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Lingua-Portuguesa-I

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Prévia do material em texto

Língua Portuguesa I
Vanessa Ponte de Freitas
Jouberto Uchôa de Mendonça
Reitor
Amélia Maria Cerqueira Uchôa
Vice-Reitora
Jouberto Uchôa de Mendonça Junior
Pró-Reitoria Administrativa - PROAD
Ihanmarck Damasceno dos Santos
Pró-Reitoria Acadêmica - PROAC
Domingos Sávio Alcântara Machado
Pró-Reitoria Adjunta de Graduação - PAGR
Temisson José dos Santos
Pró-Reitoria Adjunta de Pós-Graduação
e Pesquisa - PAPGP
Gilton Kennedy Sousa Fraga
Pró-Reitoria Adjunta de Assuntos 
Comunitários e Extensão - PAACE
Jane Luci Ornelas Freire
Gerente do Núcleo de Educação a Distância - Nead
Andrea Karla Ferreira Nunes
Coordenadora Pedagógica de Projetos - Nead
Lucas Cerqueira do Vale
Coordenador de Tecnologias Educacionais - Nead
Equipe de Elaboração e Produção de Conteú-
dos Midiáticos: 
Alexandre Meneses Chagas - Supervisor 
Ancéjo Santana Resende - Corretor
Claudivan da Silva Santana - Diagramador
Edivan Santos Guimarães - Diagramador
Fábio de Rezende Cardoso - Webdesigner
Geová da Silva Borges Junior - Ilustrador
Márcia Maria da Silva Santos - Corretora
Matheus Oliveira dos Santos - Ilustrador
Monique Lara Farias Alves - Webdesigner
Pedro Antonio Dantas P. Nou - Webdesigner
Rebecca Wanderley N. Agra Silva - Designer
Rodrigo Sangiovanni Lima - Assessor
Walmir Oliveira Santos Júnior - Ilustrador
Redação:
Núcleo de Educação a Distância - Nead
Av. Murilo Dantas, 300 - Farolândia
Prédio da Reitoria - Sala 40
CEP: 49.032-490 - Aracaju / SE
Tel.: (79) 3218-2186
E-mail: infonead@unit.br
Site: www.ead.unit.br
Impressão:
Gráfica Gutemberg
Telefone: (79) 3218-2154
E-mail: grafica@unit.br
Site: www.unit.br
Copyright © Universidade Tiradentes
F866l Freitas, Vanessa Ponte de 
 Língua portuguesa I / Vanessa Ponte 
 de Freitas. – Aracaju :
 Gráf. UNIT, 2010.
 160 p.: il. 
 
Inclui bibliografia
1. Língua portuguesa I I. Titulo Univer-
sidade Tiradentes (UNIT) Núcleo de Educação à 
Distância - NEAD 
 
CDU : 811.134.3
Prezado(a) estudante,
 
A modernidade anda cada vez mais atrelada ao tempo, e a 
educação não pode ficar para trás. Prova disso são as nossas disci-
plinas on-line, que possibilitam a você estudar com o maior conforto 
e comodidade possível, sem perder a qualidade do conteúdo.
 
Por meio do nosso programa de disciplinas on-line você pode 
ter acesso ao conhecimento de forma rápida, prática e eficiente, 
como deve ser a sua forma de comunicação e interação com o 
mundo na modernidade. Fóruns on-line, chats, podcasts, livespace, 
vídeos, MSN, tudo é válido para o seu aprendizado.
 
Mesmo com tantas opções, a Universidade 
Tiradentes optou por criar a coleção de livros Série 
Bibliográfica Unit como mais uma opção de acesso ao 
conhecimento. Escrita por nossos professores, a obra 
contém todo o conteúdo da disciplina que você está 
cursando na modalidade EAD e representa, 
sobretudo, a nossa preocupação em garantir 
o seu acesso ao conhecimento, onde quer que 
você esteja.
 
Desejo a você bom 
aprendizado e muito sucesso!
Professor Jouberto Uchôa de Mendonça
Reitor da Universidade Tiradentes
Apresentação
Série 
so ao 
obra 
está 
Sumário
Parte 1: Língua Portuguesa: Unidade versus diversidade ..11
Tema 1: Variedades linguísticas do português ....................13
1.1 O mito da unidade linguística...................................13
1.2 Conceitos básicos .....................................................22
1.3 Mudança e Variação..................................................31
1.4 Noções de sociolinguística aplicadas ao estudo do 
português do Brasil.........................................................40
Resumo ............................................................................... 47
Tema 2: Norma padrão ...........................................................49
2.1 A Gramática Tradicional ...........................................49
2.2 Normas linguísticas ..................................................57
2.3 A construção da noção de “erro” ............................65
2.4 Por que ensinar gramática? ......................................74
Resumo ............................................................................... 80
Parte 2: O estudo científico da língua portuguesa ..............83
Tema 3: O estudo descritivo da língua portuguesa .............85
3.1 O estudo descritivo ...................................................85
3.2 As modalidades oral e escrita ..................................94
3.3 O estudo das normas populares ............................101
3.4 O estudo das normas cultas ...................................109
Resumo ............................................................................. 116
Tema 4: Estruturas básicas do português do Brasil ..........117
4.1 Níveis de análise linguística ............................................117
4.2 Os termos da oração .......................................................126
4.3 Características fonético-fonológicas 
do português do Brasil .................................................134
4.4 Características morfossintáticas 
do português do Brasil .................................................141
Resumo ............................................................................. 149
Referências ............................................................................151
Concepção da Disciplina
Ementa
Variedades linguísticas do português: O mito da unidade 
linguística; Mudança e variação; Noções de sociolinguística apli-
cadas ao estudo do português do Brasil. Norma padrão: A gra-
mática tradicional; Normas linguísticas; A construção da noção 
de “erro’; Por que ensinar gramática? Estudo descritivo da língua 
portuguesa: O Estudo descritivo; As modalidades oral e escrita; 
O estudo das normas populares; O estudo das normas cultas; 
Estruturas básicas do português: Níveis de análise linguística; 
Os termos da oração; Características fonético-fonológicas do 
PB; Características morfossintáticas do PB.
Objetivos
Geral 
Estudar a língua portuguesa sob a perspectiva da diversi-
dade linguística.
Específicos
• Identificar variedades linguísticas do português;
• Distinguir modalidades oral e escrita e suas característi-
cas;
• Apresentar noções de língua, linguagem, dialeto, etc.;
• Proporcionar ao aluno senso crítico e conhecimento dos 
fatores sociais que influenciam a variação linguística no portu-
guês do Brasil.
Orientação para Estudo
A disciplina propõe orientá-lo em seus procedimentos de 
estudo e na produção de trabalhos científicos, possibilitando que 
você desenvolva em seus trabalhos pesquisas, o rigor metodo-
lógico e o espírito crítico necessários ao estudo.
Tendo em vista que a experiência de estudar a distância é 
algo novo, é importante que você observe algumas orientações:
• Cuide do seu tempo de estudo! Defina um horário regular 
para acessar todo o conteúdo da sua disciplina disponível neste 
material impresso e no Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA). 
Organize-se de tal forma para que você possa dedicar tempo 
suficiente para leitura e reflexão;
• Esforce-se para alcançar os objetivos propostos na disci-
plina;
• Utilize-se dos recursos técnicos e humanos que estão ao 
seu dispor para buscar esclarecimentos e para aprofundar as suas 
reflexões. Estamos nos referindo ao contato permanente com o 
professor e com os colegas a partir dos fóruns, chats e encontros 
presencias. Além dos recursos disponíveis no Ambiente Virtual 
de Aprendizagem – AVA.
Para que sua trajetória no curso ocorra de forma tranquila, 
você deve realizar as atividades propostas e estar sempre em 
contato com o professor, além de acessar o AVA.
Para se estudar num curso a distância deve-se ter a clareza 
que a área da Educação a Distância pauta-se na autonomia, res-
ponsabilidade, cooperação e colaboração por parte dos envolvidos, 
o que requer uma nova postura do aluno e uma nova forma de 
concepção de educação.
Por isso, você contará com o apoio das equipes pedagógicae técnica envolvidas na operacionalização do curso, além dos re-
cursos tecnológicos que contribuirão na mediação entre você e o 
professor.
Parte I
LÍNGUA PORTUGUESA: 
UNIDADE VERSUS 
DIVERSIDADE
1 Variedades linguísticas do português
As diferenças entre os muitos falares que encontramos no 
Brasil são facilmente percebidas. Para isso, não é preciso fazer 
algum estudo mais aprofundado. Mas o que devemos pensar da 
variação linguística?
Nesse tema, apresentaremos a você diversos conceitos 
relacionados ao estudo da variação linguística. Além disso, você 
estudará a relação entre os estudos da linguística moderna e o 
trabalho do professor em sala de aula. 
Bom estudo!
1.1 O MITO DA UNIDADE LINGUÍSTICA
Nesse tópico, após sabermos a situação atual da língua 
portuguesa no mundo, iremos investigar as línguas faladas no 
Brasil. Dessa forma poderemos, fugindo do senso comum, nos 
posicionar quanto ao mito da unidade linguística do Brasil. 
14 Língua Portuguesa I
Situação atual da língua portuguesa no mundo
 Depois do processo de expansão marinha, a língua portu-
guesa passou a ser falada nos cinco continentes. Hoje é uma das 
sete línguas mais faladas do mundo e tem cerca de 200 milhões 
de falantes. 
Além de ser falado em Portugal e no Brasil, o português é 
língua nacional e língua oficial desses dois países. Em Portugal, é 
língua oficial desde 1290; no Brasil, desde 1757/1758.
O português é falado também em cinco países africanos, 
onde é língua oficial: Angola, Moçambique, Cabo-Verde, São 
Tomé e Príncipe e Guiné-Bissau. O mesmo acontece em Macau 
– uma região administrativa da China, na Ásia – e no Timor-Leste, 
país da Oceania. Nesses locais o status da língua portuguesa é o 
mais variado: o português é língua oficial em alguns e compõe, 
juntamente com outras línguas nacionais, situação de bilinguis-
mo. Esses aspectos da difusão do português serão estudados 
mais à frente, nas disciplinas que dão continuidade a esse curso.
