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Bases Técnicas do Hemograma e suas Aplicações Samuel Ricardo Comar Ricardo Pasquini c a p í t u l o 83 INTRODUÇÃO A inspeção do sangue humano há muito tempo tem sido uma ferramenta básica de diagnóstico e as invenções relacionadas à análise dos componentes do sangue sem- pre foram caracterizadas por observações cuidadosas e meticulosas, que resultaram em técnicas avançadas para sua época. Na década de 1850, contagens mais precisas e exatas de eritrócitos, leucócitos e plaquetas tornaram-se possíveis devido à introdução das câmaras de contagem ou hemocitômetros por Welker e Cramer. A primeira tentativa para se determinar a concentração de hemoglo- bina no sangue foi realizada por Gowers em 1878. Con- tudo, o método da cianometa-hemoglobina, atualmente recomendado pelo International Council for Standardization in Haematology (ICSH) como método de referência, foi introduzido por Stadie em 1920. O emprego da técnica de centrifugação para a determinação do hematócrito foi aperfeiçoado por Wintrobe em 1929. O desenvolvi- mento das colorações do tipo Romanowsky, uma mis- tura de corantes ácidos e básicos, incluindo Leishman (1901), May & Grunwald (1902) e Wright (1902) abriu um novo horizonte para o exame morfológico das célu- las sanguíneas através de um microscópio, possibilitan- do o estabelecimento de relações entre as observações microscópicas e a acepção clínica. Na década de 1950, Coulter desenvolveu o método da impedância, que se tornou amplamente utilizado para contar células sanguí- neas. A partir dessa época, o incremento das pesquisas aliado à evolução tecnológica fez com que a utilidade clínica do hemograma se consolidasse e o mesmo pas- sou a ser solicitado rotineiramente para grande número de pacientes com o propósito de diagnosticar doenças e fazer acompanhamento de terapias específicas. PRINCÍPIOS DAS TÉCNICAS HEMATOLÓGICAS Para se determinar os parâmetros do hemograma po- dem ser utilizadas técnicas manuais e automatizadas. As técnicas manuais são geralmente de baixo custo em relação a equipamentos e reagentes, contudo requerem mais tra- balho. Já as técnicas automatizadas, mais caras, conferem maior rapidez na execução do exame, são mais precisas e exatas além de fornecer parâmetros que não possuem equi- valentes nas técnicas manuais. Contudo, apesar dos avanços tecnológicos, os métodos manuais ainda são utilizados em situações com amostras que possuem características dife- rentes das normais e que podem fornecer resultados equi- vocados pelos equipamentos automatizados. Além disso, algumas técnicas manuais são necessárias como método de referência para padronização de técnicas automatizadas. O anticoagulante de escolha para o hemograma é o EDTA e o seu mecanismo de ação envolve a quelação do cálcio do sangue. O EDTAK2 (dipotássico) é o sal reco- mendado para uso pelo ICSH. Devem-se tomar cuidados relativos à correta coleta das amostras e seu transporte ao laboratório, a fim de que resultados confiáveis sejam forne- cidos. A análise deve ser realizada preferencialmente dentro das seis primeiras horas após a coleta. Procedimentos manuais Eritrócitos e leucócitos Atualmente são utilizadas apenas em situações em que a automação não está disponível. Plaquetas A contagem manual de plaquetas pode ser realizada por métodos diretos e indiretos. Nos métodos diretos a conta- 817 818 Tratado de Hematologia gem manual é realizada em um hemocitômetro, utilizando a microscopia de contraste de fase, que facilita a melhor identificação das plaquetas. Os métodos indiretos são utilizados habitualmente para se estimar e eventualmente validar a contagem eletrônica, pois esta poderá não estar correta devido aos problemas relacionados à coleta do sangue. As plaquetas são contadas em extensões sanguíneas devidamente bem confeccionadas e coradas para posteriormente serem correlacionadas com a contagem de eritrócitos. O método indireto mais conhe- cido é o de Fonio, contudo existem muitos outros métodos que podem ser utilizados com segurança e confiabilidade. Apesar de a contagem automatizada de plaquetas ser mais precisa e exata que a contagem manual, há um ris- co potencial para contagens falsamente baixas ou altas nos analisadores hematológicos. Assim, a coagulação parcial da amostra, presença de agregados plaquetários induzidos pelo EDTA, macroplaquetas, plaquetas gigantes, sateli- tismo plaquetário, processos infecciosos e a presença de aglutininas plaquetárias frias podem conduzir a resultados falsamente diminuídos na contagem automatizada de pla- quetas, ao passo que fragmentos eritrocitários, fragmentos citoplasmáticos de células leucêmicas, micrócitos com vo- lume próximo ao limite de corte (ver Método elétrico – Im- pedância), lipemia, bactérias e leveduras podem conduzir a resultados falsamente aumentados, o que torna a contagem de plaquetas por métodos manuais diretos e indiretos uma ferramenta essencial para identificar e contornar essas causas de contagens espúrias de plaquetas. Reticulócitos A contagem manual de reticulócitos baseia-se na observação microscópica dos restos de RNA ribossomal evidenciados por colorações supravitais, geralmente compos- tas de azul de metileno novo ou azul de cresil brilhante. A variabilidade interobservadores na identificação morfológica, o número total de células contadas, variações na coloração e a qualidade da extensão sanguínea consti- tuem as principais fontes de imprecisão na contagem manual de reticulócitos. Hemoglobina A dosagem de hemoglobina baseia-se na absorção espectrofotométrica de uma solução de cianeto de potássio e ferricia- neto de potássio, chamada de reagente de Drabkin, misturada com uma pequena amostra de sangue. Chamado de método da cianometa-hemoglobina, ele apresenta elevada precisão analítica e quando somado à baixa variação fisiológica existente em in- divíduos normais, torna a hemoglobina um dos parâmetros mais estáveis e confiáveis do hemograma. Hematócrito O hematócrito é a relação do volume ocupado pelos eritrócitos em um volume de sangue total e é determinado manualmente pela transferência de sangue total para um tubo graduado e especialmente projetado (tubo de Win- trobe) ou para um tubo capilar selado, seguido de centri- fugação em alta velocidade e posterior determinação do comprimento da coluna de eritrócitos compactados em relação ao comprimento total da coluna de eritrócitos mais plasma. No ponto de separação entre a coluna de plasma e de eritrócitos, pode-se visualizar uma camada de cor clara, chamada buffy coat, que contém leucócitos e plaquetas (Fi- gura 83.1). O hematócrito determinado manualmente é um méto- do confiável e de baixo custo, e ainda é muito utilizado, sobretudo em bancos de sangue para triagem de doadores. Constantes (índices) corpusculares Utilizando-se os resultados da contagem de eritrócitos da dosagem de hemoglobina e do hematócrito é possível determinar as constantes corpusculares, as quais foram descritas por Wintrobe em 1929. São elas: o Volume Cor- puscular Médio (VCM), a Hemoglobina Corpuscular Média (HCM), e a Concentração de Hemoglobina Corpuscular Média (CHCM). Esses índices estimam o tamanho dos eri- Figura 83.1 Separação dos elementos do sangue no método de microematócrito (adaptado de DeNicola, 2011). 