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Serviço Social, Direito e Cidadania Aula 1: Serviço Social e a sua interface com Direito, Justiça e Cidadania Professora Adriana Accioly Gomes Massa CONVERSA INICIAL Oi, seja bem-vindo(a) à primeira aula de Serviço Social, Direito e Cidadania. Nosso objetivo é compreender a relação do serviço social com o direito, bem como a sua importância. Assim, vamos fazer uma reflexão acerca da compreensão inicial que se tem desses temas. Para tanto, vamos: Identificar a correlação entre o serviço social atual e o direito Distinguir as esferas de atuação do serviço social do operador do direito, no âmbito da garantia efetiva dos direitos Analisar a aplicabilidade dos direitos sociais previstos constitucionalmente Identificar os direitos fundamentais a partir da sua construção histórica e social. Acesse a versão online da aula e confira a fala inicial da professora Adriana. CONTEXTUALIZANDO Vamos refletir sobre algumas situações cotidianas consideradas como injustiças, ou seja, situações em que entendemos que não há justiça, a qual, muitas vezes, se confunde com direito. Será que justiça e direito são sinônimos? Vamos iniciar trazendo uma situação que não é nova, mas que para muitos consiste em um processo de injustiça social: a desigualdade social decorrente da distribuição da riqueza, própria do sistema capitalista, e que gera o agravamento da pobreza com prejuízo da garantia dos direitos. Acerca desse tema, uma pesquisa recente foi realizada sobre a forma de distribuição e concentração da riqueza, no âmbito mundial, com consequências sociais nefastas, a qual foi apresentada na revista Carta Capital, em uma matéria interessante, de Antonio Luiz M. C. Costa, intitulada A desigualdade social chega a níveis alarmantes. Nela, o autor compara a atual situação ao da Inglaterra de Charles Dickens ou da França de Victor Hugo (tratada na obra Os miseráveis). Com relação à distribuição da riqueza, o autor alerta que: Cinco anos depois, o relatório de 2015, publicado em 13 de outubro, mostra que a concentração de renda mundial alcançou níveis tão críticos quanto o do mundo industrializado antes da Primeira Guerra Mundial. Apesar do relativo otimismo de 2010, a metade mais pobre dos 4,8 bilhões de adultos ficou ainda mais depauperada: agora possui menos de 1% da riqueza planetária estimada em 250,1 trilhões de dólares, enquanto o décimo mais alto controla quase 90% (87,7%, para ser exato) e o centésimo no topo, exatos 50%. Para ler a matéria inteira acesse: http://www.cartacapital.com.br/revista/873/no-mundo-de-os-miseraveis 5584.html Com base no texto e acerca da questão da atual forma de distribuição da riqueza, vamos pensar nas seguintes questões: 1. Essa forma de distribuição da riqueza é justa? 2. Essa forma de distribuição da riqueza está em conformidade com o direito atual? 3. Qual é o papel dos direitos sociais no contexto socioeconômico atual? Sobre esta reflexão, acesse a versão online da aula e assista ao vídeo a seguir com a professora Adriana. Tema 1: Direito, Justiça e Justiça Social O direito e a sua finalidade Ao conceituar o direito, importante se torna a sua contextualização histórica, pois vamos tratar do direito moderno, ou seja, da conceituação do direito que foi criado juntamente com a proposta de Estado Moderno, cuja finalidade está atrelada a sua posição de aparato do Estado. O direito nasce da necessidade de organizar, ordenar o social. Assim, o direito trata das relações de vários sujeitos, tendo como base uma dimensão subjetiva. A partir dessa primeira consideração acerca do direito, se pode concluir que deveria ser o direito algo vivo, dinâmico, escrito juntamente com a história humana, em uma teia relacional complexa e dinâmica. Para Paolo Grossi: O ponto de referência necessário do direito é somente a sociedade, a sociedade como realidade complexa, articuladíssima, com possibilidade de que cada uma das suas articulações produza o direito, inclusive a fila diante da repartição pública. Não é um esclarecimento banal; ao contrário, ele subtrai o direito da sombra condicionante e mortificante do poder e o restitui ao seio materno da sociedade, que o direito é então chamado a exprimir. A finalidade do direito, então, consistiria em ordenar o social, organizar ou colocar ordem naquilo que está desordenado, no desordenado conflito efervescente na sociedade. Mas, para que organizar ou ordenar o que está desordenado? Para uma melhor convivência entre os sujeitos? Para uma convivência mais justa? Se o direito busca de alguma forma organizar ou ordenar os conflitos que fervem no seio