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Richard Swinburne A existência de Deus Copyright @ 2004, de Richard Swinburne Publicado originalmente em inglês sob o título The Existence of God pela Oxford University Press, Great Clarendon Street, Oxford, OX2 6DP, Reino Unido. The Existence of God was originally published in English in 2004. This translation is published by arrangement with Oxford University Press. Editora Monergismo is solely responsible for this translation from the original work and Oxford University Press shall have no liability for any errors, omissions or inaccuracies or ambiguities in such translation or for any losses caused by reliance thereon. Todos os direitos em língua portuguesa reservados por ACADEMIA MONERGISTA Caixa Postal 2416 Brasília, DF, Brasil - CEP 70.842-970 Telefone: (61) 8410-6700 - Sítio: www.monergista.com.br 1a edição, 2015 1000 exemplares Tradução: Agnaldo Cuoco Portugal Revisão: Felipe Sabino de Araújo Neto e Rodrigo Rocha Silveira Capa: Luís Henrique P. de Paula PROIBIDA A REPRODUÇÃO POR QUAISQUER MEIOS, SALVO EM BREVES CITAÇÕES, COM INDICAÇÃO DA FONTE. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Swinburne, Richard A existência de Deus / Richard Swinburne, tradução Agnaldo Cuoco Portugal – Brasília, DF: Academia Monergista, 2015. Título original: The Existence of God 1. Filosofia 2. Filosofia da religião I. Título. CDD 201 Sumário Prefácio à edição brasileira Prefácio à segunda edição Introdução 1. Argumentos Indutivos 2. A natureza da explicação 3. A justificação da explicação 4. Explicação completa 5. A probabilidade intrínseca do teísmo 6. O poder explicativo do teísmo: considerações gerais 7. O argumento cosmológico 8. Argumentos teleológicos 9. Argumentos da consciência e moralidade 10. O argumento da providência 11. O problema do mal 12. Argumentos com base na história e nos milagres 13. O argumento da experiência religiosa 14. O balanço de probabilidade Nota adicional 1: A Trindade Nota adicional 2: Argumentos recentes em favor do design a partir da Biologia Nota adicional 3: O argumento de Plantinga contra o naturalismo evolucionário Prefácio à edição brasileira Esta é primeira vez que se traduz The Existence of God de Richard Swinburne para o português. Publicado originalmente em 1979, com uma edição revista em 1990, mas substancialmente ampliado em 2004, trata-se, segundo os especialistas internacionais na área de filosofia da religião, de um “clássico contemporâneo”. O amplo reconhecimento da obra, mesmo fora dos círculos filosóficos anglófonos (com traduções para o alemão, o francês, o russo, o espanhol e o árabe), justificam o esforço aqui concretizado pela Associação Brasileira de Filosofia da Religião (ABFR), com o generoso apoio da Fundação John Templeton. A presente tradução – que toma o texto de 2004 como base – é a primeira iniciativa da linha editorial que a ABFR está abrindo de publicações em filosofia da religião em língua portuguesa. Mas não é só como um texto internacionalmente reconhecido que A existência de Deus adquire importância para a filosofia no Brasil. Além de permitir acesso a leitores lusófonos de uma obra discutida em várias partes do mundo, esse livro abre perspectivas interessantes de discussão para os filósofos brasileiros dentro do que eles já estão fazendo. Por um lado, ela permite colocar em questão aspectos da história da filosofia moderna que parecem tranquilamente assentados na comunidade filosófica brasileira, e pouca coisa é mais filosófica do que questionar o que é tido como dado. Por outro lado, traz novidades não apenas para a filosofia da religião (especialmente em subáreas como a epistemologia da crença em Deus e a metafísica teológica racional), mas também para a teoria da explicação científica e o problema da indução. Neste breve estudo introdutório, pretendo levantar esses aspectos, com o objetivo de chamar a atenção para o proveito que a filosofia acadêmica em nosso país pode tirar da obra que vem aqui a público. Pretendo apresentar, como tema integrador, o modo pelo qual as ideias de Swinburne neste livro se colocam frente às concepções sobre religião de David Hume – um autor fundamental da filosofia moderna que tem ampla influência direta ou indireta sobre o modo como nossos filósofos pensam esse assunto em nosso país. Com essa motivação, exponho sua teoria da indução em termos probabilísticos bayesianos e sua compreensão da explicação científica, como possíveis contribuições para a teoria do conhecimento e a filosofia da ciência. Por fim, indico como suas posições em história da filosofia e epistemologia levaram a uma contribuição original em filosofia da religião e que podem estimular a reflexão filosófica nacional. 1) Elementos da Filosofia da Religião de David Hume David Hume foi, sem dúvida, um dos mais influentes autores da filosofia moderna. A rigor, sua apresentação do problema da indução, sem contar várias outras contribuições importantíssimas em teoria do conhecimento, ética e filosofia política permitem considerá-lo um dos filósofos mais importantes de toda a história. É inegável sua influência no pensamento de Immanuel Kant — admitida explicitamente por este, aliás — e o enorme papel que os dois tiveram na forte tendência que teve a filosofia do século XIX e início do século XX de considerar a crença religiosa algo não fundamentável em termos de razão argumentativa. Religião seria uma questão de opção pessoal privada, não defensável por razões publicamente apresentáveis e, portanto, a crença em Deus se daria por motivos não racionais, explicáveis em termos antropológicos, econômicos, sociais ou psicológicos. Em outras palavras, a crítica que fez Hume, com a ajuda de Kant, da possibilidade de se argumentar racionalmente em favor da existência de Deus teve um enorme alcance na filosofia da religião dos séculos posteriores. Assim, ao menos como pano de fundo, a tese de que a crença em Deus não é defensável racionalmente teve como resultado na história da filosofia recente as críticas de Feuerbach, Marx, Nietzsche e Freud à religião. Sendo assim tão fundamental, vale a pena investigarmos os principais elementos da teoria filosófica da religião de Hume. Se nos concentrarmos apenas nos Enquiry Concerning Human Understanding (1748) e nos Dialogues Concerning Natural Religion (1779), podemos identificar dois dos temas principais da filosofia da religião do filósofo escocês: a irracionalidade da crença em milagres (com base numa negação do valor epistemológico do testemunho em comparação com a indução empírica) e a crítica à tentativa de fundamentar argumentativamente a crença no teísmo (a tese de que há um Deus pessoal onipotente, onisciente, infinitamente bom, criador e mantenedor do universo e digno de adoração religiosa). Numa das passagens mais famosas e representativas da filosofia da religião do século XVIII, Hume dedica a seção X de An Enquiry Concerning Human Understanding (1748) a uma análise da crença em milagres conforme os princípios de teoria do conhecimento estabelecidos até então em seu tratado. Segundo Hume, estaria bem estabelecida a ideia de que, para a maioria das pessoas, a crença em eventos milagrosos se fundamenta não nos sentidos, mas no relato de outras pessoas que o alegam ter presenciado, ou seja, a crença em milagres se baseia no testemunho. No entanto, a credibilidade de um testemunho é inferior à dos sentidos, pois estes são a fonte daquele e à medida que o testemunho é passado adiante, menor é sua confiabilidade, pois mais distante ele fica de sua fonte. Para Hume, o grau de admissão de uma crença em uma ideia deve ser proporcional aos indícios (evidence em inglês) que a fundamentam, uma posição que é hoje classificada como “evidencialismo”. Em questões de fato, quanto mais numerosos são os indícios em favor de uma ideia, mais forte deve ser nossa crença nela, ainda que se aceite a possibilidade de que ela seja falsa, dado que não há necessidadeem questões empíricas. É graças à constância observável pelos sentidos que o testemunho tem credibilidade, para Hume, pois é a experiência que mostra que, na maioria das vezes, nossa memória não erra, que as pessoas tendem a não se enganar em seus relatos e que tendem a dizer a verdade por temer a censura em caso de serem descobertas (Enquiry, seção X, 88). Por outro lado, a experiência mostra várias razões para duvidar do testemunho como fundamento de uma crença. Entre tais razões temos a existência de relatos contraditórios, que se anulam entre si, e o interesse de quem relata o testemunho em que aquela ideia seja aceita. O que se tem, no caso dos milagres é uma oposição entre a força de um testemunho, de um lado, e a força da experiência, de outro lado. Segundo Hume, Um milagre é uma violação das leis da natureza; e como uma experiência firme e inalterável estabeleceu essas leis, a prova contra um milagre, a partir da natureza mesma do fato, é tão completa quanto se pode imaginar poder sê-lo qualquer argumento com base na experiência (Hume, Enquiry, seção X, 90. Tradução própria). Para Hume, portanto, a questão da racionalidade da crença em milagres é claramente desfavorável à religião. Para ele, Deve haver, portanto, uma experiência uniforme contra todo evento miraculoso, pois de outro modo o evento não mereceria esse nome. E como uma experiência uniforme equivale a uma prova, há aqui uma prova direta e completa, a partir da natureza do fato, contra a existência de qualquer milagre; nem uma prova assim pode ser destruída nem se pode tornar o milagre crível a não ser por uma prova oposta que seja superior (Hume, Enquiry, seção X, 90). Para Hume, assim, a crença racional em milagres não pode ser estabelecida, devido à irremediável fraqueza do testemunho em comparação com a força da experiência constante, que fundamenta a verdade das leis naturais. Consequentemente, a crença cristã, tão centralmente baseada em milagres, não pode ser aceita por quem, como toda pessoa racional, se pauta por princípios do hábito e da experiência (Hume, Enquiry, seção X, 101). Além da rejeição aos milagres, a filosofia da religião de Hume é também famosa por suas críticas à teologia natural. Publicados postumamente, os Dialogues Concerning Natural Religion (1779) analisam três dos principais argumentos sobre a existência de Deus: o teleológico (partes II a VIII), o cosmológico (parte IX) e o problema do mal (partes X e XI). Apesar das últimas palavras do livro serem favoráveis a Cleantes (o personagem do diálogo que defende o argumento teleológico), o tom predominante do livro é de ceticismo quanto à possibilidade de se fundamentar racionalmente a crença em Deus — tese defendida por Filo, que os comentadores de Hume geralmente entendem ser o porta-voz do próprio filósofo escocês. O argumento de Cleantes tenta inferir da ordem complexa e sutilmente encadeada do universo a existência de um Ser Inteligente, tendo como base uma analogia entre os artefatos humanos e a intenção dos que os produziram. Filo formula várias alternativas a essa explicação: o universo pode ter resultado da ação não de um, mas de vários deuses em colaboração, como no politeísmo; pode ter sido objeto da intenção de um deus limitado em seus poderes, incapaz de criar um universo realmente perfeito; pode ser como um corpo do qual Deus seja a alma, ao modo de um panteísmo; pode ser antes como um organismo, que tem em si mesmo o princípio de geração e desenvolvimento, ou seja, que o universo não se deva a qualquer inteligência externa a ele, mas a causas materiais imanentes. Em outras palavras, a tese de um Deus único, infinitamente bom e inteligente é apenas uma das opções para se explicar um fenômeno que tem um número potencialmente infinito de explicações. A principal crítica contra a tentativa de fundamentar a crença em Deus num argumento racional é de que se trata aqui de uma área na qual a razão não tem mais o apoio da experiência para avaliar se uma hipótese é mais provável do que outra. Nesse caso, tem-se um campo fértil para a elucubração sem limite. Segundo Filo: O que você atribui à fertilidade de minha invenção, replicou Filo, deve-se inteiramente à natureza do assunto. Em assuntos adaptados ao estreito compasso da razão humana, há geralmente apenas uma determinação que traz em si probabilidade ou convicção; e para um homem de juízo sólido, todas as outras suposições, a não ser aquela, parecem inteiramente absurdas e quiméricas (Hume, Dialogues, parte viii). O problema com esse tipo de assunto está no fato de que seu conteúdo está muito além da experiência, pois: E onde está a dificuldade, respondeu Filo, dessa suposição? Todo evento antes da experiência é igualmente difícil e incompreensível; e todo evento, após a experiência, é igualmente fácil e inteligível (Hume, Dialogues, parte viii). Em outras palavras, na medida em que esse assunto foge muito ao âmbito da experiência imediata, a melhor opção em termos racionais é a suspensão do juízo, ou seja, é melhor não considerar que haja uma base racional para a crença teísta. 2) Richard Swinburne e a credibilidade intelectual do teísmo Richard Grenville Swinburne foi professor catedrático na área de filosofia da religião cristã na Universidade de Oxford entre 1985 e 2002. Juntamente com Alvin Plantinga, é considerado o mais importante filósofo analítico da religião contemporâneo. O propósito de sua filosofia da religião é tentar responder o desafio colocado pela filosofia moderna à racionalidade da crença religiosa, particularmente o cristianismo. Insatisfeito com o que considerou uma admissão muito fácil da acusação de irracionalidade e com o abandono, por parte dos intelectuais cristãos mais proeminentes, do intento de apresentar argumentos filosoficamente sustentados em favor da crença cristã, Swinburne se propôs o seguinte programa de pesquisa: … usar os critérios da ciência natural moderna, analisados com o rigor cuidadoso da filosofia moderna, para mostrar o significado e a justificação da teologia cristã. (Swinburne, 1994, p. 8) Esse programa rendeu uma obra filosófica considerável, com livros sobre os mais importantes temas de metafísica, teoria do conhecimento, ética, filosofia da ciência, filosofia da mente, antropologia filosófica e, particularmente, filosofia da religião. Os livros principais se agrupam em dois conjuntos de obras. Primeiramente, ele publicou uma trilogia sobre a crença teísta em geral: The Coherence of Theism (1993, sobre o conceito de Deus do monoteísmo), The Existence of God (1979, 1991 e 2004, com argumentos sobre a crença em Deus analisados de modo probabilístico) e Faith and Reason (1981 e 2005, sobre a relação entre a racionalidade da crença em Deus e a fé religiosa). Além disso, Swinburne escreveu uma tetralogia sobre filosofia da doutrina cristã: Responsibility and Atonement (1989), Revelation: from Metaphor to Analogy (1991, 2007), The Christian God (1994) e Providence and the Problem of Evil (1998). São muitas as facetas da contribuição de Swinburne para a filosofia da religião, mas, conforme já anunciado acima, este texto pretende se concentrar em dois aspectos apenas: sua resposta à crítica de Hume aos milagres e sua versão indutiva dos argumentos sobre a existência de Deus, que também rebatem objeções céticas humianas. Swinburne defende o valor epistêmico da crença em milagres com razões em favor da credibilidade do testemunho e com uma compreensão diferente da proposta por Hume acerca do papel da experiência na fundamentação de uma crença. Vejamos como se apresentam cada um desses temas. Swinburne aceita a definição humiana de milagre como “violação das leis naturais”, mas dá a ela um sentido diferente. Leis naturais podem ser determinísticas ou probabilísticas. No sentido determinístico, um milagre é uma exceção à determinação taxativa da lei. No sentido probabilístico, o evento é apenas altamente improvável, mas não impossível. Nos dois casos, um milagre é tido como um evento que, para ser incorporado ao conjuntode situações previsíveis pela lei natural, exigiria uma complicação teórica tão grande desta e a tornaria tão dissonante do restante do conhecimento estabelecido sobre o mundo, que já não confiaríamos mais na sua capacidade preditiva (Swinburne 2004, p. 281). Mas, o que permitiria aceitar uma ocorrência como milagrosa? Para Hume, como vimos, o simples fato de que é algo contrário à uniformidade descrita numa lei natural já parece uma boa razão para pensar que coisas assim não aconteçam. No entanto, esse ponto de partida desfavorável pode ser revertido por outras razões que confirmem que um fato assim inesperado realmente ocorreu. Indícios de memória do próprio sujeito de crença, do testemunho de outros sujeitos acerca do que presenciaram e se lembram, e vestígios deixados pela ocorrência extraordinária que são coerentes com seu caráter inusual são modos de confirmar a crença num fato que, a princípio, é muito pouco provável em relação ao conhecimento que temos do mundo. Assim, diz Swinburne, não há por que concordar com Hume que o simples fato de contrariar uma lei natural já é suficiente para rejeitar a crença em milagres. Não só os indícios alternativos citados podem ser fortes o bastante para tornar provável essa crença, mas também a probabilidade de existir um Deus pessoal como o postulado pelo teísmo seria um elemento a mais a dar razão para se crer que milagres podem acontecer (cf. Swinburne 2004: 284). Se Deus existisse, ele poderia se valer de milagres para responder a ações humanas livres, como uma prece ou um clamor e, mesmo que fossem raras e excepcionais, essas ocorrências não seriam sem razão. Além disso, Deus poderia se valer de um milagre para assinalar sua aprovação ao trabalho ou ensinamento de um profeta, por exemplo. Essa questão, no entanto, remete ao segundo tópico principal da crítica de Hume à religião — a rejeição aos argumentos da teologia natural – que será visto mais adiante. Antes, porém, vejamos como Swinburne lida com a teoria humiana acerca do testemunho. O autor do livro que está traduzido neste volume considera o testemunho não apenas uma fonte importantíssima de informação, mas também fundamental para todo o conjunto de crenças que formamos. Ele contesta a tese de Hume de que nosso fundamento para crer no relato dos outros está na observação de que as pessoas frequentemente falam a verdade. Segundo Swinburne, a razão para crer com base no testemunho é muito mais profunda do que essa, pois a crença no testemunho é condição para o próprio aprendizado da linguagem. Em outras palavras, não teríamos como relacionar ideias e coisas, bem como ideias entre si, a não ser que partíssemos da crença de que aqueles que nos ensinam ou servem de modelo para a comunicação verbal são verídicos. “Mas”, afirma Swinburne, “se é assim, eu não poderia descobrir pela experiência que os outros normalmente dizem o que é verdadeiro — porque tenho uma crença acerca do que eles querem dizer por suas palavras apenas no pressuposto anterior de que eles normalmente estão dizendo a verdade” (Swinburne, 2001, p. 124). Isso significa que a crença no conteúdo do testemunho é condição fundamental para o conhecimento humano e não apenas um atalho para a experiência direta do sujeito. Não é por acaso que uma proporção significativa de nossas crenças, talvez mesmo a imensa maioria das que julgamos verdadeiras, tenham como fonte o testemunho. Um exemplo trivial é a crença que cada um de nós tem acerca da veracidade do próprio nome, uma crença que não temos razão para duvidar. E como cada um de nós sabe do próprio nome? Apenas e tão somente pelo testemunho, seja porque as pessoas que presenciaram nosso batizado ou registro civil nos dizem isso, seja porque um documento (que é apenas uma forma de testemunho, de fonte de informação com base na declaração de alguém) nos mostra isso. Assim, a atitude mais racional não é a de inicialmente duvidar do testemunho ou de entendê-lo como uma fonte secundária de crenças, mas a de tomar o fato de que alguém afirma a proposição p como razão para pensar que p é