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1 IRRIGAÇÃO O consumo de oxigênio e glicose pelo encéfalo é muito elevado, o que requer um fluxo sanguíneo muito intenso. Quedas na concentração de glicose e oxigênio no sangue circulante ou, por outro lado, a suspensão do fluxo sanguíneo ao encéfalo não é tolerada por um período muito curto. Encéfalo é vascularizado pelo sistema carotídeo (artérias carótidas internas – 2/3) e vértebro- basilar (artérias vertebrais – 1/3). Na base do crânio essas artérias formam um polígono anastomótico, de Willis, de onde saem as principais artérias para vascularização cerebral. As artérias carótidas internas se originam da artéria carótida comum (origina-se no tronco braquicefálico ou aorta). A artéria carótida interna, após trajeto no pescoço, penetra no crânio pelo canal carotídeo do osso temporal. A seguir, perfura a dura- máter e a aracnoide e, no início do sulco lateral, divide-se em ramos terminais: cerebrais média e anterior. As artérias vertebrais têm origem nas artérias subclávias próximas. Sobem através dos forames transversos das primeiras seis vértebras cervicais, perfuram a membrana atlanto-occipital, a dura-máter e a aracnoide, penetrando no crânio pelo forame magno. As artérias vertebrais se anastomosam originado a artéria basilar, alojada na goteira basilar. A artéria basilar percorre o sulco basilar da ponte e termina anteriormente, bifurcando-se para formar as artérias cerebrais posteriores direita e esquerda. Polígono de Wilis: principal responsável pela irrigação cerebral. É um sistema de anastomose, uma rede de conexões entre artérias ÁREA DE IRRIGAÇÃO Cerebral anterior: face medial, face mais alta da face súperolateral e polo frontal – irriga áreas motoras do cérebro e áreas sensoriais, também fornecem a área orbito frontal do lobo frontal, bem como os núcleos de micção e defecação. Cerebral média: face súperolateral de cada hemisfério e polo temporal – fornece sangue para a crosta da ínsula e outras áreas adjacentes. Cerebral posterior: face inferior do cérebro e polo occipital – irriga os pedúnculos cerebrais e o trato óptico, bem como a parte inferomedial Distúrbios Circulatórios Distúrbios Circulatórios 2 dos lobos occipital e temporal. Também fornece sangue para áreas visuais. DRENAGEM Veias não acompanham as artérias, sendo maiores e mais calibrosas. Drenam para os seios da dura- máter, de onde o sangue converge para as veias jugulares internas. Dispõe do sistema venoso superficial e do profundo, embora anatomicamente distintos, os dois sistemas são unidos por numerosas anastomoses. O sistema venoso superficial drena o córtex e a substância branca subjacente. Formado por veias cerebrais superficiais (superiores e inferiores) que desembocam nos seios da dura-máter. O sistema venoso profundo drena sangue de regiões situadas mais profundamente no cérebro, como a substância branca dos hemisférios cerebrais. A veia mais importante deste sistema é a veia cerebral magna ou veia de Galeno, para a qual convergem as veias cerebrais internas. PROPRIEDADES VASOS CEREBRAIS As artérias não têm camada elástica externa e tem camada interna mais fina. A força pressórica é compensada pela força hidráulica do líquor, uma vez que os vasos cerebrais circulam no espaço subaracnóideo. Espaço de Virchow-Robin: ramos maiores das artérias que penetram na substância branca do cérebro são circundados por continuidade do espaço subaracnóideo. Entre 65mmHg e 140mmHg, o fluxo sanguíneo cerebral se mantém constante, pelos mecanismos de auto regulação (vasoconstrição e vasodilatação) do fluxo cerebral. A partir de 140 mmHg, vasos ficam constritos e há aumento do fluxo sanguíneo causando lesão endotelial. Em pacientes hipertensos crônicos, a redução da tensão arterial a níveis de normalidade pode haver lesões focais ou difusas secundárias a hipoperfusão. A densidade capilar é maior na substância cinzenta do que na branca. Essa densidade, relaciona-se com a atividade metabólica, sendo mais rica quanto maior for a taxa metabólica. ALTERAÇÕES CIRCULATÓRIAS Uma das principais causas de morbidade e mortalidade nos países desenvolvidos, apesar de uma maior política de prevenção, diagnóstico e tratamento precoce. O risco de doença vascular aumenta com o avançar da idade. Além disso, é comum ainda a recorrência de acidentes vasculares cerebrais, o que contribui para aumento da morbidade por efeito cumulativo das lesões. A hipertensão arterial sistêmica é a principal causa de