da sociedade, poderia também se pensar que esse ordenamento seria um meio para se atingir uma finalidade maior, uma busca teleológica do direito, que seria fazer justiça. Mas, ordenar não se trata de um comando imperativo, de um direito que descamba do alto encima da cabeça do sujeito, mas se trata de respeitar a teia relacional e social no qual está inserido. Colocar em ordem, de fato, significa acertar as contas com as características da realidade que se ordena, já que somente pressupondo e considerando essas características não se lhe fará violência e se lhe ordenará efetivamente. Ordenar significa sempre respeitar a complexidade social, a qual consistirá um verdadeiro limita para a vontade ordenadora, impedindo que esta degenere em valorações meramente subjetivas e, pois, em arbítrio. (GROSSI, 2006, p. 13). Ainda, ao pensar no direito como um meio de ordenar o social, pode se pensar o direito como como lei e ordem ou o direito consiste nas leis, que buscam ordenar o desordenado social? A lei pode ser vista como algo predeterminado por um órgão, que tem competência para editá-la e estabelecer limites à ação dos sujeitos de uma sociedade, com o propósito de garantir a convivência social, trazendo segurança e certeza. Porém, importante ressaltar que a lei é marcada por tempo e espaço. O direito, em contrapartida, não está marcado por um tempo e espaço, já que seu nascimento não tem uma data especifica, ele surge com a própria sociedade, nasce de forma autônoma. O direito, assim, “nasce com o homem e para o homem” (Grossi, 2006, p 8). Ademais, o direito também pode ser considerado “um fato ou fenômeno social; não existe senão na sociedade e não pode ser concebido fora dela” (REALE, 2002, p. 3). E a justiça? Como poderíamos conceituá-la, já que ela se diferencia do direito? Primeiramente, podemos conceituar como justiça “um conjunto de critérios ideais que devem presidir a boa condução e o desenvolvimento ordenado da coisa pública”. Mas, também, podemos dizer que a justiça “seja uma espécie de sentimento moral, de caráter intersubjetivo, comum a diversos grupos humanos”. (BARRETO, 2006). Em seu sentido intersubjetivo, a justiça pode ser entendida como um sentimento, sentimento de que algo foi feito de maneira correta, seguindo ditames morais, visando ao bem comum. Esse sentimento, fica bem representado quando nos deparamos com fatos que consideramos injustos, causando-nos revolta. Porém, justiça também pode ser definida como uma virtude, “de dar a cada um o que lhe é devido (constans et perfecta voluntas isiussuun unicuique tribuere).” Já para Kant, a preocupação consiste no que é justo, e o critério para definir o justo e o injusto não pode ser encontrada no direito positivado, nas leis, mas sim na razão e com base no princípio da liberdade. John Rawls já teoriza a justiça como equidade, esclarecendo, inclusive, que os princípios necessários para uma ordenação social justa são inerentes a ideia de justiça social, ou seja, “eles fornecem um modo de atribuir direitos e deveres nas instituições básicas da sociedade e definem a distribuição apropriada dos benefíciose encargos da cooperação social”. Nesse aspecto, a justiça social tem correlação com a participação de todos em prol do bem comum. Ao abordar o tema da distribuição da riqueza socialmente produzida, os conceitos de justiça social são bem apropriados. O indiano Amartya Sen destaca que a promoção da equidade na justiça é fundamental para redução das desigualdades sociais e econômicas, como também para as liberdades democráticas. A partir desses conceitos introdutórios, já é possível começar a pensar na relação entre direito, justiça e serviço social. No vídeo a seguir, a professora Adriana trata deste assunto que estamos estudando. Acesse a versão online da aula e confira. Tema 2: Constituição Federal de 1988 A Constituição de 1988 é fruto de um processo histórico de lutas pela garantia de direitos individuais e coletivos. Assim, é importante conhecer alguns marcos históricos que influenciaram o direito brasileiro, especialmente a Constituição Federal de 1988: Carta Magna da Inglaterra de 1215 Declaração de Virginia de 1776 Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão de 1789 Declaração Universal dos Direitos do Homem de 1948 Este último pode ser acessado a seguir: http://unesdoc.unesco.org/images/0013/001394/139423por.pdf Vamos conhecer o processo de construção dos direitos civis e sociais no Brasil, por meio da história, tendo como base as Constituições brasileiras. Até 1822 temos o Brasil Colônia, ou seja, uma relação direta de dependência com Portugal, com um