verdadeiro. Em outros termos, segundo Swinburne, o fato de que uma proposição p é afirmada por um sujeito S torna p provavelmente verdadeiro a princípio, sendo esse então um princípio indutivo perfeitamente razoável de ser seguido (cf. Swinburne, 2005, p. 27). A esse princípio de que o que alguém afirma – na falta de razões positivas para duvidar — é provavelmente verdadeiro, nosso autor chama de “princípio de testemunho”. Com a noção de princípio indutivo, chegamos ao elemento mais importante da contribuição de Richard Swinburne à filosofia da religião. Como vimos acima, seu propósito era mostrar o significado e justificação racional da religião cristã com base nos critérios de fundamentação argumentativa da ciência moderna. Para Swinburne, as ciências naturais modernas são fundamentalmente indutivas, mas o sentido de indução não é o de enumeração simples, pelo qual se conclui uma tese geral a partir da observação de casos individuais (“o urubu 1 é preto, o urubu 2 é preto, o urubu n é preto, logo todo urubu é preto”). Segundo nosso autor, o melhor modo de entender o raciocínio científico indutivo nas ciências empíricas modernas é interpretá-lo em termos probabilísticos, com o auxílio do cálculo de probabilidades, tendo como ferramenta principal o Teorema de Bayes. Talvez a contribuição mais significativa de Swinburne para a filosofia da religião esteja no uso da interpretação bayesiana do raciocínio científico — ou seja, baseada no Teorema de Bayes – para apresentar e fazer um balanço de argumentos sobre a existência de Deus. No restante desta parte, pretendo esclarecer as principais ideias deste parágrafo. Na interpretação bayesiana do raciocínio indutivo, a relação entre uma hipótese explicativa e os indícios empíricos se dá entre proposições: a hipotética e as proposições empíricas. Essa relação é expressa em termos de grau de probabilidade, pelo qual uma proposição empírica que se torna mais provável em vista da hipótese em questão aumenta a probabilidade da hipótese, especialmente se a proposição empírica for pouco explicada em vista do conhecimento que já se tem. Dito de outro modo, quanto menos provável for a proposição empírica em vista do que já se conhece anteriormente à hipótese formulada e quanto mais provável a proposição empírica se torna em vista da hipótese, maior é o poder explicativo da hipótese, ou sua verossimilhança (likelihood em inglês). Além do poder explicativo entendido nesses termos, a confirmação indutiva de uma hipótese depende também de sua probabilidade prévia, que é também avaliada em termos do conhecimento anterior à formulação da hipótese. “Anterior” aqui se refere àquilo que se conhece excluindo-se a própria hipótese. A probabilidade prévia de uma hipótese mede, então, seu grau de plausibilidade, com base naquilo que já se conhece na área e em critérios não empíricos, como simplicidade e abrangência. Em termos formais, na sua formulação mais simples, o Teorema de Bayes permite a seguinte formalização dos termos principais do raciocínio indutivo: Probabilidade posterior de h Poder explicativo de h Probabilidade prévia de h P(h/e.k) (lê-se “a probabilidade de h dado e e k”) é o valor a que se quer chegar. Quanto maior a probabilidade posterior de uma hipótese h, mais confirmada ela é pelos dados empíricos e que foram considerados para o seu teste. O poder explicativo de h é dado pela verossimilhança de h [P(e/h.k)] e o grau de expectativa de e [P(e/k)]. Quanto maior for a verossimilhança de h, ou seja, quanto maior for a probabilidade do evento e em vista da hipótese h em questão (quanto mais explicado ficar e em vista de h), maior tenderá a ser a probabilidade posterior de h. Por outro lado, quanto menor for o grau de expectativa de e [P(e/k)], ou seja, quanto menos e ficar explicado em vista do que já se conhece (k), maior tenderá a ser a probabilidade posterior de h. Por fim, a probabilidade prévia de h é o grau de plausibilidade da hipóteseem vista do conhecimento já estabelecido. Desse modo, na interpretação bayesiana do raciocínio científico, a avaliação de hipóteses rivais como opções de explicação de um conjunto de fenômenos não se dá apenas em vista das proposições empíricas que ela pretende explicar, mas de outros fatores também. Assim, para Swinburne, Deve haver um critério para se escolher entre o infinito número de teorias que são igualmente bem sucedidas em predizer as observações já feitas, de modo a sermos capazes de fazer predições justificadas sobre o futuro. A história da ciência revela que, na falta de conhecimento de fundo, esse critério é basicamente o critério de simplicidade (Swinburne, 2004, p. 59). Dito de outra maneira, há sempre mais de uma teoria capaz de explicar um mesmo conjunto de fenômenos, o que significa que, em certos casos, a experiência não consegue resolver sozinha a questão acerca de que explicação é a mais justificada. Nesses casos, que a filosofia da ciência contemporânea chama de subdeterminação da teoria pela experiência, a escolha racional precisa lançar mão de critérios não empíricos. Para Swinburne, a simplicidade seria o principal desses critérios a tornar provável uma hipótese, no sentido de que quanto mais simples for uma teoria, mas provável ela será a priori. Explicar um determinado fenômeno e, portanto, envolve a consideração de duas probabilidades que são combinadas formalmente pelo teorema de Bayes: a plausibilidade prévia e o poder explicativo da hipótese que pretende explicar e. A explicação mais justificada será a mais provável no fim das contas, considerando-se o produto das duas. Essa avaliação é normalmente comparativa, ou seja, considerando-se as alternativas rivais de entendimento de um mesmo fato. Uma explicação de um fenômeno e pode ser explicada por uma teoria mais ampla, mas explicar algo não exige que seja impossível seguir na sequência explicativa. Por exemplo, posso explicar minha atitude de me levantar e me dirigir à cozinha por minha vontade de beber água. Apesar de não ser uma explicação final, ela é satisfatória, não exigindo normalmente acrescentar uma teoria da fisiologia da sede ou das razões bioquímicas ou biofísicas que me levaram a ter vontade de beber água. É verdade, porém, que se podem acrescentar níveis mais amplos de explicação, quando novas questões vão se colocando, após a explicação ser oferecida. Minha atitude pode, então, ser explicada por teorias gerais da biologia, da química e da física que deem conta da sensação de sede de animais do gênero no qual se enquadram os seres humanos. No entanto, diz Swinburne, apesar de minha atitude de me levantar e ir à cozinha beber água poder ser explicada também por fatores ambientais e bioquímicos, além das leis da física e da química, isso não significa que intenções sejam redutíveis a explicações materiais. Explicar uma ocorrência é dizer o que causou esse fenômeno e por que ele ocorreu. No caso de explicações científicas, usando- se o esquema proposto por Carl Hempel, um fato e se explica por suas condições iniciais e pelas leis naturais que lhe dizem respeito. No entanto, para Swinburne, ações de seres dotados de capacidade de deliberação intencional não são explicadas somente por causas e leis naturais. Para se explicar a ação de escrever um livro, exige-se não apenas dar conta dos fatos físicos, químicos e biológicos que permitem esse acontecimento ocorrer, mas também a postulação de poderes, crenças e intenções do agente que realizou aquela ação. A essa postulação de causas (poderes e crenças) e razões (intenções conscientes) para explicar e, Swinburne denomina “explicação pessoal”. A explicação pessoal seria um tipo diferente da explicação material ou científica e não redutível a esta, embora as duas possam ser combinadas. É possível dizer que a aplicação feita por Swinburne da interpretação bayesiana do raciocínio científico ao problema da justificação da crença na existência de Deus responde às principais críticas de Hume aos argumentos da teologia natural. Em primeiro lugar, esses argumentos não precisam ser vistos de forma separada apenas, mas podem ser tomados como indícios particulares de um mesmo argumento cumulativo. Assim, a hipótese de que Deus existe pode ser avaliada quanto a sua probabilidade em relação a indícios como a existência do universo, a ocorrência de ordem no universo, o fato de haver seres conscientes, o mal e a experiência religiosa. Cada um desses indícios, que eram tomados como argumentos separados contra ou a favor da existência de Deus podem ser integrados num mesmo argumento indutivo, com a ajuda da formalização provida pelo Teorema de Bayes, de modo a confirmarem ou infirmarem essa hipótese. Ao final de The Existence of God, Swinburne defende que o balanço em favor do teísmo em vista desses indícios tomados em conjunto é favorável, ou seja, que eles tornam a crença em Deus provável. Por outro lado, como vimos, além do poder explicativo, uma hipótese precisa ser avaliada quanto a sua probabilidade prévia. Swinburne defende que aqui, como na ciência em geral, o principal critério a ser levado em conta é o de simplicidade (cf. Swinburne, 2004, p. 145ss.). Com base nesse critério, ele propõe que a hipótese teísta seja superior a todas as suposições alternativas sugeridas pelo personagem Filo dos Dialogues de Hume. Diferentemente do politeísmo, o monoteísmo sugere uma única entidade e não várias, sendo mais simples no sentido de postular menos entidades. Diferente da tese de um deus com poderes limitados, o monoteísmo seria mais simples no sentido de que postular um grau infinito requer menos explicações adicionais que postular qualquer grau limitado, pois neste último caso é preciso dizer por que foi sugerido aquele grau e não um imediatamente superior ou inferior. Pelo mesmo princípio de simplicidade é possível rejeitar hipóteses mais bizarras, como a do universo como um imenso ser orgânico. É verdade que não postular princípio exterior ao universo físico nenhum seria mais simples que postular a existência de Deus. No entanto, afirma