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Disciplina: Auditoria Contábil e Operacional Aula 6: Papéis de Trabalho Apresentação Nesta aula, vamos apresentar os papéis de trabalho, um conjunto de formulários e documentos que apresentam informações e apontamentos obtidos pelo auditor durante o seu exercício de verificação na empresa. Também vamos abordar a forma e o conteúdo dos papéis de trabalho, ou seja, os requisitos que estes deverão ter para cumprir sua função, que é possibilitar o trabalho do auditor. Bons estudos! Objetivos Reconhecer o que são papéis de trabalho; Distinguir os diferentes tipos de papéis de trabalho; Compreender sua organização e codificação. O que são os papéis de trabalho? Quando o auditor começa a realizar seu trabalho, para comprovar o que foi auditado, precisa de papéis de trabalho. Vamos ver como isso funciona, o que são e como são organizados e apresentados. Vamos verificar para que servem e como é o procedimento, bem como os aspectos gerais dessas ferramentas tão importantes para o trabalho do auditor. Para que servem os papéis de trabalho? Crepaldi (2011) afirma que o auditor deve documentar as questões importantes para proporcionar a evidência. Com isso, visa fundamentar seu parecer e comprovar que a auditoria foi executada de acordo com as Normas de Auditoria Independente das Demonstrações Contábeis. O que são os papéis de trabalho? Para Attie (2011), os papéis de trabalho formam um conjunto de formulários e documentos que apresentam informações e apontamentos obtidos pelo auditor durante seu trabalho. Também apresentam as provas e descrições dessas realizações, que constituem a evidência do trabalho executado e o fundamento da opinião do auditor. Saiba mais Segundo a NBC TA 230, os papéis de trabalho podem ser assim definidos como Documentação de auditoria . Objetivos dos papéis de trabalho Segundo Crepaldi (2011), os papéis de trabalho se destinam a: 01 Ajudar, por meio da análise dos documentos de auditoria anteriores ou pelos coligidos quando da contratação da primeira auditoria, no planejamento e na execução da auditoria; 02 Facilitar a revisão do trabalho de auditoria; 03 Registrar evidências de trabalho executado, fundamentando o parecer do auditor independente; 04 Fornecimento de um registro escrito permanente do trabalho efetuado; 1 05 Fornecimento de informações importantes com relação ao planejamento contábil econômico e financeiro das entidades; 06 Fornecimento aos encarregados da possibilidade de avaliar os atributos dos membros da equipe relativos a diversos aspectos. Forma e conteúdo dos papéis de trabalho Crepaldi (2011) afirma que o auditor deverá registrar, nos papéis de trabalho, informações relativas a: Planejamento de auditoria Natureza da auditoria Oportunidade dos procedimentos aplicados Extensão dos procedimentos Conclusões da evidência de auditoria Resultados obtidos Além disso, para o autor, deverá ser incluído o juízo do auditor acerca de todas as questões significativas, juntamente com a conclusão a que este chegou, além das áreas que apresentam questões de difícil julgamento. Ainda de acordo com o autor (2011, p. 431) a forma e o conteúdo dos papéis de trabalho podem ser afetados por: Natureza do trabalho; Natureza e complexidade da atividade da entidade; Natureza e condição dos sistemas contábeis e de controle interno da entidade; Direção, supervisão e revisão do trabalho executado pela equipe técnica; Metodologia e tecnologia utilizadas no curso dos trabalhos. Perez Júnior (2012) afirma, de forma complementar, que os papéis de trabalho incluem a compilação de informações tais como: Planejamento do trabalho; Mapas preparados pelo departamento de Contabilidade, Financeiro ou �scal, ou até mesmo pelo auditor; Memorandos e correspondências relevantes; Con�rmações de saldos obtidos por terceiros; Pasta corrente — papéis de trabalho com exame das transações, programas de auditoria, con�rmação de terceiros. Atenção Attie (2011) afirma que a pasta corrente reúne a ordem da tarefa e autoriza o trabalho em si: o controle de horas despendidas na execução, programa de trabalho detalhado, todas as informações obtidas e outros que fundamentem a opinião do auditor. Atividade 1. Os papéis de trabalho não se limitam aos registros elaborados pelo auditor, mas podem incluir outros registros apropriados, como minutas de reuniões elaboradas pelo pessoal da entidade e acordadas com o auditor. a) Certo. b) Errado. i éi Pastas para arquivar os papéis Nas chamadas pastas permanentes, deverão ser arquivados os papéis de trabalho com informações que serão utilizadas no futuro: estrutura organizacional, planos