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SINALIZAÇÃO CELULAR Prof. Anderson Melo anderson.melo@ifmg.edu.br Em um organismo multicelular, cada célula depende de outras e às vezes as influencia. Estas inter-relações celulares ocorrem desde as primeiras etapas do desenvolvimento embrionário e persistem até o fim da vida pós-natal. De acordo com o tipo de estímulo emitido e o tipo de célula que o recebe, esta responde, entre outras, com algumas das seguintes alterações: 1)mantém-se viva ou morre 2)diferencia-se 3) multiplica-se 4) Degrada ou sintetiza substâncias 5) Segrega substâncias 6) Incorpora solutos ou macromoléculas 7) contrai-se 8)mobiliza-se 9)conduz estímulos elétricos As células afetam as atividades de outras células por meio de substâncias indutoras A ação de estimular a célula do exterior é chamada de INDUÇÃO. É mediada por uma SUBSTÂNCIA INDUTORA, conhecida como LIGANTE. A célula que produz o ligante é denominada CÉLULA INDUTORA; a célula que o recebe é denominada CÉLULA INDUZIDA ou CÉLULA ALVO. A substância indutora interage com a célula induzida mediante um RECEPTOR, que é uma proteína ou um complexo protéico localizado no citosol ou na membrana plasmática da célula alvo. Se o receptor estiver no citosol, a substância indutora deve ser pequena e hidrófoba pois, para alcança- lo, deve atravessar a membrana plasmática da célula alvo. Ao contrário, se o receptor for de membrana, não interessa o tamanho da substância indutora nem que seja hidrófoba. Existem diferentes tipos de induções, dependentes das distâncias entre as células indutoras e as células induzidas Quando a célula indutora e a célula alvo estão distantes entre si, a substância indutora, depois de ser segregada pela primeira, entra no sangue e, por ele, alcança a célula induzida. As induções desse tipo são chamadas ENDÓCRINAS. A essa categoria pertencem também as secreções NEUROENDÓCRINAS, já que a substância indutora que sai da terminação axônica do neurônio deve ser lançada no sangue para poder chegar à célula induzida. As substâncias indutoras veiculadas pelo sangue são denominadas HORMÔNIOS e são produzidas pelas células das glândulas de secreção interna que integram o sistema endócrino. INDUÇÃO ENDÓCRINA INDUÇÃO PARÁCRINA Quando a célula indutora se acha próximo da célula induzida. A substância indutora deve recorrer a um curto trecho da matriz extracelular para alcançar a célula alvo. Um caso especial de proximidade entre a célula indutora e a célula induzida se dá nas sinapses nervosas. Nestas a terminação axônica de um neurônio (célula indutora) se acha junto à membrana plasmática de outro neurônio ou de uma célula muscular. NEUROTRANSMISSOR INDUÇÃO AUTÓCRINA Quando uma substância indutora segregada e recebida pela própria célula. Ocorre em respostas imunes. INDUÇÃO POR CONTATO DIRETO A substância indutora é retida na membrana plasmática da célula indutora e não é segregada. Para que a substância indutora possa entrar em contato com o receptor é necessário que a célula indutora se translade para o lugar da célula induzida. Ex: em respostas imunes, fecundação e reparo de feridas Em qualquer caso, a atuação é similar – uma célula produz um intermediário químico que interage com o receptor de outra célula, na qual se desencadeia uma resposta. O caráter e a natureza da resposta dependem da identidade da célula induzida. Às vezes, uma mesma substância indutora produz respostas diferentes por parte de dois ou mais tipos de células alvo. Exemplo: CÉLULAS MUSCULARES ESTRIADAS – GLICOGENÓLISE ADRENALINA CÉLULAS ADIPOSAS - LIPÓLISE OU diferentes substâncias podem induzir a mesma resposta As substâncias indutoras unem-se aos receptores com uma grande especificidade A especificidade das substâncias indutoras corresponde-se com a especificidade dos receptores, que são moléculas ou associações moleculares (GLICOPROTEÍNAS), as quais as substâncias indutoras se unem seletivamente em virtude de uma adaptação conformacional mútua. Além disso, a substância indutora e o receptor integram um complexo com as seguintes características: 1)ADAPTAÇÃO INDUZIDA: De maneira similar à união enzima-substrato, a fixação da substância indutora ao receptor exige uma adaptação estrutural recíproca entre ambas as moléculas. Acredita-se que ocorra a adaptação conhecida como encaixe induzido, que seria mais provável que o modelo rígido representado por uma chave e sua fechadura. 