Swinburne, o problema passa a ser como explicar a existência do próprio universo e de várias de suas características, que parecem ser ou pressupostas pela atividade científica ou implicariam um aumento de complexidade inaceitável do arcabouço teórico científico para poderem ser explicadas. Em suma, além de uma boa resposta à rejeição humiana da crença em milagres[1], a filosofia da religião de Swinburne mostra que as objeções de Hume não são suficientes para rejeitar a possibilidade da teologia natural como parte de uma concepção metafísica geral racionalmente justificada. Na concepção de Swinburne, ao invés de se opor à atividade científica, a teoria geral acerca da realidade pressuposta nas religiões monoteístas, especialmente o cristianismo, pode ser tida como complemento à ciência, inclusive até justificável nos termos mais amplos do próprio raciocínio científico. Ao contrário do que pensava Hume, a concordância com a experiência imediata não é o único modo de se justificar uma hipótese, pois, por vezes, várias teorias explicam os mesmos fenômenos mesmo nas ciências empíricas. O desenvolvimento da ciência moderna, que recorre constantemente a conceitos não observáveis, mostra ser inadequado impor como estrito limite do conhecimento aquilo que pode ser reduzido a uma observação direta, tal como propunha Hume (e, num certo sentido pelo menos, também Kant). Se for com base nesses limites inadequados do conhecimento que se deva rejeitar a possibilidade de justificação racional da crença em Deus, então não há por que aceitar essa rejeição. Por outro lado, Swinburne postula o teísmo como uma explicação pessoal (com base em crenças, poderes e intenções) para esses fenômenos que ou são grandes demais ou estranhos demais para as ciências naturais explicarem. Fenômenos que são supostos pela atividade científica (a existência de um universo e de ordem inteligível neste) ou que exigiriam uma explicação científica complexademais (a existência de consciência ou de eventos como experiências religiosas) parecem ficar mais bem explicados pela ação intencional de um agente. E como Deus é um ser incorpóreo, caso exista, sua intenção não é sequer explicável pela ação das leis naturais. O que se teria, nesse caso, é um tipo de explicação que não pode ser explicada de modo mais amplo, não cabendo perguntar: “e o que fez surgir Deus?”, uma vez que ele é postulado como onipotente, eterno, perfeitamente livre e fora do alcance da explicação científica. 3) Perspectivas para a Filosofia da Religião contemporânea É claro que o bayesianismo é apenas uma das interpretações possíveis do raciocínio científico e, como toda teoria interessante em filosofia, é criticado em suas pretensões.[2] Entretanto, a proposta de Swinburne mostra que não é assim tão claro que não se possa mais argumentar racionalmente em favor da existência de Deus em vista do tipo de raciocínio exemplificado pela ciência moderna, como teriam dito Hume e Kant. A relação entre ciência moderna e religião cristã é mais complexa do que a tese popular do conflito, como mostram autores como John Brooke (1991) e R. Hooykaas (1972), por exemplo. Casos de diálogo e colaboração são também notáveis e frequentes. A filosofia da religião de Richard Swinburne contribui para restabelecer a credibilidade epistêmica da crença religiosa cristã mostrando que ela pode ser reconstruída e argumentada em termos de padrões de raciocínio científico moderno. Abre-se, então, a perspectiva de lidar com crenças religiosas não apenas como referências para a ação e como sentido existencial em termos subjetivos, tal como parece ser a concepção predominante entre os filósofos do século XVIII em diante. Juntamente com outros pensadores importantes da chamada filosofia analítica da religião, Swinburne ajuda a estabelecer uma instigante linha de pesquisa, que vê a crença religiosa em termos realistas e racionais.[3] Em certo sentido, isso é algo que já havia sido feito anteriormente, por pensadores como Agostinho de Hipona, Tomás de Aquino e Duns Scotus, mas que é proposto agora num tempo de enorme prestígio da pesquisa científica, nos termos mesmos dessa nova forma de pensar. The Existence of God aqui traduzida para o português pode ser criticada de vários modos. Pode- se, por exemplo, rejeitar o dualismo explicativo que distingue explicação pessoal de explicação material ou científica. Mas, nesse caso, será preciso arcar com a dificuldade de lidar em termos naturais apenas com ações que parecem provir de decisão intencional. Pode-se questionar a noção de simplicidade e sua relevância para a avaliação comparativa de hipóteses explicativas, mas isso implicará oferecer um sentido para essa ideia que parece tão presente na história da ciência em momentos de se escolher a teoria mais provável. Pode-se também questionar a aplicação da noção de simplicidade e do esquema de raciocínio indutivo bayesiano ao problema da racionalidade da crença em Deus.[4] O importante de um bom texto filosófico não é trazer respostas que não possam ser questionadas, mas fazer pensar as questões de modo mais aprofundado e criativo. The Existence of God, agora traduzido para o português, tem tudo para dar essa contribuição para a filosofia brasileira. — Dr. Agnaldo Cuoco Portugal Universidade de Brasília Bibliografia BROOKE, John H. Science and Religion — Some historical perspectives. Cambridge: Cambridge University Press, 1991. EARMAN, John. Hume’s Abject Failure. Oxford: Oxford University Press, 2000. HOWSON, Colin & URBACH, Peter. Scientific Reasoning: The Bayesian Approach — second edition. Chicago: Open Court, 1993. HUME, David. Enquiry Concerning Human Understanding. 3a. ed., Oxford: Clarendon, 1975 [1748]. HUME, David. Dialogues Concerning Natural Religion. Londres: Penguin, 1990 [1779]. HOOYKAAS, R. Religion and the Rise of Modern Science. Edimburgh: Scottish Academic Press, 1972. (Tradução em português: A religião e o desenvolvimento da ciência moderna. São Paulo/Brasília: Polis/Ed. UnB, 1988). MAYO, Deborah. Error and the Growth of Experimental Knowledge. Chicago/London: The University of Chicago Press, 1996. PORTUGAL, Agnaldo. Filosofia Analítica da Religião como Pensamento Pós-“Pós-Metafísico”. Horizonte, Belo Horizonte, v. 8, n. 16, p. 80-98, jan./mar. 2010 PORTUGAL, Agnaldo. Como usar o Método Probabilístico na Discussão da Crença em Deus. Episteme (Porto Alegre), Porto Alegre, v. 18, p. 41- 55, 2004. SWINBURNE, Richard. Epistemic Justification. Oxford: Oxford University Press, 2001. SWINBURNE, Richard. The Existence of God — Second Edition. Oxford: Clarendon, 2004. SWINBURNE, Richard. Faith and Reason — Second Edition. Oxford: Clarendon, 2005. Prefácio à segunda edição A existência de Deus é o livro central dentre todos os que escrevi sobre filosofia da religião. Ele foi publicado originalmente em 1979. A “edição revista” foi publicada em 1991, mas a revisão consistiu meramente do acréscimo de dois apêndices; o texto principal permaneceu intacto. A presente revisão é muito mais substancial. Reescrevi minhas descrições, nos capítulos 6, 7 e 8 dos argumentos cosmológico e teleológico, incorporando neles o material dos apêndices de 1991, desenvolvendo o argumento a partir das leis da natureza com uma discussão da natureza dessas (dependente de um Capítulo 2 reescrito) e melhorando minha descrição do argumento da sintonia fina. Alterei o capítulo 9 em vista de meu trabalho subsequente acerca da consciência; e os Capítulos 10 e 11 em vista de meu trabalho subsequente acerca do problema do mal. Acrescentei três notas adicionais — uma para mostrar como os argumentos em favor da existência de um Deus são compatíveis com a doutrina cristã da Trindade (Deus como “três pessoas de uma substância”), e duas discutindo recentes variações influentes do argumento do design. Rearranjei amplamente o material do Capítulo 12 a fim de tornar o argumento mais claro. Há também alterações menores em vários outros pontos do livro. No curso dessas várias alterações, conectei o que tenho a dizer com novos livros e artigos recentes importantes. Embora minhas visões acerca de muitos pequenos pontos envolvidos no argumento da primeira edição de A Existência de Deus tenham mudado, continuo convencido da correção de sua abordagem geral do tópico, e de sua conclusão resultante. Um estudioso diligente das edições anteriores detectará, contudo, uma simpatia ligeiramente maior pelo argumento do mal contra a existência de Deus, balanceada por uma confiança ligeiramente maior na força do argumento da consciência moral em favor da existência de Deus (e também considerável confiança na força de um argumento com base no milagre da Ressurreição de Jesus, ao qual, por razões de espaço, eu meramente aludo neste livro, mas em favor do qual argumentei pormenorizadamente em meu livro The Ressurrection of God Incarnate (Clarendon Press, 2003). A primeira edição foi baseada em duas séries das Wilde Lectures apresentadas na Universidade de Oxford, no Hilary Term [período letivo entre janeiro e março] de 1976 e no Hilary Term de 1977; e em duas Forwood Lectures proferidas na Universidade de Liverpool em fevereiro de 1977. Sou grato àqueles que me escolheram originalmente para essas palestras e a todos os que me ajudaram posteriormente em meu entendimento dos problemas em discussões orais e em publicações críticas. Meus críticos são muitos e me deram muita ajuda. Sou grato aos editores e editoras dos respectivos periódicos pela permissão de reusar material que foi incorporado em edições anteriores destes artigos: “Whole and Part in Cosmological Arguments”, Philosophy, 44 (1969) 339-40; “The Argument from Design”, Philosophy, 43 (1968) 199-212; “The Argument from Design — A Defence”, Religious Studies, 8 (1972) 193-205; “The Problem of Evil”, in S. C. Brown (ed.), Reason and Religion (Cornell University Press, 1977); “Natural Evil”, American Philosophical Quarterly, 15 (1978), 295-301; “Mackie, Induction, and God”,Religious Studies, 19 (1983), 385-91; “The Argument from the Fine-Tuning