819Capítulo 83 Bases Técnicas do Hemograma e suas Aplicações trócitos e o conteúdo de hemoglobina e são calculados da seguinte maneira: VCM (fl) = Hematócrito (%) × 10 ÷ Eritrócitos (×106/µL) HCM (pg/eritrócito) = Hemoglobina (g/dL) × 10 ÷ Eritrócitos (×106/µL) CHCM (g/dL) = Hemoglobina (g/dL) × 100 ÷ Hematócrito (%) O VCM é uma medida de volume dos eritrócitos. Con- tudo, na observação microscópica de uma extensão san- guínea corada, auxilia a estimar o tamanho dos eritrócitos. O HCM expressa a quantidade absoluta de hemoglobina presente nos eritrócitos e o CHCM reflete a intensidade relativa da coloração dos eritrócitos. Todos esses parâme- tros possibilitarama classificação das anemias com base nas diferenças de tamanho e conteúdo de hemoglobina dos eritrócitos. Esses índices provaram ser muito úteis na classi- ficação e no entendimento das anemias e são relatados por todos os analisadores hematológicos automatizados. Exame microscópico da extensão sanguínea Nos tempos atuais, em que tecnologias avançadas são utilizadas no diagnóstico de muitas doenças, o exame mi- croscópico de uma extensão sanguínea ainda se destaca como uma ferramenta de diagnóstico rápido e barato, e que é realizada na maioria dos laboratórios clínicos. Portanto, compreender quando se deve analisar uma extensão san- guínea e como fazer tal procedimento é fundamental para o uso eficiente desse recurso. Neste sentido, critérios de triagem baseados nos valores das contagens automatizadas e na presença ou não de alertas morfológicos podem ser programados com o sistema de informação dos analisado- res hematológicos e se os resultados de determinada amos- tra não satisfazem tais critérios, a verificação microscópica da extensão sanguínea torna-se compulsória. A revisão mi- croscópica também deve ser realizada em decorrência de aspectos clínicos observados pelos médicos, tais como es- plenomegalia e linfadenopatia. A International Society for Laboratory Hematology (ISLH) pu- blicou um conjunto de 41 diretrizes que podem ser aplicadas como critérios de revisão de resultados de hemogramas au- tomatizados (disponíveis em: <www.islh.org>). Para se realizar o exame microscópico é fundamental o preparo adequado de uma extensão sanguínea, a qual após ser corada é levada ao microscópio ótico para que as células sanguíneas sejam examinadas, no intuito de se constatar anor- malidades quantitativas e qualitativas das células sanguíneas. O exame microscópico pode se limitar a um rastreamento rápido da extensão, para confirmar ou refutar os valores fornecidos pela automação ou pode incluir um exame completo incluindo contagem diferencial manual de leucócitos e revisão morfoló- gica das células sanguíneas com quantificação das alterações e emissão de comentários interpretativos. A quantidade de hemogramas que necessitam de re- visões microscópicas pode variar muito entre os labo- ratórios, alcançando taxas de revisão entre 5 e 90% dos hemogramas de uma rotina laboratorial. Essa tarefa é altamente dependente da habilidade e acuidade visual do observador e da qualidade da coloração e da exten- são sanguínea. Quando benfeita fornece muitas infor- mações diagnósticas importantes para grande número de situações. Contudo, cabe ressaltar que a subjetividade interobservadores e a diferenciação de apenas cem leucó- citos resultam em grande variação das contagens manuais quando comparadas com as contagens automatizadas, as quais são muito confiáveis para tipos celulares normais. Apesar disso, esse método ainda se mantém como o cer- ne da identificação das células do sangue, sobretudo pelo fato de muitas células anormais e alterações morfológicas de eritrócitos, leucócitos e plaquetas ainda não serem to- talmente reconhecidas pelos analisadores hematológicos, conforme Tabela 83.1. Sistemas automatizados em hematologia A automação no setor de hematologia vem crescendo substancialmente nos últimos anos e os fabricantes oferecem cada vez mais inovações em seus analisadores hematológicos com o intuito de diminuir os custos, a intervenção humana e o tempo de liberação dos resultados, possibilitando que mais diagnósticos e tratamentos sejam realizados em tempo adequado. Ademais, os resultados são mais precisos e exatos que os dos métodos manuais, e, desde a década de 1980, os analisadores hematológicos automatizados vêm substituindo totalmente os métodos manuais de contagem, com exceção, em certas situações, da contagem diferencial de leucócitos e de plaquetas por microscopia de contraste de fase. Os analisadores hematológicos utilizam vários recursos de medição, sendo as principais delas: a medida da impe- dância em baixas e altas frequências, a medida do desvio da luz, a qual pode ser incidida frontal e lateralmente, e, ainda, emissão de fluorescência e reações de absorção da luz pre- cedida de reações citoquímicas. Tecnologia de detecção e contagem de células do sangue Todos os analisadores hematológicos notam a presença de uma célula quando a mesma provoca uma alteração du- rante a passagem por um campo eletromagnético. Contudo, diferentes tecnologias são empregadas para criar o campo eletromagnético e, como resultado, diferentes propriedades biofísicas das células são responsáveis pela criação do sinal a ser detectado. Em relação à frequência de oscilação do campo, constatou-se que sinais de baixa frequência defi- nem o tamanho da célula enquanto sinais elétricos de alta frequência são influenciados pela estrutura interna das cé- lulas. Quando a detecção das células é feita em um campo elétrico estático, tradicionalmente denomina-se impedância elétrica, enquanto que um campo de frequência ótica é de- nominado método ótico ou de dispersão da luz. 820 Tratado de Hematologia Método elétrico – Impedância O primeiro contador de células sanguíneas que utilizou o princípio da impedância foi o Coulter