2)SATURABILIDADE: O número de receptores existentes em cada célula é limitado. 3) REVERSIBILIDADE: A ligação substância indutora-receptor é reversível, já que o complexo se dissocia algum tempo depois de sua formação OBS:A resposta celular pode ocorrer em segundos ou horas depois da chegada da substância indutora. INDUÇÕES CELULARES MEDIADAS POR RECEPTORES CITOSÓLICOS INDUÇÕES CELULARES MEDIADAS POR RECEPTORES LOCALIZADOS NA MEMBRANA PLASMÁTICA Os hormônios esteróides, os hormônios tireóideos, a vitamina D e o ácido retinóico são substâncias indutoras que se ligam a receptores citosólico. Os três primeiros produzem induções endócrinas, já que são lançados no sangue. O ácido retinóico (substância que intervém principalmente durante o desenvolvimento embrionário), dá lugar a induções parácrinas. Uma vez no citosol, a substância indutora liga-se ao seu receptor e ambos formam um complexo que entra no núcleo. Ali o complexo se combina com a sequência reguladora de um gene particular, que se ativa. Sua transcrição conduz à síntese de uma proteína cuja presença provoca a resposta celular. INDUÇÕES CELULARES MEDIADAS POR RECEPTORES CITOSÓLICOS Quando a substância indutora se liga ao receptor, este adquire uma forma característica que lhe permite ingressar no núcleo e se ligar à sequência reguladora do gene. Na ausência da substância indutora, o receptor permanece no citosol ligada a chaperonas Hsp90, na qual o encurva. Quando a substância indutora se liga ao receptor, este se libera da chaperonas e adquire uma configuração estendida. CONSEQUÊNCIA: o receptor pode ingressar no núcleo e se ligar à sequência reguladora do gene. O óxido nítrico interage com uma enzima citosólica Quando é segregado por macrófagos, pelas células endoteliais dos vasos sanguíneos ou por alguns tipos de neurônios, o óxido nítrico (NO) se comporta como uma substância indutora. Na célula induzida, o óxido nítrico interage com uma enzima citosólica (grupo heme da enzima guanilato ciclase) cuja ativação converte o nucleotídeo guanosina trifosfato (GTP) em GMPc, que é o desencadeador da resposta celular. O NO segregado pelas células endoteliais dos vasos sangüíneos tem como alvo as células musculares lisas dos próprios vasos (secreção parácrina), que se relaxam e produzem vasodilatação. Em alguns casos, o processo se inicia antes, quando outra substância indutora - a acetilcolina - emerge das terminações axônicas que inervam as células endoteliais e interagem com receptores localizados em suas membranas plasmáticas. Devido a isso, as células endoteliais produzem óxido nítrico sintase, uma enzima que produz NO a partir do aminoácido arginina. Finalmente, o NO segregado pelas células endoteliais induz ao relaxamento das células musculares lisas dos vasos. Ex: nitroglicerina - que é um fármaco empregado para tratar as crises de angina de peito . Logo depois de sua administração, os vasos coronários obstruídos se dilatam por períodos relativamente prolongados porque a nitroglicerina se converte em NO de forma lenta e gradual. EX: dilatação dos vasos sanguíneos do pênis durante a ereção. A vasodilatação é induzida pelo NO que as células endoteliais dos vasos penianos segregam diante da chegada de estímulos nervosos especiais. INDUÇÕES CELULARES MEDIADAS POR RECEPTORES LOCALIZADOS NA MEMBRANA PLASMÁTICA A chegada da substância indutora - considerada o primeiro mensageiroda via de sinais produz mudanças no receptor, que são transmitidas à segunda molécula do sistema. Por sua vez, esta atua sobre a terceira molécula do sistema e assim sucessivamente até atingir a resposta celular. Algumas dessas moléculas - comumente chamadas segundos mensageiros - são de tamanho pequeno e, por isso, difundem-se com rapidez e são muito eficientes em propagar os sinais dentro da célula. As primeiras moléculas do sistema podem estar localizadas na membrana plasmática, cuja fluidez lhes permite deslocar-se e interagir com o receptor e com as moléculas que lhes sucedem. Entre as