de conta, fluxograma, manual de procedimentos, questionários de avaliação dos controles internos, entre outros. Attie (2011) complementa que, embora cada atividade de auditoria seja diferente uma da outra, o conteúdo das pastas de papéis permanentes pode variar. Veja alguns exemplos: Dados históricos Dados contábeis Dados de controle interno Dados contratuais Dados analíticos Dados de planejamento de longo prazo Formas e conteúdo dos papéis de trabalho – aspectos práticos Crepaldi (2011) afirma que todos os papéis de trabalho devem apresentar as seguintes informações básicas: Ainda com relação aos papéis de trabalho, é preciso entender os seguintes conceitos: Células-mestras — o título é o nome do grupo ou subgrupo de contas do balanço; Células analíticas — o título irá demonstrar o tipo de análise ou procedimento de auditoria aplicado, fazendo referência ao item de programa de auditoria que se aplica; Data — indica a data do trabalho. Caso haja trabalhos de auditoria interna combinados com o de auditoria externa, também deverão constar as demonstrações a que se referem; O nome de quem preparou a célula no canto inferior direito; As iniciais de quem a prepara indicam quem foi responsável por seu preenchimento; Caso haja trabalho conjunto com a auditoria interna, deverá constar a frase “Preparado pela auditoria interna”. Fonte: Shutterstock. Aspectos fundamentais dos papéis de trabalho A tabela abaixo apresenta esses aspectos: Aspecto Descrição Completabilidade Os papéis de trabalho necessitam ser completos por si só, relatando começo, meio e fim do trabalho praticado. Concisão Os papéis de trabalho devem ser concisos, ou seja, ser entendidos sem necessidade de explicações da pessoa que o elaborou. Objetividade Os papéis de trabalho deverão ser objetivos, ou seja, demonstrar aonde o auditor quer chegar, de forma clara. Limpeza Os papéis de trabalho deverão estar limpos, de forma a não prejudicar seu entendimento. Lógica Devem ser elaborados de forma lógica de raciocínio, na sequência natural o objetivo a ser atendido. Pontos essenciais dos papéis de trabalho. Fonte: Adaptado de Attie (2011) e Crepaldi (2011). Atividade 2. A Resolução CFC nº 986/2003 (NBC TI 01), no que se refere aos papéis de trabalho, estabelece que: a) São ferramentas destinadas apenas ao registro em meio físico, que devem ser organizadas e arquivadas de forma sistemática e racional. b) São documentos e registros de fatos, informações e provas obtidos no curso da auditoria para dar suporte à opinião do auditor. c) Devem ter abrangência superficial, uma vez que se trata de ferramenta de suporte. d) Não é ferramenta adequada para proporcionar a compreensão da extensão dos procedimentos de auditoria aplicados. e) A boa prática dos trabalhos não recomenda que sejam anexados a outros tipos de documentos. Organização dos papéis de trabalho Perez Júnior (2012) a�rma que a padronização dos papéis de trabalho geralmente ocorre para facilitar seu uso e sua classi�cação. Para o autor, as células-mestras detalham as contas da razão do balanço ou da contasintética examinada e são comprovadas por cédulas detalhadas (programas, cédulas-suporte, testes e mapas), que apresentam o trabalho realizado e sua evidência. Codi�cação dos papéis de trabalho Attie (2011, p. 240) afirma: Com o intuito de arquivar, bem como resumir os trabalhos realizados em determinada tarefa, o auditor realiza o artifício de codi�car os seus papéis de trabalho. O autor afirma que a codificação dos papéis de trabalho é convencionado, ou seja, é aceita de maneira uniforme, com a utilização de letras maiúsculas. Além disso, obedece a uma sequência lógica e racional, procurando resumir todos os trabalhos efetuados em um jogo de papéis que, em seu conjunto, irão representar o trabalho executado. A regra é que, em cada um dos papéis de trabalho, exista espaço apropriado para indicar sua codi�cação. Cada papel deverá ter seu cabeçalho próprio devidamente preenchido, determinando a empresa, a atividade, a operação, o objetivo, a data do exame e assim por diante. Esta codificação dependerá da atividade da auditoria e o modo pelo qual esta realiza seu trabalho. Conforme exemplifica Attie (2011), quando a auditoria realizar um exame das demonstrações contábeis, é comum utilizar cada seção componente destas e determinar a sua codificação. Ao ativo pode-se destinar uma única letra, e as do passivo, duas letras, por exemplo. ATIVO PASSIVO A Disponibilidades AA Fornecedores B Contas a Receber AA Obrigações Trabalhistas C Demais Contas a Receber CC Obrigações Tributárias D Estoques DD Distribuições Estatutárias E Despesas do Exercício Seguinte EE