Counter Modelo A. Esse método tornou possível aumentar o número de contagens de células em cem vezes quando comparado aos métodos manuais e, adicionalmente, diminuiu o tempo de enumeração de células de 30 minutos para 15 segundos e reduziu o erro em um fator de dez vezes. O método da impedância elétrica baseia-se na determi- nação de mudanças na condutividade de um meio condu- tor, como solução salina, durante a passagem das células sanguíneas, consideradas partículas não condutoras de ele- Tabe la 83 .1 Achados morfológicos de grande contribuição no diagnóstico e tratamento de doenças e que não são precisamente de- tectáveis e quantificáveis pelos analisadores hematológicos atuais. Achados observados na extensão sanguínea Condições clínicas Faggot cells LMA M3 Hipogranulação e degranulação de neutrófilos e plaquetas Síndromes Mielodisplásicas (SMD) Eritroblastos múltiplas Pelger Huët, “Anomalia” de Pelger-Huët e pseudo Pelger-Huët Doenças hereditárias dos leucócitos e SMD Granulações tóxicas, corpúsculos de Döhle e vacúolos citoplasmáticos Infecção e doenças hereditárias dos leucócitos Neutrófilos hipersegmentados Anemia megaloblástica Plasmócitos e formação de Rouleaux Mieloma múltiplo, macrogrobulinemia Bastonete de Auer Leucemias mieloides agudas Linfócitos clivados, lobulados e foliares Doenças linfoproliferativas Esferócitos e aglutinação eritrocitária Anemia hemolítica autoimune Esferócitos e policromatofilia Esferocitose hereditária Cristais de hemoglobina C Hemoglobinopatia C Ponteado basófilo Intoxicação pelo chumbo e talassemias Howell-Jolly e acantócitos Pós-esplenectomia Eliptócitos Eliptocitose hereditária Codócitos Talassemias e doenças hepáticas Acantócitos Acantocitose hereditária e abetalipoproteinemia Estomatócitos Estomatocitose hereditária Drepanócitos Anemia falciforme e hemoglobinopatia SC Dacriócitos Mielofibrose com metaplasia mieloide Hemoparasitas Malária Fragmentos eritrocitários ou esquistócitos Anemia hemolítica microangiopática, coagulação intravascular disseminada Linfócitos atípicos ou reativos Viroses Hairy cells Tricoleucemia Linfoblastos pequenos Leucemias linfoides agudas Plaquetas cinzentas SMD e síndrome das plaquetas cinzentas Nota: As condições clínicas apresentadas são apenas exemplos, não se restringindo à ocorrência dos achados morfológicos a essas condições. Achados morfológicos como Faggot cells e esquistócitos são clinicamente relevantes, pois as doenças a eles associadas exigem diagnóstico urgente, de modo que o tratamento possa ser iniciado mais precocemente, contribuindo para a redução significativa da mortalidade e morbidade. 821Capítulo 83 Bases Técnicas do Hemograma e suas Aplicações tricidade, através de uma pequena abertura entre dois ele-trodos. A pequena abertura por onde as células passam possui diâmetro e comprimento predefinido, de acordo com o tipo celular que se deseja contar e a região ao re- dor desse orifício chama-se zona de detecção. Mudanças na condutividade do meio ou impedância são proporcionais aos volumes das células, que possibilitam, além de contá- -las, separá-las por tamanho através do estabelecimento de limites de corte (threshold). Quando as células atravessam a zona de detecção, uma a uma em fila simples, pode-se determinar com exatidão sua contagem. Contudo, quando duas ou mais células passam ao mesmo tempo, contagens inexatas são fornecidas. A magnitude desse erro de coinci- dência aumenta simultaneamente com a concentração da suspensão de células e, para eliminar esse erro nos resulta- dos relatados, estabeleceu-se o uso de diluições apropriadas das amostras e uma fórmula de correção da coincidência que é integrada ao sistema de informação dos analisadores (Figura 83.2). Alternativamente, foram desenvolvidos métodos que produzem um fluxo controlado de amostra através da aber- tura, induzindo as células a passarem no centro da zona de detecção, em fila simples, para evitar distorções. A fo- calização hidrodinâmica é um desses métodos e tem sido implantada em vários analisadores hematológicos. Na foca- lização hidrodinâmica um fluxo constante de diluente passa pelo orifício de contagem e a suspensão de células é injeta- da nessa massa líquida em movimento, de modo a formar uma corrente fina de células que passam praticamente uma a uma pela abertura. Após a passagem através da abertura, a amostra diluída é envolvida por outra corrente de fluxo do mesmo diluente, e é então removida. Isso impede que os eritrócitos e as plaquetas, nesta área, recirculem, impedindo a geração de falsos pulsos e, consequentemente, contagens espúrias(Figura 83.3). Método ótico – dispersão da luz O método ótico pode ser utilizado como metodologia primária ou em combinação com o método da impedância para analisar eritrócitos, leucócitos e plaquetas. Há muitos detalhes exclusivos para os analisadores atuais, embora os princípios básicos para a análise por citometria de fluxo se- jam semelhantes. Nos sistemas óticos, um fluxo centraliza- Figura 83.2 Princípio da impedância elétrica e fenômeno de coincidência (adaptado de Fujimoto, 1999). Figura 83.3 Focalização hidrodinâmica (adaptado de Tatsumi et al., 1999). 822 Tratado de Hematologia do de amostra, geralmente obtido por focalização hidrodinâmina, é direcio- nado através de uma câmara de fluxo por onde passa uma fonte de luz laser monocromática em fase. Durante esse trajeto, as células provocam alterações no feixe de luz e o número de vezes que a luz dispersa incide sobre o foto- detector possibilita a enumeração das células (Figura 83.4). A interação das células com o fei- xe de luz provoca a dispersão da luz em várias direções, assim como fe- nômenos de absorção, difração, re- fração e reflexão, os quais podem ser acentuados in vitro através de reações citoquímicas com fluorocromos, enzi- mas como a peroxidase dentre outras técnicas especializadas (Figura 83.5). Com a ajuda de um computador, as diferentes interações entre as células e a luz laser podem ser esboçadas em gráficos para gerar citogramas e histo- gramas com informações qualitativas e quantitativas das células sanguíneas. A Tabela 83.2 mostra, resumida- mente, informações técnicas impor- tantes sobre os principais analisadores hematológicos comercializados no Brasil. Figura 83.5 Princípios de interação das células com a luz em analisadores hematológicos (adaptado de DeNicola, 2011). Figura 83.4 Disposição ótica de um sistema de dispersão de luz. O batente impede que a luz atinja o foto detector (A), a menos que uma célula disperse a luz (B) (adaptado de England, 1991). 