processo de exploração do trabalho, inclusive com a utilização da mão de obra escrava, ausente os direitos sociais e negada a condição humana aos escravos. Apenas para lembrar, como marco histórico, em 7 de setembro de 1822, temos a independência do Brasil, com o fim do domínio português e autonomia política. A reorganização do Brasil, então independente, foi fortemente influenciada pelas ideias liberais, porém a partir de um liberalismo conservador, antipopular e antidemocrático. Passados dois anos da independência temos, então, a primeira Constituição, em 1824. Vamos ver como os direitos civis e sociais foram se constituindo no Brasil: Constituição de 1824 – direitos individuais foram previstos, dentre eles a liberdade de expressão. Dentre os direitos sociais o da educação primaria gratuita. Início da Republica e fim do império em 15 de novembro de 1889. Constituição de 1891 – outros direitos civis foram acrescidos, dentre eles a liberdade de imprensa e o direito de defesa. Além disso, a escravidão já havia sido proibida, em 1888. Constituição de 1934 – incluído o direito de voto às mulheres e os direitos trabalhistas, como limitação de 9/8 horas diárias de trabalho com repouso semanal e férias. Esse período, liderado por Getúlio Vargas, traz consigo importantes mudanças na área social, buscando organizar as relações de capital e trabalho, mas a partir de um modelo de Estado autoritário e assistencialista. Constituição de 1937 – maior intervenção do Estado, que passa a ter o controle centralizado dos interesses sociais e econômicos. Traz consigo a influência da constituição polonesa, com características fascistas e um modelo centralizador e autoritário. Mais um marco histórico se deu em 1943, com a criação da Consolidação das leis trabalhistas. Constituição de 1946 – retorna o caráter mais democrático estampado na Constituição de 1934, abolindo os instrumentos de cerceamento de defesa da Constituição de 1937. Traz como importante direito o de uso da propriedade privada para finalidade social, iniciando debates acerca da reforma agrária. Traz também o direito de greve e a liberdade de associação sindical. Constituições de 1967 e 1969 – estagnação e retrocesso no que diz respeitos aos direitos civis e sociais. Estado de exceção, no qual os direitos construídos historicamente passam a ser revogados. Constituições autoritárias passam a dar legitimidade e legalidade às ações militares. Cerceamento dos direitos humanos, políticos e sociais. Término da ditadura militar em 1985, com processo de redemocratização e mais abertura para construção de direitos. Constituição de 1988 – fruto desse processo histórico, na qual se consignou vários direitos sociais como direitos fundamentais. No vídeo a seguir, a professora Adriana trata deste assunto que estamos estudando. Acesse a versão online da aula e confira. Tema 3: Direitos Fundamentais Já compreendemos a importância do estudo do Direito para o Serviço Social, especialmente o estudo da Constituição Federal de 1988, na qual estão consignados os direitos fundamentais, dentre eles os direitos sociais. Vamos, agora, estudar as características dos direitos fundamentais previstos em nossa Constituição. Com relação aos direitos fundamentais estabelecidos na Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, eles abarcam vários direitos também universais conquistados ao longo da história humana. Os direitos fundamentais são também conhecidos como direitos humanos, porém são direitos humanos positivados na Constituição Federal. A Constituição de 1988 trata dos direitos fundamentais em seu Título II, dos direitos e garantias fundamentais. Os direitos fundamentais não podem ser retirados, nem mesmo alterados da nossa Constituição, nem mesmo por força de Emenda Constitucional. São direitos conquistados, considerados fundamentais e, portanto, só em situações excepcionais são suprimidos, como por exemplo no Estado de Exceção. Por serem inalterados, são considerados cláusulas pétreas de nossa Constituição. Vamos ler os direitos fundamentais previstos em nossa Constituição. Acesse a seguir e leia os Capítulos I e II, especialmente os artigos 5º e 6º: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm Esses direitos têm algumas características especificas. Vamos compreendê-las! a) Historicidade Direitos que tem sua origem em conquistas históricas de um povo. Como conquistados historicamente, não podem ser considerados um direito natural, pois nem sempre existiram. Nesse sentido, pode-se verificar que os direitos e garantias fundamentais nascem de uma necessidade social e em um determinado contexto histórico. b) Generatividade Essa característica trata do nascimento dos direitos fundamentais em um contexto histórico especifico. Podemos, assim, dividir os direitos fundamentais em cinco gerações, conforme o momento temporal e histórico em que nasceu ou foi originado. 