doença circulatória do SNC, isquêmica ou hemorrágica. Outros fatores do risco incluem doença vascular em outro território, portadores de doenças cardíacas, fumantes e dislipidemia. Alterações circulatórias podem resultar em isquemia ou hemorragia, podendo coexistir mais de um mecanismo no mesmo paciente. Isquêmicos (85%): causa sistêmica ou local (trombose ou embolia) – são mais fatais. Hemorrágicos (15%): são classificados segundo a causa da hemorragia. ANTERIOR MÉDIA POSTERIOR 3 Doença cerebrovascular denota qualquer anormalidade do cérebro causada por alteração na parede dos vasos, e AVC é a denominação clínica aplicada a esses distúrbios AVC é uma síndrome de início abrupto, instalação aguda e que dura mais de 24h. Isquemia Fluxo sanguíneo cerebral é insuficiente, temporária ou permanentemente, para manter as funções cerebrais normais, podendo resultar em necrose do tecido nervoso. Grau e extensão da necrose dependem de: circulação colateral preexistente, grau e duração da isquemia, magnitude e rapidez da redução do FSC e idade do paciente. A isquemia pode ser dividida em isquemia regional (infarto cerebral) e isquemia global transitória (encefalopatia hipóxico-isquêmica). INFARTO CEREBRAL Necrose isquêmica de uma área do tecido nervoso secundária a redução acentuada ou interrupção do FSC, por obstrução arterial ou venosa. As principais causas são trombose arterial e embolia. Enquanto as menos frequentes são trombose venosa e arterite infecciosa. As causas podem ser aterotrombótico (trombose artéria de grande calibre), cardioembólico, lacunar ou de causa indeterminada. TROMBOSE ARTERIAL Aterosclerose e arterites (não) infecciosas. Achados clínicos e anatomopatológicos dependem do número e do calibre dos vasos atingidos, assim como desenvolvimento da circulação colateral, que depende da velocidade da instalação da obstrução. TROMBOSE VENOSA Flebotrombose: primária e asséptica – caquexia, desidratação, insuficiência cardíaca congestiva, pós-operatório, puerpério e uso de anticoncepcionais orais. Tromboflebite: secundária e séptica – menos frequente, sendo complicação de infecções purulentas de estruturas adjacentes. Trombose compromete mais o seio sagital superior e pode estender-se as veias tributárias. EMBOLIA A principal fonte de êmbolos é o coração esquerdo, podendo ser fibrilação atrial (45%), trombose parietal secundária a infarto do miocárdio (15%), cardiopatia chagásica crônica, endocardite infecciosa ou endocardite trombótica não infecciosa. Embolia gordurosa: fraturas de ossos longos, queimaduras, pancreatites, traumatismo de tecido subcutâneo na descompressão súbita, etc. Causa hemorragia petequial difusa na substância branca, quadro de púrpura cerebral. Embolia gasosa: acidentes dos mergulhadores ou em cirurgias de coração aberto. Embolia séptica: êmbolo séptico, geralmente a partir de endocardite infecciosa ou de veia pulmonar. Em geral, agente infeccioso de origem bacteriana; entre os fungos, o Aspergllus é o mais comum. Êmbolo bacteriano pode causar infecção na parede vascular (“aneurisma” infeccioso), que pode romper-se e causar hemorragia intracerebral. O infarto pode ser: Hemorrágico: decorre de fatores dinâmicos (ex. reperfusão)e da sua causa – embolia arterial ou trombose venosa. Anêmico O infarto na substância branca por oclusão arterial trombótica, vasoespasmo ou hipotensão é anêmico devido menor vascularização e não reperfusão do sangue na área necrosada. Transformação hemorrágica ocorre na substância cinzenta a partir da lise de vasos previamente lesados ou por reperfusão a partir de vasos colaterais. 4 Infarto por trombose venosa difere daquele por trombose arterial porque é hemorrágico, estende- se à substância branca cerebral, não mostra relação com território arterial, exibe maior grau de edema perilesional e guarda relação topográfica com o seio venoso ou a veia acometida. Hemorragia subaracnóidea, principalmente na convexidade dos hemisférios, é sugestiva de trombose venosa. No infarto anêmico recente, os achados iniciais consistem em tumefação da área atingida, borramento do limite entre as substâncias branca e cinzenta e diminuição da consistência. Ao redor do infarto, forma-se faixa mais ou menos extensa de edema, que pode ter efeito de massa e produzir hérnias cerebrais. O tecido necrosado perde a textura lisa, adquire aspecto granular e mostra-se progressivamente mais amolecido. Durante a fase de organização, o infarto apresenta limite preciso com tecido nervoso