823Capítulo 83 Bases Técnicas do Hemograma e suas Aplicações Tab e la 83 . 2 Informações técnicas e tecnologia empregada nos principais analisadores hematológicos comercializados no Brasil. Beckman Coulter Sysmex Abbott Diagnostics Siemens Diagnostics Horiba Medical Mindray Origem Hialeah, Florida – EUA Kobe – Japão Abbott Park, Illinois – EUA Tarrytown, New York – EUA Montpellier – França Shenzhen – China Analisador hematológico Coulter LH 780 XE-5000 CELL-DYN SAPPHIRE ADVIA 2120i PENTRA DX 120 BC 6800 Capacidade de processamento (testes/hora) 110 150 100 120 120 125 Leucócitos Impedância Impedância Ótico Ótico Impedância Impedância Eritrócitos Impedância Impedância Ótico e impedância Ótico Impedância Impedância Hemoglobina Cianometahemoglobina modificado Livre de cianeto com Lauril Sulfato de Sódio Livre de cianeto com Imidazol Cianometahemoglobina ou livre de cianeto com óxido de dimetil laurilamina e ótico Cianometahemoglobina ou livre de cianeto através de espectrofotometria de compostos de oxidação do ferro do grupamento heme Cianometahemoglobina Volume Globular (Eritrócitos × VCM)/10 Medição direta pela soma dos pulsos de RBC (Eritrócitos × VCM)/10 (Eritrócitos × VCM)/10 (Eritrócitos × VCM)/10 (Eritrócitos × VCM)/10 VCM Média do volume dos eritrócitos obtido do histograma de distribuição (Volume Globular/ Eritrócitos) × 10 Média do volume dos eritrócitos obtido do histograma de distribuição Média do volume dos eritrócitos obtido do histograma de distribuição Média do volume dos eritrócitos obtido do histograma de distribuição Média do volume dos eritrócitos obtido do histograma de distribuição HCM (Hemoglobina/ Eritrócitos) × 10 (Hemoglobina/ Eritrócitos) × 10 (Hemoglobina/ Eritrócitos) × 10 (Hemoglobina/ Eritrócitos) × 10 (Hemoglobina/Eritrócitos) × 10 (Hemoglobina/ Eritrócitos) × 10 CHCM (Hemoglobina/Volume Globular) × 100 (Hemoglobina/Volume Globular) × 100 (Hemoglobina/Volume Globular) × 100 (Hemoglobina/Volume Globular) × 100 (Hemoglobina/Volume Globular) × 100 (Hemoglobina/Volume Globular) × 100 RDW Coeficiente de variação e desvio padrão do histograma de eritrócitos Coeficiente de variação e desvio padrão do histograma de eritrócitos Coeficiente de variação do histograma de eritrócitos Coeficiente de variação do histograma de eritrócitos Coeficiente de variação do histograma de eritrócitos Coeficiente de variação e desvio padrão do histograma de eritrócitos Plaquetas Impedância Impedância e ótico Impedância, ótico e imunológico com CD61 Ótico Impedância Impedância e ótico VPM Média do volume das plaquetas obtido do histograma de distribuição (Plaquetócrito/ Plaquetas × 103/µL) × 10000 Média do volume das plaquetas obtido do histograma de distribuição Média do volume das plaquetas obtido do histograma de distribuição Média do volume das plaquetas obtido do histograma de distribuição Média do volume das plaquetas obtido do histograma de distribuição Reticulócitos Coloração supravital com azul de metileno novo e detecção do volume, condutividade e dispersão da luz (Tecnologia VCS) Coloração supravital com Polimetina e detecção ótica da fluorescência Coloração com Cianina (Sybr II) e detecção ótica da dispersão da luz e da fluorescência Coloração supravital com Oxazina 750 e detecção ótica da dispersão da luz e da absorbância Coloração com laranja de Thiazol e detecção ótica da fluorescência e por impedância Coloração supravital com corante fluorescente patenteado e detecção ótica da fluorescência Neutrófilos VCS Método ótico e coloração fluorescente Detecção ótica da fluorescência e da dispersão da luz polarizada e despolarizada em múltiplos ângulos Coloração pela peroxidase + método ótico Impedância + citoquímica + método ótico Método ótico e coloração fluorescente Linfócitos Monócitos Eosinófilos Basófilos Lise diferencial + Método ótico Lise diferencial + método ótico Lise diferencial + impedância Lise diferencial + Método ótico VCM: Volume Corpuscular Médio;HCM: Hemoglobina Corpuscular Média; CHCM: Concentração de Hemoglobina Corpuscular Média; RDW: Red Cell Distribution Width (Índice de distribuição dos volumes eritrocitários); VPM: Volume Plaquetário Médio; VCS: Volume, Condutivity, Scatter (Volume, condutividade e dispersão da luz). 824 Tratado de Hematologia Os resultados fornecidos pelos analisadores hemato- lógicos podem ser reportados para o laboratório através de contagens numéricas, histogramas e citogramas (Fi- gura 83.6). Os resultados numéricos são apresentados na forma de números simples, os quais representam a con- centração celular em número por unidade de volume. No caso das subclasses de leucócitos, a concentração pode também ser representada como uma porcentagem da subclasse em questão em relação ao total de leucóci- tos. Os histogramas são exibidos graficamente, e ilustam, por meio de uma distribuição de frequência, a concen- tração de células em sua distribuição por tamanho. Nos casos de contagem de células com método ótico, onde um detector é usado para determinar a luz dispersa por célula, e o outro para determinar a luz absorvida, os dois sinais podem ser utilizados para gerar um gráfico cha- mado citograma. Nesse tipo de gráfico, cada célula é um ponto no gráfico cuja distância do ponto de origem é representada pela amplitude do sinal em cada um dos dois canais de detecção. Determinação automatizada da concentração de hemoglobina Muitos analisadores hematológicos ainda determinam a concentração de hemoglobina através de uma modificação do método manual da cianometa-hemoglobina, entretan- to, muitos fabricantes de analisadores automatizados estão substituindo esse método por outros que possam reduzir possíveis danos ambientais causados pelo cianeto, particu- larmente no que diz respeito ao tratamento dos grandes volumes de resíduos gerados na rotina laboratorial. Nesses novos métodos o cianeto vem sendo substituído por lauril sulfato de sódio, imidazol, dodecil sulfato de sódio e óxido de dimetil-lauril-amina, os quais geram novos derivados es- táveis da hemoglobina que também podem ser mensurados espectrofotometricamente. Figura 83.6 Exemplos de resultados numéricos, citogramas e histogramas fornecidos pelos analisadores hematológicos. 