Demais Contas a Pagar G Controladora GG Financiamentos H Demais Contas a Receber – Longo Prazo HH Debêntures J Investimento II Controladora, Controladas e Coligadas L Imobilizado JJ Demais Contas a Pagar M Intangível MM Receitas Diferidas NN Patrimônio Líquido Codificação dos papéis de trabalho. Fonte: Adaptado de Perez Júnior (2012). Dica Segundo o autor, neste exemplo, as seções referentes às letras F não têm denominação específica, oferecendo uma possibilidade de adaptação às empresas. Determinação de referências próprias A codificação pode ser feita ainda com referências próprias, como por exemplo, Tesouraria, Contas a Pagar, setor de Pessoal, entre outros, sendo que a codificação feita pode variar de acordo com as circunstâncias e peculiaridades de cada caso. Segue um exemplo representando uma codificação de papéis de trabalho: Classi�cação Descrição Determinação BL Balanço Papel de trabalho mestre C Resumo de Estoques Papel de trabalho mestre de estoques, mas subsidiário de balanço C1 Resumo de matérias-primas Papel de trabalho subsidiário da área de estoques C1-1 Listagem de matérias-primas da filial de São Paulo Papel de trabalho subsidiário da área de estoques C1-1-1 Resumo de contagem física realizada na filial de São Paulo Papel de trabalho subsidiário da área de estoques C1-1-1-1 Detalhamento da contagem física realizada na Filial de São Paulo de um item Papel de trabalho subsidiário da área de estoques O autor afirma que essa codificação é de grande valia para o auditor, pois permite a ele a utilização de um artifício chamado referências cruzadas. As referências cruzadas permitem uma adequada amarração aos papéis de trabalho, uma mesma área ou que tenham in�uência de outras áreas de trabalho. Assim, de acordo com o exemplo apresentado, os papéis de trabalho codificados de BL a C1-1 precisam estar referenciados entre si, evidenciando os papéis de trabalho que indiquem onde as tarefas foram realizadas. Forma básica utilizada para o uso das referências cruzadas Uma forma básica utilizada para o uso das referências cruzadas está nas seguintes regras (ATTIE, 2011, p. 241-242): A Quando o trabalho estiver apoiado em valores ou quantidades, deve-se somente cruzar as cifras idênticas. Caso se trate de um grupo de números, necessitam ser somados antes de serem referenciados. B Utilização de lápis de cor distinta à pronta indicação visual nos papéis de trabalho. C Referenciar cruzadamente implica em determinar tal evidência nos papéis de trabalho que se complementam entre si e, portanto, todo o cruzamento de referências deve ser feito em ambas as direções. D Por vezes, é imprescindível a oposição de espaço no próprio papel de trabalho através de uma única coluna para referências. Atividade 3. Para fins das Normas de Auditoria, entende-se por papéis de trabalho: a) O conjunto de informações fornecidas pelo auditado. b) O conjunto de documentos que atestam a competência do auditor. c) O conjunto de documentos que autorizam a empresa de auditoria a atuar. d) O registro dos procedimentos de auditoria, evidências obtidas e conclusão do auditor. e) Os apontamentos feitos pelo auditor que são descartados quando da conclusão do trabalho. Indicação do exame Os exames praticados pelo auditor, em sua totalidade, precisam ser indicados nos papéis de trabalho, que devem ser autoexplicativos. Attie (2011) afirma que há exceção para casos onde há evidência completa e suficiente por si só da indicação do exame. Por exemplo: Uma confirmação obtida diretamente de fonte externa. Já os demais casos necessitam de comprovação de onde foram obtidos os valores. Assim, se houve por parte do auditor a conferência de determinado valor com um documento, ou se foi conferido um dado com os registros contábeis, isso é considerado um trabalho praticado e precisa ser evidenciado. A indicação dos exames realizados é praticada com o uso dos seguintes artifícios: Tiques explicativos Sinais peculiares que o auditor utiliza para indicar um exame praticado. São empregados para indicar a fonte de obtenção ou conferência de um valor, sendo desnecessárias explicações. Exemplo: quando o auditor confere determinado valor de despesas de propaganda com a razão e constata que tudo está certo, assim o exame é indicado por um tique explicativo comentando do exame praticado da conferência com o Razão. A tabela a seguir permite entender melhor os tiques em auditoria: Tique Legenda Ω Soma conferida √ Conferimos com o Razão Geral ¢ Conferimos com nossos papéis de Trabalho do ano anterior ¥ Conferimos com o somatório dos registros analíticos Os tiques têm como vantagens: ser escritos de forma rápida nos