1ª geração - Direitos individuais e direitos políticos. São todos àqueles direitos inerentes a pessoa humana. 2ª geração - Direitos sociais. Todos aqueles direitos concernentes às questões sociais e econômicas, visando melhorar a condição de vida e trabalho da população. 3ª geração - Direitos coletivos, difusos e, ainda, direitos de solidariedade e fraternidade. São àqueles direitos relacionados a coletividade. O Estado tem obrigação de proteger a coletividade e não o ser de forma isolada. Ex.: direito ambiental, qualidade de vida, paz, direito da criança, direito do idoso, defesa do consumidor. 4ª geração - Direito das minorias. São os novos direitos advindos da globalização e avanço tecnológico. Ex. informática, clonagem, biociência. Para Bonavides são baseados nas democracias, informação e pluralismo. 5ª geração - Direito à paz. O reconhecimento da paz no âmbito da normatividade jurídica retrata um dos mais notáveis avanços, pois contido na Resolução 39 da Organização das Nações Unidas (ONU), traz consigo um importante pressuposto da convivência humana. c) Relatividade Os direitos fundamentais não são absolutos, tendo assim a característica da relatividade. São relativos porque podem sofrer limitações, especialmente quando há a necessidade de decidircom base em dois direitos fundamentais incompatíveis entre si, tendo que se optar por um. d) Irrenunciabilidade Não se pode renunciar um direito fundamental. e) Universalidade A universalidade trata-se de princípio inerente à condição humana, também princípio constitucional quando se trata dos direitos fundamentais, pois eles são universais, não sendo limitados a um certo grupo. f) Indivisibilidade Indivisibilidade significa que eles não são unilaterais, nem podem ser divididos há complementariedade entre os direitos fundamentais, ou seja, existe entre eles a interdependência e inter-relação. g) Interdependência Os direitos fundamentais têm correlação entre si e apesar de terem autonomia, são interdependentes, ou seja, há interação entre eles, influência mútua. Essas são as características específicas dos direitos fundamentais. Com base na Constituição Federal, os direitos fundamentais são divididos em cinco categorias. São elas: • Direitos e garantias individuais e coletivos (CF art. 5º) • Direitos Sociais - dentre eles a assistência social (CF arts. 6ºa 11) • Direitos relativos a nacionalidade (CF, art. 12 e 13) • Direitos políticos (CF arts. 14 a 16) • Direitos relativos à organização e participação em partidos políticos (CF art. 17) Com relação a aplicabilidade dos direitos fundamentais, a partir da sua previsão constitucional já produzem efeitos jurídicos. Apesar de produzirem efeitos jurídicos, a garantia da efetividade desses direitos tem relação com a ação do poder público. Na prática, se percebe que muitas vezes esses direitos são desrespeitados seja pela ação ou pela omissão do Estado. No vídeo a seguir, a professora Adriana trata deste assunto que estamos estudando. Acesse a versão online da aula e confira. Tema 4: Direitos Sociais A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 prevê, em seu artigo 6º, os direitos sociais, como parte integrante dos direitos e garantias fundamentais. São os direitos sociais previstos na Constituição de 1988: “Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição”. Apesar que consignados em nossa Constituição, a efetivação dos direitos sociais não se dá de forma imediata. Isso porque os direitos sociais são considerados normas programáticas em nossa Constituição, ou seja, são de aplicação mediata e eficácia limitada. Nesse sentido, importante esclarecer que os direitos sociais, por serem considerados normas programáticas necessitam de uma outra lei que os regulamente, seja uma lei ordinária ou complementar, por isso são direitos considerados de eficácia mediata, ou seja, somente após regulamentada por lei é que passa a produzir os efeitos desejados pelo legislador. Vamos esclarecer um pouco melhor. De modo geral, todas as normas previstas na Constituição apresentam eficácia, porém algumas jurídica e social e, outras, apenas jurídica. A eficácia se refere ao efetivo cumprimento do direito pela sociedade, ou seja, o reconhecimento do direito no plano social. O que é, então, eficácia jurídica e eficácia social? • Eficácia jurídica – norma que está pronta para produzir