825Capítulo 83 Bases Técnicas do Hemograma e suas Aplicações Determinação automatizada do volume globular (hematócrito) A maioria dos analisadores hematológicos determina o volume corpuscular médio dos eritrócitos e, a partir dele e da contagem de eritrócitos, o volume globular (hemató- crito). Outros analisadores determinam o volume globular (hematócrito) diretamente, pelo método da detecção dos pulsos gerados por eritrócito que passa pela zona de de- tecção. Nesse método, os volumes de todas as células que passam pela zona de detecção são somados, considerando- -se a diluição da amostra e o volume injetado durante um período de tempo determinado. A diferença básica entre volume globular e hematócrito é que o último possui uma pequena quantidade de plasma aprisionado de cerca de 1 a 2% em indivíduos normais, podendo ultrapassar 5% em pacientes com anemia falciforme, e outras situações que alterem a deformabilidade dos eritrócitos. Alertas morfológicos Apesar dos grandes avanços observados nos analisado- res hematológicos, ainda existem problemas associados com amostras de sangue anormais. Pode-se facilmente compre- ender a dificuldade que um analisador encontra ao avaliar células anormais, incluindo blastos, granulócitos imaturos, linfócitos atípicos, leucócitos com inclusões citoplasmáti- cas e até mesmo amostras com hemoparasitas. De modo geral, os contadores são projetados para reconhecer células normais e quando há um número significativo de células anormais, com alterações no tamanho e forma, possíveis problemas de identificação das células serão encontrados. Algumas limitações dos analisadores são substituídas por uma série de alertas ou “flags” que indicam dificuldades na identificação das células. Tais alertas sugerem a presença de determinados tipos celulares diferentes dos normais. Portanto, é um resultado qualitativo, que implica na neces- sidade de verificação, geralmente através da revisão micros- cópica da lâmina de sangue periférico. Esses “flags” devem ser respeitados e as recomendações do fabricante devem ser seguidas para garantir a qualidade resultados. CONFIABILIDADE DOS ANALISADORES HEMATOLÓGICOS Monitoramento da calibração A obrigação ética de produzir resultados confiáveis e reprodutíveis jamais pode ser deixada em segundo plano e, para isso, os laboratórios de hematologia devem adotar práticas que garantam o fornecimento de resultados ine- quívocos e relevantes para o problema clínico em questão. Neste sentido, entre as tarefas mais importantes estão a calibração inicial dos analisadores hematológicos e o seu correto monitoramento. Os calibradores próprios para analisadores possuem composição semelhante ao sangue humano, contudo sua principal característica seja o fato de possuírem um estreito intervalo de aceitabilidade para cada parâmetro hematológico, o que permite aproximar os valo- res fornecidos pelo instrumento dos valores reais conheci- dos. Este fato distingue os calibradores de outros materiais, como amostras de controles comerciais, as quais possuem variação aceitável mais ampla. Amostras de pacientes, pro- cessadas e validadas em determinado equipamento, nunca devem ser utilizadas como calibrador para outros equipa- mentos, pois não há como garantir que os valores alvo es- tejam livres de fontes de variação, as quais podem provocar desvios analíticos significativos nos resultados do analisa- dor a ser calibrado. O monitoramento da calibração é realizado através de práticas de controle de qualidade, as quais visam a detec- tar erros que ocorrem nas análises, prevenir a liberação de resultados incorretos, e garantir que o desempenho dos analisadores seja estável ao longo do tempo. Entre as abor- dagens mais utilizadas no laboratório de hematologia estão incluídas a utilização de controles comerciais, de amostras retidas de pacientes e a verificação da consistência das mé- dias móveis dos pacientes ao longo do tempo. Também pode-se utilizar o procedimento chamado “Delta Check”, em que se compara o resultado atual de um paciente com alguns de seus resultados anteriores a fim de se detectar dis- crepâncias que não sejam justificadas pela situação clínica em questão. Precisão, exatidão e sensibilidade clínica O desempenho analítico dos analisadores hematológi- cos é tradicionalmente avaliado por meio de testes de pre- cisão, exatidão e sensibilidade clínica. A precisão tem como base o coeficiente de variação de uma série de repetições da mesma. Já a exatidão é o grau de concordância entre o valor médio obtido e o valor de referência aceito. A fal- ta de exatidão e precisão na determinação dos parâmetros hematológicos pode ter como consequência um posiciona- mento equivocado dos resultados em relação aos valores limítrofes estabelecidos para os intervalos de referência e limites de corte para tomada de decisões clínicas. Pode, ain- da, diminuir a sensibilidade ou especificidade de um teste, dependendo da direção do desvio analítico. A sensibilidade clínica é definida como a habilidade do analisador em fazer a distinção entre amostras normais e patológicas em termos de anormalidades quantitativas e qualitativas tais como a presença de células imaturas e alterações morfológicas significativas dos eritrócitos. Atualmente, a sensibilidade dos analisadores hematológi- cos ainda necessita de avanços adicionais, embora o uso combinado de anormalidades quantitativas e alertas mor- fológicos permita a construção de algoritmos de tomada de decisão com uma taxa de resultados falsos-negativos menores que 5%. Apesar de a confiabilidade dos analisadores hemato- lógicos ser satisfatória para a maioria dos parâmetros do hemograma, quando se interpretam taisresultados é im- portante saber que estes podem variar devido a três prin- cipais fatores: influências pré-analíticas, erros analíticos dos contadores, variação biológica normal e inerente ao 826 Tratado de Hematologia estado de saúde dos indivíduos. As influências pré-analíti- cas dizem respeito ao preparo do paciente para a coleta da amostra e ao procedimento de coleta propriamente dito. Os erros analíticos (imprecisão e inexatidão) aos quais os analisadores hematológicos estão sujeitos possuem causas específicas e, embora não possam ser totalmente elimina- das, elas podem ser minimizadas por práticas adequadas de garantia da qualidade. Situações que interferem nas análises automatizadas As Tabelas 83.3 e 83.5 resumem várias situações que podem provocar interferência na maioria dos analisadores hematológicos e fornece sugestões para correção dos re- sultados. Tabe la 83 .3 Condições que causam interferência na maioria dos analisadores. Condição Parâmetro afetado Motivo Indicadores Ação corretiva Aglutininas frias (crioaglutininas e criofibrinogênio) GV↓, VCM↑, CHCM↑, LEU↑, Plaq↑ Aglutinação de GV e formação de micro- grumos de fibrinogênio Dupla população ou desvio à direita no histograma de GV Aquecer a amostra a 37 °C e reanalisar Lipemia e icterícia Hb↑, HCM↑ O