of the Universe”, in J. Leslie (ed.), Physical Cosmology and Philosophy (Collier MacMillan, 1990). Obrigado a editores e editoras pela permisssão de usar material mais recente dos seguintes artigos: “The Argument from Laws of Nature Reassessed”, in M. Stone (ed.), Reason, Faith and History: Essays in Honour of Paul Helm (Ashgate, 2004), “The Argument to God from Fine-Tuning Reassessed” in N. A. Manson (ed.), God and Design: The Teleological Argument and Modern Science (Routledge, 2003); “What is so Good about Having a Body?”, in T. W. Bartel (ed.), Comparative Theology (SPCK, 2003); e “Prior Probabilities in the Argument from Fine-Tuning”, que está para sair num suplemento da Faith and Philosophy. Obrigado à Oxford University Press pela permissão em reusar inteiramente no Capítulo 9 uma grande seção do meu livro mais curto Is There a God? (Oxford University Press, 1996); e, no Capítulo 11, passagens de meu livro Providence and the Problem of Evil (Clarendon Press, 1998). E, finalmente, muito obrigado a Sarah Barker por sua digitação e redigitação paciente das muitas versões desta nova edição. Introdução A existência de Deus é uma sequência de A coerência do teísmo [The Coherence of Theism], publicado originalmente em 1977. A coerência do teísmo discutiu o que significa dizer que Deus existe e se a afirmação de que Deus existe é internamente coerente. A existência de Deus discute se esta afirmação é verdadeira; está preocupado em avaliar o peso dos argumentos a partir da experiência em favor e contra esta afirmação e em chegar a uma conclusão quanto a se, num balanço final, os argumentos indicam que Deus existe ou que não existe. O presente livro assume que a afirmação de que Deus existe não é demonstrativamente incoerente (isto é, logicamente impossível), e assim que é adequado procurar por indícios de sua verdade ou falsidade. Para argumentos que justifiquem esse pressuposto, devo referir ao meu trabalho anterior. Contudo, não é de modo algum necessário para um leitor ter lido o trabalho anterior a fim de entender este; nem, com a exceção que se acabou de descrever, este trabalho pressupõe os resultados do anterior. Os problemas discutidos em A existência de Deus são de uma preocupação mais geral que os discutidos em A coerência do teísmo. A maior parte das pessoas geralmente supôs que elas entendiam de algum modo muito vago o que queria dizer que Deus existia; e, na medida em que eles supunham que as palavras humanas eram apenas um guia imperfeito para o que era afirmado, que a afirmação não era demonstrativamente incoerente. Intensa discussão do sentido exato da afirmação e se é incoerente, tem sido primariamente a preocupação de teólogos e filósofos profissionais. Mas o que preocupa as pessoas comuns ao longo dos séculos é se os indícios da experiência humana mostram que a afirmação é verdadeira ou se é falsa. Esse problema é o tópico deste livro. O livro visa discutir esse tópico em profundidade e com rigor. O livro é escrito com a profunda convicção da possibilidade de se alcançar uma conclusão bastante bem justificada por argumento racional acerca desse problema, talvez o mais importante de todos os assuntos profundos que inquietam a mente humana. É uma convicção que foi explicitamente reconhecida pela vasta maioria dos filósofos cristãos (e não cristãos) dos séculos treze ao dezoito e, creio eu, partilhada, embora discutida apenas brevemente, pela maioria dos filósofos cristãos (e não cristãos) do século primeiro ao doze. No século dezenove, porém, a teologia filosófica começou a sentir a poderosa influência cética de Hume e Kant. Esses filósofos apresentaram princípios que visavam mostrar que a razão não poderia nunca alcançar conclusões justificadas acerca de assuntos muito além do alcance da experiência imediata e, acima de tudo, que a razão nunca poderia alcançar uma conclusão justificada acerca da existência de Deus. Em anos recentes, muitos outros argumentaram no mesmo sentido, de modo que tanto entre os filósofos profissionais e fora de seu círculo restrito, há hoje profundo ceticismo quanto ao poder da razão de alcançar uma conclusão justificada acerca da existência de Deus. À medida que construo meus argumentos positivos, darei brevemente minhas razões para pensar que os princípios de Hume e Kant estão errados e que a razão pode alcançar conclusões justificadas fora dos limites estreitos delineados por estes filósofos. Aqueles que acreditam na capacidade da ciência moderna de alcançar conclusões justificadas (e excitantes) acerca de coisas muito além da experiência imediata, como partículas subatômicas, e forças nucleares, o “Big Bang” e a evolução cósmica devem ser altamente simpáticos ao meu empreendimento; Hume e Kant não deveriam, com base em seus próprios princípios, ter tido uma atitude muito simpática em relação às afirmações da ciência física moderna. Eu defenderei, contudo, que embora a razão possa alcançar uma conclusão bastante bem justificada acerca da existência de Deus, ela pode chegar apenas a uma conclusão provável, não indubitável. Por essa razão, há espaço abundante para a fé na prática da religião e minha trilogia acerca da filosofia do teísmo termina com um volume sobre Fé e razão. Desenvolvimentos recentes em Filosofia que eu descreverei, especialmente desenvolvimentos em Lógica Indutiva, frequentemente chamada de Teoria da Confirmação, fornecem instrumentos de grande valor para a investigação de meu tópico. A teoria da confirmação envolve algum uso ocasional de símbolos. Eu introduzo esses símbolos no texto e explico seu significado com a ajuda de exemplos. Não há necessidade, para qualquer leitor não familiarizado com esses símbolos, de temê-los. Meu uso da teoria da confirmação me permite expressar meus argumentos com o rigor apropriado a qualquer apresentação pormenorizada dos argumentos a favor e contra uma teoria em larga escala do universo e também me permite mostrar as fortes similaridades que existem entre teorias religiosas e teorias científicas de larga escala. Eu devo realmente, contudo, um pedido de desculpas, bem como uma explicação, para aqueles que acham difícil lidar com símbolos. Os símbolos não são frequentes e tomei o cuidado de exprimir em palavras também o argumento principal das passagens em que os símbolos ocorrem. 1. Argumentos Indutivos Um argumento começa com uma ou mais premissas, que são proposições tomadas como dadas para o propósito do argumento, e fundamentam uma conclusão. Um argumento é dedutivamente válido se é incoerente supor que suas premissas são verdadeiras, mas sua conclusão é falsa. Por exemplo, o argumento seguinte é dedutivamente válido: (Premissa 1) Nenhum corpo material anda mais rápido que a luz (Premissa 2) Meu carro é um corpo material (Conclusão) Meu carro não anda mais rápido que a luz Num argumento dedutivo válido, as premissas tornam a conclusão certa. Há argumentos que não são dedutivamente válidos, mas nos quais as premissas em algum sentido “sustentam” ou “confirmam” ou “dão força” à conclusão, e alguns ou todos os argumentos deste tipo geral são com frequência caracterizados como argumentos indutivos “bons” ou “corretos” ou “fortes”. Contudo, precisamos aqui distinguir cuidadosamente entre dois tipos diferentes de argumento. Há argumentos nos quais as premissas tornam a conclusão provável, ou seja, mais provável do que não, por exemplo: P1: 70% dos habitantes de Bogside são católicos P2: Doherty é uma habitante de Bogside C: Doherty é católica A conjunção das premissas faz a conclusão provável. Contudo, muitos argumentos que são chamados de argumentos indutivos “corretos” dificilmente deveriam ser encarados como tais. Tome o seguinte argumento: P: Todos os 100 corvos observados em diferentes partes do mundo são pretos. C: Todos os corvos são pretos. O modo normal de interpretar essa conclusão, no contexto de uma discussão de argumentos indutivos, é supor que ela é acerca detodos os corvos em todos os momentos do tempo e pontos do espaço — e, mesmo que você suponha que nada num planeta distante possa ser tido como um corvo, ela se refere a todos os corvos em todos os tempos na história da terra e em todos os lugares de sua superfície. Mas, quando a conclusão é interpretada deste modo, fica implausível supor que P torna C mais provável do que não. Pois não é improvável supor que a cor preta dos corvos observados advém de uma característica particular dos corvos modernos, uma característica particular de sua aparência que não esteja presente em corvos mais antigos. Supor que todos os corvos sejam sempre pretos parece ir muito além dos dados registrados em P. C pode, contudo, ser verdadeiro; e a maioria de nós supõe que P aumente a probabilidade de que ele seja verdadeiro, mas P não torna C provável. A maior parte dos argumentos dos cientistas a partir seus dados observacionais para embasar conclusões acerca de quais são as leis verdadeiras da natureza ou predições sobre os resultados de experimentos ou observações futuras não são dedutivamente válidos, mas são, poder-se-ia concordar em geral, argumentos indutivos de um dos dois tipos acima (não quero dizer que eles tenham o padrão simples dos exemplos fáceis dados acima, mas apenas que eles são argumentos que têm as características definidoras de um dos dois tipos). As várias observações astronômicas feitas por Tycho Brahe, Kepler, Galileu e outros homens do século dezessete foram observações que favoreceram a teoria do movimento de Newton, no sentido de que elas a fizeram mais verossímil, mais provável, do que seria caso contrário. Os vários dados botânicos, geológicos e reprodutivos descritos por Charles Darwin na Origem das Espécies aumentaram a probabilidade de sua teoria da evolução das espécies animais pela seleção natural de variações. É uma questão interessante, à qual precisarei aludir num estágio posterior, se, num argumento científico típico a partir de vários dados de observação e de experimento para embasar uma conclusão acerca de quais são as leis fundamentais da