moléculas que intervêm na maioria das vias de sinais as CINASES são abundantes, já que muitas de suas reações são fosforilações catalisadas por esse tipo de enzimas. Existem diversos tipos de cinases (ou quinases) , cada uma para um substrato específico, que pode ser outra cinase, uma enzima diferente ou uma proteína não-enzimática. Quando se trata de outra cinase, às vezes esta fosforila uma terceira e assim, sucessivamente, até chegar ao último elo da cadeia. Em alguns casos a fosforilação ativa o substrato e em outros o inativa, o que produz diferentes tipos de consequências no funcionamento celular. As cinases são moléculas muito difundidas nos processos de transmissão de sinais, e que desempenham funções importantes dentro da célula. Os receptores da membrana plasmática que dão origem a vias de sinais intracelulares compõem se de uma ou mais proteínas. Cada receptor possui um domínio externo, um domínio transmembrana e um domínio citosólico. Quando a substância indutora se liga ao primeiro, o receptor se ativa e seu domínio citosólico sofre uma das seguintes alterações: 1) Adquire atividade enzimática ou ativa uma enzima independente do receptor. 2) Ativa uma proteína localizada na membrana plasmática, chamada proteína G, a qual ativa uma enzima. Existem diferentes tipos de receptores de membrana que produzem sinais intracelulares Existem receptores de membrana que, ao serem induzidos, adquirem atividade de guanilato ciclase Quando a pressão arterial se eleva, as células musculares dos átrios cardíacos segregam um hormônio chamado PEPTÍDEO NATRIURÉTICO ATRIAL (ANP), cujos alvos são as células renais e as células musculares lisas dos vasos arteriais. O ANP se liga a um receptor específico da membrana plasmática dessas células, cujo domínio citosólico adquire atividade de guanilato ciclase, já que interage com moléculas de guanosina trifosfato (GTP) presentes no citosol e as converte em guanosina monofosfato cíclico (GMPc). Os GMPc ativam a enzima cinase G, que por sua vez fosforila uma proteína citosólica específica. Com ela, é posta em marcha uma cadeia de reações químicas citoplasmáticas até que ocorra a resposta celular. No exemplo, trata-se da excreção de Na+ por parte do rim e do relaxamento do músculo liso vascular, estados que causam a diminuição da pressão arterial. As substâncias indutoras que interagem nos receptores com atividade de serina-treonina cinase pertencem a uma família de moléculas chamadas TGF- beta. Com a chegada da substância indutora à membrana plasmática da célula induzida reúne as quatro subunidades protéicas que integram o receptor, as quais estão agrupadas duas a duas e seriam diferentes entre si. Em seguida, por meio de fosfatos extraídos de moléculas de ATP, os domínios citosólico de duas das quatros subunidades fosforilam serinas e treoninas dos domínios citosólicos das outras subunidades, que se ativam e fosforilam serinas específicas da proteína citosólica Smad. Existem receptores de membrana que ao serem induzidos adquirem atividade de serina-treonina cinase Os receptores que se acoplam às proteína G são proteínas integrais que cruzam sete vezes a dupla camada lipídica da membrana plasmática. As proteínas G também pertencem à membrana plasmática e se acham aderidas à face citosólica da membrana. Suas três subunidades são identificadas com as letras gregas alfa, beta e gama. A subunidade alfa comporta-se como uma GTPase que possui um GDP ou um GTP. Existem receptores de membrana que ao serem induzidos ativam proteínas G e, através delas, diferentes tipos de enzimas A ativação da proteína G ocorre quando a substância indutora se une ao receptor, pois este entra em contato com a subunidade alfa e faz com que seu GDP seja substituído por um GTP. Contrariamente, quando a substância indutora se desliga do receptor e a transmissão do sinal é concluída, a proteína G se inativa porque a GTPase da subunidade alfa hidrolisa o GTP a GDP e P. Quando a subunidade alfa tem um GDP, tanto ela como o complexo beta-gama - ou seja, a proteína G completa - se inativam. Já a proteína G se ativa quando o GDP é substituído por um GTP. Existem vários tipos de proteínas G, que dão origem a diferentes vias de sinais intracelulares depois de interagir com as seguintes enzimas: 1) Adenilato ciclase (AC) que, a partir da adenosina trifosfato (ATP) produz adenosina monofosfato cíclico (AMPc). 