aumento da turbidez afeta a leitura espectrofotométrica Hb × 3 ≠ VG±3 Substituição do plasma por igual quantidade de diluente Hemólise GV↓, VG↓ Os GV lisados não são contados Hb × 3 ≠ VG±3 Requisitar nova amostra Eritrócitos resistentes à lise com Hb anormal LEU↑, Hb↑ GV contendo Hb S, C ou F podem resistir à lise e ser contados como LEU Presença de ruídos nos histogramas e citogramas de LEU Realizar diluições manuais e conceder tempo de incubação para que ocorra a lise Micrócitos e esquistócitos GV↓, Plaq↑ Micrócitos e esquistócitos < que o limite de corte inferior para GV Desvio à esquerda no histograma de GV. O VCM é sinalizado se for menor que o limite inferior Revisar a lâmina. Estimativa do número de plaquetas por método indireto Eritroblastos e fragmentos de núcleo de megacariócitos LEU↑ Ambos são contados como LEU Alerta morfológico de eritroblastos Contar eritroblastos e fragmentos de núcleo de megacariócitos e corrigir LEU Agregados plaquetários Plaq↓, LEU↑ Agregados plaquetários podem ser contados como LEU Alerta morfológico de agregados plaquetários Recoletar a amostra em citrato de sódio e multiplicar o resultado por 1,1 LEU > 100.000/µL GV↑, Hb↑, HCT incorreto, índices hematimétricos anormais Aumento da turbidez para Hb, LEU são contados juntos com GV Hb × 3 ≠ VG±3, contagem de LEU pode estar acima da linearidade Fazer micro-hematócrito Fazer Hgb após substituição do plasma por igual quantidade de diluente. Corrigir GV em função de LEU. Recalcular índices. Se LEU acima da linearidade, diluir amostra para corrigir contagem Fragmentos citoplasmáticos de células nucleadas (leucemias e linfomas) LEU falsamente↓, Plaq falsamente ↑ LEU frágeis geram fragmentos de citoplasma que são contados como Plaq Contagem de plaquetas é inconsistente com resultados anteriores Revisar a lâmina. Contar plaquetas por microscopia com contraste de fase ou outro método alternativo Amostras antigas. Acima de 8 horas após a coleta se armazenadas entre (18 a 25 oC) e acima de 24 horas se armazenadas a 4 oC VCM↑, VPM↑, Plaq↓, contagem diferencial de LEU pode estar incorreta GV incham à medida que amostra envelhece. Plaq incham e degeneram. Os leucócitos são afetados por longos períodos de exposição ao EDTA Presença de agrupamentos anormais nos histogramas e citogramas de LEU Estabelecer critérios de aceitação e rejeição de amostras ↑: aumentado; ↓: diminuído; Hb: Hemoglobina; VG: Volume Globular; GV: Eritrócitos; LEU: Leucócitos; Plaq: Plaquetas; VCM: Volume Corpuscular Médio; HCM: Hemoglobina Corpuscular Média, CHCM: Concentração de Hemoglobina Corpuscular Média; VPM: Volume Plaquetário Médio. (Adaptado de Longbach et al., 2012; Zandecki et al., 2012.) Nota: As condições clínicas apresentadas são apenas exemplos, não se restringindo à ocorrência dos achados morfológicos a essas condições. Achados morfológicos como Faggot cells e esquistócitos são clinicamente relevantes, pois as doenças a eles associadas exigem diagnóstico urgente, de modo que o tratamento possa ser iniciado mais precocemente, contribuindo para a redução significativa da mortalidade e morbidade. 827Capítulo 83 Bases Técnicas do Hemograma e suas Aplicações Tab e la 83 .4 Novos parâmetros hematológicos e suas potenciais utilidades clínicas. Parãmetro Sigla e unidade Analisador hematológico Princípio de detecção Proposta de aplicação clínica Fração de reticulócitos imaturos IRF (%) Advia 2120 (Siemens) XE-2100, XE-5000 e XT-4000i (Sysmex); Pentra DX 120 (Horiba Medical); Cell Dyn Sapphire (Abbott Diagnostics); LH 780 (Beckman Coulter) Por citometria de fluxo e com base no conteúdo de RNA, os reticulócitos são divididos em três populações: de alta, média e baixa fluorescência. IRF = soma das frações de média e alta fluorescência Pode ser útil para distinguir anemias com elevada produção medular (ex: anemias hemolíticas ou perda de sangue) de anemias com atividade medular reduzida (ex: insuficiência renal crônica). Também é útil no monitoramento do tratamento. É um indicador de regeneração medular após transplante ou quimioterapia. Volume reticulocitário médio VCMr (fL) Advia 2120 (Siemens); Pentra DX 120 (Horiba Medical); Cell Dyn Sapphire (Abbott Diagnostics); LH 780 (Beckman Coulter) Método ótico com peculiaridades conforme o analisador hematológico empregado Em indivíduos com estoques diminuídos de ferro, o VCMr aumenta rapidamente logo após o início da terapia do ferro e diminui igualmente com a instalação de uma eritropoese deficiente de ferro. A multiplicação do VCMr pelo número de reticulócitos fornece o hematócrito dos reticulócitos, que permite avaliar possível abuso de eritropoetina em atletas. O aumento da relação VCMr/VCM pode indicar precocemente o aumento da resposta eritropoética após um transplante de medula óssea Conteúdo de hemoglobina dos reticulócitos CHr (pg) Ret-He (pg) Advia 2120 (Siemens) XE-2100, XE-5000 e XT-4000i (Sysmex) Método ótico com peculiaridades conforme o analisador hematológico empregado Fornece o teor de hemoglobina dos reticulócitos recém-produzidos, oferecendo informações em tempo real sobre a oferta de ferro para a eritropoese. Os valores aumentam dentro de 3 a 4 dias do início da terapia com ferro. É útil para diferenciar anemia por deficiência de ferro de anemia de doença crônica e monitorar tratamento com eritropoetina durante diálise. Diferentemente da ferritina e transferrina, não sofre interferência em estados inflamatórios. Valores abaixo de 28 pg são considerados diminuídos. Granulócitos imaturos IG (%) XE-2100, XE-5000 e XT-4000i (Sysmex) Baseado em citometria de fluxo após coloração do RNA e DNA das células por um corante fluorescente (Sysmex) Diagnóstico de infecções bacterianas e estados inflamatórios. IG constitui como uma alternativa à contagem de bastões, na qual o critério morfológico é muito variável Eritroblastos NRBC (%) e NRBC/ 100WBC Advia 2120 (Siemens); XE-2100, XE-5000 e XT-4000i (Sysmex); Pentra DX 120 (Horiba Medical); Cell Dyn Sapphire (Abbott Diagnostics); LH 780 Beckman Coulter), De um modo geral a contagem de eritroblastos é realizada por método ótico com peculiaridades conforme o analisador hematológico empregado Diagnóstico e prognóstico de doenças hematológicas. Em sangue de cordão umbilical, a contagem de eritroblastos auxilia na verificação da viabilidade das amostras. Correção da contagem automatizada de leucócitos quando necessário Continua NOVOS PARÂMETROS HEMATOLÓGICOS Os analisadores hematológicos estão cada vez mais so- fisticados, e o número de parâmetros disponíveise repor- táveis vem aumentando. Tais parâmetros