física ou química, as premissas tornam a conclusão provável ou apenas acrescentam-lhe probabilidade. Supõe-se normalmente que leis da natureza são generalizações que não apenas se mantêm em todos os tempos e lugares, mas que continuariam a valer sob circunstâncias não realizadas ou não realizáveis (por exemplo, como quer que os seres humanos interfiram no universo). A teoria do movimento de Newton consiste de suas três leis do movimento e de sua lei da atração gravitacional. Será que as várias observações do século dezessete tornaram mais provável do que não que sua teoria fosse verdadeira? Prefiro não emitir juízo sobre este assunto nesse momento. Contudo, com base no nosso modo normal de encarar esses assuntos, claramente dados observacionais tornam mais provável que não uma predição particular acerca do futuro. Todos os dados observacionais sobre o comportamento passado do sol, lua, planetas etc. tornam mais provável que não que a Terra continuará a girar em seu eixo pelas próximas vinte e quatro horas e, assim, que o sol aparecerá sobre a superfície da terra amanhã. Chamemos um argumento no qual as premissas tornam a conclusão provável, um argumento correto P-indutivo. Chamemos um argumento no qual as premissas adicionam probabilidade à conclusão (ou seja, tornam a conclusão mais verossímil ou mais provável do que seria de outro modo) um argumento correto C- indutivo. Neste último caso, digamos que as premissas “confirmam” a conclusão. Dentre os argumentos corretos C-indutivos, alguns serão obviamente mais fortes que outros, no sentido de que em alguns as premissas aumentarão a probabilidade da conclusão mais do que elas o fazem em outros argumentos. A razão de um argumento é fazer com que as pessoas, na medida em que forem racionais, aceitem conclusões. Para esse propósito, não é suficiente que suas premissas devam em algum sentido tornar necessárias ou prováveis suas conclusões. É também necessário que as premissas sejam tidas como verdadeiras por aqueles que discutem acerca da conclusão. Há vários argumentos válidos em favor da existência de Deus que são bastante inúteis porque, embora suas premissas possam ser verdadeiras, elas não são tidas como verdadeiras por aqueles que debatem sobre religião, por exemplo: P1: Se a vida tem sentido, então Deus existe. P2: A vida tem sentido C: Deus existe Este argumento é certamente válido. Se as premissas são verdadeiras, a conclusão deve ser verdadeira. As premissas podem ser verdadeiras, mas os ateus negariam ou a primeira premissa ou a segunda. Uma vez que as premissas não são de conhecimento comum entre aqueles que debatem sobre religião, elas não constituem uma boa plataforma de lançamento para este argumento. O que é claramente de interesse das pessoas numa época de ceticismo religioso são argumentos em favor da existência (ou não existência) de Deus nos quais as premissas sejam tidas como verdadeiras por pessoas de todas as persuasões teístas ou ateias. Eu, portanto, defino argumentos com base em premissas tidas como verdadeiras por aqueles que debatem acerca da conclusão que são argumentos dedutivamente válidos, P-indutivos corretos, ou C- indutivos corretos, respectivamente como bons argumentos dedutivos, bons argumentos P-indutivos, e bons argumentos C-indutivos. Ao investigar argumentos a favor ou contra a existência de Deus, precisamos investigar se algum deles é um bom argumento de tipo dedutivo, P-indutivo ou C- indutivo. Tomo a proposição “Deus existe” (e a proposição equivalente “há um Deus”) como logicamente equivalente a “existe necessariamente uma pessoa[5] sem um corpo (isto é, um espírito) que necessariamente é eterno, perfeitamente livre, onipotente, onisciente, perfeitamente bom e o criador de todas as coisas”. Uso “Deus” como o nome da pessoa abrangida por esta descrição. Entendo por Deus ser eterno que Ele sempre existiu e sempre existirá. Há um entendimento alternativo de “eterno” na tradição cristã como “atemporal” ou “fora do tempo”. Este entendimento, contudo, não chegou à tradição cristã antes do século quarto a.C., é muito difícil entender o que ele queira dizer e, por razões que eu apresentei em outro lugar,[6] parece bastante desnecessário para o teísta carregar o fardo desse entendimento de eternidade. Por Deus ser perfeitamente livre, entendo que nenhum objeto, evento ou estado (inclusive estados passados de si mesmo), de modo algum influencie causalmente suas ações apenas sua própria escolha no momento da ação determina o que ele faz. Por Deus ser onipotente, eu entendo que Ele é capaz de fazer tudo o que for logicamente possível (isto é, coerente supor) que ele possa fazer. Por Deus ser onisciente, entendo que ele saiba o que for logicamente possível que ele saiba. Por Deus ser perfeitamente bom, entendo que ele sempre faz a melhor ação em termos morais (quando há uma) e não faz nenhuma ação moralmente má. Por ele ser o criador de todas as coisas, entendo que tudo que existe em cada momento do tempo (a não ser ele mesmo) existe porque, naquele momento do tempo, ele faz existir ou permite que exista. O sentido desta afirmação de que existe um Deus será desenvolvida em um pouco mais de pormenor em certos momentos de capítulos posteriores, especialmente no capítulo 5.[7] A afirmação de que Deus existe é chamada de teísmo. O teísmo é, obviamente, a crença central dos credos do Cristianismo, Judaísmo e Islamismo. Ao longo da história humana, muitas pessoas tomaram por dada a existência de Deus e muitas outras, sem dúvida, tomaram por dada a sua não existência. Eles não tinham razões conscientemente formuladas para suas crenças. Eles apenas acreditaram. Contudo, outros que acreditaram tinham razões para suas crenças. Do mesmo modo que se dá com a maioria das razões das pessoas para a maior parte de suas crenças, essas razões têm sido frequentemente vagas e incipientes. Às vezes, contudo, as pessoas formularam algumas de suas razões paracrença numa forma clara e explícita. É então que temos algo claramente reconhecível como um argumento a favor ou contra a existência de Deus. Aqueles argumentos que têm sido frequentemente discutidos receberam nomes — e daí temos o “argumento cosmológico” ou “o argumento com base na experiência religiosa”. Existem outros argumentos que não foram discutidos com a frequência suficiente para receberem um nome. E as pessoas tiveram outras razões para crer ou descrer que nunca foram formuladas explicitamente o bastante para constituir um argumento. Ao longo deste livro, discutirei várias das razões que as pessoas tiveram para acreditar na existência de Deus ou na não existência de Deus, algumas das quais já receberam uma forma suficientemente precisa para ser codificados em argumentos nomeados e outros que precisarão ser colocados numa forma clara. Discutirei apenas os argumentos nos quais as premissas relatem o que são (num sentido muito geral) características da experiência humana — por exemplo, verdades gerais evidentes acerca do mundo ou características da experiência humana privada. A tais argumentos, chamarei argumentos a posteriori. Eles afirmam que algo que os seres humanos experienciam é base para acreditar que Deus existe ou que Deus não existe. Não vou discutir argumentos a priori — estes são argumentos nos quais as premissas são verdades logicamente necessárias — nomeadamente, proposições que seriam verdadeiras houvesse ou não um mundo de seres físicos ou espirituais. Dentre as verdades logicamente necessárias estão verdades da Matemática ou da Lógica. Assim, não vou discutir o tradicional argumento ontológico[8] em favor da existência de Deus ou qualquer das variantes do mesmo. Tampouco discutirei argumentos contra a existência de Deus que afirmem que há algo incoerente ou auto-contraditório na afirmação de que Deus existe. Penso que argumentos ontológicos para a existência de Deus são, na verdade, apenas argumentos de filósofos e não codificam qualquer das razões que as pessoas comuns têm para acreditar que Deus existe. Os maiores filósofos teístas da religião em geral rejeitaram argumentos ontológicos e se apoiaram em argumentos a posteriori.[9] Argumentos contra a existência de Deus que afirmam que o teísmo é incoerente, contudo, têm realmente, eu admito, uma base no pensamento das pessoas comuns. Não poderei, no entanto, obviamente discutir todas as razões a posteriori que as pessoas têm para acreditar que Deus existe ou não. Mas vou considerar aqueles, a meu ver, que são os mais plausíveis e foram os mais atraentes na história humana. Ao chegar a minha conclusão final acerca de quão provável é a tese de que Deus existe, vou assumir que nenhum argumento a priori de qualquer espécie[10] e nenhum a posteriori diferente dos que eu discuto têm qualquer força significativa. Embora meu tema sejam os argumentos a favor e contra a existência de Deus, parecerá que eu me concentro nos argumentos a favor da existência de Deus. Eu, de fato, discuto num capítulo à parte o principal argumento contra a existência de Deus — o argumento do mal, que afirma que a existência de dor e sofrimento no mundo mostra que não há um ser perfeitamente bom e todo poderoso. Contudo, à exceção daquele argumento (e o argumento do ocultamento, a ele associado, que eu também discuto ali), a principal razão que os ateus têm para acreditar que Deus não existe tem sido sua afirmação de que não há indícios suficientes, que os argumentos teístas não tornam a existência de Deus provável em qualquer grau significativo. Os argumentos ateus, à exceção do argumento do mal, têm sido em grande parte na forma de críticas dos argumentos teístas. Eu, portanto, discuto tais argumentos no curso da discussão de cada um dos principais argumentos em favor da existência de Deus. Ao discutir argumentos em favor da existência de Deus, vou considerar formas do argumento cosmológico e teleológico, o argumento com base na existência de consciência, o argumento moral, argumentos com base no milagre e na revelação e o argumento a partir da experiência religiosa. Um