As línguas faladas no Brasil
Desde pequenos, ouvimos falar da unidade da língua 
portuguesa. Ouvimos falar também que, mesmo com a vasta 
extensão territorial do Brasil, o português se propagou a partir da 
época do descobrimento e se manteve em nosso país até hoje, 
Preste atenção a essa distinção:
Língua Nacional – língua que serve de instrumento de comu-
nicação de uma nação ou de uma parte dela. 
Língua Oficial – língua utilizada em comunicações oficiais de 
um país. 
Tema I | Variedades linguísticas do português 15
não é? Mas será que os resultados dos estudos científicos sobre 
a língua portuguesa também apontam para essa direção? Será 
que o Brasil é ou já foi um país monolíngue? É o que veremos a 
seguir. 
Apesar de aprendermos ao longo da educação básica que 
no Brasil só se fala português, hoje, os estudos linguísticos nos 
permitem dizer que essa afirmação não condiz com a realidade 
do país. Aqui, atualmente, são faladas mais de 200 línguas: são 
além das línguas estrangeiras, como o japonês, chinês e árabe, 
também diversas línguas indígenas – mesmo após a drástica 
redução da população indígena do país. 
As línguas indígenas têm estatuto de línguas nacionais 
desde a Constituição de 1988. Nosso país hoje é oficialmente um 
país multilíngue, pois aqui existem e são reconhecidas diversas 
línguas, distribuídas no país de forma localizada, ou seja, o multi-
linguismo do Brasil é encontrado somente em locais específicos. 
Durante os séculos XVI e XVI, os portugueses que aqui chegavam 
passavam a viver com índias e os seus filhos falavam a língua das 
mães. Por muito tempo o idioma dos paulistas de São Vicente, 
vila fundada em 1532, foi o 
mesmo idioma dos índios 
da região: os tupis. Do 
século XVII até meados 
do século XVIII a língua da 
população paulista era a 
língua geral, e não o por-
tuguês. O mesmo se deu no Maranhão e no Pará, onde a língua 
falada era a dos tupinambás (RODRIGUES, 1996).
Quando falamos em população indígena hoje, imaginamos 
que todas elas já adotaram a língua portuguesa e esqueceram 
seus antigos falares, mas não é bem assim. As línguas indígenas 
são em torno de 180 no território brasileiro, distribuídas por 221 
povos que juntos somam cerca de 160 mil índios, segundo da-
Língua geral é um termo utilizado para 
designar línguas que surgiram em situações 
específicas de contato entre povos indíge-
nas e portugueses entre os séculos XVI e 
XVII. 
16 Língua Portuguesa I
dos de Ayron Dall’Igna Rodrigues, coordenador do Laboratório 
de Línguas Indígenas da UnB.
É certo que em muitas comunidades indígenas, princi-
palmente os jovens, já falam mais o português do que as suas 
línguas originais. Mas, atualmente, escolas indígenas começam a 
se organizar em muitos lugares; nelas os povos indígenas apren-
dem as línguas portuguesa e indígena e reafirmam suas culturas. 
Podemos ver na tabela a seguir exemplos do que acabamos de 
dizer. No estado do Tocantins, os grupos indígenas que manti-
veram contato com a língua portuguesa rapidamente alteraram 
suas situações linguísticas. 
Os dados realizados pelas pesquisas do IBGE entre os 
anos de 1991 e 2000 indicam um aumento do número de 
índios, que chegou a 734 mil. Esses resultados são diferentes 
dos dados tratados nas pesquisas acadêmicas, pois os pes-
quisadores lidam com falantes de línguas indígenas. 
O crescimento repentino e inesperado da população 
indígena é justificado pelo próprio IBGE: pode ter se dado 
pela imigração internacional e pelo aumento do número de 
indígenas em zona urbana que antes não se declaravam in-
dígenas e passaram a se declarar depois do censo de 2000. 
Confira os resultados da pesquisa do IBGE no site: 
http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/noti-
cia_impressao.php?id_noticia=506
Tema I | Variedades linguísticas do português 17
Tabela 1 – Situação linguística de povos indígenas do To-
cantins
POVO INÍCIO DO CONTATO SITUAÇÃO LINGUÍSTICA
AMANAYÊ
(apenas 4 famílias)
Século XVIII
- Não se sabe se ainda falam 
a língua materna.
- Falam português.
TEMBÉ-TURUWAYA
(apenas 30 pessoas)
Século XVIII
- Apenas os homens mais 
velhos sabem a língua 
materna.
- Falam português.
ANAMBÉ Meados do século XIX
- Homens de mais de 40 
anos sabem a língua mater-
na, de 20 a 30 anos ainda 
entendem.
- Falam português.
ASSURINI Início do século XX
- Homens de 30 a 40 anos 
ainda falam a língua mater-
na, muitos jovens e crianças 
só falam português.
SURUÍ Década de 1920
- Todos falam sua língua.
- 80% dos homens, 60% 
das mulheres, todos os 
adolescentes e crianças 
falam português.
PARAKANÃ 1971
Fundamentalmente mono-
língues.
- Jovens do sexo masculino 
já falam português. 
Fonte: MATTOS E SILVA, Rosa Virgínia. O português são dois. São Paulo: 
Parábola, 2004, p. 56.
18 Língua Portuguesa I
Já vimos que em 1988 um grande passo foi dado em 
direção ao reconhecimento das línguas faladas no Brasil, mas 
veremos que as línguas de comunidades imigrantes não fo-
ram consideradas perante a educação formal. Nas colônias de 
imigrantes, escolas mantidas pelo município ou pelo estado, a 
língua dos alunos, ou seja, a língua estrangeira, não é ensinada, 
o que representa um problema para esses grupos; mas não foi 
sempre assim. 
Os imigrantes começaram a se estabelecer aqui a partir do 
início do século XIX, e principalmente no sul do país formavam 
núcleos que favoreciam a sua manutenção. Dessa maneira, cada 
colônia podia manter sua religião, sua organização social e tam-
bém o ensino da sua cultura, pois em cada colônia era estabeleci-
da uma escola que ensinava a língua utilizada no país de origem 
dos imigrantes. Com o passar do tempo, o governo proibiu o uso 
de línguas estrangeiras em sala de aula e, no final da década de 
1930, o Estado ordenou que as disciplinas de história e geografia 
do Brasil fossem dadas em todas as escolas. Em todas as áreas 
de colonização estrangeira os governos dos estados deveriam 
manter escolas nacionais, assim, as chamadas escolas-étnicasforam fechadas (KREUTZ, 2000). 
Essa pequena análise da situação de algumas línguas fala-
das no Brasil já abre caminhos para nos desvencilharmos do mito 
da unidade linguística do nosso país. No decorrer dos nossos 
estudos, voltaremos a esse assunto, aprofundando mais nossa 
visão. Vamos ver agora a situação da língua majoritariamente 
falada no Brasil: a língua portuguesa. 
Contrastes na língua portuguesa do Brasil
Acabamos de ver que, ao contrário do que pensava a 
maioria de nós, no Brasil não se fala só português. Já aceitamos 
que são faladas mais de 200 línguas no nosso país, entre línguas 
Tema I | Variedades linguísticas do português 19
indígenas e estrangeiras. Mas será que, quando falamos somente 
de língua portuguesa, é possível manter o conceito de unidade 
linguística?
Uma das coisas que iremos aprender nesse curso e que 
deveremos levar por toda a nossa história como professores e 
estudiosos daqui pra frente é que todas as línguas mudam e que 
em todas encontraremos 
muitas formas para se dizer 
a mesma coisa. Isso mes-
mo! Todas as línguas são 
heterogêneas, dessa forma 
podemos falar somente de unidade em meio à heterogeneidade. 
Todos nós falamos português, mas cada um leva em seu falar 
características próprias de sua comunidade, de sua idade e de 
vários outros aspectos. Diversos estudos apontam para a grande 
diversidade de normas no português. Mais adiante, faremos um 
estudo mais detalhado dessas questões. 
Por enquanto, devemos observar o seguinte: no Brasil, 
as diferenças entre os falares são mais sensíveis quando ob-
servamos as divisões socioculturais da sociedade. É mais fácil 
perceber como são diferentes os falares de uma pessoa esco-
larizada e de uma não escolarizada que moram no mesmo local 
do que perceber diferenças na fala de duas pessoas com mesmo 
grau de escolaridade e que moram em regiões distintas do país. 
Apesar disso, a escolarização não é o único fator a influenciar a 
língua, outros aspectos sociais como a localidade do falante e a 
sua idade, por exemplo, são de extrema relevância para o estudo 
de várias línguas. 
Lembre-se sempre disso, pois opiniões baseadas nas im-
pressões e no senso comum só atrapalham o estudo científico 
da língua portuguesa.
Heterogêneo é o que é composto de dife-
rentes elementos.
20 Língua Portuguesa I
Texto complementar
O Português do Brasil, Língua Nacional
O estatuto de língua nacional coloca o português do Brasil, quan-
to ao status sociopolítico, no mesmo nível que o português de Portugal, 
com a diferença fundamental de que o de Portugal é falado por mais de 
dez milhões de indivíduos e o do Brasil por mais de cem milhões.
Como o de Portugal, o português brasileiro se mantém numa 
área estável. Pode-se dizer que, em geral, as fronteiras linguísticas 
brasileiras coincidem com as políticas, se quiser apagar da lembrança 
alguns pontos da fronteira sul, na qual avança o espanhol e o guarani, 
e pontos da fronteira amazônica em que 
diversas línguas indígenas se acantonam, 
refugiando-se de glotocídios iminentes.
Diferentemente do português de Portugal, convive com múltiplas 
minorias linguísticas que se concentram, principalmente, nos grandes 
centros urbanos, na região sul do país, áreas de imigração e nas áreas 
de populações indígenas remanescentes que mantêm as suas línguas.
O destino do português no Brasil se definiu nos meados do 
século XVIII, quando o Marquês de Pombal, por lei de 3 de maio de 
1757, primeiro aplicada ao Pará e Maranhão e que depois se estende a 
todo o Brasil (CUNHA, 1981-92), dá início a uma nova política linguís-
tica e cultural na colônia americana, ao criar a primeira rede leiga de 
ensino, expulsos os jesuítas, ao estabelecer um ordenamento jurídico 
e administrativo em que a língua portuguesa passa a ser obrigatória, 
proscrevendo-se o uso de quaisquer outras línguas (HOUAISS, 1985-
85). Esse fato histórico marcou definitivamente o fim de um processo 
que poderia ter definido outro destino linguístico para o Brasil.