2) Fosfolipase C-beta (PLC-beta), que igualmente à PLC-gama) catalisa a excisão do fosfatidilinositol 4,5-difosfato (PIP2) localizado na monocamada citosólica da membrana plasmática e forma inositol 1,4,5-trifosfato (IP3) e diacilglicerol (DAG). 3) Fosfatidilinositol 3-cinase (PI 3-K), que acrescenta um fosfato ao PIP2 e o converte em fosfatidilinositol 3,4,5-trifosfato (PIP3). O AMPc; o IP3; o DAG e o PIP3 são classificados como segundos mensageiros. Voltando às proteínas G, quando o receptor as ativa- e o GDP da subunidade alfa é intercambiado por um GTP - a subunidade alfa e o complexo beta-gama se separam. Em seguida, a subunidade alfa, ou o complexo beta-gama, entra em contato com a adenilato ciclase, com a fosfolipase C-beta ou com o fosfatidilinositol 3-cinase, que, em alguns casos, se ativam e em outros se inibem. Habitualmente, as proteínas G amplificam os sinais. Conseguem isso porque uma única delas pode ativar muitas unidades da enzima, cada uma das quais, por sua vez, dá lugar a numerosos segundos mensageiros. O AMPc é formado a partir de ATP mediante a adenilato ciclase, uma enzima situada na membrana plasmática que necessita de Mg+ para funcionar. O AMPc é um segundo mensageiro. Na coqueluche e na cólera, o funcionamento das proteínas G é afetado A coqueluche é uma doença produzida pela toxina do bacilo Bordetella pertussis. A toxina atua nas células musculares lisas dos brônquios, onde impede que o GTP se acople à subunidade alfa da proteína G, fato que conserva a subunidade alfa unida ao dímero beta-gama de forma permanente. Isso impossibilita a ação inibidora da proteína G (neste caso, a Gi); sobre a adenilato ciclase, e por isso os níveis de AMPc se mantêm altos e a cinase A permanece ativa. Como conseqüência, os canais de K+ se fecham, a excitabilidade do músculo liso bronquial aumenta e, por isso, o músculo se contrai de forma sustentada e causa a tosse que caracteriza a doença. A cólera é uma enfermidade produzida pela toxina do bacilo Vibrio cholerae, caracterizada por diarréia profusa, desequilíbrios iônicos e desidratação. Estes transtornos são devidos ao aumento dos níveis de AMPc nas células da mucosa intestinal. É que a toxina bloqueia a GTPase da subunidade alfa da proteína G, o que impede que o GTP se hidrolise em GDP e P. Como consequência, a proteína G, e a adenilato ciclase se mantêm ativas e a enzima produz AMPc de forma sustentada. Uma vez que, nas células do epitélio intestinal , a AMPc se une a um canal de Cloro da membrana plasmática, esse canal se abre e o íon passa para a luz do intestino de forma maciça. A diarréia é devida ao Cl arrastar o Na+ e ambos os íons provocarem a saída de grandes quantidades de água. A fosfolipase C-beta produz IP3 e DAG a partir de PIP2 Na membrana plasmática de diversostipos celulares, a união de algumas substâncias indutoras com seus receptores ativa a subunidade alfa da proteína Gq, que devido a isso substitui seu GDP por um GTP. Por sua vez, a proteína Gq ativa a fosfolipase C-beta, uma enzima que se acha no citosol próximo da membrana Voltando à fosfolipase C-beta, uma vez ativada catalisa a hidrólise do PIP2 que fraciona-se em duas moléculas relativamente pequenas, o inositol 1,4,5-trifosfato (IP3) e o diacilglicerol (DAG). SEGUNDOS MENSAGEIROS Um exemplo deste tipo de indução corresponde à adrenalina quando se liga a um receptor distinto dos enumerados até aqui, chamado alfa1-adrenérgico. Em aulas anteriores foi dito que um dos fosfolipídios da dupla camada lipídica das membranas celulares é o fosfatidilinositol (PI). Na membrana plasmática localiza-se na monocamada citosólica e, apesar de ser o mais escasso, tem um enorme significado funcional por intervir em importantes vias de sinais intracelulares. PIP2 é fracionado em DAG e IP3 pela PLC-beta ou pela PLC-gama, o IP3 abandona a membrana plasmática e passa para o citosol. REL, cuja abertura permite que parte do Ca2+ que se acha nessa organela seja transferida ao citosol.
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