administrativa68/219 Assim como nas demais espécies de perícia, é justificável que sejam assim denominadas, como claramente explica Alberto (2012, p. 41), porque as autoridades policiais, parlamentares ou administrativas têm algum po- der jurisdicional, ainda que relativo e não com a expressão e extensão do poder jurisdicional classicamente enquadrável como pertencente ao Po- der Judiciário, e ainda por estarem sujeitas às regras legais e regimentais que se assemelham às judiciais. Para saber mais De acordo com o Conselho Federal de Contabilidade (2016, [s.p.]), a arbitragem é um “método alternativo ao Judiciário para resolução de conflitos. As partes elegem uma entidade privada como local de discussão da controvérsia, sem a participação do poder público”. “Ademais, segundo o mesmo órgão de classe, no caso brasileiro, foi promulgada em 1996 a intitulada Lei de Arbitragem, ratificando a Convenção de Nova Iorque de 1958”. Pelo que pudemos observar, assim como ocorreu nas normas contábeis, a legislação veio para o atendimento de práticas de comércio internacional. Unidade 3 • A Perícia Extrajudicial e Administrativa69/219 Por sua vez, as perícias administrativas ocorrem em situações diferentes das semi- judiciais, pois constituem, conforme Maga- lhães (2012, p. 6), “exame decisivo de situ- ações, em caráter administrativo, quando o responsável pelos negócios de uma entida- de econômica se depara com uma questão em que ele próprio tem dúvidas e solicita, então, os subsídios do contador para diri- mi-las”. Sá (2009, p. 8) cita como exemplo desse tipo de perícia a “verificação contábil para apurar corrupção”. As perícias administrativas ocorrem por de- mandas geradas pelos particulares quando precisam desvendar certas situações que poderão gerar problemas futuros, como desfalques de caixa ou operações que po- dem estar seguindo pelo caminho da ilicitu- de. Muitas vezes, sequer existe um processo instaurado, tampouco um inquérito policial em curso. A partir daqui, embora em carátersintético, se constrói o entendimento do que tratam esses dois tipos de perícia, já sabendo que Sá (2009, p. 8) ainda relata a existência de outra modalidade, denominada de perícia especial. Como exemplo, ele ressalta “a pe- rícia que se faz para a fusão de sociedades”. Por outro lado, assim como nas perícias ju- diciais, semijudiciais e administrativas, a atividade do perito também pode ser de- senvolvida no âmbito arbitral. Essa espécie de perícia é conhecida como perícia arbitral e é regida por lei especial. Aliás, a respeito dessa espécie de perícia, Costa (2016, p. 9) explica que as perícias arbitrais “são aque- Unidade 3 • A Perícia Extrajudicial e Administrativa70/219 las demandadas pela lei n° 9.307, de 23 de setembro de 1996, que as criou com a finalidade de sanar desavenças entre as partes, fora do âmbito da justiça, porém com o objetivo de agilizar acordos entre elas” Em que pese tais características, diante do mesmo entendimento trazido no parágrafo anterior, expõe Alberto (2012, p. 41) que a perícia arbitral é aquela “realizada no juízo arbitral – instância decisória criada pela vontade das partes –, não sendo enquadrável em nenhuma das anteriores por suas características especialíssimas de atuar parcialmente como se judicial e extrajudicial fosse”. Embora seja abordado o mesmo assunto em diversas literaturas, as classificações quanto ao tipo de perícia existente e trazidas até este ponto da leitura são efetuadas de diferentes formas e por di- versos autores. A título de ilustração, veja como Magalhães (2012, p.6) classifica os tipos de perícia: A perícia judicial é exercida sob a tutela do Poder Judiciário. A perícia extra- judicial é exercida no âmbito arbitral, estatal ou voluntária. A perícia arbitral é exercida sob o controle da lei de arbitragem. Perícias oficial e estatal são exe- cutadas sob o controle de órgãos de Estado. Perícia voluntária é contratada, espontaneamente, pelo interessado ou de comum acordo entre as partes. Unidade 3 • A Perícia Extrajudicial e Administrativa71/219 A respeito do mesmo assunto, Sá (2009) classifica as perícias em três grandes gru- pos: judiciais, administrativas e especiais. Por fim, Costa (2016) apregoa que as perí- cias são tipificadas como sendo judiciais, extrajudiciais e arbitrais. Mesmo considerando certo grau de coe- rência na classificação dos três autores, nos identificamos mais com a última classifica- ção, o que não desmerece a linha de racio- cínio dos demais autores. Link Vídeo: Perícia judicial e extrajudicial. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=- CfFcfDQIEXU>. Acesso em: 21 ago. 2017. https://www.youtube.com/watch?v=CfFcfDQIEXU https://www.youtube.com/watch?v=CfFcfDQIEXU Unidade 3 • A Perícia Extrajudicial e Administrativa72/219 Glossário Arbitramento: Em termos contábeis, é aplicável tanto na decisão oriunda da arbitragem quanto a possíveis avaliações realizadas por estes de coisas ou fatos. Independência profissional: Liberdade ou autossuficiência inerente ao profissional de conduzir um trabalho sem se deixar influenciar pelas partes interessadas pelo assunto. Parecer técnico: Diz respeito ao relatório técnico elaborado por perito (profissional especializado e habilitado) que contemplará sua opinião de forma escrita e fundamentada sobre determinada matéria que exija conhecimento específico, científico em determinada área de conhecimento (contabilidade, economia, medicina etc.). Questão reflexão ? para 73/219 Como você viu, o conceito da perícia administrativa é bem diferente daquele observado na perícia extrajudi- cial, até porque na primeira sequer existe um processo instaurado nos autos de um processo. Esta perícia pode ser exercida inclusive para averiguar diversas situações especificamente. Reflita: em que outras situações se observa o executar da perícia administrativa além da- quele exemplo mencionado neste tema? 74/219 Considerações Finais Ao término deste tema, você pôde conhecer: • As principais características da perícia extrajudicial. • Uma exposição sintética a respeito da contratação de assistentes técnicos no seu desenvolver da perícia extrajudicial. • O conceito, exemplos e demais aspectos relevantes que se referem às pe- rícias semijudiciais, administrativas e especiais, e a atuação do profissional neste âmbito. Unidade 3 • A Perícia Extrajudicial e Administrativa75/219 Referências ALBERTO, Valder Luiz Palombo. Perícia contábil. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2012. BRASIL. Lei n° 13.105, de 16 de março de 2015. Código de Processo Civil. Brasília, 2015. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13105.htm#art1046>. Acesso em: 10 ago. 2017. CONSELHO Federal de Contabilidade. Arbitragem. Informativo Semanal, ano 8, n. 378, 2016. Di- sponível em: <http://www.crcsp.org.br/portal/publicacoes/crcsp-online/materias/378_10.htm>. Acesso em: 23 ago. 2017. COSTA, João Carlos Dias da. Perícia contábil – aplicação prática. São Paulo: Atlas, 2016. MAGALHÃES, Antônio de Deus Farias. Perícia contábil - uma abordagem teórica, ética, legal, processual e operacional. 8. ed. São Paulo: Atlas, 2017. MAGALHÃES, Antônio de Deus Farias; LUNKES, Irtes Cristina. Perícia contábil nos processos cível e trabalhista: o valor informacional da contabilidade para o sistema judiciário. São Paulo: Atlas, 2012. SÁ, Antônio Lopes de. Perícia contábil. 9. ed. São Paulo: Atlas, 2009. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13105.htm#art1046 http://www.crcsp.org.br/portal/publicacoes/crcsp-online/materias/378_10.htm 76/219 1. Assinale a opção que define corretamente a perícia extrajudicial: a) A perícia extrajudicial é aquela realizada dentro do Estado, por necessidade e escolha de entes físicos e jurídicos particulares – privados, vale dizer – no sentido estrito, ou seja, não subjetiveis a outra pessoa encarregada de arbitrar a matéria conflituosa. b) A perícia extrajudicial é aquela realizada fora do Estado, por necessidade e escolha de entes físicos particulares – privados, vale dizer – no sentido estrito, ou seja, não subjetiveis a outra pessoa encarregada de arbitrar a matéria conflituosa. c) A perícia extrajudicial é aquela realizada dentro do Estado, por necessidade e escolha de en- tes jurídicos particulares – privados, vale dizer – no sentido estrito, ou seja, não subjetiveis a outra pessoa encarregada de arbitrar a matéria conflituosa. d) A perícia extrajudicial é aquela realizada fora do Estado, por necessidade e escolha de entes físicos particulares – privados, vale dizer – no sentido estrito, ou seja, subjetiveis a outra pes- soa encarregada de arbitrar a matéria conflituosa. e) A perícia extrajudicial é aquela realizada fora do Estado, por necessidade e escolha de entes físicos e jurídicos particulares – privados, vale dizer – no sentido estrito, ou seja, não subjeti- veis a outra pessoa encarregada de arbitrar a matéria conflituosa. Questão 1 77/219 2. Assinale a alternativa que preenche corretamente as lacunas. A perícia judicial é exercida sob a tutela do _________. A perícia extrajudicial é exercida no âmbito arbitral, estatal ou _________. A perícia arbitral é exercida sob o controle da _________. Perícias oficiais e estatais são executadas sob o controle de órgãos de Estado. a) Poder Judiciário; voluntária; lei de arbitragem. b) Poder Executivo; mandatória; lei da mediação. c) Poder Legislativo; voluntária; lei societária. d) Poder Judiciário; mandatória; lei da mediação. e) Poder Legislativo; voluntária; lei de arbitragem. Questão 2 78/219 3. Assinale a alternativa correta. Existem perícias que ocorrem “segundo o aparato estatal atuante, em policial (nos inquéritos), parlamentar (nas comissões parlamentares de inquérito ou especiais) e administrativo-tribu- tária (na esfera da administração pública tributária ou conselhos de contribuintes)”. Essas perí- cias são comumente denominadas: a) De perícias administrativas. b) De perícias
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