Pode-se admitir, pelos dados da história brasileira, que durante 
os dois primeiros séculos de colonização, a língua do colonizador não 
se impôs como majoritária na terra que aos poucos efetivamente do-
minava.
Morte de uma língua.
Tema I | Variedades linguísticas do português 21
Um rápido diagnóstico demográfico, baseado na síntese recente de 
Antônio Houaiss, O português no Brasil (1985), é um argumento que sustenta 
a afirmativa anterior: no século XVI, na extensão ocupada do litoral brasileiro, 
viviam cerca de trinta mil brancos e mestiços integrados, um ou dois milhões 
de indígenas (em rápido processo de decréscimo populacional) e cerca de 
trinta mil negros (desde a África, já na viagem, desarticulados de seus grupos 
de origem, como se sabe, e por isso sem condições de manter efetivamente 
vivas as suas línguas de origem); já no século seguinte, a penetração interiora-
na avançava, a população branca e mestiça integrada subia para duzentos mil, 
a indígena ainda era significativa - um milhão e meio de habitantes - e a negra 
crescia para quatrocentos mil (HOUAISS, 1985, p. 44).
O instrumento de intercomunicação verbal principal nesse perío-
do histórico – pode-se deduzir teoricamente e dados empíricos da his-
tória, embora rarefeitos, o confirmam – não seria a língua portuguesa, 
nem nenhuma das línguas africanas que aqui chegaram, pelo que antes 
se disse, mas sim uma língua geral de base indígena, com predomínio 
certamente da língua geral da costa, certamente marcada pela versão 
dos jesuítas missionários.
Sabe-se que não é o português a língua das reduções e missões 
jesuíticas, sabe-se que nas fazendas e no ambiente rural em geral (e o 
que seria urbano, então, no Brasil?), na casa dos senhores e dos outros 
era uma língua, não a portuguesa transplantada, mas com interferên-
cias certamente dela, que se constituía. De base indígena e com marcas 
africanas era aceita, entretanto, pelo poder leigo e da igreja, esta que foi 
a legitimadora da língua geral para a catequese e domínio dos indígenas 
nos primeiros tempos coloniais.
Confluindo no século XVIII, entre outros, fatores demográficos 
significativos tais como o avanço da população branca e mestiça inte-
grada (cerca de quinhentos mil) e alcançando um milhão a população 
escrava negra, associados à nova política colonial pombalina, se definiu 
por aquele século o português como língua dominante.
Daí por diante, a escolarização em português, o processo de 
urbanização crescente, a vinda da corte para o Brasil no início do século 
22 Língua Portuguesa I
XIX, entre outros fatores, definiram a língua portuguesa como língua 
nacional e oficial. É óbvio que com suas marcas próprias, devidas não 
só a um processo natural de mudança intrínseca a qualquer língua, 
mas diferentemente marcada do processo de mudança do português 
europeu, não só pelas interferências das línguas indígenas como das 
línguas africanas que aqui se encontraram com o português.
Fonte: MATTOS e SILVA, Rosa Virgínia. Diversidade e unidade: a 
aventura linguística do português. Lisboa: Internet Instituto Camões de 
Portugal, 2002, v. 1, p. 1-29.
Para refletir
O que você ouve falar da língua portuguesa do Brasil? Você 
já escutou comparações entre o português falado aqui e o falado 
em Portugal? Analise o que você sabia até então e compare com o 
que você acabou de aprender e coloque suas impressões no AVA, 
lembrando de verificar as reflexões de seus colegas. 
1.2 CONCEITOS BÁSICOS
Para trabalharmos com a língua, precisamos primeiramente 
aprofundar nossa visão com relação a alguns termos que vão nos 
acompanhar de agora em diante. São eles: linguagem, língua, 
sistema, norma, fala, dialeto e gramática. 
É importante, a partir de então, fazemos a distinção entre 
línguas naturais e não-naturais, pois as línguas naturais são 
alvo dos estudos linguísticos. Línguas naturais são aquelas que 
passaram pelos processos de aprendizagemcomuns a todos os 
Tema I | Variedades linguísticas do português 23
seres humanos no período de aquisição da língua. O português, 
o inglês, o italiano são línguas naturais, pois são adquiridas pelas 
crianças naturalmente. 
Você já ouviu falar, por exemplo, do Esperanto? O Esperanto 
não é uma língua natural, pois foi criado para comunicação entre 
pessoas falantes de diferentes línguas. É como uma língua para 
situações especiais, aprendida em sua maior parte por adultos. 
Ela não passa pelos processos de aquisição por crianças, isto é, 
ela não tem falantes naturais, logo, não é uma língua natural.
Linguagem e língua
Toda ciência tem um objeto de estudo e precisa defini-lo. 
No decorrer da história dos estudos linguísticos, muitas foram as 
propostas de definição para os conceitos de linguagem e língua. 
Linguagem é como as muitas formas de comunicação que 
se realizam por meio de símbolos. Os símbolos e o valor deles 
é algo convencionado pela sociedade. A linguagem verbal, a 
linguagem gestual, as placas e os sinais de trânsito são exemplos 
de linguagens.
A língua dos sinais é outro exemplo – é uma linguagem 
gestual. E cada um dos gestos que são utilizados na língua de 
sinais é convencionado, ou seja, faz parte de um acordo entre os 
membros que utilizam a língua dos sinais. 
Esse acordo não é realizado entre as pessoas como faze-
mos acordos em reuniões; ele se faz pelo uso e pela aceitação 
de cada um dos itens utilizados na comunicação. O tempo todo 
estamos cercados de acordos desse tipo dentro da sociedade. 
Imagine se nós não aceitássemos as palavras que já são utiliza-
das na nossa língua, se quiséssemos, um dia, usar outras pala-
vras para designar as coisas que já têm nome. O que você acha 
que aconteceria? A compreensão do que dizemos seria muito 
dificultada, não é?
24 Língua Portuguesa I
Então, se linguagem é uma forma de comunicação, o que é 
a língua? Língua é uma forma de linguagem, mais precisamente, 
a linguagem verbal. 
Nós, seres humanos, aprendemos naturalmente a língua 
sem interferências normativas, somente com o convívio. Isso 
significa dizer que, para que uma criança em fase de aprendi-
zado da língua aprenda a falar, não é necessário que seus pais 
apresentem para ela todos os termos que ela utilizará e quais 
suas funções, como fazemos quando ensinamos nossa língua a 
um estrangeiro, por exemplo. A criança aprende naturalmente 
porque está “programada” para aprender. Qualquer ser humano, 
em fase de aprendizagem, pode aprender qualquer língua, assim, 
nesse período especial em que a criança adquire a língua, não 
há línguas mais difíceis ou mais complexas que outras. Todas 
podem ser aprendidas da mesma forma. 
Ferdinand Saussure (1857-
1913), conhecido como “o 
pai da linguística moder-
na”, tratou a distinção entre 
língua e fala (no francês, 
langue e parole). A língua 
seria um produto da socie-
dade que não poderia ser 
modificada pelo falante, 
é um fenômeno coletivo 
e externo ao indivíduo. A 
fala seria o ato individual 
que se realiza quando uti-
lizamos as possibilidades presentes na língua. 
Além disso, para Saussure, o verdadeiro objeto de estudo 
da linguística seria a língua, que deveria ser explicada por ela 
própria. O linguista deve investigar a relação entre os componen-
tes do discurso e o valor dessas relações, em outras palavras, a 
Ferdinand Saussure 
(1857-1913). Após sua 
morte, seus alunos 
reuniram anotações 
feitas durante as aulas 
ministradas por Saus-
sure e publicaram, 
em 1915, a obra Curso de Linguística Geral, 
leitura fundamental para os estudantes de 
linguística, pois é o marco inicial da linguís-
tica moderna.
Tema I | Variedades linguísticas do português 25
língua em sua estrutura, por 
isso essa teoria de análise 
linguística se chama estrutu-
ralismo. 
Noam Chomsky, em 
meados do século XX, nos 
apresenta dois novos con-
ceitos linguísticos: compe-
tência e desempenho. 
A competência lin-
guística é o conhecimento 
que o falante tem das regras 
da língua, ou seja, é o que 
permite construir sentenças. 
É uma capacidade interna a todo ser humano. O desempenho é o 
comportamento linguístico, é um produto da competência e tam-
bém de vários outros fatores tanto sociais como psicológicos. 
Para Chomsky, a linguagem é uma capacidade do ser hu-
mano, toda criança recebe essa capacidade de adquirir uma lín-
gua por meio da genética. Como essa é uma capacidade própria 
do ser humano, todos conheceriam as propriedades da língua. 
Essas propriedades são chamadas de universais da linguagem. 
Essa corrente linguística, chamada gerativismo, busca 
identificar as propriedades comuns a todas as línguas humanas 
para conseguir uma teoria que possa explicar a todas. Então, o 
papel do linguista, para o gerativismo, é determinar o que pode 
ou não pode ser dito em uma língua natural. 
Noam Chomsky, nas-
ceu na Filadélfia em 
1928, é professor de 
linguística e filosofia 
no Massachusetts 
Institute of Technology 
(MIT) e é também ati-
vista político. Em 1957 
publicou "Estruturas Sintáticas", livro no qual 
apresenta o modelo da gramática gerativa. 
Suas pesquisas revolucionaram os estudos 
da linguagem.
26 Língua Portuguesa I
Sistema, norma e fala
Alguns anos mais tarde, 
Eugênio Coseriu1 (1987) 
reformula a distinção feita 
por Saussure entre língua 
e fala e propõe uma tría-
de2: sistema, norma e fala. 
O sistema é o conhecimen-
to que o falante tem da sua 
língua, que está na mente 
de um só falante ou mes-
mo de todos os falantes 
de uma comunidade que 
falam a mesma língua. É 
onde encontramos todas 
as possibilidades da fala e é comum a todos.
Norma é um fato de um grupo social, são hábitos linguís-
ticos. Em cada norma linguística há características que podem 
distinguir os seus falantes dentro da comunidade. Observe este 
exemplo: No Brasil falamos o português e todos nós temos 
conhecimento do sistema da nossa língua, ou seja, das possibili-
dades de estruturar ideias dentro do português. Mas cada grupo 
social escolhe determinadas estruturas e esse fato caracteriza a 
norma linguística daquele grupo. 
Fala é a maneira como o falante realiza o seu conhecimento 
linguístico, o sistema. A fala, para Coseriu, assim como na visão 
de Saussure, está na ordem individual. 