possuem grande potencial para serem utilizados na prática médica e labo- ratorial, e podem permitir o desenvolvimento de novos indicativos para doenças específicas e anormalidades mor- fológicas. Esses novos parâmetros requerem conhecimento especializado no que se refere a sua interpretação e limita- ções analíticas, o que torna necessária a realização de cons- tantes atualizações por parte dos médicos e profissionais do laboratório. A Tabela 83.4 relaciona alguns dos novos parâmetros hematológicos com grande potencial de trazer informações úteis para a prática clínica. IRF: Immature Reticulocyte Fraction; VCMr: Volume Reticulocitário Médio; CHr: Conteúdo de Hemoglobina do Reticulócito; Ret-He: Equivalente de Hemoglobina do Reticulócito; IG: Immature Granulocytes; NRBC: Nucleated Red Blood Cells; HPC: Hematopoietic Progenitor Cells; HypoHe: Eritrócitos com pouca hemoglobina; HDW: Hemoglobin Distribution Width; MSCV: Mean Sphered Corpuscular Volume; RDW: Red Cell Distribution Width; FRC: Fragmented Red Cell; VPM: Volume Plaquetário Médio; PLT: plaquetas; IPF: Immature Platelet Fraction; WVF: White Cell Viability Fraction. Fonte: Adaptado de BAIN et al, 2012; BRIGGS, 2009; BURRARELLO; PLEBANI, 2008. 828 Tratado de Hematologia Parãmetro Sigla e unidade Analisador hematológico Princípio de detecção Proposta de aplicação clínica Células progenitoras hematopoéticas (Células CD34+) HPC (%) e HPC valor absoluto XE-2100 e XE-5000 (Sysmex) Utiliza-se uma combinação de impedância de baixa e alta frequência e lise seletiva para identificar as células progenitoras hematopoéticas (CD34+) Definir o momento ideal de se realizar a aférese para se obter um número suficiente de células progenitoras na circulação periférica, após sua mobilização através de fatores de crescimento hematopoiéticos. Estimativa da quantidade de células tronco em sangue de cordão umbilical Porcentagem de eritrócitos hipocrômicos HypoHe (%) Advia 2120 (Siemens); XE-2100, XE-5000 e XT-4000i (Sysmex); Cell Dyn Sapphire (Abbott Diagnostics) Método ótico com peculiaridades conforme o analisador hematológico empregado Indicador de deficiência de ferro. Monitoramento do tratamento com eritropoetina durante diálise. Auxilia na identificação de dimorfismo eritrocitário em pacientes com SMD Variação na concentração de hemoglobina dos eritrócitos, análogo ao RDW HDW (g/dL) Advia 2120 (Siemens) Obtido do histograma de distribuição das concentrações de hemoglobina de cada eritrócito analisado Monitoramento de anemia ferro priva em tratamento de em transfusões sanguíneas. O HDW é uma medida semi-quantitativa da anisocromia Volume corpuscular esférico médio MSCV (fL) LH 780 (Beckman Coulter) Obtido durante a contagem de reticulócitos sob condições de baixa osmolaridade. Os eritrócitos são capazes de sofrer uma expansão osmótica enquanto os esferócitos não, e assim se fragmentam quando atingem um volume crítico, que é consistente com a diminuição do MSCV Este achado se constitui um aperfeiçoamento confiável para rastrear amostras de pacientes com esferocitose hereditária e algumas anemias hemolíticas autoimunes quando o MSCV for menor que o VCM RDW-CV (coeficiente de variação) e RDW-SD* (desvio padrão) RDW-CV (%) RDW-SD (fL) Advia 2120 (Siemens) XE-2100*, XE- 5000* e XT-4000i* (Sysmex); Pentra DX 120 (Horiba Medical); Cell Dyn Sapphire (Abbott Diagnostics); LH 780* (Beckman Coulter); BC 6800* (Mindray) Obtidos do histograma de distribuição dos volumes eritrocitários Indicam um aumento da variabilidade do tamanho dos eritrócitos. Um RDW aumentado é comumente observado nas deficiências, como a de ferro, folato e vitamina B12. O RDW pode ser considerado uma medida semi-quantitativa da anisocitose Contagem de fragmentos eritrocitários FRC (%) e FRC valor absoluto Advia 2120 (Siemens) XE-2100, XE-5000 e XT-4000i (Sysmex) Por método ótico, são identificados com base no tamanho e no conteúdo de hemoglobina, independente da sua forma, portanto, outras partículas tais como eritrócitos pequenos ou mesmo fragmentos de membrana podem ser incluídos na contagem Pode ser utilizado para diagnóstico e monitoramento de microangiopatias, quando clinicamente apropriado, contudo um exame microscópico para confirmar a presença de esquistócitos é necessário para os resultados positivos Tabe la 83 .4 Novos parâmetros hematológicos e suas potenciais utilidades clínicas. (Continuação) Continua IRF: Immature Reticulocyte Fraction; VCMr: Volume Reticulocitário Médio; CHr: Conteúdo de Hemoglobina do Reticulócito; Ret-He: Equivalente de Hemoglobina do Reticulócito; IG: Immature Granulocytes; NRBC: Nucleated Red Blood Cells; HPC: Hematopoietic Progenitor Cells; HypoHe: Eritrócitos com pouca hemoglobina; HDW: Hemoglobin Distribution Width; MSCV: Mean Sphered Corpuscular Volume; RDW: Red Cell Distribution Width; FRC: Fragmented Red Cell; VPM: Volume Plaquetário Médio; PLT: plaquetas; IPF: Immature Platelet Fraction; WVF: White Cell Viability Fraction. Fonte: Adaptado de BAIN et al, 2012; BRIGGS, 2009; BURRARELLO; PLEBANI, 2008. 829Capítulo 83 Bases Técnicas do Hemograma e suas Aplicações Parãmetro Sigla e unidade Analisador hematológico Princípio de detecção Proposta de aplicação clínica Volume plaquetário médio VPM (fL) Advia 2120 (Siemens); Série XE e XT (Sysmex); Pentra 120 (Horiba Medical); Cell Dyn (Abbott Diagnostics); Série LH (Beckman Coulter); Série BC (Mindray) Os parâmetros de volume plaquetário são determinados tanto por analisadores que utilizam o método da impedância como ótico Diagnóstico diferencial entre trombocitopenias adquiridas e entre as hereditárias. Diferenciação entre trombocitose reativa e trombocitose em decorrência de uma doença mieloproliferativa. Diagnóstico de estados pré- trombóticos em doenças coronarianas. A metodologia tem um impacto significativo sobre a determinação do VPM e é imperativo que o anticoagulante utilizado, o tempo decorrido da coleta até a análise, a temperatura de armazenamento e a tecnologia empregada sejam especificadas nos laudos dos hemogramas para fins de interpretação Contagem de plaquetas com anticorpos monoclonais PLT/µL Cell Dyn Sapphire (Abbott Diagnostics) Utiliza anticorpos monoclonais específicos e fluorescentes contra as glicoproteínas da superfície da membrana plaquetária, CD41 (GPIIa) e CD61 (GPIIIa), conjuntamente com análise por citometria de fluxo Substitui alguns protocolos dos citômetros de fluxo tradicionais. Tem sido proposto pela ISLH como o novo método de referência para contagem de plaquetas Fração de plaquetas imaturas ou plaquetas reticuladas IPF (%) e IPF valor