efeitos quando da ocorrência de relações concretas • Eficácia social – é a efetividade da norma, ou seja, a aplicação concreta dos efeitos da norma juridicamente eficaz Assim, a efetividade ou eficácia social da norma está correlacionada a realização do Direito e, ainda, a função social da norma propriamente dita. As normas constitucionais podem ser divididas quanto à sua eficácia em normas de eficácia plena, contida e limitada. Veja mais a seguir! Plena – aplicação direta e sem limitações. Contida – aplicação direta e ilimitada, mas com algumas restrições que podem surgir a partir de normas consideradas infraconstitucionais, ou seja, uma lei que está hierarquicamente abaixo da Constituição, mas que pode regular um direito previsto constitucionalmente, inclusive reduzindo a amplitude de um direito constitucionalmente previsto. Limitada – para sua aplicação é necessária uma lei complementar ou integrativa. Dentre as normas de eficácia limitada estão: a) Normas de princípio institutivo ou organizativo – são aquelas que tem esquemas iniciais de estruturação de instituições, órgãos ou entidades, mas que precisam ser melhor detalhados. b) Normas de princípio programático – veiculam programas a serem implementados pelo Estado, visando sejam realizados os fins sociais Dentre as normas de eficácia limitada de princípio programático estão os direitos sociais previstos no artigo 6º da Constituição, que serão minimamente detalhados na Constituição, apenas trançando os princípios que devem ser alcançados pelo Estado, necessitando, assim, de lei que venha regulamentar aquele direito e a sua aplicabilidade. Podemos citar alguns artigos da Constituição: art. 196 – saúde; art. 203 – assistência social; art. 205 – educação; art. 215 – cultura; art. 227 – proteção à criança e ao adolescente. Os direitos sociais, considerados direitos fundamentais em nossa Constituição são considerados direitos constituídos historicamente, visando sua realização por meio de políticas públicas que venham garantir amparo e proteção social as pessoas em condição de vulnerabilidade socioeconômica, ou seja, aquelas pessoas que não dispõe de recursos próprios para viver dignamente. Essa luta de direitos sociais, considerados direitos humanos de segunda geração, se dá justamente, com o avanço do capitalismo e quando a classe operária, produtora de riquezas, mas excluída dos seus benefícios, passa a se organizar buscando a garantia de condições condignas com a dignidade da pessoa humana. Os direitos sociais consignados na Constituição de 1988 passam a ter grande relevância social e histórica, porque são considerados frutos de uma construção histórica que remetem ao Estado a obrigação de proporcioná-los, no sentido de melhorar a condição de vida daqueles que necessitam, no sentido de realizar uma igualização de situação desiguais. No vídeo a seguir, a professora Adriana trata deste assunto que estamos estudando. Acesse a versão online da aula e confira. Tema 5: Direito e Serviço Social O Serviço Social, em seu processo de reconceituação, passa a ter como seu objeto de trabalho as mais diversas expressões da questão social, resultante do processo de distribuição desigual da riqueza socialmente construída. Nesse sentido, o direito à assistência social se torna um solo fértil ao trabalho do assistente social, mas não somente o direito à assistência social, mas os direitos humanos, direitos sociais, diretos que são revelados na teia relacional entre Estado e a sociedade. Os direitos podem, assim, ser considerados como expressão de uma dimensão de sociabilidade, envolvendo espaços de poder, luta e enfrentamento das desigualdades sociais. O direito à assistência social acaba por envolver uma série de direitos, e é parte integrante do tripé da seguridade social, juntamente com o direito à saúde e à previdência social. Importante ressaltar que a assistência social contempla, conforme ficou consignado no artigo 2º da Lei Orgânica de Assistência Social: I - a proteção social, que visa à garantia da vida, à redução de danos e à prevenção da incidência de riscos, especialmente: a) a proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à velhice; b) o amparo às crianças e aos adolescentes carentes; c) a promoção da integração ao mercado de trabalho; d) a habilitação e reabilitação das pessoas com deficiência e a promoção de sua integração à vida comunitária; e e) a garantia de 1 (um) salário-mínimo de benefíciomensal à pessoa com deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover a própria manutenção ou de tê-la provida por sua família; II - a vigilância socioassistencial, que