argumento cosmológico sustenta que o fato de que existe um universo precisa de explicação e que a tese de que Deus o fez e o mantém existindo explica sua existência. Um argumento do design sustenta que o fato de que há um design no mundo precisa de explicação e que a ação de Deus dá essa explicação. Há várias formas de argumento do design, de acordo com o tipo de design ao qual ele chame atenção. Eu discuto dois diferentes gêneros do argumento sob o título “argumentos teleológicos” e “o argumento da providência” e diferentes espécies de cada gênero. O argumento a partir da existência de consciência sustenta que o fato de que há seres conscientes é misterioso e inexplicável a não ser pela ação de Deus. Argumentos do milagre e da revelação citam vários fenômenos públicos ao longo da história humana como indícios da existência e atividade de Deus. O argumento da experiência religiosa afirma que várias experiências privadas são experiências de Deus e assim mostram sua existência. Alguns dos problemas que eu discuto são tratados em mais profundidade em outros trabalhos; mas a discussão neste livro é, espero eu, adequada — dados os limites impostos pela dimensão do livro — para sustentar as conclusões extraídas aqui. Por exemplo, eu discuti o problema do mal em um livro inteiramente dedicado ao assunto: Providence and the Problem of Evil;[11] mas espero que a discussão dele nos capítulos 10 e 11 do presente livro seja suficiente para tornar plausível que o tipo e quantidade de mal que encontramos na Terra não conte significativamente contra a existência de Deus. Há, porém, um aspecto no qual minha discussão neste livro é manifestamente incompleta. Quando eu discuto argumentos dos milagres, tenho espaço apenas para discutir quais fenômenos públicos estranhos (por exemplo, um homem morto voltando a viver), se eles ocorressem, seriam indícios da existência de Deus, mas eu não tenho espaço para discutir os dados históricos a favor e contra a ocorrência de fenômenos públicos particulares. Assim, efetivamente, eu discuto aqui apenas a forma de um argumento que precisa ser preenchido com material histórico pormenorizado.[12] Kant propôs uma classificação em três tipos dos argumentos em favor da existência de Deus que teve uma influência permanente e, a meu ver, longe de benéfica, sobre a subsequente discussão deste tópico. Ele escreveu: Há apenas três modos possíveis de provar a existência de Deus por meio da razão especulativa. Todos os caminhos que levam a esse objetivo começam ou com uma experiência determinada e a constituição específica do mundo dos sentidos tal como conhecido por eles e ascendem a partir daí, de acordo com as leis da causalidade, para a causa suprema fora do mundo; ou eles começam de uma experiência puramente indeterminada, a experiência da existência em geral; ou, finalmente, eles abstraem de toda experiência e argumentam completamente a priori, com base em simples conceitos, em favor da existência de uma causa suprema. A primeira prova é a físico-teológica, a segunda, a cosmológica, a terceira, a ontológica. Não há nem pode haver outras.[13] A distinção é feita em termos da natureza das premissas. Ou se começa de uma verdade conceitual — em cujo caso se tem um argumento ontológico; ou da “existência em geral” — em cujo caso se tem o argumento cosmológico; ou dos pormenores do que Kant chama “experiência determinada”, como as coisas são no mundo — em cujo caso se tem o argumento “físico-teológico”. Minha razão para defender que essa doutrina de Kant teve uma influência longe de benéfica na discussão deste assunto é que, por seu uso da palavra “o”, Kant tende a assumir que pode haver apenas um argumento de cada tipo — enquanto que, de fato, pode haver claramente muitos diferentes argumentos sob cada um daqueles títulos que são tão diferentes uns dos outros que seria enganoso chamá-los sequer de formas do mesmo argumento. Não há, por exemplo, razãonenhuma para supor que todos os argumentos a partir de como as coisas são no mundo precisam ter a mesma forma do argumento que Kant chama de “físico-teológico” e foi chamado em outro lugar de argumento do design. Este último argumento pode, por sua vez, ter várias formas. Posso argumentar, por exemplo, a partir do comportamento regular dos objetos no mundo codificado nas leis da natureza ou a partir da pronta disponibilidade no mundo das coisas que os homens e os animais precisam para sobreviver. Em ambos os casos, há um argumento a partir de uma ordem bem geral na natureza. Mas há argumentos também, como notamos, a partir de milagres particulares, a partir do desenvolvimento da história humana ou a partir de experiências religiosas particulares. Pode ser que nenhum desses sejam particularmente bons argumentos, mas eles merecem ser considerados em seus méritos próprios — a classificação de Kant obscurece a existência deles. Sendo assim, consideraremos o valor de vários argumentos a posteriori e não de apenas de dois, como listados por Kant. Quando tivermos nossos argumentos numa forma clara, precisaremos perguntar: eles são bons argumentos dedutivos ou bons argumentos P-indutivos ou bons argumentos C-indutivos? Às vezes, os proponentes de tais argumentos não são claros se pretendiam que estes fossem dedutivos ou indutivos, quanto mais que tipo de argumento indutivo eles deveriam ser. Uma característica desafortunada da filosofia da religião recente tem sido a tendência de tratar os argumentos em favor da existência de Deus de forma isolada uns dos outros. Certamente, não pode haver objeção em considerar cada argumento inicialmente de forma isolada em relação aos outros, para fins de simplicidade da exposição. Mas claramente os argumentos podem dar sustento uns aos outros ou, alternativamente, enfraquecer uns aos outros e precisamos considerar se isso se dá ou não. Às vezes, contudo, os filósofos consideram os argumentos para a existência de Deus de forma isolada uns dos outros da seguinte forma: o argumento cosmológico não prova a conclusão, o argumento teleológico não prova a conclusão, etc., etc., portanto, os argumentos não provam a conclusão. Mas essa técnica de “dividir para governar” com os argumentos é inadmissível. Mesmo se o único tipo de bom argumento fosse um argumento dedutivo válido a partir de premissas tidas como verdadeiras, isso seria inadmissível. Um argumento de p para r pode ser inválido, um outro de q para r pode ser inválido. Mas se você puser os dois juntos, você pode muito bem obter um argumento dedutivo válido; o argumento de p e q para r pode ser válido. O argumento de “todo estudante tem cabelo comprido” para “Smith tem o cabelo comprido” é inválido e também o é o argumento de “Smith é um estudante” para “Smith tem o cabelo comprido”; mas o argumento de “todo estudante tem o cabelo comprido e Smith é estudante” para “Smith tem o cabelo comprido” é válido. Que os argumentos possam dar apoio e enfraquecer uns aos outros é ainda mais evidente quando estamos lidando com argumentos indutivos. Que Smith tenha sangue em suas mãos dificilmente tornará provável que Smith assassinou a Sra. Jones, tampouco (por si mesmo) o fato de que Smith tinha a ganhar com a morte da Sra. Jones, tampouco (por si mesmo) o fato de que Smith estava perto da cena do assassinato na hora em que ele foi cometido, mas todos esses acontecimentos juntos (talvez junto com outros fenômenos também) podem com certeza tornar a conclusão provável.[14] A fim de levar em conta o efeito cumulativo dos argumentos, vou considerá-los, então, um a um, começando com o argumento cosmológico e incluindo os argumentos do mal e do ocultamento contra a existência de Deus, e perguntando o quanto as premissas de cada argumento acrescentam ou subtraem à força dos argumentos anteriores. Para adiantar algumas de minhas conclusões, defenderei que (nem separadamente, nem em conjunção) nenhum dos argumentos que considero a favor ou contra a existência de Deus são bons argumentos dedutivos. Há, é claro, como indiquei, argumentos dedutivos válidos sobre a existência de Deus, mas eles começam com premissas que estão longe de serem aceitas em geral. Por outro lado, defenderei que a maior parte dos argumentos (tomados separadamente e em conjunto) em favor da existência de Deus são bons argumentos C-indutivos — ou seja, suas premissas tornam mais provável (ou verossímil) que Deus existe do que seria de outro modo. Alguns desses argumentos, é claro, confirmam a existência de Deus muito mais fortemente do que outros. Admitirei que o argumento com base no mal contra a existência de Deus é um bom argumento C-indutivo de força muito limitada. Afirmarei que o argumento do ocultamento em favor da não existência de Deus não é um bom argumento C-indutivo. O problema crucial, contudo, é se todos os argumentos tomados em conjunto tornam provável que Deus existe, se o balanço de todos os indícios relevantes favorece a afirmação do teísmo ou não. Isso porque, certamente, na medida em que a probabilidade de uma hipótese é relevante quanto a se devemos ou não agir em função dela, devemos agir em função de uma hipótese na medida em que esta for mais provável em vista de todos os indícios disponíveis para nós — tudo o que sabemos sobre o mundo, não apenas uma parte limitada de conhecimento. A pessoa religiosa afirma que seu ponto de vista religioso dá sentido à totalidade de sua experiência; e seu rival ateu pode fazer uma afirmação similar. No capítulo final, chegarei a uma conclusão quanto a se o cômputo de todos os indícios relevantes favorece ou não o teísmo. Serei bastante breve ao rejeitar as sugestões de que qualquer dos argumentos separadamente ou todos os argumentos tomados em conjunto constituem um bom argumento dedutivo. Serei bastante breve porque muitos outros filósofos devotaram suas habilidades técnicas a essa tarefa e relativamente poucos deles hoje aceitariam que há bons argumentos dedutivos para se encontrar aqui. Devotarei a maior parte do meu tempo à avaliação da força indutiva desses argumentos. Considerarei de