adjacente, o aspecto granular da área necrosada se acentua e torna-se friável, iniciando-se a desintegração e a cavitação da região infartada. A cavitação, iniciada na terceira semana, se completa depois de alguns meses, caracterizando o infarto antigo. A cavidade tem contornos irregulares, é parcialmente preenchida por trabéculas delicadas e contém líquido límpido, incolor ou levemente amarelado. No infarto antigo, pode haver dilatação do ventrículo lateral correspondente (hidrocefalia ex-vácuo) por perda tecidual e/ou atrofia cerebral. Zona de penumbra é uma zona dinâmica, ao redor da área central de isquemia, irrigada a partir dos vasos colaterais pelo FSC reduzido, na qual os neurônios perdem atividade funcional, mas continuam morfologicamente intactos (até 48h). A natural reperfusão e a restauração da produção aeróbica representam os mecanismos para proteger o dano tecidual. As manifestações clínicas do infarto cerebral dependem da extensão e da função do território atingido. A área mais afetada é a da artéria cerebral média. Oclusão da porção intracraniana da artéria carótida interna afeta todo o território das artérias cerebrais médias e anteriores. No território das artérias vertebrais e basilar, os locais mais atingidos são cerebelo, ponte e lobo occipital. ATAQUE ISQUÊMICO TRANSITÓRIO (AIT) Manifestação menos grave de diminuição do FSC. Aparecimento súbito de déficits neurológicos focais, reversíveis, com duração de poucos minutos a algumas horas, de no máximo 24 horas. Geralmente, ocorre devido êmbolos diminutos originados no coração ou em placas ateromatosas nas artérias carótidas ou no sistema vertebro basilar. Pode preceder, acompanhar ou suceder o infarto cerebral, ou ser manifestação isolada. INFARTO LACUNAR Diminuta cavidade de 0,5 a 15mm de diâmetro, localizada nos núcleos da base, no tálamo, na substância branca hemisférica ou na ponte. 5 Quando a etiologia é vascular, decorre de oclusão de pequenas artérias, podendo estar associada a lipo-hialinose dos ramos perfurantes da artéria cerebral média e da basilar, presente me indivíduos com hipertensão arterial de longa duração. Na microscopia, a lacuna corresponde a infarto lacunar, hemorragia ou espaço perivascular dilatado. Pequenas cavidades perivasculares são achados comuns nos núcleos da base e na substância branca profunda em pacientes idosos e, quando numerosas, são denominadas estado lacunar e estado crivoso, respectivamente. Pode ter sinais e sintomas motores ou sensitivos, ataxia hemiparesia e disartria. Geralmente, as lacunas são um achado em indivíduos assintomáticos ENCEFALOPATIA HIPÓXICO-ISQUÊMICA Isquemia global transitória – redução generalizada do FSC abaixo dos níveis da autorregulação vascular encefálica. Principal causa é hipotensão arterial grave, em geral causada por alteração da função cardíaca. A morfologia e a distribuição topográfica das lesões variam bastante e dependem de vários fatores, como duração e intensidade da isquemia, tempo de sobrevida, idade do indivíduo, temperatura corporal e estado da parede vascular. Há necrose neuronal seletiva, somente os neurônios são lesados, e necrose tecidual, quando as células gliais e os vasos também são envolvidos. A substância cinzenta é mais sensível do que a branca. Na substância cinzenta, as zonas limítrofes de irrigação entre um território vascular e outro, em especial entre as artérias cerebrais anterior e média, são os locais primeiramente lesados. Alterações macroscópicas são evidentes somente após alguns dias de sobrevida, notando-se aspecto granular e perda do limite entre córtex cerebral e substância branca. Após algumas semanas, possível identificar áreas lineares ou irregulares de destruição do córtex cerebral, denominada necrose laminar, acompanhada de redução da espessura cortical. A não reperfusão do encéfalo define a forma mais grave da isquemia global, na qual o fluxo sanguíneo intracraniano não é restaurado, correspondendo, clinicamente, ao quadro de morte encefálica, que marcam o fim de uma vida útil para o indivíduo, uma vez que a circulação e a função cerebral não mais serão reestabelecidas. Esse processo procede em várias horas ou dias o óbito do paciente e acentua a autólise do tecido nervoso, resultando em encéfalo amolecido, de coloração uniformemente acinzentada. Clinicamente, há perda completa das funções cerebrais, com abolição dos reflexos do tronco encefálico e instabilidade cardíaca, devidas às perdas das funções do tronco encefálico – cérebro do respirador. NECROSE NEURONAL SELETIVA Necrose isquêmica que afeta exclusivamente os neurônios. Como há preservação das células gliais e dos vasos sanguíneos, não ocorrem necrose de liquefação, infiltração de macrófagos e, consequentemente, cavitação da área atingida. Os neurônios isquêmicos são removidos por células microgliais e substituídos por gliose. Na fase de cicatrização e nas lesões extensas, a necrose neuronal seletiva pode ser evidenciada no hipocampo e no cerebelo, por atrofia do córtex correspondente, que mostra coloração mais branca 6 em virtude da perda dos neurônios, e aumento da consistência, resultado da gliose. Encontrada após crises convulsivas repetidas e prolongadas e em situações de isquemia regional ou global transitórias. Hemorragia Hemorragia intracraniana pode ser classificada de acordo com a etiologia e com a sede. A sede da hemorragia guarda estreita relação com a etiologia. Extradural ou epidural: entre os ossos cranianos e a face externa da dura-máter – traumatismo cranioencefálico. Subdural: entre a face interna da dura-máter e a face externa da aracnoide – traumatismo cranioencefálico Subaracnóidea: espaço subaracnóideo – aneurisma sacular, malformação arteriovenosa, doenças hematológicas, iatrogenia, intoxicação exógena. Parenquimatosa ou intracerebral: na intimidade do tecido nervoso encefálico – hipertensão arterial, angiopatia amiloide cerebral, neoplasia primária e metastática, malformação arteriovenosa, doenças hematológicas, iatrogenia e intoxicação exógena Subependimária: na matriz germinativa subependimárias do feto prematuro; Intraventricular: nos ventrículos cerebrais; Intramedular ou hematomielia: medula espinhal. A hemorragia intracerebral pode ser classificada como supratentorial ou infratentorial. A hemorragia supratentorial é dividida em hemorragia lobar e profunda, esta última quando situada nos núcleos dabase e no tálamo, estendendo-se com frequência para a luz ventricular. Hipertensão arterial é a causa mais comum de hemorragia profunda, enquanto a hemorragia lobar, além da hipertensão arterial é devida, em menor número, a malformação arteriovenosa, doenças hematológicas e angiopatia amiloide cerebral, Hemorragia mostra limites bem precisos do restante do parênquima, sendo circundados por edema e células neuronais e gliais com alterações isquêmicas. Após 48h, surgem neutrófilos e a lesão sofre as modificações e a evolução comuns a todas as hemorragias. Com o tempo, a hemorragia transforma-se em cavidade de contorno regular contendo líquido turvo de cor acastanhada. Posteriormente, a cavidade reduz de tamanho e torna-se preenchida por líquido límpido ou levemente amarelada, cuja parede ferruginosa é formada por gliose e macrófagos contendo hemossiderina. As principais manifestações são cefaleia, crise convulsiva, alterações visuais e sinais focais. Diminuição do nível de consciência ou coma são frequentes, possivelmente decorrentes do deslocamento lateral e distorção de estruturas profundas do cérebro. HEMORRAGIA CEREBRAL HIPERTENSIVA Hipertensão arterial determina lesões nas pequenas artérias e arteríolas encefálicas responsáveis pelo aparecimento de lesões isquêmicas e hemorrágicas frequentes, de morbidade e mortalidade elevadas. É a causa mais comum de morte entre as doenças vasculares cerebrais. Acomete mais homens e a etnia negra, sendo mais comum entre os 50 e os 70 anos de idade. Apresenta-se em geral como uma hemorragia volumosa. Pela grande extensão da área acometida, a hemorragia envolve outros componentes dos núcleos da base e a cápsula interna, podendo romper a parede ventricular ou o córtex cerebral, resultando, respectivamente, em hemorragia intraventricular e subaracnóidea. A área da hemorragia tende para a forma esférica, podendo ter limites irregulares, estende- se além do território vascular comprometido e, em virtude do aumento do volume cerebral produzido 7 pelo sangramento e pelo edema que se forma ao redor, causa distorção ventricular, desvio de estruturas da linha média para o lado oposto e a formação de hérnias cerebrais. Quase sempre rapidamente fatal. Em geral, não há sinais prodrômicos, estando o paciente bem até o momento do início da hemorragia, tendo lugar, na maioria das vezes, durante atividade física ou tensão emocional e, mais raramente, durante o sono. O hematoma, pelo menos durante o período inicial, funciona como massa em expansão que pode: Comprimir ou destruir cápsula interna, com interrupção da