A fala é a única manifestação da linguagem que podemos 
observar, os outros conceitos – sistema e norma – se baseiam na 
observação da fala. 
1 Eugenio Coseriu 
(1921-2002), linguista 
romeno especiali-
zado em filologia 
românica, ciência 
que hoje é associada 
principalmente ao 
estudo material e crítico dos textos. Dentre 
suas principais obras estão Teoria da lingua-
gem e linguística geral e Sincronia, diacronia 
e história, ambas publicadas em 1973. 
2 Um conjunto de três coisas ou pessoas. 
Tema I | Variedades linguísticas do português 27
Uma das formas de observarmos as possibilidades da fala é 
por meio dos testes de gramaticalidade. Voltaremos a falar deles 
logo adiante, após discutirmos o conceito de gramática. 
Dialeto
Dentro de cada norma linguística (também chamada de 
variante linguística) registramos variedades da língua conhecidas 
como dialetos. O dialeto não deve ser visto como uma variedade 
de língua menos importante ou inferior, e esse termo não deve 
ser utilizado com caráter pejorativo. 
Para Eugênio Coseriu (1981), uma língua histórica é “uma 
família histórica de modos de falar afins e interdependentes, e 
os dialetos são membros dessa família ou constituem famílias 
menores dentro de uma família maior.”
Então, no âmbito da linguística, dialeto significa variante 
de uma língua histórica. A variedade padrão – aquela escolhida 
como o “bom falar” e mais prestigiada na sociedade – teve sua 
escolha baseada em motivos socioculturais e políticos.
Gramática
A palavra gramática deve ser interpretada primeiramente 
em seu aspecto linguístico: ela é um conjunto de regras progra-
madas em nosso cérebro. São elas que irão estruturar a línguae 
fazê-la funcionar. E todos os falantes têm o mesmo acesso a ela, 
ou seja, todos nós somos bons conhecedores da nossa língua e 
temos a mesma capacidade de trabalhar com ela – para sermos 
entendidos e entender o que os outros querem dizer. 
O livro se chama gramática porque, de uma forma ou de 
outra, contém algumas dessas regras, mas as que são mostradas 
lá são para o funcionamento de uma variante da língua: a norma 
padrão (que será alvo dos nossos estudos no próximo tema).
28 Língua Portuguesa I
Texto complementar
Existe linguagem animal? 
Um estudo clássico sobre o sistema de comunicação usado 
pelas abelhas, publicado em 1959 por Karl Von Frisch, revela que a 
abelha-obreira, ao encontrar uma fonte de alimento, regressa à colmeia 
e transmite a informação às companheiras por meio de dois tipos de 
dança: circular, traçando círculos horizontais da direita para esquerda e 
vice-versa, ou em forma de oito, em que a abelha contrai o abdome, 
segue em linha reta, depois faz uma volta completa à esquerda, de novo 
corre em linha reta e faz um giro para direita, e assim sucessivamente. 
Se o alimento está próximo, a menos de cem metros, a abelha executa 
uma dança circular; se está distante, realiza uma dança em forma de oito. 
A mensagem transmitida pela dança em forma de oito é muito precisa, 
porque indica a distancia em metros: para uma distancia de cem metros, 
a abelha percorre nove ou dez vezes em quinze segundos a linha reta que 
faz parte da dança. Quanto maior a distancia, menos giros faz a abelha 
(para 500 metros faz seis giros em quinze segundos). A direção a ser 
seguida é dada pela direção da linha reta em relação à posição do sol. 
Os dois tipos de dança apresentam-se como verdadeiras mensa-
gens que anunciam a descoberta para a colmeia: ao perceber o odor 
da obreira ou absorvendo o néctar que ela deglute, as abelhas se dão 
conta da natureza do alimento; ao observar a dança, as abelhas desco-
brem o local onde se encontra a fonte de alimento.
Os estudos do zoólogo alemão fazem uma importante revelação 
sobre o funcionamento de uma linguagem animal, que permite ana-
lisar pelo confronto a singularidade da linguagem humana, conforme 
assinala Benveniste (1976). Embora seja bem preciso o sistema de 
comunicação das abelhas – ou de qualquer outro animal cuja forma de 
comunicação já tenha sido analisada – ele não constitui uma linguagem, 
no sentido em que o termo é empregado quando se trata de linguagem 
humana, como se pretende demonstrar a seguir:
Tema I | Variedades linguísticas do português 29
As abelhas são capazes de: 
(a) compreender uma mensagem com muitos dados e de reter na 
memória informações sobre a posição e a distancia; e
(b) produzir uma mensa-
gem simbolizando – represen-
tando de maneira convencio-
nal3 – esses dados por diversos 
comportamentos somáticos4. 
Essas constatações evidenciam que esse sistema de comu-
nicação cumpre as condições necessárias para a existência de uma 
linguagem: há simbolismo, ou seja, capacidade de formular ou inter-
pretar um “signo” (qualquer elemento que represente algo de forma 
convencional); há memória da experiência e aptidão para analisá-la. 
Assim como a linguagem humana, esse sistema é válido no interior de 
uma comunidade e todos os seus membros são aptos a empregá-lo e 
compreendê-lo da mesma forma. 
No entanto, as diferenças entre o sistema de comunicação das 
abelhas e a linguagem humana são consideráveis:
(a) a mensagem se traduz pela dança, exclusivamente, sem inter-
venção de um “aparelho vocal”, condição essencial para a linguagem;
(b) a mensagem da abelha não provoca uma resposta, mas ape-
nas uma conduta, o que significa que não há diálogo;
(c) a comunicação se refere a um dado objetivo, fruto da experi-
ência. A abelha não constrói a mensagem a partir de outra mensagem. 
A linguagem humana caracteriza-se por oferecer um substituto à ex-
periência, apto a ser transmitido infinitamente no tempo e no espaço;
(d) o conteúdo da mensagem é único – o alimento, a única varia-
ção possível refere-se à distância e à direção; o conteúdo da linguagem 
humana é ilimitado; e
(e) a mensagem das abelhas não se deixa analisar, decompor em 
elementos menores. 
3 Ou seja, por meio de convenção ou acor-
do.
4 Que se somam.
30 Língua Portuguesa I
É esse ultimo aspecto a característica mais marcante que opõe a 
comunicação das abelhas à linguagem humana. Num enunciado linguís-
tico como “Quero água” é possível identificar três elementos portadores 
de significado: quer- (radical verbal) + -o (desinência número-pessoal), 
água, denominados morfemas. Prosseguindo a decomposição, pode-
se chegar a elementos menores ainda. No enunciado “Quero água”, 
a menor unidade, os segmentos sonoros, denominados fonemas, 
permitem distinguir significado, como se pode observar na substituição 
de /a/ por /e/ em água/égua. Essa é a propriedade da articulação, que 
é fundamental na língua humana, pois permite produzir uma infinida-
de de mensagens novas a partir de um 
número limitado de elementos sonoros 
distintivos. 
Em síntese, a comunicação das abelhas não é uma linguagem, é 
um código de sinais, como se pode observar por suas características: 
conteúdo fixo, mensagem invariável, relação a uma só situação, trans-
missão unilateral e enunciado indecomponível [...].
Fonte: PETTER, Margarida M. T. Linguagem, língua, linguística. In: 
FIORIN, José Luiz (org.). Introdução à linguística. São Paulo: Contexto, 
2002, v.1, p. 15-17.
Para refletir
Desde pequenos e durante toda nossa vida utilizamos a 
língua, mas definir o que é língua não é fácil. Pergunte a amigos 
e a pessoas da sua família “O que é língua?”. A partir daí e do que 
você estudou, reflita: como você define o que é língua?
Lembre-se de colocar sua reflexão no AVA. 
Que fazem distinção. 
Tema I | Variedades linguísticas do português 31
1.3 MUDANÇA E VARIAÇÃO
Nos tópicos anteriores vimos que a visão da língua portu-
guesa como a única falada no Brasil e como sinônimo de unidade 
não se sustenta quando nos cercamos de conhecimentos cientí-
ficos. Além disso, vimos que ao longo da história foram muitos 
os posicionamentos dos estudiosos sobre o estudo da variação 
e da mudança linguística. 
Vamos, nesse item, ver como a variação linguística passou 
a ser estudada e não mais ignorada e por que a mudança linguís-
tica não pode ser vista como corrupção da língua. 
Observe a cantiga a seguir de João Aires:
Desei’ eu ben auer de mha senhor, 
mays nõ desei’ auer bê d’ela tal, 
por seer meu bê, que seia seu mal, 
e por aquesto, par Nostro Senhor, 
en que perdesse do sseu nulla ren, 
ca non é meu ben o que seu mal for 
Ante cuyd’ eu que o que seu mal é 
que meu mal est, e cuydo grã razõ, 
por ê deseio no meu coraçon 
auer tal bê d’ela, per boa fé, 
en que nõ perca rê de seu bon prez, 
nê lh’ ar diga nulh’ ome que mal fez, 
e outro ben Deus d’ ela nõ mi de. 
[...] 
32 Língua Portuguesa I
auer haver
aquesto isto
nulla ren, nulha rê nenhuma coisa, nada
ca pois, porque
ante antes, primeiramente
cuyd’ considero, penso
por ê por isso
prez mérito, dignidade, valor, reputação
ar também, ainda assim
nulh’ ome nenhum homem, ninguém
de dê, v. dar
ia já, desde este momento
uj vi, v. ver 
ssy si, pron. Pessoal
cato busco, atento
mays mas
atal tal
prol proveito
ca de mi do que o meu
bem bem, fazer o bem: corresponder ao 
amor.
Que língua você acha que é essa? Você acertou se respon-
deu que é o português, a língua que, depois de muitas mudanças, 
é como falamos hoje. Você deve ter parado um pouco para pen-
sar: como ela mudou tanto? Mudou por causa do tempo (essa 
cantiga é do período medieval) e por causa da variação.
Mas o que é variação? Variação é o ato de variar e, do pon-
to de vista da linguística, é uma característica básica de todas as 
línguas humanas.
Quando ouvimos uma pessoa de um estado diferente do 
nosso falar, percebemos rapidamente a diferença entre a sua fala 
ea nossa, não é? Na maioria das vezes, reparamos nas palavras 
que as pessoas usam. Enquanto em boa parte do nordeste usa-
mos aipim ou macaxeira para designar a raiz da qual fazemos 
farinha, no sul se usa a palavra mandioca. 