visa a analisar territorialmente a capacidade protetiva das famílias e nela a ocorrência de vulnerabilidades, de ameaças, de vitimizações e danos; III - a defesa de direitos, que visa a garantir o pleno acesso aos direitos no conjunto das provisões socioassistenciais. Acerca do direito à assistência social, o Conselho Federal de Serviço Social publicou um documento denominado “Trabalhar na assistência social: em defesa dos direitos da seguridade social”, cujo propósito consiste na promoção do debate e da defesa da assistência social como política de Seguridade Social, na qual deve estar inseridos todos os direitos sociais previstos na Constituição Federal, como forma de ampliar o sistema de proteção social, visando garantir efetivas mudanças que impactem significativamente no processo de desigualdade social e suas nefastas consequências sociais. Nesse documento, interessante destacar o rol dos princípios e diretrizes que nortearam o caminhar dos assistentes sociais no Brasil, especialmente para consolidação da assistência social como direito social e parte integrante da política de seguridade social: • Mesmo antes da Constituição de 1988, os/as assistentes sociais já atuavam na extinta Legião Brasileira de Assistência (LBA), constituindo seu principal quadro de trabalhadores e, com atuação crítica, condenavam as tendências clientelistas de suas direções e defendiam sua transformação e extinção; • Em busca da qualidade dos serviços prestados aos usuários, elaborou e publicou duas versões de parâmetros para atuação de assistentes sociais na Política de Assistência Social, sendo a primeira versão publicada em conjunto com o Conselho Federal de Psicologia. Leia mais nas páginas 12 e 13 do documento: http://www.cfess.org.br/arquivos/Cartilha_CFESS_Finalgrafica.pdf Ao estudar, mesmo que brevemente – nessa aula, o processo de reconceituação do serviço social na busca por justiça social, se percebe a relevância do estudo do direito, especialmente dos direitos sociais, pois o profissional do serviço social trabalha no sentido da garantia da efetividade dos direitos sociais, apesar de contemplados em nosso ordenamento jurídico. No vídeo a seguir, a professora Adriana trata deste assunto que estamos estudando. Acesse a versão online da aula e confira. TROCANDO IDEIAS No fórum de discussões, comente sobre a importância do estudo do direito para o serviço social. NA PRÁTICA Quais foram as contribuições do serviço social para redução das desigualdades sociais no Brasil? Vamos aprofundar mais esta questão, lendo o documento a seguir: http://servicosocialalgosobre.blogspot.com.br/2011/05/desigualdade-social.html No vídeo a seguir, você confere um caso prático vivenciado pela professora Adriana. Saiba como a situação foi tratada e o encaminhamento dado à questão. Acesse a versão online da aula e confira. SÍNTESE Chegamos ao final desta aula, onde objetivamos compreender a relação do serviço social com o direito, bem como a sua importância. Nesse sentido, estudamos o seguinte: • Identificação da correlação entre o serviço social atual e o direito • Distinção das esferas de atuação do serviço social do operador do direito, no âmbito da garantia efetiva dos direitos • Análise da aplicabilidade dos direitos sociais previstos constitucionalmente • Identificação dos direitos fundamentais a partir da sua construção histórica e social. Acesse a versão online da aula e confira a fala final da professora Adriana. Referências AUGUSTIN, Sérgio; OLIVEIRA, Mara de (org.). Direitos Humanos: emancipação e ruptura. Caxias do Sul: Educs, 2013. BARRETO, Vicente de Paulo (coord.). Dicionário de filosofia do direito. São Leopoldo: Unisinos, 2006, p. 493. BELLO, Enzo (org.). Ensaios críticos sobre direitos humanos e constitucionalismo. Caxias do Sul: Educs, 2014. BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constitucional. 30 ed. Atualizada. São Paulo: Malheiros, 2015. COUTO, Beatriz R. C. O direito social e a assistência social na sociedade brasileira: uma equação possível? 3 ed. São Paulo: Cortez, 2008. GROSSI, Paolo. Primeira lição sobre o direito. Trad. Ricardo Marcelo Fonseca. Rio de Janeiro: Forense, 2006, p. 12. MONDAINI, Marcos. Direitos Humanos no Brasil. São Paulo: Contexto, 2009. RAWLS, John. Uma teoria da justiça. São Paulo: Martins Fontes, 2002. REALE, Miguel. Lições preliminares do direito. 27 ed. Ajustada ao novo Código Civil. São Paulo: Saraiva, 2002. VAL, Eduardo M; BELLO, Enzo (org.). Pensamentos pós e descolonial no novo constitucionalismo latino-americano. Caxias do Sul: Educs, 2012.
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