absoluto XE-5000 (Sysmex) Método ótico, com o uso da citometria de fluxo e corantes fluorescentes que se ligam ao RNA das plaquetas Diagnóstico diferencial de trombocitopenias. Predição da recuperação da contagem de plaquetas após quimioterapia ou transplante de medula óssea. Marcador de risco de trombose em pacientes com trombocitose. Avaliação da produção de plaquetas Fração viável de leucócitos WVF (ratio) Cell Dyn Sapphire (Abbott Diagnostics) Dispersão da luz polarizada e despolarizada em múltiplos ângulos Separa os leucócitos íntegros dos leucócitos não viáveis, que estão velhos e degenerados. É um parâmetro útil na identificação de amostras envelhecidas que são enviadas ao laboratório, as quais podem ser liberadas com resultados duvidosos. Também se constitui um bom método para quantificar células apoptóticas, podendo ser útil para predizer a resposta à quimioterapia e para avaliar o valor preditivo da indução da apoptose in vitro antes de começar um protocolo de quimioterapia Neut-X e Neut-Y Sem unidade XE-2100, XE-5000 e XT-4000i (Sysmex) São os valores médios da difração da população de neutrófilos e que representa a estrutura interna destas células Valores baixos de NEUT-X e NEUT-Yse correlacionam com hipogranulação em neutrófilos e quando considerado conjuntamente com anemia, torna-se altamente sugestivo de mielodisplasia. Em contrapartida, valores elevados de NEUT-X indicam alto conteúdo de grânulos nos neutrófilos e pode estar associado com estados infecciosos. São parâmetros de pesquisa IRF: Immature Reticulocyte Fraction; VCMr: Volume Reticulocitário Médio; CHr: Conteúdo de Hemoglobina do Reticulócito; Ret-He: Equivalente de Hemoglobina do Reticulócito; IG: Immature Granulocytes; NRBC: Nucleated Red Blood Cells; HPC: Hematopoietic Progenitor Cells; HypoHe: Eritrócitos com pouca hemoglobina; HDW: Hemoglobin Distribution Width; MSCV: Mean Sphered Corpuscular Volume; RDW: Red Cell Distribution Width; FRC: Fragmented Red Cell; VPM: Volume Plaquetário Médio; PLT: plaquetas; IPF: Immature Platelet Fraction; WVF: White Cell Viability Fraction. Fonte: Adaptado de BAIN et al, 2012; BRIGGS, 2009; BURRARELLO; PLEBANI, 2008. Tab e la 83 .4 Novos parâmetros hematológicos e suas potenciais utilidades clínicas. (Continuação) 830 Tratado de Hematologia Tabe la 83 .5 Condições que causam interferência na maioria dos analisadores. Condição Parâmetro afetado Motivo Indicadores Ação corretiva Aglutininas frias (crioaglutininas e criofibrinogênio) GV↓, VCM↑, CHCM↑, LEU↑, Plaq↑ Aglutinação de GV e formação de micro- grumos de fibrinogênio Dupla população ou desvio à direita no histograma de GV Aquecer a amostra a 37 °C e reanalisar Lipemia e icterícia Hb↑, HCM↑ O aumento da turbidez afeta a leitura espectrofotométrica Hb × 3 ≠ VG±3 Substituição do plasma por igual quantidade de diluente Hemólise GV↓, VG↓ Os GV lisados não são contados Hb × 3 ≠ VG±3 Requisitar nova amostra Eritrócitos resistentes à lise com Hb anormal LEU↑, Hb↑ GV contendo Hb S, C ou F podem resistir à lise e ser contados como LEU Presença de ruídos nos histogramas e citogramas de LEU Realizar diluições manuais e conceder tempo de incubação para que ocorra a lise Micrócitos e esquistócitos GV↓, Plaq↑ Micrócitos e esquistócitos < que o limite de corte inferior para GV Desvio à esquerda no histograma de GV. O VCM é sinalizado se for menor que o limite inferior Revisar a lâmina. Estimativa do número de plaquetas por método indireto Eritroblastos e fragmentos de núcleo de megacariócitos LEU↑ Ambos são contados como LEU Alerta morfológico de eritroblastos Contar eritroblastos e fragmentos de núcleo de megacariócitos e corrigir LEU Agregados plaquetários Plaq↓, LEU↑ Agregados plaquetários podem ser contados como LEU Alerta morfológico de agregados plaquetários Recoletar a amostra em citrato de sódio e multiplicar o resultado por 1,1 LEU > 100.000/µL GV↑, Hb↑, HCT incorreto, índices hematimétricos anormais Aumento da turbidez para Hb, LEU são contados juntos com GV Hb × 3 ≠ VG±3, contagem de LEU pode estar acima da linearidade Fazer micro-hematócrito Fazer Hgb após substituição do plasma por igual quantidade de diluente. Corrigir GV em função de LEU. Recalcular índices. Se LEU acima da linearidade, diluir amostra para corrigir contagem Fragmentos citoplasmáticos de células nucleadas (leucemias e linfomas) LEU falsamente↓, Plaq falsamente ↑ LEU frágeis geram fragmentos de citoplasma que são contados como Plaq Contagem de plaquetas é inconsistente com resultados anteriores Revisar a lâmina. Contar plaquetas por microscopia com contraste de fase ou outro método alternativo Amostras antigas. Acima de 8 horas após a coleta se armazenadas entre (18 a 25 oC) e acima de 24 horas se armazenadas a 4 oC VCM↑, VPM↑, Plaq↓, contagem diferencial de LEU pode estar incorreta GV incham à medida que amostra envelhece. Plaq incham e degeneram. Os leucócitos são afetados por longos períodos de exposição ao EDTA Presença de agrupamentos anormais nos histogramas e citogramas de LEU Estabelecer critérios de aceitação e rejeição de amostras ↑: aumentado; ↓: diminuído; Hb: Hemoglobina; VG: Volume Globular; GV: Eritrócitos; LEU: Leucócitos; Plaq: Plaquetas; VCM: Volume Corpuscular Médio; HCM: Hemoglobina Corpuscular Média, CHCM: Concentração de Hemoglobina Corpuscular Média; VPM: Volume Plaquetário Médio. (Adaptado de Longbach et al., 2012; Zandecki et al., 2012.) Nota: As condições clínicas apresentadas são apenas exemplos, não se restringindo à ocorrência dos achados morfológicos a essas condições. Achados morfológicos como Faggot cells e esquistócitos são clinicamente relevantes, pois as doenças a eles associadas exigem diagnóstico urgente, de modo que o tratamento possa ser iniciado mais precocemente, contribuindo para a redução significativa da mortalidade e morbidade. 831Capítulo 83 Bases Técnicas do Hemograma e suas Aplicações 1. Bain BJ. Diagnosis from the blood smear. N Engl J Med. 2005;353(5):498-507 2. Bain BJ, Bates I, Laffan MA, Lewis SM. Dacie and Lewis practical haematology. 11 ed. China: Churchill Livingstone, 2012. 3. Barnes PW, Mcfadden SL, Machin SJ, Simson E. The international consensus group for hematology review: suggested criteria for action following automated CBC and WBC differential analysis. Lab Hematol. 2005;11(2):83-90 4. Barth D. Approach to peripheral blood film assessment for pathologists. Semin Diagn Pathol. 2012;29(1):31-48. 5. Briggs C. Quality counts: new parameters in blood cell counting. Int J Lab Hematol. 2009;31(3):277-97. 6. 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