Tema I | Variedades linguísticas do português 33
Também percebemos diferenças quando escutamos 
pessoas mais ou menos instruídas que nós, ouvimos palavras 
que não utilizamos com frequência ou até maneiras diferentes 
de estruturar as frases. Tudo isso se dá não por uma corrupção 
da língua, como afirma o senso comum, mas por um simples 
motivo: o de que todas as línguas variam e de que a variação 
atinge os diversos níveis da língua. 
Vamos ver alguns exemplos do que estamos falando. 
No livro Como falam os 
brasileiros (2002), as pro-
fessoras e pesquisadoras 
Yone Leite e Dinah Callou 
publicaram os resultados 
das pesquisas feitas sobre 
alguns aspectos da norma 
culta do país, dentre eles:
A existência de artigo definido diante de nomes próprios: 
(1) a. A Maria passou aqui em casa ontem.
 b. Maria passou aqui em casa ontem.
A existência de artigo definido diante de pronomes possessivos:
(2) a. O meu pai trabalha aos sábados. 
 b. Meu pai trabalha aos sábados. 
E a alternância entre as formas nós e a gente: 
(3) a. Semana passada nós fomos ao cinema.
 b. Semana passada a gente foi ao cinema. 
Essas diferentes maneiras de falarmos a mesma coisa 
não passa por nós despercebida e mesmo assim não julgamos 
nenhuma das opções que foram mostradas como melhores ou 
piores. No caso dos exemplos apresentados em (3), julgamos 
O termo norma culta se refere à variedade 
de língua falada pelas pessoas de maior 
escolaridade, ou seja, pessoas com o ensino 
superior completo. Veremos mais profunda-
mente esse conceito e as discussões que 
giram em torno dele no decorrer do livro. 
34 Língua Portuguesa I
como adequados ou não a situações de comunicação: o uso do 
pronome nós é mais comum em ocasiões formais enquanto o 
uso do a gente é frequente em ocasiões informais.
Alguns outros conceitos serão muito utilizados por nós 
quando dermos seguimento aos estudos nesse livro, são eles 
os conceitos de variável e variante. Variante é como chamamos 
cada uma das diferentes formas de um fenômeno que varia. 
Variável é esse fenômeno. 
É por isso que chamamos a língua portuguesa do Brasil 
de variante brasileira, porque ela é uma das formas da língua 
portuguesa. Assim como há a variante brasileira, há a variante 
europeia. 
Para fixar bem essas ideias, vamos relembrar um assunto 
de que já falamos aqui: a alternância nós/a gente no português 
do Brasil. O uso da primeira pessoa do plural é uma variável, pois 
é um fenômeno que varia. Cada uma das formas que utilizamos 
para a primeira pessoa do plural se chama variante. Dessa forma, 
o pronome nós é uma variante e o pronome a gente também. 
Podemos simplificar essas ideias assim:
Variável (fenômeno que varia): primeira pessoa do plural
Variantes (formas possíveis de realização da variável): 
O pronome nós 
Ex.: Nós vamos comprar pão.
O pronome a gente.
Ex.: A gente vai comprar pão.
Tema I | Variedades linguísticas do português 35
A variável que acabamos de ver tem duas alternativas 
possíveis, mas outras variáveis podem ter mais de duas alterna-
tivas. É o caso da negação em língua portuguesa, um fenômeno 
variável que possui três variantes. Observe os dados a seguir:
Variável: as estruturas de negação no português do Brasil.
Variantes: 
• A negação antes do verbo
 Ex.: Pergunta: Você viu Maria sair da sala? 
 Resposta: Não vi. 
• A negação depois do verbo
 Ex.: Pergunta: Você viu Maria sair da sala? 
 Resposta: Vi não. 
• A negação antes e depois do verbo
 Ex.: Pergunta: Você viu Maria sair da sala? 
 Resposta: Não vi não. 
Esses são apenas alguns exemplos. Coseriu (1979) afirmou 
que a língua nunca está pronta, ela está se refazendo sempre. A 
cada nova geração de falantes surgem novas alterações. 
O que permite isso são dois fatos. Primeiramente, a língua 
não muda instantaneamente, de um dia para o outro. Toda mu-
dança se dá de forma gradual. Em segundo lugar, a quantidade 
de itens sofrendo variação em um língua é muito menor que a 
quantidade de itens em estabilidade.
Agora pense: se a língua muda tanto e sempre, o que 
permite que ela continue funcionando e que seus falantes 
continuem se entendendo? 
36 Língua Portuguesa I
Como já dissemos, a variação é comum a todas as línguas, 
e, para que ocorra a mudança linguística, é necessário primei-
ramente que a variação aconteça. Em outras palavras, para que 
algo mude é preciso que passe por variação antes, assim, toda 
mudança resulta do processo de variação. 
Outro fato muito importante é o seguinte: nem sempre uma 
variação gera uma mudança. É certo que a heterogeneidade da 
língua e da própria sociedade origina a variação, mas nem todos 
dessa sociedade aceitam as inovações e começam a utilizá-las. 
Além disso, nem toda inovação dura. 
Você já percebeu como algumas gírias são esquecidas com 
o tempo e outras parecem durar mais? É assim que acontece. 
Vejamos o caso do pronome de segunda pessoa do plural vós. 
Hoje, no Brasil, ele só é visto nas gramáticas e em livros antigos, 
não é? Por um momento ele competiu com o pronome que 
usamos hoje, o você, e por algum tempo houve a variação: as 
duas formas competiam na fala das pessoas. Com o passar do 
tempo, o você passou a ser mais utilizado e o vós foi esquecido. 
Aconteceu a mudança.
O estudo da mudança.
Nem sempre a mudança e a variação orientaram os estu-
dos linguísticos, pelo contrário. Apesar de hoje se saber que toda 
língua varia, em muitos momentos essa propriedade foi excluída 
dos estudos científicos. Em determinada época, porque não era 
possível determinar o que a propiciava; para algumas correntes 
linguísticas, porque não era necessário levá-la em conta. 
A mudança esteve no centro dos estudos linguísticos no 
final do século XVIII e durante todo o século XIX, período em que 
se desenvolveu uma análise que comparava fatos linguísticos do 
sânscrito, na Índia, com as fases mais antigas do grego, do latim 
e das línguas germânicas. Até hoje as constatações propiciadas 
Tema I | Variedades linguísticas do português 37
pelo método histórico-comparativo servem de base para a Lin-
guística Histórica.
Inaugurando o que chamamos de linguística moderna, 
Ferdinand Saussure, com a publicação do Curso de Linguística 
Geral, dá início à corrente linguística que passou a vigorar tem-
pos depois, chamada estruturalismo. Essa corrente se preocupa-
va com a análise da estrutura da língua – por isso o seu nome. 
Observando somente a estrutura, focada em captar somente o 
sistema, não era necessário pensar nos fatores sociais que in-
fluenciariam o uso da língua. 
Saussure achava que havia necessidade de estudar a lín-
gua em dois aspectos diferentes: em apenas um momento do 
tempo (o que chamamos de sincronia) e no intervalo entre dois 
momentos (chamado diacronia). 
Nessa época também são realizados estudos em outra 
corrente linguística, chamada dialectologia. Ela se refere ao ramo 
dos estudos linguísticos que se inicia com a publicação de Atlas 
linguistique de la France, de Jules Gilliéron, no início do século 
XX. Também chamada de geografia linguística, essa corrente tem 
por objetivo criar um modo de pesquisa do qual se possam tirar 
conclusões sobre a variedade linguística de uma determinada lo-
calidade, essas conclusões podem definir um dialeto. Para isso, é 
necessário entrevistar pessoas do local, que moram lá há muito 
tempo e que não tenham saído de suas comunidades, pois elas 
revelam os traços linguísticos específicos daquele grupo social e 
daquela região. 
Em reação ao pensamento da corrente estruturalista, surge 
a corrente chamada gerativismo, iniciada por Noam Chomsky. O 
foco das pesquisas gerativistas está no conhecimento individual 
que o falante tem da língua, ou seja, a competência (tratada aqui 
notópico 1.2).
 Essas suas visões, o estruturalismo e o gerativismo, não 
relacionam a língua e suas variações com a sociedade ou sua 
38 Língua Portuguesa I
heterogeneidade. Já a sociolinguística, iniciada por William La-
bov, além de ter a variação como foco dos seus estudos, assume 
que a sociedade e sua composição heterogênea são pontos 
fundamentais para a análise da língua. São os conceitos da so-
ciolinguística que vamos estudar no próximo item. 
Visões sobre a mudança
Para complementar esse breve estudo da mudança linguís-
tica, observe esse pequeno esquema que apresenta a visão que 
alguns estudiosos tiveram da mudança linguística. Lembre-se: 
mudança não deve ser vista como progresso (desenvolvimento 
para melhor ou para pior) ou degeneração.
Início do século XIX – era defendido o caráter degene-
rador da mudança: as línguas antigas estavam em estágio 
superior de desenvolvimento.
Metade do século XIX – Augusto Schleicher, linguista e 
botânico, defendia a ideia de que a língua era um organismo 
vivo independente de seus falantes e sujeita ao desenvolvi-
mento, maturidade e declínio.
Fim do século XIX – Jespersen (influenciado pelo evolu-
cionismo sociológico) defende que não há degeneração, mas 
progresso rumo às formas aperfeiçoadas.
Início do século XX – Saussure formula a concepção de 
língua como um todo cujas partes estão em estritas relações 
de oposição e mútua dependência. As línguas passam de um 
estado de organização a outro (visão neutra da mudança).
Sapir (1969) propõe tratar a mudança como submetida 
por uma força interna (traduzida por Câmara Jr. como deriva) 
que impulsionaria a língua a uma determinada direção.
Tema I | Variedades linguísticas do português 39
Texto complementar
O contacto com outras línguas e com outras realidades sociais, 
culturais e políticas é uma das principais causas de mudança e de varia-
ção, uma causa exterior que provoca alterações internas. As palavras 
estendem ou restringem o seu significado (a palavra estremecida, que 
outrora significava tremida e muito amada, mantém somente o primei-
ro significado; meter é usado hoje, muitas vezes, em lugar de pôr por 
influência do francês mettre; capturar substitui, em certas circunstân-
cias, captar, do inglês to capture). As frases alteram a sua construção 
(‘posso ter um copo de água?’ é inspirado no inglês ‘may I have a glass 
of water?’). O léxico acolhe novas entradas e esquece outras (chapéu 
entrou em português no século XIII, importado do francês antigo cha-
pel; antanho, isto é, antigamente é desconhecido das novas gerações).