via motora voluntária e da via sensitiva. Romper a parede ventricular e inundar os ventrículos de sangue. Hemorragia pontinha: mortalidade elevada, evoluindo para coma profundo com paralisia completa, rigidez de descerebração e pupilas mióticas. Hemorragia cerebelar: hérnia das tonsilas cerebelares, acompanhadas de vômitos repetidos, cefaleia occipital e vertigem, podendo causar hidrocefalia aguda. Patogênese Lesões da parede arterial, particularmente lipo- hialinose e micro aneurisma de Charcot- Bouchard – lesões destroem os componentes da parede arterial responsáveis pela manutenção da vasomotricidade, tornando os vasos suscetíveis a dilatação brusca e ruptura, frente a aumento súbito da pressão arterial. Crises hipertensivas, de início súbito e mantidas durante certo tempo, nas situações de esforço físico, emoções, etc. HEMORRAGIA SUBARACNÓIIDEA Representa cerca de 5 a 10% das doenças circulatórias cerebrais, sendo a ruptura do aneurisma sacular a principal causa de sangramento (80%), seguida de malformação arteriovenosa (5 a 10%). Pode ser secundária a doenças hematológicas, iatrogenia (uso de trombolíticos) e intoxicação exógena (usuários de drogas). Sangramento no espaço subaracnóideo difunde-se pela circulação liquórico ao longo do espaço subaracnóideo cerebral e medular, acumulando-se em maior quantidade nas cisternas e sulcos. Se paciente sobreviver, sangue é lentamente absorvido, macrófagos migram para leptomeninge, fagocitam e digerem as hemácias, acumulando o pigmento de hemossiderina. Ao mesmo tempo, ocorre fibrose da pia-aracnoide, e após algumas semanas o local em que ocorreu a hemorragia é reconhecido pelo espessamento fibroso e pela cor ferruginosa da leptomeninge. ANEURISMA SACULAR Representa um aneurisma verdadeiro e é a principal causa de hemorragia subaracnóidea não traumática. Decorrente de lesões degenerativas adquiridas relacionadas com modificações ou estresse dinâmico. Essas alterações, comprometem as bifurcações, tornam os vasos menos elásticos e modificam fluxo laminar. A existência de interrupções na camada muscular nas bifurcações, associada a modificação no fluxo laminar em um local onde a parede é mais fina, ao longo do tempo determinaria a formação do aneurisma. 8 Outros fatores: aumento da pressão arterial, tabagismo, uso de contraceptivos, alcoolismo e adenoma de hipófise. Localiza-se nos vasos que formam o polígono de Willis, na bifurcação ou junção de vasos. O aneurisma gigante, em geral, exibe calcificação e apresenta sinais de compressão cerebral e, menos frequentemente, rompe-se e causa hemorragia subaracnóidea. A maioria permanece assintomática até momento da ruptura. Hemorragia subaracnóidea: cefaleia, vômitos, náuseas e sinais de irritação meníngea – aumento súbito da pressão intracraniana e irritação das raízes nervosas. A complicação mais importante é o vasoespasmo que provoca isquemia cerebral e infarto cerebral, sendo essas complicações as principais causas de mortalidade e morbidade. Vasoespasmo é observado em torno do 4º dia, alcançando o pico no 7º dia. Diagnosticado por através de arteriografia. Substâncias originárias do sangue extravasado atuem sobre camada muscular do vaso, resultando em aumento da permeabilidade vascular, identificada por aumento da atividade pinocítica, abertura canais iônicos, adesão de plaquetas e lesão endotelial. A vasodilatação permitiria a passagem de outras substâncias que poderiam levar a vasoconstrição. Hipertensão intracraniana é causada por falta de reabsorção do líquor pelas granulações aracnóideas, pelo próprio sangramento ou por edema cerebral. Malformações Vasculares CAVERNOMA Lesão circunscrita, vermelho-escuro, esponjosa. Formado por vasos justapostos de calibre variável, com paredes finas ou espessadas, fibrosadas, deixando pouco ou nenhum tecido nervoso de permeio. Encontrado em qualquer região do SNC, tanto na leptomeninge quanto no parênquima, podendo causar hemorragia intracerebral e crises convulsivas. MALFORMAÇÃO ARTERIOVENOSA (MAV) A MAV decorre da não interposição de capilares entre artérias e veias durante a embriogênese, e é constituída por enovelados de artérias, veias e vasos malformados, com perda dos achados estruturais das artérias e veias normais. Alteração com maior risco de sangramento e, por isso, a de maior importância clínica e cirúrgica. Localiza-se no território da artéria cerebral média e envolve principalmente a superfície dos hemisférios cerebrais, estendendo-se através da leptomeninge, do córtex cerebral e de parte da substância branca. Emaranhados de artérias de pequeno calibre dilatadas e veias também dilatadas, pela pressão a que estão submetidas devido ao shunt. Hemorragia subaracnóidea e intracerebral são as principais complicações, ocorrendo geralmente entre 10 e 40 anos de idade. Puberdade e gravidez podem contribuir para o sangramento. Déficit neurológico focal, cefaleia e crises convulsivas estão presentes em muitos pacientes. 