papéis de trabalho; eliminar a necessidade de repetições; facilitar a revisão rápida e eficiente dos papéis de trabalho. Para utilizar os tiques, deve-se observar como regras básicas: números deverão ser feitos em vermelho, para evitar confusão com letras, símbolos e números; deverão ser simples, claros e diferentes entre si quando servirem para demonstrar registro de fatos diferentes; quando possível, deverá existir uma padronização (por exemplo: tique de soma e de conferido com a razão); os papéis de trabalho não deverão ficar repletos de tiques, pois isso acaba por impossibilitar o desenvolvimento do trabalho feito. Letras explicativas Correspondem aos exames praticados pelo auditor e necessitam de uma explicação adicional ao exame efetuado. Como exemplo, existe o caso em que o auditor examina uma despesa por meio da documentação-suporte. Caso tal exame não identifique nenhuma anormalidade, a indicação poderia ter sido feita por tique explicativo. Em caso de exceção, como, por exemplo, falta de comprovantes, aprovação, indicação dos exames praticados, é necessário que sejam adicionadas informações constatadas, o que é feito com o uso de letras explicativas. Notas explicativas Correspondem aos exames praticados pelo auditor. Geralmente têm conotação de ordem geral e não podem ser indicadas por tiques e letras explicativas. Exemplo A definição de extensão de um trabalho realizado, a definição dos critérios utilizados para a seleção dos valores a serem praticados, o procedimento de confirmação, a seleção dos itens deestoque identificados para a contagem física, bem como o relacionamento de exames praticados entre áreas afins como o imobilizado e as despesas de manutenção e reparos. Tipos de papéis de trabalhos Crepaldi (2011) relata que, se os papéis de trabalho devem ser os meios pelos quais a prova é obtida, segue-se que eles devem assumir ampla variedade de formas e modelos. Um papel de trabalho é qualquer registro que o auditor faz de seu trabalho ou de material que ele encontra, a �m de utilizar em conjunto com seu parecer. Na próxima aula, abordaremos a amostragem de auditoria utilizada para proporcionar ao auditor uma base razoável, a fim de que ele possa concluir o seu trabalho quanto à população da qual a amostra é selecionada. Atividade 4. As Normas de Auditoria requerem que as firmas estabeleçam políticas e procedimentos para a retenção da documentação de trabalhos. O período de retenção para trabalhos de auditoria, geralmente, não é inferior a cinco anos a contar da data do relatório do auditor ou, se posterior, da data do relatório do auditor do grupo. a) Certo. b) Errado. Notas Documentação de auditoria O registro dos procedimentos de auditoria executados, da evidência de auditoria relevante obtida e conclusões alcançadas pelo auditor (usualmente também é utilizada a expressão ― papéis de trabalho). Referências ALMEIDA, Marcelo Cavalcanti. Auditoria: um curso moderno e completo. 8. ed. São Paulo: Atlas. 2012. ATTIE, William. Auditoria: conceitos e aplicações. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2011. BRASIL. Lei 6.404/76 de 15 de dezembro de 1976. Dispõe sobre as sociedades por ações. Disponível em: <http:// www.planalto.gov.br/ ccivil_03/ leis/ l6404consol.htm <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6404consol.htm> >. Acesso em: 24 mar. 2013. CREPALDI, S. A. Auditoria contábil: teoria e prática. 8. ed. São Paulo: Atlas, 2011. 1 PEREZ JUNIOR, José Hernandez. Auditoria de demonstrações contábeis: normas e procedimentos. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2012. SILVA, Moacir Marques da. Curso de auditoria governamental: de acordo com as normas Internacionais de Auditoria Pública aprovadas pela INTOSAI. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2012. Próximos Passos Amostragem de auditoria; População; Amostragem; Risco de amostragem. Explore Mais CONSELHO Federal de Contabilidade. Normas brasileiras de contabilidade <http://portalcfc.org.br/wordpress/wp-content/uploads/2013/01/Auditoria_Interna.pdf> . Auditoria interna. NBC TI 0.1. CONSELHO Federal de Contabilidade. Normas Brasileiras de Contabilidade <http://www2.cfc.org.br/sisweb/sre/detalhes_sre.aspx?Codigo=2016/NBCTA230(R1)> . Documentação de Auditoria. NBC TA 230 (R1). IBRACON – Instituto dos Auditores Independentes do Brasil. NPA – Normas e Procedimentos de Auditoria <http://www.ibracon.com.br/ibracon/Portugues/lisPublicacoes.php?codCat=2> . PORTAL de auditoria. Procedimentos de auditoria <https://portaldeauditoria.com.br/procedimentos-de-auditoria-auditoria-interna> . TRIBUNAL de Contas da União (TCU). Manual de auditoria operacional.