No campo do léxico globalmente considerado lembre-se da 
importância das palavras que entraram no português pelo contacto, no 
Brasil, com as línguas ameríndias e com as línguas das comunidades 
imigrantes (alemão, japonês, holandês e quantas mais); lembre-se 
também da entrada de empréstimos das línguas nacionais africanas 
no português falado na África; na Ásia, considerem-se as palavras 
que emigraram para o português vindas das regiões longínquas onde 
chegaram os barcos portugueses. Na Europa, as línguas de prestígio 
também contribuíram para uma transformação do léxico: diariamente 
vamos integrando palavras que vêm escondidas na tecnologia, im-
portada do inglês e em muitos campos da nossa vivência quotidiana. 
Enfim, de geração para geração as palavras mudam de forma [...].
As causas da mudança não são apenas exteriores. A mudança 
interna, endógena, também se dá. Os fenômenos fonéticos de su-
pressão de consoantes e vogais, ou mesmo de palavras inteiras com 
menor corpo fonético (como, em português, as formas do acusativo 
dos pronomes pessoais, o, a, os, as, que são substituídas em alguns 
dialetos do português brasileiro por formas do nominativo ele, ela, 
você, etc.) desenvolvem-se muitas vezes pelo mero fato de a língua 
40 Língua Portuguesa I
ser falada, usada. A simplificação de um dos sistemas da língua pode 
constituir-se em fator de modificação e levar, por exemplo, à redução 
de várias formas verbais a uma única, o que sucede no português do 
Brasil com formas como tu fala, ele fala, nós fala, ou no inglês com as 
conjugações verbais [...].
Obs.: Os exemplos apresentados nesta seção pertencem ao 
português europeu.
Fonte: MATEUS, Maria Helena Mira. A mudança da língua no tempo 
e no espaço. In: MATEUS, M. H. M.; BACELAR, M. F. (org.). A língua 
portuguesa em mudança. Portugal - Lisboa: Caminho, 2005.
Para refletir
Converse com parentes e amigos sobre o que você acabou 
de aprender e, principalmente, com a ajuda dos de idade superior 
a sua, liste algumas palavras da nossa língua que não são mais 
utilizadas ou que passaram por mudança. 
Achar exemplos próximos do que estudamos nos ajuda a 
fixar melhor o assunto!
1.4 NOÇÕES DE SOCIOLINGUÍSTICA APLICADAS AO ESTUDO 
DO PORTUGUÊS DO BRASIL
Nesse item vamos ver noções de uma corrente linguística 
chamada Sociolinguística Laboviana e aplicar essas noções ao es-
tudo da língua portuguesa. Esperamos assim dar exemplos mais 
concretos da variação que encontramos no português do Brasil.
Tema I | Variedades linguísticas do português 41
Você está lembrado dos conceitos de mudança e variação 
que estudamos no tópico 1.3? Revise-os porque precisaremos 
muito deles agora.
A Sociolinguística Laboviana é uma corrente linguística que 
entende a variação como um princípio geral das línguas naturais. 
Essa corrente linguística considera em especial como objeto de 
estudo a variação, que pode ser descrita e analisada cientifica-
mente.
 Os estudos da so-
ciolinguística se iniciam 
na década de 1960 a partir 
dos estudos realizados por 
William Labov – por isso o 
nome de sociolinguística 
Laboviana. Labov relaciona 
fatores sociais, como sexo, 
origem étnica e atitude 
perante variáveis linguís-
ticas ao comportamento 
linguístico dos habitantes 
de Martha’s Vineyard.
 Assim, tem início uma nova teoria e metodologia, nelas a 
língua deixa de ser vista como estrutura estática e que tem como 
objeto de estudo a mudança.
A sociolinguística entende a variação como princípio geral 
e universal das línguas naturais humanas (um princípio que pode 
ser descrito e analisado). Ela parte da ideia de que a escolha por 
uma das formas de falar algo seria influenciada diretamente pelo 
que chamamos de fatores estruturais (ou internos à língua) e 
sociais (ou externos). Desta forma, um fenômeno variável (que 
pode ser chamado também de variável), pode ser influenciado 
por um grupo de fatores estruturais e sociais. Contudo, como já 
dissemos, a variação não implica inevitavelmente em mudança 
Os estudos da mu-
dança em progresso 
realizados por Labov 
propiciaram uma 
nova teoria da mu-
dança linguística, que 
foi formalizada entre 
1966 e 1968 no livro 
Fundamentos Empíricos para uma Teoria 
da Mudança Linguística, de Uriel Weinreich, 
Willian Labov e Marvin Herzog.
42 Língua Portuguesa I
linguística, já que duas ou mais formas podem ser usadas ao 
mesmo tempo e durante um período de tempo bem longo. Po-
rém toda mudança se origina na variação.
É importante lembrar que as análises linguísticas nos 
apontam tendências, e não previsões das quais não podemos 
escapar. Não podemos dizer que um fenômeno será dessa ou de 
outra forma daqui a um determinado tempo, mas podemos dizer 
que, segundo nossos dados, o fenômeno tende a se comportar 
de um ou outro modo.
Um dos interesses da sociolinguística é também a avalia-
ção que o falante faz de uma ou de outra variante. Há variantes 
estigmatizadas pelos falantes – sobre as quais as pessoas fazem 
mau juízo – e há variantes prestigiadas – que são dotadas de 
prestígio na sociedade. Essas avaliações ajudam o pesquisador 
a saber por que uma forma é escolhida e outra é recusada pelos 
falantes em certas situações. 
Você lembra de que tínhamos falado que, para a sociolin-
guística, os fenômenos linguísticos são influenciados por fatores 
internos e externos à língua? Veremos isso agora, estudandoos 
fatores externos, ou seja, os fatores sociais. 
Os fatores sociais são vários. Quando falamos de variação 
de tempo, estamos falando de uma variável externa à língua, o 
mesmo acontece quando nos referimos às diversas classes so-
ciais, às características das pessoas que compõem a sociedade 
ou às situações pelas quais as pessoas passam no momento 
de se comunicar. Em cada análise feita sobre o comportamento 
linguístico de um grupo encontraremos diversos aspectos da 
língua para serem estudados. 
Os fatores sociais podem ser organizados em grupos. Va-
mos conhecê-los? 
Tema I | Variedades linguísticas do português 43
Variação de tempo
Como seu próprio 
nome diz, esse tipo de va-
riação se refere à passagem 
do tempo. Ela também é 
chamada de variação dia-
crônica. 
Percebemos a influência da variação diacrônica quando 
investigamos uma variável durante algum tempo. Isso é possível 
na escrita se tivermos acesso, por exemplo, a cartas ou documen-
tos antigos e os comparar-
mos com escritos atuais. 
Observe o trecho retirado 
do conto A cartomante, de 
Machado de Assis, escrito 
em 1882.
Dia é prefixo grego que significa “Através 
de”. –crônica se relaciona com cronologia 
(a ordem dos acontecimentos no tempo). 
Dessa forma, quando falamos de variação 
diacrônica, nos referimos à variação “atra-
vés” do tempo.
Machado de Assis – Seu 
nome de batismo era 
Joaquim Maria Machado 
de Assis (1839 - 1908). Foi 
poeta, romancista, drama-
turgo, contista, jornalista, 
cronista e teatrólogo bra-
sileiro, e era considerado o 
maior nome da literatura brasileira.
Hamlet observa a Horácio que há mais cousas no céu e 
na terra do que sonha a nossa filosofia. Era a mesma explica-
ção que dava a bela Rita ao moço Camilo, numa sexta-feira 
de novembro de 1869, quando este ria dela, por ter ido na 
véspera consultar uma cartomante; a diferença é que o fazia 
por outras palavras.
44 Língua Portuguesa I
Percebeu alguma diferença entre palavras utilizadas na-
quela época e hoje? O que hoje é chamado coisa antigamente 
era cousa. Assim, por esse trecho, percebemos pelo menos 
uma mudança que se deu da época em que Machado de Assis 
escreveu o seu conto e os dias de hoje. 
Variação diatópica
O termo topos, em latim, designa lugar. Assim, variação 
diatópica é a variação que se dá pela diferença de lugares. Ela 
também é chamada de variação espacial. 
Vejamos alguns exemplos de variação diatópica: 
A fruta que no nordeste conhecemos como tangerina, no 
sul é chamada de mexerica ou bergamota. O mesmo acontece 
com a pinha, que no sul é fruta-do-conde e, em alguns lugares 
do nordeste, como no Ceará, é ata. 
A variação diatópica não é percebida somente nas diferen-
ças entre palavras. É claro que assim é mais fácil de enxergá-la, 
mas há estruturas na língua que sofrem variação quando anali-
samos os lugares em que são utilizadas. É o caso do artigo em 
frente a nomes próprios ou a pronomes possessivos, que vimos 
rapidamente no tópico 1.3. 
Variação diastrática
A variação diastrática se refere aos estratos da sociedade. 
Dentro da variação diastrática encontramos outros aspectos 
que também variam, pois a sociedade pode ser analisada sob 
diferentes visões. Vamos ver algumas:
Geracional
A diferença entre gerações ou entre faixas etárias distintas 
é responsável por boa parte da variação que percebemos no 
Tema I | Variedades linguísticas do português 45
nosso dia a dia. Quantas vezes você já falou com um conhecido 
ou parente mais velho que você e percebeu palavras que não são 
mais usadas? Ou percebeu que eles usam mais algumas palavras 
do que você? 
Gênero
A depender do fenômeno que estudamos, podemos ver que 
homens e mulheres falam diferente. Mas essas conclusões acerca 
da variação de gênero devem ser analisadas levando-se em conta 
os posicionamentos de homens e mulheres na sociedade. Nas 
comunidades rurais, por exemplo, em que as mulheres tendem a 
cuidar da casa e os homens, em sua maioria, trabalham fora e até 
mesmo em outras cidades, eles usam mais do que elas as variantes 
inovadoras (aquelas que começaram há menos tempo a aparecer 
na estrutura linguística). Já em comunidades urbanas, em que mu-
lheres trabalham tanto quanto os homens, não acontece o mesmo. 