9 Traumatismos em geral representam a principal causa de morte em indivíduos abaixo de 45 anos nos países desenvolvidos. – 51% acidentes detrânsito, quedas (36%), agressões (5%) e outras causas (7,2%). As lesões intracranianas primárias são determinadas pela causa imediata do traumatismo e do tipo de agente traumatizante, sendo, portanto, produzidas no momento do traumatismo, embora às vezes possam progredir e agravar-se com o tempo. Por isso as manifestações clínicas podem ser de aparecimento imediato ou tardio – fratura do crânio, laceração cerebral, hematomas extra e subdural, contusão cerebral e lesão axonal difusa. As lesões secundárias surgem mais tardiamente e são devidas ao edema cerebral, à hipertensão intracraniana e aos distúrbios circulatórios e/ou respiratórios causados pela disfunção dos centros vasomotores e respiratórios, hipotensão arterial, vasoespasmo das artérias cerebrais ou alteração dos órgãos torácicos, infecção intracraniana e fraturas múltiplas. A lesão cerebral secundária mais comum é a lesão cerebral hipóxica (EHI). Possuem diversos mecanismos de formação: Impulso: cabeça é movimentada rápida e intensamente sem impacto direto no crânio – golpe na face produzindo movimentação brusca e intensa da cabeça. Impacto: produz lesão cranioencefálico em geral por meio de mecanismo de contato e/ou aceleração/desaceleração (inércia). As lesões produzidas resultam em fratura do crânio, laceração cerebral, hematoma Extradural, contusão cerebral e ondas de choque. O denominador comum de atuação do mecanismo de contato ou inercial é o aparecimento da deformação tecidual, que, por mecanismo de compressão, estiramento e secção, uma vez ultrapassada a capacidade de tolerâncias dos tecidos, produz lesão craniana vascular e/ou encefálica. FRATURA DO CRÂNIO Geralmente, causado por contato. Relacionada com agente traumatizante que atua por meio de forte impacto. A fratura pode ser linear (impacto contra superfície plana), deprimida (impacto contra objetos pequenos e irregulares – produz endentação de fragmentos da tábua interna do crânio), penetrante ou aberta Fraturas da base do crânio são produzidas por impactos violentos e, quando atingem a fossa anterior do crânio, podem causar fístula liquórica, lesão de nervos cranianos e entrada de ar e bactérias no interior do crânio. Fraturas de contragolpe: a distância do sítio de impacto e sem representar a extensão de uma fratura originada no sítio do impacto. LACERAÇÃO CEREBRAL Geralmente causada por contato. As causas habituais são golpes violentos na cabeça e projétil de arma de fogo. Lesão cerebral aberta, é causada por agente traumatizante que, por mecanismo de impacto direto, perfura os ossos do crânio, a dura-máter e a pia-aracnoide e provoca solução de continuidade do tecido nervoso, podendo haver ou não perda de massa encefálica para o exterior. Na lesão por afundamento, projétil não penetra na cavidade craniana, mas produz fratura com afundamento e contusão cerebral subjacente. Na lesão penetrante, o projétil penetra na cavidade craniana, mas não a ultrapassa. Em alguns casos, após chocar-se com tábua interna do crânio do lado oposto ao orifício de entrada, projétil pode ricochetear, produzindo segundo trajeto. Nas lesões perfurantes, projétil atravessa a cavidade craniana e deixa um orifício de entrada e outro de saída. Traumatismo Cranioencefálico Traumatismo Cranioencefálico 10 No caso de projétil de arma de fogo, forma-se uma cavidade central permanente preenchida por sangue e que corresponde ao trajeto do projétil. Em torno, forma-se cavitação temporária de tamanho variável, originada por deslocamento de tecido cerebral provocado pela energia cinética do projétil, e que colaba em pouco tempo. A região em torno do projétil é ocupada por faixa de tecido necrótico- hemorrágico. Alterações de consciência ocorre somente nos casos de lesões centroencefálicas ou secundárias a hipertensão intracraniana. Complicações infecciosas precoces ocorrem em 11% dos casos. Complicações tardias, como