cada argumento se é um bom argumento C- indutivo, mas apenas quando nós tivermos todos os argumentos é que vou perguntar se, tomados em conjunto, eles perfazem um bom argumento P- indutivo. Procedo dessa maneira porque, como ficará manifesto, é muito mais fácil ver quando temos um bom argumento C-indutivo do que quando temos um bom argumento P-indutivo. É útil introduzir neste momento os símbolos da teoria da confirmação que usarei de tempos em tempos nos capítulos seguintes. Represento proposições por letras minúsculas como e, h, p e q. P(p/q) representa a probabilidade de p dado q. Assim, p pode representar a proposição “o próximo lançamento desta moeda vai dar cara” e q pode representar a proposição “505 dos últimos 1000 lançamentos desta moeda deram cara”. Assim P(p/q) representa a probabilidade de que o próximo lançamento da moeda vai dar cara dado que 505 dos últimos 1000 lançamentos deram cara (o valor de P(p/q), então, seria supostamente 0,505). Contudo, a relação entre p e q pode ser de um tipo muito mais complexo, e certamente nós normalmente avaliamos a probabilidade de afirmações em vista de indícios de modo diferente ou adicional ao da análise de frequências relativas. p pode ser alguma hipótese científica — digamos, a Teoria da Relatividade Geral de Einstein — e q pode ser a conjunção de todos os relatos de indícios da observação e experimentos relevantes para a teoria que os cientistas recolheram. Assim, P(p/q) representa a probabilidade indutiva da Teoria Geral de Einstein dados todos os relatos de observações e experimentos relevantes. A probabilidade indutiva deve, assim, ser distinguida da probabilidade estatística, que é uma propriedade de classes de coisas (por exemplo, os habitantes de uma cidade, digamos Tunbridge Wells) e é uma medida da proporção das coisas na classe que tenham alguma outra propriedade (por exemplo, ter votado nos Conservadores nas eleições de 2001). A probabilidadede um habitante de Tunbridge Wells ter votado nos Conservadores em 2001 é simplesmente a proporção dos habitantes de Tunbridge Wells que votaram nos Conservadores em 2001 (em português, o artigo indefinido — por exemplo, “a probabilidade de um habitante…” — em geral indica que a probabilidade é estatística). As classes podem ser de coisas reais (por exemplos, os habitantes de Tunbridge Wells) ou de coisas hipotéticas, coisas que poderiam ser geradas por certo processo (por exemplo, os lançamentos de uma moeda, se se fosse lançá-la por um tempo muito longo). Probabilidade indutiva também deve ser distinguida de probabilidade física. A probabilidade física ou natural de um evento (e também a proporção que a registra) é uma questão da medida em que, num tempo anterior, o evento era predeterminado por suas causas. Um evento cuja ocorrência é inevitável dado o estado precedente do mundo tem uma probabilidade física de 1 — sua ocorrência é fisicamente necessária; e um evento cuja não ocorrência é inevitável dado o estado precedente do mundo tem uma probabilidade física de 0 — sua ocorrência é fisicamente impossível. Um evento tem probabilidade física entre 1 e 0 se não é predeterminado que ele vá ou não acontecer, mas o estado precedente do mundo tende a favorecer seu acontecimento na proporção medida pelo valor da probabilidade: valores maiores de probabilidade indicam uma tendência maior em favor de seu acontecimento.[15] Probabilidades físicas e estatísticas podem por si mesmas constituir indícios que tornam alguma hipótese indutivamente provável; ou outro indício pode tornar provável indutivamente que elas tenham um certo valor. Minha preocupação com probabilidade indutiva é uma preocupação com o quão provável q torna p, independentemente de quem está fazendo o cálculo, quão esperto ele é e do seu grau de confiança na força confirmatória de q. Certamente, na ciência e na história e em todas as investigações empíricas pensamos que há modos corretos de avaliar se e (dentro de limites imperfeitos) o quanto certos indícios sustentam uma hipótese. Estabelecerei esses critérios no capítulo 3. A fim de enfatizar o caráter objetivo do valor de P(p/q) com o qual estou preocupado e de distingui-lo de medidas de apoio confirmatório que medem os graus de confiança dos sujeitos ou são em parte funções das habilidades dos sujeitos de encontrar a medida verdadeira do apoio confirmatório,[16] chamarei no futuro P(p/q) a probabilidade lógica de p dado q. Esta é claramente uma questão a priori. Se q representa todos os indícios relevantes, o valor de P(p/q) não pode depender de indícios posteriores — ela mede o que mostram os indícios que você já tem. É uma questão a posteriori se, em 1000 lançamentos, 505 deram cara; mas é uma questão a priori se esses fatos dão uma probabilidade de 0,505 para que o próximo lançamento dê cara. Uma hipótese sob investigação é geralmente representada por h. Assim P(h/e&k) representa a probabilidade de uma hipótese h dados os indícios (e&k).[17] É frequentemente útil dividir os dados disponíveis a um observador em duas partes — novos dados e dados de fundo; se se faz isso, o primeiro é geralmente representado por e e o último por k. Dados de fundo (ou conhecimento de fundo, como é às vezes chamado) é o conhecimento que tomamos por certo antes que novos dados apareçam. Assim, suponha que detetives estejam investigando um assassinato. h poderia representar a hipótese de que Jones cometeu o assassinato; e poderia representar a proposição que relata todos os dados novos que os detetives descobrem — por exemplo, que as impressões digitais de Jones foram encontradas na arma, que ele estava perto da cena do assassinato na hora em que esse foi cometido, etc., etc. k poderia representar a proposição que relata o conhecimento geral dos detetives acerca de como o mundo funciona — por exemplo, que cada pessoa tem um único conjunto de impressões digitais, que as pessoas que tocam metal e madeira com suas mãos nuas usualmente deixam suas impressões digitais neles, etc., etc. Assim, P(h/e&k) representa a probabilidade de que Jones cometeu o assassinato, considerando-se todos os dados dos detetives. Para toda proposição p e q P(p/q)=1 se (e somente se) q torna p certa — por exemplo, se q acarreta p (ou seja, há um argumento dedutivamente válido de q para p); e P(p/q)=0 se (e somente se) q torna ~p certa — por exemplo, se p acarreta ~p.[18] P(p/q)+P(~p/q)=1. Assim, se P(p/q)>1/2, então P(p/q)>P(~p/q) e é mais provável p do que ~p, considerando-se q. Assim, (para um conhecimento de fundo k), um argumento de e para h será um argumento C-indutivo correto se (e somente se) P(h/e&k)>P(h/k) e um argumento P-indutivo correto se (e somente se) P(h/e&k)>1/2. A divisão entre dados novos e dados de fundo pode ser feita onde quer que você queira — frequentemente é conveniente incluir todos os dados derivados da experiência em e e tomar k como sendo o que é chamado em teoria da confirmação meros “dados tautológicos”, ou seja, efetivamente, todos os nossos outros conhecimentos que são irrelevantes. Minha estratégia será como se segue. Considere h como nossa hipótese — “Deus existe”. Considere e1, e2, e3 e assim por diante, as várias proposições que se propõem como indícios a favor ou contra a sua existência, cuja conjunção constitui e. Considere e1 como “existe um universo físico”. Então, temos o argumento de e1 para h, um argumento cosmológico. Ao considerar este argumento, assumirei que não temos outro indício relevante e assim, k será mero indício tautológico. Assim, P(h/e1&k) representa a probabilidade de que Deus existe dado que existe um universo físico e dados também meros indícios tautológicos, que poderão mais tarde ser ignorados. Se P(h/e1&k)>1/2, então o argumento de e1 para h será um bom argumento P-indutivo. Se P(h/e1&k)>P(h/k), então o argumento é um bom argumento C-indutivo. Mas, quando considerar o segundo argumento, a partir de e2 (que será a conformidade do universo à ordem temporal), usarei k para representar a premissa do primeiro argumento e1; e assim P(h/e2&k) representará a probabilidade de que Deus exista dado que existe um universo físico e que este está sujeito a ordem temporal. E, quando considerar o terceiro argumento, a partir de e3, k representará a premissa do segundo argumento (e1 & e2) e assim por diante. Deste modo, todo indício relevante será no fim das contas incluído em nossa avaliação. Considerarei onze argumentos. Vou afirmar que para a maior parte desses en, onde n= 1, …11, P(h/en&k)>P(h/k) — quer dizer, o argumento é um bom argumento C-indutivo em favor da existência de Deus, que dois dos argumentos (um a favor e outro contra) não têm força (P(h/en&k)=P(h/k) nesses casos) e que um argumento contra tem força (P(h/en&k)<P(h/k)), onde en é a ocorrência do mal. O problema crucial ao qual nós chegaremos no fim é se P(h/e11&k)>1/2. Ao usar os símbolos da teoria da confirmação, não assumo que uma expressão da forma P(p/q) tenha sempre um valor numérico exato. Ela pode simplesmente ter relações de maior ou menor valor em relação a outras probabilidades, incluindo algumas com valor numérico, sem que ela mesma tenha um valor numérico. P(h/e1&k), por exemplo, pode ser maior que P(h/e2&k) e menor que que P(h/k) e menor que ½ sem que haja algum número ao qual equivalha. Claramente, por exemplo, podemos julgar uma teoria científica como mais provável do que uma outra com base nos mesmos dados e ao mesmo tempo negar que sua probabilidade tenha um valor numérico exato; ou podemos julgar que uma predição seja mais provável que não e assim ter uma probabilidade maior que ½, enquanto negamos, novamente, que aquela probabilidade tenha um valor numérico exato. Algumas vezes se diz que os diferentes argumentos em favor da existência de Deus mostram coisas diferentes. O argumento cosmológico mostra no máximo a existência de algum tipo de ser necessário; o argumento do desígnio mostra no máximo, algum tipo de superarquiteto[19]; o argumento dos milagres mostra no máximo
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