O uso de nós e a gente é um exemplo disso. Na zona rural 
é mais comum que os homens usem mais o pronome a gente do 
que as mulheres, porque essa é uma variante inovadora, mais 
encontrada nos grandes centros urbanos. 
Escolaridade 
Muitas estruturas da norma padrão só são aprendidas na 
escola, porque a língua portuguesa que estudamos na gramática 
é bem diferente da língua portuguesa que usamos no nosso 
cotidiano. 
Variação diafásica
Essa é a variação correspondente a diferentes tipos de 
registros, isto é, o modo como o falante adéqua sua fala para 
determinadas situações. Os exemplos estão o tempo todo à 
nossa volta. Quer ver? 
46 Língua Portuguesa I
Quando você está em casa, com seus familiares, como 
você fala? Em ambientes íntimos, não temos tanta necessidade 
de monitorar nossa fala o tempo todo: é nesse momento que 
utilizamos a fala informal ou distensa. Quando falamos informal-
mente utilizamos gírias, não é mesmo?
Agora imagine o seguinte: você foi chamado para uma en-
trevista de emprego. Como você irá conversar com o seu futuro 
chefe? Você usará gírias? Como você irá tratá-lo? Em situações 
formais, todos nós procuramos ajustar nossa fala, utilizamos 
formas que não utilizaríamos nas situações informais. 
Esses são apenas dois exemplos de registro: o formal e o 
informal; e, no caso da situação que acabamos de ver, registro 
oral. Mas há muitos outros tipos de registro, tanto na fala quanto 
na escrita.
Para refletir
Agora que você já conhece diversos tipos de variação, 
procure pensar em outros fatores sociais que podem modificar a 
maneira como se fala.
Tema I | Variedades linguísticas do português 47
RESUMO
Que bom! Você chegou ao fim do primeiro conteúdo. 
No percurso que traçamos, investigamos o mito da unida-
de da língua portuguesa do Brasil e descobrimos que aqui não se 
fala só português. Muitas outras línguas, de línguas estrangeiras 
a línguas indígenas ainda vivem na fala de seus representantes. 
Ao aprofundarmos nossa visão sobre os conceitos de 
língua, linguagem, dialeto, dentre outros conceitos importantes, 
contribuímos para a reflexão crítica da língua. Esse com certeza é 
um dos objetivos que você alcançou ao finalizar sua leitura. 
Além disso, podemos entender um pouco mais de uma 
questão estudada há muito tempo e por muitos pesquisadores. 
Você agora pode responder a pergunta Por que as línguas mu-
dam? com embasamento científico. Na jornada rumo ao estudo 
das línguas, é muito importante fugir do senso comum e buscar 
em estudos e na opinião dos pesquisadores as respostas para 
nossas dúvidas.
A influência dos fatores sociais precisa ser levada em con-
sideração quando falamos de mudança, variação e também de 
ensino da língua. A tarefa do educador vai além da reflexão sobre 
seu material teórico. O educador deve treinar seu olhar para a 
realidade linguística da sua comunidade e do seu aluno. Esse 
será um dos temas abordados no próximo conteúdo. 
Até lá!
Norma padrão2
Esse tema trata dos aspectos relacionados à norma-padrão, 
aquela que foi escolhida como o “bom falar”. Iremos investigar 
como ela alcançou o status que tem hoje e quais os fatores que 
influenciam a sua imposição na sociedade.
 
2.1 A GRAMÁTICA TRADICIONAL
Antes de começarmos nosso estudo, leia a poesia de 
Oswald de Andrade apresentada a seguir.
Pronominais Oswald de Andrade (1890-1954)
Dê-me um cigarro 
Diz a gramática 
Do professor e do aluno 
E do mulato sabido 
50 Língua Portuguesa I
Mas o bom negro e o bom branco 
Da Nação Brasileira 
Dizem todos os dias 
Deixa disso, camarada 
Me dá um cigarro. 
 
Essa poesia foi escrita ainda no início do século XX, e as 
obras de seu autor pertencem a uma escolaliterária chamada 
modernismo. Já nesse tempo – e esse era um dos objetivos de 
muitas das obras da época – alguns autores chamavam a aten-
ção para a distância entre o que era imposto pela gramática e o 
que era realmente falado aqui no Brasil. Você também já deve 
ter percebido algumas diferenças entre o que é cobrado pelas 
gramáticas e o que é dito. 
Já que cada um de nós, em algum momento, percebeu 
toda essa diferença, como então a gramática tradicional ganhou 
o status que tem hoje? Vamos descobrir isso aos poucos, inician-
do agora nossa leitura sobre a história da gramática. 
A gramática tradicional (ou normativa, pois descreve uma 
norma) tem sua tradição iniciada no século III a.C. na cidade 
de Alexandria, no Egito. Naquela época, muitos estudiosos da 
literatura clássica da Grécia, preocupando-se com a manutenção 
da língua grega resolveram descrever as regras gramaticais das 
grandes obras e dos autores clássicos.
Esses estudiosos, chamados filólogos, fizeram isso com a 
intenção de compor um modelo para aqueles que quisessem es-
crever obras literárias, pois àquela altura o grego já tinha passa-
do por muitas alterações. Aliás, a palavra gramática significa em 
grego “arte de escrever”. Como seu objetivo era o de prescrever 
as normas para se escrever bem, a gramática excluía a língua 
falada do seu estudo.
As gramáticas romanas eram baseadas nas gramáticas gre-
gas. A gramática latina mais antiga conhecida hoje é a gramática 
Tema II | Norma padrão 51
de Varrão, do século I a.C., mas as mais importantes foram as de 
Donato (no século IV d.C.) e a de Prisciano (no século VI d.C.). As 
duas descreviam o latim clássico e foram usadas no estudo do 
latim durante a idade média, pois o latim era a língua da igreja e 
do ensino (LOBATO, 1986).
No século XVI muitas gramáticas baseadas nas greco-
romanas foram publicadas pelo mundo. Foi nessa época que 
surgiu a primeira gramática da língua portuguesa. Logo após 
outras foram escritas. Observe a seguir: 
Quando o Brasil começou a ser colonizado, por volta de 
1532, havia uma grande necessidade dos portugueses de se 
comunicarem com os indígenas e de serem entendidos. Na 
intenção de alcançar esse objetivo e favorecer a propagação do 
cristianismo no Novo Mundo, o padre jesuíta José de Anchieta 
publica a Gramática da língua mais usada na costa do Brasil. 
Essa gramática reunia regras gramaticais de um grupo de línguas 
que hoje é denominado tupi. A partir de então foi criado o que se 
chamou tupi jesuítico. A gramática, que se tornou fundamental 
para a cristianização dos índios da costa, contribuiu para o desa-
parecimento de muitas línguas indígenas. 
1536: Gramática da linguagem portuguesa, de Fernão de 
Oliveira;
1540: Gramática da língua portuguesa, de João de Barros;
1574: Regras que ensinam a maneira de escrever e a orto-
grafia da língua portuguesa, de Pero Magalhães de Gândavo;
1576: Ortografia e origem da língua portuguesa, de Duarte 
Nunes de leão. 
Fonte: BAGNO, Marcos. Português ou brasileiro? um convite à pesquisa. 
São Paulo: Parábola, 2004, p.46.
52 Língua Portuguesa I
A gramática de José de 
Anchieta não foi a única 
gramática da língua in-
dígena do Brasil. Depois 
dela, em 1699, publicou-se 
a Arte da língua brasileira 
da nação cariri. (MATTOS 
E SILVA, 2004a) 
Diferente do que acontece 
atualmente, houve uma 
época em quem poucas pessoas tinham acesso às gramáticas, 
só as que sabiam ler e escrever, ou seja, a aristocracia. E como 
esse grupo detinha o poder político, definia o que era ou não 
bom na vida social. 
Hoje, chamamos de gramática tradicional – referida sim-
plesmente como GT – o ramo dos estudos que se volta para os 
usos literários dos grandes autores e que se dedica somente à 
língua escrita. Apesar de antes ser uma obra que orientava a 
escrita, com o passar do tempo, a gramática passou a se im-
por também como uma maneira de falar bem. Segundo essa 
tradição, os exemplos exposto pelos autores das gramáticas no 
Brasil – mesmo as muito atuais – são retirados de autores do 
passado ou portugueses, o que não condiz com as necessidades 
dos nossos alunos, sejam eles do nível fundamental, médio ou 
superior.
Um olhar crítico sobre a GT
Até agora, falamos bastante de como a gramática se cons-
tituiu até os dias atuais e que obras desse caráter não refletem 
a norma usada pela sociedade. Portanto, para expor realmente 
essas inadequações, vamos ver três aspectos da língua portu-
José de Anchieta (19 
de março de 1534 - 9 
de junho de 1597) 
foi um padre jesuíta 
espanhol e um dos 
fundadores de São 
Paulo.
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/
Jos%C3%A9_de_Anchieta
Tema II | Norma padrão 53
guesa do Brasil (dois sin-
táticos e um morfológico) 
e o que a GT fala sobre 
eles. Esperamos que, ao 
fim dessa exemplificação, 
você possa começar a ver 
também outros pontos da 
GT dignos de reflexão.
Vamos começar com 
duas análises de conceitos 
desenvolvidos no âmbito 
da sintaxe. Primeiro exem-
plo: 
De que grupo da sin-
taxe fazem parte o sujeito 
e o predicado de uma oração? De um grupo chamado Termos 
essenciais. A definição de essencial é necessário ou indispensá-
vel. Dessa forma, o sujeito e o predicado nos são apresentados 
como itens indispensáveis a uma oração. Agora, vamos observar 
as seguintes construções:
Relampejou ontem à noite.
Tem pouca gente na praça.
A própria gramática tradicional classifica essas orações 
como orações sem sujeito: por tratarem, a primeira, de um fe-
nômeno da natureza (verbo relampejar) e, a segunda, de uma 
oração existencial (verbo ter em sentido existencial). No caso da 
segunda oração, a palavra gente é classificada como objeto do 
verbo ter. Ora, se o sujeito é um termo essencial (necessário e 
indispensável) da oração, como pode haver, dentro da gramática 
tradicional, a classificação oração sem sujeito?
Você se lembra dos níveis da gramática? 
Dois deles são a sintaxe e a morfologia, e a 
eles pertencem os exemplos que daremos 
agora. Vamos revisá-los?
Sintaxe: é o nível da relação entre as pala-
vras ou entre as orações. Um item pode ser 
classificado como sujeito, por exemplo, por 
sua relação com o predicado. 