epilepsia pós-traumática, podem também surgir em consequência de aderências entre as meninges e o cérebro. HEMATOMA EXTRADURAL OU EPIDURAL Sangue coagulado entre a dura-máter e os ossos do crânio, surge especialmente após quedas e acidentes de trânsito. A lesão resulta também de impacto sobre a cabeça, de intensidade menor comparada com aquele que produz laceração cerebral. Na infância, o hematoma pode formar-se sem que haja fratura devido a maior elasticidade do crânio. Ocorre predominantemente em adultos jovens do gênero masculino. Sendo menos comum em crianças e idosos, em virtude da maior aderência da dura-máter à tábua interna nessas faixas etárias. A sede habitual é a região temporoparietal, onde o osso é mais delgado, por causa do contato íntimo da artéria e veia meníngeas médias com a tábua interna dos ossos temporal e parietal e da menor aderência entre a dura-máter e a tábua interna desses ossos. 50% dos casos ruptura da artéria meníngea e 30% dos casos devido rompimento da veia meníngea. O aumento progressivo explica período assintomático que precede o aparecimento da sintomatologia clínica. A clínica é decorrente da compressão cerebral exercida pelo hematoma, da hipertensão intracraniana, da formação de hérnia parahipocampal e da compressão do mesencéfalo. Se estiver associado a lesão axonal difusa, não há intervalo lúcido – perda imediata de consciência. CONTUSÃO CEREBRAL Lesão cerebral fechada, pois, embora possa haver fratura óssea, as meninges permanecem íntegras e não há solução de continuidade do tecido nervoso; não existe, portanto, perda tecidual. É provocado principalmente por aceleração de alta intensidade e de curta duração. O mecanismo primário de contusão cerebral resulta do impacto da superfície interna do crânio contra a superfície cerebral. São classificadas de acordo com o modo e o local de atuação do impacto: Por fratura: relacionada com osso fraturado. Por golpe: relaciona-se com o local de impacto na ausência da fratura. Por contragolpe: áreas distantes do local de impacto. A contusão mais comum, se dá quando ocorre impacto com a cabeça em movimento. A aceleração do crânio é interrompida abruptamente, mas o encéfalo continua em movimento por causa de sua maior inércia (maior massa) em relação ao crânio. Assim, se explica a sede habitual das contusões na região orbitofrontal, nos polos temporais e nas bordas do sulco lateral. Em fases iniciais, há focos múltiplos de hemorragia na cúpula dos giros e no espaço subaracnóideo adjacente. O tecido nervoso de permeio e em torno à hemorragia exibe necrose isquêmica. Edema cerebral vasogênico adjacente à contusão. Com o tempo, há infiltração da área necrótico- hemorrágica por neutrófilos, micróglia, macrófagos e linfócitos, resultando na formação de cicatriz cuneiforme com parede constituída de astrocitose fibrilar. 11 Pode ser acompanhada de manutenção plena da consciência e ter evolução clínica favorável desde que não ocorram complicações e não esteja associada com outras lesões cerebrais traumáticas. HEMATOMA SUBDURAL Coleção de sangue entre a dura-máter e a aracnoide. Pode ser agudo, subagudo ou crônico. Geralmente, é causado por aceleração/ desaceleração. As principais causas são quedas, agressões e acidentes de trânsito. Está relacionada com a aceleração de alta intensidade e de curta duração. Resulta de movimentação livre da cabeça durante o traumatismo, especialmente em direção sagital, e do consequente movimento diferencial entre o crânio e o encéfalo. Há deslizamento da aracnoide em relação a dura- máter e estiramento e ruptura das veias-ponte (cerebrais superiores) que cruzam o espaço subdural e drenam para o seio sagital superior, formando-se o hematoma subdural. A sede predileta é a convexidade dos hemisférios cerebrais. Como o espaço subdural é facilmente expansível,permite grande acúmulo de sangue rapidamente ou em poucas horas. A cápsula do hematoma origina-se da dura-máter e contém capilares com luz dilatada, junções interendoteliais amplas e membrana basal fina. O aparecimento tardio das manifestações clínicas é explicado pelo crescimento progressivo do hematoma a partir de hemorragias originárias nos vasos neoformados. Explosão lobar = hematoma subdural agudo mais contusão cerebral mais hematoma na substância branca. LESÃO AXONAL DIFUSA (LAD) Substrato anatômico da inconsciência que se instala na grande maioria dos pacientes no momento do traumatismo e do estado vegetativo que pode se seguir, além da