Morfologia: é o nível do estudo da estrutura, 
da formação e da classificação das palavras. 
Na morfologia estudamos as palavras isola-
damente – mas em alguns casos precisamos 
consultar demais palavras para identificar 
uma classe de palavras.
54 Língua Portuguesa I
Segundo exemplo: Qual o conceito de sujeito que en-
contramos nas gramáticas tradicionais? Segundo Celso Cunha 
e Lindley Cintra, autores da Nova Gramática do Português 
Contemporâneo (2001), “Sujeito é o ser sobre o qual se faz uma 
declaração”. Observe as seguintes frases, apresentados por 
Perini (1989):
(3) Carlinhos corre como um louco.
(4) Carlinhos machucou Camilo.
(5) Esse bolo eu não vou comer.
(6) Em Belo Horizonte chove um bocado. 
Nas duas primeiras orações, o sujeito é Carlinhos. Na ter-
ceira, o sujeito é eu e, na quarta, não há sujeito (estamos falando 
novamente de um fenômeno da natureza). O que Perini pretende 
mostrar com essas orações é que, se pensarmos bem, a análise 
que determina os sujeitos das duas últimas orações que mostra-
mos não são compatíveis com a definição ‘ser sobre o qual se faz 
uma declaração’. 
Os dois pontos que vimos se relacionam com a sintaxe, 
pois trataram da classificação e da conceituação do sujeito da 
oração. Falaremos no próximo exemplo de aspectos morfológi-
cos da língua. 
Terceiro exemplo: Quando uma pessoa concorda com 
outra (e não importa em que assunto), é comum ouvirmos a 
pessoa falar “Concordo com você em gênero, número e grau”, 
não é mesmo? Essa fala faz referência à concordância nominal. 
A GT nos diz que os nomes se flexionam em gênero, número e 
grau, mas uma das características da flexão é a obrigatoriedade. 
Observe os exemplos:
(7) O gato preto entrou em casa.
(8) A gata preta entrou em casa. 
(9) As gatas pretas entraram em casa.
Tema II |Norma padrão 55
No exemplo (7) o termo gato é acompanhado por artigo e 
adjetivo. Esses dois termos que acompanham gato concordam 
com ele - ambos estão no masculino e no singular.
No exemplo (8) temos artigo e adjetivo no feminino, e no 
exemplo (9) artigo e adjetivo estão no feminino e no plural. Essas 
flexões que apresentamos (gênero e número) são obrigatórias 
na norma padrão. Vejamos agora outras duas frases.
(10) As gatinhas pretas entraram em casa.
Essa frase é perfeitamente aceita por qualquer falante e 
também pela gramática normativa, apesar de não ter sido feita 
a “concordância” de grau no adjetivo preta. Em outras palavras, 
não é obrigatório concordar As gatinhas com o adjetivo preti-
nhas; fazemos essa concordância se quisermos.
O primeiro estudioso a discutir a questão do grau no por-
tuguês do Brasil foi Mattoso Câmara Jr., em 1970. Depois dele 
muitos outros deram suas contribuições à discussão, no entanto, 
as gramáticas tradicionais continuam apresentando o grau como 
flexão. 
Esses foram apenas três exemplos de como a gramática 
tradicional apresenta regras que podem ser facilmente contes-
tadas.
Estudo normativo versus estudo descritivo
Muitos aspectos distinguem o estudo normativo, que dire-
ciona a gramática tradicional, do estudo descritivo, aquele que, 
como o próprio nome diz, descreve as características da língua. 
Aqui, apontamos os principais. 
56 Língua Portuguesa I
Estudo normativo
1. Observa um padrão ideal (o que a língua deve ser);
2. Prescreve: estabelece regras do bom uso;
3. Baseia-se na noção do “correto”. Define o que é próprio 
e o que não é da norma padrão;
4. Objeto de estudo: norma padrão;
5. Considera a língua um objeto homogêneo e unitário;
6. Voltada para a língua escrita (tradição literária);
7. Não expõe necessariamente a sua metodologia e princí-
pios teóricos;
8. Bases: valores políticos, ideológicos e culturais.
Estudo descritivo
1. Observa a língua objetivamente (o que a língua é de fato);
2. Descritivo: não pretende interferir no comportamento 
dos falantes;
3. Não trabalha com a ideia de “correção”. Todas as normas 
de uso da língua são consideradas igualmente;
4. Objeto: todas as normas da língua;
5. Reconhece a heterogeneidade da língua: a variação é 
própria da atividade linguística;
6. Voltada para a língua oral, a língua falada na atualidade; 
7. Explicita o método através do qual apreende o seu objeto 
e a teoria que orienta sua análise;
8. Bases: neutralizar influências políticas e ideológicas, 
orientando-se por critérios exclusivamente linguísticos. 
Fonte: esquema retirado de apontamentos de aula – Instituto de Letras, UFBA, 
2001.
Guarde bem essas distinções, pois quando dermos prosse-
guimento ao nosso curso elas serão muito necessárias.
Tema II | Norma padrão 57
Para refletir
Procure lembrar-se de fatos que você estudou na gramática 
tradicional e que geraram dúvidas. Analise-os com olhar crítico e 
procure perceber o que levou você a ter dificuldade. 
2.2 NORMAS LINGUÍSTICAS
Vimos no tópico 1.2 desse livro que norma, para Eugênio 
Coseriu, faz parte da tríade sistema, norma e fala. Nesse con-
texto, norma foi definida como hábitos linguísticos de um grupo 
social, características que podem distinguir os seus falantes 
dentro da comunidade. Vimos também que esse termo se baseia 
na observação da fala, ou seja, não é diretamente observável, 
como a fala.
Há muito ainda para se falar de norma. E para estudarmos 
a língua portuguesa do Brasil, devemos aprofundar nossa visão 
sobre outros termos relacionados com essa palavra que iremos 
ver muito ainda. Você já ouviu falar, por exemplo, de norma cul-
ta? E de norma-padrão? Sabe o que elas representam em nossa 
sociedade? Vamos desvendar todos esses mistérios agora. 
O termo norma tem dois significados diferentes; esse signi-
ficado descobrimos quando analisamos atentamente o contexto 
em que a palavra é empregada. 
Norma pode se relacionar com o adjetivo normal, quando 
significa algo frequente ou habitual. Ex.: No século XXI, ter um 
carro é normal. Norma pode significar também regra; nesse caso, 
se relaciona com o adjetivo normativo. Assim, significa algo que 
segue um ideal, ou que segue uma regra. Ex.: Para o convívio 
social, respeitamos muitas normas. 
No âmbito da linguística moderna, podemos definir norma 
como o uso comum de formas da língua por determinados 
58 Língua Portuguesa I
grupos sociais e também como um fator de identificação de 
um grupo. É comum sabermos de onde uma pessoa vem, por 
exemplo, pela sua fala, ou até mesmo julgarmos o falante como 
escolarizado ou não. Nossa sociedade, como é diversificada, tem 
inúmeras normas. As normas, contudo, não são inatingíveis; elas 
permitem uma troca de influências, algo como um intercâmbio 
cultural (FARACO, 2002).
Dentre as normas existentes no Brasil, aqui um pouco do 
que pode ser dito sobre norma-padrão, norma culta e normas 
populares. 
Desde já, é importante termos bem gravadas as definições 
de norma-padrão e norma culta, pois esses dois termos são 
constantemente confundidos. 
Norma-padrão é a norma prescrita pelas gramáticas tra-
dicionais. Essa norma teve como modelo a língua escrita de 
Portugal. 
Muitas pessoas acham que o modelo foi a língua falada 
de Portugal, contudo isso não pode ser considerado. Vamos 
pôr em prática o que vimos em itens anteriores: toda língua é 
heterogênea e varia, dessa maneira, toda língua tem inúmeras 
normas. Por que, então, o português de Portugal seria diferente? 
A língua falada em Portugal possui tantas variantes linguísticas 
quanto a língua falada aqui; seria necessário escolher uma só 
norma e descrevê-la – e isso leva muito tempo, pois os estu-
dos de língua falada são bem diferentes dos estudos de língua 
escrita. Precisamos de tempo para colher dados, encontrar as 
ocorrências de cada aspecto que será estudado e descrito e 
analisá-las. Em resumo: é um trabalho que exige além de tempo 
uma base científica muito confiável. Não se pode descrever uma 
língua baseando-se somente em impressões ou no “achismo”.
A norma culta diz respeito às estruturas usadas por um 
determinado grupo social; segundo Faraco (2002), o grupo dos 
que se ligam de forma mais direta às atividades de escrita e 
Tema II | Norma padrão 59
que usam essa norma nas situações mais formais. No caso de 
algumas pesquisas no âmbito da linguística moderna (como é 
o caso do projeto NURC, do qual falaremos mais tarde), norma 
culta é a norma daqueles que atingem o patamar mais alto de 
escolaridade na nossa sociedade: o nível superior completo.
Apesar de ser chamada norma culta, isso não significa que ela 
se iguale à norma padrão. Há uma grande diferença – um abismo, 
diriam alguns estudiosos – entre essas duas normas. Para a norma 
padrão a língua é estática e homogênea; a norma-culta, visto que 
é utilizada também na oralidade, sofre constantes mudanças. 
Aliás, ainda não se conhece exatamente a norma culta do 
português do Brasil. Para que ela seja conhecida em todos os 
seus aspectos será necessário muito tempo ainda. Muito tem 
sido feito por diversos estudiosos interessados em esclarecer a 
nossa realidade linguística: já foram publicados cinco volumes 
da Gramática do Português Culto Falado no Brasil, resultado de 
vinte anos de pesquisa. 
Mas atenção: o fato de utilizarmos o termo norma culta 
NÃO significa que exista uma norma dos não-cultos, uma “nor-
ma inculta”. Todos os termos de que falamos aqui deverão ser 
usados com consciência linguística, dessa forma não podemos 
afirmar que há falantes incultos ou que sabem menos da língua 
portuguesa. Todos os falantes têm conhecimento de sua língua 
(falaremos mais sobre isso quando tratarmos a questão do pre-
conceito linguístico).
Guarde bem essa diferença!
Norma padrão: norma prescrita pelas gramáticas tradicio-
nais. – É idealizada e representa o que deve ser dito.
Norma culta: conjunto de estruturas usadas pelo grupo social 
que se liga de forma mais direta às atividades de

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