incapacidade permanente após TCE. Lesão difusa do axônio é encontrada na substância branca, em maior número nas estruturas centro mediais, em geral em um dos lados na linha média (distribuição assimétrica). Caracteriza-se por tumefação do axônio ou fragmentação axonal, levando ao aparecimento de dilatações nas porções terminais dos axônios rompidos e de diminutos fragmentos axonais de forma esferoidal. A lesão axonal inicial não consiste em ruptura (axotomia primária), mas sim interrupção segmentar do fluxo axonal, que leva ao acúmulo local de organelas e de axoplasma, seguida de tumefação e lobulação do segmento axonal afetado e, após 9 horas, fragmentação do axônio (axotomia secundária). A formação da LAD depende da atuação de forças inerciais no momento do traumatismo, ou seja, de aceleração ou desaceleração rotacionais bruscas, particularmente na direção lateral, provocando lesão estrutural de axônios e pequenos vasos sanguíneos (por estiramento e/ou torção). É o mais provável substrato anatômico da concussão, definida clinicamente como perda imediata e reversível da consciência consequente ao traumatismo, como amnésia do acidente. SÍNDROME DA CRIANÇA ESPANCADA Causa mais comum de morte ou sequela neurológica grave resultante de abuso de bebês. Lesões mais encontradas são hipertensão intracraniana secundária a edema cerebral (82%), lesão cerebral hipóxica (77%), hemorragia subdural aguda (72%), hemorragias retinianas (71%) e fratura do crânio. Bebê é submetido a movimentos de vaivém da cabeça, gerando forças rotacionais, oscilatórias e de torção da junção craniocervical, do compartimento intracraniano e dos olhos. Hemorragia subdural e retinianas decorrem da atuação de forças inerciais no momento do traumatismo, provocando movimento diferencial entre crânio e encéfalo (ruptura veias-ponte) e na interface do corpo vítreo com a retina (ruptura vasos retinianos). SEQUELAS Epilepsia pós-traumática é comumente encontrada, podendo ter início precoce ou tardio. As principais causas são contusão cerebral e hematomas intracranianos. Demência de evolução progressiva, também conhecida como demência pugilística, acomete após muitos anos de uma carreira marcada por vários 12 episódios de nocaute. O exame do cérebro mostra grande cavum do septo pelúcido e fenestração de suas folhas, hipotrofia do corpo caloso, perda neuronal no cerebelo e na substância negra e grande número de placas senis difusas e de emaranhados neurofibrilares no córtex cerebral e no tronco encefálico. TRAUMATISMOS RAQUIMEDULARES Podem ocorrer isoladamente ou associados ao TCE. As causas mais frequentes são acidentes de trânsito (50%), alguns tipos de atividade esportiva (17%), agressões, quedas em acidentes de trabalho e atividades domésticas. A biomecânica do traumatismo raquimedular fechado depende do mecanismo de impacto, compressão e esmagamento parcial ou completo da medula espinhal por fragmentos ósseos em consequência de diversos tipos de fratura envolvendo a coluna cervical ou toracolombar. Os tipos de fraturas mais comuns são explosão, fratura por compressão-flexão, fratura por compressão-extensão e fratura por torção. As lesões abertas são causadas por objetos penetrantes que produzem laceração e compressão da medula espinal. Seu mecanismo de formação depende do próprio agente traumático, de fragmentos provenientes de estruturas adjacentes e, no caso de projétil de arma de fog, também da formação de ondas de choque. CONTUSÃO Caracterizada por focos múltiplos de hemorragia, confluentes ou não, afetando principalmente a porção central da medula. Hemorragia subaracnóidea de grau variável na área contundida. Com o passar do tempo, surge edema, necrose isquêmica, liquefação e absorção do tecido necrótico (neutrófilos -> macrófagos -> micróglia/gliose). Os casos mais graves, à medida que ocorre absorção dos restos necrótico-hemorrágicos, evoluem para uma siringomielia pós-traumática. As lesões abertas são acompanhadas de fibrose extensa e aderência entre pia-aracnoide e dura- máter. A síndrome clínica imediata é de secção medular completa ou incompleta, caracterizada, respectivamente, por déficit motor e sensitivo total ou parcial. A recuperação funcional do paciente depende da quantidade de tecido medular preservado. Os casos de secção medular incompleta podem resultar em várias síndromes neurológicas, conforme o segmento medular atingido e a extensão da lesão em direção transversal.
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